O processo de formação ambiental do assistente social

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VIII EPEA - Encontro Pesquisa em Educação Ambiental
Rio de Janeiro, 19 a 22 de Julho de 2015
O PROCESSO DE FORMAÇÃO AMBIENTAL DO ASSISTENTE
SOCIAL: INDÍCIOS CURRICULARES
Tatiana Ferreira dos Santos - UFS
Maria Inêz Oliveira Araújo - UFS
RESUMO
O presente artigo objetiva explicitar os indícios alçados perante apreciação da
estrutura curricular dos cursos de Serviço Social das universidades sergipanas no que se
refere à dimensão ambiental. O artigo conjectura em uma parte da pesquisa em
andamento, na qual apresenta como cerne principal explicitar o processo de formação
ambiental no contexto da formação do Assistente Social na Universidade Federal de
Sergipe – UFS e na Universidade Tiradentes – UNIT. A pesquisa configura-se em uma
abordagem qualitativa do tipo exploratória. São apresentados a estrutura curricular do
curso das duas universidades e em seguida evidenciado a dimensão ambiental dos
cursos de Serviço Social. Desta forma, o presente escrito dá suporte à próxima etapa da
pretensão investigativa da qual contempla a análise do projeto político pedagógico dos
cursos e entrevista com 6 professores de cada instituição.
PALAVRAS-CHAVE: Serviço Social; Currículo; formação ambiental.
ABSTRACT
This article aims to explain the evidence elevations before assessing the
curriculum of Social Work courses of Sergipe universities with regard to the
environmental dimension. Article conjecture in a part of ongoing research, which
represents the major core indicate the process of environmental education in the training
of the social worker at the Federal University of Sergipe - UFS and Tiradentes
University - UNIT. The research sets in a qualitative approach of the exploratory type.
Are presented the course curriculum of the two universities and then shown the
environmental dimension of social work courses. Thus, this writing supports the next
stage of the investigative claim that includes the analysis of the political pedagogical
project of the courses and interviews with six teachers from each institution.
KEYWORDS: Social Services; Curriculum; environmental training.
1. INTRODUÇÃO
Em meio ao enfrentamento das expressões da questão social atuam firmemente
diversos profissionais, sobretudo o (a) assistente social. Com o intuito de viabilizar o
acesso aos direitos, efetivação de políticas sociais e exercício da cidadania, o (a) assiste
social dispõe de aporte teórico e prático dos quais incidem sobre essas expressões,
1
Realização: Unirio, UFRRJ e UFRJ
dentre elas: pobreza, violência, desemprego, precarização da qualidade de vida,
exploração infantil, dentre outras.
Segundo Iamamoto (2014) a “[..] questão social condensa o conjunto das
desigualdades e lutas sociais, produzidas e reproduzidas no movimento contraditório
das relações sociais [...]” (IAMAMOTO 2014, p.156). Para a autora, a gênese da
“questão social” na sociedade burguesa advém de um modo coletivo de produzir, do
qual contradiz com a apropriação privada da vida humana.
Pela impregnação do capital em todas as esferas e espaços da vida humana, a
“questão social” e a questão ambiental se fazem presentes em meio às conturbadas
relações socioambientais. Assim, ambas apreendem uma particularidade, eclodiram e
foram acrescidas com a ascensão do capitalismo monopolista mundial, concomitante à
exploração e transformação da natureza em mercadoria e do trabalho humano.
A questão ambiental é compreendida aqui como um conjunto de insuficiências
advinda das contradições entre homem e natureza, inerentes às relações sociais de
produção, dos quais são evidenciados e acrescidos nas contradições entre classes, no
individualismo, na concorrência e no consumismo, provocados por essas relações de
produção. Faz-se aqui a utilização do termo “questão ambiental”, pois entendemos que
o meio ambiente integra todos os espaços bióticos e abióticos, interligados nas relações
socioambientais.
É nessa conjuntura que se ampara as bases de sustentação deste trabalho. Se o
(a) assistente social assume, com particularidade, as expressões da “questão social”, esta
- segundo Iamamoto (2014), metamoforzeada e vestida com uma nova roupagem evidenciada, hoje, na “imensa fratura entre o desenvolvimento das forças produtivas do
trabalho social e as relações sociais que as impulsionam”, então, segundo (SILVA
2012), a questão ambiental deve ser objeto de intervenção, estudos e pesquisas do (a)
assistente social, considerando o contexto histórico.
