MOVIMENTOS SOCIAIS E SERVIÇO SOCIAL: UMA ANÁLISE A PARTIR DA TEÓRIA CRÍTICA Adriana Freire Pereira Férriz Universidade Federal da Bahia/Serviço Social, R. Aristides Novis, 297, São Lázaro, Federação, Salvador (BA), [email protected] Resumo - O artigo discute os movimentos sociais enquanto uma manifestação da classe trabalhadora, a partir de exposição dos aspectos histórico-sociais da constituição dos movimentos sociais na sociedade capitalista, da sua capacidade de re-organização ao longo do tempo e da particularidade de afirmação como espaço de atuação dos assistentes sociais brasileiros. O estudo objetiva discutir os movimentos sociais no Brasil e as manifestação da classe trabalhadora se apresenta no campo do trabalho e mais especificamente no âmbito do Serviço Social. Constata-se, pois, que os movimentos sociais nos dias atuais, apesar de suas modificações históricas em decorrência da influência do “caldo neoliberal” das duas últimas décadas, continuam a ser uma expressão forte da classe trabalhadora em sua manifestação clara de contestação da ordem burguesa, bem como os movimentos sociais se afirmam como um espaço privilegiado de reflexão e construção da emancipação humana. Palavras-chave: Movimentos Sociais. Trabalho. Formação Profissional. Área do Conhecimento: Ciências Sociais Aplicadas Introdução O presente artigo tem a intenção de desenvolver uma análise crítica do desenvolvimento e da organização dos movimentos sociais, a partir do que coloca a teoria marxiana e a tradição marxista sobre a temática das lutas de classes e da constituição, expansão e retração dos movimentos sociais. Para tanto, nos apoiaremos numa análise histórica dos movimentos sociais no Brasil e das teorias que vem sendo elaboradas para explicá-los. Parte-se do pressuposto de que os movimentos sociais ocuparam e ocupam um espaço fundamental nas lutas e manifestação relacionadas ao trabalho, até porque o surgimento das lutas sociais só se tornou possível pelo trabalho e que sendo assim, os movimentos sociais se apresentam como foco privilegiado para a atuação dos assistentes sociais. A aproximação do Serviço Social com a tradição marxista permitiu um redirecionamento das ações profissionais no que se refere aos movimentos sociais, dando um considerável impulso à discussão das organizações da sociedade e da emancipação política. Vale ressaltar que os estudos de Marx pregavam que a emancipação política era apenas uma etapa da emancipação humana que somente poderia ser atingida pela superação da sociedade de classes. Metodologia O artigo consiste em uma reflexão teórica da constituição histórica acerca dos movimentos sociais e sua vinculação à luta da classe trabalhadora e, consequentemente, ao trabalho do assistente social. A motivação pelo tema surgiu na docência quando por diversas vezes ministrei no curso de Serviço Social da Universidade Estadual da Paraíba a disciplina “Classes e movimentos sociais” e percebi que a discussão da classe é fundamental para entender a formatação atual dos movimentos sociais. Neste sentido, procura-se buscar em Marx e Engels suporte para tal análise. Resultados Para entender os movimentos sociais é preciso buscar entender a sua gênese. Marx e Engels deixaram uma grande contribuição com relação à origem dos movimentos sociais. A frase inicial do Manifesto do Partido Comunista é reveladora sobre as lutas sociais: “a história da humanidade é a história das lutas de classes”. Dessa forma, a constatação dos autores acerca da existência de lutas sociais nas sociedades pré-capitalistas serve para ilustrar que na sociedade capitalista a luta de XVIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIV Encontro Latino Americano de PósGraduação e IV Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba 1 classes ganha um sentido diferenciado, pois, em toda a história da humanidade não se experimentou níveis tão elevados de exploração de uma classe sobre a outra. O modo de produção capitalista caracterizado pela existência de duas classes sociais, a burguesia – proprietárias dos meios de produção, e o proletariado – que foram brutalmente expropriados de suas terras tornando proprietários da força de trabalho. Dessa forma, não restava outra alternativa aos trabalhadores “livres” a não ser venderem a sua força de trabalho como mercadoria para os capitalistas. A pauperização da classe trabalhadora por si só não revela a questão social, mas os efeitos sóciopolíticos. Assim, a Questão Social é fundada a partir da rebeldia e resistência da classe trabalhadora que ao tomar consciência