CETEP - Centro Territorial de Educação Profissional da Região de Vitória da Conquista A cultura do abacaxizeiro Prof. Eduardo Luis de Oliveira Ganem Eng. Agrônomo - CETEP Vitória da Conquista – Bahia Abril / 2015 Apresentação A cultura do abacaxizeiro constitui-se como uma alternativa econômica para as áreas agrícolas de três microrregiões, que pela proximidade podem ser consideradas como de abrangência dos cursos profissionalizantes oferecidos pelo CETEP, quais sejam: Território de Identidade de Itapetinga, ao leste (quente e úmida), Planalto de Conquista ao centro, (mais fria e de transição) e Serra Geral ou semiárida, a oeste (quente e seca) sendo seu cultivo nesta última, recomendado apenas sob condição irrigada. Especificamente, o Planalto de Conquista se constitui como uma região bastante limitada sob o ponto de vista de possibilidades de diversificação devido à escassez de água para irrigação, restringindo-se praticamente às culturas de café, viável apenas na borda leste; de milho, feijão e mandioca no período das “ águas “; mais recentemente de eucalipto; de hortaliças (restrita a pequenas áreas irrigadas) e à pecuária bovina, caprina e ovina. Na década de 1970, o município de Vitória da Conquista era citado como um dos maiores produtores de abacaxi do estado da Bahia. Nos cursos profissionalizantes de Agropecuária oferecidos pelo CETEP - Centro Territorial de Educação Profissional da Região de Vitória da Conquista, a cultura do abacaxizeiro é uma das fruteiras eleitas para difusão devido à sua potencialidade no contexto regional. Esta apostila contém temas ministrados em aulas, de forma mais detalhada, donde se espera um aproveitamento satisfatório, numa formação voltada para a geração de emprego e renda e segurança nutricional, com respeito ao meio ambiente. 2 Introdução O abacaxizeiro é uma planta tropical originária de regiões que apresentam clima quente e seco, compreendidas entre 15ºN (acima da Venezuela) e 30ºS de latitude ( Limite norte do Uruguai) e 40ºL ( entre a Arábia Saudita e a Etiópia) e 60ºW( entre a Guiana e o Nordeste da Argentina). Estudos de distribuição do gênero Ananas indicam que o seu centro de origem é a região da Amazônia, por se encontrar nela o maior número de espécies. É uma fruta muito agradável, refrescante e de aroma delicioso. Seu alto conteúdo ácido faz com que muitos considerem o abacaxi como indigesto, prejudicial ao estômago ou acidificante. Muitos o utilizam incorretamente, e reclamam de azia ou queimação e mesmo aftas associadas à ingestão de abacaxi. Para certas pessoas essa fruta demonstrase inconveniente em razão de certos distúrbios pré-existentes, sendo, nestes casos, recomendável evitá-la. O estudo da composição química do abacaxi levou à descoberta de uma potente enzima, a bromelina (assim chamada pelo fato de o abacaxi pertencer à família das bromeliáceas). Até hoje o suco de abacaxi é utilizado para "amolecer" carnes e também gelatinas. Esta propriedade deve-se exatamente à bromelina, enzima capaz de desdobrar proteínas em substâncias mais simples como proteoses e peptonas. Isso faz com que ela atue favorecendo a digestão e também como expectorante, ao desdobrar proteínas existentes no catarro ou muco. O abacaxi tem várias aplicações na medicina caseira, quais sejam: Bronquite, afecções da garganta, diurético e vermífugo; combate a prisão de ventre: é desobstruente do fígado; favorece a digestão; combate todas as inflamações do tubo digestivo e auxilia na cura das febres intestinais; é conveniente no tratamento dietético da arteriosclerose e anemia; é bom contra as enfermidades da bexiga, da próstata e da uretra; é muito útil em caso de cálculos renais e vesicais, e em caso de amenorréia; é bom remédio contra o reumatismo, como também contra o artritismo; emprega-se com bons resultados na hidropisia e na icterícia; é muito útil no combate à nefrite; é depurativo do sangue. O abacaxi é uma dádiva ao paladar, à saúde e à nutrição dos que vivem em países tropicais. Contém aproximadamente o mesmo valor calórico da laranja, porém encerra teor mais alto de carboidratos, dos quais destaca-se, em proporção, a sacarose. É rico em potássio, fornecendo também fósforo, cálcio e magnésio, entre outros minerais. Contém diversas vitaminas como a riboflavina, a tiamina, o ácido pantotênico e a niacina. Fornece um pouco de vitamina C. Apresenta em sua composição vários ácidos de fruta, como o cítrico e o málico, que no metabolismo exercem ação alcalinizante. O abacaxi é um fruto tropical bastante demandado ou procurado no mercado de frutas, com uma produção mundial de 14 milhões de toneladas em 2002, o que lhe confere elevada importância econômica e social. No Brasil, o abacaxizeiro é cultivado praticamente em todos os estados, observando-se nos últimos anos, um crescimento significativo da produção nacional (1.707.088 mil frutos em 2006), que coloca o país como o primeiro produtor mundial dessa fruteira. Os estados do Pará, Paraíba, Minas Gerais, Bahia, São Paulo e Rio Grande do Norte são, em ordem decrescente, os maiores produtores. As regiões geográficas da Bahia maiores produtoras são Paraguassu (Itaberaba, Coração de Maria, Conceição de Jacuípe), Litoral Sul (Canavieiras, Una) e Extremo Sul (Alcobaça, Eunápolis, Prado). Em 1973 as regiões de Coração de Maria e Vitória da Conquista se destacavam na produção baiana, no entanto, os plantios 3 comerciais foram praticamente extintos em Vitória da Conquista devido à ocorrência da fusariose, principalmente. 1- Clima As temperaturas ideais para o crescimento de folhas e raízes e melhor qualidade do fruto estão entre 22º e 32º C. Temperaturas acima desta faixa e com elevada insolação podem causar queima dos frutos na fase de maturação final. Temperaturas abaixo de 20º C também afetam o crescimento da planta e, quando combinadas com períodos de dias mais curtos e/ou insolação mais baixa e nebulosidade mais alta, são propícias à ocorrência de florações naturais precoces das plantas, o que pode levar à perda de frutos (ficam pequenos). A planta é exigente em luz, não tolerando sombreamento. A insolação ótima situa-se entre 6,8 a 8,2 horas de brilho solar por dia, sem nuvens. A faixa ótima de pluviosidade está entre 1000 a 1500 mm, entretanto a cultura tem sido implantada nas regiões do Paraguassu e sudoeste com pluviosidades abaixo desta faixa, em torno de 600 mm. No caso da primeira, principalmente, isso ocorre devido a uma melhor distribuição nos períodos mais secos, que mesmo em pequenas quantidades, são suficientes para a viabilidade da cultura. Já no Sudoeste, notadamente no Planalto de Conquista, a cultura é favorecida pela capacidade que tem de absorver as pequenas precipitações, como neblinas ou mesmo o orvalho noturno (disposição das folhas em forma de calha). À medida que se aproxima da borda oeste (sentido Anagé), a tendência é de haver maior limitação para a cultura sob condição de sequeiro. Assim, as localidades próximas de Barra do Choça (mais ao leste) produzem de frutos de boa qualidade, mas com incidência de fusariose, principalmente em áreas próximas de plantios anteriores. 2- Solos O mais importante para a cultura do abacaxizeiro é que os solos sejam livres de enxarcamento. Os preferidos são os de textura média (15% a 35% de argila e mais de 15% de areia). Os solos de textura arenosa (até 15% de argila e mais de 70% de areia), sem problemas de enxarcamento também são recomendados, entretanto é necessário a incorporação de resíduos orgânicos para melhorar a capacidade de retenção de água e nutrientes. Solos argilosos (mais de 35% de argila) com boa aeração e drenagem podem ser utilizados com a cultura. A declividade não deve exceder a 5%, uma vez que a cultura não confere um bom recobrimento do solo. Caso exceda essa declividade, o ideal é que o produtor plante outra cultura intercalar de maior potencial de recobrimento, como o feijão, além de realizar outras práticas conservacionistas como terraço, faixa de retenção vegetativa, etc. O abacaxizeiro é considerado uma planta bem adaptada aos solos ácidos, sendo a faixa de pH de 4,5 a 5,5 (ideal). Com relação aos nutrientes, a maioria dos solos não consegue suprir as exigências da cultura, sendo necessária a complementação com fertilizantes, nos plantios comerciais. 4 3- Aspectos botânicos O abacaxi (Ananas comosus L., Merril) é uma planta monocotiledônea, herbácea, perene, pertencente à família Bromeliaceae. O abacaxizeiro compõe-se de um caule (talo) curto e grosso, ao redor do qual crescem as folhas, em forma de calhas, estreitas e rígidas, e no qual também se inserem raízes axilares. O sistema radicular é fasciculado ou em cabeleira, superficial, encontrado em geral à profundidade de zero a 30 cm, e raras vezes a mais de 60 cm. As folhas são classificadas segundo seu formato e sua posição na planta, em A,B,C,D,E e F, da mais velha externa (de baixo), para a mais nova e interna. A folha D é a mais importante do ponto de vista do manejo da cultura; sendo a mais jovem dentre as folhas adultas e metabolicamente, a mais ativa de todas, é, por conseguinte usada na análise do crescimento e do estado nutricional da planta. Em geral, a folha D forma um ângulo de 45º entre o nível do solo e um eixo imaginário que passa pelo centro da planta. É facilmente destacada da planta. No caule, insere-se o pedúnculo que sustenta a inflorescência e o fruto daí resultante. O fruto composto ou múltiplo chamado de sincarpo ou sorose é formado pela coalescência dos frutos individuais, do tipo baga, sobre um eixo central, que é a continuidade do pedúnculo. Compõe-se de 100 a 200 flores individuais. Os rebentos ou mudas desenvolvem-se a partir de gemas axilares localizadas no caule (rebentões) e no pedúnculo (filhotes). 4- Ciclo da planta A fase vegetativa do abacaxizeiro tem duração de 8 a 12 meses. A segunda fase, reprodutiva, que forma o fruto, varia de 5 a 6 meses. Portanto, do plantio até a colheita o período é de 13 a 18 meses. 