Dados dos autores: Elizabeth Frohlich Mercadante Rua Lourenço de Almeida,n° 509 ap 122 Vila Nova Conceição – São Paulo – SP CEP-04508-000 Nádia Loureiro Ferreira Al. Min. Rocha Azevedo n° 545 ap-71, Cep-01410-001, Cerqueira César São Paulo-SP [email protected] cel:(11)91538893 Maria Lígia Mathias Pagenotto Rua Senador Milton Campos, 266 ap. 101 B Cep 04708-040, Chácara Santo Antônio – São Paulo-SP cel.:(11)8208-6567 Ilsa Maria Trabachin de Almeida Ferraz Rua Torino,n° 228 ,Jardim Itália CEP:78060-830,Cuiabá,MT MINI CURRICULUM Elizabeth F. Mercadante – Professora Doutora em Ciências Sociais pela PUCSP,Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Gerontologia PUC-SP Ilza Maria Trabachin de Almeida Ferraz.- Mestranda em Gerontologia pela PUC-SP, fisioterapeuta - professora do Curso de Fisioterapia do UNIVAG - MT, área de concentração: Saúde coletiva; funcionária concursada da Secretaria de Estado de Saúde de MT. Pós-graduada em Saúde Pública e Docência do Ensino Superior. Maria Lígia Pagenotto – Mestranda do curso de Gerontologia da PUC-SP., pós-graduada em Jornalismo Literário pela Academia Brasileira de Jornalismo Literário (ABJL), Jornalista formada pela PUC-SP . Nádia Loureiro Ferreira – Mestranda em Gerontologia –PUC-SP;Pós –Graduada em Psicologia Hospitalar pelo SEDES SAPIENTAE-SP; Pós-Graduada em Administração de Recursos Humanos e Educação do Ensino Superior pela Universidade Paulista;Graduada em Psicologia pela Universidade Paulista. SUBJETIVIDADE:UMA NOÇÃO TRANSFORMADORA PARA PENSAR A VELHICE Por Ferreira N.L.;Ferraz I.T.A;Mercadante,E.F.;Pagenotto,M.M.L. MITOLOGIA Os gregos antigos glorificavam com ardor a juventude e viam a velhice como um flagelo e um castigo que aniquilava a força do guerreiro. Imaginar um lugar paradisíaco revela o desejo do homem de superar suas limitações. Os gregos imaginaram a existência de um povo lendário, os hiperbóreos, que viviam em terra misteriosa, ao extremo norte do mundo,onde o sol brilhava o ano todo e seus habitantes eram imunes a doença e à velhice. O poeta grego Píndaro( 521-441 a.c) escreveu que tal povo podia viver até os mil anos, não conheciam nem o trabalho nem a guerra e viviam uma vida repleta de prazeres e juventude. Após viverem mil anos, atiravam-se em ato de coragem de um penhasco com a cabeça enfeitada de flores. Outro poeta grego imaginou um período de felicidade, sem velhice nem sofrimento, em peça chamada de “Os trabalhos e os dias”, onde cantava a existência de 5 raças. A Raça de Ouro era a que dizia dos homens viverem felizes, como deuses, despreocupados, longe de penas e misérias, jovens em idade benfazeja, a terra tudo produzia todos eram felizes e contentes, tranqüilos. Mas as raças vão se sucedendo segundo uma decadência progressiva, culminando na Raça de Ferro, quando os mortais estavam condenados a um trabalho árduo, a uma velhice desonrada e à morte. Mas nem sempre as imagens da velhice expressaram o sofrimento. Homero em a Odisséia ( séc .IX a.c ) diz que a velhice expressava sabedoria, bondade, justiça e vigor. Diz de Nereu, “homem velho sábio e justo”, e também de Nestor, rei de Pilos, que aliava longevidade, sabedoria e vigor. Suas experiências de vida e seus conselhos ponderados eram respeitados pelos reis mais jovens. A mitologia está repleta de histórias, de façanhas heróicas, narrativas poéticas e trágicas, falando de seres que desejavam encontrar a eterna juventude e a imortalidade Já na Filosofia Moderna, M. Merleau – Ponty volta-se para o homem como um “ser – no mundo” e diz que as descobertas da ciência iluminam a conduta do homem, ao mesmo tempo em que revelam em que sentido o homem é capaz de transcender. Em oposição às correntes positivistas, diz que a ação humana precisa ser compreendida, pois ela é animada por intenção, um sentido que deve ser revelado. Diz que a ciência devia buscar a essência do homem, palavra que poderia ser substituída por sentido. Assim a essência passa a ser vista como um horizonte para onde nos dirigimos. O simbólico, característica apenas do homem entre