TEXTO final enlace - maio 2015

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MISS BRASIL GAY EM JUIZ DE FORA/MG: FESTA TRIBAL
Autor : Marcelo Carmo Rodrigues1
Resumo : O objetivo é apresentar parte dos resultados da pesquisa de doutorado denominada
O imaginário da festa ‘tribal’ no Brasil: o exemplo do Miss Brasil Gay em Juiz de Fora. A
referida tese foi elaborada a partir do imaginário coletivo que circunda o Miss Brasil Gay
(Juiz de Fora/MG) e historicamente estabeleceu-se como espaço onde o hedonismo e o corpo
ocupam posição central. Os dispositivos metodológicos utilizados foram a participação
observante e as histórias de vida. O Miss Brasil Gay pôde ser percebido como instrumento de
resistência política de diferentes tribos gays para fazerem-se vistas/ouvidas, em suas
necessidades e aspirações. O concurso permite analisar a transitoriedade das identidades nas
tribos pós-modernas: múltiplo e em constante metamorfose.
Palavras-chave: Imaginário – Identidades – Tribos – Miss Brasil Gay – Histórias de vida
Trata-se de um estudo transdisciplinar sobre as homossexualidades, as identidades, os
ritos e os rituais de passagem, os corpos, as efervescências turísticas e os conflitos existentes
dentro das diversas “tribos gays”. A hipótese é que o concurso se aproxima de uma
“efervescência pós-moderna”, de acordo com o sociólogo francês M. Maffesoli. O fio
condutor são as inúmeras relações entre a sociologia e o imaginário que permitirão acessar
uma parte da comunidade homossexual brasileira, em suas relações com sexo, gênero,
identidades, “sonhos”, perspectivas, vulnerabilidades e ameaças, dentro de um contexto
político-social construído sobre as bases de um discurso heteronormativo.
Quais são os discursos contidos no desfile das 27 candidatas – ou seriam candidatos?
Há outras mensagens que transpassam as palavras e os jogos linguísticos, produzidos através
da utilização do corpo? Quando as condições para se fazer compreendido não são disponíveis
a um determinado grupo, o corpo é utilizado para informar a existência dessa minoria social
(ou sexual). Poder-se-ia manter as discussões dentro da determinação natural e biológica da
homossexualidade, como grande parte dos estudos desenvolvidos nos séculos XIX e XX.
Porém, optou-se pela sociologia fenomenológica compreensiva, que pretende ir mais longe ao
incorporar novos elementos às pesquisas que objetivam discutir a (re)construção das
homossexualidades.
1
Professor Adjunto A da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF – MG), no Instituto de Ciências Humanas
(ICH), curso de Turismo. Doutor em sociologia pela Universidade Sorbonne – Paris Descartes, 2011-2014, sob a
orientação do prof. Michel Maffesoli. 1
1. Breve referencial sobre concursos de beleza no Brasil:
Os concursos de beleza nasceram nos anos 1.920 e tiveram sucesso imediato. Segundo
G. Vigarello, depois da “invenção do corpo” no século XV, a beleza ganha em consistência e
imediatismo, como uma nova maneira de jogar com as massas através da cor da pele, das
formas e dos volumes corporais. O historiador francês revela em L’Histoire de la beauté
(2004) os processos e as transformações pelo quais a beleza passou nos últimos três séculos,
indo de uma esfera individual ao universo da moda e da cosmetologia. A moda deu
características coletivas à beleza, às quais foram desenvolvidas e incorporadas as técnicas
atuais de cuidados com a pele, uma nova oferta de produtos e uma grande preocupação com a
higiene e toda a indústria da beleza – onde a França ocupa papel central2.
Ainda segundo G. Vigarello, as “rainhas” e “misses” se multiplicaram entre as duas
Grandes Guerras: Miss América (1921), Miss France (1928), Miss Europa (1929) e Miss
Universo (1930). A adoção do termo miss confirma a passagem para o que veio a ser
chamado de cultura de massa, ou seja, difusão em grande escala da imagem, do filme e do
som3. Em Beauty Pageants (2010), o nascimento do fenômeno ocorre em 1921 quando um
grupo de industriais de Atlantic City tem a ideia de promover um concurso de “rainha da
primavera” como ação de promoção de um evento que seria realizado no verão seguinte. Na
primeira edição compareceram apenas sete bathing-suit-clad beauties, porém no ano seguinte
esse número passou para 57 candidatas4.
Sobre os concursos de beleza, o sociólogo francês D. Le Breton ressalta que as
cirurgias estéticas têm seu desenvolvimento muito ligado aos concursos de beleza em alguns
países, principalmente na América do Sul e nos Estados Unidos, com uma grande rivalidade
entre as concorrentes, cujo corpo foi totalmente refeito pela cirurgia estética. Esse processo de
embelezamento – meticuloso, podendo chegar à neurose – produz verdadeiras esculturas
vivas totalmente retocadas. Ainda segundo o autor, no continente americano as intervenções
cirúrgicas estéticas são banalizadas e um contingente enorme de mulheres reivindicam um
design corporal mais bem definido, inclusive para se manter nas competições5.
