Universidade Federal do Paraná Setor de Ciências da Saúde Departamento de Saúde Comunitária Disciplina: SAÚDE PÚBLICA I (MS-052) Prof. Walfrido Kühl Svoboda Saúde Pública I (MS-052) AULA 1 – 2 partes: Parte 1 - “INTRODUÇÃO À SAÚDE PÚBLICA” Parte 2 - “PROCESSO SAÚDE-DOENÇA” Saúde Pública I (MS-052) AULA 1 Parte 1 - “INTRODUÇÃO À SAÚDE PÚBLICA” SAÚDE PÚBLICA - Introdução O que é Saúde Pública? • • • • • (Pires Filho, 1987) O que é? Para que existe? Com que finalidade? A quem deve servir? Responsabilidade de quem é a mesma? Todos têm a mesma compreensão? • • • • Tipos Tipos Tipos Tipos de de de de compreensão? interesse? postura? solução? SAÚDE PÚBLICA - Introdução Tipos de compreensão -> tipos de interesse -> tipos de postura -> tipos de solução Nesta ótica -> três situações: • 1- ingênua -> próprio -> individualista; • 2- técnica -> profissional -> cooperativista -> culturalista e/ou generalista; • 3- política -> social -> classista -> estruturalista. SAÚDE PÚBLICA - Conceito Winslow (1920): “Saúde Pública é a ciência e a arte de prevenir doença, prolongar a vida e promover saúde e eficiência mental, através de esforços organizados da comunidade para o saneamento do meio, o controle das doenças infecto-contagiosas, a educação do indivíduo em princípios de higiene pessoal; a organização dos serviços médicos e de enfermagem para o diagnóstico precoce e preventivo das doenças e o desenvolvimento da maquinária social de modo a assegurar a cada indivíduo da comunidade um padrão de vida adequado à manutenção da saúde.” SAÚDE PÚBLICA - Princípios Constituição da OMS (1946) – princípios fundamentais: • “O gozo do melhor estado de saúde que lhe seja possível atingir constitui um dos direitos fundamentais de todo ser humano, sejam quais forem sua raça, sua religião, suas opiniões políticas, sua condição econômica ou social.” • “Uma opinião pública esclarecida e ativa por parte do público são de capital para o melhoramento da saúde uma cooperação uma importância dos povos.” • “Os governos são responsáveis pela saúde de seus povos; eles só poderão desincumbir-se desse encargo tomando as medidas sanitárias e sociais apropriadas.” SAÚDE PÚBLICA - Função Saúde Pública? Saúde Coletiva? Saúde Comunitária? -> MEDICINA PREVENTIVA Qual a função da Saúde Pública? (OPS, 2000) • Viabilizar estratégia “Saúde para Todos” (SPT2000), mediante políticas públicas saudáveis, através de maior e mais efetiva participação da sociedade nas questões de vida, saúde, sofrimento e morte. SAÚDE PÚBLICA - Importância Componentes para estabelecer o nível de vida de um povo (CES-ONU): • • • • • • • • • • • • Saúde; Alimentação e nutrição; Educação; Condição de trabalho; Situação de emprego; Consumo e poupança gerais; Transporte; Habitação (incluindo saneamento); Vestuário; Recreação e divertimento; Segurança social; Liberdades humanas. SAÚDE PÚBLICA - Brasil Sistema de Saúde (SUS), tem por princípios: • • • • • • • • • • Descentralização na gestão; Regionalização e hierarquização; Municipalização; Universalização do atendimento sem discriminação de qualquer ordem; Integralização inter-institucional; Articulação das unidades básicas com os níveis mais complexos para que todos tenham acesso a estes serviços; Integralização das ações para superar a dicotomia preventivo-curativa; Participação comunitária (conselhos de saúde); Incorporação de agentes populares de saúde; Fortalecimento estatal em todos os níveis para controle dos procedimentos executados pela rede privada. Saúde Pública I (MS-052) AULA 1 Parte 2 - “PROCESSO SAÚDE-DOENÇA” PROCESSO SAÚDE-DOENÇA É dependente da prática social; É um processo dinâmico; Faz parte de um contexto maior. PROCESSO SAÚDE-DOENÇA Guiado pela ideologia dominante: • Social; • Política; • Econômica. Historicamente determinado. CONCEITO DE SAÚDE OMS (1948): “Saúde é um completo estado de bemestar físico, mental, social e não apenas a ausência de doença” CONCEPÇÕES DE SAÚDE AO LONGO DA HISTÓRIA 1 - Antigüidade; 2 - Cultura Clássica; 3 - Idade Média; 4 - Idade Moderna; 5 - Idade Contemporânea. 1 - ANTIGÜIDADE Grandes civilizações – entre Mesopotâmia e Egito: Assírios, Egípcios, Caldeus, Hebreus, entre outros –> doenças –> causas externas ao corpo (sem participação do mesmo no processo) Aspectos: • • • • Mágico; Religioso - deuses; Sobrenatural; Natureza. 