rastreio oftalmológico em perinatologia história

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António Ramalho
RASTREIO OFTALMOLÓGICO EM PERINATOLOGIA
INTRODUÇÃO
O exame oftalmológico do recém nascido (RN) merece uma atenção especial,
não só pelo seu interesse em despistar eventuais anomalias oculares, mas igualmente
porque permite diagnosticar diversas patologias sistémicas com repercussão ocular.
Permite também estabelecer alguns conselhos genéticos, dado que cerca de
80% das cegueiras da infância são geneticamente determinadas (1).
Entre as particularidades e limitações deste exame, não podemos deixar de
referir a ausência de qualquer colaboração por parte dos recém-nascidos e o facto,
igualmente importante, da função visual não ter ainda atingido o desenvolvimento
completo.
As indicações do exame oftalmológico precoce nos recém-nascidos estão
referenciadas:
•
aos RN prematuros (especialmente os RN prematuros submetidos a
oxigenoterapia)
•
aos RN sujeitos a traumatismos obstétricos ou anóxia neo-natal.
Em idades posteriores, o exame oftalmológico deverá efectuar-se aquando da
presença de doenças sistémicas, com repercussão ocular e/ou quando o médico de
família ou os familiares são alertados por uma visão aparente, um estrabismo ou uma
aparência anómala dos globos oculares.
HISTÓRIA CLÍNICA
1. ANAMNESE
O exame deve seguir um protocolo estabelecido, iniciando-se por uma recolha de
informação, com uma incidência especial sobre:
- Gravidez, onde se pesquisará a medicação eventualmente efectuada, possíveis
episódios febris, lesões dérmicas, doenças venéreas ou outras infecções.
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- Parto, destacando-se pela sua importância, a idade gestacional, o peso ao
nascimento, o índice de Apgar, traumatismos obstétricos, episódios anóxicos,
convulsões, tentativas de reanimação, e caso tenha sido efectuado, a duração e o
nível de oxigénio suplementar.
- Após o Parto, onde se devam referir, não só eventuais doenças subsequentes que
tenham ocorrido, mas igualmente a medicação que tenha sido administrada.
2. EXAME OFTALMOLÓGICO
A) Acuidade Visual
A retina central nos RN é imatura, tendo diversos estudos estabelecido que a acuidade
visual máxima nos 2 primeiros meses de vida é cerca de 20/400. Além disso, a
avaliação da visão em recém-nascidos é difícil devido à sua falta de atenção
constante. Nesta idade o RN não responde a “alvos” acomodativos, mas pode
interpretar-se como evidência de visão o facto do RN seguir a face, movimentar a
cabeça em direcção a uma fonte luminosa ou para a janela (2).
B) Reflexo Fotomotor
O exame da pupila é um exame muito importante no RN. Deve incluir :
- a observação da sua simetria, do seu contorno
- a existência e qualidade do reflexo fotomotor directo e consensual.
A ausência, ou uma grande limitação do reflexo fotomotor evoca uma lesão localizada
ao nível do globo ocular ou das vias ópticas anteriores.
C) Movimentos Oculomotores e Movimentos Palpebrais
Nas primeiras semanas de vida, a posição dos olhos é muito variável. Enquanto
alguns RN são ortofóricos, a maioria exibe uma exotropia intermitente ou constante, a
qual desaparecerá em alguns meses.
Em idades inferiores a 3 meses, é difícil afirmar a existência dum estrabismo, dado ser
normal nesta idade uma incoordenação oculomotora. No entanto, se o desvio persistir
além da idade de 6 meses, ele é seguramente patológico (3).
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Nos RN, observa-se frequentemente, quando diminui a intensidade luminosa, uma
retracção não patológica das pálpebras acompanhadas dum movimento ocular para
baixo, um quadro semelhante aos “olhos em pôr-do-sol”, típico da hidrocefalia. Este
aspecto desaparecerá aos 3-6 meses de idade.
O nistagmo optocinético deverá igualmente ser observado. Basicamente, consiste na
introdução dum tambor a atravessar lentamente o campo visual da criança, permitindo
detectar a existência dum nistagmo cujo componente rápido é oposto ao trajecto do
tambor.
D) Exame à Lâmpada de Fenda
Nos RN, o segmento anterior ocular é melhor examinado com uma lâmpada de fenda
portátil. Além de permitir estudar a córnea, a profundidade da câmara anterior, a íris, o
cristalino, permite também constatar a persistência de restos da membrana pupilar
(membrana de Wachendorf).