2
Vigarello, G. L'histoire de la beauté: le corps et l’art d’embellir de la renaissance à nos jours. L’univers
Historique. Paris: Seuil, 2004, p. 131. 3
Ibid., p. 205.
4
Noël Merino at Issue. Beauty Pageants. Ed. by. Social Issues. Detroit: Greenhaven Press, 2010, p. 13.
5
Le Breton, David. Anthropologie du corps et modernité. Paris: Presses universitaires de France, 2010.
2
No que se refere ao Brasil, a partir de 1954 começa a ser eleita a mulher mais bonita
do país. O concurso ganha reconhecimento popular, começam a se multiplicar e passam a
levar um grande número de pessoas às etapas estaduais e à grande final que acontecia no
Ginásio do Maracanãzinho (Rio de Janeiro). O concurso Miss Brasil continua a acontecer,
agora com novo formato, inclusive passando a ter suas edições televisionadas e patrocinadas
por grandes grupos empresariais.
A partir dos anos 60, o sucesso dos concursos também atraiu a atenção dos
homossexuais brasileiros, que tornou-se um novo público do espetáculo, além dos
homossexuais que já trabalhavam nas funções de estilista, maquiador, cabeleireiro etc. A
grande presença dos homossexuais nas arquibancadas fez também com que os concursos se
transformassem em local de encontro, que interessavam-se e inspiravam-se na beleza e no
universo femininos. Os anos 70 são a época de ouro dos concursos de beleza no Brasil. Era a
época das grandes divas do cinema e da música, como escreveu J. N. Green:
The attendance at the annual Miss Brazil beauty pageants offered a forum for public display
of camp, as well as the opportunity to measure and challenge traditional notions of feminine
glamour, beauty, and fashion. Despite the opposition of certain « macho » men who tried to
drive the bichas off the sands, a section of the popular Copacabana Beach in Rio de Janeiro
become homosexual territory.6
Os concursos de beleza feminina inspiraram os homossexuais masculinos brasileiros a
se apropriarem dos códigos e do imaginário desses eventos para criar suas próprias
manifestações. Como os concursos femininos, atualmente os concursos gays são uma
realidade brasileira, com edições em muitas cidades, criados a partir e em torno do Miss
Brasil Gay, pioneiro do gênero. Além disso, os concursos de beleza tornaram-se um
interessante nicho de mercado, que trouxe consigo uma profissionalização e uma relevância
econômica que não pode ser negligenciada. Os concursos de beleza tornaram-se um
verdadeiro negócio!
2. História do Miss Brasil Gay:
O Miss Brasil Gay foi criado por Francisco Motta – o Chiquinho cabeleireiro – em
1976. O concurso nasce de uma “brincadeira entre amigas” durante uma noite no apartamento
do seu criador. O objetivo era auxiliar financeiramente a Escola de Samba Juventude
Imperial, da qual F. Motta era componente. A Miss Brasil Gay 1979, Baby Mancini, conta
6
Green, P. Beyond Carnival: male homosexuality in twentieth-century Brazil, worlds of desire. Chicago:
University of Chicago Press, 1999. p. 148.
3
sobre o nascimento do concurso “no apartamento do Chiquinho. A gente via os concursos,
pegava colcha, lençol, enrolava e ficava desfilando dentro do apartamento. Dali nasceu a ideia
do Miss Brasil7”.
O Miss Brasil Gay é inspirado nos grandes concursos de beleza feminina que se
popularizaram após 1950. O evento acontece anualmente em Juiz de Fora e é tido como um
dos maiores eventos da cidade, que atrai(ía) milhares de turistas. É importante informar que,
quebrando a tradição, o concurso não foi realizado em 2012, 2014 e há grandes possibilidades
de não ser realizado em 2015, haja vista que a produção do evento ainda não se pronunciou.
Trata-se de uma competição onde os concorrentes não são travestis, mas homens que se
vestem de mulher a partir da criação de um personagem feminino ou, como eles se
denominam: “atores transformistas”. O diferencial do evento é não haver concurso
semelhante em outros países. O que pode-se perceber é uma série de concursos municipais,
temáticos (eleição da miss de algum evento ou data específica) ou estaduais, espalhados pelo
Brasil, que movimentam o imaginário de um percentual representativo dos homossexuais
masculinos brasileiros. O concurso tornou-se uma das manifestações culturais mais
conhecidas do município, fato que lhe rendeu o registro como “ 4° Patrimônio Imaterial de
Juiz de Fora”. Além de sua importância política, social e cultural, o Miss Brasil Gay é
considerado como um exemplo importante do “turismo LGBT” no país. Ele permite perceber
as “imagens identitárias” que tentam definir a homossexualidade brasileira, em meio a uma
“efervescência turística e pós-moderna”.
