Mecanismos Cerebrais de Desenvolvimento da Dependência

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Mecanismos Cerebrais de Desenvolvimento da Dependência Química e da
Ação das Drogas
Módulo 1 – Mecanismos Cerebrais de Desenvolvimento da Dependência
Química e da “Fissura”
Módulo 2 – Mecanismos e Locais de Ação de Drogas Estimulantes e Seus
Efeitos (Cocaína, Crack, Anfetaminas, MDMA, Ecstasy)
Módulo 2 - – Mecanismos e Locais de Ação de Drogas Depressoras e
Alucinógenas e Seus Efeitos (Opio, Morfina, Heroína, Opióides,
Tranquilizantes, Barbitúricos, LSD, Maconha, Santo Daime, Chás
Alucinógenos)
MÓDULO 1
Independente da sociedade considerar o uso de substâncias um
problema moral ou legal, quando esse cria dificuldades para o usuário ou deixa
de ser um processo totalmente comandado pela vontade do indivíduo, torna-se
então um problema para ele, para a família e para os profissionais de saúde.
Quando um indivíduo passa de usuário para dependente? Não sabemos
ao certo. Sabemos que a partir do momento que o indivíduo preenche 3 dos
seis critérios de Dependência química pelo CID 10 ele será considerado um
dependente químico para o resto da vida. De forma IRREVERSÍVEL.
1. Forte desejo ou compulsão para consumir a substância
2. Dificuldades em controlar o comportamento de consumir a
substância em termos de seu início , término e níveis de consumo
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3. Estado de abstinência fisiológico quando o uso da substância
cessou ou foi reduzido
4. Evidência de tolerância (necessidade de uma dose maior para obter
o mesmo efeito ou diminuição do efeito com a mesma dose)
5. Abandono progressivo de prazeres e interesses em favor do uso
com aumento no tempo dispendido para obter , usar e se recuperar
dos efeitos
6. Persistência no uso da substância a despeito de consequências
claramente nocivas
Várias áreas do cérebro estão envolvidas no desenvolvimento da
dependência química. O sistema límbico, responsável pelo prazer,
recompensa, emoções e comportamentos sociais (formado pela Área
Tegmentar Ventral (VTA), Núcleo Accumbens (NAc), Córtex Pré-Frontal (CPF),
Amigdala, Hipocampo, Tálamo, Hipotálamo, Ciro Cingulado e Septo) está
diretamente relacionado a dependência química e a “fissura”
Dessas áreas mencionadas acima, selecionaremos para esta aula a
VTA, o NAc e o CPF e passaremos a chamar de CENTRO DE RECOMPENSA;
e a Amigdala e Hipocampo de CENTRO DA MEMÓRIA.
O Centro de Recompensa existe nos humanos e até mesmo nos animais
inferiores como os répteis. O cérebro interpreta que qualquer coisa que
estimule esse centro (na forma de aumento de Dopamina no NAc) é benéfico
para a manutenção da espécie e não só a preservação da vida do indivíduo.
Por exemplo, sexo, comida, matar a sede, descanso após um exercício
e lazer são situações benéficas à espécie. Todas aumentam o nível de
Dopamina no NAc, gerando prazer e reforço positivo. Esse reforço positivo, faz
o indivíduo procurar por essas situações toda vez que tem a oportunidade.
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As drogas, todas, aumentam, de forma direta ou indireta, os níveis de
Dopamina no NAc. Desta forma são erroneamente interpretadas pelo cérebro
como benéficas a preservação do indivíduo e da espécie. Geram aumento de
Dopamina no NAC, gerando por sua vez prazer e assim reforço positivo. Como
já foi dito, o reforço positivo faz com que o indivíduo busque pela substância
toda vez que tem a oportunidade.
Contudo as drogas são muito mais eficazes que as situações normais da
vida em aumentar os níveis de Dopamina, logo geram muito mais prazer. Por
exemplo: o sexo aumenta em aproximadamente 100% os níveis basais de
dopamina no NAC e a cocaína em 450%.
O cérebro vai aos poucos dando preferência a busca por situações que
aumentem mais os níveis de Dopamina e o uso de drogas passa a ter mais
importância que as atividades prazerosas dos dia-a-dia. (Abandono
progressivo de prazeres e interesses em favor do uso com aumento no
tempo dispendido para obter, usar e se recuperar dos efeitos).
O estímulo repetido do Centro de Recompensa pelas substâncias
consumidas ativa outra área do cérebro, o Centro da Memória. Em animais
primitivos, a ação conjunta dos Centro de Recompensa e de Memória ajuda ao
indivíduo a identificar situações propícias a exposição a determinada situação
prazerosa ou benéfica.
Para explicar melhor farei uma analogia no estilo Discovery Channel.
Imaginemos uma mamãe urso e seu filhote no parque de Yellowstone nos
EUA. Ao longo dos primeiros anos de vida a mamãe urso vai ensinando ao seu
filhote a como se alimentar, se proteger de inimigos, em fim a sobreviver.
O cérebro do ursinho vai armazenando as informações das situações
vividas. Ele armazenas as seguintes informações: Barulho de água caindo
(queda d’água), queda da temperatura, cor da vegetação. O barulho de água
indica proximidade com uma queda d’água, o tipo de vegetação a temperatura
indicam a época do ano. Após repedidas situações semelhantes essas
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informações dizem para o ursinho que a época da migração do Salmão é
determinada estação do ano, que é identificada pela temperatura e tipo de
vegetação. Aprendeu também que o melhor lugar para pescar e nas quedas
d’áqua.
Então, depois de adulto o agora urso adulto, sabe a hora e o local de
ideais para pescar o salmão. Logo toda vez que se depara com barulho de
água caindo, vegetação e temperatura ideais, sabe que e hora de pescar e se
preparar para o inverno. Todo seu organismo se prepara para a pescaria e
alimentação.
Com o uso de drogas ocorre o mesmo. Estímulos ao repetidos ao Centro
de Recompensa também geram memórias no Centro da Memória de forma a
armazenar informações aparentemente sem relação com o consumo de drogas
(uma pessoa, uma música, um cheiro) que, quando vivenciadas pelo
dependente químico, vão estimular a busca pela droga. É o mecanismo
chamado de SALIÊNCIA, um dos principais mecanismos responsáveis pela
fissura e recaída,
O urso antes de iniciar sua pesca avalia se a situação é perigosa.
Observa ao seu redor em busca de situações de risco, como a presença de
lobos ou coiotes que possam o atacar em momento de distração.
Com nós humanos ocorre o mesmo. Nosso córtex pré-frontal, mais
especificamente o Córtex Orbitofrontal Lateral, analisa a situação e avalia o
risco de uma ordem dada pela Área de Recompensa. Acontece que com
estímulos repetidos de uma droga a Área de Recompensa, a ordem de busca
por essa substância passa a ser quase que automática assim como a avaliação
do risco e das consequências se torna severamente prejudicada. Daí a conduta
compulsiva e irresponsável no uso de drogas em um paciente dependente
químico.
Continuaremos nas as próximas aulas com análise da ação das diversas
drogas.
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Dr. Renato Fernandes Elias
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