a proposta curricular do estado de são paulo para - PUC

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A PROPOSTA CURRICULAR DO ESTADO DE SÃO PAULO
PARA A DISCIPLINA DE FILOSOFIA E O PROFESSOR
Luiza Magalhães Kassar
Prof. Dr. Samuel Mendonça
Faculdade de Direito
CCHSA
[email protected]
Política e Fundamentos da Educação
CCHSA
[email protected]
Resumo: O presente trabalho tem por objeto a
transmissão de conteúdo de maneira fixa e
estagnada. Com este foco, este Plano de
Trabalho passou a analisar e a discutir os limites
do professor para a realização desta ousada
meta. Ao determinar tal objetivo para a aula de
filosofia, tornou-se necessário uma séria reflexão,
que resultou na análise da Proposta por diversos
autores, professores e filósofos da área da
educação. Deste modo, foi a partir da análise da
[7]
Proposta Curricular e de documentos destes
filósofos que surgiram as bases para este Plano
de Iniciação Científica.
análise da Proposta Curricular do Estado de São
Paulo para a disciplina de filosofia, com ênfase na
questão do professor, da liberdade e da
cidadania. Com a obrigatoriedade do ensino de
filosofia no Brasil, a partir de 2008, por meio da
Lei de nº 11.684, diversas preocupações
passaram a fazer parte do poder público, então,
muitos materiais têm sido produzidos para
subsidiar o professor de filosofia, no entanto, a
pergunta que não tem sido feita diz respeito ao
fundamento de antropologia filosófica, isto é, o
que é o homem, ou seja, o professor, no contexto
desta Proposta? Esta é a pergunta que
discutimos neste Plano de Trabalho que resultou
em participação em evento internacional, na
cidade do Rio de Janeiro, na Semana de
Iniciação Científica da PUC Campinas, em 2012,
duas resenhas e um artigo, todos submetidos
para avaliação de pareceristas ad hoc. A
atividade foi desenvolvida no grupo de pesquisa
Política e Fundamentos da Educação, no
Programa de Pós-Graduação em Educação da
PUC Campinas.
Palavras-chave: Ensino de Filosofia, Estado de
São Paulo, Professor.
Área de conhecimento: Ciências Humanas –
Educação.
1 - INTRODUÇÃO
O presente trabalho, intitulado, “A Proposta
Curricular do Estado de São Paulo para a
Disciplina de Filosofia e o Professor” tem por
objetivo principal a discussão da Proposta
Curricular do Estado de São Paulo para a
Disciplina de Filosofia. Como foco da Proposta, a
questão do professor e sua liberdade frente à
atividade docente, bem como a análise dos
objetivos cobrados, sendo o de transformar o
aluno em um cidadão consciente e crítico, de
modo a elevar a educação brasileira, trazendo ao
aluno cuidadosas reflexões e não mais a
2 – ENSINO DE FILOSOFIA: LEGISLAÇÃO E
CONTEÚDO
Em se tratando de um resumo expandido, não há
aqui o propósito de sistematizar toda a
construção realizada ao longo da atividade de
Iniciação Científica, mas, apresentar os principais
pontos discutidos ao longo dos anos de 2012 e
2013. Este trabalho foi divido em três momentos;
o primeiro contendo um breve histórico sobre a
filosofia no Brasil; o segundo sobre o ensino de
filosofia, tendo como sub-títulos a história da
filosofia e o filosofar como característica do
homem e o terceiro analisa a doravante Proposta
Curricular, tendo como sub-tópicos uma análise
do professor frente a essa proposta e uma análise
sobra a liberdade e cidadania, conceitos cobrados
pela Proposta, tanto do professor, quanto do
aluno.
O estudo da história do ensino de filosofia
brasileiro, realizado de forma introdutória, revelou
que, apesar de alguns autores se referiram a uma
volta no ensino de filosofia, esta é a primeira vez
em nossa história que houve uma verdadeira
implementação desta área do conhecimento. No
período anterior à ditadura militar, havia algumas
escolas elitizadas que ministravam a matéria de
filosofia, mas esta foi totalmente extinta durante a
ditadura. Foi apenas em 1996, com a lei de
Diretrizes e Bases da Educação (Lei n. 9.394),
que a filosofia “voltou” aos currículos brasileiros,
mas neste momento ainda como matéria
renegada a um segundo plano, sendo que
[1]
apenas a partir da Lei 11.684/08 , a filosofia
tornou-se matéria obrigatória em todo o território
nacional. Deste modo, pode-se dizer que nunca
houve no Brasil o ensino de filosofia de maneira
nacional e abrangente, portanto, é de grande
importância a discussão a respeito dos conteúdos
cobrados, do papel do professor e dos diferentes
métodos de ensino da filosofia.
