I ENCONTRO TROCANDO IDEIAS CONSTRUINDO CONHECIMENTO GONÇALVES1, Carla Fabiana de Aguiar VAZ2, Cátia RESUMO O “I Encontro Trocando Idéias construindo Conhecimento” abordou diversos temas relacionados à inclusão. Fez com que toda a comunidade escolar participante refletisse e colocasse suas idéias sobre a possibilidade de todos os alunos estarem frequentando as escolas regulares e aprendendo, indiferente de sua deficiência ou dificuldade de aprendizagem, pois se os educandos possuem os recursos necessários para eliminar as barreiras do processo de ensino e aprendizagem, o conhecimento torna-se acessível a todos. Palavras-chave: Inclusão. Recursos. Aprendizagem. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva criada pelo Ministério da Educação, através da Secretaria de Educação Especial respaldase na Constituição Federal, na nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, na Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência, no Estatuto da Criança e do Adolescente. A Política Nacional de Educação Especial possui em sua essência o acompanhamento dos avanços do conhecimento e das lutas sociais, visando constituir políticas públicas promotoras de uma educação de qualidade para todos os alunos, para tal é necessário implantarmos e implementarmos ações para contribuir na inclusão de pessoas com deficiência em todos os espaços da escola. Diante do exposto a Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria Lygia Andrade Haack tendo como filosofia o desejo de “Possibilitar à comunidade escolar o acesso à informação e ao conhecimento, ampliando sua visão de mundo, de modo a interagir com as diferenças, com vistas a contribuir para a formação intelectual, social, humana e política”, propõe ações com a intenção de corroborar com as políticas públicas voltadas a inclusão da pessoa com deficiência. Neste sentido surge o Projeto “I Encontro Trocando Idéias Construindo Conhecimento” elaborado através da parceria entre o Laboratório de Aprendizagem e a Sala de Recursos Multifuniconal, com o objetivo de esclarecer a comunidade escolar o trabalho desenvolvido pelo Laboratório de Aprendizagem e Sala de Recursos Multifuncional, coletando informações na intenção de contribuir para o trabalho e esclarecendo dúvidas referentes às atividades desenvolvidas. 1 Pedagoga Especial. Universidade do Vale do Rio dos Sinos Professora de Atendimento Educacional Especializado Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria Lygia Andrade Haack Esteio/RS E-mail:[email protected]. 2 Fonoaudióloga, Psicopedagoga e Professora. Universidade Luterana do Brasil/UNILASALLE Professora de Laboratório de Aprendizagem Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria Lygia Andrade Haack Esteio/RS E-mail: [email protected]. Nossa ação respalda-se na Proposta Político Pedagógica da escola em seu Marco Situacional que nos diz “Para que esta proposta seja bem sucedida, é necessário que todos os segmentos da comunidade escolar estejam verdadeiramente comprometidos na construção de uma sociedade mais democrática que privilegie e proponha um espaço de discussão e práticas pedagógicas interdisciplinar”. A parceria entre os espaços citados remete ao objetivo dos mesmos, onde o Laboratório de Aprendizagem possui a intenção de oportunizar um espaço escolar que organize intervenções pedagógicas partindo da realidade do aluno, utilizando-se de instrumentos (entre outros, do lúdico), que possibilitem a investigação do processo cognitivo, visando ressignificar a aprendizagem e a interação professor-aluno, no referente a modalidade do ensinar e do aprender. Seguindo o disposto a Sala de Recursos Multifuncional remete a necessidade de identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas, complementando e/ou suplementando o ensino regular com vistas à autonomia e independência na escola e fora dela. Importante salientar que o projeto citado é uma das várias ações pensadas e planejadas visando a parceria do Laboratório de Aprendizagem e Sala de Recursos Multifuncional, com o intuito de contribuir na superação do sentimento de fracasso e, muitas vezes, de desistência de nossos alunos e professores diante do insucesso apresentado pelos mesmos, situações estas, que muitas vezes, resultam na exclusão escolar. A apresentação da proposta do trabalho foi exposta