CURSO DE OCEANOLOGIA DISCIPLINA DE BENTOLOGIA- 2010 MACROZOOBENTOS DE COSTÕES ROCHOSOS CARACTERÍSTICAS DO HÁBITAT Os hábitats costeiros bentônicos estão entre os ambientes marinhos mais produtivos do planeta. Dentre os ecossistemas presentes nas regiões intermareais e hábitats da zona costeira, os costões rochosos são considerados um dos mais importantes, por abrigarem um grande número de espécies de grande importância ecológica e econômica, tais como mexilhões, ostras, crustáceos e peixes. A grande diversidade de espécies presentes em costões faz com que, nestes ambientes, ocorram fortes interações biológicas como conseqüência da limitação de substrato, ao longo de um gradiente existente entre os hábitats terrestre e marinho. No Brasil, pode-se encontrar costões rochosos por quase toda a costa. Seu limite de ocorrência ao Sul se dá em Torres (RS) e ao Norte, na Baía de São Marcos (MA) sendo que a maior concentração deste ambiente está na região Sudeste, onde a costa é bastante recortada. ZONAÇÃO DO MACROZOOBENTOS Uma das feições mais evidentes em qualquer costão rochoso em maré baixa são as proeminentes zonas ou faixas horizontais (zonação) de organismos. Cada zona é separada das adjacentes por diferenças na cor, morfologia dos organismos principais, ou alguma combinação de cor e morfologia Zonas intermareais de costões variam em extensão vertical, dependendo da inclinação da superfície, o alcance da maré e a exposição à ação das ondas. Onde há uma declividade gradual podem ser largas as zonas horizontais ocupadas pelos organismos. Sob uma mesma maré e condições de exposição, entretanto, as mesmas zonas horizontais podem ser estreitas em uma face vertical. Por outro lado, áreas expostas apresentam zonas mais largas do que em costas protegidas, e costas com amplitude maior de maré tem zonas verticais mais largas. Estas zonas podem ser interrompidas ou alteradas em vários locais onde quer que o substrato rochoso mostre mudanças na declividade, estrutura ou fendas, que modifiquem sua exposição em relação ao grau de exposição à hidrodinâmica. SUPRALITORAL Zona superior do costão rochoso permanentemente exposta ao ar, onde somente chegam borrifos de água do mar. Neste local são comuns liquens e também algas azuis microscópicas – as cianofíceas – que conferem a rocha uma cor acizentada. Entre o macrozoobentos são característicos os isópodos do gen. Ligia, diversas espécies de gastrópodos do gen. Littorina, que ocorrem em grande quantidade, sobretudo nas fissuras dos rochedos. Nesta faixa, os fatores abióticos como temperatura e radiação solar possuem grande importância na distribuição dos organismos, os quais devem estar adaptados à perda de água e as variações de temperatura. MESOLITORAL Região sujeita às flutuações da maré, submersa durante a maré alta e exposta durante a maré baixa. Seu limite superior é, geralmente, caracterizado pela ocorrência de cirripédios do gênero Chthamalus (cracas) e o inferior pela alga parda Sargassum. São comuns neste nível os gastrópdes patelliformes “chapéu chinês” dos gens. Acmaea, Patella, Fissurela, etc... Nos molhes da barra de Rio Grande, este grupo de gastrópodos tipo “chapéu chinês”, está representado por Colisella subrugosa e Siphonaria lessoni (Capitoli, 1998). O modo de alimentação característico dos pateliformes e dos exemplares de Littorina é a de raspar a superfície das rochas, onde podem ingerir microalgas e esporos de macroalgas. As larvas de várias espécies de invertebrados podem inclusive ser afetadas pela raspagem efetuada pelos gastrópodes. Nos níveis médios do mesolitoral são comuns “cinturas” com altas densidades de cirripédios do gen. Balanus (cracas). Na parte mais baixa do mesolitoral observam-se povoamentos densos de mexilhões dos gens. Mytillus e Perna, entre outros. Os organismos sésseis desta região estão adaptados à variação diária do nível da água