251 PREPARO PRÉ-OPERATÓRIO DO CÓLON E MANEJO DE ESTOMAS INTESTINAIS Dr. Mário Pantaroto Dr. Luiz Alberto Costa PREPARO PRÉ-OPERATÓRIA DO CÓLON I. Para Cirurgias Eletivas: Sempre será associado, constando de limpeza mecânica e antibioticoterapia profilática. LIMPEZA MECÂNICA: Uso de laxantes de contato ou preferencialmente osmótico. Preparo “Standard”: Início na antevéspera da cirurgia: o Dieta líquida sem resíduo e sem derivados lácteos; o Manitol a 10% (manitol a 20% diluído até 10% em suco de laranja ou outro para sabor) volume = 600ml. Tomar em porções de 200ml cada hora pela manhã. Na véspera: o Dieta líquida sem resíduo, estimular a ingesta de líquidos e sem derivados lácteos. Observações importantes: 1. Observar resposta à dose de laxante utilizada na véspera, considerando a consistência das fezes e intercorrências clínicas. 2. Se não ocorreram sinais obstrutivos, dor ou intercorrência clínica, prescrever nova dose de manitol a 10%, mesma diluição, 800ml e em doses de 200ml a cada hora, sempre pela manhã. 3. Observar no decorrer do dia complicações como dor, desidratação e se necessário interromper o preparo. 4. Fleet enema, ou clister glicerinado 100ml, duas unidades intervalo de 2 horas no final da tarde. 252 O residente deve observar efeito do preparo de cólon, observando os parâmetros: Evacuação presente? Está obstruído? Consistência fecal? O objetivo é obter fezes líquidas, sem resíduo fecal e de coloração próxima à límpida. Após os enemas o residente de plantão deverá examinar o doente, pesquisando complicações do método utilizado (desidratação) e fazer toque retal para confirmar o efeito do preparo. Se necessário prescrever mais clistéres. Durante a noite o paciente poderá ser hidratado com solução salina, contendo também potássio, se for observada desidratação. Esse preparo de cólon poderá ser prescrito para paciente com patologia clínica concomitante, que tenha sido liberado para o ato proposto. Nesse caso o acompanhamento de parâmetros clínicos, como hidratação ou hipervolemia e concentração de Na+ e K+ devem ser monitorada no decorrer do preparo. Consiste contra-indicação formal para utilização de preparo de cólon a existência de obstrução intestinal, que será conduzida com cirurgia de urgência, sem preparo mecânico, apenas necessitando antibioticoterapia. Qualquer paciente a ser submetido a laparotomia exploradora com possibilidade de ressecção de intestino grosso deverá também receber preparo de cólon pré-operatório nesses moldes. ANTIBIOTICOTERAPIA: Profilático - Esquema já definido, duas doses, a primeira na indução anestésica e outra observando a meia vida de cada antibiótico. II. Preparo de Cólon Para Fechamento de Colostomias: Utilizar o mesmo esquema via oral e antibiótico (standard) para qualquer forma de colostomia 253 Associar três clisteres na véspera (500ml), para limpeza do segmento distal ao segmento exteriorizado, sempre via retal e nunca pelo “stoma”, associando 1 grama de sulfato de neomicina em cada solução. III. Urgências: Patologia obstrutiva do cólon esquerdo: em casos especiais realizar limpeza no intra-operatório, irrigando o cólon com solução fisiológica e povidona degermante a 6%, aquecida, até saída de liquido límpido pela sonda de coleta. IV. Preparo de Cólon para Colonoscopia: Utilizar o preparo orientado pelo serviço de referência ou na falta desse: Considerar sempre a possibilidade do paciente estar obstruído, o que contraindica preparo via oral. Lembrar que pacientes obstruídos têm o cólon distal limpo. Prescrever laxante osmótico: Manitol a 10%, como descrito anteriormente, 200ml, administrado em dose única, na manhã do dia do exame, quatro horas antes do horário estimado para o procedimento; Fleet-enema 1 hora antes do horário do exame; Antes de enviar o paciente para o exame, observar as características das fezes, somente liberar se tiver eliminado líquido claro sem resíduo fecal. Prescrever um 2° “fleet enema” se a limpeza não foi satisfatória. ESTOMAS INTESTINAIS Algumas referências médicas sobre as colostomias são encontradas a partir do século XVlll, com Littré e Pillore. Na Dinamarca, em 1951, foi criada a primeira Associação dos Ostomizados e no Brasil, em 1979, o Centro Paulista de Assistência ao Ostomizado. Colostomia é a exteriorização através da parede abdominal de uma alça cólica, por onde passam a ser eliminados os gases e as fezes. Tem a finalidade de desviar o trânsito intestinal no tratamento de ferimentos colorretais, neoplasias, doenças inflamatórias e nas lesões perineais extensas. Pode ser exteriorizada 254 qualquer parte do colo