A medição da tensão intraocular efectua-se, dum modo geral, sempre que a córnea se
apresenta turva e aumentada de diâmetro (megalocórnea).
E) Exame do Fundo Ocular
O colírio midriático utilizado e necessário para a realização deste exame deverá ser
completamente seguro e possuir uma semi-vida curta.
Em caso algum, na tentativa de abrir as pálpebras com os dedos, se deverá exercer
qualquer pressão indirecta sobre os olhos, dado que a vascularização papilar do RN é
frágil, e deste modo poder levar a interpretações erradas de atraso de mielinização ou
atrofia óptica.
Devem estudar-se diversos elementos, segundo uma determinada ordem:
•
Mácula – O RN apresenta a mácula como uma zona escura, de limites
indefinidos e sem reflexo foveolar. Só ao fim do 1.º ano é que a mácula
assume as características do adulto (3).
•
Papila ou Disco óptico – Uma papila facilmente observada num RN poderá
levar a una suspeita forte de eventual ambliopia, dada a dificuldade que
constitui a sua observação. A papila apresenta uma coloração rosa pálido,
bordos bem delimitados e com uma escavação reduzida ou ausente.
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•
Vasos Sanguíneos – São observados no que se refere ao calibre arterial, à
coloração das veias e à eventual persistência de vestígios do sistema
hialoideu.
•
Retina – A sua coloração é habitualmente pálida nesta idade. A exposição do
limite mais anterior da vascularização da retina necessita, habitualmente, duma
depressão escleral. É neste limite que se desenvolve a Retinopatia da
permaturidade.
F) Exame sob Anestesia Geral
É necessário:
- em presença duma megalocórnea
- duma córnea opaca
- quando existem dúvidas sobre o fundo ocular.
SEMIOLOGIA GERAL
1) ANOMALIAS DO TAMANHO DOS GLOBOS OCULARES
a) Ciclopia – Caracteriza-se pela presença dum olho único, usualmente
localizado na região mediana.
Raramente acontece isolada. Associa-se com diversas patologias sistémicas
ou cranianas graves (trisomia 13 e delecção do braço curto do cromossoma
18). É incompatível com a vida (4).
b) Anoftalmia – É a ausência de globo ocular (ausência de formação das
vesículas ópticas).
As pálpebras, os cílios, as conjuntivas e os músculos extraoculares são
normais, pois não derivam embriologicamente da neuroectoderme.
Pode ser hereditária, tipo autossómica recessiva ou induzida por drogas
(Talidomida). Ocasionalmente está associada com o S. Trisomia 13 (1).
c) Globo
Ocular
Quístico
Congénito
–
De
etiologia
desconhecida,
representando uma paragem de desenvolvimento da vesícula óptica.
d) Microftalmia – Corresponde a olhos de pequeno tamanho, mas cujos
componentes, no entanto, podem ser normais.O tamanho do globo ocular é
cerca de 2/3 do tamanho normal. O comprimento normal é cerca de 24 mm, e o
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olho com microftalmia tem cerca de 16-18.5 mm. Usualmente é bilateral e
associado com hipermetropias graves (superior a 6 dioptrias), esferofaquia e
catarata (2).
A variedade mais grave desta patologia é a microftalmia com quisto,
usualmente localizado inferiormente.
e) Colobomas – Anomalia congénita, resultante do deficiente encerramento da
fenda fetal.
Os colobomas podem ser completos (envolvem todas as estruturas
relacionadas com o encerramento da fenda fetal: no disco óptico, na retina, na
coróide, no corpo ciliar, na íris e no cristlino) ou parciais (íris).
São usualmente bilaterais, podendo envolver a coróide, a retina, o nervo
óptico, o corpo ciliar e a íris.
2) ANOMALIAS DA PÁLPEBRA E DA ÓRBITRA
a) Criptoftalmia ou Ablefaria – Malformação rara, autossómica recesssiva,
caracterizada pela ausência de desenvolvimento das pálpebras.
O olho pode ser normal, excepto pela ausência duma verdadeira córnea,
causada pela fusão entre a córnea e a pele suprajacente. Noutros casos, o
olho apresenta-se gravemente desorganizado.
b) Colobomas da Pálpebra – São as malformações palpebrais mais
frequentes. São uni ou bilaterais, e localizam-se quer na pálpebra superior,
quer na pálpebra inferior.
São fendas ou entalhes triangulares, surgindo isolados ou associados a um
sindroma malformativo: Síndrome de Goldenhar (displasia aurículo-ocular e
vertebral) e Síndrome de Franceschetti (disostose mandíbulo-facial).