2 – CULTURA CLÁSSICA GRÉCIA – raízes da Medicina Ocidental: • Cultuavam deuses: Asclépius, Hygieia e Panacea; • Séc. VI ao IV a.C. - “Medicina científica” - explicação racional das doenças – obs. empírica – importância: Ambiente; Sazonalidade; Trabalho; Posição social; Comportamento, etc. • Divulgadores desta visão da medicina: Alcmeón (de Crotona, menos conhecido); Hipócrates (“pai da Medicina Científica” – diagnóstico hipocrático: exploração sensorial, comunicação oral e raciocínio); Galeno (romano, difusor da “medicina hipocrática”). • Medicina - praticada por médicos, filósofos e altas personalidades – cultivavam “a arte da cura” – harmonia entre corpo e alma 2 – CULTURA CLÁSSICA GRÉCIA – Hipócrates – observação da natureza x humores : • Saúde = isonomia (equilíbrio 4 elementos) • Doença = disonomia (desequilíbrio) • Elementos: Fogo = coração; Ar = pituitária do cérebro; Terra = bile amarela; Água = bile negra no estômago. • Similar à Medicina Chinesa 3 – IDADE MÉDIA Feudalismo: • Prática médica religiosa (Cristianismo): Medicina patrística (padres - igrejas); Medicina monástica (monges - mosteiros). • Concepções de doença: Pagãos – feitiçarias ou possessão demoníaca; Cristãos – purificação e expiação dos pecados. • Epidemias doenças infecciosas – Cruzadas (lepra, peste bubônica, varíola, difteria, sarampo, influenza, ergotismo, tuberculose, escabiose, erisipela, antraz, tracoma, entre outras). 4 – IDADE MODERNA Renascimento cultural e científico: • Ciência experimental - observação; • Explicações racionais – fenômenos da natureza. Teoria Miasmática – condições sanitárias ruins -> estado atmosférico local –> causador de doenças e surtos (até surgir bacteriologia, metade do séc. XIX) Séc. XVIII – estudo das causas -> prática clínica -> linguagem: sinais e sintomas clínicos; 5 – IDADE COMTEMPORÂNEA Final séc. XVIII: • • Revolução Francesa -> crescente urbanização; Concepção de causa social. Metade séc. XIX: • Descobertas bacteriológicas; • “Era Bacteriológica” – vacinas e ; • Teoria unicausal das doenças. Séc. XX: • Multicausalidade: “Balança de Gordon” (relação agente-hospedeiro e deslocamento dos fatores ambientais); Rede de Causalidade – admite relações, sem incluir ciências sociais; Modelo Ecológico = “Tríade Ecológica” – sofisticação do modelo multicausal -> estudo das intervenções médicas -> HISTÓRIA NATURAL DAS DOENÇAS -> NÍVEIS DE PREVENÇÃO (DOENÇAS INFEC.) TRÍADE EPIDEMIOLÓGICA DAS DOENÇAS HISTÓRIA NATURAL DAS DOENÇAS E NÍVEIS DE PREVENÇÃO 5 – IDADE CONTEMPORÂNEA Multicausalidade: • Década de 60 (crítica ao “Modelo Ecológico”): Crise econômica e política; Diminuição do gasto social do Estado capitalista; Altos custos e baixa eficiência da medicina curativista e hospitalar; Limitações na explicação dos diferenciais de saúde-doença entre grupos sociais pelos modelos dominantes. • Retomada das abordagens sociais na Epidemiologia -> Modelo de “determinação social da doença” -> construção de novo marco explicativo para determinação do processo saúde-doença -> articulação de todos os processos envolvidos!!! Determinação Social das Doenças “(...) o processo saúde-doença coletiva determina as características básicas sobre as quais se assenta a variação biológica individual.” (LAURELL, 1983); “Saúde é uma postura humana ativa e dialética frente às permanentes situações conflituosas geradas pelos antagonismos entre o homem e o meio.” (REZENDE, 1989); “A doença, a perda do equilíbrio não é apenas um fato médico-biológico, mas também um processo relacionado com a história de vida do indivíduo com a sociedade.” (GADAMER, 1993). Referências Bibliográficas ANDRADE, S.M.; SOARES, D.A.; CORDONI JÚNIOR, L. Bases as saúde coletiva. Londrina: Editora UEL, 2001. BARATA, R.C.B. A historicidade do conceito de causa. In: CARVALHO, J.R.(org.). Textos de apoio: Epidemiologia 1. Rio de Janeiro: PEC-ENS/ABRASCO. 1985. p.13-27. FRANCO, L.J.; COSTA PASSOS, A.D. (orgs.). Fundamentos de epidemiologia. Barueri, SP: Manole, 2005. HIPÓCRATES. Conhecer, cuidar e amar. Tradução: Dunia Marino Silva. São Paulo: Landy, 2002. LEAVELL, H.; CLARCK, E.G. Medicina Preventiva. São Paulo: MC Graw-Hill, 1976. REZENDE, A.L.M. Saúde: dialética do pensar e do fazer. São Paulo: Cortez, 1989. SCLIAR, M. Do mágico ao social: a trajetória da saúde pública. Porto Alegre: L&PM, 1987.