O PAPEL DA FISIOTERAPIA NO PROLAPSO UTERINO RESUMO O

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O PAPEL DA FISIOTERAPIA NO PROLAPSO UTERINO
Ana Gilza Pinheiro Pereira 1
Email: [email protected]
Dayana Priscila Maia Mejia, MSc. 2
Pós-Graduação em Reabilitação em Ortopedia e Traumatologia com ênfase em Terapia Manual da
Faculdade Faipe
RESUMO
O prolapso genital ocorre por fraqueza ou defeitos nos órgãos pélvicos de suspensão, que são
constituídos de ligamentos ou aqueles de sustentação, constituídos por fáscias e músculos.
Sua avaliação constitui uma etapa importante do exame ginecológico, devendo, sempre que
possível, ser classificado o grau de prolapso por meio de métodos padronizados. O prolapso
de órgão pélvico (POP) é definido como o deslocamento das vísceras pélvicas no sentido
caudal, em direção ao hiato genital. Pode ser um descenço da parede vaginal anterior e/ou
posterior, assim como do ápice da vagina. Quando ocorre prolapsos da parede anterior da
vagina denomina-se: uretrocele e cistocele, da parede posterior da vagina: retocele e prolapso
do segmento apical da vagina: enterolcele e prolapso uterino. O objetivo deste trabalho foi
realizar uma revisão bibliográfica sobre o papel da fisioterapia na prevenção e tratamento do
prolapso uterino.
Palavras-chave: Assoalho Pélvico. Prolapso Interino. Fisioterapia.
1. INTRODUÇÃO
O prolapso representa um problema socioeconômico importante. Entretanto, os dados
epidemiológicos dessa enfermidade são difíceis de serem obtidos, uma vez que muitas
mulheres escondem o fato, aceitando-o como consequência natural do envelhecimento ou dos
partos vaginais. Na maioria dos estudos, a prevalência estimada é de 40% das mulheres. A
cada ano cerca de 300–400 mil mulheres norte-americanas são submetidas a procedimentos
cirúrgicos para correção de prolapso pélvico e incontinência urinária, com custo anual de um
bilhão de dólares. Cerca de 30% dessas cirurgias são reoperações.
O descenso genital tem etiologia multifatorial na qual estão associados fatores genéticos e
ambientais. Os fatores de risco incluem envelhecimento, paridade, histerectomia, obesidade e
constipação intestinal. Na população brasileira, os fatores de risco identificados foram parto
vaginal, macrossomia fetal e história familiar positiva.
As dificuldades na condução dessa patologia se iniciaram, no passado, com as dúvidas sobre o
conceito de normalidade e enfermidade. Considerando-se a escassez de trabalhos que a
definissem melhor, o Instituto Norte-Americano de Saúde (NIH) criou um consenso baseado
na opinião de especialistas levando-se em conta a classificação criada pela Sociedade
Internacional de Continência (ICS) em 1995. Essa classificação adotava um sistema com ter-
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Graduanda do Curso de Pós-Graduação em Reabilitação em Ortopedia e Traumatologia com ênfase em
Terapia Manual da Faculdade Faipe
2
Graduada em Fisioterapia. Especialista do Ensino Superior, Mestranda em Bioética e Direito em Saúde.
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minologia padronizada para descrever a posição anatômica dos órgãos genitais, função do
trato urinário inferior e relaxamento das estruturas pélvicas.
Apesar de não oferecer risco de morte, as distopias genitais oferecem grande morbidade em
mulheres que as apresentam. O tratamento conservador é indicado para os graus mais leves de
prolapsos e envolve mudança de hábitos gerais e fisioterapia. Os prolapsos em graus mais
avançados são tratados através de procedimento cirúrgico. Porém, a fisioterapia também se
faz necessária nos períodos pré e pós-cirúrgicos. Os estudos utilizados nesta pesquisa foram
publicados no período de 2000 a 2010, nos idiomas português e inglês, que estivessem
relacionados às distopias genitais e seu tratamento, manifestações, fatores de risco, qualidade
de vida e incidência. Diante das informações obtidas, fica claro que a fisioterapia é eficaz no
tratamento de prolapsos genitais de baixo grau, onde, independentemente do compartimento
acometido, os exercícios perineais demonstraram resultados positivos. Tais resultados não se
apresentam somente para o tratamento conservador, mas também indicam que a fisioterapia é
eficaz como coadjuvante nas correções cirúrgicas.