[...] o Serviço Social passa a integrar o escopo de profissões
interpeladas a oferecerem respostas ao agravamento da questão
ambiental, a partir de uma forte mediação da educação ambiental,
embora a mobilização e organização das comunidades de usuários dos
serviços institucionais também integrem as demandas postas à
profissão. (SILVA 2010, p. 156).
2
Para tanto, dentre as áreas de atuação do assistente social, encontra-se o Serviço
Social ambiental1, cujo principal objetivo, segundo (KISNERMAN 1998 in AGUAYO
e GARCÍA 2011), incube:
[...] integrar e coordenar ações destinadas a conscientizar a população
sobre esse desafio para a humanidade e intervir com seus métodos e
técnicas, na medida do possível, conseguir minimizar alguns desses
efeitos com a comunidade. (KISNERMAN 1998 in AGUAYO e
GARCÍA 2011, p.68)
Contudo, para atuar na questão ambiental, o (a) assistente social deve agir muito
além da utilização de métodos ou técnicas. Ele precisa apropriar-se de conhecimento
teórico e prático, principalmente de caráter pedagógico,2 para que sua práxis atinja uma
dimensão sensibilizadora, educadora e crítico-reflexiva. De tal modo, a temática
ambiental deve ser inserida transversalmente na formação do (a) assistente social e não
ser encarada como uma área a parte, a título de especialização posterior, mas sim como
formação básica profissional.
Nesse sentido, a pretensão investigativa nortear-se-á sobre o currículo, pois é no
currículo que estão a base e a ação educacional do curso de Serviço Social. É através do
currículo que serão possíveis análises e entendimento sobre a formação do assistente
social, portanto, “[...] o currículo acaba manifestando os elementos básicos do processo
educativo [...].” (SÁ 1995, p.31).
Desta forma, o interesse investigativo direciona-se na necessidade de averiguar o
processo de formação do Assistente Social a fim de detectar: em que medida a questão
ambiental está inserida na formação do Assistente Social?
Na tentativa de solucionar este problema, a pesquisa em andamento busca
explicitar o processo de formação ambiental no contexto da formação do Assistente
Social. Para tanto, foi necessário: Identificar na estrutura curricular dos cursos de
Serviço Social em Sergipe disciplinas que apresentem indícios e abordagens sobre a
questão ambiental; Verificar as concepções dos professores sobre as relações
socioambientais e a questão ambiental, partindo do ponto de vista curricular; Descrever
a relevância de um currículo que contemple discussões e reflexões sobre a problemática
ambiental na formação do Assistente Social.
1
Demais áreas de atuação do assistente social: Habitação, Educação, Assessoria, Assistência,
Previdência, Recursos Humanos, Empresarial, Educação e Saúde
2
Iamamoro (2014) afirma que nas atribuições do assistente social, o profissional deve assumi-las com um
caráter pedagógico e/ou ideológico.
3
A presente pesquisa configura-se em uma abordagem qualitativa do tipo
exploratória. O universo delimita-se nas duas universidades de Sergipe. A Universidade
Federal de Sergipe – UFS e a Universidade Tiradentes – UNIT. Para se chegar a um
melhor conhecimento da concepção dos professores, definiu-se como técnica para a
coleta de dados a entrevista semiestruturada, cujo escopo contempla perguntas abertas e
fechadas. Serão entrevistados 6 professores, três de cada instituição de ensino.
Apesar da pesquisa se encontrar em andamento, foi possível o levantamento das
publicações de pesquisadores, estudantes e profissionais de Serviço Social sobre a
temática ambiental. O estado da arte pôde evidenciar a urgência na inserção da
dimensão ambiental na formação do assistente social. Ainda assim, as evidências das
produções citadas puderam sustentar a necessidade de averiguar os currículos dos
cursos em Sergipe diante da eminente questão ambiental já inserida no cotidiano do
Assistente Social, cujo despreparo afeta diretamente na sociedade onde atua. Pôde-se
evidenciar também, indícios que demonstram a realidade curricular dos cursos em
questão, conjecturando na urgência de atualização necessária que reflita na atuação dos
futuros assistentes sociais considerando a questão ambiental entremeada à questão
social e vise e versa.
