1. INTRODUÇÃO 1. A macroeconomia 1.1. Estuda o comportamento da economia como um todo — as expansões e as recessões, o produto total da economia em bens e serviços, o crescimento do produto, as taxas de inflação e desemprego, a balança de pagamentos e as taxas de câmbio. 1.2. Considera tanto o crescimento económico de longo prazo como, no curto prazo, as flutuações que constituem o ciclo económico. 1.3. Centra-se no comportamento económico e nas políticas que afectam o consumo e o investimento, a moeda e a balança de pagamentos, os determinantes das variações de salários e preços, as políticas orçamental e monetária, o stock de moeda, o orçamento de Estado, as taxas de juro e a dívida pública. Em resumo, a macroeconomia trata das questões e problemas económicos actuais mais importantes. Para compreendê-los temos que reduzir os complicados pormenores da economia a pontos essenciais manuseáveis. Estes pontos essenciais encontram-se nas interacções entre bens, trabalho e mercado de activos da economia e nas interacções entre economias nacionais com trocas entre si. Ao tratar os pontos essenciais, ultrapassamos os pormenores relativos ao comportamento de unidades económicas individuais ou à determinação de preços em mercados particulares, que constituem o objecto de estudo da microeconomia. Em macroeconomia, tratamos o mercado de bens como um todo, analisando todos os mercados de diferentes bens como um único mercado. Também o mercado de trabalho é tratado como um todo. E o mesmo sucede com o mercado de activos. 2. O estudo da macroeconomia organiza-se em torno de três modelos que descrevem o mundo, tendo cada um deles uma maior aplicabilidade num enquadramento temporal diferente. A principal controvérsia da macroeconomia reside na questão: “Qual é a inclinação da curva da oferta agregada?”. 2.1. A figura 1-1 mostra um diagrama de oferta agregada-procura agregada no longo prazo. O nível geral de preços (P) na economia é representado no eixo vertical e o produto total (Y) encontra-se representado no eixo horizontal. As curvas da oferta agregada e da procura agregada fornecem, cada uma, uma relação entre o nível geral de preço na economia e o produto total. No longo prazo, a curva da oferta agregada é vertical. O produto encontra-se fixo na posição em que esta curva da oferta encontra o eixo horizontal. Pelo contrário, o nível dos preços pode assumir qualquer valor. Fig. 1-1 Procura e oferta agregadas no longo prazo Nível de preços (P) AS AD Produto (Y) Desloque mentalmente a curva da procura agregada para a esquerda ou para a direita. Verá que a intersecção das duas curvas se move verticalmente (os preços variam) e não horizontalmente (o produto não varia). Depreende-se que, no longo prazo, o produto é determinado apenas pela oferta agregada e os preços são determinados tanto pela oferta agregada como pela procura agregada. Os modelos da teoria do crescimento e da oferta agregada no longo prazo encontram-se estreitamente relacionados: a posição da curva vertical da oferta agregada em determinado ano corresponde ao nível de produto para esse ano, no modelo a muito longo prazo. A teoria do crescimento centra-se no crescimento da capacidade produtiva e ignora as flutuações da economia. Estas — os altos e baixos do desemprego, por exemplo — compensam-se, em média, ao longo dos anos. Ao longo de períodos de tempo muito extensos, tudo o que interessa saber é a velocidade média de crescimento da economia. A teoria do crescimento procura explicar as taxas de crescimento médio ao longo de vários anos ou décadas. 2.2. A figura 1-2 mostra um diagrama de oferta agregada-procura agregada no médio prazo. No médio prazo, tratamos a capacidade produtiva como um dado. A curva da oferta agregada (AS) apresenta, para cada nível de preços, a quantidade de produto que as empresas estão dispostas a oferecer. A sua posição depende da capacidade produtiva da economia. A curva da procura agregada (AD) apresenta, para cada nível de preços, o nível de produto para o qual o mercado de bens e o mercado monetário se encontram simultaneamente em equilíbrio. A posição da curva da procura agregada depende das políticas monetária e orçamental e do nível de confiança dos consumidores. A intersecção da oferta e da procura agregadas determina o preço e a quantidade. Fig. 1-2 Procura e oferta agregadas no médio prazo Nível de preços (P) AS AD Produto (Y) 2.3. As flutuações do produto no curto prazo são suficientemente grandes para serem importantes. A consideração das flutuações do produto no curto prazo constitui o domínio da procura agregada. No curto prazo, a curva da oferta agregada é horizontal, conforme mostra a figura 1-3. A curva da oferta agregada no curto prazo fixa o nível de preços no ponto em que se encontra o eixo vertical. Pelo