USO DA CICLOSPORINA NA TERAPIA DE DERMATITE ATÓPICA Maria Virgínia de Freitas Barbosa Lima1, Evilda Rodrigues de Lima2, Michelle Suassuna de Azevedo Rêgo3, Daniela da Silva Pereira4, Ivany Raquell Martins de Araújo4, Carolina Carvalho dos Santos Lira4, Magda Lorena Batista Freitas4, Wanessa Michelle Silva4, Kath Freire de Vasconcelos. Introdução A atopia é uma doença geneticamente programada de cães, em que o paciente torna-se sensibilizado a antígenos ambientais que, nos animais não atópicos, deixam de criar doenças, [1]. Além disso, a atopia foi definida como doença reagínica mediada por anticorpos [2]. A patogenia da dermatite atópica é complexa e ainda têm surgido novos conceitos a respeito de sua etiologia. Em seres humanos, demonstrou-se que a doença esta associada a uma elevada ativação de linfócitos T, células de Langerhans hiperestimulatórias, imunidade mediada por células defeituosas e superprodução de células B IgE. Alem disso, contribuem para a dermatite uma capacidade anormal de resposta bioquímica e a liberação de mediadores pelos monócitos, mastócitos e eosinófilos [3]. É possível ainda que a inflamação cutânea se autoperpetue, em função da continuidade das arranhaduras e das alterações secundárias na pele, mesmo na ausência do alérgeno[4]. De modo geral, os sinais clínicos da dermatite atópica são observados pela primeira vez quando os animais estão tem entre 1 e 3 anos de idade. Entretanto, a doença tem sido observada inicialmente em animais bem jovens, aproximadamente 12 meses de idade e nos bem velhos aproximadamente 16 anos. Caso surja sensibilidade a polens, a condição provavelmente é sazonal. Entretanto, muitos animais exibem doença perene, refletindo assim a importância da alergia a ácaros da poeira doméstica e ao pó doméstico [4]. Clinicamente os animais apresentam prurido, embora a intensidade do mesmo possa variar durante alguns períodos, bem como de um animal para outro, eritema e alterações secundárias na pele, como hiperpigmentação e liquenificação, podem ser encontrados no espaço interdigital , nas orelhas, ao longo do ventre, no períneo, na axila e na face. Dependendo do grau da duração e do grau da inflamação, pode ocorrer alopecia em qualquer uma das áreas acometidas. Muitas vezes, ocorrem infecções secundárias [4]. Para que se firme o diagnóstico de atopia, devem ser afastadas as possibilidades de dermatite alérgica a picadas de ectoparasitas (DAPE) e alergia alimentar (AA). Pode-se dispor de testes sorológicos de detecção de IgE no soro de pacientes. Segundo [5,6] esses testes não são efetivos para um diagnóstico definitivo de DAPE, da AA ou da atopia. Mediante uma dermatopatia alérgica, deve-se avaliar a possibilidade de presença de pulgas, carrapatos ou de infestação do paciente avaliado. Se os animais apresentarem parasitas, estes devem ser eliminados por 4060 dias, havendo melhora do quadro lesional e do prurido, confirma-se o quadro de DAPE; caso não haja melhora deve-se alterar a dieta do animal por oito a treze semanas, utilizando ração comercial com proteínas hidrolisadas ou comida caseira com fontes de proteínas desconhecidas pelo organismo. Caso o paciente não melhore após a dieta, fica estabelecido o diagnóstico de atopia, conforme [5,7]. Se o diagnóstico de atopia for firmado o quadro será insolúvel, por tratar-se de doença genética [5]. Os mecanismos da dermatite atópica ainda não são totalmente definidos, porém sabe-se que a patogenia da atopia envolve um defeito na barreira epidérmica, que pode provocar maior contato entre o SIC (Sistema imunológico cutâneo) e antígenos ambientais; sensibilização maior das células de Langerhans; maior ativação de linfócitos T; reação de mastócitos, IgE e liberação de mediadores como histamina e diferentes interleucinas [6]. Esta complexa interação resulta em sintomas como inflamação e congestão, que promovem eritrema e prurido, levando a escoriações e maior exposição a microrganismos oportunistas como bactérias e leveduras, e finalmente oferecendo processos secundários de disqueratinização, malasseziose e foliculites bacterianas, levando a um controle difícil da sintomatologia, gerando processos crônicos e diminuindo a qualidade de vida [7, 8]. Na tentativa de substituir os corticosteróides, a ciclosporina tem demonstrado ótimas propriedades antialérgicas, pois inibe a função das células que iniciam a reação imunológica (i.e. Langerhans e linfócitos) e das células que efetuam a resposta alérgica (mastócitos e eosinófilos) e diminui a liberação de histamina e de várias citocinas por todas as células citadas, além de queratinócitos. ________________ 1. Estudante da Graduação em Medicina Veterinária e integrante do Programa de Educação Tutorial (PET) da UFRPE. E-mail: [email protected] 2. Estudantes de Graduação em Medicina Veterinária da UFRPE e integrantes do Programa de Educação Tutorial ( PET). 3. Professora e Diretora do Departamento de Medicina Veterinária da UFRPE. 