O criador do concurso, Francisco Mota, é originário de Visconde do Rio Branco
(interior de Minas Gerais) e por muitos anos exerceu a profissão de cabeleireiro em Juiz de
Fora. Atualmente com 70 anos, ele encontra-se aposentado, vítima de um acidente
cardiovascular em 2006, teve a fala e parte dos movimentos comprometidos. Seu personagem
feminino é Mademoiselle Debret Le Blanc que por mais de 30 anos conduziu a produção e
realização do concurso. Exatamente como madame Socila – proprietária de uma escola de
etiqueta homônima no Rio de Janeiro – ele usava um bastão, para manter a ordem em cena.
Essa é a imagem mais conhecida de Chiquinho Mota: em seu personagem feminino, bastão
em punho, no meio do palco, coordenando todo o espetáculo.
O concurso sempre teve o formato de uma competição entre os estados brasileiros,
dividido em duas etapas: o desfile de “trajes típicos” seguido pelos “vestidos de gala”. A
7
Rodrigues, M. C.. L'imaginaire de la fête "tribale" au Brésil : l'exemple du "Miss Brésil Gay" à Juiz de
Fora. Paris, 2014, 351 p. (Doutorado em sociologia) – École Doctorale "Sciences humaines et sociales :
cultures, individus, sociétés" (ED 180), Universidade Paris Descartes, Paris, França, p. 234.
4
interdição das cirurgias plásticas (principalmente a presença de seios) sempre foi a “regra de
ouro” do concurso, para manter todas as candidatas em condições de igualdade na
competição. Essa regra sempre foi mantida mesmo que ela tenha sido criada sem maiores
questões ideológicas, como explica B. Mancini:
A festa era de Juiz de Fora, e Juiz de Fora o mundo gay era pequeno na época, então cada um
escolhia o seu estado. Entendeu? Cada um escolhia. Depois de anos de concurso, depois de
mais de dez anos de concurso é que passou a vir os/ nem dez não. O primeiro ano que veio
artista foi no ano que eu ganhei, 79, que veio Elke Maravilha, Fernando Reski, Ezilio
Gutierrez que era da Marta Rocha, ai começou a vir gente importante, no terceiro ano, em
1979, que começou a vir gente importante ao concurso. Que até os dois primeiro anos, era só
local8.
A competição é marcada pela “Galeria da beleza” onde as travestis, ex-misses e
convidados(as) especiais entram no evento pelo palco para ocupar seus lugares na plateia. Há
também vários shows de artistas reconhecidos nacionalmente por se apresentarem em boates e
bares voltados para o público LGBT. Ao longo de cinco horas de espetáculo, vinte e três (23)
jurados avaliam e elegem a miss gay brasileira. Se até 2011 o concurso tinha duração de seis
horas, em 2013 é adotado um novo formato e o concurso é transferido para o Cine-Theatro
Central, o espaço mais nobre de eventos e espetáculos de Juiz de Fora, sob a administração da
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
No que diz respeito às candidatas, pôde-se observar a intensificação da concorrência e
elevação do investimento financeiro. As últimas misses eleitas investiram em torno de oitenta
mil reais, por exemplo. Se em seus primórdios o concurso era uma “brincadeira”, ao longo de
sua trajetória ele foi sendo reconhecido inclusive internacionalmente, adquirindo mais
seriedade e profissionalismo.
Há também o universo de “sonho e fantasia” que existe em torno do concurso. Ao
longo dos anos, o concurso desenvolveu seu objetivo principal que sempre foi de valorizar a
arte do transformismo. Pode-se buscar referências no teatro Kabuki japonês e também no
processo que se desenvolve ao longo do século XX, quando os movimentos culturais
passaram a discutir as questões de gênero, os papeis exercidos pelos homens e pelas mulheres
dentro de um contexto mundial e o processo de empowerment gay a partir dos anos 60.
Quando da criação do concurso não havia nenhuma preocupação com seu papel
político. Tratava-se apenas de um “carnaval fora de época”. Era um momento de socialização
e festa. A organização não era bem estruturada, recaindo sobre F. Mota toda a
responsabilidade de organizá-lo. É interessante observar que entre as entrevistadas, há a
8
Ibid, pag. 237-238.
5
utilização repetida do termo “festa” para se referir ao concurso. A percepção da “festa” como
um “evento” é bem recente e está diretamente e está diretamente ligada às tentativas de
formatação do “produto turístico”. Festa no sentido de não haver regras bem determinadas ou
níveis hierárquicos e organização bem definidos. Essa aparente falta de organização – que
quando estudada mais profundamente revelou que sempre houve um código de conduta a ser
seguido – é que permitia a realização do evento.
O Miss Brasil Gay é anterior às gay prides. Ele pode ser considerado como uma das
primeiras ações organizadas de um grupo de homossexuais brasileiros. As ações realizadas
até então eram isoladas e ligadas à cena artístico-cultural e ao processo de transformação pela
arte, mais que propriamente por movimentos políticos organizados. Ao longo dos seus trinta e
sete anos, o concurso ganhou visibilidade e notoriedade em função do papel político que vem
desempenhando e da profissionalização pela qual vinha passando, o que despertou grande
interesse da imprensa e das pesquisas sociais. O psicanalista brasileiro João Silvério Trevisan
escreveu sobre o concurso em Devassos no Paraíso: a história da homossexualidade no
Brasil (1986):
Sinal do novos tempos: o concurso de travestis Miss Brasil Gay, anualmente realizado em Juiz
de Fora (MG), passou a integrar o calendário turístico oficial da cidade e se politizou através
da criação paralela do Rainbow Fest (Festival do Arco-Íris), constituído de espetáculos, feira
de produtos GLS, exibições de vídeos, exposições de arte e debates sobre a homossexualidade,
na semana anterior ao concurso que em 1999 teve sua 23° edição9.