do processo de exploração do capital sob o trabalho e do crescente processo de pauperização da classe trabalhadora começa a construir as suas respostas – as lutas de classes. A organização dos trabalhadores em motins, protestos, ameaças e o movimento Ludista (a máquina era o foco das manifestações). No entanto, como agravamento das condições de exploração formas de organizações dos trabalhadores se fortalecem como sindicatos, manifestações públicas, imprensa operária e as greves gerais (SANTOS, 2012). O ano de 1848 foi um marco na luta e organização da classe trabalhadora, e, conseguentemente, na constituição da questão social, pois o antagonismo das classes fundamentais do capitalismo é desvelado, como reforça Santos (2012, p. 43). Através das lutas de 1848, de fato explicita-se em todas as nuances, a questão social [...] não somente pelo intenso processo de pauperização absoluta e relativa, mas, sobretudo, a problematização desse quadro do ponto de vista político, tendo em vista seus fundamentos e apontando a necessidade de sua pauperização sob outra forma de organização positiva. Como o próprio Marx (2008, p. 92) afirmou “aos operários não restava escolha: ou morriam ou começavam a luta”. E a classe trabalhadora francesa optou pela luta, dando início, em 22 de junho de 1848, “a grande primeira batalha entre as classes que se divide a sociedade moderna”. A partir da constituição das lutas de classes na sociedade capitalista, apesar das manobras da classe burguesa para derrotar a classe trabalhadora, a classe trabalhadora abandona a consciência de classe em si e conquista a consciência de classe para si. Muito embora a derrota da classe trabalhadora na primeira batalha, a organização da classe trabalhadora foi sendo fortalecida. A partir de 1848, ano que foi publicado o Manifesto do Partido Comunista, que retratava a opinião dos comunistas reunidos no ano anterior no congresso da Liga dos Comunistas, “o proletariado tomou as rédeas de seu destino e, por seu turno, a burguesia tratou de se defender, o pensamento social que ela forjou jamais voltaria a ser revelador da verdade” (BRAZ, 2012, p. 111). Na teoria de Marx, as lutas de classes são identificadas no livro A miséria da Filosofia (184647) e no Manifesto do Partido Comunista (1848) passam a ser entendidas como mola propulsora das contradições, em que os trabalhadores assumem um nível de consciência de classe inédito (BRAZ, 2012, p. 111). Além dos relatos sobre as lutas de classes na França, Marx também analisa a Comuna de Paris, em 1871. Na Paris sitiada, a burguesia e o exército foram expulsos pelos trabalhadores armados que durante 72 dias estiveram a frente de um governo dos trabalhadores. “A comuna tinha sido assustadora para a burguesia, e dentro dela, para os conservadores católicos” (MARX 1989 apud MONTAÑO; DURIGUETO, 2011, p. 230). A comuna “tratou de quebrar o instrumental de repressão espiritual, o poder dos padres e religiosos, decretou a separação entre o Estado e a Igreja e a expropriação de todas as igrejas, na medida que eram corporações com propriedades” (MARX 1989 apud MONTAÑO; DURIGUETO, 2011, p. 230). A experiência da Comuna de Paris, que expropriou a propriedade classista e triunfou por apenas 72 dias, demonstrou a capacidade dos trabalhadores em conduzir as suas próprias vidas. No entanto, os trabalhadores foram massacrados pelo exército francês e alemão, estima-se que trinta e cinco mil trabalhadores foram mortos. Marx, a Comuna “foi o maior movimento proletário até os nossos dias”, nela, “os operários tomaram o céu de assalto” (MARX 1989 apud MONTAÑO; DURIGUETO, 2011, p. 231). As duas experiências descritas acima motivaram a organização dos trabalhadores em sindicatos e partidos no mundo inteiro. Tais organizações se fortaleciam através das associações internacionais dos trabalhadores, conhecidas como internacionais comunistas. A Primeira Internacional (1864-1876) teve a participação de Marx, que redigiu quase todos os XVIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIV Encontro Latino Americano de PósGraduação e IV Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba 2 documentos distribuídos pela Internacional e Engels, que desempenhou papel chave em sua liderança (MARX 1989 apud MONTAÑO; DURIGUETO, 2011). Nos debates dessa associação estava em questão as concepções estratégicas sobre a transição ao socialismo e a socialização ou não da propriedade privada dos meios de produção. Um fator determinante nas discussões foi a iniciativa de Marx e Engels ao se posicionaram em 1871 a favor da