OS EFEITOS DO USO DE CONSEQUÊNCIAS ARBITRÁRIAS E APROXIMAÇÕES SUCESSIVAS SOBRE A EXATIDÃO DO CHUTE NO TIRO LIVRE DIRETO NO FUTEBOL Guilherme Gomes dos Santos, Silvia Regina de Souza Arrabal Gil, [email protected] Universidade Estadual de Londrina, Centro de Ciências Biológicas, Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento Área e subárea do conhecimento: Psicologia/Psicologia do ensino aprendizagem. Palavras-chave: Futebol, Análise do Comportamento, Tiro livre direto. Resumo Este estudo investigou os efeitos do uso de consequências arbitrárias e aproximações sucessivas sobre o comportamento de acertar a bola no alvo. Participaram oito praticantes de futebol, divididos em três grupos (GI – Grupo instrução, GIP – Grupo instrução e pontos e GAS – Grupo aproximação sucessiva). O procedimento foi realizado em três etapas: Pré-treino, Intervenção e Pós-treino. No Pré e Pós-treino os participantes foram instruídos a chutar no alvo de 0,80m2. Na intervenção, o GI foi instruído a acertar o alvo de 0,80m2. No final de cada sessão a quantidade de pontos era informada. Para o GIP a quantidade de pontos era informada de acordo com o local de acerto no alvo. Para o GAS, o objetivo inicial era acertar o alvo de 2,40m 2. Após três acertos consecutivos, em uma marca e ângulo, o alvo era reduzido gradualmente reduzido (1,60m2 e 0,80m2). O GI apresentou a maior quantidade de bolas no alvo de 0,80m2 e o GIP maior quantidade de bolas no alvo de 1,60m2. Para o GAS houve uma maior numero de acerto no alvo de 2,40m 2 e aumento no número de bolas fora. Considera-se que a Análise do Comportamento pode auxiliar no desenvolvimento de treinos mais efetivos. Introdução Para vencer uma partida de futebol são adotadas diversas estratégias. O tiro livre direto é uma delas. Alguns estudos utilizam a condição de cobrança de falta para análise topográfica do chute. Esses estudos apontam para o treino do chute, a fim de melhorar a cobrança de faltas ou tiro livre direto, contudo os resultados obtidos não encontraram relação da topografia do chute com a quantidade de acertos (SANTIAGO, 2005). Embora as instruções fornecidas pelos treinadores, assim como treinar por anos, possam contribuir para aprimorar a exatidão do chute dos atletas, outras estratégias poderiam ser investigadas para melhorar o desempenho com menos tempo de treinamento. 1 A Análise do Comportamento é uma área de conhecimento que tem muito a contribuir nessa direção. A Análise do Comportamento é uma ciência que se propõe a estudar o comportamento entendendo-o como o responder de um indivíduo em relação com o ambiente (LAURENTI, 2004). Para a Análise do Comportamento é importante atentar para as consequências que são produzidas pelas respostas do indivíduo, pois elas podem alterar a própria resposta que a produziu, fortalecendo ou enfraquecendo-a. Se a consequência depende da própria resposta e de outros eventos, ela é chamada de arbitrária (SÉRIO; MICHELETTO; ANDERY, 2009). Caso tal consequência aumente a probabilidade de a resposta ocorrer novamente podemos estar diante de um processo que envolve reforço arbitrário. Em vez de esperarmos que o atleta execute o chute em um alvo que tem dificuldade de acertar, podemos modelar seu comportamento. A modelagem é o processo de reforçar comportamentos que mais se aproximem do comportamento final que se deseja alcançar, deixando de reforçar aqueles que não estão tão próximos. A orientação para os participantes de um determinado procedimento de treino pode ser feita por meio de instruções. Uma instrução pode ser considerada um estímulo discriminativo que especifica contingências (SKINNER, 1969/1980) ou um estímulo alterador de função de outros estímulos (SCHLINGER, 1993). Em razão do exposto acima este trabalho tem por objetivo avaliar os efeitos de um treinamento de tiro livre direto no futebol que empregue consequências arbitrárias (pontos), instrução e aproximações sucessivas sobre a exatidão do chute a gol em ambos os ângulos da trave. Procedimentos metodológicos Participantes e local: Participaram oito praticantes de futebol. O estudo foi realizado em um campo de futebol suíço na região de Londrina. Os participantes foram selecionados de acordo com os seguintes critérios de inclusão: disponibilidade de tempo, tempo de pratica e vestimenta adequada. Foram excluídos aqueles que tinham alguma lesão que os impedia de executar os repetidos chutes. