GÊNESE DAS JAZIDAS MINERAIS Curso de Geologia – Disciplina: Geologia Econômica GRUPOS DE DEPÓSITOS MINERAIS RELACIONADOS À MAGMATISMO: classificações, conceitos e/ou definições básicas e exemplos de depósito conforme diversos autores. Grupos de depósitos relacionados ao magmatismo Bateman (1942), Jensen e Bateman (1979) A - CONCENTRAÇÃO MAGMÁTICA Os depósitos magmáticos se caracterizam por sua íntima associação com rochas ígneas intrusivas: eles mesmos são rochas ígneas com uma particular composição mineral que as torna útil ao homem. Pode constituir (1) toda a massa de rocha ígnea, ou (2) parte delas ou, ainda, (3) corpos segregados. Resultam da concentração de certos minerais acessórios ou pouco comuns presentes no magma, gerando corpos de tamanho e riqueza suficientes para constituir jazidas minerais. Os depósitos magmáticos são também designados de segregações magmáticas, injeções magmáticas ou depósitos singenético ígneos. A concentração dos minerais a partir do magma se faz de vários modos e em diferentes períodos da cristalização do magma. Assim, alguns minerais de minério têm cristalização precoce, outros, tardia, em relação ao evento da consolidação magmática e, outros, ainda, permanecem como líquidos imiscíveis até após a cristalização da rocha encaixante. I - Depósitos magmáticos precoces Os minerais de minério se cristalizaram antes das rochas silicatadas e em parte, possivelmente, se separaram por diferenciação por cristalização. São conhecidos, também, por depósitos ortomagmáticos. São reconhecidos 3 modos de formação para esses minérios: (1) por cristalização simples, sem concentração (disseminação); (2) segregação de cristais precocemente formados e (3) rejeição de materiais previamente concentrados por diferenciação. a) Disseminação É o resultado da cristalização "in Situ" de um magma profundo, conduzindo a uma rocha ígnea granular, contendo de forma disseminada, minerais úteis de cristalização precoce. O depósito magmático resultante corresponderá à toda massa ígnea ou parte dela e terá a forma intrusiva, que poderá ser um dique. "pipe", bossas, "stocks", etc. Exemplos: 1- "pipes" diamantíferos 2- córidon em nefelina sienitos (EUA) 3- cromita de Muskox (Canadá) b) Segregação Diz respeito à concentração local de minerais precoces como um resultado da diferenciação por cristalização (gravitativa). Distingue-se da injeção, onde o diferenciado mudou de posição após a consolidação. A segregação pode realizar por (1) afundamento de minerais densos, (2) acumulação marginal ou (3) estrangulamento de fluxo, flotação, fluxo, gravidade. Exemplos: são praticamente restritos aos depósitos de cromita (Bushveld, África do Sul; Selukwe - Grande Dique, Zimbabwe; Stillwater e Muskox, Canadá). (Vários depósitos de magmatita, ilmenita e sulfetos niquelíferos, anteriormente aqui incluídos, passaram para a classe dos depósitos magmáticos tardios). c) Injeções Por este processo os minerais de minério são concentrados possivelmente por diferenciação durante a cristalização, porém, não permanecem no local de acumulação, mas, são injetados na própria rocha ígnea ou nas rochas encaixantes, como uma massa de cristais de óxidos fluidizados. O minério á mais antigo ou contemporâneo que a rocha associada. Os depósitos mostram relações estruturais com as rochas encaixantes indicativas de injeção: seccionam as estruturas, contêm fragmentos da rocha encaixante, apresentam-se como diques ou outro corpo intrusivo. Exemplos: 1. magnetita titanífera de Cumberland (EUA) 2. magnetita de Kiruna (Suécia) 3. ilmenita do Lago Allard (Canadá) 4. "pipes" platiníferos (África do Sul). 