5- Variedades Pérola - mais cultivada no Brasil, destinada ao consumo natural e industrialização. A planta possui folhas com espinhos nos bordos. O pedúnculo do fruto é longo (em torno de 30 cm). Produz muitos filhotes (5 a 15) presos ao pedúnculo, próximos à base do fruto. Este se apresenta de forma cônica, casca amarela (quando maduro), polpa branca sucosa com sólidos solúveis totais de 14º a 16º Brix, pouca acidez, sendo agradável ao paladar do brasileiro. O fruto pesa de 1,0 a 1,5 kg, possui coroa grande e tem sido pouco utilizado para a exportação in natura e industrialização sobre a forma de rodelas. É susceptível à fusariose, causada pelo fungo Fusarium subglutinans. Smooth Cayenne - conhecida vulgarmente como abacaxi havaiano, é a variedade mais plantada no mundo, tanto em termos de área, quanto em faixa de latitude, sendo considerada, atualmente, a rainha das variedades de abacaxi, porque possui muitas características favoráveis. É uma planta robusta, de porte semiereto, cujas folhas não apresentam espinhos, a não ser alguns encontrados na extremidade apical do bordo da folha. O fruto é atraente, ligeiramente cilíndrico, pesa de 1,5 kg a 2,5 kg, apresentando casca de cor amarelo-alaranjada quando maduro, polpa amarela, rica em açúcares (13º Brix a 19º Brix) e de acidez maior do que as outras variedades. Essas características a tornam adequada para a industrialização e a exportação como fruta fresca. A coroa é relativamente pequena e a planta produz poucas mudas do tipo filhote. Em condições de clima úmido e quente, produz fruto frágil para transporte e processamento industrial. É 5 bastante suscetível à murcha associada à cochonilha Dysmicoccus brevipes e à fusariose Fusarium subglutinans. Foi introduzida no Brasil, em são Paulo, na década de trinta e, posteriormente, difundida para outros estados, como Paraíba, Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás e Bahia, onde a partir de 1960 também assumiu crescente importância econômica para industrialização e exportação da fruta fresca. Possui folhas sem espinhos, coroa pequena , frutos com formato ligeiramente cilíndrico, apresentando casca de cor alaranjada quando maduro, polpa amarela e peso entre 1,5 a 2,5 kg. 5.1- Cultivares resistentes à fusariose Imperial - desenvolvido pela EMBRAPA Fruticultura e Mandioca o híbrido Imperial, resultante do cruzamento entre as cultivares Perolera e S. Cayenne é comprovadamente resistente à fusariose, no entanto o desenvolvimento deste híbrido no campo deverá ser avaliado de forma mais sistemática, no Planalto de Conquista para ter sua implantação indicada regionalmente. Vitória BRS – produzida pelo INCAPER-ES, pode ser utilizada na indústria ou para consumo in natura. É desprovida de espinhos e resistente à fusariose. Trata-se de outra cultivar que deve ser testada no Planalto de Conquista. Recentemente a Secretaria de Agricultura de Barra do Choça adquiriu mudas das cultivares Imperial e Vitória BRS para avaliação e posterior distribuição aos agricultores, caso as mesmas tenham bom desempenho agronômico. BRS Ajubá – lançada mais recentemente pela Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, sendo a primeira cultivar de abacaxi adaptada ao clima temperado da Região Sul. A BRS Ajubá não tem espinhos nas folhas e apresenta sabor ainda mais doce no verão e é recomendada para consumo in natura e para indústria. IAC Fantástico – desenvolvida pelo Instituto Agronômico de Campinas-IAC e outros órgãos de Pesquisa do Estado, a cultivar possui folhas com poucos espinhos, semelhante à variedade Smooth Cayenne,. As regiões indicadas para seu cultivo são as quentes e ensolaradas, com solos arenosos e bem drenados. Tem melhores condições de exportação, com cor mais atraente na casca, tamanho médio, polpa muito saborosa, macia e pouco ácida, indicada para consumo in natura, podendo também, ser industrializada. Perolera – resistente à fusariose, entretanto não possui boa aceitação comercial, sendo utilizada principalmente em programas de melhoramento. 5.2- Outras cultivares: Singapora Spanish, Queen, Espanhola Roja, Jupi, Gomo de Mel, etc. 6- Propagação O abacaxizeiro comercialmente é propagado através de mudas de diversos tipos. Cada tipo possui as seguintes características, vantajosas ou não que devem ser consideradas quando da escolha e manejo do material de plantio: Coroa - Muda pouco disponível, pois permanece nos frutos vendidos nos mercados; é menos vigorosa, de ciclo mais longo, mais facilmente afetada por podridões, mais uniforme em tamanho e peso, gerando consequentemente plantios mais uniformes. Filhote ou muda de cacho – muda de vigor e ciclo intermediários, menos uniforme que as coroas, porém, mais que os rebentões, de fácil colheita, grande disponibilidade e muito utilizado na variedade Pérola. 6 Rebentão – Muda de maior vigor, ciclo mais curto, de colheita mais difícil, menor uniformidade em tamanho e peso, baixa disponibilidade na variedade Pérola e mais usada no caso da variedade Smooth Cayenne. É mais susceptível à ocorrência de florações naturais precoces. Filhote rebentão – Muda de pouca importância, pois é de disponibilidade ou produção limitada. Apresenta características intermediárias entre filhote e rebentão. Muda de seccionamento de caule – Muda produzida em viveiros, a partir de pedaços do talo (caule) das plantas, caracterizando-se pela melhor sanidade, principalmente em relação à fusariose; pelo vigor e pelas demais características (ciclo, grau de uniformidade). Na escolha das mudas, seja elas de qual tipo for, é importante selecionar previamente as plantas antes da colheita, onde os frutos não devem ter defeitos genéticos como ausência de coroa ou mesmo fasciação. Tanto os frutos quanto as mudas devem estar livres de pragas e principalmente doenças. As plantas escolhidas devem ser marcadas com cordão ou fita para não haver engano no momento de retirar as mudas. Muda produzida in vitro – muda obtida em laboratório por meio de cultura de tecidos. Obtenção e manejo de mudas convencionais: A muda de boa qualidade é a base para o sucesso de qualquer cultura. No caso do abacaxizeiro, o plantio de mudas contaminadas com fusariose, por exemplo, leva à perda total. É importante a utilização de mudas sadias (livres de fusariose e cochonilhas), e vigorosas, colhidas em plantios em bom estado fitossanitário, onde o número de plantas e frutos doentes tenha sido mínimo. Os tipos de mudas mais usadas no Brasil são os filhotes e os rebentões. Após a colheita dos frutos, as mudas tipo filhote devem permanecer aderidas à plantamãe para continuarem seu crescimento até 30 cm ou mais. Essa etapa é chamada de ceva e dura entre dois e seis meses. Para melhorar o vigor e estado fitossanitário das mudas durante a ceva recomenda-se o seguinte: continuação da irrigação (se houver); pulverização com inseticida-acaricida para o controle de cochonilhas e ácaros que infestam a cultura; adubação suplementar via pulverização foliar, com uréia a 3% e cloreto de potássio a 2%. A colheita das mudas é feita quando estas atingem o tamanho ideal e consiste no corte do pedúnculo, destacando-se os filhotes do talo. Nessa ocasião faz-se um descarte preliminar de mudas doentes ou indesejáveis. Na época de colheita os produtores sempre comercializam os frutos com mudas na base do fruto, para servir de embalagem natural. Para aproveitar maior quantidade de mudas, na época da colheita dos frutos, convém deixar maior quantidade de mudas na planta, colhendo-se, portanto o fruto com menor quantidade de filhotes. A colheita de rebentão é mais difícil, haja vista estarem firmemente ligados ao talo da planta-mãe, sendo necessário um puxão lateral antes de arrancá-lo. A etapa seguinte, chamada de cura, consiste na exposição das mudas ao sol com a base virada para cima, durante três a dez dias, com o objetivo de cicatrizar a ferida, de diminuir a população de cochonilhas e de eliminar excesso de umidade das mudas, reduzindo a ocorrência de podridões. 7 As mudas curadas devem ser selecionadas por tipo (filhote, rebentão) e tamanho (30 a 40cm, 41 a 50 cm e 51 a 60 cm) e plantadas em talhões. Durante a seleção deve ser feito um descarte rigoroso das mudas com podridões, exudação de resina, lesões, presença de cochonilhas. Mudas contaminadas com fusariose devem ser queimadas ou enterradas. Entretanto, mudas que possuem apenas folhas basais com seus bordos ou ápices secos não devem ser eliminadas, desde que o cartucho central esteja em perfeito estado e não estejam muito desidratadas. Caso se observe alta infestação das mudas com cochonilhas, é recomendado o seu tratamento por meio de imersão, durante três a cinco minutos numa calda com inseticida-acaricida, ou mesmo fumigação com fosfina. No caso da cultivar Smooth Cayenne, os rebentões devem ser aproveitados, já que é pequena a produção de mudas tipo filhote. Produção de mudas sadias em viveiros: Consiste no seccionamento do talo, para forçar a brotação das gemas existentes nas axilas das folhas. As gemas brotam e crescem quando o talo é cortado contendo pelo menos uma gema. O corte deve ser realizado em pedaços ou seções de 10 cm de comprimento. Essas seções transversais são cortadas longitudinalmente em quatro partes. No caso de se cortar o caule em discos, estes devem ter uma espessura de 2 a 3 cm. Nessa época procede-se uma inspeção rigorosa de talos com fusariose, descartandose. Deve-se fazer a desinfecção do equipamento cortante (facão ou guilhotina) com hipoclorito de sódio e das mudas com os fungicidas do grupo dos benzimidazóis, Captan (1.200 ppm) e com os inseticidas Vamidothion (1.000 ppm), e demais fosforados registrados para a cultura. O tempo de imersão dos talos deve ser de três a seis minutos. O plantio das seções é realizado em canteiros com 1,20 de largura e comprimento variável e suspensos, semelhantes aos construídos para hortaliças. Uma semana antes do plantio deve-se aplicar 10 g de superfosfato simples/m2 e um herbicida de pré-emergência (Bromacil e/ou Diuron na dose de 2 a 3 g do i. a / ha), neste caso, com o solo úmido. Os pedaços do caule devem ser plantados em posição vertical, enterrados em 1/3 da sua altura, em espaçamentos de 0,10 x 0,10 m ou 0,10 x 0,15 m obtendo-se 66 a 100 seções/m2 de canteiro. O lado das seções com as gemas deve ser voltado para o leste ou nascente. Nas seções cortadas em discos devem ser plantadas em posição deitada, com um lado cortado para baixo, de modo que as gemas sejam direcionadas para cima, e enterradas em toda a sua espessura. Quando o plantio é feito em períodos de alta insolação deve-se cobrir os canteiros durante o período de 1 a 3 meses. A aplicação de nutrientes ocorre quando as plântulas alcançam uma altura média de 3 a 4 cm (seis a oito semanas após o plantio). Devem ser realizadas pulverizações quinzenais de uréia a 0,2 % e sulfato de potássio a 1%. Pode-se aplicar também micronutrientes em pulverização. O controle de doenças fúngicas deve ser feito com os produtos e dosagens indicados para o tratamento dos talos em intervalos quinzenais até a oitava semana e o tratamento contra a cochonilha e ácaro mensalmente, ou quando ocorrer ataque, normalmente até a oitava semana. Essas pulverizações podem ser realizadas juntamente com os adubos foliares, desde que se corrija o pH da calda, adequando aos defensivos para que estes não sofram hidrólise. Devem ser realizadas inspeções periódicas, semanalmente para verificar incidência de fusariose e imediato descarte e queima do material contaminado. 