e, consequentemente, a todas as mudanças físicas que isto implica. Também pela variação da maré, se restringem a períodos reduzidos de alimentação e liberação de larvas. O alimento dos cirripédios (cracas) e mexilhões é obtido no material que se encontra em suspensão na coluna d´água (fitoplancton, zooplancton e matéria orgânica em suspensão). Já os organismos errantes e sedentários, podem se desloca para regiões inferiores na maré baixa, permanecendo assim, sempre submersos. No mesolitoral podem ocorrer as "poças de maré", depressões onde a água do mar fica represada durante a maré baixa e que apesar de sujeitas a grandes alterações das variáveis ambientais, podem vir a apresentar um aumento da diversidade da flora e fauna que ira apresentar integrantes típicos do infralitoral. As poças de maré parecem a princípio locais ideais para organismos aquáticos, que procuram escapar das adversidades da zona intermareal durante a exposição ao ar. Na realidade, escapar de tais fatores físicos como a dessecação pode significar exposição a outros que operam mais severamente em poças de maré, tais como a temperatura, salinidade e mesmo os teores de oxigênio dissolvido. As poças de maré variam grandemente no seu tamanho e volume de água. Sendo a água um ótimo moderador de condições físicas adversas, as maiores poças com os maiores volumes de água, possuem menores flutuações dos fatores físicos. È comum haver zonação dentro das poças de maré em resposta as estes fatores principais. INFRALITORAL Região permanentemente submersa, apresentando seu limite superior caracterizado pela zona de Sargassum até à profundidade compatível com a existência de algas fotófilas ou das angiospermas marinhas. Apenas a parte superior desta zona se encontra na zona de marés, que descobre na baixa-mar, sendo essencialmente ocupado por algas, podendo também aparecer povoamentos dos mexilhões da fam. Mytilidae. É uma zona de grande diversidade de espécies, na qual começam a ter mais importância as interações biológicas (predação, herbivoria, competição) na determinação da distribuição dos organismos, uma vez que os fatores ambientais são mais estáveis pelo tamponamento proporcionado pela constante imersão. ADAPTAÇÕES PARA A VIDA EM COSTÕES ROCHOSOS RESISTÊNCIA AO ESTRESSE MECÂNICO Dentre as diversas adaptações presentes em organismos de costões rochosos, destacam-se aquelas relacionadas ao estresse causado pela ação de ondas. Como conseqüência, talvez a principal dificuldade para as espécies nesses ambientes esteja relacionada à fixação. Alguns organismos sésseis podem cimentar-se ao substrato como é o caso das cracas e das ostras, enquanto que os mexilhões aderem-se firmemente através de resistentes fios de bisso. Os organismos sedentários também possuem adaptações para resistir ao embate das ondas, os gastrópodos pateliformes “chapéu chinês” aderem-se utilizando um forte pé que ocupa quase toda a extremidade basal, a qual é muito mais ampla do que a extremidade apical, em forma de uma ponta, o que da a estes animais a forma de um cone. Gastrópodes carnívoros (Thais spp) que invadem o intermareal, para perfurar as conchas de mexilhões e as carapaças das cracas, possuem pés bem largos que proporcionam uma grande força de adesão ao substrato. Ouriços-do-mar, caranguejos e peixes das famílias Bleniidae e Gobiidae, refugiam-se em fendas ou reentrâncias para se protegerem as ondas. Entre os organismos sésseis, os seguintes aspectos podem influenciar no processo de fixação: 1) relação entre a superfície de fixação em resposta à superfície total do organismo; 2) forma e dimensões; e 3) consistência. A melhor superfície de fixação em função da relação entre a superfície de fixação/superfície total (SF/ST) é atingida quando os organismos estão totalmente aderidos ao substrato, com uma razão SF/ST próxima a 1. A fixação por um ponto ou por uma zona é