As crianças habitualmente adaptam-se sem complicações da exposição
crónica da córnea, razão pela qual se atrasa o tratamento cirúrgico reparador
até aos 12-18 meses (1).
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c) Epicantus – Patologia hereditária, autossómica dominante, caracterizada
pela presença duma prega de pele em forma de crescente, a qual se inicia na
pálpebra superior e cobre o ângulo interno normal da fenda palpebral.
É característica da raça Mongol, estando igualmente presente no Síndrome de
Down.
O Epicantus inverso tem uma origem e trajecto oposto do epicantus comum.
d) Epiblefaron – É uma patologia hereditária, autossómica dominante, e sem
qualquer significado, a não ser a associação com um entropion.
Consiste numa prega de pele, de disposição horizontal, na pálpebra inferior e
que corre paralela ao bordo palpebral.
e) Anquiloblefaron – É uma ausência de separação entre o bordo palpebral
superior e inferior.
O tratamento é cirúrgico, dependendo da gravidade da situação.
f) Blefarofimose – Consiste numa diminuição simétrica do tamanho da fenda
palpebral.
É um aspecto característico do Síndrome de Waadenburg.
g) Ptose – De etiologia genética ou traumática, é devida à falência de
desenvolvimento completo do músculo elevador da pálpebra superior.
A associação com uma pupila miótica sugere o diagnóstico de Síndrome de
Horner.
O tratamento da ptose congénita é cirúrgico. Usualmente efectua-se a sua
correcção pelos 3-4 anos de idade, excepto a indicação precoce de cirurgia na
ptose unilateral e completa.
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Uma variedade rara de ptose congénita é o Síndrome de Marcus Gunn,
caracterizado pela elevação das pálpebras em ptose quando o doente abre a sua
boca.
h) Entropion e Ectropion – No entropion, o bordo das pálpebras volta-se para dentro,
levando o contacto dos cílios com o globo ocular. Localiza-se frequentemente na
pálpebra interior.
O ectropion caracteriza-se pelo virar para fora do bordo palpebral.
Ambas as patologias têm um tratamento cirúrgico.
I) Distiquíase – É uma patologia hereditária, autossómica dominante, caracterizada
pela presença duma segunda fila de pestanas, associada a uma ausência de
glândulas de Meibomius.
Apresenta-se como uma fonte constante de irritação, erosões e úlceras da córnea.
O tratamento consiste numa excisão cirúrgica ou na electrolise individual dos folículos
pilosos.
J) Angiomas da Pálpebra – São angiomas tuberosos ou soub-cutâneos,
caracterizados por aumentarem de tamanho com o choro. A probabilidade de
extensão intraorbitária impõe a realização de uma T.A.C.
Embora ocorra uma regressão espontânea, habitualmente, pelos 5-6 anos de idade,
deve proceder-se ao seu tratamento se houver algum risco de ambliopia (3).
L) Quisto Epidermóide – Localização habitual na cauda do supracílio. A palpação é
mobilizável em relação aos planos profundos.
A exerese deverá ser sistemática devido ao risco de erosão progressiva dos ossos.
M) Tumores Orbitários da Criança – Apresenta-se, classicamente, como uma
exoftalmia, unilateral e pouco redutível.
O exame local deverá apreciar as características da exoftalmia e a sua influência
sobre a visão e a motilidade ocular.
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O
exame geral deverá incidir
sobre a
pesquisa de sinais
cutâneos
da
Neurofibromatose de Recklinghausen, palpação do abdómen e das fossas lombares.
Na criança, ao contrário do adulto, estes tumores nascem da órbita. Raramente
resultam duma propagação orbitária dum tumor da vizinhança, ou duma metástase.
Os tumores primitivos são dominados pelos sarcomas orbitários, os quais são
caracterizados pela sua rapidez de evolução.
N) Traumatismos Orbito-Palpebrais – Os hematomas orbito-palpebrais reabsorvemse, em regra, espontaneamente. A drenagem cirúrgica, habitualmente rara, é apenas
necessária no Síndrome de compressão do nervo óptico.
A delgadez das paredes orbitárias da criança, por outro lado, torna-a facilmente
exposta a fracturas e perfurações.
A fractura do canal óptico, muito rara, traduz-se normalmente, por cegueira
homolateral, com midríase e fundo do olho normal. A descompensação cirúrgica pode
ser tentada, mas a recuperação irá depender sobretudo do estado do nervo óptico (2).