contrário, o produto pode assumir qualquer valor. O pressuposto subjacente é o de que o nível de produto não afecta os preços no curto prazo. Nível de preços (P) Fig. 1-3 Procura e oferta agregadas no curto prazo AS AD Produto (Y) Repita o exercício acima sugerido: desloque mentalmente a curva da procura agregada na horizontal. A intersecção das duas curvas movimenta-se na horizontal (o produto varia) e não na vertical (o nível de preços não varia). Depreende-se que, no curto prazo, o produto é determinado apenas pela procura agregada e os preços não são afectados pelo nível do produto. Como é descrita a transição entre o curto e o longo prazo? Qual é o processo que leva a curva da oferta agregada da posição horizontal à vertical? Quando a procura agregada elevada conduz o produto acima do nível sustentável segundo o modelo de longo prazo, as empresas começam a aumentar os preços e a curva da oferta agregada inicia o movimento ascendente. A velocidade à qual os preços se ajustam constitui um parâmetro crítico para a nossa compreensão da economia. Acontece que os preços se ajustam, geralmente, bastante devagar; assim, num horizonte de 1 ano, as variações da procura agregada fornecem uma boa, certamente imperfeita, descrição do comportamento da economia. A velocidade de ajustamento dos preços é sintetizada na curva de Phillips. 3. Objectivos da macroeconomia. 3.1. Produto e crescimento. O objectivo final da actividade económica é produzir os bens e serviços pretendidos pela população. A medida mais abrangente do produto total de uma economia é o produto interno bruto (PIB). O PIB é a quantificação do valor de todos os bens e serviços finais produzidos num país durante determinado período de tempo, usualmente 1 ano. Existem duas formas de medi-lo. O PIB nominal é medido a preços correntes de mercado. O PIB real é calculado a preços constantes ou invariáveis. As variações do PIB real são a melhor e mais difundida medida do nível de crescimento do produto. A taxa de crescimento da economia é a taxa à qual o Produto Interno Bruto (PIB) aumenta. O que faz o PIB crescer ao longo do tempo? A primeira razão pela qual o PIB varia consiste na variação da quantidade de recursos disponíveis na economia. Os principais recursos são o capital e o trabalho. A população activa, que consiste nas pessoas que trabalham ou se encontram à procura de emprego, cresce ao longo do tempo, fornecendo assim uma fonte de aumento da produção. O stock de capital também aumenta ao longo do tempo, fornecendo outra fonte de aumento do produto. A segunda razão para a variação do PIB prende-se com a variação da eficiência dos factores de produção. Às melhorias na eficiência chama-se aumentos de produtividade. Ao longo do tempo, os mesmos factores de produção podem produzir mais. As economias avançadas exibem, geralmente e no longo prazo, um crescimento sustentado do PIB e um melhoria dos níveis de vida — processo conhecido como crescimento económico —, o que não as impedem de, no curto prazo, registarem flutuações observadas nos ciclos económicos. O ciclo económico é o padrão, mais ou menos regular, de expansão (retoma) e contracção (recessão) da actividade económica em torno da trajectória do crescimento tendencial. A inflação, o crescimento e o desemprego encontram-se relacionados através do ciclo económico. Na crista do ciclo, a actividade económica é elevada em relação à tendência; numa cava, atinge-se o ponto mais baixo da actividade económica. A inflação, o crescimento e o desemprego têm padrões cíclicos claros. Nível de preços (P) Fig. 1-4 O ciclo económico Produto (Y) A curva mais clara na figura 1-4 mostra a trajectória tendencial do PIB real. A trajectória tendencial do PIB é a que este seguiria se os factores de produção fossem plenamente empregues. Um aumento da disponibilidade de recursos permite à economia produzir mais bens e serviços, resultando no aumento do nível tendencial de produto. Mas os factores não são sempre plenamente empregues. Por isso, o produto nem sempre se encontra no seu nível tendencial, isto é, no nível correspondente ao pleno emprego dos factores de produção1. Em vez disso, o produto flutua em torno do nível tendencial. Durante um expansão (ou retoma), o emprego dos factores de produção aumenta, logo a produção aumenta, podendo mesmo ir além da tendência. Ao invés, durante uma recessão, o desemprego aumenta e o produto diminui em relação ao que poderia ser produzido, tendo em conta os recursos e tecnologia disponíveis. A curva ondulada na figura 1-4 mostra esses afastamentos cíclicos do produto em relação à tendência, os quais se designam por hiato do produto. O hiato do produto mede o hiato existente entre o produto efectivo e o produto que a economia poderia produzir em condições de pleno emprego, tendo em conta os recursos existentes. Ou seja, Hiato do produto ≡ produto potencial — produto efectivo 3.2. Emprego elevado, desemprego reduzido. De todos os indicadores macroeconómicos, o emprego e o desemprego são os mais sentidos pelas pessoas. Em termos macroeconómicos, um dos objectivos é o emprego elevado, contrapartida de um desemprego reduzido. A taxa de desemprego é a percentagem da população activa que está desempregada. A população activa inclui todos os empregados e todos os desempregados que estão à procura de emprego. Exclui os que não têm trabalho, não estando à procura de emprego. 