realizada, principalmente, pelas formas pedunculares presentes em hidróides (Sertularia), briozoários (Bugula), ascídias solitárias que, neste caso, apresentam menores valores de SF/ST. Quanto a forma, existem variados tipos, como as esponjas Tethya sp e Tuberella sp e a ascídia Polyclinum sp de formas esféricas e fixas por um ponto. Outros organismos, podem apresentar formas elípticas e cilíndricas. A forma cônica, por exemplo, presente nas cracas (cirripédios), possibilita uma boa resistência ao deslocamento por ação de ondas. Outras formas, como as ramificadas de algumas esponjas (Axinella), gorgônias, hidrozoários, briozoários arborescentes, oferecem pouca resistência ao fluxo de água. A consistência dos organismos bentônicos em costões rochosos é igualmente muito variável. Existem formas rígidas devido à calcificação, como os madreporários e certos briozoários, semi-rígidas em espécies de gorgônias ou gelatinosas em algumas ascídias. RESISTÊNCIA À PERDA DE ÁGUA. Logo que os organismos marinhos ficam expostos ao ar, começam a perder água por evaporação. Para sobreviver em zonas intermareais esta perda tem que ser minimizada, ou os organismos devem ter sistemas corporais que os levará a tolerar a perda d’ água durante as longas horas de exposição ao ar ou ter algum mecanismo para conservar água no corpo até a mesma estar novamente disponível. Os mecanismos podem ser estruturais, comportamentais ou ambos. Caranguejos para evitar a perda de água selecionam ativamente microhábitats como fendas, buracos, ou sob macroalgas onde a perda da água é menor. Anêmonas são, muitas vezes, encontradas entre cracas ou mexilhões em fendas onde a perda d’água é reduzida. Outras espécies de anêmonas produzem um muco ao redor do corpo ou se cobrem com fragmentos de concha quando expostas. Cracas fecham suas placas na maré baixa (já que não podem fugir) para minimizar a evaporação. Collisella, Fissurela utilizam-se de marcas nas rochas “home scars”, na qual suas conchas cabem exatamente. Na maré baixa, minimizam a perda de água retornando e se encaixando nestas impressões na rocha. Os gastrópodos selam a concha utilizando seus opérculos enquanto que os bivalvos (mexilhões, ostras) fecham suas valvas. Para minimizar a dessecação de estruturas sensíveis como as brânquias, estas ficam protegidas dentro de cavidades corporais, exemplo os moluscos que possuem as brânquias na cavidade do manto e estas por sua vez protegidas pela concha. Atividades como alimentação, que podem provocar a dessecação das estruturas, são na maioria das vezes restritas aos períodos de maré alta e/ou a noite, ex. a maioria dos pateliformes “chapéu chinês”. MANUTENÇÃO DO BALANÇO DE CALOR Organismos intermareais estão expostos a extremos de frio e calor, sendo este último geralmente mais prejudicial. Organismos com um grande tamanho corporal podem suportar melhor o ganho de calor do ambiente, uma vez que uma menor superfície em relação ao volume significa menos área para ganhar calor. Ao mesmo tempo um corpo grande leva mais tempo para aquecer do que um menor. A dissipação do calor do corpo do animal pode ocorrer: através da escultura e da cor das conchas, como ocorre com vários gastrópodos; através da evaporação da água pela parede do corpo, como no caso dos isópodos do gen. Ligia; ou através da estratégia de levantar a concha e assim resfriar a parede corporal, como ocorre entre os gastrópodos pateliformes. Alguns invertebrados possuem mecanismos para evitar a dessecação pela evaporação através de um suprimento de água extra para resfriamento. Em cracas, por exemplo, essa água extra é estocada na cavidade do manto e sua evaporação resfria o corpo do animal (o gen. Tetractila tem uma fina concha porosa que retém e perde água). FATORES FÍSICOS E BIOLÓGICOS QUE CONDICIONAM A ZONAÇÀO A zona entremarés dos costões rochosos é um importante substrato de fixação e locomoção