2. FUNDAMENTAÇÃO TÉORICA
2.1 Assoalho Pélvico
O Assoalho Pélvico é formado de músculos, ligamentos e fáscias colocados de forma a
sustentar as vísceras pélvicas, proporcionar uma ação esfincteriana para a uretra, reto e vagina
na mulher e permitir a passagem de um feto condizentemente. È composto dos diafragmas
pélvicos inferior e superior, e dos septos vesicovaginais e retovaginais, que unem os dois
diafragmas, o períneo e o cóccix. As estruturas necessárias inserem ligamentos cervicais
transversos e os músculos grandes glúteos (CUNNINGHAN, 2000).
O músculo levantador do ânus se divide em pubococcígeo, ileococcígeo e
puborretal, os músculos bulbocavernoso, transverso superficial do períneo e o
isquiocavernoso compõem o diafragma urogenital, e também a fáscia endopélvica
que é composta pelos ligamentos pubo-vesical, redondo do útero, úterossacro e
ligamento cervical transverso e são importantes para manter a estruturas pélvicas em
suas posições. Os músculos do assoalho pélvico são constituídos de 70% de fibras
do tipo I (fibras de contração lenta) e 30% de fibras do tipo II (fibras de contração
rápida). Assim as fibras do tipo I são responsáveis pela ação antigravitacional dos
músculos do assoalho pélvico, mantendo o tônus constante e também na manutenção
da continência no repouso. E as do tipo II são recrutadas durante aumento súbito da
pressão abdominal contribuindo assim para o aumento da pressão de fechamento
uretral (POLDEN, 2002).
A saúde dos músculos pélvicos é fundamental para manter a integridade e o bom
funcionamento da vagina e da uretra e a posição dos órgãos dentro da pélvis. Os músculos
pélvicos controlam o fluxo de urina, a contração (aperto) da vagina e o bom fechamento do
ânus. Tanto a uretra quanto o ânus têm um esfíncter (músculos especiais que funcionam como
fechaduras) que garantem a retenção da urina e fezes. O assoalho pélvico é composto de
várias camadas de músculos suspensos como uma “rede” pendurada em dois pontos, na frente
e atrás da pélvis. Além dessa rede, os músculos também formam um triângulo, (RETT, 2004).
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As estruturas do assoalho pélvico (AP) feminino funcionam como uma unidade, sendo
importante a relação anatômica-funcional entre todas estas para a manutenção da função
normal. De acordo com a International Continence Society (ICS), o termo “músculos do AP”
(MAP) refere-se à camada muscular que dá suporte aos órgãos pélvicos e fecha a abertura
pélvica na contração, sendo importante na prevenção da perda involuntária de urina e no
conteúdo retal, além de ter relação com a função sexual. Acredita-se que a contribuição de
fatores como cirurgias pélvicas extensas podem resultar em danos na vascularização pélvica e
inervação autonômica dos MAP, o que pode levar a uma série de disfunções associadas ao
sistema urinário, anorretal e genital, além de interferir na qualidade de vida sexual (HIGA et
al, 2008).
Os músculos do assoalho pélvico (MAP), são constituídos por agrupamentos musculares
identificados como diafragma pélvico e diafragma urogenital (atualmente denominado
membrana perineal), os quais dão suporte às visceras abdominais e pélvicas (FREITAS et al.,
2006). O Diafragma Pélvico é formado pelos músculos do levantador do ânus e coccígeos.
Este é atravessado a frente pela vagina e uretra e ao centro pelo canal anal. O Diafragma
Urogenital (membrana perineal) forma a porção inferior do assoalho pélvico. Consiste dos
músculos ísquio cavernoso, bulbo esponjoso, transverso superficial e profundo do períneo,
que juntos com o levantador do ânus, a cada lado rodeiam o canal vaginal (RUBINSTEIN,
2001 e FREITAS et al., 2006).