3. Tribos pós-modernas e Dioniso – a sociologia de Michel Maffesoli:
Ao se observar mais detalhadamente o Miss Brasil Gay, percebe-se a presença de dois
temas centrais da sociologia de M. Maffesoli: a ideia de tribu postmoderne e o lado dionisíaco
da festa. No que se refere às tribos pós-modernas, pôde-se observar que elas estão lá, diferente
da percepção externa de que não há regras. Elas são parte de um código de conduta invisível –
mas presente – que permite com que essa tribo se mantenha viva. Para além de um contrato
social moderno (onde todas as normas estão descritas) há um conhecimento orgânico e
enraizado, que o sustenta. Quando à presença de Dionísio, suas manifestações são percebidas
na efervescência, no lado festivo e no reencontro das mais diversas identidades gays. O
dionisíaco do festa é o espírito de liberação e catarse coletiva que ela propicia.
O “tribalismo” é considerado pelo sociólogo francês Michel Maffesoli como a
característica mais importante da pós-modernidade. Após os movimentos sociais que tiveram
9
João Silvério Trevisan. Devassos No Paraíso: a homossexualidade na Brasil, da colônia à atualidade. 3a. ed.
rev. e ampliada. Rio de Janeiro: Editora Record, 2000, p. 380.
6
seu apogeu no século XX, na pós-modernidade são as novas tribos que se sobressaem. O
Tempo das tribos (1988) esclarece que as tribos permitem perceber o processo de
desinvidualização, de saturação da função que lhe é inerente e de acentuação do papel de cada
pessoa (persona) convidada a participar dessas tribos10. Ainda de acordo com o mesmo livro:
a característica essencial do neo-tribalismo pós-moderno é a dimensão comunitária da
sociedade11.
Como elemento essencial de toda a estruturação das tribos, o “sentimento de
pertencimento” se instala e torna perceptíveis seus aspectos identitários. Posterior ao período
em que as identidades eram definidas por questões geográficas, na pós-modernidade são os
gostos e as ligações afetivas que as impulsionam, a partir das “alteridades”. Trata-se do
retorno do afeto, do emocional e do onírico imponderável, dentro daquilo que não se pode
mais simplesmente chamar de “contrato social”, mas sim de um “pacto social”. Em resumo,
utiliza-se do irreal para compreender o real12. Os estudos sobre as identidades na pósmodernidade discutem a importância da “alteridade” como pôde ser observado em Homo
Eroticus (2012): “ eu me perco no outro. Ou seja, eu só existo pelo e no Socius. O festivo não
sendo, em tal perspectiva, senão uma intensa copulação mística com esse Socius. Deve-se
entender por isso que o ser pessoal só existe em relação, em correspondência com o outro13”.
A importância do outro para compreender as identidades dentro da pós-modernidade
foi traduzida dentro de O Tempo das Tribos (1988), onde M. Maffesoli sublinha a
importância de Dioniso dentro desse processo: “a irrupção de Dionísio é a irrupção do
estrangeiro. Efeminado, perfumado, vestido de maneira diferente, sua aparência, os modos de
vida e de pensamento que ele propaga são chocantes sob vários pontos de vista14”. Após o
período de preponderância do racionalismo, que caracteriza a Modernidade e é representado
pela figura de Prometeu, o que pode-se perceber na pós-modernidade é a presença de
Dionísio, caracterizado pelo quotidiano e seus rituais, as emoções e paixões coletivas,
simbolizadas pelo hedonismo, onde o corpo exerce papel central em todo seu esplendor e
beleza contemplativos, com a volta do nomadismo contemporâneo, tudo que faz cortejo ao
tribalismo pós-moderno15.
10
Maffesoli, M. Le temps des tribus: le déclin de l’individualisme dans les sociétés postmodernes. Paris: La
Table Ronde, 2000, p. 18.
11
Ibid., p. XII.
12
Ibid., p. 103.
13
Maffesoli, M. . Homo eroticus, comunhões emocionais. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 215.
14
Maffesoli, M. O tempo das tribos: o declínio do individualismo nas sociedades de massas. 5 ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2014, p. 194.
15
Ibid., p. III.
7
Para fazer ligações entre identidades, alteridade e hedonismo pós-moderno,
M. Mafessoli propõe que a pós-modernidade marca o retorno do espírito de Dionísio, como a
força presente nas efervescências, responsável pelas características “afetivas” das relações.
Dionísio vem para colocar fim ao período de Prometeu. Ele é o deus do vinho e do sexo16, que
se mantém no centro das efervescências, entre as quais nós podemos incluir as revoltas, as
festas, as catástrofes e os momentos mais tempestuosos das histórias humanas 17 . Em
Homo Eroticus (2012) é a sombra de Dionísio que encobre as megalópoles pós-modernas. É o
retorno da orgia enquanto “paixão comum” que toca todos os setores da sociedade e
impulsiona as mais diversas efervescências18.
