SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA SOBRATI VENTILAÇÃO OSCILATÓRIA DE ALTA FREQUÊNCIA EM NEONATOLOGIA ELIANDRA BRUST CARRIÓ RIO DE JANEIRO 2010 ELIANDRA BRUST CARRIÓ VENTILAÇÃO OSCILATÓRIA DE ALTA FREQUÊNCIA EM NEONATOLOGIA Artigo apresentado à Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva – SOBRATI - Mestrado Profissionalizante em Terapia Intensiva. Rio de Janeiro 2010 RESUMO O presente estudo de revisão da literatura, teve por objetivo descrever a utilização da ventilação de alta freqüência em neonatologia. Revisão bibliográfica e seleção de publicações mais relevantes sobre ventilação de alta freqüência, utilizando as bases de dados Scielo e Medline publicadas nos últimos cinco anos. Foram utilizados os seguintes unitermos: ventilação de alta freqüência, ventilação mecânica, neonato. ABSTRACT The present review of literature aimed at describing the use of high frequency in neonatology. Literature review and selection of relevant publications on hightfrequency ventilation, using the databases Medline and Scielo published in the last five years. We used the following keywords: high-frequency ventilation, mechanical ventilation, neonates. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 04 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1 FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA DO NEONATO 2.2 VENTILAÇÃO OSCILATÓRIA DE ALTA FREQÜÊNCIA 2.3 COMPLICAÇÕES DA VOAF 05 05 06 07 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 08 4. METODOLOGIA 10 5. CONCLUSÃO 11 REFERÊNCIAS 12 1. INTRODUÇÃO A Unidade de Terapia Intensiva Neonatal é o local que concentra em uma mesma área física os recursos humanos e materiais necessários para dar suporte ininterrupto às funções vitais dos recém-nascidos. Nas últimas décadas a ventilação de alta freqüência oscilatória (VAFO) tem sido cada vez mais utilizada em Unidades Neonatais mundialmente, entretanto. seu papel na prevenção da morbidade respiratória, especialmente na Doença Pulmonar Crônica (DPC), no bebê muito prematuro ainda não se encontra bem esclarecida. A patogênese da DPC é multifatorial, todavia a imaturidade pulmonar, a alta pressão ventilatória e a toxicidade do oxigênio estão entre os principais fatores de risco. Os pequenos volumes de ondas usados durante a VAFO deveriam minimizar o volutrauma, uma vez que a VAFO é empregada como uma estratégia de recrutamento de volume. A toxicidade do oxigênio deveria também ser minimizada. Estes fatores reunidos resultariam numa diminuição da incidência de DPC. Para Henderson-Smart, Wilkson e Raynes-Greenow (2002), a partir da introdução da Ventilação Mecânica (VM) na neonatologia, na década de 60, foi constatada tanto redução considerável da mortalidade como o estabelecimento de uma nova categoria de doenças, as lesões induzidas pelo ventilador, incluindo a displasia broncopulmonar (DBP) e a ocorrência de extravasamento de ar. Para diminuir a incidência de DBP, foram efetuadas inúmeras modificações nas estratégias ventilatórias, implementando-se estratégia menos agressiva de VM. A utilização da Ventilação Oscilatória de Alta Freqüência (VOAF) em neonatologia, surge como relevante técnica de proteção pulmonar. 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1 FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA DO NEONATO As principais diferenças na fisiologia da criança podem ser encontradas nos recém-nascidos e lactentes. Após dois anos de idade, quase todas as modificações fisiológicas já ocorreram, tornando-a semelhante ao adulto. Os fatores que se relacionam com a viscosidade sanguínea aumentada, associada com hematrócrito elevado, devem ser levados em consideração porque podem interferir com as trocas gasosas, pela redução na perfusão pulmonar, cm todas as suas conseqüências. Da mesma maneira, a resistência vascular pulmonar tende a permanecer elevada e o fluxo sanguíneo pulmonar baixo, em crianças com pulmões hipoplásicos, os quais têm um número diminuído de vasos pulmonares. A circulação pulmonar do recém-nascido é um sistema dinâmico, de trocas rápidas, compreendendo vasos que: ainda estão aumentando em tamanho e número de acordo