8 O viveiro deve ser irrigado com o mínimo de 80 mm de água/ mês, incluindo-se as águas das chuvas. Seis a dez meses após o plantio no viveiro, quando as plântulas atingirem o tamanho ideal para o plantio definitivo, devem ser arrancadas e imediatamente plantadas para não desidratarem, devendo-se cortar os pedaços de caule que ainda estiverem aderidos. Deve-se continuar a inspeção do estado fitossanitário das plantas, eliminando-se as doentes, principalmente aquelas com fusariose. Um hectare de viveiro com 500 a 550 mil seções no espaçamento de 10 x 10 cm pode gerar 400 a 450 mil mudas, que poderão ser vendidas a US$ 24 por milheiro de mudas sadias, obtendo-se uma renda bruta de US$ 10.000/ha. 7 - Preparo do solo, correção de acidez e adubação Preparo do solo O preparo do solo pode ser convencional com aração de 30 cm e gradagem e sulcamento e plantio direto, este método é mais utilizado por pequenos produtores. Consiste em implantar a cultura sem aração. O ideal é que sejam retirados os tocos para facilitar os trabalhos posteriores de plantio em linhas, sulcamento, e os tratos culturais subsequentes. Correção da acidez (calagem): O abacaxizeiro é considerado uma planta acidófila, ou seja, prefere solos ácidos ( pH 4,5 a 5,5 ), entretanto há situações que há necessidade de calagem e quando esta prática for realizada em plantios mecanizados deve-se aplicar inicialmente a metade do calcáreo antes da aração e metade após a aração para posterior gradagem. Se o solo for carente em magnésio deve-se preferir o calcáreo dolomítico que possui além de cálcio, o magnésio, servindo para corrigir a acidez e fornecer os citados nutrientes. Para o estado da Bahia a necessidade de calcáreo é dada pela seguinte fórmula: NC(t/ha)=[2,5-(cmolc/dm3 Ca+Mg)]xf, onde f=100/PRNT. Utilizar calcáreo dolomítico se o Mg no solo for inferior a 0,5 cmolc/dm3. Adubação Na maioria das situações, a adubação nitrogenada tem variado de 6 a 10 g de N/ planta, a fosfatada de 1 a 4 g de P2O5/ planta e a potássica de 4 a 15 g de K2O/ planta. A recomendação de adubação para o estado da Bahia para solos de baixa fertilidade natural é a seguinte: Primeira adubação: 3,3 g de uréia, 2,2 g de superfosfato triplo e 2,8 g de sulfato duplo de potássio e magnésio, por planta, nas axilas das folhas mais baixas, 2 meses após o plantio; Segunda adubação: 3,7 g de uréia e 1,9 g de sulfato de potássio, por planta, nas axilas das folhas mais baixas, 5 a 6 meses após o plantio; Terceira adubação: 3,9 g de uréia e 2,3 g de sulfato de potássio, por planta, nas axilas das folhas mais baixas, 8 a 9 meses após o plantio. 9 No quadro abaixo está disponibilizada mais uma recomendação de adubação, publicada pela PESAGRO-RJ: 10 A recomendação ideal de adubação, no entanto, deve ser efetuada de acordo com o resultado analítico do solo, conforme tabela abaixo, que também indica a época de aplicação e o parcelamento dos adubos: Mesmo de posse da análise de solo, às vezes podem-se realizar alguns ajustes na adubação, principalmente na relação K2O/N que pode ser de 1,5 a 2,5 para mercado externo, mercados internos mais exigentes e indústria e relação 1,0 ou até menor, para mercados menos exigentes. Embora a recomendação seja para que a última cobertura ocorra até o 9º mês, portanto antes da floração, trabalhos de pesquisa demonstram que se a planta não recebeu adubação e foi constatada deficiência mineral, pode-se aplicar via foliar 2 gramas de N e/ou 2 gramas de K, divididos e 4 aplicações quinzenais, iniciando-se a primeira 60 dias após a indução floral. Isto tem resultado em aumento no peso e na qualidade dos frutos. Deste modo pode-se usar ainda Mg e/ou micronutrientes. Como sugestão de adubação complementar, a PESAGRO-RJ recomenda pulverizações mensais com urina de vaca a 1% até os 4 meses e a 2,5%, a partir do 4º. mês, suspendendo as aplicações 2 meses antes da indução floral e reiniciando-se após floração. Modo de aplicação dos adubos: As adubações poderão ser realizadas por meio sólido ou líquido. Sob a forma sólida os fertilizantes podem ser aplicados nas covas ou sulcos de plantio (opção mais utilizada para os adubos orgânicos e adubos fosfatados), ou em cobertura, no solo, junto das plantas ou nas axilas das folhas basais (opção mais utilizada para os adubos nitrogenados, potássicos e fosfatados solúveis em água como o MAP, DAP e os superfosfatos simples e triplo). Devido às dificuldades de se realizar adubações em cobertura na cultura do abacaxi, foram desenvolvidas adaptações, incluindo-se o uso de adubadeiras, tornando a operação mais confortável e rápida. Uma das adubadeiras consiste de um funil acoplado a um tubo plástico rígido, de aproximadamente 80 cm . A outra forma é uma 11 colher de cabo prolongado. Deve-se evitar que os adubos caiam nas folhas superiores (mais novas) ou no olho da planta, para não “queimar” os tecidos. A adubação foliar é mais utilizada para a aplicação de Nitrogênio, Potássio, micronutrientes é mais uma opção para a aplicação do Magnésio. Nas adubações foliares deve-se evitar as horas menos quentes do dia. É aconselhável também que a concentração total de adubos na solução não ultrapasse 10%. Em plantios irrigados pode-se aplicar os nutrientes via fertirrigação, exceto o Fósforo, que deve ser aplicado no solo, por ocasião do plantio, na axila das folhas, ou ainda no solo, em cobertura, entre o primeiro e segundo mês após o plantio. Fontes de nutrientes Na escolha dos adubos é importante considerar o seu custo em relação às suas concentrações em nutrientes, o modo de aplicação previsto, o solo e as implicações de cada adubo, a composição do adubo e sua implicação na qualidade do produto final, etc. De um modo geral, as fontes de nutrientes minerais encontrados no comércio são indicadas para a cultura do abacaxi. A única restrição é para o uso do cloreto de potássio, uma vez que o cloro contido no citado fertilizante afeta os conteúdos de amido e açúcares, além de causar decréscimo no tamanho do fruto. Não obstante estas desvantagens, o cloreto de potássio tem sido indicado e utilizado por ser mais barato que as outras fontes de Potássio. Quando o destino dos frutos for para mercados mais exigentes recomenda-se o uso do sulfato de potássio. 12 Quadro resumo dos principais adubos que poderão ser utilizados na cultura do abacaxi: Adubos nitrogenados – uréia (45% N); sulfato de amônio (20% N). Adubos fosfatados – superfosfato triplo (42% P2O5); fosfato monoamônico-MAP (60% P2O5); fosfato diamônico-DAP (45% P2O5) e o superfosfato simples (18% P2O5), sendo que este último contém ainda 10-12% de enxofre e 20% de cálcio. Adubos potássicos – cloreto de potássio (58% K2O); sulfato de potássio (50% K2O) e o nitrato de potássio (44% K2O). Aplicação de micronutrientes Os micronutrientes podem ser aplicados por via sólida ou via líquida, sendo esta última a mais utilizada. Para as pulverizações foliares podem ser utilizadas as seguintes fórmulas, com as respectivas concentrações: sulfato de zinco a 1%; sulfato de cobre a 1 a 2%; oxicloreto de cobre a 0,15%; bórax a 0,3%; sulfato ferroso de 1 a 3%. As aplicações do sulfato de cobre devem ser feitas no solo, uma vez que nas folhas podem causar fortes queimaduras, entretanto, a adição de cal hidratada ao sulfato de cobre (calda bordaleza e calda viçosa) evita queimaduras. Quanto ao sulfato ferroso é recomendável utilizar 20% do peso do sal, de ácido cítrico, para evitar oxidação. A adição de uréia às soluções favorece à absorção dos micronutrientes. 8 – Plantio O sistema de plantio das mudas pode ser feito em covas, abertas com enxada ou enxadetas, ou em sulcos, abertas com enxadas ou sulcador, de preferência, na profundidade correspondente à terça parte do comprimento da muda, ou seja, se a muda for de 30 cm, a profundidade de plantio deve ser de 10 cm, tomando-se o cuidado para não deixar cair solo no olho das mudas. O plantio deve ser realizado em quadras com mudas de mesmo tamanho ou grupos de tamanhos próximos. Exemplos: quadras com mudas de 30 a 40 cm; quadras com mudas de 40 a 50 cm e assim por diante. Sistemas de plantio e espaçamentos: Os espaçamentos utilizados na cultura do abacaxi variam bastante de acordo com a cultivar, o destino da produção, o nível de mecanização e outros fatores. Os plantios podem ser estabelecidos em sistemas de fileiras simples ou duplas. Para permitir a obtenção de boas produtividades, fundamental para alcançar renda adequada, devem ser usadas densidades de plantio elevadas, com um número mínimo de 37.000 plantas por hectare. O plantio de filas duplas deve ser associado ao uso de herbicidas para o controle de plantas daninhas, uma vez que esse sistema dificulta a capina manual entre as filas que compõem cada fila dupla. Recomenda-se que o plantio em filas duplas seja alternado (plantas descasadas ou desencontradas), isto é, as plantas de uma fila colocadas na direção dos espaços vazios de outra fila. São recomendados os seguintes espaçamentos: A) fileira simples: 0,90 m x 0,30 m e 0,80 m x 0,30 m, correspondendo a 37.030 e 41.660 plantas/ha, respectivamente. B) filas duplas: 0,90 m x 0,40 m x 0,40 m ou 0,90 m x 0,40 m x 0,35 m ou 0,90 m x 0,40 m x 0,30 m, isto é, 38.460, 43.950 e 51.280 plantas/ha, respectivamente. Para a cultivar Smooth Cayenne e plantios com irrigação, recomenda-se densidades mais altas. De maneira geral os plantios mais adensados tendem a proporcionar maiores produções por área, ainda que individualmente os frutos alcancem pesos menores. 