2. AS RELAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS E A QUESTÃO AMBIENTAL:
UM ORBE “PARALELO”
O subtítulo orbe “paralelo” faz analogia ao mundo devaneador do consumo
exacerbado que as gerações vêm produzindo e reproduzindo nas relações
socioambientais. Neste universo “paralelo”, o sujeito é impedido de enxergar a
realidade da exploração e do sofrimento que abastecem as famílias diariamente. Neste
orbe paralelo, a sociedade relaciona a felicidade ao consumo e a acumulação, onde os
sentimentos tornam-se bens não-duráveis quase indissociáveis do valor financeiro,
distanciando cada vez mais a possibilidade de equidade social e equilíbrio ambiental.
Esta analogia remete à teoria da alienação no trabalho em Marx, onde o trabalho
está intrinsicamente interligado ao capitalismo. Segundo Luz (2008) em Marx, o
trabalhador alienado não se identifica com o produto de seu trabalho, além da opressão
do sistema econômico sobre o trabalhador que o impede de desenvolver enquanto ser
humano. Entretanto, a questão desenvolvimento na teoria da alienação carrega uma
ambiguidade, enquanto alienado, o trabalhador incube o seu desenvolvimento na
4
perspectiva de poder trabalhar mais tempo para poder se desenvolver melhor
economicamente e consumir mais. Em outra perspectiva, para Marx, o trabalhador
estagna e fica refém do sistema econômico que o oprime e instaura barreiras no seu
desenvolvimento. Para o autor, apenas a superação do trabalho alienado seria a condição
que possibilitaria a superação de um sistema que impede o desenvolvimento do ser
humano.
A exploração da natureza e a apropriação da vida humana sob a égide de um
sistema econômico cujo o cerne norteia a supervalorização do lucro com o objetivo
centrado no desenvolvimento econômico mundial demonstra, historicamente, o claro
sentido de anos de exploração para o capital. Ao mergulhar na instauração do
monopólio capitalista, esta noção de exploração fica evidente, pois, para produzir era
necessário matéria-prima vinda da natureza e do trabalho vivo. A mercadoria final
produzida por muitos era concentrado nas mãos de poucos, os quais ditavam o caminho
do desenvolvimento econômico.
A capitalização e mercantilização da natureza em meio a exploração e
apropriação do trabalho vivo, evidenciaram o sentido claro e lógico dos caminhos desse
sistema insustentável. Com o passar dos anos, com a disseminação do capitalismo
mundial, o consumo desenfreado, a desvalorização do trabalho vivo, lucros acentuados
e as altas taxas de juros tornariam parte das relações sociais que reproduziriam a lógica
do capital impregnando-a na cultura, na moral e na educação de distintos povos e
nações.
Neste sentido, Iamamoto (2014) afirma que,
“[..] a natureza dá lugar ao espaço produzido. Verifica-se a regressão,
degradação e transgressão no nível das relações de família, de
amizade, da vida social de grupos parciais, do meio ambiente, assim
como a produção de novas relações no âmbito de segmentos sociais
como a juventude, os idosos, as mulheres e os trabalhadores.” (p.50)
Portanto, para Iamamoto (2014), em meio ao sistema de produção capitalista, a
natureza sede espaço para a produção conjecturando na clara alteração das relações
sociais e socioambientais interferindo nos antigos e novos arranjos familiares,
intervindo nos diversos seguimentos da sociedade e da natureza.
De acordo com Mészáros (2011),
devemos ter em mente que as realizações problemáticas do sistema do
capital de uma estratégia autocontraditória que ingênua ou
assustadoramente ignora as exigências de um adequado “domínio do
homem sobre suas condições de existência orgânica e inorgânica”
como a precondição necessária de um domínio humano socialmente
viável sobre as forças da natureza. (MÉSZÁROS 2011, p.609)
5
No contexto do autor supracitado, é necessário compreender que a evolução
capitalista e as implicações desta tem causado consequências eminentes que não devem
ser ignoradas ou isoladas ao âmbito ambiental ou social, mas em sua totalidade sob a
perspectiva do domínio do homem sobre a natureza e os desequilíbrios dessa relação.