4. A valsa das identidades nas “tribos gays”:
A existência de tribos gays sugere que há muitas identidades em construção,
diversificadas e pulsantes, com pontos de interseção e divergências. As identidades políticas
podem ser observadas na sigla LBG (orientações sexuais minoritárias), T (travestis,
transexuais masculinos e femininos) e B (onde se enquadram outras manifestações de gênero
ou prática sexual). O século XX é marcado pelo desenvolvimento das discussões sobre as
homossexualidades dentro do campo da cultura e das identidades. Nesse processo de
transformação, as homossexualidades deixam de pertencer somente às discussões médicas ou
jurídicas para passarem também a ser discutidas no campo da sociologia e dos estudos de
identidades. O trabalho de Esther Newton, Mother Camp (1979) e Notes on ‘Camp’ (1964) de
Susan Sontag definiram a estética Camp como um dos primeiros movimentos identitários dos
homossexuais. E. Newton define o movimento Camp como um estilo estético. Trata-se de
uma maneira de ver o mundo como fenômeno estético. Essa maneira de ver as coisas de
acordo com o estilo Camp não refere-se somente à beleza, mas aos diferentes graus de
espetacularização e estilização19.
Mais recentemente na França, Jean-Yves Le Talec desenvolve seus estudos em
torno das folles, como um exemplo do estilo Camp que se inserem nos grupos sociais através
de novas utilizações performáticas do corpo. É ao longo do século XIX que aparece o termo
16
Maffesoli, M. L’ombre de Dionysos: contribution à une sociologie de l’orgie. Paris: Librairie des Méridiens,
1985, p. 197.
17
Maffesoli, M. Le temps des tribus: le déclin de l’individualisme dans les sociétés postmodernes. Paris: La
Table Ronde, 2000, p. 63.
18
M. Maffesoli, Homo eroticus, Des communions émotionnelles. Paris: CNRS editions, 2012, p. 237.
19
Sontag, S. Notes on « Camp », 1964, Disponível em :
http://monoskop.org/images/7/78/Sontag_Notes_on_camp_1964.pdf. Acesso em 01 de março de 2014.
8
folle para identificar os homossexuais afeminados. O movimento das folles tem suas raízes
nos mollies ingleses, os primeiros bares destinados ao homossexuais, que surgiram no século
XVIII no Soho, bairro gay de Londres, e que existem até os dias de hoje. Em seu livro
Folles en France (2008), o autor as define como:
La figure de la folle a émergé, au XIXe siècle, promue par des militants afin de proposer une
explication à l’homosexualité et de plaider pour son acceptation sociale. Mais il s’agit surtout
d’une identité pour autrui, médicalisée, désignée par le double stigmate de l’homosexualité et
de l’efféminement et frappée du sceau de la ‘nature’. Cette forme prescrite n’a probablement
pas disparu et se maintient de nos jours dans ses grandes lignes, bien que les « entrepreneurs
de morale » aient vu leurs positions s’affaiblir au cours du temps et bien que les normes qu’ils
défendent aient perdu de leur rigidité20.
A visibilidade das folles coloca a homossexualidade no centro dos discursos
culturalistas, que tentam compreendê-las como um movimento de relações afetivas e sociais,
que vai além das relações sexuais. J-Y. Le Talec escreve que as folles são uma forma de
promover aproximação entre as pessoas, ou seja muito mais que estética cultural. O autor
defende que, ao externar artisticamente sua homossexualidade e exagerarem as características
do homossexual afeminado, ressaltando os estigmas com relação a eles(as) próprios(as), as
folles tentam minimizar os efeitos do preconceito. Essa transformação na maioria das vezes é
carregada de humor, que é “a arma da folle camp21”.
Entretanto, deve-se observar que há uma mudança importante entre as tribos gays no
fim dos anos 70, ligado ao processo de erotização do corpo homossexual. Em oposição às
folles, um outro movimento identitário começa a se organizar, como uma tentativa de
redefinir a identidade homossexual, liberando-a da imagem que todo homossexual é um
homem afeminando ou, na pior das hipóteses, uma “mulher que não deu certo”. Em reação a
essa caricatura, o homem viril, o macho man foi tornando-se o tipo ideal entre os
homossexuais: cabelos curtos, bigode ou barba e corpo musculoso.
Em função de divergências políticas, as folles foram sendo expulsas do movimento
homossexual ao longo dos anos 80. Esse fato as conduziu a se organizarem em movimentos
independentes, sobretudo dentro das artes, retornando à ideia de “tribo” ou sociedades
secretas e subterrâneas. Sobre essas transformações dentro do estilo da homossexualidade
viril dos anos 80, onde não havia espaço para as folles, Guy Hocquenghem escreveu que a
folle tradicional, simpática ou pedante, é rechaçada diante da modernidade assertiva do jovem
20
Le Talec, J.-Y. Folles de France: Repenser l’homosexualité masculine. Paris: La Découverte, 2008, p. 157. Ibid., p. 103.