13 O enraizamento rápido do abacaxizeiro é importante para o estabelecimento da cultura, por isso, logo após o plantio, recomenda-se a aplicação de urina de vaca a 50%, no solo, na base das mudas, já que este insumo possui ácido indolacético, reconhecido estimulante no desenvolvimento de raízes. Época de plantio: De modo geral, a melhor época para o plantio do abacaxi de sequeiro é no final da estação seca e início da estação chuvosa. Isto corresponde no sudoeste da Bahia a setembro/outubro. No entanto, é provável que em plantios implantados nesta época, no Planalto de Conquista, ocorra floração natural precoce no próximo inverno devido ao frio e à nebulosidade, uma vez que neste período a planta provavelmente estará com tamanho reduzido, porém suficiente para florar espontaneamente, acarretando em colheita de frutos pequenos e no período de muita oferta do produto e consequentemente de preços baixos. Em visitas a pomares na citada região, tem-se constatado que quando os plantios são efetuados entre janeiro e março, não têm ocorrido florações naturais no inverno do mesmo ano (junho, julho, agosto), o que recomenda seu plantio na época citada. O cultivo do abacaxizeiro no sudoeste da Bahia, entretanto carece de maiores estudos. Plantios na estação seca devem ocorrer em localidades onde há incidência de neblinas ou maiores pluviosidades. Nos cultivos irrigados, a época de plantio deve ocorrer em função do período em que se desejar colher, obedecendo às implicações relacionadas com a floração natural. Consorciação: O consórcio do abacaxi com outras culturas uma vez que permite a obtenção de rendas extras, aproveitando mais eficientemente as áreas cultivadas. As culturas consorciadas devem ser de ciclo inferior a 120 dias e ser de baixo porte para evitar o sombreamento excessivo nas fruteiras. O plantio do abacaxi nas entrelinhas de pomares perenes (goiaba, pinha, graviola, manga, etc.) é outra alternativa para maximizar o uso da terra, no entanto deve-se observar o espaçamento mínimo de 1,50 m das culturas perenes implantadas. 9– Manejo da floração A floração natural e seu controle A floração natural do abacaxizeiro (não induzida artificialmente) ocorre, sobretudo em períodos de dias mais curtos e temperaturas noturnas mais baixas, portanto, principalmente nos meses de junho a agosto. Períodos de alta nebulosidade, reduzida insolação e estresse hídrico podem , às vezes, desencadear a diferenciação floral natural em ouras épocas do ano, a exemplo do outono (abril e maio) e da primavera (outubro e novembro). A floração natural ocorrer mais cedo em plantas mais desenvolvidas. Plantas da cultivar Pérola tendem a florescer mais precocemente que as da Smooth Cayenne. Florações naturais precoces são indesejáveis pois ocorrem, em geral, de maneira bastante desuniforme nas plantações comerciais, dificultando o manejo da cultura e a colheita, o que encarece o custo de produção. Podem, também inviabilizar a exploração da soca (segundo ciclo) e afetar a comercialização do produto, devido à diminuição do tamanho médio dos frutos e a coincidência da sua maturação com o período de safra (novembro a janeiro), quando a grande oferta causa a redução acentuada dos preços. 14 A forte influência de condições climáticas, que varia de região para região e de ano para ano (nebulosidade, insolação, chuvas), dificulta o controle de florações naturais na lavoura de abacaxi. Sob condições experimentais, a Embrapa de Mandioca e Fruticultura tem conseguido retardar a ocorrência de florações naturais por meio da aplicação de substâncias químicas (fitorreguladores), mas essa tecnologia não está pronta, precisa ainda ser validada em estudos conduzidos em áreas de produtores. A aplicação freqüente de adubos nitrogenados, a exemplo da uréia, não conseguiu evitar a floração natural. Mesmo com as dificuldades existentes, o produtor pode recorrer a alguns cuidados no manejo da cultura, para diminuir a possibilidade de incidência de florações naturais precoces nas suas plantações de abacaxi. Alguns destes cuidados são: Evitar que as plantas atinjam porte elevado ou idade avançada até a época mais crítica para a ocorrência da floração natural (junho a julho). Para tanto o produtor deve escolher combinações adequadas dos fatores época de plantio e tamanho (peso) das mudas no plantio. Por exemplo, evitar plantios no período de outubro a dezembro, o que é muito comum em regiões com chuvas de verão (Cerrado), pois tais plantas terão porte médio a grande em junho do ano seguinte, sendo altamente susceptíveis à incidência de floração natural. Recomenda-se efetuar os plantios a partir de janeiro, usando mudas menores nos primeiros plantios (estas terão crescimento mais lento , devendo chegar com porte menor à época crítica). Em plantios mais tardios, pode-se usar qualquer tamanho de mudas. Evitar a utilização de mudas velhas para os plantios, pois tem sido observado empiricamente que, mesmo quando relativamente pequenas, tendem a tornar as plantas mais sensíveis à diferenciação floral natural. Permitir que, dentro do possível, as plantas tenham um crescimento contínuo, sem paralisações acentuadas por estresses diversos. Neste caso o uso adequado da irrigação, de adubações criteriosas para evitar deficiências nutricionais e o controle eficiente do mato, pragas e doenças, sobretudo do sistema radicular, tornam-se importantes e amenizam o risco da diferenciação floral precoce. Evitar que produtos à base de etefon (Ethrel, arvest ou similar), usados na fase pré colheita para o amarelecimento uniforme da casca dos frutos, atinjam as mudas do tipo filhote em fase de desenvolvimento nas plantas. Em várias regiões produtoras do país, têm sido observadas mudas que emitem suas inflorescências quando estão em fase de ceva, aderidas à planta-mãe, devido à aplicação desses fitorreguladores alguns dias antes da colheita. Mesmo que esses filhotes não floresçam durante a ceva, eles não deveriam ser usados para novos plantios, pois podem apresentar sensibilidade muito grande aos estímulos naturais que induzem diferenciações florais precoces. Tratamento de indução floral (TIF) A Época de florescimento e da colheita do abacaxizeiro pode ser antecipada e homogeneizada por meio da aplicação de certas substâncias químicas (fitorreguladores) na roseta foliar (olho da planta) ou da sua pulverização sobre a planta. Esta técnica chamada de tratamento de indução floral (TIF) é uma prática cultural essencial para o bom manejo e o sucesso econômico no cultivo do abacaxi. Quando bem planejada e executada, permite melhor distribuição das operações e uso de mão de obra na propriedade e a colheita de frutos em épocas mais favoráveis à sua venda. 15 O período de tempo entre o tratamento de indução floral e a colheita dos frutos na maioria das regiões produtoras brasileiras é de cinco a cinco meses e meio, quando a maturação do fruto coincide com o período mais quente, e cinco e meio a seis meses, quando a maturação acontece em época mais fria. No sul do país, com temperaturas mais baixas, o período pode ser mais longo que seis meses. A época mais indicada para a realização do TIF depende de diversos fatores, incluindo o planejamento da data de colheita. Em geral, o TIF deve ser feito em plantas com 8 a 12 meses o que resulta num ciclo da planta de 14 a 18 meses até a primeira produção. O TIF pode ser realizado em plantas com vigor vegetativo e porte adequados. A experiência e o olho do abacaxicultor ajudam muito na escolha da época e do tamanho adequados das plantas para efetuar-se o TIF, em cada região. Para os menos experientes, os seguintes critérios podem auxiliar nesta definição: as plantas devem ter as folhas D (essa folha é a mais alta na planta e a de arranquio mais fácil sendo em geral aquela fisiologicamente mais ativa) com comprimento superior a 90 cm e peso fresco superior a 80 g na variedade Pérola, e comprimento superior a 70 cm e peso fresco maior que 70 g, na Smooth Cayenne. Plantas com essas características têm normalmente capacidade de formar frutos de peso superior a 1,2 kg, quando não prejudicadas por longos períodos de escassez de água durante a formação do fruto. Plantas muito pequenas não devem sofrer esse tratamento, pois não teriam condições de formar frutos de tamanho adequado para o mercado de fruta fresca. Na escolha da melhor época para a indução floral deve ser considerada, também a possibilidade de deslocar a colheita para o período em que os preços estiverem mais favoráveis. Muitas vezes, a antecipação ou o retardamento por período relativamente curto (um mês, por exemplo), podem representar aumentos consideráveis no preço do fruto e na renda obtida pelo produtor. Várias substâncias podem ser usadas para induzir a floração do abacaxi. As mais comuns são o carbureto de cálcio e produtos à base de etefon. O carbureto de cálcio é mais barato, sendo muito usado por pequenos e médios produtores em todas as regiões produtoras brasileiras. O carbureto de cálcio pode ser usado sob a forma sólida ou líquida. No primeiro caso, colocam-se 0,5 a 1,0 g/planta, no centro da roseta foliar (olho), a qual deve conter água para permitir a dissolução do produto, resultando na liberação do gás acetileno, que é o indutor floral propriamente dito. Para uso na forma líquida, tomam-se as seguintes providências, passo a passo: em uma vasilha (barril ou balde) com capacidade para 20 litros e com tampa, colocam-se 12 litros de água limpa e fria (o espaço que sobra é para a expansão do gás antes da sua diluição na água), adicionando-se nessa água 50 a 60 g de carbureto de cálcio, com posterior fechamento e agitação da vasilha. Espera-se até não se ouvir mais o barulho (chiado) da reação, e em seguida, coloca-se a solução em um recipiente (vasilha) que tenha mangueira ou em um pulverizador costal sem o bico da mangueira (sem pressão) e aplicam-se 50 ml (copinho de café) da solução no olho da planta, a qual não deve conter excesso de água para evitar que a solução indutora derrame para fora do alcance do meristema apical (olho) da planta. Essa solução pode ser preparada no próprio pulverizador costal (colocar 12 litros de água e 50 a 60 g de carbureto de cálcio). Podem ser utilizados recipientes maiores (ex. tonéis de 200 litros) para o preparo da solução, elevando-se proporcionalmente, a quantidade de carbureto de cálcio a ser dissolvida. É importante que o recipiente esteja bem fechado durante o preparo da solução indutora, efetuando-se sua aplicação logo em seguida. O etefon (ethrel, Arvest ou similar) pode ser aplicado no olho da planta, da mesma forma que é feito com o carbureto de cálcio, ou em pulverização total sobre as plantas, na proporção de 50 ml da sua solução aquosa por planta. Prepara-se a solução na 16 concentração de 0,5 a 1,0 ml do produto comercial para cada litro de água, mais uréia a 2% (20 g/ litro) e 0,30 a 0,35 g de hidróxido de cálcio (cal de pedreiro) por litro de água. No caso desse produto, a operação deve ser repetida se chover até seis horas após a sua aplicação. Um incoveniente, às vezes observado, em resposta à indução floral com etefon é a redução do número de mudas tipo filhote produzido pelas plantas. Os indutores florais devem ser aplicados à noite (entre as 20:00 e as 5:00 horas do dia seguinte) ou nas horas mais frescas do dia (do amanhecer até as 9:00 horas ou no final da tarde), de preferência em dias nublados, logo após o preparo das soluções. Nessas condições, a planta absorve melhor os gases acetileno (carbureto de cálcio) e etileno (etefon), que são os indutores florais propriamente ditos. Esse cuidado é fundamental para assegurar uma boa eficiência do TIF, podendo favorecer também a produção de um maior número de mudas do tipo filhote. Deve-se ter o cuidado adicional, na cultura irrigada, de suspender a irrigação alguns dias antes do TIF, retomando-a de 24 a 48 horas após tal prática. É bom lembrar, porém, que, no caso da opção pelo uso do carbureto de cálcio na forma sólida, pode haver a necessidade de uma irrigação antes da aplicação do produto, para garantir água no olho da planta. Uma indução floral bem feita deve proporcionar uma eficiência superior a 90%, o que poderá ser facilmente observado de 40 a 50 dias após a aplicação do indutor, quando as inflorescências aparecem no centro da roseta foliar das plantas. Uma forma de avaliação mais precoce da eficiência do TIF, a partir de cerca de 3 semanas após a sua introdução, consiste na coleta manual das folhas mais jovens no olho da planta, passíveis de serem arrancadas (folhas E ou F), para observar a presença de um alargamento (abertura) e uma mudança de coloração branco-esverdeada para vermelho-esverdeada na sua base, o que indica o surgimento da inflorescência da roseta foliar central da planta. 