MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA – MEC UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO – PRPPG Coordenadoria Geral de Pesquisa – CGP Campus Universitário Ministro Petrônio Portela, Bloco 06 – Bairro Ininga Cep: 64049-550 – Teresina-PI – Brasil – Fone (86) 215-5564 – Fone/Fax (86) 215-5560 E-mail: [email protected] O CONCEITO DE VIRTUDES NA “ÉTICA A NICÔMACO” DE ARISTÓTELES Maria Clara Nunes Santos (Iniciação Científica Voluntária – ICV/UFPI), Helder Buenos Aires de Carvalho (Orientado, Departamento de Filosofia-UFPI) INTRODUÇÃO Em vida, Aristóteles foi responsável pela organização do conhecimento e também pela classificação do saber. Classificou o conhecimento em duas esferas principais: teórica (atividade de conhecer), prática (saber agir). No conhecimento teórico estão localizadas as matemáticas, a física e a filosofia pagã. O conhecimento prático abrange a Ética e a política, estando essas conectadas por linhas tênues. No seguinte trabalho o que realmente contará será o conhecimento prático, mais especificamente a Ética a Nicômaco. A Ética aristotélica confronta a ética platônica. Para Platão a finalidade da ética seria o sumo bem e para alcançá-lo seria necessário desprezar os prazeres sensíveis e dedicar-se somente às virtudes da alma; a ética aristotélica, embora tenha sua base fincada na ética platônica, tem por finalidade a felicidade e essa só pode ser alcançada quando o sujeito homem passa a estabelecer um meio termo em seus excessos, ou seja, Aristóteles não descarta os prazeres, mas busca um equilíbrio entre eles e as virtudes. Toda a ação humana tem uma finalidade e esta é o bem. Todas as ações e todos os fins particulares a que esses proporcionam terão um fim último, o Sumo bem ou bem supremo (eudaímonia). Das buscas ao que seria o bem supremo e como consegui-lo conclui-se na Ética a Nicômaco que o homem tem que buscar melhorar o que há nele e não há em nenhum outro ser, a razão. METODOLOGIA Aqui tomar-se-á como eixo a obra Ética a Nicômaco, de Aristóteles, e os dois capítulos das obras de MacIntyre Depois da Virtude ([1981] 2000), e Justiça de Quem? Qual a Racionalidade? (1991), nas quais ele expõe sua interpretação da ética aristotélica. O tratamento da discussão presente no corpus da pesquisa será feito a partir de uma perspectiva interpretativa inspirada na hermenêutica filosófica de Gadamer (2003). Isso significa que se tomará seriamente a historicidade de todo debate filosófico – científico, ou seja, que qualquer formulação teórica é uma resposta às questões de seu tempo e elaborada sob o efeito da própria história que se sobrepõe sobre nós, de modo a compreender como MacIntyre se apropria da ética aristotélica para seus próprios fins. O foco de todo o trabalho que se segue é o conceito de virtudes na Ética a Nicômaco, seriam essas virtudes o meio termo entre excessos e carências de nossas ações, o equilíbrio necessário para se alcançar o fim último: a felicidade. Para tanto, foram usadas, além da principal obra de Aristóteles sobre o assunto, a Ética a Nicômaco, obras de comentadores como Spinelli, Wolf, James Rachels, Stuart Rachels, Ross, Stirn, entre outros. Em todo o trabalho sobre o entendimento das virtudes aristotélicas foi de substancial importância a obra Compreender Aristóteles, de Stirn; e também a Ética a Nicômaco do próprio Aristóteles. Para maior compreensão foi usado também o Dicionário de Filosofia de Nicola Abbgnano. Adentran- do ainda mais no problema, Spinelli oferece, em sua obra A prudência na Ética Nicomaquéia de Aristóteles, oportunas informações acerca das escolhas, da prudência e do bem supremo, elementos essenciais para compreensão de tal conceito. RESULTADOS E DISCUSSÃO Dizer que a felicidade é o sumo bem pode incidir certa insignificância, o que torna uma explicação imprescindível. Isso talvez fique de melhor compreensão se for entendido o homem como sujeito funcional. O cantor, o escultor e todas as profissões de modo geral têm uma diligência em determinada área. Dar-se-ia então que sua bondade e sua competência consistem na execução de tal