21
9
homossexual de vinte e cinco anos com seu bigode e casaco de couro, sem complexo nem
afetação, frio e polido, estilo publicitário ou vendedor de grandes magazines, inimigo das
diversidades, respeitoso do poder e adepto do liberalismo22.
As novas organizações sociais permitem observar mais atentivamente os discursos
sobre as sexualidades e homossexualidades. Si até a metade do século XX a
homossexualidade era estudada como uma estrutura uniforme segundo os discursos médicos e
jurídicos, as análises mais recentes apresentam uma rede mais complexa, composta por
grupos, ideias e comportamentos diversos, em um turbulência que é justamente o combustível
que faz avançarem as conquistas. Essas tribos adotam caminhos e estratégias diferentes para
tornarem visíveis suas ideias, mesmo se eles não fazem parte de um movimento político
formal.
As tribos homossexuais são múltiplas e diversificadas, em meio a um universo rico
que não pode ser compreendido a partir de um comportamento único, responsável para
manutenção e pela coesão de um grupo, aqui entendido como uma superfície lisa e uniforme
onde não há espaço para divergências e ou ideias comuns a todos. Sob essa perspectiva devem
ser consideradas as folles e os adeptos do estilo Camp, ou seja, pessoas que têm prazer em
poder viver livremente suas identidades a partir de personagens criados periodicamente, para
ocasiões especiais. A característica mais específica dessa tribo é a possibilidade de poder
transitar entre diversos mundos, de transpor as barreiras do sexo e do gênero para construir
novas identidades, além do masculino e do feminino. Como disse em entrevista a miss gay
brasileira 2013, Sheila Veríssimo, “eu jamais me limitarei a um único gênero”.
5. Dispositivos metodológicos e pesquisa ALCESTE:
A trabalho de campo utilizou-se da Participação Observante (PO) e do método das
“histórias de vida”, no que diz respeito aos dispositivos metodológicos. Foi definido como
grupo focal cinco misses gays brasileiras, a saber: Baby Mancini (1979), Sumara Gunar
(1987), Louise Balman (1998), Yanka Ashlen (2007) e Sheila Veríssimo (2013). A seleção foi
feita a partir da ideia de entrevistar uma miss eleita a cada década para compreender o
imaginário em torno dessa efervescência, através do olhar de seus protagonistas.
22
Martel, F. La longue marche des gays. Martel, Paris: Gallimard, 2002, p. 60.
10
No que diz respeito à Participação Observante (PO), trata-se de uma metodologia que
demanda um investimento prolongando sobre o objeto de estudo, pois implica na
preponderância da participação sobre a observação e a passagem da “participação pura” à
observação para uma “conversão para a pesquisa”23. A PO pode ser descrita como uma
atividade de pesquisa que combina investigação social, trabalho educacional e ação.
Pesquisadores defendem que o objetivo da PO é trabalhar com grupos oprimidos para
construírem juntos, a partir de situações reais e de novas descobertas, que serão utilizadas
para modificar a situação de opressão. A PO privilegia a dinâmica social e permite a
descoberta de novas possibilidades de manipular a realidade. Logo, para praticar a PO, o
pesquisador deve se identificar com a comunidade estudada. Os resultados são uma
construção coletiva para sensibilizar para os problemas sociais, econômicos e culturais que
existiam, e promover a mudança.
Com relação às “histórias de vida”, o método exige que o pesquisador garanta novas
etapas para a compreensão das diversas facetas do objeto estudado. É necessário manter o
sujeito orientado sobre os temas que interessam, fazendo questionamentos que permitem
análises mais profundas. As “histórias de vida” têm o objetivo de apresentar novas
possibilidades de articulação entre as experiências individuais e os fenômenos sociais de
maior amplitude. Enfim, os objetos de pesquisa são donos de uma essência própria e ocupam
posições diversas em um contexto dado. Nas “histórias de vida”, os sujeitos implicados são
dificilmente determinados a priori, pois tudo depende da qualidade das questões, das
informações, do grau de recorrência e da divergência entre as informações. É possível dizer
que fazer sua história de vida é menos lembrar-se do passado que projetar o futuro. É passar
da história herdada à História pessoal24.
Com o objetivo de imprimir um caráter mais cientifico à análise dos dados coletados a
partir das cinco entrevistas realizadas, optou-se por trabalhar com o software francês de
análise de dados em pesquisa qualitativa para as ciências sociais, cujo nome é ALCESTE
(Analyse des Lexèmes Co-occurrents dans les Énoncés Simplifiés d’un Texte.). O objetivo era
não somente organizar as principais ideias das entrevistas, mas também desvelar a
organização dos discursos através da análise léxica. Para o software, o vocabulário funciona
como uma intenção de sentido expressa pelo sujeito-enunciador, onde os traços mais
perceptíveis dessas atividades estão dentro dos “mundos dos léxicos”. Consciente das
23
“Microsoft Word - 2RQ_27,1_Texte_Soulé-Cr.doc - Pdf_soule.pdf,” accessed March 23, 2014,
http://anthropo.univ-lyon2.fr/IMG/pdf_soule.pdf. P. 127.