A MAP pode ser fortalecida a partir de exercícios simples, chamados Exercícios de Kegel, que
consistem em contrações simples desta musculatura, (RETT, 2004). Estes exercícios são realizados a
partir da contração da MAP (músculos sentidos ao redor da vagina). Muitas mulheres não conseguem
contraí-los, por não conhecerem ou não estarem habituadas a sentí-los. Porém felizmente existem
técnicas que ajudam a mulher a identificar e exercitar estes músculos, (RETT, 2004).
Um assoalho pélvico saudável tem um bom tônus (firmeza) e elasticidade. Entretanto a idade,
a falta de exercícios em geral, algumas cirurgias, como a histerectomia e mesmo a gravidez e
parto (seja ele vaginal ou cesariana) fazem com que estes músculos fiquem mais fracos, e a
“rede” fique arriada, (DINIZ, s/a).
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O assoalho pélvico forma a porção inferior da cavidade abdomino-pélvica (THOMPSON et
al., 2006, apud FRANCESCHET, 2009), sendo que sua força refere-se ao grau de contração
voluntária máxima, com recrutamento do maior número de fibras possíveis (BO et al., 2005 e
ROSENBAUM, 2007, apud FRANCESCHET, 2009). Os eventos que ocorrem durante a vida
da mulher, como a gravidez, o parto, o aumento de peso, a menopausa e o envelhecimento
acabam por afetar a força dos músculos do assoalho pélvico e outras estruturas que dão
suporte aos órgãos pélvicos (FRANCESCHET et al., 2009).
A disfunção do assoalho pélvico feminino é a condição clínica que acomete um número
crescente de mulheres a cada ano, tendo como consequência as incontinências urinária e fecal,
as distopias genitais, as anormalidades do trato urinário inferior, os prolapsos genital e retal,
as disfunções sexuais, a dor pélvica crônica, os problemas menstruais, dentre outras
(MORENO, 2009; NAGIB et al., 2005; KORELO et al.,2011).
Existem várias classificações possíveis de serem adotadas para sistematizar o grau de lesão
dos defeitos do assoalho pélvico, a maioria das classificações se baseia no grau de prolapso da
cúpula vaginal ou do útero. Tais classificações levam em conta o aspecto anatômico e às
vezes funcional dos prolapsos. Porém, parece mais importante identificar qual defeito do
aparelho de sustentação que causa determinada alteração, do que simplesmente classificar o
grau de prolapso (RAMOS, 2000).
E destaca da seguinte forma:
 Anterior - ruptura da fáscia pubocervical (uretrocele e cistocele )
 Posterior - ruptura do septo reto vaginal (retocele)
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 Apical - ruptura do complexo ligamentar cardinal útero sacral do anel pericervical.
(prolapso uterino ou cúpula vaginal, enterocele)
 Distal - (alargamento do hiato vaginal e destruição do corpo perineal), diminuição da
distância vagina-ânus, mudança na orientação da placa dos elevadores, eixo do útero
apontando para o hiato, facilitando o descenso (RAMOS, 2000)
2.2 Prolapso Uterino
O prolapso genital pode ser definido como o deslocamento inferior dos órgãos pélvicos em
direção ao hiato genital decorrente de desarmonia entre as forças de retenção das vísceras
pélvicas e as forças que as projetam para fora da pelve. As quais podem ser decorrentes de
fatores congênitos, como os de origem neurológica, acarretando paralisia flácida dos
músculos do assoalho pélvico (AP), defeitos estruturais ou bioquímicos do tecido
endopélvico, ou ainda fatores como: histórico de partos, idade avançada, alterações posturais,
obesidade ou prática de atividades que exijam aumentos repetitivos da pressão abdominal,
sendo estes mais comuns (MORENO, 2004)
Dentre todos os fatores causais, o parto vaginal é a origem mais comum de lesões do AP.
Durante o trabalho de parto, a musculatura do assoalho pélvico (MAP) sofre um significante
estiramento de suas fibras, além do suportável. Todas as mulheres, durante o parto vaginal,
sofrem algum grau de estiramento em sua musculatura, porém somente algumas
experimentam lesões (ASHTONMILLER & DELANCEY; 2009)
Estudos epidemiológicos sugerem que muitas destas mulheres não se recuperam
completamente após uma lesão durante o parto, além de terem um risco 11 vezes
maior de desenvolverem prolapsos genitais no futuro. (RAHN et al., 2009)
Demonstrou-se que a prevalência de prolapsos genitais em mulheres de idade entre
18 e 83 anos é superior a 21%, podendo chegar a 30% em mulheres de 50 a 89 anos.