3.3. Preços estáveis. O terceiro objectivo macroeconómico é a manutenção da estabilidade dos preços. A medida mais comum do nível geral de preços é o índice 1 O produto de pleno emprego é também chamado produto potencial. de preços do consumidor (IPC). O IPC quantifica o custo de um cabaz fixo de bens, que inclui rubricas como a alimentação, habitação, vestuário e cuidados médicos comprados pelo consumidor típico. As variações do nível de preços designam-se por taxa de inflação e correspondem às taxas de crescimento ou de redução do nível de preços de um ano em relação ao seguinte: Taxa de inf lação t (em % ) = IPC t − IPC t −1 × 100 IPC t −1 Os aumentos de inflação encontram-se inversamente relacionados com o hiato do produto. As políticas de expansão da procura agregada tendem a causar inflação, excepto quando ocorrem numa situação em que a economia se encontra em níveis elevados de desemprego. Os períodos longos de baixa procura agregada tendem a reduzir a taxa de inflação, definida como a taxa de aumento dos preços. A inflação, assim como o desemprego, constitui um importante problema macroeconómico. No entanto, a vantagem da estabilidade dos preços é mais subtil do que para os outros objectivos. A rápida variação dos preços distorce as decisões económicas das empresas e dos indivíduos; com uma inflação elevada, os impostos tornam-se muito variáveis, o valor real das pensões fica deteriorado e as pessoas gastam recursos reais para evitarem a posse de moeda que se deprecia; os preços perdem o seu significado e o sistema de preços deixa de funcionar. 4. Instrumentos da política macroeconómica. Os governos dispõem de certos instrumentos que podem utilizar para influenciar a actividade económica. Um instrumento de política é uma variável económica sob o controlo do governo que pode afectar um ou mais objectivos económicos. Isto é, ao fazer variar as políticas orçamental, monetária e outras, os governos podem evitar os maiores excessos do ciclo económico e aumentar a taxa de crescimento. 4.1. Política orçamental. A política orçamental dá conta do uso dos impostos e da despesa pública. A despesa pública ocorre de dois modos distintos. De um lado estão as compras do Estado, que compreendem a despesa em bens e serviços; além disso, há as transferências do Estado, que ampliam os rendimentos de determinados grupos. A despesa pública determina a dimensão relativa dos sectores público e privado, isto é, qual a parcela do PIB que é consumida colectivamente e não de modo privado. Numa perspectiva macroeconómica, a despesa pública também afecta o nível global de despesa na economia e, dessa forma, o nível do PIB. A outra parte da política orçamental, os impostos, afecta a globalidade da economia de duas formas. Para começar, os impostos influenciam o rendimento dos indivíduos, deixando-os com mais ou menos disponibilidade para gastar. Eles tendem a reduzir o montante que as pessoas gastam em bens e serviços, bem como o montante da poupança. Ora, o consumo e a poupança têm importantes reflexos sobre o produto e o investimento no curto e longo prazo. Por outro lado, os impostos afectam os preços dos bens e dos factores de produção e, desse modo, influenciam os incentivos e o comportamento. 4.2. Política monetária. O segundo instrumento mais importante da política macroeconómica é a política monetária, que o governo conduz através da gestão da moeda, do crédito e do sistema bancário do país. A moeda consiste nos meios de troca ou no método de pagamento. Ao realizar determinadas operações, o banco central pode regular a quantidade de moeda disponível na economia, o que vai afectar muitas variáveis económicas e financeiras, nomeadamente as taxas de juro e as taxas de câmbio. A restrição da oferta de moeda leva ao aumento das taxas de juro, que conduz à redução do investimento, com a consequente diminui do produto e da inflação. Portanto, se o banco central se defrontar com uma recessão pode aumentar a oferta de moeda para, através da baixa das taxas de juro, estimular a actividade económica. Bibliografia Recomendada: DORNBUSCH, capítulo 1. SAMUELSON, capítulo 20. Exercícios Relacionados: 1º Caderno prático, exercícios 1—19