os seres vivos, é o que lhe permite transcender a situação, antecipando através da intenção seu próprio futuro. O humano não vem dotado de uma conduta pré-estabelecida, rígida, está aberto a respostas improvisadas e criativas, vai além do real, concebendo uma multiplicidade de possíveis. Seu corpo é visto como expressão e realização de intenção, desejos e projetos. O homem como ser dotado de inteligência fabricadora de instrumentos e de idéias, capaz de modificar seu meio natural para melhor servir-se dele. O homem não é uma obra acabada, pronta, é existência em movimento, é um ser no mundo, engajado em situação física e social, que constitui seu ponto de vista sobre o mundo, um vir a ser. Aliada a idéia de homem como um modificador do mundo,tem-se a noção de desejo como trabalhado por Deleuze que diz: “Não há eclosão de desejo, seja qual for o lugar em que aconteça, pequena família ou escolinha de bairro, que não coloque em xeque as estruturas estabelecidas. O desejo é revolucionário, porque sempre quer mais conexões, mais agenciamentos.” Gilles Deleuze e Claire Parnet, Dialogue Discutir a possibilidade da existência de vários modelos de velho, a partir de uma reflexão sobre o desejo. Vemos o desejo como algo extremamente potente, revolucionário, uma força que impulsiona a transformação e modifica as relações. Propomos aqui que os modelos automatizados de velhice sejam modificados a partir das discussões sobre o desejo. Ou seja: como uma reflexão sobre o desejo pode mudar a visão padronizada de velhice. O desejo tem de ser a mola que possibilidade a construção de novas subjetividades, a invenção de novos sujeitos. Outra noção esclarecedora que apontamos neste trabalho é a de hetereogenidade. A idéia de heterogeneidade, como uma marca fundamental das sociedades complexas, chama atenção para a participação diferenciada dos indivíduos e grupos da sociedade. Assim, esses mesmos indivíduos e grupos fariam leituras diferentes sobre temas comuns e gerais presentes em suas sociedades.(...) “O reivindicar a diferença é um primeiro passo, mecanismo básico da construção da identidade. Num segundo momento, cabe a avaliação da diferença, das muitas diversidades, heterogeneidade numa sociedade homogeneizadora. Cabe não só avaliar o movimento que vai da homogeneização para a criação das muitas e diversas identidades, como também o potencial novo e transformador que essas diferentes marcas possuem frente à sociedade mais inclusiva. Também, antes de aplaudir o caráter libertário das marcas, deve-se perguntar em que medidas as mesmas não são simplesmente máscaras novas que escondem o velho e, pelo fato de não ser impedida a sua reprodução”. (da marca) apresentam o velho de maneira diferente.” (MERCADANTE,E.F.1997:16) Para Deleuze: a diferença é uma questão chave para compreender qualquer possibilidade de autonomia específica do sujeito. Tanto Deleuze como Focault criticam a representação clássica.É preciso ir além,ultrapassar fronteiras do reconhecimento da identidade,de seus perigos,limitações e sedução. A velhice em nossa sociedade é concebida de tal forma (fenômeno biológico, com implicações sociais dramáticas) que reduz o velho a um mundo restrito, limitado, sempre em oposição ao mundo vivido antes: mundo jovem, amplo e público. A identidade de velho, como em geral é formulada (características físicas e biológicas), dá a ela uma substância que assume uma tal força e presença, que passa prioritariamente a definir os indivíduos (...) A velhice biológica nunca é um fato total. Os indivíduos não se sentem velhos em todas as situações e nem se definem como velhos em todos os contextos. Vivência da velhice se dá primeiro no corpo – estigmatiza, incomoda o idoso. A visão do corpo imperfeito (em declínio, enrugado, enfraquecido), não avalia só o corpo, mas sugerem ampliar-se para a personalidade, os papéis sociais, econômicos e culturais do idoso. “Velho é o outro...