3) ANOMALIAS DO SISTEMA LACRIMAL
A patologia mais frequente encontrada na criança é a obstrução do canal nasolacrimal. Usualmente atribuída à presença de restos epiteliais na porção inferior do
canal.
O RN apresenta os olhos cronicamente “colados” e exsudação purulenta.
Habitualmente a repermeabilização destas vias lacrimais ocorre até aos seis meses de
idade. Quando tal não se verifica está indicada a realização duma sondagem das vias
lacrimais (4).
4) CONJUNTIVITES
A
maioria
das
conjuntivites
bacterianas
infantis
são
banais
e respondem
favoravelmente a uma antibioterapia local. A excepção é a conjuntivite a gonococos do
RN, que surge normalmente entre as 24-48 horas de vida, e é caracterizada por um
edema palpebral bilateral, quemose intensa e exsudação serosanguinolenta, que
rapidamente se torna purulenta (1).
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As conjuntivites virais epidémicas são igualmente de bom prognóstico, excepto a
conjuntivite lenhosa, a qual pode deixar graves sequelas corneanas.
5) PATOLOGIAS DA CÓRNEA
A) Infecção – Qualquer irritação da córnea traduz-se por uma fotofobia e lacrimejo,
com blefaroespasmo. A queratite dentrítica herpética é a lesão infecciosa da córnea
mais frequente.
B) Glaucoma Congénito – Os glaucomas congénitos podem ser primários
(disgenésias, por anomalias do desenvolvimento embrionário do ângulo iridocorneano)
ou secundárias a uma patologia congénita, ocular ou geral.
O glaucoma congénito primitivo consiste numa patologia grave, rara e habitualmente
bilateral. Existe ao nascimento em 1/3 dos casos e surge no decurso do 1.º ano de
vida em 88% dos casos. A sua clínica (fotofobia com lacrimejo, aumento das
dimensões e turvação da córnea, hipertonia à palpação digital) necessita ser
conhecida por todos, pois somente uma cirurgia precoce poderá evitar a cegueira (3).
Os glaucomas secundários a uma patologia congénita ocular ou geral (tumores de
sobrecarga trabecular, bloqueio pupilar por oclusão do ângulo e sinéquias
inflamatórias) têm um quadro clínico semelhante ao do glaucoma congénito, mas o
seu mecanismo e tratamento são totalmente diferentes.
C) Mucopolissacaridoses – Entre as formas que apresentam opacificação da córnea,
encontram-se: D. de Hurler, S. de Maroteaux-Lamy, D. Scheie e a D. Morquio.
D) Distrofias da Córnea – Usualmente hereditárias e bilaterais, existindo sob diversas
formas. A idade de descoberta é variável, tal como a perda de acuidade visual.
E) Traumatismo Corneano – O traumatismo pelo fórceps pode estar na origem dum
edema e turvação da córnea, com estrias finas corneanas. A lesão da córnea é devido
à aplicação do fórceps sobre o olho e compressão directa da globo ocular entre o
fórceps e o pavimento da órbita.
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A gravidade desta patologia é função directa da sua localização em relação ao eixo
óptico.
F) AUSÊNCIA DE CÓRNEA – É uma anomalia congénita, extremamente rara, em que
a córnea é substituída por tecido fibroso escleral. Habitualmente associado a ausência
de câmara anterior e cristalino.
G) MEGALOFTALMO ANTERIOR – Consiste no aumento do tamanho do segmento
anterior do globo ocular, mantendo-se normal a pressão intraocular.
H) MICROCORNEA – Caracteriza-se por uma córnea com um diâmetro inferior a 11
mm. Pode estar isolada ou associada a colobomas, persistência da membrana pupilar,
microfaquia, cataratas congénitas.
I) ANOMALIAS DA SUPERFICIE DA CÓRNEA – Caracterizam-se por afectar as duas
superfícies da córnea e se classificarem em:
- córnea plana
- queratoglobo
- queratocone
J) OPACIDADES CÓRNEA
LOCALIZADAS
- LEUCOMA CONGÉNITO
- EMBRIOTOXON ANTERIOR (ou arco juvenil)
- EMBRIOTOXON POSTERIOR
DIFUSAS
- ESCLEROCÓRNEA CONGÉNITA
- ESTAFILOMA ANTERIOR CONGÉNITO
6) – ANOMALIAS DA IRIS
A) Anirídia – Doença hereditária, autossómica dominante, usualmente bilateral.