aos professores e equipe diretiva em reunião pedagógica no intuito de que os mesmos pudessem estar cientes acrescentando, se necessário, elementos que contribuíssem na metodologia. Com o objetivo de que todos os segmentos tivessem conhecimento do trabalho desenvolvido pelo Laboratório de Aprendizagem e Sala de Recursos Multifuncional, foi necessário construir dinâmicas diferenciadas para os segmentos pais, alunos, professores e funcionários. Junto aos professores e equipe diretiva elaboramos um questionário contendo questões relacionadas ao tema, como: Aprender é. . .; O que você entende sobre o trabalho do LA?; O que você entende sobre o trabalho da Sala de Recursos?; Quais suas expectativas para o ano?. Os mesmos preencheram e devolveram as coordenadoras dos trabalhos. Após foi apresentado, através de slides, as ações desenvolvidas pelas professoras responsáveis pelo Laboratório de Aprendizagem e Sala de Recursos Multifuncional, onde constou: trajetória, as respectivas leis da política de educação inclusiva, público alvo, objetivos, metodologia de trabalho e atribuições realizando uma comparação e diferenciação entre os dois setores. Neste encontro apresentamos aos presentes o Projeto “Trocando idéias construindo conhecimento”. O Projeto “Trocando idéias construindo conhecimento” foi desenvolvido de forma diversificada para os alunos da escola em seus diferentes níveis. Priorizamos a apresentação sob a forma de contação e reflexão da história adaptada da revista educativa Sesinho Acessibilidade para todos (aborda a cegueira, surdez e deficiência física) edição ano 8, nº 93 para os alunos dos anos inicias; para os anos finais o curta-metragem “O Branco” e para os alunos da Educação de Jovens e Adultos o curta-metragem “Cão Guia”, ambos abordam a cegueira. Os alunos receberam convites antecipadamente para participar da atividade, da mesma forma foram afixados cartazes pela escola informando e solicitando a participação de todos. Acreditamos que atividades como estas suscitam a curiosidade e o interesse pelo encontro, sendo este algo novo para a escola. A cada turma reunida, conforme cronograma prévio, em espaços agendados fazíamos referência ao convite feito. Após apresentação das organizadoras do encontro explicávamos aos alunos como seria a dinâmica do mesmo. Em seguida os alunos eram questionados sobre o entendimento de cada um referente às atividades desenvolvidas nos espaços do Laboratório de Aprendizagem e Sala de Recursos Multifuncional, onde colocavam suas idéias a respeito. Os constantes questionamentos suscitaram nos grupos presentes, o desejo de querer saber mais, se instaurando desta forma a curiosidade, elemento importantíssimo para a concretude do aprender. Acreditamos que o ato de aprender se dá na relação com o outro e esta pode ser também gerada por constantes conflitos onde o sujeito da relação dáse conta da necessidade de recriar conhecimentos existentes produzindo, desta forma, novos conhecimentos. Com isto acreditamos ter desafiado os educandos a pensar de uma forma criativa numa perspectiva de globalidade, conhecer melhor o que já conhecem, levantando hipóteses, confrontando teorias, idéias e posições e tirando suas próprias interpretações dos fatos resolvendo problemas. Em uma segunda etapa apresentávamos, conforme o grupo que participava a história ou curta-metragem já citados anteriormente. Após as exposições os alunos eram convidados a refletir sobre os conceitos apresentados, onde fazíamos também referência a outras deficiências . A todo o instante os alunos refletiam a cerca da inclusão das pessoas com deficiência no espaço escolar e na sociedade, no ingresso dos alunos deficientes na escola e na sala de aula dos que assistiam ao encontro, bem como, nas possibilidades de aprendizagem. Respaldamo-nos na proposta metodológica freireana onde o educador dá ênfase as questões levantadas sobre o objeto de conhecimento. Freire (2000) ressalta que o ensino não é transferência de conhecimento, mas cria as possibilidades para que o mesmo seja produzido ou construído. Desta forma o conhecimento é construído de forma integradora e interativa, não é algo estático. Conhecer, portanto é descobrir, construir. Freire diz que não é o sujeito que fundamenta o seu pensar, mas a presença dos outros, sendo o pensamento coletivo