Na perspectiva das relações entre homem e natureza, Foster (2014) enfatiza o
conceito de metabolismo desenvolvido por Marx para explicitar essas relações. Para
Foste (2014) este conceito de metabolismo destrinchado por Marx em O capital
direciona para a relação entre homem – trabalho – natureza. Segundo Marx (1975), o
trabalho é a “condição universal da interação metabólica entre o homem e a natureza, a
perpetua condição da existência humana imposta pela natureza.” (MARX 1975 in
FOSTER 2014, p. 221). O sentido de metabolismo apresentado por Marx está aplicado
à “troca material”, onde o homem, através do trabalho, extrai da natureza a riqueza
material e todo o universo de valores para satisfação e precisões humanas.
O conceito de metabolismo em Marx emerge mediante fracassas relações entre
homem e natureza sobre tudo consequente da apropriação da natureza e do trabalho
vivo. Segundo Foster (2014), a instauração do capitalismo no meio agrícola trouxeram
consequências tão degradantes quanto a instauração do capitalismo nas cidades de
forma industrial. A produção capitalista na agricultura, segundo o autor supracitado,
explorava a mão de obra viva e na mesma intensidade o solo. Como consequência, o
solo sofria infertilidades frequentes além de receber os dejetos de esgoto das cidades
superpopulosas, os dejetos, por sua vez carregavam o restante de nutrientes que
restavam no solo. A superpopulação nas cidades, de acordo com Foster (2014) não
advinha somente da procura por emprego, mas sim “[...] pelas relações de produção que
tornavam a existência continuada dessa população excedente relativa necessária ao
sistema.” (p.204).
Com base no conceito de metabolismo em Marx, Silva (2010) compreende que a
espécie humana difere dos demais animais de acordo com a sua relação com a natureza
mediada pela busca de meios indispensáveis para satisfação de suas necessidades,
denominada de relações sociais de produção. Para a autora, o trabalho é essencial nessa
mediação, ao ponto em que o homem se apropria da natureza através do trabalho,
modificando-a constituindo e criando meios para reprodução da vida em sociedade.
Neste sentido, “o trabalho constitui, assim, uma dimensão fundamental da sociedade
humana visto que possibilita uma ‘dupla transformação’: à medida que intervém na
natureza, transformando-a, o homem transforma a si próprio.” (p.54).
6
De acordo com Foster (2014), Marx já havia elucidado sobre a degradação do
solo mediante a produção em larga escala da agricultura e da indústria sob efeitos aos
trabalhadores e ao solo. Assim, com o aumento das tecnologias na era da
industrialização e ascensão capitalista, as tecnologias existentes eram incapazes de
suprir a ausência de nutrientes causada pela exploração em larga escala do solo.
Com o desenvolvimento das forças produtivas houve também a dependência do
uso das forças naturais por meio das tecnologias. Quanto mais se utilizavam das
tecnologias, maiormente extraiam da natureza descartando o trabalho vivo “gerando a
eliminação da produção fundada na lei do valor.” (LEFF 2014 p. 48).
É nessa lógica de apropriação e exploração da natureza e do trabalho vivo que se
funda o nexo da opressão capitalista diante das relações socioambientais. Perante a
produção e reprodução das relações sociais este contexto exploratório se firma e
instaura na sociedade fazendo-lhes acreditar que o único meio de desenvolvimento do
ser humano é através da apropriação da natureza e do trabalho humano. Assim, nessa
vertente, existem leituras distintas sobre as origens da questão ambiental. Há autores
que defendem a existência de uma crise ambiental, outros nomeiam de crise
socioambiental ou questão socioambiental. Neste sentido, apreendemos aqui o termo
questão ambiental por se aproximar com as discussões que norteiam a formação do(a)
assistente social.
Silva (2010) compreende a questão ambiental como um conjunto de
“deficiências na reprodução do sistema, o qual se origina na indisponibilidade ou
escassez de elementos do processo produtivo advindos da natureza, tais como matériasprimas e energia e seus desdobramentos ideopolíticos.” (p.67). Na visão de Leff (2014)
a questão ambiental é “uma problemática eminentemente social, gerada por um
conjunto de processos econômicos, políticos, jurídicos, sociais e culturais.” (p. 241).
Nesse sentido, compreende-se a questão ambiental como um conjunto de
insuficiências advinda das relações contraditórias entre homem e natureza, inerentes às
relações sociais de produção, dos quais são evidenciados e acrescidos nas contradições
entre classes, no individualismo, na concorrência e no consumismo exagerados.