A ausência de íris é raramente completa, ocorrendo frequentemente em associação
com o Tumor de Wilms. É rara.
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B) – Membrana Pupilar Persistente – a paragem de regressão da porção anterior da
cobertura vascular do cristalino, em qualquer estádio do seu desenvolvimento.
Embora seja frequentemente encontrada, só raramente interfere com a visão.
C) Anisocoria – Quando as pupilas são de diferentes tamanhos. Doença hereditária,
autossómica dominante, ocorrendo em cerca de 25% de indivíduos normais (3).
Deverá sempre ser diferenciada de diversas patologias neurológicas.
D) Heterocromia – É uma doença hereditária, autossómica dominante, consistindo
numa diferença de coloração entre as duas íris.
E ) Colobomas íris – Podem ser totais ( se envolvem 1 quadrante ) ou parciais (
entalhe do bordo pupilar ) . São relativamente frequentes (1/6000 casos). Associação
com membrana pupilar persistente .
7) UVEITES
As uveites anteriores isoladas são raras no RN (observam-se unicamente pelos 4-5
anos no decurso da artrite reumatóide juvenil). Contrariamente, as corioretinites
(dominadas pela retinocoroidite a toxoplasma e a citomegalovitus) são comuns nesta
idade (1).
8) ANOMALIAS DO CRISTALINO
A) Catarata – As cataratas congénitas são as que surgem antes ou imediatamente
após o nascimento. Classificam-se habitualmente segundo a sua morfologia e clínica
B) Esferofaquia – É uma patalogia hereditária, autossómica recessiva, caracterizada
pela presença dum cristalino esférico e pequeno (micro-esfero-faquia), e com
potencialidade de poder causar glaucoma por bloqueio pupilar.
C) Lenticone – É uma protusão axial cónica da superfície anterior ou posterior do
cristalino. Patologia hereditária, autossómica dominante ou recessiva
D) Umbilicação – É o oposto do lenticone, ou seja, uma depressão da superfície do
cristalino.
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E) Ectopia Lentis – Geralmente bilateral. Pode ocorrer isolada ou associada
habitualmente
com
um
Sindroma
dismórfico
(S.
Marfan,
S.
Marchesani,
Homocistinúria). Clinicamente, manifesta-se por uma acuidade visual má, iridodonésis
e complicação eventual por glaucoma.
F) Coloboma – É um entalhe, mais ou menos profundo do bordo do cristalino.
Associa-se habitualmente com défice das fibras zonulares.
9) LEUCOCÓRIA
A pupila branca ou “leucocoria” testemunha uma opacidade situada atrás da íris.
O exame biomicroscópico permite:
1) não confundir com as opacidades corneanas da área central (Anomalia Peters)
2) precisar algumas características clínicas (situação, forma, extensão, eventual
vascularização, conexões com o cristalino e vítreo)
3) precisar outros elementos clínicos (uni ou bilateral, tamanho ocular normal ou
ligeiramente menor).
As causas mais comuns de leucocória, após as cataratas, são as doenças tumorais e
a retinopatia da permaturidade.
A) Cataratas – Compreende as cataratas congénitas e pós-natais. As cataratas
congénitas são caracterizadas clinicamente pela presença de uma pupila branca, o
sinal digito-ocular, um estrabismo (formas unilaterais) ou um nistagmo (formas
bilaterais). Sob o ponto de vista etiológico, destacam-se a hereditariedade, embriofetopatias (rubéola, toxoplasmose congénita, varicela, herpes, gripe) e s.
malformativos.
B) Retinopatia da Prematuridade – A retinopatia dos prematuros (RP) é devida à
oclusão dos vasos periféricos da retina da criança prematura, consequência duma
concentração muito elevada de oxigénio. A isquémia local resultante estará
associada com o desenvolvimento subsequente de proliferação neovascular.
O aumento de sobrevida de crianças de baixo peso ao nascimento leva,
paralelamente, a um aumento de incidência da RP. Em crianças com um peso ao
nascimento de 750 gramas ou menos, 9 em cada 10 desenvolverá RP (4).
As publicações mais recentes sobre esta patologia, no entanto, parecem
demonstrar que o oxigénio não será a única causa na génese de RP, apontandose para uma etiologia multifactorial.
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A informação obtida pelo estudo CRYO-ROP mostra que o tratamento
(criocoagulação, fotocoagulação e vitrectomia) é benéfico. O estudo demonstrou
que 50% sofrem uma diminuição dos resultados desfavoráveis após o tratamento,
relativamente aos não tratados (2).