constituição da classe operária num partido político. A Segunda Internacional (1889-1814) foi organizada por Engels e agregava partidos e sindicatos dos trabalhadores de todos os continentes. Seus congressos reafirmaram princípios como a emancipação do trabalho e da humanidade como resultado da luta internacional do proletário organizado em partido de classe, tornando-se dono do poder político para a expropriação da classe capitalista com a apropriação social dos meios de produção (BOGI 2005 apud MONTAÑO; DURIGUETO, 2011). A terceira Internacional (1919-1943) foi fundada por iniciativa dos bolcheviques, com isso os comunistas de todo o mundo passaram a ter uma ação pragmática que objetivava a revolução socialista, de orientação soviética, mas que previa ações em diversos campos como a organização sindical, participação comunista nas eleições. Essa associação foi dissolvida por Stalin em 1943. A quarta internacional (1938) foi fundada por Trotski e sofreu muitas divisões após a morte do fundador, mas permanece até hoje articulada. A ação de antecipação das demandas da classe trabalhadora pelo Estado brasileiro vai se apresentar ao longo da história como uma estratégia da classe dominante para frear e estancar as lutas e organizações da classe trabalhadora, foi o que aconteceu em 1943 com a promulgação da Consolidação das Leis Trabalhistas. Dessa forma, as lutas e manifestações contrárias ao sistema capitalista não deixaram de ocorrer, só que na clandestinidade e reprimidas com muita violência, como foi o caso da Intentona Comunista de 1935. Assim, A ação política repressiva e proibição às lutas dos trabalhadores e aos sindicatos autônomos, normatização dos direitos e políticas trabalhistas que eram passadas como concessão tornaram as organizações sindicais espaços não de luta, mas organizações que buscavam favores e recursos junto à burocracia estatal (MONTAÑO; DURAGUETO, 2011, p. 238). A década de 1970 apresenta um importante interlocutor na criação e fortalecimento dos movimentos populares; a Igreja Católica, inspirada na Teologia da Libertação, assume um importante papel de mediador entre as forças de oposição durante os anos mais repressivos da ditadura militar no Brasil, fornecendo aos movimentos, assim, legitimidade e proteção contra a perseguição política. Os movimentos populares, no final dos anos 1970, oferecem uma frente organizada de luta contra a ditadura militar. Apesar de muitos especialistas decretarem a morte dos movimentos populares brasileiros, mais precisamente depois da década de 80 do século passado, estes estão vivos e constituem um elemento importante na conformação dos processos democráticos. Como já vem sendo demonstrado a origem e organização dos movimentos sociais está intimamente atrelada ao trabalho, pois é o trabalho responsável pelo despertar da classe trabalhadora para a luta de classe. O “trabalho é a atividade capaz de satisfazer as necessidades materiais de homens e mulheres que constituem a sociedade, através de uma interação com a natureza, ou seja, a sociedade através de sues membros transforma materiais naturais em produtos que atendem às suas necessidades”. Esse conceito tem inspiração na noção de trabalho defendida por Marx que afirmava que o trabalho é um processo entre o homem e a natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a natureza. No fim do processo de trabalho obtêm um resultado que já no início deste existiu na imaginação do trabalhador (NETTO; BRAZ, 2007). O trabalho tem uma característica teleológica. E essa característica o diferencia dos demais animais existentes na natureza. Os autores acima descrevem alguns elementos que afirmam o rompimento do homem com o padrão natural, através do trabalho: a) o trabalho não se opera com uma atuação imediata sobre a matéria natural, ela exige instrumentos; b) o trabalho não se realiza cumprindo determinações genéticas, mas exige habilidades e conhecimentos que se adquirem por repetição e experimentação; e, c) o trabalho não atende a um elenco limitado e praticamente invariável de necessidades, mas atende a novas necessidades. Assim, o trabalho é uma atividade projetada, que possui uma teleologia, ou seja, conduzida a partir de um fim proposto pelo sujeito. E, portanto, uma atividade permeada de escolhas que exigem do sujeito o conhecimento sobre a natureza, os XVIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIV Encontro Latino Americano de PósGraduação e IV Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba 3 instrumentos e sua capacidade (habilidades) no processo de