24
Pineau, G. Les histoires de vie. Paris: Presses universitaires de France, 2002, p. 55.
11
múltiplas possibilidades de análise que o programa disponibiliza, optou-se por trabalhar com
uma análise chamada standard que foi realizada com as cinco entrevistas, devidamente
transformadas em corpus para serem submetidas ao programa. A princípio, as entrevistas
foram analisadas separadamente, mas também foi gerado um relatório com o panorama geral
dos resultados.
O programa ALCESTE, depois de organizar o corpus em pequenas unidades textuais,
efetuou duas classificações: 81% do texto foi reconhecido e 19% foi rejeitado, ou seja, não
seria avaliado. Segundo os resultados apresentados, as unidades textuais foram classificadas
em quatro grupos chamados de “classes de enunciados significativos” ou simplesmente
“classes”. Cada “classe” foi numerada seguindo a ordem de aparição dentro da classificação
esquematizada em pequenas pastilhas, reunidas em um gráfico, indicando o tamanho e a
importância de cada uma das classes.
A classe 1 foi a mais específica, a primeira a ser demarcada na árvore de classificação,
por seu vocabulário ser o mais homogêneo. Ela representa 13% das unidades textuais
classificadas (12% do corpus inicial) e se caracteriza pelas palavras “evento, gay, resistência,
comunidade, arte, mostrar”. Em seguida, a classe 2 representa 35% das unidades textuais
classificadas (29% do corpus inicial) e suas palavras mais significativas são “miss, vestido,
fantasia, cabelos”. Ela é seguida pela classe 3 que analisou 21% das unidades textuais (17%
do corpus inicial) e suas palavras mais significativas são “jamais, mais, estava, sabia, ter,
pagar”. Por último a classe 4 representa 31% das unidades textuais (23% do corpus inicial)
marcado pelas palavras “você, pessoa, deus, vazio, são”. A leitura detalhada desses relatórios
evidencia diversas categorias de análise.
A partir das categorias de pensamento que a análise das entrevistas revelaram, pode-se
perceber pontos de interseção entre os diferentes discursos. Os aspectos mais importantes a
serem revelados pela categoria 1 é o papel exercido pelo Miss Brasil Gay dentro das tribos
gays brasileiras, como um movimento de resistência política, cujo objetivo principal é manter
e promover a expansão da “arte do transformismo” e aumentar a visibilidade para as questões
que envolvem os direitos dos homossexuais. O hedonismo é evidenciado na categoria 2, como
uma das características mais importantes do concurso, que pode ser comprovado pela
importância dada aos trajes, ao cabelo e à maquiagem. São as características femininas dos
entrevistados que se revelam nessa categoria de análise. A presença da mãe – como “porto
seguro” – é recorrente entre as cinco misses entrevistadas. Isso é comprovado na categoria 3,
ao mesmo tempo em que também é destacado o investimento financeiro, que faz aumentar a
responsabilidade e a esperança da vitória. A categoria 4 revela as relações humanas, a
12
“comunidade de destino”, mas também a crença religiosa, como uma característica comum
entre todas as misses entrevistadas.
6. Considerações finais:
Ao fim das pesquisas de doutorado, pôde-se perceber o concurso como um movimento
de resistência de um grupo que não possuía meios de tornar-se visível. O papel do concurso é
dar visibilidade aos corpos gays efeminados ou às folles brasileiras. Quando não havia um
discurso organizado, era o corpo que falava. Esse corpo provisoriamente construído. O
concurso revela sua importância no centro dos jogos identitários, por ser a fronteira entre o
masculino e o feminino. Os trajes, saltos, maquiagem, acessórios, a voz suave, os cabelos...
tudo conduz ao universo feminino. Em referência ao processo de “invaginação do sentido”
proposto por M. Maffesoli, tem-se a feminilização como uma das características da sociedade
pós-moderna. O concurso possibilita perceber que Dionísio já começa a organizar seu lugar,
desvelando o lado orgiástico das sociedades. O Miss Brasil Gay pode ser considerado como
uma efervescência pós-moderna, por representar um espaço de subversão das normas
estabelecidas pelo discurso heteronormativo. A transição entre esses dois mundos tem a ver
com a “androginização” que possibilita coabitar universos opostos. Em Homo
Eroticus (2014), o autor se refere ao concurso dizendo que
tudo isso culminando nessas “Grandes missas” espetaculares que são as inúmeras “Marchas
dos Orgulhos”, “Gay pride”, “Tecnoparadas”, e outras “eleições de Miss Gay”, que de Paris a
Berlim, passando por Juiz de Fora, refazem, de uma maneira paroxística, a efervescências das
dionísias antigas. Trata-se, stricto sensu, de caricaturas: o traço é forçado, e isso a fim de
ressaltar, ao máximo, essa preocupação do excesso que é vivido, no mínimo, na vida
25
corrente .
Sobre esse ponto é possível perceber a necessidade dos excessos vividos por esses
transformistas que constroem, destroem e reconstroem periodicamente identidades diversas.