com o desenvolvimento rápido do pulmão; podem ser distendidos passivamente e portanto sensíveis para qualquer mudança de pressão externa (intratorácica) ou interna (veia ou artéria pulmonar; são passíveis de contrair ou dilatar ativamente em resposta a vários estímulos. Segundo Levin et.al (1976), Com o aumento da idade, a “maturação” de certos vasos ocorre, caracterizada por regressão da camada muscular média das arteríolas pulmonares e redução da espessura da parede do tronco pulmonar. Estas mudanças aumentam o tamanho do lúmen e diminuem a resistência ao fluxo, assim como melhoram a complacência dos vasos aumentando o fluxo pulmonar com menor pressão na artéria pulmonar. A musculatura das artérias pulmonares possui a particularidade de desenvolver-se até o nível dos bronquíolos terminais, continuando seu crescimento somente durante a infância e a adolescência, até o nível alveolar. A adaptação respiratória do recém-nascido à vida extra-uterina inclui maturação do centro bulbar e da mecânica dos pulmões, que se desenvolvem de maneira lenta, durante várias semanas após o nascimento. . Durante os primeiros anos de vida as modificações na dinâmica respiratória e a maturação dos pulmões ocorrem de maneira gradual. O conhecimento destas importantes características da fisiologia respiratória do recém-nascido e da criança até o primeiro ano de vida, torna o controle da ventilação durante uma anestesia pediátrica um desafio para o anestesiologista. Durante a vida intra-uterina, o feto apresenta movimentos respiratórios com atividade rítmica do diafragma durante o último trimestre da gravidez. Estes movimentos aparecem durante a atividade de sono REM, sendo mais ativos com níveis elevados de glicemia da mãe e nas primeiras horas após a refeição. A hipóxia, ao invés de estimular, deprime os movimentos respiratórios, podendo estar relacionada com a diminuição do sono REM como acontece na hipóxia. As alterações da PaCO2 no recém-nascido não são refletidas em mudanças no padrão respiratório do feto próximo ao nascimento (BODDY, ROBSONS, 1971). 2.2 VENTILAÇÃO OSCILATÓRIA DE ALTA FREQÜÊNCIA A ventilação de alta frequência (VAF) é uma forma radical de ventilação, diversa da ventilação pulmonar comum. Durante a ventilação com alta frequência, trabalha-se com freqüências acima de 2 Hz ( 2 a 100 Hz) e volumes muito inferiores aos do espaço morto anatômico. Sua utilização tem se mostrado útil em recémnascidos prematuros com síndrome de angústia respiratória e pacientes com outros graves problemas respiratórios. A razão prioritária para o uso da ventilação de alta freqüência, são os pequenos volumes respiratórios empregados que reduzem os grandes movimentos pulmonares, observados nas técnicas de ventilação convencionais, em contrapartida reduzindo a distensão da parede alveolar e aliviando o dano induzido pelo estiramento (CHANG, 1984). A VOAF caracteriza-se por uma frequência elevada de ciclos ventilatórios que possibilitam manter constantemente as vias aéreas abertas nas fases inspiratórias e expiratórias, sendo o seu uso mais frequente em Neonatologia. As vantagens teóricas da VAFO seriam, a saber: 1. manter a abertura das vias aéreas; 2. menor volume e pressão em cada fase respiratória; 3. troca gasosa em pressões significativamente mais baixas; 4. menor efeito sobre o sistema cardiovascular; 5. menor depleção do surfactante endógeno. Em alguns estudos tem se demonstrado em recém-nascidos prematuros com síndrome de angústia respiratória e em recém-nascido hipóxicos, uma melhora importante da oxigenação, entretanto, os dados publicados ainda são limitados. As vantagens da VAFO sobre a ventilação convencional foram comprovadas em pesquisas empregando modelos experimentais, resultando seu uso em insuflação pulmonar mais homogênea, melhor oxigenação e menor intensidade da lesão pulmonar, tendo tais fatos criado a expectativa de que essa modalidade ventilatória, quando estabelecida precocemente no curso da insuficiência respiratória do RN, poderia prevenir ou reduzir a DBP, melhorando, assim, o prognóstico desses pacientes (JOHNSON et. al., 2002). 