5. alguns corpos de cromita de Bushveld Nota: se os grandes depósitos desta classe, tais como os de Kiruna ou do Lago Allard, são corpos injetados, a diferenciação e concentração devem ter ocorrido antes da injeção. Aqui se coloca o problema da injeção propriamente dita, uma vez que se conhece as dificuldades da realização de um tal processo com cristais sólidos. Algumas sugestões foram propostas para solução deste problema, mas, parece que os exemplos de depósitos comumente citados nesta classe e os anteriormente exemplificados melhor se colocariam como corpos magmáticos tardios resultantes da consolidação de magmas residuais. Alguns depósitos, inclusive, passaram a exemplificar classes de jazidas completamente distintas, como é o caso de Kiruna, modernamente considerada como vulcanogênica. II. Depósitos magmáticos tardios Estes depósitos são constituídos por minerais de minério que se cristalizaram a partir de uma magma residual no fim do período magmático (ou seja, após a cristalização dos silicatos de rocha precocemente formados). Os minerais de minério são posteriores aos silicatos de rocha, seccionando-os, envolvendo-os e gerando neles bordas de reação. Esses depósitos tardios estão sempre associados a rochas ígneas máficas e resultaram de variações do processo da diferenciação por cristalização: (1) acumulação gravitativa de líquidos residuais densos e (2) separação líquida de sulfetos (também chamada de imiscibilidade líquida). O líquido magmático residual (usualmente contendo produtos voláteis) gerador do minério poderá, esquematicamente, apresentar os seguintes comportamentos: 1 - permanecer nos interstícios intergranulares dos minerais formados. A consolidação nesse estágio terá como resultado a dosseminação de grãos de minerais de minério tardios em rochas ígneas máficas. 2 - ser forçado para fora dos interstícios intergranulares. 3 - ser drenado e assentar-se sobre uma camada sólida rochosa subjacente. a) aí ele poderá solidificar-se, resultando num depósito concordante com suas rochas hospedeiras, ou b) sob pressões, ser injetado, ao longo de fraturas na parte externa solidificada da rocha ígnea ou das rochas circunvizinhas. Nos depósitos magmáticos tardios distingue-se (1) aqueles resultantes da consolidação de líquidos residuais (simplesmente segregados ou injetados) e (2) aqueles resultantes da consolidação de líquidos imiscíveis (simplesmente segregados ou injetados). II.a - Segregação de líquidos residuais O magma residual de certos magmas máficos pode tornar-se enriquecido em ferro, titânio e voláteis à medida que ocorre a cristalização do plagioclásio cálcico e de minerais ferromagnesianos. à medida que se processa a cristalização o volume do líquido diminui e torna-se mais denso devido à concentração do ferro. A segregação deste líquido, enriquecido em Fe ou Fe+Ti, dos cristais inicialmente formados se faz pelas relações entre suas diferentes densidades, levando à formação de corpos concordantes de óxidos de ferro ou ferro-titânio, estendendo-se acima dos cristais precoces mais densos e abixo da camada de cristais precoces mais leves. Exemplos 1. camadas de magnetita titanífera do Complexo de Bushveld 2. depósitos concordantes de magnetita de Adirondack (EUA) 3. ilmenita do Lago Allard (Canadá) II.b - Injeção de líquidos residuais O líquido residual enriquecido em ferro, tal como citado acima, pode antes da consolidação ser submetido a movimento. Seja devido a uma ligeira inclinação (basculamento) das rochas hospedeiras, ou devido a pressões próprias do ambiente onde se consolidam essas rochas. A retirada sob pressão do líquido residual dentre os interstícios dos silicatos (tal como a água de uma esponja) é chamada de “filter pressing”, embora sempre uma parte do líquio permaneça. Os minerais silicatados mostrarão os efeitos de tal processo, tais como: vértices e arestas quebrados, cristais deformados, arqueados, fragmentados. Exemplos: 