transformação da natureza. O trabalho é sempre uma atividade coletiva que envolve um conjunto de sujeitos. Esse caráter coletivo do trabalho expressa um tipo específico de vinculação entre membros de uma espécie que já não obedece a determinismos orgânico-naturais. Dessa forma, através do trabalho o homem transformando a natureza transforma a si mesmo, dando origem ao ser social. Assim, a humanidade se constitui como tal através do trabalho. Segundo Netto e Braz (2007) o ser social se diferencia dos demais seres existentes na natureza porque é capaz de realizar atividades teleologicamente orientadas, objetivar-se material e idealmente, comunicar-se e expressar-se pela linguagem articulada, tratar suas atividades e a si mesmo de modo reflexivo, consciente e autoconsciente, escolher entre alternativas concretas e de universalizar-se e socializar-se. O trabalho está na base constitutiva da humanidade. E a história da humanidade é a história do desenvolvimento das formas de trabalho. A produção capitalista é essencialmente produção de mais-valia que se caracteriza pela apropriação pelo capitalista do trabalho não-pago ao trabalhador. Na produção de mercadorias não importa ao capitalista o valor-de-uso (são mercadorias de diferentes qualidades produzidas por trabalhos humanos concretos que exigem habilidades, conhecimentos para satisfazer as necessidades humanas, por isso, tem utilidade) dos seus produtos, mas o que importa é produzir um valor-de-uso que tenha um valor-de-troca (resulta do trabalho humano abstrato, usa como equalizador da troca a quantidade de trabalho gasto para a produção das mercadorias). Além disso, esse valor-de-troca tem que ser carregado de possibilidade de criar um valor excedente (maisvalia). O Serviço Social surge no contexto do capitalismo monopolista mais precisamente como profissão inscrita na divisão sócio-técnica do trabalho para atuar, tende o como empregador privilegiado o Estado, no campo das políticas sociais, enquanto respostas ao agravamento das expressões da questão social. De acordo com Iamamoto e Carvalho (2000) o Serviço Social vai atuar no processo de produção e reprodução das relações sociais capitalistas. Este fator demonstra a proximidade do Serviço Social com a categoria trabalho, visão esta assumida e reforçada no texto das Diretrizes Curriculares de 1996 que afirmam a dimensão ontológica e sócio- histórica do trabalho, ou seja, a centralidade do trabalho na constituição do ser social e suas particularidades no capitalismo. Discussão Assim sendo, o Serviço Social é considerado um processo de trabalho e ao participar, mesmo que indiretamente, na produção capitalista de maisvalia é considerado por Iamamoto (2005) como trabalho, este argumento é bastante criticado por Lessa (2011) que afirma que o Serviço Social não pode ser considerado trabalho uma vez que não transforma diretamente a natureza. A literatura do Serviço Social aponta o assistente social como parte integrante da classe trabalhadora e o Código de Ética de 1993 assume um compromisso com as lutas das classes trabalhadoras. Estes dois aspectos aproximam o Serviço Social da discussão dos movimentos sociais. A aproximação política com os interesses dos setores populares se deu de forma tardia na profissão, dado o surgimento do Serviço Social brasileiro atrelado a Doutrina Social da Igreja Católica e ao viés reformista de tendência empiricista e pragmatista no continente, alçado nos marcos do pensamento conservador das Ciências Sociais até o final da década de 1950. Assimilando esses princípios teóricos e políticos, a profissão tem sua emersão configurada junto a organizações e grupos da classe dominante. “Os primeiros movimentos aos quais o Serviço Social se vincula no país são de base militante tradicional católica – o Apostolado Leigo, a Ação Social e a Ação Católica” (DAL MORO; MARQUES, 2011, p.16). A aproximação do Serviço Social com os condutos teóricos da tradição marxista, foram, em grande parte, responsáveis pela forma como o Serviço Social realizou sua aproximação a temática dos movimentos sociais, no bojo das contradições do Movimento de Reconceituação. A interlocução entre os setores progressistas da profissão e o amplo e heterogêneo universo marxista foi perpassada por avanços e limites. Possibilitou tanto a polarização entre discussões e propostas, a contestação pública ao pensamento conservador, a ruptura com a imagem de uma profissão homogênea presente nos marcos do tradicionalismo, como foi acompanhada por “[...] inúmeros equívocos e impasses teóricos, políticos e