Estima-se que em 2050, o Brasil terá uma população de mulheres idosas de
aproximadamente 9 milhões, com idade igual ou superior a 80 anos. Sendo a idade
avançada um fator de risco, é esperado que nos próximos 30 anos o número de
mulheres que procurarão assistência médica por desordens no AP será duplicado
(RODRIGUES et al., 2008).
Vários são os sintomas que podem estar associados aos compartimentos anatômicos onde
existe o prolapso. Quando está presente na parede vaginal anterior, os sintomas relatados são,
geralmente, relacionados à micção, como: incontinência ou retenção urinária e urgência
miccional; quando no compartimento posterior, os sintomas estão, na maioria dos casos,
associados a disfunções da defecação.Porém, outros sintomas gerais, como: sensação de peso,
desconforto, dor vaginal ou queixas sexuais podem estar presentes independentemente do
compartimento acometido. Os sintomas não estão presentes em todas as mulheres com
distopias genitais, nem estão, necessariamente, relacionados ao grau do prolapso, no entanto,
representam um impacto significativo na qualidade de vida. (BEREK, 2008; BARACHO,
2007; MORENO, 2009; FRITEL et al., 2009)
Segundo Baracho (2007) as principais queixas urinárias envolvem:
(A) hiperatividade detrusora: teorias apontam que o relaxamento de ligamentos,
músculos e fáscias do AP pode gerar estímulos nos receptores nervosos que
provavelmente existem na bexiga, acarretando contrações involuntárias do músculo
detrusor; ou ainda, as alterações anatômicas causadas e o desequilíbrio entre as
forças musculares posterior e anterior da parede vaginal, causam um estiramento
póstero-inferior inadequado da vagina, ativando o reflexo da micção.
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(B) Incontinência urinária de esforço e obstrução miccional: é comum que mulheres
com defeitos no suporte vaginal apresentem hipermobilidade do colo vesical
associada a perda de urina aos esforços.
Moreira et al. (2002) observaram que a mobilidade do colo vesical é maior nas mulheres com
IUE. Mulheres com prolapsos leves estão mais propensas a terem IUE, enquanto em estágio
avançados, estão mais vulneráveis a obstrução miccional (BARACHO, 2007; HOVE et al.,
2009)
Quando há um descenso da bexiga na cavidade pélvica, ocorre um desalinhamento das
estruturas, dificultando o controle na abertura e fechamento uretral. Quando o prolapso é
muito acentuado, a contração do músculo levantador do ânus não atua sobre a uretra, mas,
sobre a região posterior da bexiga, há então um redirecionamento da uretra ao nível de colo
vesical e, consequentemente, ocorre a retenção ou obstrução urinária. (OLIVEIRA&
CARVALHO, 2007) É comum existir IUE oculta. Devido a obstrução, a perda de urina aos
esforços só é notada após uma redução do prolapso em testes pré-cirúrgicos. (BARACHO,
2007) As disfunções miccionais estão, geralmente, acompanhadas de sintomas como micção
prolongada e interrompida e mudança de posição para iniciar a micção. (MORENO, 2009)
2.3 O papel da Fisioterapia no Prolapso Uterino
A aplicação da Fisioterapia em âmbito ginecológico deu-se a partir da área obstétrica desde o
século XIX, sendo posteriormente o campo de interesse ampliado a diversos casos
ginecológicos (POLDEN e MANTLE, 1993).
O prolapso genital resulta de uma perda de suporte dado pelo tecido conjuntivo, ligamentos e
fáscias, causando desta forma, o relaxamento da musculatura do assoalho pélvico
(BARACHO, 2002).
O prolapso genital é uma indicação frequente para cirurgia ginecológica. Segundo Brasileiro
et al (2005, p.20) “é uma afecção comum, sendo responsável por 4.000 procedimentos
cirúrgicos por ano nos Estados Unidos”.