Como não há no Brasil uma tradição no ensino de
filosofia, mostrou-se necessário buscar na história
da filosofia como esse conhecimento foi
transmitido por meio do tempo. Neste ponto, é
fundamental o estudo de Sócrates e Platão, que
foi realizado principalmente por meio da leitura de
Walter Omar Kohan, em “O Paradoxo de
[2]
Aprender e Ensinar” . Ao retornar a Sócrates e
Platão, percebe-se as primeiras discussões sobre
o pensar e o ensinar filosofia. Para Sócrates, a
filosofia não era um conhecimento a ser
transmitido, e sim um conhecimento que nunca se
acaba e que só pode ser adquirido por meio de
introspecção e do diálogo com os outros.
Traçando um paralelo com Sócrates, foi analisado
também o filósofo Jacques Rancière. Sua leitura
realizada por meio da análise de Kohan e pela
[6]
leitura de seu livro “O Mestre Ignorante” , traz a
ideia de que o aluno deve aprender sozinho,
sendo o único papel do professor o de mostrar o
caminho, e não o de transmitir determinado
conhecimento – é através deste caminho que o
aluno irá aprender a refletir, e haverá o verdadeiro
aprendizado. Ao pensar no ensino de filosofia
levando em consideração tais modelos, mostra-se
pertinente a utilização de um desses métodos,
pelo menos em parte, de modo a mostrar ao
aluno não apenas a história da filosofia em
conteúdos “mastigados”, mas sim o próprio
filosofar em si, arte que depende da vontade do
aluno.
Na atual realidade escolar brasileira, pode
parecer utópico trazer tais modelos para a sala de
aula, levando o aluno, que grande parte das
vezes está acostumado a estudar conteúdos
fixos, para ter aprovação em provas, a parar para
refletir sobre o que está sendo exposto e a fazer
conexões com sua vida e sua sociedade. Apesar
desta primeira impressão, é necessário lembrar
que o filosofar é fruto de uma vontade de
investigação, uma curiosidade, que é inerente a
todo ser humano. Assim, o trabalho passa a
expor o surgimento da filosofia, como vontade do
homem de descobrir o mundo a sua volta e
compreendê-lo, bem como porque tal instinto de
curiosidade/ aprendizado foi deixado de lado no
mundo atual.
Baseando-se em Nietzsche, e sua crítica ao
rebanho, conjuntamente com a análise feita por
[5]
Melo Sobrinho , percebe-se que a curiosidade e
o instinto de entendimento do mundo por meio do
raciocínio se perdeu em meio ao ideal consumista
da sociedade capitalista, no qual a criança, a
medida em que cresce, para de construir
interrogações com relação ao mundo a sua volta
e apenas reproduz o que lhe é ensinado, sem
grandes reflexões, passando, por fim, a uma
aceitação passiva, na qual faz parte de uma
massa controlada por alguns poucos. Neste
aspecto, a filosofia em sala de aula, utilizando
como base a interrogação – seja do método
socrático ou do Mestre Ignorante de Rancière,
pode levar o aluno a reconhecer o instinto de
curiosidade que há em si, e uma vez desperto, irá
refletir sobre o mundo a sua volta e sobre si
mesmo, de maneira a trazer melhoras à sua vida.
O papel do professor, portanto, será o de orientar
o aluno, para que busque o conhecimento por
esforço
próprio.