“É normal que a revelação de nossa idade venha dos outros. Não consentimos nisso de boa vontade. Uma pessoa fica sempre sobressaltada quando a chama de velha pela primeira vez”. (BEAUVOIR, S.1990:353) A noção acima leva a refletir sobre a noção de identidade. Modelo genérico de velho = negação do futuro, corpo em decadência, espírito de velho. “A noção de identidade é útil para classificar um grupo de pessoas cronologicamente reconhecidas como idosas, mas essa mesma noção não explica o ser velho como um sujeito pleno de desejos e, dessa forma, não somente portador de uma identidade, mas também, e, principalmente, de subjetividade.” (MERCADANTE,E.F 1997:25) SUBJETIVIDADE “O conjunto das condições que torna possível que instâncias individuais e/ou coletivas estejam em posição de emergir como território existencial auto-referencial, em adjacência ou em relação de delimitação com uma alteridade ela mesma subjetiva”. (GUATTARI, F. 1992:19) A relação com a alteridade é fundamental para a criação das diversas identidades. “A subjetividade, como entendida por Félix Guattari, implica entrar no campo da produção que imediatamente se relaciona com o desejo. Os homens, o tempo todo, estão produzindo acontecimentos, produzindo desejos.” (MERCADANTE,E.F. 1997:26) Deleuze – pensou e estudou a emergência da subjetividade. Para ele a subjetividade emerge simultaneamente a uma multiplicidade de hábitos contraídos passivamente na experiência de repetições elementares. Para Deleuze, a subjetividade originária, que resulta da repetição dos casos elementares, emerge como diferença a partir de contração e fusão dos elementos ou casos repetidos. Considera, ainda, que o tempo só se constitui na síntese originária que incide sobre a repetição dos instantes, já que o tempo não existe em si, mas é uma impressão produzida no espírito. Bérgson – afirma que nossas sensações sucessivas retêm alguma coisa da exterioridade dos momentos heterogêneos que se penetram uns nos outros, formando uma síntese mental. A subjetividade é, portanto, prioritariamente, um composto de sensações. É a sensação primária do que somos que define o nosso processo, definindo também as mudanças subjetivas que irão impor à vida uma nova direção. “O desejo é subterrâneo, ele é o outro plano da realidade das formas e da organização, que atravessa as hierarquias e as categorias como raça, sexo, classe social, indivíduo, família, Estado, governo, trabalho, idade, e tantas outras: o de uma grande máquina denominada inconsciente humano. Inconsciente maquínico ou “máquina desejante”. O desejo é imanentemente revolucionário. As invenções, produzidas pelo desejo, ocorrem incessantemente, inclusive no próprio cotidiano, criando partes e expressivas revoluções moleculares. A idéia de revolução molecular, segundo Guattari: “(...) diz respeito sincronicamente a todos os níveis: intrapessoais (o que está em jogo no sonho, na criação etc.); pessoais (por exemplo, as relações de autodominação); e interpessoais (a invenção de novas formas de sociabilidade na vida doméstica, amorosa, profissional, na relação com a vizinhança, com a escola etc.)”. (GUATTARI, F. Revolução Molecular;1986:46) O novo sujeito – nega a velhice no sentido em que “rompe com o modelo genérico repleto e reprodutor de estigmas relacionados à categoria de velho”. Decretando-se à morte às categorias velhice e velho, pois sem dúvida, essas mesmas categorias estão sendo desconstruídas na medida em que não propiciam aos sujeitos se pensarem e inventarem as várias novas possibilidades de produção de suas vidas futuras” (MERCADANTE,E.F. 1997:139) BIBLIOGRAFIA Beauvoir, S. ,A Velhice : Ed. Nova Fronteira Carmo,S.P. , Merleau-Ponty uma introdução :EDUC-PUC-SP Guattari,F. As três ecologias : Ed. Papirus _________ Revolução molecular: pulsações políticas do desejo: Ed. Brasiliense Mascaro,S.A.,Velhice: Ed. Brasiliense Mercadante,E.F., A Construção da Identidade e Subjetividade do Idoso: Tese de Doutorado,PUC-SP,Mimeo. Merleau-Ponty,M., A estrutura do comportamento: Ed. Martins Fontes ____________, Fenomenologia da Percepção: Ed. Martins Fontes Vernant,J-P.,O Universo os Deuses os Homens : Ed. Companhia Das Letras