3. CURRÍCULO, SERVIÇO SOCIAL E A DIMENSÃO AMBIENTAL
Grundy (1987) in Sacristan (2013) afirma que o currículo não é um conceito,
mas sim uma construção cultural. “Isto é, não se trata de um conceito abstrato que tenha
7
algum tipo de existência fora e previamente à experiência humana. É, antes, um modo
de organizar uma série de práticas educativas”. (GRUNDY 1987 in SACRISTAN 2013,
p.14).
Conforme Silva (2013), é através do currículo que é possível selecionar qual
conhecimento deve ser ensinado, por isso, coloca-se como resultado de uma seleção,
incumbindo identidade e subjetividade, resultando em relações de poder. O autor
apresenta o currículo como um “processo de racionalização de resultados educacionais,
cuidadoso e rigorosamente especificados e medidos.” (p.12). Nesse sentido, o autor
discorre sobre as teorias do currículo, das quais trataremos nesta pesquisa, mais a fundo,
a teoria crítica. Para Silva (2013), dentro das teorias críticas envolvem sempre
questionamentos, “As teorias críticas [...] do currículo estão preocupadas com as
conexões entre saber, identidade e poder. (p.16). “Neste sentido, elas deslocam a ênfase
dos conceitos simplesmente pedagógicos de ensino e aprendizagem para os conceitos de
ideologia e poder. (SILVA 2013, p.17).
De acordo com as Diretrizes Curriculares Gerais para o Curso de Serviço
Social3 de 1996, dentre as disciplinas obrigatórias básicas, devem apresentar os cursos
de Serviço Social: Sociologia, Ciência Política, Economia Política, Filosofia,
Psicologia, Antropologia, Formação sócio-histórica do Brasil, Direito, Política Social,
Acumulação
Capitalista
e
Desigualdades
Sociais,
Fundamentos
Históricos-
metodológicos do Serviço Social, Processo de Trabalho do Serviço Social,
Administração e Planejamento em Serviço Social, Pesquisa em Serviço Social, Ética
profissional, além das atividades indispensáveis do currículo obrigatório como estágio
supervisionado e trabalho de conclusão de curso. Para tanto, as diretrizes curriculares
gerais determinam a garantia da obrigatoriedade de carga horária mínima de 2.700 horas
com duração média de 4 anos de curso.
Observa-se, nas diretrizes curriculares gerais, a não obrigatoriedade de uma
disciplina específica que abarque a questão ambiental. No entanto, o documento expõe a
necessidade de trabalhar temas atuais, interdisciplinarmente, e que comtemple as novas
expressões da “questão social”, objeto de estudo e trabalho do assistente social. Apesar
da questão ambiental não constituir-se na atualidade, esta temática não está presente
3
As Diretrizes Curriculares Gerais para o Curso de Serviço Social, aprovado em novembro de 1996, é um
documento “que estabelecem uma base comum, no plano nacional, para os cursos de graduação em
Serviço Social, a partir da qual cada Instituição de Ensino Superior (IES) elabora seu Currículo Pleno.
Aquela base está pautada por um projeto de formação profissional, coletivamente construído, ao longo
dos anos 80 e 90, sob a coordenação da ABESS.” (DIRETRIZES CURRICULARES GERAIS PARA
O CURSO DE SERVIÇO SOCIAL – ABEPSS, 1996)
8
explicitamente nas Diretrizes Curriculares Gerais para o curso de Serviço Social do
Brasil de 1996. Para isso, utilizaremos as bases teóricas do currículo oculto. Este,
segundo Vallace (1973) in Giroux (1986), refere-se às consequências não acadêmicas,
“porém,
educacionalmente
significativas
da
escolarização
que
ocorrem
sistematicamente, mas não são explicitadas em nenhum nível das justificativas públicas
da educação [...].” (VALLANCE 1973 in GIROUX 1986, p. 71).
Para identificar as produções sobre a atuação do assistente social na temática
ambiental, foi realizado um levantamento das plataformas online onde são
disponibilizadas produções científicas, dentre elas: principais revistas online de Serviço
Social, bibliotecas da UFS e UNIT, SciELO, periódicos da CAPES e anais de eventos.
