O CONCEITO DE VIRTUDES NA “ÉTICA A NICÔMACO” DE

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O CONCEITO DE VIRTUDES NA “ÉTICA A NICÔMACO” DE ARISTÓTELES
Maria Clara Nunes Santos (Iniciação Científica Voluntária – ICV/UFPI), Helder Buenos Aires
de Carvalho (Orientado, Departamento de Filosofia-UFPI)
INTRODUÇÃO
Em vida, Aristóteles foi responsável pela organização do conhecimento e também pela classificação do saber. Classificou o conhecimento em duas esferas principais: teórica (atividade de conhecer), prática (saber agir). No conhecimento teórico estão localizadas as matemáticas, a física e a filosofia pagã. O conhecimento prático abrange a Ética e a política, estando essas conectadas por linhas
tênues. No seguinte trabalho o que realmente contará será o conhecimento prático, mais especificamente a Ética a Nicômaco.
A Ética aristotélica confronta a ética platônica. Para Platão a finalidade da ética seria o sumo
bem e para alcançá-lo seria necessário desprezar os prazeres sensíveis e dedicar-se somente às
virtudes da alma; a ética aristotélica, embora tenha sua base fincada na ética platônica, tem por finalidade a felicidade e essa só pode ser alcançada quando o sujeito homem passa a estabelecer um
meio termo em seus excessos, ou seja, Aristóteles não descarta os prazeres, mas busca um equilíbrio entre eles e as virtudes. Toda a ação humana tem uma finalidade e esta é o bem. Todas as
ações e todos os fins particulares a que esses proporcionam terão um fim último, o Sumo bem ou
bem supremo (eudaímonia). Das buscas ao que seria o bem supremo e como consegui-lo conclui-se
na Ética a Nicômaco que o homem tem que buscar melhorar o que há nele e não há em nenhum
outro ser, a razão.
METODOLOGIA
Aqui tomar-se-á como eixo a obra Ética a Nicômaco, de Aristóteles, e os dois capítulos
das obras de MacIntyre Depois da Virtude ([1981] 2000), e Justiça de Quem? Qual a Racionalidade? (1991), nas quais ele expõe sua interpretação da ética aristotélica. O tratamento da discussão
presente no corpus da pesquisa será feito a partir de uma perspectiva interpretativa inspirada na
hermenêutica filosófica de Gadamer (2003). Isso significa que se tomará seriamente a historicidade
de todo debate filosófico – científico, ou seja, que qualquer formulação teórica é uma resposta às
questões de seu tempo e elaborada sob o efeito da própria história que se sobrepõe sobre nós, de
modo a compreender como MacIntyre se apropria da ética aristotélica para seus próprios fins.
O foco de todo o trabalho que se segue é o conceito de virtudes na Ética a Nicômaco, seriam
essas virtudes o meio termo entre excessos e carências de nossas ações, o equilíbrio necessário
para se alcançar o fim último: a felicidade. Para tanto, foram usadas, além da principal obra de Aristóteles sobre o assunto, a Ética a Nicômaco, obras de comentadores como Spinelli, Wolf, James Rachels, Stuart Rachels, Ross, Stirn, entre outros.
Em todo o trabalho sobre o entendimento das virtudes aristotélicas foi de substancial importância a obra Compreender Aristóteles, de Stirn; e também a Ética a Nicômaco do próprio Aristóteles.
Para maior compreensão foi usado também o Dicionário de Filosofia de Nicola Abbgnano. Adentran-
do ainda mais no problema, Spinelli oferece, em sua obra A prudência na Ética Nicomaquéia de Aristóteles, oportunas informações acerca das escolhas, da prudência e do bem supremo, elementos
essenciais para compreensão de tal conceito.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dizer que a felicidade é o sumo bem pode incidir certa insignificância, o que torna uma
explicação imprescindível. Isso talvez fique de melhor compreensão se for entendido o homem como
sujeito funcional. O cantor, o escultor e todas as profissões de modo geral têm uma diligência em
determinada área. Dar-se-ia então que sua bondade e sua competência consistem na execução de
tal atividade. O mesmo será autêntico se admitirmos que o homem tenha uma função própria. Seria o
aceitável que os cantores e escultores tivessem funções e o sujeito como tal não tivesse nenhuma
função particular? Os membros do nosso corpo têm funções, os animais também possuem suas
funções, por que então o homem seria o único animal sem função alguma? Poderíamos dizer que a
função do homem consiste apenas em viver, ou seja, evoluir e nutrir, mas isso é encontrado nas
plantas e o que procuramos é a função particular do homem. Poderíamos dizer também que a vida do
homem tem como função se ter sensações (dor ou prazer), mas isso também é cabível aos animais
irracionais. O que resta então é a vida prática da racionalidade, pois a razão é particular do homem.