4. Médica Veterinária Residente do Hospital Veterinário da UFRPE 5. Estudantes de Graduação em Medicina Veterinária da UFRPE. Segundo [9,10,11] as ações antialérgicas desta substância são semelhantes às dos corticóides, porém por diferentes mecanismos. Este fármaco se destaca por oferecer poucos efeitos colaterais, que podem ser diarréia, hipertensão, papilomatose oral e hiperplasia da gengiva. Segundo [8, 12, 13, 14, 15] existe maior segurança da ciclosporina em relação aos corticóides, quando são utilizados doses de 5 mg/Kg a cada 24 horas. Os protocolos de uso da ciclosporina visam à diminuição da dose após a melhora satisfatória dos sintomas, mantendo-se o número de miligramas por quilo de peso, mas aumentando o intervalo de horas entre as aplicações, chegando à menor dose possível. Objetivou-se neste trabalho, avaliar a efetividade do controle do quadro clínico com o uso da ciclosporina, a possibilidade de diminuição da dose inicial, o surgimento de efeitos colaterais, bem como as alterações nos teste laboratoriais. Material e métodos Cão, SRD, quatro anos, foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural de Pernambuco. O paciente apresentava quadro de atopia crônica com mais de doze meses de evolução, prurido intenso e mais de 50% da superfície corpórea acometida. Quando tratado com corticóide, apresentou severos efeitos colaterais. Já havia sido feito controle rigoroso de ectoparasitos utilizando-se de fipronil, a cada quinze dias, durante 45 dias, e dieta de eliminação (por mais de 45 dias). O paciente foi tratado por seis meses com ciclosporina e o controle parasitário foi mantido durante o tratamento. O mesmo não recebeu nenhum tipo de corticoideterapia tópica ou sistêmica durante o tratamento. No protocolo de tratamento, foi administrado durante 60 dias contínuos a ciclosporina A (Sandimun neoral, Novatis), 5 mg/Kg a cada 24 horas, e posteriormente recebeu o mesmo fármaco, na mesma dose, porém a cada 48 horas por outros 30 dias. Para avaliação laboratorial, foram colhidas amostras de sangue para os exames (hemograma completo, uréia, creatinina, fosfatase alcalina, ALT, AST) no primeiro dia do tratamento, e posteriormente a cada 60 dias. Resultados e Discussão O animal respondeu satisfatoriamente ao tratamento, apresentando melhora de 100% do prurido com conseqüente desaparecimento de lesões autotraumáticas. Não houve alterações nos exames laboratoriais, as avaliações bioquímicas mantiveram-se dentro dos parâmetros de normalidade quando da primeira colheita e, durante o acompanhamento do tratamento, os níveis baixaram até a normalidade. O animal não apresentou papilomatose oral, hiperplasia de gengiva ou hirsutismo. Alguns estudos com ciclosporina no tratamento da atopia canina avaliaram a melhora clínica em períodos que variaram de catorze dias a trinta meses de tratamento. O tratamento com ciclosporina foi mantido por todo o acompanhamento, porém não foi possível a interrupção da administração do fármaco. A ciclosporina deve ser utilizada diariamente, com acompanhamento ora do prurido, ora das lesões cutâneas [13, 14,15]. Alguns autores relatam a diminuição gradativa da dose [8,9], porém sem revelar os percentuais de êxito obtidos. Agradecimentos A Deus, por todos os meus dias, pela minha família e por todas as oportunidades. A Professora e Doutora Evilda, pela paciência em instruir, a Doutora Michelle por sua dedicação e princípios clínicos e a Daniela por ajuda e confiança depositada. Referências [1]MULLER, GEORGE H. dermatologia de pequenos animais ed Interlivros, Rio de Janeiro, 1996. pg 403. [2]HALLIWELL, R. E. W., GORMAN, N. T.: Clinical and immunological aspects of allergic skin diseases in domestic animals, 1990, p. 91. [3]HALLIWELL REW, Preston SF and Nesbitt JG , Aspects of the inmunopathogenesis of flea allergy dermatitis in dogs. Vet. Immunol and ammunopathol, 17: 483-94 [4]HARVEY,R.G. Manual colorido de dermatologia do cão e do gato. Ed. Revinter, 2004. pg 20 [5]OLIVRY, T.; treatment of canine atopie dermatitis with cyclosporin: A pilot study. Veterinary Record, v. 148, p. 662-663, 2001. [6]SCOTT, D.W.; MILLER Jr.; W. H; GRIFFIN, C. G. Small animal dermatology. Philadelphia Sauders, 2001. 1528p [7]NESBITT, G.H.; ACKERMAN, L.J. canine and feline dermatology. New Jersey, Veterinary Learning Systems, 1998, 517p. [8]WILKINSON, G.T.; HARVEY, R.G. Small animal dermatology – a guide to diagnosis. 2. ed, London, Mosby-Wolf Publishing, 1994, 304p. [9]STEFFAN,J.; ROHLFS,A. Cyclosporin A pharmacokinetics and efficacy in the treatment of atopic. Journal of Veterinary Pharmacotherapy, n. 27, 2004. [10] RADOWICZ,S.N; POWER,H.T.long term use of cyclosporine in the treatment of canine atopic dermatitis. Veterinary Dermatology, 2005. [11] OLIVRY, T.; RIVIERRE,C.; JACKSON,H.A.; SOUSAS,C. Cyclosporine decreases skin lesions and pruritus in dogs woth atopic dermatitis; a blinded randomized predinisolone-controlled trial. 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