2.3 COMPLICAÇÕES DA VENTILAÇÃO OSCILATÓRIA DE ALTA FREQÜÊNCIA Fioretto e Rebello (2009), descrevem as principais complicações da VOAF, a saber: Barotrauma e comprometimento hemodinâmico: são complicações decorrentes da utilização de altas pressões médias de vias aéreas. Mehta et al. (2004), relataram prevalência de 21,8% de pneumotórax e em 26% dos pacientes foi preciso descontinuar a VOAF por problemas hemodinâmicos. Todavia, em dois estudos randomizados e controlados, Derdak (2003) e Bollen et. al (2005) compararam VOAF com VMC a prevalência de pneumotórax e hipotensão foram comparáveis entre os grupos. Shan, Stewart e Mehta (2007) destacaram que o reconhecimento de pneumotórax é desafiador em pacientes sob VOAF, devendo-se avaliar a redução ou assimetria na vibração do corpo em resposta as ondas de pressão, ou um aumento na ΔP. Sedação profunda e, às vezes, curarização: Latronico, Peli e Botteri (2005) sugerem que tais condições podem conduzir ao prolongamento do tempo de ventilação mecânica e do tempo de internação, além da polineuropatia inerente a curarização. Obstrução de vias aéreas e tubo traqueal por secreções: segundo Fort et. al (1997) tais complicações ocorrem com freqüência de 4% a 5%, sendo importante promover adequada umidificação devido ao alto fluxo de gás e ventilação minuto. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Em pediatria, a Ventilação Oscilatória de Alta Freqüência (VOAF) foi primeiramente utilizada com sucesso em neonatos e, não obstante o aumento da utilização deste modo ventilatório em crianças com SDRA, existem apenas treze publicações sobre mortalidade, segundo Ben Jaballah et. al (2006), poucos estudos prospectivos e apenas um estudo randomizado controlado. Na população pediátrica, estudo controlado e randomizado, conduzido por Arnold et al. (1994) comparou o uso de Ventilação Oscilatória de Alta Freqüência (VOAF) e da ventilação convencional em crianças com LPA/SDRA, concluindo que houve melhora da oxigenação e do recrutamento pulmonar, entretanto a duração da ventilação mecânica e a mortalidade em 30 dias não foram modificadas. Ben Jaballah et al. (2006), em estudo clínico prospectivo de 12 crianças com SDRA, demonstraram que a VOAF melhora troca gasosa de forma rápida e sustentado nos indivíduos que apresentaram falha com a VMC. Ramos, Odeh e Lopes (1994), objetivaram avaliar a função pulmonar do recém-nascido a termo, comparando as técnicas clássicas de análise com a técnica não invasiva de análise de um ciclo respiratório, descrevendo o laboratório de fisiologia pulmonar desenvolvido no IFF e o software utilizado. Os resultados mostram valores para a CP de 1.78 + - 0.36 ml/cmH2O/kg, para a CSR de 1.12 + 0.27 ml/cmH2O/kg e para a RSR de 16 + - 4 cmH2O/l/seg/kg. A metodologia utilizada mostrou dados semelhantes aos da literatura e excelente reprodução técnica, concluindo os autores que o uso regular das provas de função pulmonar nas Unidades Neonatais, certamente, levará à melhoria do cuidado destas crianças, contribuindo para a compreensão dos problemas respiratórios no período neonatal, tornando-se viável estudar a evolução das doenças respiratórias na sua fase aguda, o efeito de determinadas terapias, como, por exemplo, os broncodilatadores e surfactantes, além de avaliar seqüelas pulmonares do tratamento intensivo neonatal. Oliveira e Moran (2009), em estudo um estudo descritivo retrospectivo, avaliaram o índice de sucesso e insucesso das modalidades de ventilação mecânica não invasiva pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) e ventilação por pressão positiva intermitente nasal (NIPPV) durante e pós-extubação, tendo sido observado nos resultados que no total da amostra, 23 RNTPs utilizaram CPAP aleatoriamente, após extubação, desses, 14 obtiveram sucesso e 9, insucesso. Relativo à indicação do NIPPV, 4 RNTPs se submeteram ao NIPPV, 1 (25%) obteve sucesso, e 3 insucesso. A indicação para a ventilação não invasiva se baseava em critérios empíricos, considerando um maior número de RNTPs submetido à pressão positiva contínua, resultando no sucesso do método utilizado. Em estudo realizado por Fioretto e Rebello (2009), os autores objetivaram rever a literatura e