A PRODUÇÃO CIENTÍFICA EM DIDÁTICA NO EPENN. Miguel André Berger (UFS) Introdução A Didática constitui uma área de conhecimento que visa o estudo do processo ensino aprendizagem a fim de subsidiar o processo de formação do professor. As pesquisas de Oliveira (1996) e Pimenta (1996) apontam novos olhares sobre a prática pedagógica, como o ensino e a aprendizagem se desenvolvem, contribuindo para que o professor amplie sua consciência sobre a própria prática, buscando melhoria de seu agir. A pesquisa enriquece essa contribuição ao analisar 79 trabalhos apresentados no GT Didática, nos Encontros de Pesquisa Educacional do Norte e Nordeste (EPENN), realizados no período de 1995 a 2005. TEMÁTICAS DE PESQUISA EM DIDÁTICA. Prática pedagógica Trinta e cinco trabalhos (44,30%) voltam-se para essa temática. Estudam a sala de aula, as propostas de intervenção visando a melhoria do ensino, a interação professor e alunos que concorre para o processo de (re) construção do conhecimento. Sete estudos têm como campo de estudo o ensino fundamental. Quatro voltamse para as disciplinas de Geografia, Matemática, Ortografia e Ciências, testando abordagens pedagógicas para superação das dificuldades dos alunos (Batista,1995; Menezes,1995; Morais,1997; Pereira (2003). Defendem a importância de seqüência das atividades e o uso articulado dos procedimentos didáticos e avaliativos. Feitosa e Chagas (1999), Silva (1997) e Chagas (2005) analisam intervenções visando trabalhar a aquisição dos conceitos científicos, fundamentando-se na abordagem sóciointeracionista. Souza (2003) estuda como os professores transformam as regras da escola em atividades consideradas bem sucedidas, valorizando a interação entre sujeito, atividade e contexto. Oito pesquisas voltam-se para o ensino de Educação Física. Os estudos de Oliveira, Santos e Silva e Souza Junior, apresentados em 1997, defendem uma concepção inovadora que valoriza a expressão corporal como linguagem, enquanto Moita (2001) descreve a concretização de uma proposta de natureza interdisciplinar, articulando a Educação Física com o ensino de Matemática. Santos Junior (2001) faz um retrospecto histórico dessa disciplina, enquanto Santos e Silva (1997) empreendem 2 uma análise das propostas dos órgãos dirigentes da Educação de Pernambuco para detectar os indícios da construção de uma prática inovadora na perspectiva da cultura corporal. Seis pesquisas enfocam o ensino de diferentes matérias em nível médio. Lima (1999), Muniz (2001) e Porto (2003) detêm-se no ensino de Química, Filosofia e Inglês, respectivamente. Santos (1997) constata o caráter de individualidade predominante na relação do professor de Matemática com o conhecimento, priorizando temas nos quais tem maior domínio. Crusoé (2005) analisa as representações sociais do professor de Matemática sobre interdisciplinaridade e as dificuldades quando do desenvolvimento do trabalho pedagógico. Farias (1997) investiga os saberes movimentados na prática pedagógica do orientador atuante nas salas de Telensino, pautando-se nas colocações de Tardif (2002). Os estudos de Therrien e Loyola (2003), Mamede (2003) também abordam a relação entre experiência e competência docente, evidenciando o peso forte da experiência profissional e da prática em relação aos saberes de formação. Portela (1997) analisa as condições das escolas e o trabalho pedagógico em escolas da Bahia e do Ceará, desvelando a pedagogia do fracasso escolar e dando pistas orientadoras para as políticas públicas para o ensino fundamental. Sete estudos se atêm ao contexto universitário. Matoso (1997) e Guimarães (2003) comentam os processos para melhoria da capacidade de produção de textos pelos alunos, enquanto Sampaio (2005) discute o uso do planejamento na aula de leitura de textos literários. Melo (2001) analisa a docência na universidade com base na experiência refletida de formação continuada e Cordeiro (2005) as bases epistemológicas que fundamentam a