10 - Controle de plantas daninhas O abacaxizeiro é uma planta de crescimento lento e raízes superficiais, por isso deve ser mantida no limpo, principalmente nos seis primeiros meses. O controle do mato pode ser realizado através de capinas manuais, capinas químicas (herbicidas), ou utilizando-se cobertura morta. Dependendo da intensidade de infestação e do tipo de plantas daninhas, são necessárias 8 a 12 capinas manuais durante o ciclo da cultura. Durante as capinas procede-se também a amontoa, o que ajuda a sustentar as plantas. O controle do mato com cobertura morta é uma boa alternativa para pequenos produtores. A cobertura morta controla a emergência de ervas daninhas, mantém a umidade do solo, controla a erosão e adiciona matéria orgânica. Podem ser utilizados restos de cultura como palha de feijão, de milho, capins, etc. O controle de ervas daninhas com herbicidas é outra alternativa, principalmente em plantios grandes, adensados principalmente e em períodos chuvosos. Entretanto, a aplicação deve ser realizada com cuidado para que o abacaxizeiro não sofra com os eventuais efeitos tóxicos dos produtos aplicados. Para evitar este problema é fundamental a calibração do pulverizador antes da aplicação. Convém ressaltar que os herbicidas indicados para a cultura do abacaxi são fitotóxicos para outras culturas como o feijão, o que impossibilita seu uso em consórcio. Alguns cuidados devem ser tomados ao usar os herbicidas indicados: 1- Não usar quantidades totais de herbicidas acima dos seguintes valores: 7,2 kg/ha/ano de Diuron+Bromacil; 10 kg/ha/ano de Ametryn, Simazine, Ametryn+Simazine. Doses acima desses valores pode causar danos aos solos. 17 2- Aplicar os herbicidas, de preferência, em pré-emergência (em solo limpo) ou, no mais tardar, em pós emergência precoce (com mato ainda pequeno), sempre em pulverização uniforme sobre o solo úmido, utilizando-se 500 a 1000 litros de calda/ha. Usar bicos leque, sempre a 30 a 50 cm do solo. Se o herbicida for aplicado em pós emergência, utilizar espalhante adesivo. 3- A primeira aplicação deve ser feita logo após o plantio em toda a área. 4- Aplicações posteriores devem ser dirigidas às entrelinhas, evitando-se atingir a roseta foliar central (olho) das plantas. Uma aplicação correta de herbicida pode controlar o mato por 2 a 4 meses. 5- Suspender as irrigações por 2 a 3 dias após a aplicação do herbicida. 6- Em áreas com plantas daninhas de difícil controle (sapé, tiririca, etc.) aplicar 3 a 6 litros de glifosato/ha 2 semanas antes do plantio. 7- Mesmo que a opção seja pelo controle químico do mato, há necessidade de capinas manuais, visando limpar o solo para as aplicações de herbicidas, a realização de cobertura dos adubos e a amontoa. Principais herbicidas usados na cultura do abacaxi Nome comercial Nome químico Formulação Dose Kg ou L do produto comercial / ha Karmex 800 ou similar Diuron PM 80 % 2,0 – 4,0 Karmex 500 ou similar Diuron SC 50 % 3,2 – 6,4 Krovar ou similar Diuron+Bromacil PM 80 % 2,0 – 4,0 Top Z SC 500 ou similar Ametryn+Simazine SC 50 % 4,0 – 8,0 Gesapax 500 ou similar Ametryn SC 50 % 4,0 – 6,0 Simazina 800 ou similar Simazine PM 80 % 2,5 – 5,0 Herbazin 500 ou similar Simazine SC 50 % 4,0 – 8,0 11- Doenças do abacaxizeiro Fusariose: Causada pelo fungo Fusarium subglutinans, a fusariose é a principal doença do abacaxizeiro no Brasil. Os prejuízos devidos à fusariose são decorrentes da infecção e morte das mudas, morte das plantas durante o desenvolvimento vegetativo e podridão dos frutos, que perdem seu valor comercial. Em épocas favoráveis, a incidência da doença F. subglutinans pode causar perdas superiores a 80% na produção de frutos. Além do efeito direto no fruto, o patógeno infecta aproximadamente 40% do material propagativo ( filhotes, rebentões, etc. )e causa morte de cerca de 20% das plantas antes da colheita. Além das perdas quantitativas, ocorrem prejuízos causados pela má aparência de frutos com lesões, no padrão de tamanho e na qualidade interna deles. Tanto nas mudas quanto nas plantas o fungo causa lesões localizadas geralmente na face inferior do caule e na base (embaixo) das folhas. A região infectada apresenta a exudação de uma substância gomosa. Outros sintomas externos, porém menos frequentes no material propagativo, são: curvatura do caule, geralmente para o lado onde a infecção se localiza; encurtamento do caule; modificação da filotaxia, aumentando o 18 número de folhas por espiral; redução no comprimento das folhas; redução no desenvolvimento geral das plantas; clorose e morte da planta. Nos frutos, os sintomas da fusariose caracterizam-se pela exudação de goma através da cavidade floral. A polpa, na região infectada, apresenta-se apodrecida com os lóculos do ovário cheios de goma. Externamente os frutilhos afetados evidenciam descoloração amarronzada e, em consequência da exaustão dos tecidos internos, apresentam-se em nível inferior em comparação com os vizinhos sadios. As flores abertas são os principais sítios de infecção do patógeno. Ferimentos na superfície da planta hospedeira, resultante do processo normal de crescimento ou da ação de fatores exógenos, constituem também sítios de infecção. A movimentação de material propagativo infectado é o principal veículo de disseminação da doença. Uma vez introduzido em uma região, o patógeno é disseminado pelo vento, chuva e insetos visitadores da inflorescência. Dentro de uma mesma região produtora, a incidência da fusariose varia de acordo com a época de produção, estando esse efeito relacionado com a precipitação pluvial e a temperatura. A associação de elevadas precipitações pluviais com temperaturas amenas, durante o desenvolvimento das inflorescências, favorece a incidência da doença. Controle: Controle Cultural O controle satisfatório da fusariose do abacaxizeiro requer a integração de práticas culturais e de controle químico, sendo que a primeira medida a ser implementada consiste na redução do inóculo inicial mediante utilização de material propagativo sadio para a instalação dos novos plantios. Mudas sadias podem ser produzidas tanto por seccionamento do caule quanto por micropropagação. Durante a fase de crescimento vegetativo, é necessário efetuar inspeções periódicas do plantio, a fim de erradicar todas as plantas que expressarem sintomas da fusariose. Esta ação é complementada com a eliminação dos restos culturais e de plantios abandonados, principalmente aqueles onde ocorreu elevada incidência da fusariose. Considerando o efeito sazonal sobre a incidência da fusariose nos frutos, o estabelecimento de um programa de escape à doença, fundamentado em sua curva de incidência na região produtora, constitui medida eficiente de controle. Controle Químico Para a produção de frutos em épocas favoráveis à incidência da fusariose é necessária a implementação do controle químico da doença. As pulverizações devem ser iniciadas antes do surgimento das inflorescências na roseta foliar, precisamente 30 dias após o tratamento de indução floral (TIF), e suspensas após o fechamento das flores, aproximadamente, dois meses após o TIF. Vários produtos são utilizados no controle da fusariose, principalmente os benzimidazóis, captan e tebuconazole. Tendo em vista a associação de insetos, principalmente a Thecla basalides, com F. subglutinans, deve-se adicionar um inseticida, como o carbaryl, à calda fungicida, para aumentar a eficiência de controle. Com relação ao controle natural da fusariose, existem trabalhos de pesquisa que comprovam a eficiência de produtos comerciais indutores de resistência, de nome comercial Eco-Life, bem como de taninos, utilizados para o beneficiamento do couro. Neste último caso há o incoveniente da coloração marrom nos frutos tratados o que reduz o valor comercial devido à aparência, se os frutos forem destinados para consumo in natura, o mesmo não ocorrendo se os frutos forem destinados para a indústria de sucos. 