atividade. O mesmo será autêntico se admitirmos que o homem tenha uma função própria. Seria o aceitável que os cantores e escultores tivessem funções e o sujeito como tal não tivesse nenhuma função particular? Os membros do nosso corpo têm funções, os animais também possuem suas funções, por que então o homem seria o único animal sem função alguma? Poderíamos dizer que a função do homem consiste apenas em viver, ou seja, evoluir e nutrir, mas isso é encontrado nas plantas e o que procuramos é a função particular do homem. Poderíamos dizer também que a vida do homem tem como função se ter sensações (dor ou prazer), mas isso também é cabível aos animais irracionais. O que resta então é a vida prática da racionalidade, pois a razão é particular do homem. Seguindo esse raciocínio, Aristóteles define a vida prática racional como aquela vivida virtuosamente, estas se dividem em dois tipos de virtudes: a virtude intelectual e a virtude moral. As virtudes intelectuais (dianoética) são obtidas através do ensino, tem como objeto o saber e pertence à alma racional. As virtudes morais estão presentes na irracionalidade da alma são obtidas em consequência dos hábitos, não aparecem naturalmente e nem contra a nossa natureza, mas a obtemos pela prática, assim como a música. Podemos nos tornar justos praticando atos justos e injustos praticando atos injustos. Para prática de atos justos é necessário que a falta ou o excesso sejam evitados. Um exercício, um sentimento, um modo de agir, havendo carência ou excessividade, torna-se vício. O excesso de temperança, por exemplo, lhe torna esbanjador e sua deficiência o torna avarento. Deve ser alcançado então a medianidade, o meio termo. É importante lembrar que não há meio termo em vícios, e seria medíocre pensar que haveria, nem todo agir permite um meio termo, a maldade, a inveja, a gula, por exemplo, não possuem medianidade CONSIDERAÇÕES FINAIS Dá-se a entender em a Ética a Nicômaco que a mesma oferece uma direção para que o homem atingir o sumo bem. Alcançar a felicidade é o princípio que indica o agir e a função humana. Este fim não deve ser captado como desfecho, mas como algo que está sempre em movimento. Deve-se acrescentar que não existe um fim imutável, já que a vida não se faz plena nem mesmo em um curto espaço de tempo, e sim, um fim que volta a se tornar começo para uma melhora futura. As virtudes fortalecem a procura do homem para o que é natural e bom. Pelas virtudes, o homem é chamado a procurar e pensar o justo e o bom em todas as suas ações encontrando o equilíbrio, o meio termo. Ninguém nasce ético ou virtuoso, todos os valores que possuímos são herdados da sociedade em que vivemos até que possamos construir críticas através delas. Para que alguém seja corajoso, gentil, justo não é necessário escola e sim um ambiente social e familiar equilibrado onde o ser em questão possa desenvolver desde o princípio hábitos virtuosos. Não é possível controlar um ser humano, pois este é capaz de realizar escolhas e ser inteiramente responsável por elas, mas é possível guiá-lo. A busca final de todos os atos é o Sumo bem (eudaímonia) e para alcançar isso é necessário tornar a virtude um hábito, a moderação através da prudência é um caminho, para alcançar as virtudes é indispensável o uso do meio termo entre ações opostas, entre a carência e o excesso. A virtude depende do julgamento da razão, conseguida através da prática. O homem não age retamente por reter em seu poder virtude, mas retém virtude por agir corretamente de acordo com as leis morais e racionais. PALAVRAS-CHAVE Virtudes. Ética. Felicidade. REFERÊNCIAS ABBGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia, São Paulo: Martins Fontes, 1998. ROSS, David. Aristóteles. Lisboa: Dom Quixote, 1987. SPINELLI, Priscilla Tesch. A prudência na Ética Nicomaquéia de Aristóteles. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2007. STIRN, François. Compreender Aristóteles. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2006. WOLF, Ursula. A Ética a Nicômaco de Aristóteles. Trad. Enio Paulo Giachini. São Paulo: Edições Loyola, 2010.