a explicação do saber individual. Foi oportunizado, após as reflexões, exposição e exploração de recursos e estratégias que podem contribuir para o sucesso na inclusão, eliminando as barreiras para a aprendizagem. Os alunos conheceram o código braile, a forma de escrita e leitura do mesmo, manusearam livros e materiais com o código, conheceram o alfabeto manual e alguns sinais da Língua Brasileira de Sinais, entre outros recursos necessários para pessoas com deficiência física. Após foi apresentado um slide com a figura de um educando, onde o mesmo demonstrava uma possível dificuldade de aprendizagem. Os alunos observavam a figura e colocavam suas opiniões a cerca, sentindo-se em alguns momentos como o personagem. Neste espaço dávamos ênfase às atividades desenvolvidas no Laboratório de Aprendizagem onde, através de ações específicas as dificuldades apresentadas seriam sanadas. Deixávamos claro que alunos com deficiência não necessariamente necessitam do espaço de Laboratório de Aprendizagem caso estes tenham suporte necessário para eficácia no processo de ensino-aprendizagem. Para Fonseca (1995), a criança com dificuldade de aprendizagem não deve ser “classificada” como deficiente. Trata-se de uma criança normal que aprende de uma forma diferente, a qual apresenta uma discrepância entre o potencial atual e o potencial esperado. Não pertence a nenhuma categoria de deficiência, não sendo sequer uma deficiência mental, pois possui um potencial cognitivo que não é realizado em termos de aproveitamento educacional. Ao término do encontro apresentávamos aos presentes o desejo dos educadores em verem os alunos aprendendo e felizes (frase demonstrada e aprendida através da LIBRAS). Os alunos viram-se no processo através de slides com fotos onde apareciam em diferentes espaços da escola de uma forma descontraída e prazerosa. Em um último momento conduzíamos os participantes até a Sala do Laboratório de Aprendizagem e Sala de Recursos Multifuncional para conhecer estes espaços. O que almejamos na abordagem a qual organizamos foi propor aos sujeitos envolvidos no processo a possibilidade de serem autores de seu pensar. Como nos diz Fernandez (2001) é necessário modificarmos o paradigma tradicional de ensino, onde pressupõe que quanto mais claro, conciso e concreto for o conteúdo mais rápido poderá ser incorporado. Pensar em um paradigma emergente é acrescentar conteúdos complexos, contextualizados, conflitivos e questionados onde, desta forma, emergirá também sujeitos criativos e reflexivos. A metodologia utilizada inclui abordagens apresentadas no Projeto Político Pedagógico em seu Marco Operacional onde diz que a escola propõe uma postura reflexiva balizada por uma atitude crítica frente aos conteúdos propostos, os quais terão critérios e objetivos bem definidos e preestabelecidos dessa forma, deve contemplar a construção de um sujeito ético, propondo ações que visem à autonomia num processo ativo e dinâmico de discussão e democratização do saber. Com base na Proposta Político Pedagógica a escola opta pela vivência do diálogo, da participação, da responsabilidade, da igualdade de direitos, da solidariedade e atitude científica com vista a uma política pedagógica que favoreça a transformação e o respeito à liberdade de opinião de cada indivíduo. Foram três semanas intensas de atividades pré-agendadas com a participação de todos os segmentos. Estimamos ter atingido 1.123 alunos, 65 professores e membros da equipe diretiva, 16 funcionários e 50 pais dos alunos previstos para atendimento no primeiro trimestre. Acreditamos que o objetivo ao qual nos propomos de esclarecer a comunidade escolar o trabalho desenvolvido pelo Laboratório de Aprendizagem e Sala de Recursos Multifuncional, coletando informações na intenção de contribuir para o trabalho, esclarecendo dúvidas referentes às atividades desenvolvidas foi atingido. O que nos deixou profundamente satisfeitas foi a receptividade dos alunos, a participação destes e suas expressões de curiosidade e de satisfação de apropriação do objeto de conhecimento, onde neste caso foi o esclarecimento do trabalho desenvolvido pelos setores. Ao avaliar a atividade observamos que muitos conceitos foram abordados como: inclusão, pessoa deficiente, cadeirante, surdo, cego, deficiência visual, deficiência