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Medicina & Bem-estar
| Edição: 2213 | 05.Abr.12 - 17:30 | Atualizado em 14.Abr.12 - 19:36
A saúde a um toque dos dedos
O uso de aplicativos de medicina, treinamento físico,
nutrição e bem-estar torna os celulares e os tablets os
mais novos recursos para aprimorar os cuidados com o
corpo e a mente
Mônica Tarantino e Monique Oliveira
ATUALIZADOS
Médicos residentes do InCor (SP) acabam de ganhar tablets. Entre
outros aplicativos, há um que fornece as novidades em tratamentos
Sem saber, o epidemiologista bengalês Alain Labrique foi um dos pioneiros de uma revolução em curso na
medicina que mudará para sempre a forma como médicos e pacientes gerenciam a saúde. Quando voltou
dos Estados Unidos para Bangladesh, sua terra natal, em 2001, para coordenar um programa de
prevenção de infecções em mulheres durante a gestação, o médico não conseguia sequer fazer uma ligação
telefônica. “Levava um dia inteiro para falar com algum serviço médico central”, contou à ISTOÉ. Em
Bangladesh, mais de sete mil gestantes morrem anualmente em decorrência de infecções que poderiam ser
tratadas no pré-natal. “Elas moram em regiões precárias, de difícil alcance, sem condições de higiene, com
serviço de saúde praticamente inexistente”, relatou. Com tamanha dificuldade, Labrique percebeu que
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apenas ajuda médica seria insuficiente. Era urgente criar um sistema para saber quantas mulheres
necessitavam de auxílio e o que era preciso para atendê-las com rapidez e provê-las com informações
básicas. Com a chegada do celular ao país em 2004, Labrique testou o “M-Labor”, processo de envio de
mensagens que, em um teste, ajudou 500 mulheres a saber o que fazer na hora do parto.
Em 2011, já com os smartphones, o projeto evoluiu para o aplicativo “M-Care”. Nele, membros da
comunidade inserem quem são as mulheres e quais problemas enfrentam. Também trocam mensagens com
os médicos e recebem orientações de como agir. A equipe fica de sobreaviso e, numa situação de
emergência, é acionada com rapidez. O sistema ajuda ainda a elaborar dados para o desenvolvimento de
programas para diminuir a alta mortalidade entre mulheres. Com ele, foi possível chegar a tempo a 89%
dos nascimentos e evitar infecções prévias em 65% dos casos – antes, apenas 12% das mulheres tinham
acesso a serviços médicos.
Com seu projeto, Labrique, na verdade, está fazendo parte da m-Health, um jeito novo de prestar e
receber serviços dirigidos para a construção de uma vida saudável com base no uso de aparelhos portáteis
de comunicação. O termo é a sigla, em inglês, de mobile health. Em português, quer dizer saúde móvel. Na
prática, significa exatamente isso. Apenas com um smartphone ou um tablet na mão, hoje é possível fazer
diagnósticos, registrar indicadores como taxa de açúcar no sangue ou nível de pressão arterial, conter um
surto de ansiedade ou traçar um plano personalizado de treinos físicos, por exemplo, não importa o lugar
onde se esteja. E com os mesmos aparelhos, as informações podem ser compartilhadas com quem for
necessário. O paciente pode mandá-las para o médico, o médico para o paciente, o professor de medicina
para o estudante, o médico para outro médico em busca de mais uma opinião. Enfim, é a saúde móvel, e a
um toque dos dedos.
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O impacto dessa ciranda será profundo. “Como o paciente pode enviar os dados de qualquer lugar, em
qualquer momento, essas informações podem ser analisadas em tempo real, com precisão, aumentando a
eficácia do tratamento”, afirma o endocrinologista Gustavo Penna, chefe do Núcleo de TeleSaúde da
Universidade Federal de Minas Gerais. “E o paciente tem maior controle sobre a sua saúde”, completa. Em
razão dessa importância, a Organização Mundial da Saúde – entidade que dita as linhas de conduta para a
saúde pública em todo o mundo – resolveu estabelecer diretrizes para que o potencial da m-Health seja
aproveitado. O documento, publicado em 2011, exortou governos de todo o mundo a implementar e
investir nessas tecnologias para conectar sistemas de saúde e aprimorar a eficácia do tratamento de
doenças crônicas.
Esse novo patamar na história dos cuidados com o corpo só foi possível graças à fantástica evolução da
telefonia celular. A chegada dos smartphones e dos tablets, com suas telas de alta resolução e microfones
potentes, tornou realidade, entre outras façanhas, o desenvolvimento de aplicativos que captam imagens de
fetos, identificam parasitas a partir da imagem de uma gota de sangue ou aferem a capacidade respiratória.