ou íleo, sendo os segmentos mais utilizados o colo transverso, o íleo distal e o sigmóide, pela mobilidade que apresentam. As ileostomias ou colostomias são realizadas com maior freqüência entre o rebordo costal e a cicatriz umbilical ou entre a crista ilíaca ântero superior e cicatriz umbilical, passando entre as fibras do músculo reto abdominal. Não devem ser planas, porém com uma elevação de 1 a 2 cm, o que facilita a adaptação de bolsas e permite que o efluente passe diretamente para o coletor sem entrar em contato com a pele. É muito importante a marcação do local correto onde será exteriorizada a alça intestinal. Isso deve ser realizado no pré-operatório, com o paciente em pé, pois a flacidez cutânea do abdome pode alterar a localização final do estoma. Deve-se evitar a exteriorização de estomas próximos a saliências ósseas, pois isto dificulta a fixação de bolsas coletoras. A reconstrução do trânsito intestinal das colostomias ou ileostomias temporárias deve ser de aproximadamente 40 dias após a realização das mesmas e requer preparo de colo, conforme já descrito em outro protocolo. Apresenta como complicações mais comuns no fechamento das colostomias, a deiscência da anastomose ou a formação de abscesso na parede abdominal. CLASSIFICAÇÃO As colostomias e ileostomias podem ser temporárias ou definitivas, terminais ou em alça e de maturação (precoce) no intra-operatório ou (tardia) no pós-operatório. COMPLICAÇÕES Infecção do subcutâneo e formação de abscesso: apresentam evolução benigna e melhoram com a drenagem e antibioticoterapia. Dermatite: provocada tanto pelo adesivo ou pelo contato com o conteúdo fecal, porém é observado comprometimento mais intenso da pele nas ileostomias, onde a eliminação de efluentes líquidos é quase constante. Necrose: por irrigação sanguínea inadequada, ou por abertura insuficiente da parede por onde é exteriorizada a alça. Quando a necrose for limitada ao nível da pele, uma conduta expectante pode ser adotada, porém se a 255 necrose for mais profunda a colostomia deverá ser refeita até que seja exteriorizado um segmento de alça viável. Estenose: quando ocorre infecção grave em torno das colostomias ou dermatites freqüentes. Procidência: (exteriorização de todas camadas), freqüentemente chamada de prolapso, embora pequenas procidências podem ocorrer devido algum esforço físico ou após alguns anos. As grandes procidências ocorrem com maior freqüência nas transversostomias onde colostomias em alça, principalmente nas a protrusão cólica ocorre predominantemente no coto distal. O tratamento é cirúrgico, se causar dor ou desconforto. Hérnia paracolostômica: pode ocorrer desde um pequeno abaulamento aos esforços até grandes herniações que deformam a imagem corporal, causam dor, desconforto, dermatite que dificulta a adaptação das bolsas e eventualmente ordem encarcerar. A hérnia é do tipo incisional, e a superfície da mucosa do estoma não é afetada, ocorre geralmente por aumento da pressão abdominal, obesidade, deiscência das suturas, infecção da parede. A correção é realizada mudando-se o local da colostomia ou realizando reforço da parede abdominal com tela sintética. CUIDADOS COM OSTOMIZADOS Os cuidados devem ser iniciados antes da cirurgia, como a marcação do local adequado para a colostomia (que permita boa adaptação da bolsa e seja visível pelo paciente) e no pós-operatório, orientar o paciente e familiares, como trocar as bolsas a limpeza, que deverá ser feita com água e sabonete, não se devendo utilizar álcool, éter, benzina ou outros produtos. Nas Unidades de Apoio aos Ostomizados, uma equipe multiprofissional com psicólogo, médico e enfermeira, auxiliam na reabilitação destes pacientes. Também fornecem gratuitamente bolsas, placas de resina, pastas para adaptação das placas, sistema para irrigação, cintos etc. (em 1997 foi padronizado pela Secretaria de Saúde a utilização de bolsas e acessórios para ostomas em todas as redes atendidas pelo SUS). 256 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Cronin E. Best practice in discharging Nurs Times. 2005 Nov 22-28;101(47):67-8. patients with a stoma. 2. Bucher P, et al. Morphologic Alterations Associated With Mechanical Bowel Preparation Before Elective Colorectal Surgery: A Randomized Trial. Dis Colon Rectum. 2005 Nov 8 3. Gonullu D, et al. The effect of selective bowel decontamination and mechanical bowel preparation on bacterial translocation due to intraabdominal hypertension. Ulus Travma Derg. 2005 Jul;11(3):201-5. Turkish. 4. Nunoo-Mensah JW, et al. 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