Entre a heteronormatividade e a homofobia, onde ficam guardados os sonhos e os desejos de
transitar entre esses mundos opostos e participar de um universo que, a princípio, pertencia
exclusivamente às mulheres: o universo das misses?
Para além de todas as superestruturas políticas e identitárias ligadas à
homossexualidade, não se pode esquecer que as histórias dos homossexuais são sobretudo
histórias de ordo amoris: “pode-se até dizer que todas as tribos pós-modernas têm suas
25
Maffesoli, M. Homo eroticus, p. 219.
13
características tribais de divisão de emoções e de paixões comuns. Elas são, no sentido forte
desse termo, ‘afetadas’ por elas. Como se pode ver, está-se longe do ideal de domínio de si,
que era a especificidade moderna. Na ordo amoris pós-moderna, os instintos animais voltam
com força! 26”. Em Le désir homosexuel (1972), Guy Hocquenghem discute sobre a força
motora dos jogos corporais, sexuais e amorosos – superiores às definições racionais da
homossexualidade. A loucura dionisíaca espreita! Folles, doentes, criminosos, stigmates,
outsiders, queers: as identidades homossexuais se multiplicam. No coração dessas tribos
existe uma força subterrânea que as mantém. Alimentadas por trocas, descobertas, encontramse em constante retroalimentação, mantidas pelos gostos e interesses comuns.
Os objetivos do Miss Brasil Gay são maiores que manter-se como evento turístico. A
força da “festa” está no imaginário do concurso, para cada pessoa que se relaciona com ele.
Candidatas e público participam do evento para realizar sonhos, mas também para mostrar seu
orgulho, suas identidades, mesmo que “voltem para o armário” ao final da noite. O processo
de transformação continua, pois o Miss brasil Gay não se limita apenas à escolha do gay mais
bonito do país. Ele é múltiplo, transita entre gêneros e identidades e está sempre em
metamorfose – como os rapazes que se tornam misses para participar da “festa dos gays”.
O mundo muda, assim como também mudam os interesses e as reivindicações dos
grupos sociais minoritários. Uma “revolução global gay” se instala e encontra-se em vias de
mudar a realidade das tribos gays que, continuam buscando novas formas de obter o
reconhecimento dos seus direitos e a criação de novas possibilidades de expressar suas
identidades. Essa revolução gay em nível internacional será como um critério para julgar o
estado de democracia e de modernidade de um país. As questões gays estão se transformando
em questão de Direitos Humanos27.
7. Bibliografia:
Green, P. Beyond Carnival: male homosexuality in twentieth-century Brazil, worlds of
desire. Chicago: University of Chicago Press, 1999.
Le Breton, David. Anthropologie du corps et modernité. Paris: Presses universitaires de
France, 2010.
Le Talec, J.-Y. Folles de France: Repenser l’homosexualité masculine. Paris: La Découverte,
2008.
Maffesoli, M. . Homo eroticus, comunhões emocionais. Rio de Janeiro: Forense, 2014.
26
27
Maffesoli, M. Homo eroticus, p. 183.
F. Martel. Global gay: comment la révolution gay change le monde, Paris, Flammarion, 2013, p. 22. 14
Maffesoli, M. O tempo das tribos: o declínio do individualismo nas sociedades de massas. 5
ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014.
Maffesoli, M. L’ombre de Dionysos: contribution à une sociologie de l’orgie. Paris: Librairie
des Méridiens, 1985.
Maffesoli, M. Le temps des tribus: le déclin de l’individualisme dans les sociétés
postmodernes. Paris: La Table Ronde, 2000.
M. Maffesoli. Homo eroticus, des communions émotionnelles. Paris: CNRS editions, 2012.
Martel, F. La longue marche des gays. Paris: Gallimard, 2002.
Martel, F. Global gay: comment la révolution gay change le monde. Paris: Flammarion,
2013.
Noël Merino at Issue. Beauty Pageants. Ed. by. Social Issues. Detroit: Greenhaven Press,
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Pineau, G. Les histoires de vie: Paris: Presses universitaires de France, 2002.
Rodrigues, M. C.. L'imaginaire de la fête "tribale" au Brésil : l'exemple du "Miss Brésil
Gay" à Juiz de Fora. Paris, 2014, 351 p. (Doutorado em sociologia) – École Doctorale
"Sciences humaines et sociales : cultures, individus, sociétés" (ED 180), Universidade Paris
Descartes, Paris, França, p. 234.
Sontag,
S.
Notes
on
« Camp »,
1964,
Disponível
em
:
http://monoskop.org/images/7/78/Sontag_Notes_on_camp_1964.pdf. Acesso em 01 de março
de 2014.
Trevisan, João Silvério. Devassos No Paraíso, a homossexualidade na Brasil, da colônia à
atualidade. 3a. ed. rev. e ampliada. Rio de Janeiro: Editora Record, 2000.
Vigarello, G. L'histoire de la beauté: le corps et l’art d’embellir de la renaissance à nos
jours. L’univers Historique. Paris: Seuil, 2004.
15
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