aula no contexto universitário Formação do Professor Essa temática constitui interesse de muitos investigadores ( 21,50%). Dos 17 trabalhos, nove se voltam para a formação inicial de professores. Dois trabalhos investigam as dificuldades das normalistas em explorar os conceitos de Física (Loureiro, 1995) e Geometria (Freitas, 2001), sugerindo o desenvolvimento de atividades pautadas na abordagem construtivista. A preocupação maior é com a formação docente em nível superior (11 trabalhos), dos quais nove voltam-se para os cursos de Licenciatura, e, dois, para o Curso de Pedagogia. Teixeira (1995) volta-se para orientar o professor na criação de estratégias de aprendizagem que favoreçam a aquisição dos conceitos científicos para o 3 ensino de Ciências, enquanto Neves (2001), os conteúdos da Mecânica Quântica nos cursos de licenciatura em Química. Silva (1999) e Martins (2001) discutem as concepções dos professores sobre leitura e a formação do leitor, salientando que a universidade deve contribuir na formação do leitor crítico; Silveira (2001) investiga o uso das técnicas de dinâmica de grupo na disciplina Didática para a criação de ambientes de aprendizagem mais interativos. Batista (2003) analisa a atuação dos egressos licenciados em Inglês visando a implementação do currículo de formação do professor,enquanto Mendes (2003, 2005), a Prática de Ensino sob a forma de estágio supervisionado para (re) construção e implementação de uma proposta visando a formação do professor como pesquisador. Bacelar (1999) e Oliveira (1997) defendem a indissociabilidade do ensino e da pesquisa na formação do professor, envolvendo os professorandos em projetos de pesquisa nas escolas, a fim de vivenciar as habilidades de investigação. Pereira (2003) ressalta o uso das atividades lúdicas como recurso valioso na educação de jovens e adultos visando o estímulo à auto-expressão e o desenvolvimento da criatividade. A formação continuada aflora nos estudos de Olinda (1995), Bastos (1997) e Paredes (1999). O primeiro resgata as experiências na disciplina Didática do Ensino Superior e tece reflexões em torno da formação de professores. Bastos relata um trabalho de natureza interdisciplinar, dando contribuições sobre a estruturação das oficinas pedagógicas. Paredes relata projeto de capacitação de professores indígenas no Maranhão privilegiando o respeito à identidade e às diferenças sócio-culturais e lingüísticas. Uso das tecnologias da comunicação e da informação. Esse eixo temático concentra 11,40% da produção. Os trabalhos voltam-se para a introdução do computador no processo de ensino (Padilha, 1999), o uso do programa LOGO no ensino fundamental, ensejando novas perspectivas didáticas (Maciel, 1995), sendo que Nery (2001) verifica a contribuição da linguagem do programa LOGO para o desenvolvimento do conceito de localização espacial na criança. Soares (1997) relata a experiência da universidade em oportunizar aos alunos conhecimentos referentes às diferentes linguagens da informática. Gitirana (1999) analisa o uso da internet como recurso para divulgação das seqüências didáticas aos professores. 4 Estratégias didáticas Seis trabalhos tratam desta temática, representando 7,60% da produção. Soares (1995) valoriza o uso do teatro no ensino de História, enquanto Barros (2003), a aulashow para dinamizar o ensino e as ações de capacitação docente. O uso de sucata e de diversas estratégias para resolução das situações problemas de divisão foi pesquisado por Silva (1997), enquanto Calvalcante (1999) testa o uso de abordagens estruturadas (aulas teóricas) e não estruturadas. Essas são sugeridas nos PCN’s, mas as escolas ainda não estão preparadas para atender essa exigência. Amorim e Saraiva (1999) analisa as visitas, a criação de textos e o uso de oficina para trabalhar conceitos relacionados à preservação do meio ambiente, já Calazans (2003) recorre aos desenhos e modelagens para favorecer a construção de modelos