Simultaneamente, houve a popularização dos celulares – de acordo com a União Internacional de
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Telecomunicação, o mundo conta com 5,8 bilhões de assinaturas de telefones móveis (somos sete bilhões
de habitantes no planeta). E o setor de aplicativos em geral é um dos que mais crescem, atingindo a marca
de 25 bilhões de downloads.
Na área da medicina, a profusão de aplicativos impressiona porque já contempla um leque amplo de
doenças. Na esfera mente-cérebro, por exemplo, há opções que ajudam a diminuir na vida diária os riscos
trazidos pelos transtornos. Um exemplo é o aplicativo criado na Universidade de Harvard (EUA) para
transtornos de ansiedade advindos da fobia social, condição em que o paciente concentra demasiada
atenção em expressões faciais hostis. Para desviar o foco do usuário dessa hostilidade imaginária, o
aplicativo apresenta várias outras expressões, num processo que simula um jogo de cartas. “A ferramenta
muda o foco do paciente e ajuda a impedir que o surto ocorra”, disse à ISTOÉ Richard MacNally,
professor do Departamento de Psicologia da Universidade de Harvard.
TRABALHO
O residente Ricardo Maranhão também cria aplicativos médicos
Para proteger os portadores da ​
doença de Alzheimer, que traz enorme confusão mental, há opções como o
Simap, criado pela Vodafone e a Cruz Vermelha da Espanha. O aplicativo grava a posição geográfica do
paciente a cada três minutos e a informação é enviada a médicos e familiares em tempo real. Se o indivíduo
ultrapassar uma área predeterminada, o celular do paciente e dos familiares soa um alarme.
No fitness, a variedade é igualmente ampla. “Há desde aqueles que verificam se há academias nas
redondezas até os que permitem trocar informações sobre treinos nas redes sociais”, diz Bruno Franco,
coordenador de inovação do Grupo Bodytech. Na área de nutrição, há softwares que possibilitam a
obtenção das informações nutricionais dos produtos a partir da leitura do código de barras do rótulo. Para
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os interessados em bem-estar encontram-se alternativas que ensinam ioga e meditação e até acordam o
usuário na fase mais leve do sono, a mais propícia para o despertar.
Em vários casos, há um casamento dos aplicativos com outras tecnologias. O objetivo, na maioria das
vezes, é usar os tablets ou smartphones para captar imagens ou indicadores como pressão arterial e
batimentos cardíacos e encaminhar os dados para o médico. Muitas dessas opções estão sendo usadas por
portadores de doenças crônicas. Há, por exemplo, sistemas indicados para os diabéticos, que necessitam
acompanhar as oscilações das taxas de açúcar no sangue (glicemia). Em Minas Gerais, está em teste um
dispositivo no qual o paciente insere os números das medições automaticamente no aparelho. Depois, basta
colocá-lo na tomada para que os dados sejam enviados para o computador do médico. “Avaliamos, em
tempo real, o que está acontecendo e se for preciso ajustamos as medicações”, diz o endocrinologista
Gustavo Penna, criador do sistema.
FUTURO
Na USP, cientistas criam opções de transmissão de dados
Iniciativas como essas estão mostrando eficiência. Um estudo com 163 pacientes acompanhados na
Universidade de Maryland (EUA) revelou que os que usaram aplicativo criado pela instituição para
monitorar a glicemia reduziram a glicemia em quase dois pontos quando comparados aos que não utilizaram
a novidade. “Dizemos aos pacientes que eles podem controlar a doença com exercícios físicos,
medicamentos e dieta”, diz a epidemiologista Charlene Quinn, que comandou a pesquisa. “Agora, o sistema
o ajuda a acompanhar como isso acontece.”
Entre os recursos para diagnóstico está um acessório que, acoplado ao smartphone, vira um aparelho de
ultrassom. Além de realizar imagens de um feto, ele localiza aneurismas abdominais e pedras nos rins.
“Estamos buscando autorização para comercializá-lo em outros países, inclusive o Brasil”, disse à ISTOÉ
David Mazar, CEO da Mobisante, empresa que criou o produto.
Uma das maiores vantagens de sistemas como esse é possibilitar o diagnóstico a distância. Uma iniciativa
que aproveitou bem esse potencial é o EyeNetra, aparelho que, ligado ao celular, calcula o grau de miopia
ou astigmatismo e avalia a presença de catarata. Desenvolvido pelo indiano Ramesh Raskar, do
Massachusetts Institute of Technology (EUA), e pelo brasileiro Vitor Pamplona, da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, o equipamento foi testado em Teresina e em Porto Alegre. “Ele permite fazer
diagnósticos em áreas remotas”, diz o oftalmologista Paulo Schorr, vice-presidente do Instituto da Visão,
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da Universidade Federal de São Paulo. “E o sistema é tão eficaz quanto os testes convencionais”, assegura
Pamplona.