para diversos organismos. Entretanto, a sua ocupação não ocorre aleatoriamente, ou seja, os organismos se estabelecem ou se locomovem em faixas bastante distintas, paralelas à superfície do mar. Estas zonas são formadas a partir das habilidades adaptativas dos organismos relacionadas aos fatores abióticos e bióticos, entre estes a temperatura, a hidrodinâmica, diversos níveis de interações biológicas positivas (facilitação ou promoção, i.e., quando a presença de uma espécie - uma alga, por exemplo facilita a presença de uma outra, como um invertebrado), negativas (competição, predação) e a intensidade dos recrutamentos. FATORES ABIÓTICOS Temperatura Áreas intermareais estão regularmente sujeitas a temperaturas aéreas que excedem os limites letais de diversas espécies por períodos variáveis. Mesmo se a morte não ocorre imediatamente, os organismos podem estar tão fracos pela temperatura extrema que não podem desenvolver suas atividades normais e sofrerão mortalidade por causas secundárias. A temperatura é responsável ainda pela regulação dos processos metabólicos relacionados à maturação, reprodução, taxa de crescimento, entre outros. A Amplitude da Maré Durante períodos de maré baixa, com a exposição ao ar, os organismos do mesolitoral encontram-se sujeitos a uma maior variação dos fatores físicos (temperatura, insolação, salinidade, concentração de oxigênio, etc.) e muitas vezes encontram-se privados de realizar funções vitais. Por exemplo, animais que se alimentam através da filtração, captando partículas de alimento ou nutrientes disponíveis na água, passam por um longo período de jejum. Outro fator resultante da baixa maré é a dessecação, que pode ser agravada dependendo do grau de insolação, dos ventos e da umidade relativa do ar, resultando no aumento da concentração de sais dentro e fora dos organismos. Por outro lado, em um dia de chuva, a exposição ao ar resultará na diluição dos sais devido ao encharcamento do organismo por água doce, diminuindo, assim, a salinidade. Ação das Ondas A ação das ondas é reconhecida como um rigoroso fator de seleção no mesolitoral. A intensidade com que as ondas vão de encontro às rochas passa a ser fundamental para a ocorrência e distribuição das algas e dos animais sésseis, os quais desenvolveram estruturas de fixação e de proteção resistentes ao embate de ondas. Também ocorre a modificação de sua morfologia conforme o aumento da hidrodinâmica reduzindo o arrasto. A hidrodinâmica juntamente com a declividade do costão irão determinar a extensão do mesolitoral, sendo esta influência ainda mais pronunciada em áreas com pouca amplitude de maré. As variações na intensidade da exposição vão influenciar desde quais organismos irão ocorrer no costão até suas densidades, distribuição, estrutura trófica (presença de herbívoros ou predadores, quantidade de organismos suspensívoros, etc.), o que irá influenciar nas interações biológicas dos invertebrados já estabelecidos, bem como no assentamento larval. FATORES BIÓTICOS Competição Uma das características dos costões é de que quase não há espaço disponível e muitas vezes encontramos organismos vivendo uns sobre os outros. Ocorre competição quando uma ou mais espécies necessitam, ao mesmo tempo, de um determinado recurso e este não é suficiente para atender esta necessidade. Em costões rochosos, geralmente, este fator é o espaço para fixação ou locomoção, uma vez que a maioria dos organismos são sésseis ou sedentários e necessitam de espaço para sobreviver e para o assentamento de larvas e propágulos. A regulação da taxa de competição impedindo que a diversidade seja reduzida a uma única espécie favorecida por este mecanismo é atribuída às perturbações físicas e biológicas, principalmente à predação. O sucesso dos recrutamentos é outro fator que tem grande influência como modulador da intensidade das interações competitivas em