Foram encontrados doze artigos, seis monografias identificadas na UFS e UNIT, duas
dissertações, uma tese e três livros, totalizando vinte e quatro trabalhos referentes à
atuação do (a) assistente social na educação ambiental, “Serviço Social no
enfrentamento da questão ambiental (ou socioambiental)”, “Serviço Social e
sustentabilidade ambiental”, “Gestão Ambiental e Serviço Social”, “Responsabilidade
Socioambiental de Empresas e Serviço Social e Meio Ambiente”. As publicações
identificadas foram realizadas entre os anos de 2007 a 2013. Contudo, nenhum trabalho
foi encontrado a título de identificar como se dá a formação inicial do (a) assistente
social, a fim de evidenciar um currículo que englobe a atuação do profissional frente à
questão ambiental.
No portal de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Ensino Superior
- CAPES/MEC, foi encontrado uma dissertação apresentada na PUC-SP por Mendes
(2011) com o título: Serviço Social e Sustentabilidade: uma nova demanda para a
profissão.
A dissertação de Bourckhardt (2010) intitulada “Fundamentos da análise
marxista sobre a temática ambiental e o Serviço Social” constitui um importante estudo
onde abarca a identificação das tendências das produções sobre o meio ambiente nos
Programas de Pós-Graduação em Serviço Social. Através do estudo de Bourckhardt
(2010) foi possível visualizar em que cerne encontra-se as produções referentes à
temática ambiental e Serviço Social. Num levantamento entre os anos de 1998 a 2008, a
autora constatou que apenas 24 dissertações e 6 teses, de um total de 1263 dissertações
de mestrado e 512 teses de doutorado defendidas em 16 Programas de Pós Graduação
em Serviço Social, contemplam a temática ambiental, ou seja, apenas 1,17%. A autora
enfatiza o reduzido número de produções na área mesmo onde há a existência de linhas
9
de pesquisas que focam a questão ambiental, urbana e territorialidade no programas de
pós-graduação em Serviço Social.
Nos principais periódicos eletrônicos disponíveis online no Brasil, na área de
Serviço Social, foram encontrados onze artigos relacionando à atuação do assistente
social na questão ambiental, em políticas públicas ambientais e em educação ambiental
e sustentabilidade. Já no portal SciELO – Scientific Electronic Library Online –, foi
encontrado apenas um artigo com a temática supracitada. Foram identificados dois
artigos em anais de congressos de Serviço Social.
De acordo com o levantamento, nota-se o baixo índice de produção que abarque
a temática ambiental. Tais dados podem incidir na atual condição dos currículos dos
cursos de Serviço Social. Quando considerado o campo de atuação do(a) Assistente
Social, percebe-se, parcialmente, a carência no trato da questão ambiental imbricada à
questão social, segundo os números evidenciados de produções na área. Quando os
dados são locais, esses números são ainda menores. A pesquisa em andamento pretende
ouvir os professores e analisar a fundo os currículos das universidades sergipanas a fim
de elucidar o problema desta pesquisa.
4. SOBRE AS UNIVERSIDADES EM ESTUDO
4.1 O curso de Serviço Social na Universidade Federal de Sergipe
Em Sergipe, a primeira escola de Serviço Social, segundo Santos, Gonçalves e
Cruz (1999), foi inaugurada em 27/03/1954, 18 anos após o surgimento da primeira
escola em São Paulo e 14 anos antes da instalação da Universidade Federal de Sergipe UFS. Segundo as autoras, a escola “participou do debate de criação da UFS, sendo uma
das primeiras instituições de Ensino Superior que a integraram” (SANTOS,
GONÇALVES e CRUZ 1999, p.31).
Segundo Santos, Gonçalves e Cruz (1999), a primeira escola de Serviço Social
de Sergipe, como em outros estados, surgiu sob influências da Igreja através do Bispo
Diocesano Dom Fernando Gomes, do Estado através do governador Arnaldo
Rollemberg Garcez e das elites dominantes. Sendo assim, “fazia-se necessária a criação
de uma instituição responsável pela formação e divulgação de valores ideológicos que
serviam para atenuar os conflitos sociais” (SANTOS, GONÇALVES e CRUZ 1999,
p.32). A escola era administrada pela Sociedade Sergipana de Cultura, uma ONG que
apresentava a finalidade de instruir, manter e dirigir Faculdades e demais institutos de
10
caráter cultural e social. Segundo as autoras, a entidade recebia incentivos do governo
em todas as esferas, da Igreja, do pagamento dos concursos para o ingresso na escola e
da mensalidade das alunas, uma vez que o curso era particular. Alguns professores
ministravam as aulas gratuitamente e outros recebiam gratificações simbólicas.