mentais como representação sobre célula, valorizando a interação entre os alunos por favorecer o processo de construção do conhecimento. Livro Didático A preocupação com as mensagens e a qualidade do livro didático desponta nos trabalhos de Aguiar (1995), Lima (1995), Borba (1997), Fonseca (2001) e Monte (2003). Aguiar discute a importância do livro de Geografia para os alunos e o problema de veiculação ideológica, enquanto Lima analisa o livro didático “Piauí: tempo e espaço”, visando o desenvolvimento de uma prática renovadora. Os conceitos de mapas e cartas como recursos didáticos e o livro de Geografia nortearam o estudo de Fonseca. Borba (1997) critica a ênfase nas estruturas simples do que nas mais complexas no ensino das estruturas aditivas nos livros de Matemática, enquanto Monte (2003) analisou o tema mata Atlântica nos livros didáticos, por considerar o alto nível de destruição deste tipo de vegetação e o livro como principal fonte do trabalho docente. A maioria dos livros aborda o tema de forma superficial e imprecisa não favorecendo a real dimensão dos problemas relativos a esse bioma. Avaliação educacional Essa temática aflora nos estudos de Azevedo (1999), Viveiros (2001), Gonçalves e Pinheiro (2003) e Cunha (2005), representando 5% dos trabalhos. Azevedo (1999) investiga as pressões exercidas pela escola, família e pelo próprio aluno para obter êxito e tece reflexões sobre a ansiedade e o papel da avaliação no controle do comportamento dos alunos, alertando o professor para as implicações para a baixa auto-estima. Viveiros 5 analisa o uso da auto-avaliação para que os licenciados possam vivenciá-lo e criar práticas alternativas quando de sua atuação, enquanto Gonçalves detecta como essa prática vem ocorrendo em um curso pedagógico na modalidade supletiva, propondo uma nova concepção de avaliação, como processo de questionamento e reflexão sobre a ação, a fim de mudar as representações e o agir docente. Pinheiro analisa a prática avaliativa segundo as tendências pedagógicas, enquanto Cunha (2005) estuda as práticas avaliativas e as dificuldades encontradas no processo de desenvolvimento da proposta pedagógica da Escola Cabana, em Belém. Os estudos desmistificam a avaliação como uma prática tecnicista, neutra e restrita ao âmbito escolar, alertando o professor para uma reflexão e mudança de suas concepções e agir. Campo conceitual da Didática Dois trabalhos integram este eixo temático, representando 2,60% da produção. Souza Junior (2001) empreendeu um estudo sobre os conceitos de Didática ao longo do tempo, enquanto Berger (2002) empreendeu uma análise do Encontro de Pesquisa Educacional no Norte e Nordeste, da criação do GT Didática e das pesquisas apresentadas nos anos de 1997 e 1999. Currículo e identidade cultural Temática pouco contemplada (1,30%). O trabalho de Paredes (1997) descreve o processo de sistematização das diretrizes básicas para uma proposta curricular para a escola de uma área indígena. Defende que revalorizar a cultura é revalorizar a História, por isso não se pode falar de respeito à identidade indígena sem antes reconhecer, reconstruir e respeitar a sua história. Conclusões A análise dos trabalhos mostra a diversidade de temas.A ênfase em temas referentes à formação do professor e sua atuação em sala, especialmente no ensino superior, pode ser considerado um avanço. A preocupação com a educação nas comunidades indígenas revela o envolvimento recente da universidade com tal questão. As novas formas de organização do trabalho pedagógico através da Pedagogia de Projetos e o ensino em contextos não escolares, como nos assentamentos de reforma 6 agrária, são experiências que vem se desenvolvendo e que merecem estudos a fim de favorecer os avanços em termos da construção do conhecimento em Didática. Fontes de consulta Anais contendo os resumos dos trabalhos e CD rom do XII, XIII, XIV, XV, XVI e XIII Encontro de Pesquisa Educacional do Norte e Nordeste.