costões rochosos. Predação A predação é um dos principais processos reguladores da estrutura e dinâmica das comunidades de costões rochosos, envolvendo não só os organismos habitantes do costão, mas também aqueles que “visitam” este ambiente (várias espécies de peixes), esporádica ou freqüentemente, na maioria das vezes, para se alimentar (Nybakken, 1997). A predação pode amenizar a dominância dos competidores superiores, minimizando o efeito dos mesmos sobre a composição e diversidade da fauna de costões. Em muitos casos, a predação previne a monopolização do hábitat por uma espécie competidora potencialmente mais apta. Os predadores podem ser seletivos (poucas presas) ou generalistas (amplo espectro de presas) e alguns predadores não ingerem sua presa inteira, mas apenas parte da mesma. Entre os principais grupos de invertebrados carnívoros predadores no intermareal de costões rochosos estão os gastrópodos prosobranquios, (ex. Thais spp.), que perfuram a concha de mexilhões, ou a carapaça de cracas. Várias espécies de caranguejos predam sobre os invertebrados sésseis e sedentários no intermareal e a maioria das espécies de estrelas do mar são vorazes predadoras consumindo cracas, mexilhões, gastrópodos e, inclusive, sobre os integrantes do filo ao qual pertencem, os equinodermas. Diversos trabalhos, realizados em regiões temperadas, mostraram experimentalmente a importância das estrelas do mar como predadoras de topo no intermareal de costões rochosos. A partir de experimentos em costões em regiões temperadas frias no norte do Pacífico R T Paine definiu a estrela Pisaster ochraceus como uma espécie chave (“key specie”), devido sua capacidade de, como predadora de topo, em controlar o competidor dominante do intermareal, o mexilhão Mytilus californianus. Neste conceito está embutida a idéia de que alterações na abundância desta estrela teriam fortes conseqüências na estrutura da fauna do costão. Da mesma forma que os predadores desenvolveram estratégias e estruturas destinadas à predação, as presas também desenvolveram mecanismos para evitá-la. Os organismos que possuem grande capacidade de locomoção podem escapar dos predadores (isópodos Ligia spp.), ou buscar algum tipo de esconderijo em locais de difícil acesso (fendas, nichos, etc...), outros podem apresentar um rápido crescimento (refúgio pelo tamanho). Já os organismos sésseis desenvolveram outras formas de evitar a predação, como viver em locais de maior estresse nas partes superiores do costão (onde apenas alguns organismos alcançam), tornarem-se crípticos (camuflagem entre algas), viverem em grandes aglomerados formando bancos (bancos de mexilhões, ostras) ou produzir substâncias que os tornem inadequados à ingestão (anêmonas). O Suprimento Larval e o Sucesso dos Recrutamentos Uma das questões mais intrigantes e recentes da ecologia de costões rochosos é a relação e a dependência das interações de competição e predação, com o sucesso do recrutamento dos competidores e dos predadores e presas. As intensas disputas pelo espaço e o forte efeito de predadores e pastadores nos costões rochosos, podem tomar rumos distintos de acordo com o sucesso dos recrutamentos dos distintos organismos envolvidos nestas interações. Os denominados efeitos de cima para baixo “top down effects” (predação, competição) são dependentes da variabilidade dos efeitos de baixo para cima “bottom up effects” (recrutamentos). Um intenso recrutamento de uma presa pode, por exemplo, minimizar os impactos que a mesma sofre de seus predadores, acontecendo o efeito inverso com o sucesso do recrutamento de um ou mais predadores. As interações competitivas também podem ser minimizadas ou ter seus rumos alterados pela variabilidade dos recrutamentos dos competidores dominantes e inferiores. OS FUNDOS DE “KELPS” Uma grande parte das zonas marinhas costeiras de fundos consolidados de regiões