Atualmente, segundo o departamento do curso através do sistema integrado de
gestão de atividades acadêmicas - SIGAA da UFS, existem 497 alunos ativos no curso
de Serviço Social, no qual é disponibilizado nos turnos matutino e noturno, na
modalidade presencial no campus São Cristóvão.
O turno noturno e diurno apresentam carga horária mínima de 3210 horas
obrigatórias e 160 optativas. Em dez períodos os alunos podem cursar 42 disciplinas
obrigatórias e 25 optativas. Dentre as disciplinas obrigatórias do primeiro período,
estão: Introdução a Filosofia, Psicologia Geral, Sociologia I, Seminário Temático I e
Oficina de Metodologia Científica. No segundo período são ofertadas as seguintes
disciplinas: Produção e Recepção de Texto I, Introdução à Psicologia Social,
Antropologia I, Política I e Questão Social. Já no terceiro período, os alunos podem
cursar: Direito e Legislação Social, Fundamentos de Economia, Fundamentos
Históricos e Teórico-Metodológicos do Serviço Social I, Formação Sócio-Histórica do
Brasil I e Política Social I. No quarto período estão disponíveis as disciplinas:
Fundamentos Históricos e Teórico-Metodológicos do Serviço Social II, Formação
Sócio-Histórica do Brasil II, Trabalho e Sociabilidade, Ética e Serviço Social I, Política
Social II. No quinto período: Fundamentos Históricos e Teórico-Metodológicos do
Serviço Social III, Realidade Regional, Ética e Serviço Social II, Serviço Social e
Processos de Trabalho. Sétimo período: Seguridade Social, Gestão Social, Oficina de
Instrumentalidade Profissional II, Pesquisa Social e Serviço Social. Já no oitavo
período: Cultura, Identidade e Subjetividade, Trabalho de Conclusão de Curso I,
Laboratório de Ensino Da Prática I, Estágio Supervisionado em Serviço Social I. No
nono e no décimo período os alunos cursam as seguintes disciplinas: Atividades
Complementares em serviço Social, Trabalho de Conclusão de Curso II, Laboratório de
Ensino da Prática II, Estágio Supervisionado em Serviço Social II, Laboratório de
Ensino da Prática III, Estágio Supervisionado em Serviço Social III.
As disciplinas optativas versam uma formação complementar e nenhuma delas,
explicitamente, abarcam uma dimensão ambiental.
A partir da análise inicial do currículo, as disciplinas ofertadas não contemplam
a dimensão ambiental. Temas como questão urbana e agrária, questão social,
11
paradigmas da modernidade podem trazer a dimensão ambiental de forma transversal.
Entretanto, esta análise não pode se fundar sem compara-la com a resposta dos
professores e com o projeto político pedagógico do curso, cabendo até então,
compreendê-las numa perspectiva do currículo oculto.
Ainda não foi possível verificar quantas alterações o currículo do curso sofreu
durante os anos de instituição. No entanto, esta informação deverá constar nesta
pesquisa que se encontra em andamento. É de interesse investigativo averiguar se existe
previsão para alterações curriculares para as próximas turmas, bem como analisar o
Projeto Político Pedagógico do curso.
4.2 O curso de Serviço Social na Universidade Tiradentes
Em 1989, nas Faculdades Integradas Tiradentes, atual Universidade Tiradentes,
deu início as suas atividades no campus Farolândia, o Curso de Serviço Social. Em
1993 a primeira turma de graduandas, na sua totalidade mulheres, formou-se
ingressando na carreira profissional. (MENDONÇA 2012, p.209).
A UNIT foi a primeira universidade particular a ofertar o curso de Serviço
Social em Sergipe. Atualmente o curso é disponibilizado nas modalidades presencial e a
distância. Nosso lócus de análise não contempla a modalidade a distância pois, a priori,
o interesse investigativo visa aprofundar-se no curso presencial. Cabendo à pesquisas
futuras abarcar este orbe de forma específica.