auditiva, deficiência física, deficiência mental, adaptação, respeito, diferenças, aprendizagem, recursos, barreiras, superação, direitos, preconceito, acessibilidade, violência, autonomia, entre outros. O sentimento de desconhecimento das atividades desenvolvidas pelo Laboratório de Aprendizagem e Sala de Recursos Multifuncionais foi superado e desmitificado. Através do proposto os alunos nos encontram em diferentes espaços da escola reconhecendo-nos pelo nome, fazendo referência a atividade a qual participaram, apropriando-se da mesma. Este retorno mostra a formação estabelecida de processos vinculares, estes primordiais para a constituição de um trabalho significativo. Fernández (1991) nos diz que para aprender são necessários dois personagens, o ensinante e o aprendente e um vínculo que se estabelece entre ambos. A proposta também nos possibilitou a ênfase na construção de afeto nas relações, onde o professor precisa perceber-se como facilitador do processo de aprendizagem. A relação professor e aluno marcado pelo vínculo e o afeto proporciona ao educador a oportunidade de: mostrar, guardar, criar, entregar o conhecimento e permite que o educando possa investigar, incorporar e apropriar-se do conhecimento construindo, desta forma, autoria de pensamento. Temos a intenção de continuar a atividade no segundo semestre aprofundando os conceitos trabalhados e contando se possível, com relatos de pessoas com deficiência e pessoas com dificuldades de aprendizagem, para que os alunos possam refletir a cerca dos caminhos trilhados por cada participante, referenciando seu cotidiano, experiências escolares e mecanismos de superação. Mantoan (2003) conceitua a inclusão social como uma ação ou política que objetiva a inserção de sujeitos excluídos preparando as futuras gerações para o convívio com a diversidade, compreendendo a realidade de todos, deixando de lado a perspectiva de que a inclusão é para as pessoas com necessidades educacionais especiais. A inclusão social é para aquele que de alguma forma foi excluído. Acreditamos que espaços como estes de reflexão, discussão e de apropriação, são fundamentais e constantes para que todos os segmentos da escola possam interagir com as diferenças, estabelecendo relação de respeito e de co-responsabilidade, podendo-se ver como parte essencial desta totalidade. Quando fazemos parte deste todo que é a escola, temos a sensação de “pertencimento”, ou seja, precisamos nos sentir como pertencentes a escola e ao mesmo tempo sentir que a escola nos pertence, com isto podemos acreditar que é possível interferir e que vale a pena interferir na rotina e nos rumos da escola para que este lugar seja de fato um lugar de todos. Como nos diz Beyer (2005): “A idéia de uma escola inclusiva, com capacidade para atender alunos em situações diferenciadas de aprendizagem é altamente desafiadora. Implica uma ação conjunta e responsável de muitos sujeitos para que essa escola se torne possível. Ação conjugada que engloba os próprios alunos, as famílias, os professores, as equipes diretivas e pedagógicas, os funcionários e os gestores do projeto político-pedagógico. As experiências bem-sucedidas de uma escola integradora, não-discriminante, em outros países, têm demonstrado que não há como se desenvolver tais experiências sem que haja a participação de todos” REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEYER, Hugo Otto. Inclusão e avaliação na escola de alunos com necessidades educacionais especiais. Porto Alegre: Mediação, 2005. FERNÁNDEZ, Alícia. A Inteligência Aprisionada – Abordagem psicopedagógica clínica da criança e sua família. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991. _________________. O Saber em Jogo. A psicopedagogia propiciando autorias de pensamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001. FONSECA, Vítor da. Introdução às dificuldades de aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. FREIRE, Paulo. Política e Educação. São Paulo: Cortez, 2000. MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão Escolar: o que é? por quê? como fazer? São Paulo: Moderna, 2003. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Resolução nº 4, de 02 de outubro de 2009. ESTEIO. Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria Lygia Andrade Haack. Projeto Político Pedagógico, 2007.