Entretanto, a intervenção cirúrgica isoladamente pode fazer com que haja recidiva de prolapso
genital, já que a disfunção da musculatura perineal não é corrigida com o ato cirúrgico. Sendo
assim, supõe-se que o tônus da musculatura do assoalho pélvico permanece com a mesma
qualidade, uma vez que Haddad e Rossi (2000) descrevem que após o tratamento cirúrgico,
deve-se ressaltar a importância da utilização de técnicas para fortalecimento muscular, e
ainda, que os exercícios melhoram inclusive a flexibilidade das fáscias.
A prevenção visa à realização de exercícios que aumenta a força do esfíncter externo da
bexiga fortalecer a musculatura pélvica, mais especificadamente o músculo elevador do ânus;
evitar contraturas; manter a tonicidade muscular; melhorar a capacidade de recrutamento da
musculatura, melhorar a transmissão de pressões na uretra e também a coordenação reflexa
durante o esforço; reforçando assim o mecanismo de continência e a coordenação reflexa
durante o esforço (XHARDEZ, 2001).
A reeducação pélvica perineal, a contração do intróito vaginal contra a resistência, exercícios
descontraturantes; exercícios de Kegel e outros são algumas técnicas Fisioterapêuticas que
podem ser utilizadas de forma preventiva. O fortalecimento desses músculos é muito
importante não só na gestão da incontinência urinária, mas sim durante toda a vida; pois os
mesmos agem como uma rede para apoiar o útero, a bexiga, intestinos e outros órgãos do
arcabouço pélvico (VIANA, 2001).
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Diversos estudos científicos indicam uma correlação positiva da Fisioterapia na
abordagem de pacientes com IUE, demonstrando que esta é perfeitamente passível
de tratamento conservador, sendo a primeira opção de escolha por 2/3 das mulheres
com IUE se informadas sobre as alternativas não cirúrgicas e cirúrgicas. Essa
modalidade terapêutica vem sendo utilizada como uma nova opção no tratamento da
IU, seja no pré- operatório de modo adjuvante, naqueles casos de falhas do
tratamento cirúrgico ou como tratamento isolado na expectativa de uma melhor
qualidade de vida. O fisioterapeuta não está apenas qualificado para cuidar do
cliente individual, ele também pode ser ativo na educação dos membros da
comunidade sobre os mecanismos de continência e incontinência, e os possíveis
fatores que possam interferir neste mecanismo, visto que a tendência contemporânea
é a abordagem integral do paciente. Assim, o interesse em elaborar estratégias para
resolver o problema, vem sendo renovado e buscando técnicas de baixo custo e
menor risco para os pacientes (POLDEN, 2002).
Desde 1999 a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a assistência fisioterapêutica
em pacientes com incontinência urinária de esforço de leve a moderada como primeiro
tratamento, sendo que após a intervenção fisioterapêutica, por aproximadamente três meses, é
que se deve avaliar a necessidade das alternativas cirúrgicas ou farmacológicas. (O
COFFITO, 2002).
A força muscular é a quantidade máxima de força que um músculo ou grupo
muscular pode gerar em um padrão específico de movimento e em uma determinada
velocidade. O termo treinamento de força tem sido usado para descrever um tipo de
exercício que requer que os músculos se movam (ou tentem se mover). O grau de
benefício que um programa de treinamento de força pode transferir para o
desempenho de um exercício e está muito relacionado ao treinamento de potência
muscular e este está em função da velocidade de execução de movimento e da força
desenvolvida pelo músculo, caracterizando assim a definição de potência como
sendo a velocidade em que se desempenha o trabalho, sendo esta altamente
dependente da força. Muitos são os trabalhos que evidenciam a importância da força
e potência muscular. Os treinamentos destas variáveis têm-se demonstrado efetivos
na melhoria de várias capacidades físicas, bem como o aumento da massa muscular
(SIMÃO, 2001).