temperadas frias é colonizada por macroalgas pardas gigantes, coletivamente conhecidas como “kelps”. As macroalgas dos gêneros Macrocystis e Nereocystis apresentam estruturas que as mantém flutuando: os pneumatocistos, sendo esta associação denominada “kelp forest”. Enquanto que as macroalgas que não possuem flutuadores, como Laminaria, formam leitos sobre o costão, sendo então denominadas de “kelp beds”. As macroalgas pardas gigantes possuem um crescimento muito rápido e uma produtividade elevada. Macrocystis pirifera na Califórnia cresce em torno de 50 cm/dia e uma produtividade de 800 g C/m2, enquanto que “kelp beds atingem até 2000 g C/m2 no Oceano Índico. Os principais fatores limitantes para os bancos de “kelps” são as tempestades, a pastagem por ouriços e a ocorrência de fenômenos como o El Niño, que diminuem a produtividade na coluna d’água. Estes fatores atuando isoladamente podem afetar os bancos de “kelps’, mas quando atuam de forma sinérgica aí então seus efeitos podem ser devastadores. As comunidades de “Kelps” possuem uma diversificada fauna de invertebrados bentônicos. A grande superfície foliar abriga um grande número de integrantes da epifauna: briozoários, hidrozoários, poliquetas, anfípodos, isópodos, caranguejos. No substrato entre as plantas são comuns espécie de bivalvos, gastrópodos, anêmonas, caranguejos, poliquetas, estrelas e ouriços, entre outros invertebrados. Uma grande parte da produtividade primária produzida nos bancos de macroalgas é consumida diretamente por ouriços regulares, principalmente, Strongylocentrotus spp. Outros invertebrados como os gastrópodos tectibranquios do gen. Aplysia ou espécies de nudibranquios herbívoros também consome as macroalgas, mas seu impacto sobre as plantas é bem menor do que o causado pela pastagem dos ouriços regulares. Os denominados “anos bons” de recrutamento dos ouriços, quando a partir de um bem sucedido suprimento larval um grande número de exemplares recém assentados incorpora-se ao estoque adulto, podem determinar uma forte pressão de pastagem sobre os fundos de “kelps”. Parte da biomassa dos “kelps” entra na cadeia de detritos. As bordas dos bancos sofrem uma contínua abrasão pelas ondas o que libera uma grande quantidade de fragmentos que irão incorporar-se a cadeia de detritos no substrato. Em fundos com elevada biomassa de “kelps” os ouriços Strongylocentrotus spp., geralmente, se alimentam das folhas arrancadas pela ação hidrodinâmica. Em situações de baixa biomassa das plantas, em geral após a ação de tempestades ou devido o feito de alguma virose, os ouriços necessitam aumentar sua atividade de pastagem sobre as plantas remanescentes. Nesta condição atuam como raspadores-herbívoros retirando, principalmente, as plantas recém assentadas do substrato, o que traz enoprmes prejuízos para uma eventual recuperação do banco de “kelps”. As lontras, Enhydra lutris, são consideradas “espécies chave” na comunidade de Kelps do Pacifico Norte, pela predação que exercem sobre ouriços regulares, caranguejos e gastrópodos. Uma única lontra é capaz de consumir 9 Kg de presas por dia. A predação de lontras sobre os ouriços regula o balanço ecológico entre a produção dos “kelps” com a herbivoria efetuada pelos ouriços. LITERATURA COMPLEMENTAR Knox, G. A 2001. The Ecology of Seashores. CRC Press, Boca Raton, 557p. Little, C. & Kitching, J.A 1996. The Biology of Rocky Shores. Oxford University Press, New York, 240p. Nybakken, J. 1997. Marine Biology. An Ecological Approach. Harper Collins, New York, 462p. Pereira, R.C. & Soares-Gomes, A. 2009. Biologia Marinha. Segunda Edição. Editora Interciência, Rio de Janeiro, 631p. Raffaelli, D. & Hawkins, S. 1996. Intertidal Ecology. Chapman & Hall, London, 356p. Seeliger, U; Odebrecht, C. & Castello, J. P. 1998. Os Ecossistemas Costeiro e Marinho do Extremo Sul do Brasil, Editora Ecoscientia, Rio Grande, 326p.