19 Controle genético Existem cultivares resistentes à fusariose como a Perolera e Manzana, cultivadas na Colômbia, entretanto não são de aceitação comercial no Brasil, servido por enquanto para fornecer material genético para trabalhos de melhoramento. O híbrido “Imperial” , oriundo do cruzamento entre as cultivares Perolera e S. Cayenne é citado como resistente à fusariose, entretanto ainda não foi testado comercialmente nem tampouco distribuído aos produtores para plantios em larga escala. Ensacamento dos frutos Consiste na colocação de sacos plásticos na inflorescência até o fechamento das flores (secamento das pétalas), associado à aplicação de fungicidas até o momento do ensacamento. Podridão-Negra-do-Fruto: Trata-se de uma doença de pós colheita. O agente causal é o fungo Chalara (Thielaviopsis) paradoxa cuja forma perfeita corresponde à Ceratocystis fimbriata. A infecção dos frutos pode ocorrer por duas vias distintas: a) através de ferimentos no pedúnculo, em decorrência do corte da colheita, e da remoção das mudas do tipo filhote; b) por meio de ferimentos na casca, resultante no manuseio e transporte inadequados. A partir do ferimento no pedúnculo, o patógeno avança pelo eixo central em direção ao ápice do fruto e mais lentamente na polpa, dando origem a uma lesão em formato de cone, de coloração amarela intensa. Ocorrendo a infecção via ferimento na epiderme (casca), a lesão progride de fora para dentro em direção ao eixo central do fruto, causando o aprodrecimento da polpa.Com o desenvolvimento da doença, toda a polpa liquefaz-se, o suco exuda, restando no interior do fruto apenas as fibras dos feixes vasculares, escurecidas. As condições favoráveis à incidência da podridão-negra-do-fruto caracterizam-se por umidade relativa elevada, associada a temperaturas amenas. Além disso, a ocorrência de chuva durante a colheita resulta, geralmente, em altos percentuais de frutos infectados, os quais perdem o valor comercial. Controle: O controle da podridão-negra-do-fruto tem início no momento da colheita que deve ser realizada através do corte do pedúnculo a 2 cm da base do fruto. As demais medidas de controle dessa doença são: a) evitar ferimentos na superfície do fruto durante a colheita e em pós-colheita; b) eliminar os restos culturais nas proximidades das áreas onde os frutos são armazenados e processados; c) reduzir ao mínimo o período entre a colheita e o processamento dos frutos; d) armazenar e transportar os frutos sob refrigeração, em temperatura próxima de 12º C; e) tratar o corte da colheita e os ferimentos resultantes da remoção dos filhotes, com fungicidas benzimidazóis (Thiofanato metílico, por exemplo). Podridão-do-olho: É uma doença que vem adquirindo importância econômica, especialmente em plantios irrigados. Em plantios de sequeiro essa doença ainda não tem se constituído como ameaça. 20 É causada pelo fungo Phythophtora nicotiana var. parasitica, um habitante do solo que pode infectar a planta do abacaxizeiro em qualquer estádio de desenvolvimento. O fungo pode chegar até a planta através de salpicos das águas de chuva/irrigação. As plantas atacadas apresentam alterações nas folhas mais novas (E,F), que perdem a cor verde e adquirem cor amarelo fosco e cinza. As folhas velhas não sofrem alterações. Com o desenvolvimento da doença, pode-se observar na parte basal, aclorofilada, das folhas atacadas, lesões translúcidas que se expandem rapidamente. Esta expansão, enquanto é bloqueada na parte verde intensa da folha, podendo-se notar claramente uma zona marrom-escura que separa os tecidos sadios e infectados. A partir da base da folha, o patógeno atinge o caule, provocando o apodrecimento e morte do olho da planta, o qual pode ser removido por inteiro, evidenciando uma podridão-mole, com odor desagradável devido à invasão por organismos secundários. Controle: O controle da podridão do olho deve ser uma prática rotineira, principalmente após o plantio e o tratamento de indução floral. Para tanto é necessária a implementação de medidas envolvendo práticas culturais e de controle químico. Dentre as práticas culturais destacam-se: a) escolha da área onde instalar o novo plantio; b) a realização da calagem deve ser feita de maneira cuidadosa, pois o patógeno torna-se mais eficiente em valores de pH próximos da neutralidade, c) plantio em camalhões, de cerca de 25 cm de altura, capazes de promover a drenagem do solo; d) não utilização de mudas tipo coroa, uma vez que estas apresentam alta susceptibilidade ao patógeno; e) não colocação de plantas daninhas sobre as plantas de abacaxi, pois esta prática faz com que o solo contaminado com P. nicotiana var. parasitica caia na base das folhas do abacaxizeiro, incitando a infecção. Em regiões produtoras onde a doença é problema o controle deve começar antes da colheita das mudas, com pulverizações de fungicidas sistêmicos como o fosetil Al, duas semanas antes da colheita. Antes do plantio, recomenda-se a imersão das mudas em solução com o fungicida protetor Captan. Três a quatro semanas após o plantio recomenda-se pulverizar com fungicida. Uma semana antes da indução floral deve-se aplicar um fungicida sistêmico dirigido à roseta foliar. Mancha-negra-do–fruto: É causada pelos fungos Penicillium funiculosum e Fusarium moniliforme. Trata-se de uma doença grave, onde os frutos atacados não expressam sintomas externos, dificultando o seu descarte durante o processamento em pós colheita. Essa doença encontra-se disseminada em todo o Brasil, principalmente em regiões quentes e de baixa umidade. Os sintomas não aparecem nas cultivares Pérola e Smooth Cayenne mas nas cultivares Queen e Perolera os frutilhos infectados tornam-se amarelo-alaranjados, ficando numa posição inferior aos frutilhos sadios circundantes. Em algumas cultivares os frutilhos atacados permanecem verdes durante a maturação, dificultando seu descarte. Internamente, os sintomas da mancha-negra caracterizam-se pelo desenvolvimento no frutilho infectado de uma podridão mole, de coloração marrom-clara, que passa a marrom-escura. Eventualmente, essa doença manifesta-se sob a forma de podridão dura. À semelhança do que ocorre com a fusariose, o fungo infecta a inflorescência em desenvolvimento através das flores abertas. Porém, no que se refere à mancha-negra-dofruto, a sua ocorrência depende da presença de ácaros na inflorescência, especialmente o Steneustarsonemus ananas, vetor do patógeno causal da doença. A mancha negra do fruto apresenta incidência variável, de acordo com a época de produção. A ocorrência de chuva seguida de período seco, antes da abertura das flores, 21 condiciona alta incidência da doença nos frutos os quais perdem o valor comercial devido ao apodrecimento da polpa, resultando em prejuízos acentuados ao produtor. Controle: O controle da mancha-negra-do-fruto tem-se mostrado uma prática bastante difícil, fundamentando-se quase exclusivamente na aplicação de produtos químicos para controlar a entomofauna presente nas inflorescências, em especial o ácaro S. ananas. Em todo o mundo, a mancha-negra-do-fruto tem sido controlada mediante aplicações de endossulfan, cujas pulverizações são iniciadas logo após a indução floral e suspensas quando ocorrer o fechamento das flores. Não obstante este produto ser utilizado, o mesmo não possui registro para a cultura do abacaxizeiro. 12 - Pragas do abacaxizeiro Murcha associada à cochonilha (Dysmicoccus brevipes) As plantas infestadas apresentam, na fase inicial, um avermelhamento em suas folhas, depois as suas margens se tornam amareladas e as partes medianas adquirem um tom rosa vivo, ocorrendo enrolamento dos bordos das folhas para a face inferior. Depois passam por um amarelecimento gradual, secamento de suas pontas, e por fim, o desdobramento das folhas em direção ao solo. A planta vai definhando progressivamente podendo chegar à morte. A doença é causada por um vírus, provavelmente um clostevírus, tendo como vetor a cochonilha D. brevipes. Esse inseto possui um grande número de hospedeiros, podendo ser observado também em arroz, batatinha, algodoeiro, bananeira, milho, sorgo, cana-de-açúcar, dandá e outros. Essa cochonilha vive em colônias, na base das folhas e nas raízes do abacaxizeiro. A fêmea possui um corpo ovalado, levemente rosado, coberto por uma massa cerosa branca de aspecto farináceo, circundado por vários apêndices cerosos brancos, medindo 2,5 mm de comprimento na fase adulta. O macho é menor e alado, sendo em geral encontrado dentro de formações cerosas semelhantes a pequenos flocos de algodão. Cada fêmea adulta pode gerar em toda a sua vida, em média 295 descendentes, ovipositando, cerca de 5 ovos por dia. Formigas doceiras podem viver em processo simbiótico, por protocooperação com a cochonilha, essa não só protege aquela praga de seus inimigos naturais, como também transporta as ninfas, propiciando sua dispersão entre plantas. Os prejuízos causados pela murcha associada à cochonilha podem, algumas vezes ultrapassar 70% dos custos de produção. A cultivar Smooth Cayenne é altamente susceptível à murcha, enquanto a Pérola, embora um pouco mais tolerante, também sofra com essa doença. Controle: Adquirir mudas sem infestação ou com baixos índices de infestação. Deixar as mudas em processo de cura ( no sol ), por duas semanas antes do plantio. A imersão das mudas durante 30 minutos em temperatura de 50ºC é viável porém ainda de pouca aplicabilidade na prática. Destruição de restos da cultura anterior. 22 Manter a cultura livre de ervas daninhas que servem de alimentos para algumas espécies de formigas doceiras. Controle químico Tratamento das mudas: a) Realizar tratamento das mudas por imersão em solução inseticida+espalhante adesivo por 3 a 5 minutos, deixando-se escorrer o líquido excedente. b) Pode-se também realizar o tratamento por fumigação utilizando-se 1 g de fosfina/m3 de mudas por 72 horas, cobrindo-se com plástico para o gás não sair. c) Outra alternativa é pulverizar as mudas ainda na planta-mãe, logo após a colheita dos frutos, na fase de ceva. Ciclo vegetativo Como as raízes são as primeiras estruturas da planta estruturas da planta a serem danificadas pela doença, o produtor deve estar atento. A planta pode demorar 40 a 50 dias para apresentar os primeiros sintomas foliares da “ murcha “. Se o produtor desconhecer a origem das mudas, ele deve controlar essa praga de modo preventivo, durante o ciclo vegetativo do abacaxizeiro, pulverizando, aos 60, 150 e 240 dias após o plantio, 30, 40 e 50 ml de uma solução inseticida por planta. Um bom preparo do solo ajuda a destruir os ninhos das formigas doceiras, porém é preciso estar atento para evitar os casos de alta infestação, realizando o seu controle, para evitar a disseminação da cochonilha. Broca-do-fruto É uma das principais pragas do abacaxi. Durante o dia a borboleta é encontrada voando rápida e irregularmente, ovipositando nas inflorescências, da sua emergência, no centro da roseta foliar até o fechamento das últimas flores. Os ovos são brancos, circulares, levemente achatados, com 0,8 mm de diâmetro. A lagarta eclode 5 dias aproximadamente após a eclosão, procura um local entre os frutilhos, onde inicia a perfuração da inflorescência, permanecendo no seu interior durante cerca de 15 dias, onde abre galerias e destrói os tecidos. Quando completamente desenvolvida pode atingir 18 a 20 mm de comprimento por 6 mm de largura, com uma coloração avermelhada, apresentando um aspecto típico de lesma ou tatuzinho-dejardim. Após essa fase de destruição, ela desce até a base do pedúnculo, transformandose em pupa, de coloração castanha, com pequenas manchas escuras, com 12 mm de comprimento e 5 mm de largura. Após 7 a 10 dias, emerge o adulto, uma borboleta de pequenas dimensões (28 a 35 mm de envergadura), com