Então esses treinamentos visam a melhora na coordenação muscular e na flexibilidade o que
garantirá menor risco de lesão E esses ganhos de força ocorrem devido à capacidade dos
músculos de desenvolverem tensão e do sistema nervoso de ativá-los, o que desencadeará um
maior recrutamento de unidades motora. O diâmetro do músculo corresponde ao volume da
fibra e são através de exercícios elaborados especificamente para desenvolver força que o
tamanho dessas fibras musculares esqueléticas pode ser aumentado. Isso é chamado de
hipertrofia (JUNQUEIRA, RIBEIRO & SCIANNI, 2004).
Todos os exercícios de fortalecimento promovem: hipertrofia devido ao aumento no
tamanho das fibras musculares, que acontece por aumento na síntese protéica e
diminuição da degradação de proteínas, fenômeno que leva de seis a oito semanas
para ocorrer; maior eficiência de recrutamento de fibras musculares pelos
mecanismos de neurofacilitação (ou aprendizado motor); aumento da capacidade
oxidativa e volume 1 das mitocôndrias; aumento da densidade óssea, do conteúdo
mineral ósseo e de hidroxiprolina; alterações nas células do corno anterior da
medula espinhal e aumento da resistência de tendões e ligamentos. Como as fibras
do tipo I (que representa 70% da musculatura do assoalho pélvico) são responsáveis
pela ação antigravitacional dos músculos do assoalho pélvico e as do tipo II (que
representa os restantes 30%) são recrutadas durante aumento súbito da pressão
abdominal contribuindo assim para o aumento da pressão de fechamento uretral, os
exercícios que trabalham com essa musculatura podem melhorar sua função e essa
sustentação do fortalecimento muscular se deve à mudança funcional das fibras
musculares. A força muscular é então adquirida através da prática de exercícios
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específicos para o assoalho pélvico baseados no preceito de que os movimentos
voluntários repetidos proporcionam aumento da força muscular e seus efeitos
benéficos incluem desenvolvimento, melhora, restauração ou manutenção da força,
da resistência, da mobilidade, da flexibilidade, do relaxamento, da coordenação e da
habilidade através dos movimentos (MACHADO, 2008).
O fisioterapeuta tem sido um membro importante da equipe de obstetrícia durante anos, na
verdade, desde 1912. Assim a terapeuta Mennie Randall junto com o obstetra J. S. Fairbairn
no Hospital St. Thomas desenvolveram interesses especiais no tratamento da gravidez, parto e
puerpério. Mais tarde o campo de interesse estendeu-se a casos ginecológicos. Por volta dos
anos 50, Arnold Kegel, médico ginecologista, foi o primeiro a introduzir o treinamento da
musculatura do assoalho pélvico feminino para tratar a incontinência urinária. Em seu
primeiro estudo ele obteve 84% de cura de mulheres com incontinência urinária, onde o
protocolo incluía palpação vaginal e observação clínica da contração voluntária da
musculatura do assoalho pélvico e o uso do biofeedback para mensurar a pressão vaginal
durante os exercícios. Hoje existe uma variedade de aparelhos de biofeedback usados na
prática clínica para ajudar no treinamento da musculatura do assoalho pélvico feminino
(POLDEN, 2002).O Biofeedback pode ajudar os pacientes a adquirirem maior controle sobre
a atividade do músculo do assoalho pélvico, reduzindo uma atividade, ou ajudando no
treinamento para utilização do músculo mais apropriado. A informação provinda do
biofeedback uroginecológico atua como um estimulador externo ao paciente, até que os
músculos ganhem força e gerem maior sensação interna. Para paciente que têm pouca ou
nenhuma “sensação” da musculatura correta que deve ser ativada durante o exercício. A
utilização do biofeedback de EMGs na prática clínica apresenta vários benefícios, tanto para o
paciente, quanto para o terapeuta:
Para o paciente:
Aumenta a consciência da atividade psicofisiológica, reação e recuperação da estimulação;
Aumenta auto-eficácia e confiança na sua capacidade de auto-regulação psicofisiológica;
Aprende a usar o relacionamento entre pensamento, comportamento e funcionamento
fisiológico; Fornecimento de uma terapia não farmacológica, segura e eficaz.
Para o Terapeuta:
Fonte valorosa de diagnóstico terapêutica; Velocidade e a continuidade com o que a
informação é fornecida ao terapeuta é ao paciente; Avaliação e documentação de mudanças
psico-fisiológico a sessão e o tratamento (POLDEN,2002).