1. certos depósitos de titanomagnetita de Adirondack e Iron Mountain (EUA) 2. ilmenita do Lago Allard (Canadá) 3. magnetita de Kiruna (Suécia) atualmente em outra classe de jazidas). II.c - Injeção de líquidos residuais pegmatíticos Os pegmatitos resultam da injeção de fluidos magmáticos tardios contendo, além dos constituintes dos minerais tardios formadores de rochas, produtos voláteis, elementos raros, mineralizadores e metais. Usualmente se apresentam na forma de diques ou corpos intrusivos irregulares. II.d - Segragação de líquidos imiscíveis O resfriamento de uma magma máfico, contendo em solução sulfetos de Fe, Ni e Cu, pode levar à separação de gotas de sulfeto imiscível, que podem acumular no assoalho da câmara magmática, formando segregações líquidas de sulfetos. O minério resultante deve ser pensado como uma rocha ígnea máfica (usualmente da família do gabro) com segregações de sulfetos maciços onde estes minerais são so dominantes. A cristalização da fusão sulfetada ocorre posteriormente à dos silicatos donde se desenvolvem feições de penetração, corrosão e envlvimento da fase silicatada anterior. Tais relações foram frequentemente interpretadas como hidrotermais. A composição mineral é relativamente simples, e os depósitos resultantes incluem minérios de: níquel-cobre (pirrotita-calco-pirita-pentlandita) e quantidades variáveis de platina, ouro e prata. Exemplos: 1. sulfetos de Ni-Cu de Insizwa, sulfetos niquelíferos do Bushveld (África do Sul) 2. alguns depósitos de Sudbury (Canadá) 3. depósito de Minnamax (Complexo de Duluth, EUA) II.e - Injeção de líquidos imiscíveis É o caso em que a fração enriquecida em sulfetos seja empurrada por ação de pressões, antes de sua consolidação, em direção a locais de menor pressão, tais como as áreas (marginais) cisalhadas e brechadas, da rocha-fonte ou de suas rochas encaixantes. Exemplos: 1. Vlackfontein (África do Sul) 2. alguns depósitos niquelíferos da Noruega III - Metassomatismo de contato Os depósitos metassomáticos de contato resultam da ação de certos corpos intrusivos (notadamente félsicos, de natureza intermediária, tais como quartzo diorito) sobre suas encaixantes (usualmente rochas carbonatadas impuras ou vulcânicas). Aos efeitos das transformações térmicas (metamorfismo de contato) são somados aqueles do metassomatismo, pelo qual os novos minerais são constituídos em parte ou no todo por materiais adicionados a partir do magma (metais, sílica, enxofre, boro, cloro, fluor, potássio, magnésio e sódio). Esses depósitos são também designados por metamórficos de contato ou pirometassomáticos. Embora sejam em sua maioria depósitos pequenos em relação a outras categorias de depósitos minerais (sedimentares, cobre porfirítico, vulcano-sedimentares, etc.), eles fornecem uma ampla variedade de produtos minerais : FE, Cu, Zn, Pb, Sn, W, Mo, Au, Ag, Mn, grafita, granada, etc.) Exemplos: 1. Bingham, Morenci (em parte), Mill City, Iron Springs, Pine Creek (EUA). 2. Cananea, Matehuala (México) 3. Banat (Hungria) 4. Pitkäranka (Finlândia). Processos Hidrotermais Esses processos são responsáveis pela formação de uma ampla variedade de depósitos minerais tanto metálicos como não-metálicos. Nesses processos, as chamadas soluções hidrotermais têm um papel fundamental. Segundo bateman, elas seriam o produto final da consolidação magmática, enriquecido em metais originalmente presentes no magma, de natureza líquida ou fluidal, que se tornaria líquida por perda de calor à medida que se afastassem da rochas intrusiva. Essas soluções transportam os metais a partir da intrusiva em consolidação para os sítios de deposição, dando origem a depósitos minerais epigeneticos. Os depósitos resultantes podem se formar desde próximo à intrusiva (temperaturas