uma coloração cinzento-ardósia na face superior das asas, e pardo-clara, na inferior. À medida que a inflorescência tem seus tecidos destruídos pela lagarta, ocorre a exudação de uma resina incolor e fluida, que em contato com o ar torna-se amarelada e ao se solidificar torna-se marrom-escura. Mesmo que algumas vezes a lagarta também possa penetrar na inflorescência pelo olho do frutilho, normalmente, é possível diferenciar um ataque da broca da ocorrência da fusariose, pelo local da emissão da resina na inflorescência: aquela emitida do olho do frutilho é proveniente da fusariose e aquela verificada entre os frutilhos é proveniente da broca-do-fruto. Na maioria das vezes , o ataque desse inseto ocorre na fase de florescimento e formação do fruto, podendo também atacar as gemas do pedúnculo abaixo da inflorescência, 23 mudas em viveiro e raramente, folhas de abacaxi. Após o fechamento das flores, raras vezes ocorre, ocorre a oviposição na planta. Os danos podem chegar a 90%, principalmente nos períodos mais secos. Controle: É importante que o produtor monitore seu pomar através de inspeções periódicas para definir a época de pulverizar ou não, evitando gastos desnecessários. Ocorrendo a praga na região, deverão ser realizadas quatro aplicações de inseticidas (pulverizações ou polvilhamentos) em intervalos regulares com carbaryl e deltametrina por exemplo, ou outro registrado para a cultura, sendo a primeira 30 dias após o tratamento de indução floral-TIF, antes da abertura das flores e as demais até o fechamento das últimas flores, quiinzenalmente. Caso haja dificuldade na obtenção de água para a pulverização, pode-se aplicar o produto via polvilhamento, utilizando-se uma lata com pequenos furos embaixo, contendo o inseticida, fazendo com que caia sobre a inflorescência aproximadamente 1 g do produto/planta. Os inseticidas para serem aplicados desta forma são somente os pós secos ( PS ), uma vez que as formulações pó molhável e GDA por exemplo são para serem utilizadas via pulverização. No plantio orgânico pode-se utilizar o inseticida à base da bactéria Bacillus thurigiensis, que também é indicado no sistema convencional. Broca-do-talo O inseto adulto é uma mariposa que faz a oviposição na base das folhas. Os ovos eclodem, saindo as lagartas que penetram nas folhas em direção ao talo. Quando a lagarta atinge o completo desenvolvimento (60 mm), confecciona um casulo, usando as fibras do talo, e, em seguida, transforma-se em pupa, de coloração marromescura. Os sintomas de seu ataque são as folhas seccionadas na região basal, o “olho morto”, a presença de resina misturada com dejetos na base das folhas e a emissão de rebentão. Apenas uma lagarta é suficiente para destruir toda a planta. Em áreas infestadas já foram constatados danos de até 80%. Controle: Arrancar a planta, localizar e destruir a lagarta manualmente. Destruir os casulos manualmente. Ácaro-alaranjado Localiza-se nas partes tenras das folhas (axilas) e nas mudas oriundas de seccionamento do talo. Possui este nome devido à cor alaranjada dos adultos. Controle: Destruição dos restos de cultura e pulverizações com os produtos indicados para a cochonilha, no tratamento das mudas ou no ciclo vegetativo. 13- Maturação artificial dos frutos Tem o objetivo de antecipar a colheita e consiste na aplicação de Etefon a 750 ppm, quando 10 % dos frutos estiverem iniciado a maturação. 14- Aumento do peso do fruto (redução no tamanho da coroa) 24 Consiste na aplicação do ácido clorofeoxipropiônico a 1.000 ppm, na 15ª. semana após a indução floral, período que coincide com o fechamento das últimas flores. 15- Atraso na colheita É obtido mediante aplicação do ácido clorofeoxipropiônico a 1.000 ppm, na 19ª. semana após a indução floral. 16- Colheita, acondicionamento e transporte O produto final do abacaxi ou o fruto pode ser destinado à indústria ou para o consumo “in natura”. No primeiro caso normalmente os custos de produção são menores uma vez que não há preocupação com aspectos externos (aparência da casca, cor, etc.) e os preços pagos pela indústria são menores. Quando o fruto é destinado ao consumo “in natura”, os preços tendem a ser maiores e a exigência também, tanto nos seus aspectos internos quantos externos. O ponto de maturação determina a colheita e este está em função do destino (tradição e exigência) e a distância do mercado consumidor. Frutos para a indústria devem ser colhidos mais maduros, frutos colhidos para mercado “in natura” devem ser colhidos mais cedo ou “de vez” , com os frutilhos mais achatados e iniciando sinais de amarelecimento a fim de chegarem, após vários dias de transporte, em boas condições ao consumidor. Para mercados locais ou regionais, pode-se colher frutos com até a metade de sua casca amarela. Devem-se evitar frutos verdes pois não amadurecem. Além da maturação da casca, o grau de maturação real pode ser avaliado com base na translucidez de sua polpa. O fruto é cortado transversalmente, na altura do seu maior diâmetro, determinando-se a percentagem da área translúcida existente na superfície obtida, uma vez que esta é diretamente proporcional ao grau de maturação do fruto. Para frutos de Smooth Cayenne, que necessitem suportar uma viagem superior a cinco dias a 12ºC, a percentagem da polpa amarela translúcida não deve ultrapassar 50%. Para uniformizar a coloração da casca, frutos que se encontram próximos ao estádio de maturação adequado para a colheita e a comercialização devem ser submetidos a tratamento com produtos à base de Etefon, utilizando-se 1 a 2 ml do produto comercial de Etefon a 24% por litro de água. Para frutos de S. Cayenne recomenda-se pulverizar com jato dirigido aos frutos, cerca de quatro a sete dias antes da colheita. Para fruto da cv. Pérola, recomenda-se a imersão dos mesmos, logo após a colheita, sem atingir a coroa. A pulverização nesta cultivar não é recomendada porque atinge os filhotes e estes, ao serem plantados tendem a florescer precocemente. A utilização do Etefon não promove o amadurecimento interno do fruto e portanto não deve ser aplicado em frutos imaturos porque neste caso, embora a casca adquira coloração amarela, não estarão no ponto ideal de maturação para consumo. A colheita propriamente dita é feita com facão, devendo o colhedor proteger as mãos com luvas de lona grossa. O operário segura o fruto pela coroa com uma mão e corta o pedúnculo três a cinco centímetros abaixo da base do fruto, de tal forma que apenas duas a quatro mudas do cacho de filhotes sejam levadas para servirem de embalagem natural do fruto, permanecendo as demais mudas na planta para uso com material de plantio. Frutos destinados a mercados próximos ou à indústria, menos susceptíveis à ocorrência de podridões podem ser colhidos (quebrados) sem as mudas. O mesmo é feito em Smooth Cayenne, por falta de mudas e por ter frutos mais fibrosos e mais resistentes, utilizando-se às vezes capim entre as camadas de frutos. 25 Os frutos colhidos são entregues a outros operários que os transportam em cestos, balaios, caixas ou carros de mão, até caminhão ou carreta. O carregamento dos frutos nos caminhões é tarefa difícil que exige mão-de-obra treinada. Após a colheita, os frutos a serem exportados, ou destinados a mercados internos mais exigentes, devem ir para galpões, onde serão selecionados quanto à qualidade e à sanidade, e classificados de acordo com o tamanho/peso e o grau de maturação, considerando-se os padrões requeridos pelos compradores e consumidores. Para reduzir o risco de ocorrência de podridões durante o transporte e a comercialização, a parte cortada do pedúnculo aderida ao fruto (esta parte deve ser novamente cortada no galpão a 2 cm), deve ser tratada com fungicida. Esse tratamento é imprescindível quando o fruto se destina à exportação, uma vez que a presença da podridão negra acarreta a condenação de todo um lote ou partida. Os frutos destinados em geral, aos países do Mercosul, são normalmente transportados a granel, em caminhões sem refrigeração, mas é fundamental que haja uma boa circulação de ar entre as camadas de frutos. O abacaxi destinado à exportação não deve permanecer em temperatura ambiente, além de 24 horas após a colheita. Seu acondicionamento é feito em caixas de madeira ou papelão, na posição vertical, sobre os pedúnculos (nesse caso as caixas apresentam fundo duplo, com perfurações nas quais o pedúnculo é afixado), ou na posição horizontal, alternando-se fruto e coroa (o que permite maior densidade do produto acondicionado). O transporte pode ser terrestre – em caminhões com refrigeração – ou marítimo. No caso do transporte marítimo, o tempo gasto no percurso entre o packing house e o navio não deve exceder 24 horas. No armazenamento, durante o transporte em navio, a temperatura deve ser mantida entre 8º e 12ºC e a umidade relativa do ar entre 85% e 90%. Essa umidade deve ser rigorosamente controlada a fim de evitar que o fruto perca peso e conservar a cor da casca. O armazenamento pode durar de 10 a 30 dias, porém a renovação de ar das câmaras de armazenamento deve ser semanal. 