3. METODOLOGIA
Foi realizada uma revisão de literatura, com levantamento em artigos indexados nas bases de
Higa, Baracho e outros. Para a busca foram utilizadas as seguintes palavras-chaves: lesão,
tratamento e fisioterapia do perineo.
Foram encontrados vários artigos referentes ao tema, durante o período de março de 2012 a
julho de 2014.
Segundo Marconi e Lakatos (2007), a metodologia está diretamente relacionada com o
problema a ser estudado; a escolha dependerá dos vários fatores relacionados com a pesquisa,
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a natureza dos fenômenos, o objeto da pesquisa, os recursos financeiros, a equipe humana e
outros elementos que possam surgir no campo da investigação.
Buscou-se amparo nos trabalhos já publicados acerca do tema, como também é inevitável que
se utilize os recursos que a internet propicia, a partir da consulta livre de trabalhos, notícias e
informações pertinentes ao tema proposto.
Delineamento da Pesquisa
Em conformidade com o tipo de pesquisa a ser realizado neste projeto, torna-se pertinente a
utilização da pesquisa qualitativa, considerando o objeto de estudo a ser investigado. Goulart
e Carvalho, (2005) declaram que:
“[...] a pesquisa qualitativa tem muito a oferecer no entendimento do universo
organizacional e da prática administrativa. Embora tenha grande valia para a
administração, a pesquisa de natureza quantitativa pode não ser mais suficiente, em
muitos casos, para entender organizações complexas, seus processos, estruturas,
contexto e inter-relações.”
Sobre a pesquisa qualitativa, Oliveira (2007) pontua que “a pesquisa qualitativa tem um
processo de reflexão e análise da realidade através da utilização de métodos e técnicas para
compreensão detalhada do objeto de estudo em seu contexto histórico e/ou segundo sua
estruturação.”
Tipo de Pesquisa
De acordo com Vergara (2007), os tipos de pesquisa podem ser definidos por dois critérios
básicos: quanto aos fins e quanto aos meios. Quanto aos fins, esta pesquisa será exploratória,
pois, segundo a autora supracitada: “proporciona maior familiaridade com o problema, com
vistas a torná-lo mais explícito, havendo o aprimoramento de ideias”. Ainda quanto aos fins,
a pesquisa atende ao caráter descritivo, pois “expõe características claras e bem delineadas de
determinada população ou fenômeno, para isso envolve técnicas padronizadas e bem
estruturadas de coletas de seus dados” (VERGARA, 2007).
O objetivo da pesquisa descritiva é descrever as características de determinada população ou
fenômeno, ou estabelecer relações entre variáveis. A utilização de técnicas padronizadas de
coleta de dados, como o questionário e a observação sistemática, são muito comuns, ou seja,
ela geralmente assume a forma de levantamento de dados ou ainda a forma de pesquisa
bibliográfica e documental.
Quanto aos meios utilizados para a compilação dos dados necessários à conclusão da
pesquisa, a bibliográfica atende consideravelmente, visto que é a realizada com base em
material publicado em livros, jornais, revistas, sites na internet, e que sejam disponibilizados
ao público em geral. Uma vez que se tenha o registro das publicações, a consulta é realizada
sem problemas de ordem autoral, desde que se façam as referências devidas à autoria.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Até o presente momento, não há nenhum estudo sobre qual força é necessária para impedir a
descida durante a tosse e outros esforços físicos, e não se sabe se a contração de apoio durante
atividades diárias é o bastante para aumentar a força dos MAP para causar mudanças
morfológicas. Não há nenhum estudo usando contração de apoio na prevenção ou no
tratamento do POP. Uma hipótese interessante, porém difícil, é testar se as mulheres em risco
para o POP podem impedir o prolapso realizando a contração de apoio durante todo aumento
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na pressão intra-abdominal. Se é possível aprender a colocar a mão na boca antes e durante a
tosse, sugerimos que se fosse possível aprender a contrair MAP antes e durante as tarefas
simples e únicas, tais como tossir, ao levantar e ao executar exercícios abdominais.
Entretanto, as atividades múltiplas e os movimentos repetitivos, tais como o andar, jogar
tênis, atividade aeróbias e dança, podem não desempenhar contrações intencionais do MAP
(BO, 2006).