descrever a utilização da ventilação oscilatória de alta freqüência em crianças e recém-nascidos, obtendo como resultado que, em crianças maiores, a ventilação oscilatória de alta freqüência é uma opção terapêutica, principalmente na síndrome do desconforto respiratório agudo, devendo ser empregada precocemente, podendo também ser útil em casos de síndrome de escape de ar e doença pulmonar obstrutiva. Em recém-nascidos, não existem evidências que demonstram superioridade da ventilação oscilatória de alta freqüência relativa à ventilação convencional, sendo a síndrome de escape de ar a única situação clínica em que há evidência de melhores resultados com este modo ventilatório. Courtney et al. (2004) demonstraram em estudo realizado, que o benefício do uso da VOAF em relação a VMC apenas foi observado quando se restringiu a inclusão de recém-nascidos de muito baixo peso que atingissem critério de maior gravidade, baseado na FiO2 e MAP após a administração de surfactante. Rimensberger et al. (2000) estudaram RNs de baixo peso com SDR submetendo-os, logo após a intubação, à otimização de volume pulmonar (por aumento da pressão de distensão contínua até 25 cmH2O) e ventilação oscilatória de alta freqüência e os comparou com RN controles históricos. Os autores verificaram que os RNs do grupo tratado necessitaram de menos tempo de VM e apresentaram menor broncopulmonar. dependência de oxigênio, com menos displasia 4. METODOLOGIA Trata-se de uma revisão da literatura, a qual considerou como fonte de dados os materiais indexados nas bases de dados bibliográficos SCIELO e MEDLINE, utilizando-se dos seguintes unitermos: ventilação de alta freqüência, ventilação mecânica, neonato. Outros materiais foram obtidos por meio de pesquisa não-estruturada ou voluntária em bibliotecas locais com consulta a livros-texto consagrados na área de UTI, relacionados ao foco da pesquisa. Segundo Mynaio (1994, p. 43), “fundamentando-se em conceitos e definições extraídos da bibliografia consultada, parece-nos correto afirmar que o modo pelo qual os dados serão tratados, será o método dialético”. Através do tratamento qualitativo dos dados coletados – comparar e analisar os métodos, conceitos e práticas coletados – apresentar-se-ão soluções para possíveis problemas e conclusões. 5. CONCLUSÃO As estratégias de suporte ventilatório utilizadas no recém-nascido tem sido motivo de grande investigação. Os dados disponiveis na literatura confirmam que a VOAF e uma modalidade ventilatória segura e disponível para uso em neonatologia, entretanto não existem evidências que demonstrem claro beneficio ou vantagem da VOAF em relação a VMC em recém-nascidos, quer na forma de terapia inicial ou de resgate. A única situação clínica em que há evidência de melhores resultados com a VOAF é o ar extrapulmonar, particularmente na fístula broncopleural. Como qualquer nova tecnologia introduzida na prática clínica, o uso da VAFO ainda segue a curva de aprendizado, dessa forma, o seu real papel e a melhor estratégia no manuseio de seus parâmetros no tratamento de neonatos com insuficiência respiratória ainda está por ser definida. Até o momento, as evidências indicam que a VAFO não deva ser considerada como uma alternativa e sim como uma terapia ventilatória complementar à ventilação convencional no manejo de RN com insuficiência respiratória grave, sendo útil lembrar que as complicações observadas na ventilação convencional não ocorrem em menor freqüência durante a VAFO. Assim sendo, a introdução segura dessa modalidade ventilatória requer um treinamento cuidadoso de toda equipe que lida direta ou indiretamente com o RN criticamente doente. BIBLIOGRAFIA ARNOLD, JH.; HANSON, J.H.; TORO-FIGUERO, L.O. et al. Prospective, randomized comparison of high-frequency oscillatory ventilation and conventional mechanical ventilation in pediatric respiratory failure. Crit Care Med.; 22:1530-1539, 1994. BEN JABALLAH, N.; KHALDI, A.; MNIF, K, et al. High-frequency oscillatory ventilation in pediatric patients with acute respiratory failure. Pediatr Crit Care Med.; 7:362-367, 2006. BOLLEN CW, et al. 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