17- Manejo da soca (Segundo Ciclo) Se o plantio for bem conduzido e as plantas apresentarem vigor e bom estado fitossanitário, pode-se pela exploração da soca ( segundo ciclo ). Para tanto, devem ser dadas as melhores condições possíveis para o desenvolvimento dos rebentões. Plantios afetados pela fusariose ou infestado pela cochonilha e/ou brocas, apresentam focos perigosos de disseminação para outras plantações, devendo ser eliminados o mais breve possível após a colheita dos frutos. A cultivar Smooth Cayenne é mais apropriada para a exploração da soca do que a Pérola, sendo menos suscetível a perdas de frutos por tombamento, além de possuir capacidade superior para a formação de frutos com peso adequados, mesmo para mercados mais exigentes. A soca demanda manejo similar àquele recebido pelas plantas durante o primeiro ciclo, sobretudo no que se refere a adubações, à irrigação e aos tratos fitossanitários. Em geral, as quantidades de adubos podem ser reduzidos à metade das doses fornecidas no primeiro ciclo, sem prejudicar o desenvolvimento e a produção. Recomenda-se parcelar a adubação em duas aplicações, realizando-se a primeira antes da amontoa, a qual cobrirá os adubos, e a segunda cerca de um mês antes do tratamento de indução floral. A infestação da área por plantas daninhas é normalmente pequena, dada a grande cobertura vegetal existente. Algumas capinas manuais são suficientes para o seu efetivo controle. Os tratos fitossanitários devem ser os mesmos aplicados no primeiro ciclo da cultura, com ênfase nas pulverizações sobre as inflorescências em desenvolvimento até 26 o fechamento das últimas flores, visando ao controle da fusariose e da broca-do-fruto. Na cultivar Smooth Cayenne, muito susccetível à murcha do abacaxizeiro, as medidas para o controle químico das cochonilhas e ácaros, usadas no primeiro ciclo, devem ser repetidas na soca, conforme o grau de infestação. São necessárias pelo menos duas aplicações de inseticida-acaricida, que devem ser efetuadas logo após a poda das folhas ( se o agricultor fizer opção por esta prática ) e cerca de três a quatro meses mais tarde. A indução floral é outra prática que, na soca, não difere daquela usualmente utilizada para as plantas do primeiro ciclo, empregando-se as mesmas substâncias, concentrações e modos de aplicação. No entanto, como o desenvolvimento da soca é mais rápido que o das plantas do primeiro ciclo, permite, em geral, a realização do tratamento de indução floral de seis a oito meses após a colheita da primeira produção, resultando em um ciclo de apenas 12 a 14 meses, Muitas vezes, as plantas da soca, originadas a partir de rebentões emitidos antes da colheita dos frutos do primeiro ciclo, atingem mais cedo o porte adequado para a realização da indução floral. Diante disso, pode ser vantajoso fazer a indução floral em duas etapas, separadas por um período não superior a dois meses. Levando em consideração a escolha da melhor época para a colheita e a comercialização dos frutos. Embora a produtividade da soca tenda a ser inferior à do primeiro ciclo, devido à redução do peso médio e do número de frutos colhidos por hectare, a sua rentabilidade pode ser similar àquela do primeiro ciclo, pois o seu custo de produção é também inferior. 18 - Comercialização A comercialização é a etapa final do processo produtivo. Para a cultura de abacaxi, a produção poder ser destinada ao mercado in natura, nas vizinhanças da região produtora e nas mais distantes, para a industrialização e exportação de frutas fresca. A produção brasileira de abacaxi é, praticamente, toda dirigida para o mercado interno de frutas fresca, que consome cerca de 99% do total produzido no país. Mercado interno Para facilitar a comercialização dos frutos e obter preços mais compensadores, recomenda-se que para o mercado in natura sejam observados os aspectos a seguir: a) peso mínimo de 1,1 kg, principalmente na safra. No período de entressafra, frutos de menor peso ( de até 800 g ) são também aceitos; b) frutos bem conformados e isentos de machucados; c) estágio de maturação: considerar o tempo necessário entre a colheita e a entrega do produto no centro consumidor que engloba as etapas de limpeza dos frutos e de sua arrumação no caminhão, de transporte ( determinado em função da distância), de descarregamento do caminhão e de distribuição do produto no mercado varejista. Os frutos com início de amarelecimento geralmente são mais bem remunerados pelos compradores. Análises de sazonalidades de preços nas principais CEASAs do Brasil indicam que o período de diminuição de oferta, com elevação dos preços médicos, ocorre nos meses de fevereiro a maio. Nos meses de junho a outubro, esses preços estão em torno da média anual, enquanto nos meses restantes (novembro a janeiro), devido ao excesso de oferta do produto, estão abaixo dela. 27 Mercado externo Segundo dados da FAO, o mercado mundial de frutas frescas de abacaxi movimentou, em 1998, um total de 871 mil toneladas, no valor de 362 milhões de dólares. Deste montante, três países, Costa Rica, Cotê d'Ivoire e Filipinas, são responsáveis por, aproximadamente, dois terços do comércio mundial da fruta in natura. Cerca de 60% do mercado de frutas processadas sucos e produtos enlatados provêm da Tailândia, das Filipinas, da Indonésia e do Quênia. Nesse último mercado, considerando a ordem de importância, os valores das exportações anuais foram: produtos enlatados (US$ 477 milhões), suco simples (S$ 227 milhões) e suco concentrado (US$ 13 milhões). A participação brasileira no mercado externo de produto de abacaxi ainda é bastante insignificante, concentrando-se, basicamente, os seus envios para países do Cone Sul, sobretudo Argentina e Uruguai. As exportações brasileiras de frutas frescas de abacaxi no período de 1980/98 alcançaram um valor médio de US$ 4,778 milhões, para a quantidade média de 15,712 t/anuais, o que implica um valor médio por tonelada de aproximadamente US$ 300. Para o último ano (1998), as exportações brasileiras foram de 13.002.626 kg, correspondendo ao valor de US$3.853.644. Quanto ao volume, as participações dos países compradores foram: Argentina (92,70%), Uruguai (5,94%), Países Baixos (1,17%), Estados Unidos (0,14%) e outros (0,05%). Convém salientar que o Brasil enfrenta barreiras no mercado internacional, provocadas por tarifas impostas aos nossos produtos e por restrições fitossanitárias existentes nos principais mercados importadores (EUA e União Européia). Além disso, há o problema da falta de especificações dos nossos produtos para atender às exigências do mercado externo. Geralmente há preferência por frutos com as seguintes características: variedade Smooth Cayenne; cor amarela; peso entre 1,0 kg a 1,5 kg e que apresentem um mínimo de 40% de suco. Os principais problemas enfrentados no mercado externo de frutas frescas de abacaxi são: frutos de coloração verde; coroa grande demais; deterioração rápida (ficam marrons por dentro) e fusariose. O Brasil ainda exporta os processados produtos enlatados e sucos, tendo como principal mercado comprador de preparados e conservas os países do Cone Sul. Para os sucos, os principais compradores são os Países Baixos, que compram o produto brasileiro a um preço médio de US$ 1.000 FOB/tonelada. 19 - Custos de produção e receitas esperadas A produção econômica de qual quer cultura depende de uma série de fatores que afeta seu desempenho e seu retorno financeiro. A variedade plantada, o espaçamento, o clima, o solo, os tratos culturais, o grau de incidência de pragas e doenças, o preço do produto e os preços dos fatores de produção merecem especial atenção no planejamento da produção. Enfim, é preciso conhecer bem o custo de produção e o preço do produto para que se possam fazer projeções acerca da rentabilidade do empreendimento. Com o objetivo de analisar a rentabilidade da cultura do abacaxi, avaliaram-se os custos de produção, os rendimentos e as receitas esperadas, para os sistemas de plantio em fileiras simples e duplas. 28 Sistemas de produção em fileiras simples Os custos de produção estão relacionados com o sistema de produção utilizado pelos produtores, em função do maior ou menor uso de insumos e tecnologias. Conforme podem ser observados, os custos com os insumos são os maiores, representando 52,26%, seguidos dos custos de irrigação ( 21,12% ), enquanto que o preparo do solo, os tratos culturais/fitossanitários e a colheita representam 11,88%, 9,91% e 4,82% respectivamente. O custo total deste sistema de produção de abacaxi é de US$ 3.990,93, o que indica a utilização de um montante considerável de capital, reforçando a necessidade de trabalhar com a cultura de forma consciente e profissional. Com base nas 41.666 plantas/ha e prevendo uma perda em torno de 20% durante a condução da cultura, devido à incidência de pragas e doenças, e de falha no florescimento, espera-se uma colheita de 33.330 frutos, sendo 70% ( 23.330 ) de frutos de primeira e 30% ( 10.000 ) de segunda. Para a estimativa das receitas, considerou-se o preço médio de US$ 0,21/fruto, para frutos de primeira, enquanto o de segunda teve preço de US$ 0,11. Ressalta-se que esses preços refletem uma média anual, entretanto, considerando a sazonalidade da oferta, podem oscilar para valores entre US$ 0,37 e US$ 016 ( para frutos de primeira e segunda, respectivamente ) na entressafra, enquanto que na safra atingem menores preços, entre US$ 0,16 e US$ 0,08. A receita global estimada este sistema de produção, com base nos números utilizados, é de US$ 5.999,30. Descontando-se o custo total, tem-se uma margem bruta de US$ 2.008,37/ha/ciclo, resultando numa relação benefício/custo de 1,50, significando que, para cada dólar investido, retornam US$ 1,50 bruto, ou US$ 0,50 líquidos. Sistema de produção em fileiras duplas Os custos de produção de um hectare de abacaxi em fileiras duplas, no espaçamento de 0,90m x 0,40m x 0,30m correspondem a uma população de 51.280 plantas. Observa-se que esses custos são 15,51% superiores ao sistema de plantio em fileiras simples. O custo total deste sistema de produção de abacaxi é de US$ 4.609,75, distribuídos da seguinte forma: 55,46% para insumos, 18,29% para os custos de irrigação e 11,74, 9,47%, para o preparo do solo, tratos culturais/fitossanitários e colheita, respectivamente. Considerando a densidade de 51.280 plantas/ha e prevendo as perdas nos processos produtivos, espera-se a colheita de 41.000 frutos, sendo 28.700 frutos de primeira (70%) e 12.300 de segunda (30%). Para os mesmos preços de frutos considerados no sistema de produção anterior, foi calculado o valor da produção (US$ 7.380,00), sendo que os frutos de primeira participaram com o montante de US$ 6.027,000, enquanto que os de segunda contribuíram com US$ 1.353,00. Descontado o custo total, obtém-se uma margem bruta de US$ 2.770,25/ha/ciclo, resultando numa relação beneficio/custo de 1,60, indicando que para cada real investido, retornam US$ 1,60 brutos, ou US$ 0,60 líquidos. Os preços dos frutos na entressafra têm sido bem mais compensadores, observando-se, nos últimos anos, uma tendência de deslocamento da produção para aquele período, o que tem concorrido para reduzir as diferenças de preços entre a produção na safra e na entressafra. 29 20 - Bibliografia ALMEIDA, C.O. Fruticultura Brasileira: de abacaxi em abacaxi chegamos lá! Bahia Agrícola, Salvador, v.6, n.1, p. 23-30, 2003. CARVALHO, R. A . Abacaxicultura Irrigada no Semi-árido Paraibano. Pessoa: EMEPA, 2001, 29 p. (EMEPA. Documentos 32). João CUNHA, G. A . P. da. Controle da época de produção do abacaxizeiro. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 19, n. 95, p. 29-32, 1998. CUNHA, G. A . P. da; MATOS, A .P. de; SOUZA, L. F. da S.; SANCHES, N. F.; REINHARDT, D. H. R. C.; CABRAL, J. R. S. A cultura do abacaxi. Brasília, DF: Embrapa-SPI, 1994, 79p (Coleção Plantar, 12. Série Vermelha). GONÇALVES, N. B. Abacaxi: pós-colheita. Brasília: Embrapa Comunicação para Transferência de Tecnologia, 2000, 45p. 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