A teoria de base para intensidade treino de força (exercícios) dos MAP para tratamento do
POP é que treinamento de força pode construir acumular estruturas de suporte da pelve
levando o assoalho pélvico a uma posição permanente mais elevada dentro da pelve e pela
hipertrofia aumentando a rigidez do MAP e do tecido conectivo. Isto facilitaria uma atividade
automática mais eficaz da unidade motora (adaptação neural), impedindo a descida durante o
aumento de pressão intra-abdominal. O treinamento pode igualmente levantar o assoalho
pélvico e os órgãos no sentido cranial. As aberturas pélvicas podem estreitar-se e os órgãos
pélvicos são protegidos durante os aumentos de pressão abdominal. DeLancey e
colaboradores demonstraram que as mulheres com POP geraram 43% menos força e mais
atrofia do MAP do que mulheres sem POP. Isso, então justifica e sinaliza a necessidade do
treinamento dos MAP na tentativa de reabilitar o POP (BO, 2006).
Diversos estudos científicos indicam uma correlação positiva da Fisioterapia na
abordagem de pacientes com IUE, demonstrando que esta é perfeitamente passível
de tratamento conservador, sendo a primeira opção de escolha por 2/3 das mulheres
com IUE se informadas sobre as alternativas não cirúrgicas e cirúrgicas. Essa
modalidade terapêutica vem sendo utilizada como uma nova opção no tratamento da
IU, seja no pré- operatório de modo adjuvante, naqueles casos de falhas do
tratamento cirúrgico ou como tratamento isolado na expectativa de uma melhor
qualidade de vida. O fisioterapeuta não está apenas qualificado para cuidar do
cliente individual, ele também pode ser ativo na educação dos membros da
comunidade sobre os mecanismos de continência e incontinência, e os possíveis
fatores que possam interferir neste mecanismo, visto que a tendência contemporânea
é a abordagem integral do paciente. Assim, o interesse em elaborar estratégias para
resolver o problema, vem sendo renovado e buscando técnicas de baixo custo e
menor risco para os pacientes (POLDEN, 2002).
Entretanto, não existem protocolos disponíveis a serem seguidos em prática clínica para
tratamento do POP. O treinamento do MAP tem se mostrado efetivo em estudos controlados e
randomizados e revisões sistemáticas no tratamento da incontinência urinária de esforço e
incontinência mista. Não apresentam efeitos colaterais conhecidos e devem continuar sendo
utilizados para tratar pacientes com POP. Entretanto há uma necessidade urgente para mais
estudos controlados e randomizados de alta qualidade com protocolos de treinamento
apropriados para avaliar o efeito do treinamento do MAP para prevenir e tratar prolapso (BO,
2006). Baseado no conceito e recursos utilizados no fortalecimento dos MAP, no Reino
Unido, 92% dos fisioterapeutas especialistas em saúde da mulher, trata ou assiste mulheres
com POP, sendo o tratamento mais usado rotineiramente foi treinamento dos MAP com ou
sem biofeedback (BO, 2006).
5. CONCLUSÃO
A fisioterapia dispõe de muitos recursos para combater a IUE, e tem demonstrado ser muito
eficaz no tratamento desta patologia. Além disso, a eficácia do tratamento fisioterapêutico
parece ultrapassar os limites fisiológicos e trazer benefícios também no campo sócio
psicológico, influenciando no bem-estar, na autoestima e na qualidade de vida das pacientes.
11
Desta forma, pode-se concluir que este estudo veio a confirmar que o exercício
cinesioterapêutico é um método barato, simples e satisfatório para curar, ou ao menos,
melhorar significativamente a incontinência urinária de esforço em mulheres idosas; e que os
exercícios do assoalho pélvico são eficazes no tratamento da incontinência urinária de esforço
feminina.
È importante salientar que muitos estudos ainda são necessários, afim de melhor
compreender esta patologia e de encontrar formas cada vez mais eficazes de tratá-la. Para isto,
é preciso que sejam realizadas pesquisas sérias, com metodologia adequada e resultados
comprovados, para que os protocolos e técnicas sejam cientificamente comprovados.
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