Problemas no mapeamento da Formação Barreiras através de correlações litológicas: exemplo da Bacia Potiguar-RN 1 Elissandra N. de Moura Lima 1, 2 Francisco Hilário R. Bezerra 1, 3 Maria Osvalneide L. de Sousa 4 Programa de Pós-graduação em Geodinâmica e Geofísica – PPGG/CCET/UFRN. 2 Bolsista (doutoranda) da ANP. [email protected] 3 Departamento de Geologia DG/CCET/UFRN. 4 Bolsista CNPq/DCR, UFRN Financiamento: “Programa de Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil – Folha Macau” (Convênio Ministério das Minas e Energia, Serviço Geológico do Brasil- SGB/CPRM, Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e Projeto “Institutos do Milênio” (CNPq, Proc. 420222/2005-7, coordenado por R.A. Fuck - UnB). Extensas porções de depósitos siliciclásticos ao longo do litoral brasileiro têm sido mapeadas como Formação Barreiras, como por exemplo na região central da Bacia Potiguar – RN. A correlação destes depósitos com a Formação Barreiras em muitos casos foi feita unicamente com base em características litológicas dos depósitos. Um mapeamento recente, acompanhado de datações absolutas de Luminescência Óticamente Estimulada (LOE) e Termoluminescência (TL), mostrou problemas nestas correlações baseadas unicamente no caráter litológico dos depósitos. Na Bacia Potiguar, a Formação Barreiras ocorre recobrindo rochas ígneas e metamórficas pré-cambrianas e rochas sedimentares cretáceas do Grupo Apodi. Diversos trabalhos anteriores sugeriram que a Formação Barreiras foi depositada a partir de sistema fluvial entrelaçado, associado a leques aluviais, com influência de marés na porção mais distal do sistema; ou ainda fluvial meandrante a estuarino. A Formação Barreiras é composta por conglomerados e arenitos ferruginosos, matriz argilosa e abundantes concreções lateríticas (Figura 1). Comumente tem-se a presença de níveis ou camadas de siltitos e argilitos, intercalados a níveis conglomeráticos. A idade da Formação Barreiras ainda é motivo de debate, embora sua correlação aos sedimentos do Grupo Agulha seja a mais aceita, o que indicaria uma idade que varia do Mioceno ao Plioceno. Alguns depósitos neogênicos apresentam semelhanças litológicas com a Formação Barreiras. Dentre estes, o mais expressivo são “Depósitos aluvionares antigos”, que correspondem à unidade anteriormente denominada de “Paleocascalheiras”. Tratam-se de depósitos de antigos canais fluviais que, à medida que migraram para as cotas topográficas mais baixas, deixaram seus registros na forma de terraços aluvionares. Destes canais que migraram ao longo do Neógeno, o mais importante é o do rio Açu, com direção NNE. A distribuição espacial dos terraços abandonados do Rio Açu, mais expressiva na margem esquerda (oeste) do rio evidencia a migração do canal no sentido leste. Os sedimentos foram depositados sobre as rochas das formações Açu, Jandaíra, Barreiras e rochas do embasamento cristalino. As litofácies que representam esta unidade são constituídas principalmente por conglomerados e arenitos, na forma de camadas com espessura de poucos decímetros a muitos metros, que se intercalam numa relação de granodecrescência ascendente, denunciando a diminuição de regime de fluxos. As fácies conglomeráticas e areníticas ainda aparecem intercaladas, numa relação de descontinuidade temporal, com contatos marcados por superfícies erosionais (Figura 2). Os aspectos texturais das rochas dos Depósitos aluvionares antigos e da Formação Barreiras que mais se diferenciam são coloração e arcabouço conglomerático. Os primeiros apresentam cores oscilantes entre vermelho e amarelado, enquanto a segunda possui coloração muito variada: vermelho, laranja, com porções roxa, creme, amarela e/ou esbranquiçada. Os clastos que formam o arcabouço dos conglomerados em ambas as unidades são predominantemente quartzosos. Entretanto, os clastos da Formação Barreiras são subangulosos a subarredondados, de poucos centímetros; enquanto aqueles dos Depósitos aluvionares antigos são bem arredondados de até 30 cm (no eixo maior). Essa diferenciação entre conglomerados de uma unidade e outra nem sempre é tão fácil de ser feita. A distinção entre as fácies areníticas em ambas as unidades é ainda mais difícil. Neste sentido, as datações absolutas são primordiais para diferenciar estas unidades. Através do método de Termoluminescência (TL) e Luminescência Opticamente Induzida (LOE) foram obtidas idades que variam de 13 mil a 450 mil anos, para rochas antes consideradas da Formação Barreiras. A partir destas idades, das características texturais das rochas coletadas em centenas de afloramentos e com auxílio de imagens de satélite e de radar, foram redesenhados os limites da Formação Barreiras. Na porção ocidental, ela aflora restritamente no topo da Serra do Mel, sendo as cotas mais baixas da serra recobertas por Depósitos aluvionares antigos; antes porém quase toda porção oeste do Rio Açu era considerada como composta pela Formação Barreiras. Na porção oriental, a leste do rio Açu, há depósitos alinhados na direção NW-SE, compartimentados pelas falhas regionais; antes estes depósitos eram classificados como Formação Barreiras, no entanto, agora, classificou-se a maior parte deles como Depósitos aluvionares antigos (Figura 3). Assim como na porção central da Bacia Potiguar – RN, possivelmente muitos dos depósitos siliciclásticos mapeados como Formação Barreiras ao longo do litoral brasileiro precisem ser revisados, no sentido de diferenciá-los de depósitos mais recentes. Figura 1- Rochas da Formação Barreiras. A- Nível arenítico entre níveis conglomeráricos. B- Arenito com concreções ferruginosas. Figura 2- Rochas dos Depósitos aluvionares antigos. A- Conglomerado. B- Níveis conglomeráticos intercalados com níveis areníticos. Figura 3- Mapa de unidades geológicas.