elevadas, da ordem de 500°C) até batante distanciado (temperaturas baixas, da ordem de 50°C). Lindgren (1911) reuniu os depósitos hidrotermais em 3 grupos, de acordo com as temperaturas, pressões e relações geológicas sob as quais eles foram formados, levando-se em conta as indicações fornecidas por seus minerais constitutivos: hipotermal (alta temperatura), mesotermal e epitermal (baixa temperatura). Posteriormente, 3 outros grupos de depósitos hidrotermais foram acrescidos ao processo hidrotermal: leptotermal (acima do mesotermal) e teletermal (acima do epitermal), propostos por Graton em 1933; xenotermal (alta temperatura e próximo à superfície), proposto por Buddington em 1935. Em relação à fonte das soluções hidrotermais, Bateman se colocou em defesa de uma origem magmática, embora outras possibilidades contriversas existissem: secreção lateral, águas meteóricas descendentes, águas meteóricas aquecidas ascendentes, etc. No entanto, deixou em aberto a possibilidade de soluções hidrotermais magmáticas ascendentes, à medida que se aproximaram da superfície, misturarem-se com águas meteóricas e, também, que intrusivas rasas pudessem descarregar gases e vapores num aqüífero formando soluções mineralizantes. Jensen e Batemam (1979, 1981), seguindo as idéias mais modernas a respeito da fonte das soluções hidrotermais, juntam-se aqueles para os quais as soluções hidrotermais podem se progonar por diversos processos, além dos magmáticos. Ou seja, sua natureza pode ser meteórica, conata, metamórfica, etc. Percolando as rochas, as soluções hidrotermais perdem seu conteúdo mineral, formando dosi tipos de depósitos minerais: (1) depósitos de preenchimento de cavidades (por deposição nos vários tipos de aberturas existentes nas rochas) e (2) depósitos de substituição metassomática das rochas). O preenchimento de aberturas por precipitação pode ser simultaneamente acompanhado por alguma substituição das paredes das aberturas. Donde pode haver uma gradação entre estes dois tipos de depósitos minerais. xemplos: 1 - Depósitos de preenchimento de cavidades a - Cripple Creek, Mother Lode, Área zincífera dos Apalaches, Cactus Mines, Tonopah, Tintic, Coeur d'Alène, Binghan, Butte, Distrito do Tristate, Boulder County (EUA). b - Guanajuato (Veta Madre), Pachuca (México). c - Porcupine, Kirkland Lake, Cobalt (Canadá) d - Kalgoorlie, bendigo, Morning Star (Austrália) e - Potosi, Huanchaca, Llallagua, Oruro (Bolívia) f - Cerro de Pasco (Peru) g- Freiberg (RDA) h - Hunan, Kiangsi (China) 2 - Depósitos de substituição Esses depósitos são divididos em: depósitos maciços, depósitos de substituição em veios e depósitos de substituição disseminada. a - depósitos maciços: Bingham, Bisbee, United Verde, Leadville (EUA); boliden (Suécia); Sullivan, Flin Flon, Noranda (Canadá); Santa Eulália (México); Broken Hill (Austrália). b - depósitos de substituição em veios: Kennecott (Alaska); Bingham, magma, Morenci, Bisbee, Coeur d'Alène, Park City, Tintic Homestake (EUA); Cerro de Padco (Peru); Broken Hill (Austrália), Kirkland Lake, Porcupine (Canadá); Almadén (Espanha); Santa Eulália (México). c - depósitos de substituição disseminada: Chino, Ray, Ajo, Miami-Inspiration, Morenci, Climax, Utah Copper (EUA); Cinturão Cuprífero de Zâmbia; Chuquicamata, Braden, Potrerillos (Chile); Pine Point (Canadá). V - Processos vulcanogênicos e submarino-exalativos Os depósitos minerais formaram-se a partir de fluidos mineralizantes derivados de uma fonte exalativa ou vulcânica. Os depósitos são usualmente "stratabound", como corpos lenticulares de pirita maciça, ocorrendo entre rochas vulcânicas de ambiente marinho. - White Pine (EUA); Kidd Creek, Bathurst-New-Castle, Noranda, Mattagami Lake (Canadá); Kupferschiefer (Alemanha/Holanda); Rammelsberg (RFA