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética com Humanos da Universidade Estadual de Londrina (CAAE: 54609816.2.0000.5231). Procedimento: Os participantes foram divididos em três grupos (GI – Grupo instrução, GIP – Grupo instrução e pontos e GAS – Grupo aproximação sucessiva). O procedimento foi realizado em três etapas: Pré-treino (1 sessão), Intervenção (5 sessões) e Pós-treino (1 sessão). As sessões foram individuais e duravam, em média, 10 minutos cada. Em cada sessão o participante chutava 20 vezes em direção ao gol visando acertar o alvo estipulado. Dez chutes eram executados na marca direita (MD) e dez na marca esquerda (ME), 2 que estavam a 20 metros de distancia da linha do gol alinhada a uma trave (direita e esquerda). Dos dez chutes executados, cinco eram no ângulo direito e os outros cinco no ângulo esquerdo. No Pré e Pós-treino os participantes foram instruídos a chutar no alvo de 2 0,80m . Na intervenção, o GI foi instruído a acertar o alvo de 0,80m2. No final de cada sessão a quantidade de acertos era informada. Para o GIP a quantidade de pontos era informada de acordo com o local de acerto no alvo (5 pontos alvo de 0,80m2, 3 para o de 1,60m2, 2 para 2,40m2 e 1 ponto caso a bola rebatesse na trave do alvo de 2,40m2). Para o GAS, o objetivo inicial era acertar o alvo de 2,40m2. Após três acertos consecutivos em uma dada marca e ângulo o alvo era reduzido, na sessão seguinte, para 1,60m 2 e depois para 0,80m2. Resultados e Discussão Quanto aos resultados para os alvos de 2,40m2 o grupo que apresentou maior porcentagem de acerto foi o GAS (28%). Para o alvo de 1,60 m2 o GIP (20,7%) apresentou maior porcentagem de acerto e para o alvo de 0.80m2 o GI (8,5%). Os dados podem estar relacionados aos efeitos distintos de cada procedimento. Para o GAS houve uma maior numero de acerto no alvo de 2,40m2 e, à medida que diminuía o tamanho do alvo, aumentavam o número de bolas fora. Para o GIP pontos eram liberados independentemente do local no qual a bola acertasse no alvo, para o GI a instrução descrevia a possibilidade de reforço somente se acertassem o alvo de 0,80m 2 aumentando o número de chutes em direção a esse alvo. Ressalta-se que a instrução dada aos participantes do GIP e GI podem ter alterado a efetividade reforçadora dos pontos. Regras como: “Quanto mais pontos ganhar melhor” possibilita que comportamentos que no passado tenham produzido pontos venham a ser evocados. Regras podem funcionar como operações estabelecedoras que alteram a efetividade reforçadora ou punidora de estímulos como pontos, aumentando sua efetividade como reforçador ou punidor (SCHLINGER, 1993). Para o GI, apenas acertar o alvo de 0,80m2 levaria aos pontos. No caso dos participantes do GIP o alto custo da resposta para acertar o alvo de 0,80m2 (5 pontos) pode ter contribuído para que eles executassem o chute visando acertar os alvos de 1,60m2 (3 pontos) e o de 2,40m2 (2 pontos). Resultados diferentes para esse grupo poderiam ser obtidos se a pontuação para o alvo de 0,80m2 fosse expressivamente diferente da pontuação dos demais alvos. Finalmente, todos os grupos apresentaram alta porcentagem de bolas fora (GI 42,5%. GIP - 42,3% e GAS - 46,3%). Acredita-se que o desempenho dos participantes do GAS (maior quantidade de bolas fora em comparação com os participantes dos outros grupos) se deve ao baixo número de sessões de treino, o que dificultava a estabilidade de performance antes de seguir para um 3 novo critério. Outro motivo relacionado à maior quantidade de bolas fora no GAS pode estar relacionado à diferença do custo da resposta entre uma aproximação e outra. Quando se comparam os resultados das sessões de Pré e Pós-treino verifica-se que para o GI e o GIP houve redução da porcentagem de bolas fora. Apesar desses dados, a instrução dada aos participantes do GAS parece ter atuado como um estímulo discriminativo (SKINNER, 1969/1980) uma vez que o comportamento de pelo menos dois dos três participantes ficou sob o controle das instruções já que o número de bolas no alvo especificado pela instrução aumentou. Conclusões O tiro livre direto no futebol é uma das possibilidades que pode definir um jogo, podendo ser utilizado enquanto estratégia. O treinamento desse tipo de jogada, portanto, torna-se essencial. Estratégias de treino com base na Análise do Comportamento pode ser uma alternativa. Os dados obtidos nesse estudo sugerem direções para um treinamento mais efetivo do tiro livre. Contudo, alguns aspectos poderiam ser melhorados contribuindo para um maior controle experimental em estudos futuros. Referências LAURENTI, Carolina. Hume, Mach e Skinner: a explicação do comportamento. 2004. 146fls. Dissertação (Mestrado em Filosofia e Metodologia das Ciências). Universidade Federal de São Carlos, São Paulo, 2004. SANTIAGO, Paulo Roberto P. Comparação do padrão cinemático do chute no futebol entre jogadores de dois países. 2005. 79fls. Dissertação (Mestrado Ciências da Motricidade) UNESP Rio Claro, Rio Claro, 2005. SÉRIO, Tereza Maria; MICHELETTO, Nilza; ANDERY, Maria Amalia. Definição de comportamento. Comportamento e casualidade. 2009. Disponível em: <http://www.pucsp.br/sites/default/files/download/posgraduacao/programas/psic ologia-experimental/comportamento_causalidade_2009.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2015. SCHLINGER, Henry. Separating discriminative and function-altering effects of verbal stimuli. The Behavior Analyst, San Francisco, v. 16, n.1, p. 9-23, 1993. SKINNER, Burrhus Frederic. Contingências de Reforço: uma análise teórica. Tradução de Rachel Moreno. São Paulo, 1980, 233 p. Tradução de: Contingencies of Reinforcement: A Theoretical Analysis. 4