Aplicativos específicos para médicos, com informações sobre doenças e remédios, por exemplo, também
estão ajudando a melhorar o sistema de saúde. No Instituto do Coração (InCor), em São Paulo, há um
mês foram distribuídos 48 iPads a residentes. Nos tablets, há aplicativos como o Up to Date, por meio do
qual os jovens médicos ficam sabendo das novidades em tratamentos. “Vemos tudo o que sai de novo, o
que está em teste”, explica Miguel Nassif, um dos que receberam o tablet. “É uma biblioteca que levamos
para onde quisermos. Tem acesso fácil a conteúdo confiável e atualizado.”
Na Universidade de Chicago (EUA), um levantamento com 115 residentes mostrou que 90% usam tablets
constantemente em consultas e 78% acreditam que a tecnologia os torna mais eficientes. “A tecnologia
agiliza o trabalho desses médicos, que precisam coletar e acessar informações em um curto espaço de
tempo”, diz Christopher Chapman, chefe de residência da instituição americana.
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Entre os profissionais mais tarimbados, consultar o smartphone ou o tablet também virou parte da rotina. O
cardiologista Múcio Oliveira, diretor de emergência do InCor, usa o Epocrates (tem dados de doenças,
drogas e exames) e um aplicativo que faz cálculo de risco, o Qx Calculate. “Ele ajuda a tomar decisões.”
Embalado pelo potencial da nova área, o médico residente Ricardo Maranhão, do Recife, criou um
aplicativo com a Classificação Estatística Internacional de Doenças, conhecida como CID-10. Foi por meio
desse recurso, com mais 50 mil downloads, que o Conselho Federal de Medicina o contatou para
desenvolver o Código de Ética Médica e o Diretrizes do Crack, que auxiliará no atendimento a
dependentes. “Fiz esses aplicativos pensando na minha necessidade e eles tiveram um alcance que eu não
imaginava”, contou.
O aplicativo Medicamentos de A a Z – que reúne 500 medicamentos com informações que incluem preço,
nomes comerciais, genéricos e posologia –, da empresa Touché Mobile, também é um sucesso entre os
médicos e pacientes, registrando mais de 40 mil downloads. “Ele é útil porque agiliza a comparação de
preços e informações, que ficam disponíveis lado a lado na tela”, afirma Roberto Colnaghi, dono da
empresa.
A força do fenômeno está fazendo com que universidades no mundo todo comecem a construir centros
especializados em m-Health, de olho em um futuro promissor. Um estudo da Associação Internacional de
Operadoras de Celular prevê, por exemplo, que a saúde estará totalmente integrada à tecnologia móvel em
2027, gerando um mercado de mais de US$ 23 bilhões. No Vale do Silício, berço de empresas como o
Google, foi inaugurado o Centro de Computação do Corpo na Universidade do Sul da Califórnia. A
parceria já rendeu aplicativos promissores. Um deles possibilita que os usuários verifiquem sua capacidade
respiratória ao soprar no microfone do smartphone – é indicado para quem tem doenças respiratórias.
No Brasil, a Escola Politécnica, da Universidade de São Paulo, acaba de criar o Centro Interdisciplinar de
Tecnologias Integrativas. Ali, 60 estudantes de vários Estados do Brasil estão criando o futuro. “Muitos
projetos estão a caminho”, diz o coordenador Marcelo Zuffo. Um deles é o desenvolvimento de roupas
com sensores que registram sinais a serem transmitidos em tempo real a centrais médicas. “A proposta é
que os doentes sejam monitorados por sensores de temperatura”, diz Adilson Hira, gerente de projetos do
laboratório. Trata-se de um artefato que poderá ajudar, por exemplo, a identificar sintomas iniciais de
infecções em crianças em tratamento contra o câncer – infecções estão entre as principais ameaças de
morte imediata a esses pacientes.
O uso de recursos do gênero está mudando tanto a face da medicina que despertou uma discussão
interessante. Por conta do que oferecem aos pacientes, há quem argumente que os sistemas da m-Health
sejam uma espécie de “remédio”. Não é à toa que, nos Estados Unidos, eles já estão na mira do FDA.
“Talvez seja com alguma surpresa que desenvolvedores verão que nos próximos anos muitos de seus
aplicativos terão de ser aprovados pelo FDA antes de serem comercializados”, diz um documento
publicado pela instituição no fim de 2011. No Brasil, porém, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
ainda não prevê regulação sobre o setor.
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