Na modalidade presencial, o curso de Serviço Social da Universidade Tiradentes
é disponibilizado em Aracaju apenas no turno noturno. Dispondo de um total de 3240
horas, o curso apresenta 148 créditos obrigatórios e 4 para disciplinas optativas.
Totalizando 8 períodos, o currículo apresenta 41 disciplinas obrigatórias e 3 optativas.
No primeiro período, os alunos cursam as seguintes disciplinas: Metodologia
Científica, Psicologia Geral, Introdução ao Serviço Social, Desenvolvimento Capitalista
e Questão Social, Ciência Política, Práticas Investigativas I. No segundo período, o
currículo do curso disponibiliza: Ética Profissional e Serviço Social, Fund. Hist.
Teóricos Met. do Serviço S I, Formação Sócio-Histórica do Brasil, Práticas
Extensionistas I, Economia Política, Fundamentos Antropológicos e Sociológicos. No
terceiro período os alunos podem cursar: Práticas Investigativas II, Introdução ao
Direito, Estatística, Administração a Planej. Social a S. Social, Teorias Sociológicas,
Antropologia Cultural, Fund. Hist. Teóricos Met. do Serviço S. II, Filosofia e
Cidadania. No quarto período: Política Social I, Oficina De Instrumentos E Téc. Em
12
Serv. S I, Fund. Hist. Teóricos Met. Do Serviço S. III, Direito e Legislação Social,
Seminários Temáticos I, Práticas Extensionistas II. O quinto período são ofertadas as
seguintes disciplinas: Gestão Social, Política Social II, Oficina de Instrumentos e Téc.
Em Serv. S. II, Trabalho e Sociabilidade¸ Psicologia Social. No sexto, no sétimo e no
oitavo período, o curso oferta as disciplinas: Pesquisa em Serviço Social I, Estágio
Supervisionado I, Processo de Trabalho e Serviço Social, Estágio Supervisionado II,
Movimentos Sociais e Serviço Social¸ Pesquisa em Serviço Social II, Sociedade e
Contemporaneidade, Seminários Temáticos II¸ TCC, Optativa 1.
Segundo Silva (2010) a temática ambiental, de acordo com as publicações em
revistas e eventos na área, está inserida em disciplinas que abarcam a temática:
territorialidade, questão agrária, urbana e rural.
Do mesmo modo que na UFS, a UNIT não dispõe em sua estrutura curricular, de
disciplinas específicas que abarquem a temática ambiental. Como dito anteriormente,
cabe a análise dos dados obtidos através das entrevistas com os professores do curso e
do Projeto Político Pedagógico para compreender em que medida a formação inicial
do(a) assistente social abarca a temática ambiental.
5. BREVES CONSIDERAÇÕES:
Diante da atual situação global, cabe às universidades e faculdades de Serviço
Social adequar-se a um currículo ambientalizado que contemple de forma transversal e
interdisciplinar a temática ambiental. Apesar de não se constituir a partir da atualidade,
a questão ambiental é centro de atuação e pesquisas de diversos profissionais com
embasamento teórico e prático para tal, no entanto, para o Serviço Social ainda é um
campo pouco explorado. Contudo, não se sustenta o entendimento de que cabe ao
profissional se especializar e procurar compreender a questão ambiental de forma
individual. É necessário que essa compreensão também aconteça na formação
profissional inicial e de maneira coletiva.
Espera-se com esta pesquisa em andamento, contribuir com as bases da
formação do Assistente Social, principalmente no que diz respeito ao cenário atual. Que
esta pesquisa sirva de cerne na condução de outras pesquisas e estimule discussões
sobre a temática ambiental tão carente no Serviço Social. Além disso, anseia-se com
este estudo, que a questão ambiental seja entendida como objeto de trabalho do
assistente social e possa ser inserida na formação profissional como base essencial para
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compreensão da questão social e vice-versa. A questão ambiental está entremeada com
a questão social. No entanto, sabemos dos desafios e obstáculos na formação
profissional, mesmo assim não faltarão esforços para a melhoria da categoria da qual
reflete diretamente em sua atuação na sociedade. A comunidade carece, a realidade
exige, precisamos de profissionais preparados para atuar na questão ambiental e cabe a
nós, assistentes sociais, demandarmos por uma formação qualificada e atualizada.
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