Deste
modo,
tornou-se
necessário uma análise mais densa da Proposta
Curricular do Estado de São Paulo, focalizando o
que diz respeito ao professor. Em leitura atenta
da Proposta Curricular, vê-se que é cobrado do
professor uma postura de pesquisa, leitura e auto
aprimoramento, visto que a filosofia seria um
“estilo de vida” a ser passado ao aluno. Em
pesquisa de diferentes autores, o que parece ser,
em princípio, uma proposta fechada ao professor,
que traça suas ações em sala de aula, é na
verdade uma proposta que procura dar ampla
liberdade a ele. A este respeito, o texto de
[3]
Mendonça explorou a questão da autonomia do
professor em relação à Proposta. Ao incentivar a
pesquisa e utilização da literatura, a Proposta dá
a chance ao professor de ampliar seus
conhecimentos sobre os conteúdos propostos,
estes sim fechados e pré-fixados, de maneira que
passe aos alunos as mais diversas visões sobre
eles. Outro aspecto relevante na Proposta é o
fato de seu objetivo ser “elevar a educação”,
transformando o aluno em um cidadão consciente
e livre. Torna-se importante, portanto, analisar o
que se entende por liberdade e cidadania, e se
podem realmente ser alcançadas, tanto pelo
aluno quanto pelo professor, em se considerando
dos moldes da Proposta e as condições materiais
fornecidas ao professor.
Utilizando a literatura de Battista Mondin, em seu
[4]
livro “O Homem, quem é ele?”
foi possível
visualizar os diversos questionamentos filosóficos
sobre o homem, inclusive discussões sobre o
aprendizado, liberdade e o homem como ser
inserido em sua cultura. Depois de diversas
leituras e reflexões, foi possível concluir que o
ensino de filosofia nas escolas, inclusive nos
moldes da Proposta Curricular para o Estado de
São Paulo tem grandes chances de ver seus
objetivos alcançados, na medida em que, ao
mostrar o caminho para a reflexão ao aluno,
poderá ajudá-lo a transformar sua vida, na
medida em que ele poderá ter reflexões críticas a
respeito de si mesmo e de sua sociedade,
culminando em transformações para melhoria de
sua vida e sociedade, sendo deste modo um
homem livre.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível afirmar, assim, que a concepção de
homem, ou se assim se quiser, a compreensão
do professor que a Proposta estabelece, é aberta
e filosófica, embora apresente, paradoxalmente,
aspectos direcionados para uma determinada
concepção de sociedade e de educação. Não foi
objeto deste Plano de Iniciação Científica
investigar a concepção de sociedade que
sustenta a Proposta Curricular, mas, no contexto
das críticas ao capitalismo e ao consumismo, de
alguma forma, é possível especular se tratar de
meta de uma educação emancipatória. Assim, a
Proposta se mostra aberta aos mais diversos
estilos de ensino que o professor deseje,
deixando a maneira de ensino a seu critério e
incentivando, tanto o aluno quando to professor, a
uma séria reflexão a respeito de tais conteúdos.
AGRADECIMENTOS
Ao Programa de Iniciação Científica da Pontifícia
Universidade Católica de Campinas, pela
concessão de bolsa para realização do meu
Plano de Trabalho. Ao meu orientador Samuel
Mendonça e a todo grupo de pesquisa, Política e
Fundamentos da Educação, por toda ajuda e
orientação para realização deste trabalho e pela
oportunidade de apresentar e publicar um artigo
no VI Colóquio Internacional de Filosofia da
Educação na UERJ, Rio de Janeiro, em 2012.
REFERÊNCIAS
[1] Brasil (2012). Lei 11.684, de 21 de junho de
2008. Capturado online em 21/10/2012 de
http://www.planalto.gov.br.
[2] Kohan, Walter Omar (2009). O Paradoxo de
Aprender e Ensinar. São Paulo: Autêntica.
[3] Mendonça, Samuel (2011). Proposta de
filosofia para o Estado de São Paulo: a
autonomia do educador problematizada a
partir de Was ist Aufklärung, de Kant.
Cadernos de Educação, 39, p. 135 – 152.
[4] Mondin, Battista (1980). O homem, quem é
ele? Elementos de antropologia filosófica. São
Paulo: Paulus.
[5] Nietzsche, Friedrich (2007). Escritos sobre
política I e II. São Paulo: Loyola.
[6] Rancière, Jacques (2011). O Mestre Ignorante
– cinco lições sobre a emancipação
intelectual; tradução Lílian do Vale – 3.ed.
Belo Horizonte : Autêntica Editora.
[7] São Paulo (2012). Proposta Curricular do
Estado de São Paulo para a Disciplina de
Filosofia. Rede do Saber. Capturado online em
13/06/2013 de www.rededosaber.sp.gov.br.
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