Seguindo esse raciocínio, Aristóteles define a vida prática racional como aquela vivida
virtuosamente, estas se dividem em dois tipos de virtudes: a virtude intelectual e a virtude moral. As
virtudes intelectuais (dianoética) são obtidas através do ensino, tem como objeto o saber e
pertence à alma racional. As virtudes morais estão presentes na irracionalidade da alma são
obtidas em consequência dos hábitos, não aparecem naturalmente e nem contra a nossa
natureza, mas a obtemos pela prática, assim como a música.
Podemos nos tornar justos praticando atos justos e injustos praticando atos injustos. Para
prática de atos justos é necessário que a falta ou o excesso sejam evitados. Um exercício, um
sentimento, um modo de agir, havendo carência ou excessividade, torna-se vício. O excesso de
temperança, por exemplo, lhe torna esbanjador e sua deficiência o torna avarento. Deve ser
alcançado então a medianidade, o meio termo. É importante lembrar que não há meio termo em
vícios, e seria medíocre pensar que haveria, nem todo agir permite um meio termo, a maldade, a
inveja, a gula, por exemplo, não possuem medianidade
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dá-se a entender em a Ética a Nicômaco que a mesma oferece uma direção para que o
homem atingir o sumo bem. Alcançar a felicidade é o princípio que indica o agir e a função humana.
Este fim não deve ser captado como desfecho, mas como algo que está sempre em movimento.
Deve-se acrescentar que não existe um fim imutável, já que a vida não se faz plena nem mesmo em
um curto espaço de tempo, e sim, um fim que volta a se tornar começo para uma melhora futura. As
virtudes fortalecem a procura do homem para o que é natural e bom. Pelas virtudes, o homem é
chamado a procurar e pensar o justo e o bom em todas as suas ações encontrando o equilíbrio, o
meio termo.
Ninguém nasce ético ou virtuoso, todos os valores que possuímos são herdados da
sociedade em que vivemos até que possamos construir críticas através delas. Para que alguém seja
corajoso, gentil, justo não é necessário escola e sim um ambiente social e familiar equilibrado onde o
ser em questão possa desenvolver desde o princípio hábitos virtuosos. Não é possível controlar
um ser humano, pois este é capaz de realizar escolhas e ser inteiramente responsável por elas, mas
é possível guiá-lo.
A busca final de todos os atos é o Sumo bem (eudaímonia) e para alcançar isso é necessário
tornar a virtude um hábito, a moderação através da prudência é um caminho, para alcançar as virtudes é indispensável o uso do meio termo entre ações opostas, entre a carência e o excesso. A virtude
depende do julgamento da razão, conseguida através da prática. O homem não age retamente por
reter em seu poder virtude, mas retém virtude por agir corretamente de acordo com as leis morais e
racionais.
PALAVRAS-CHAVE
Virtudes. Ética. Felicidade.
REFERÊNCIAS
ABBGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia, São Paulo: Martins Fontes, 1998.
ROSS, David. Aristóteles. Lisboa: Dom Quixote, 1987.
SPINELLI, Priscilla Tesch. A prudência na Ética Nicomaquéia de Aristóteles. São Leopoldo: Editora
Unisinos, 2007.
STIRN, François. Compreender Aristóteles. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2006.
WOLF, Ursula. A Ética a Nicômaco de Aristóteles. Trad. Enio Paulo Giachini. São Paulo: Edições
Loyola, 2010.
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