C) Retinoblastoma – É o tumor ocular mais frequente na infância, com um
desenvolvimento
bilateral
espontaneamente
através
em
25-35%
duma
dos
mutação
casos.
genética
O
ou
Tumor
surge
apresenta
uma
hereditariedade autossómica dominante. Ocorre em 25% de crianças com S. de
delecção do cromossoma 13q-(4).
O tumor apresenta uma potencialidade de propagação ao longo do nervo óptico ou
uma disseminação metastática.
Clinicamente pode manifestar-se por uma pupila branca, estrabismo e/ou
complicações evolutivas.
O diagnóstico é confirmado pelo achado radiológico de calcificações intraoculares.
D) Persistência do Vítreo Primitivo – Unilateral em 90% dos casos, resultando da
falência de regressão espontânea dos sistema vascular hialóideu e da túnica
vascular lentis (2).
Caracteriza-se pela presença de pupila branca em olho microftálmico.
O diagnóstico coloca-se em presença de alongados processos ciliares inseridos
numa massa fibrovasculat retrolenticular.
E) Displasia da Retina -
Patologia bilateral, caracterizada pela presença duma
pupila branca, em olho microftálmico.
F) Descolamento da Retina
Os descolamentos idiopáticos são raros nas crianças. As etiologias mais comuns nas
crianças são os traumas oculares, os tumores, inflamações, doenças vasculares e
heredodegenerescências vitreoretinianas.
10) MALFORMAÇÕES CONGÉNITAS DA ESCLERÓTICA
A) ESCLERÓTICA AZUL- A esclerótica apresenta uma coloração azulada,
uniforme, cor essa devida ao pigmento da uvea.
B) ECTASIA CONGÉNITA DA ESCLERA – É uma ectasia peripapilar, no fundo
da qual se encontra o disco óptico.
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11) OUTRAS CAUSAS DE DIMINUIÇÃO DA ACUIDADE VISUAL
A) Hemorragias Retinianas – São relativamente frequentes e consequência habitual
do traumatismo obstétrico. Só há risco de ambliopia se ocorrer numa localização
macular.
B) Lesões Nervo Óptico – As patologias predominantes são a aplasia ou hiplopasia
papilar. As atrofias ópticas precoces, são raras, podendo surgir no quadro da
Osteopetrose de Albers-Schonberg, nas cranioestenoses e na hidrocefalia.
C) Heredodegenerescências Corio-retinianas – A amaurose congénita de Leber é
uma das patologias sempre a considerar em presença duma criança cega.
Inicialmente, o fundo ocular é normal, excepto uma ligeira fragilidade vascular. Só
posteriormente é que surge o aspecto clínico de retinopatia pigmentar.
O diagnóstico é realizado com a existência duma extinção do ERG.
D) Aplasia ou hipoplasia da mácula – São raras e ocorrem geralmente associadas a
malformações congénitas como a microftalmia e os colobomas.
13 )ANOMALIAS DOS VASOS DA RETINA – Segundo a classificação de Duke-Elder,
consideram-se os seguintes tipos :
- anomalias de ramificação vascular
- anomalias de trajecto
- tortuosidades vasculares
- dilatações venosas congénitas
- cruzamentos vasculares anormais
- direcção anormal vasos
- vasos aberrantes da mácula
- ansas vasculares no vítreo
- anastomoses arterio-venosas congénitas
- aneurismas congénitos
CONCLUSÃO
Um exame oftalmológico sistemático e bem orientado, permite detectar, entre outras,
as patologias oculares responsáveis pela cegueira na infância, e que são por ordem
decrescente:
- degenerescências corio-retinianas e maculopatias
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- atrofia óptica
- catarata
- glaucoma
- tumor da retina
-microftalmias e anomalias congénitas, colobomatosas ou não.
Por outro lado, é importante salientar que, na ausência de anomalias visíveis do globo
ocular, o comportamento da criança poderá pressupor uma alteração visual major,
nomeadamente: a ausência de interesse aparente em relação ao mundo exterior, a
ausência de perseguição dos objectos grandes e coloridos, e ausência duma reacção
à luz mesmo intensa.
BIBLIOGRAFIA
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Encyclopédie Médico-Chirurgicale, Paris, 21765A10, 1072: 1-18.
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Paris, 21765A10, 1072: 1-18..
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Ophthalmology; Vol. VII, Módule 1, 1989: 1-19.
4- Scheie H., Albert D., Texbook of Ophthalmology, W. B. Saunders
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