profissionais” (IAMAMOTO, 2001 apud DAL MORO; MARQUES, 2011, p.16). Um dos principais equívocos dessa aproximação foi a recorrência aos XVIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIV Encontro Latino Americano de PósGraduação e IV Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba 4 textos de intérpretes de Marx, ou seja, foi um “marxismo sem Marx”. A primeira manifestação desse envolvimento político se deu através da articulação políticoorganizativa da profissão via entidades da categoria que demarcam a inserção de um segmento de profissionais nas lutas sociais em curso na sociedade. A expressão mais forte desse processo organizativo da categoria foi a criação da Associação Nacional dos Assistentes Sociais (ANAS), fundada em 1983. Coube a essa entidade fortalecer os vínculos da profissão com as lutas gerais da classe trabalhadora, além de garantir o encaminhamento das demandas específicas da categoria, tais como o plano de cargos e carreiras dos servidores públicos federais (PCC) e as condições de trabalho (DAL MORO; MARQUES, 2011). É a partir desta organização dos assistentes sociais, como trabalhadores e com os trabalhadores, que se pode pensar no estabelecimento de um vínculo orgânico do Serviço Social com os movimentos sociais. Contudo, se a dimensão político-organizativa e a inserção profissional nas instâncias de luta dos trabalhadores foram as bases de rearticulação do Serviço Social com os movimentos sociais, o seu aprofundamento só se dará na medida em que a profissão ganha maioridade teórica e intelectual. Dessa forma, o novo projeto profissional junto aos setores populares alguns recursos e instrumentos: a Formação de alianças, como meio de construção de um poder compartilhado entre técnicos, profissionais, sindicatos e grupos das classes dominadas (SILVA e SILVA, 2002 apud DAL MORO; MARQUES, 2011); a Educação Popular, de influência de autores da pedagogia, sobretudo Paulo Freire – com vistas a constituir uma dimensão educativa libertadora na formação profissional, possibilitando ao assistente social captar o cotidiano de vida e trabalho dos setores populares “[...] o caminho mais correto para o estabelecimento da unidade dialética teoria-prática, como forma de superar o teoricismo e o pragmatismo, conferindo uma direção prática ao conhecimento” (RAICHELIS, 1982 apud DAL MORO; MARQUES, p. 26); e, por fim, a assessoria aos movimentos sociais, tendo por objetivo a contribuição efetiva “[...] no processo de conscientização, mobilização e organização da população explorada, a fim de capacitá-la para que se converta em agente de seu próprio desenvolvimento e sujeito da transformação social”. Diante disso, cabe ao Serviço Social retomar cotidianamente os princípios que fundamentam o projeto profissional que se fundamenta na teoria crítica e na possibilidade de fortalecimento do projeto societário pautado na emancipação humana. Conclusão Os movimentos sociais surgem da necessidade da classe trabalhadora em revidar ao processo de exploração e empobrecimento que o sistema capitalista mantém sob a classe trabalhadora que leva a luta de classes. Ao longo da história do capitalismo a luta de classe esteve presente como elemento característico do próprio sistema. O movimento operário é considerado o movimento que deu origem a todos os outros movimentos, pois, a sua centralidade sempre foi no setor econômico, na classe. A partir da década de 1970 surge a noção de novos movimentos sociais que negam o fator da classe como centro das lutas e movimentos e passam a afirmar a centralidade da cultura e da subjetividade. Tais movimentos se fundamentam nas análises pós-modernas que se dedicam a criticar as grandes narrativas, mais precisamente, a afirmarem uma crise do marxismo e da centralidade do trabalho. Os movimentos sociais são um espaço de atenção e atuação dos assistentes sociais, e essa aproximação se deve, em muito, a apropriação da teoria marxiana pelo Serviço Social que se consolida na década de 1990 e passa a fundamentar o Serviço Social nas suas reflexões teóricas e no exercício profissional rumo a uma sociedade emancipada. Referencias - BRAZ, Marcelo. Mudanças no perfil das lutas de classes e modismos conceituais: o tormento de Sísifo das Ciências Sociais. In: BRAVO, Maria Inês Souza. MENEZES, Juliana Souza de (orgs.). Saúde, Serviço Social, Movimentos Sociais e Conselhos. São Paulo: Cortez, 2012. - DAL MORO, Maristela; MARQUES, Morena Gomes. A relação do serviço social com os movimentos sociais na contemporaneidade. 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