COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS DO EDUCADOR ESPECIAL PARA ATENDER O ALUNO COM ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO Marilu Palma de Oliveira Mestranda em Educação Especial / UFSM – RS; Professora Especialista da Rede Estadual de Ensino do Acre – AC. E-mail: [email protected] ; Soraia Napoleão Freitas Prof. Dra. do Dep. de Educação Especial / UFSM, vinculada ao Programa de PósGraduação em Educação-UFSM – RS. Introdução Com a Declaração de Salamanca, na década de 90, a educação especial passa atuar como suporte à escola regular, não só para o recebimento dos alunos com necessidades educacionais especiais, mas também na identificação daqueles que já faziam parte do contexto escolar no sistema regular de ensino: os com altas habilidades/superdotação, pois com esta surge a proposta de uma educação inclusiva. A análise desta temática objetivar-se-á através da relação estabelecida entre o mundo objetivo – atuação profissional do educador especial – com a subjetividade do sujeito – as competências desse educador junto ao aluno com altas habilidades/superdotação – a partir de referências teóricas apresentadas por vários autores da área, que leva a uma análise em consideração as competências do educador especial, portanto, uma pesquisa que objetivou a discussão reflexiva dos pontos norteadores para a formação de habilidades nas ações profissionais junto a estes alunos, caracterizando-se, essencialmente, qualitativa, descritiva e bibliográfica. Para atender às necessidades educacionais do aluno com altas habilidades/superdotação, que está cada vez mais evidenciado no âmbito da escola comum, é que esta pesquisa se voltou para as competências profissionais necessárias ao educador especial. Desenvolvimento Esta pesquisa se caracterizou, essencialmente, como qualitativa porque consiste em analisar uma temática que relaciona um mundo objetivo – atuação profissional do professor de educação especial – com a subjetividade do sujeito –as competências desse professor junto ao aluno com altas habilidades/superdotação. Foi realizado um estudo bibliográfico fundamentado em teóricos da área de educação. De acordo com Cervo,Bervian (2002), a pesquisa bibliográfica expões um problema a partir de referências teóricas apresentadas por outros autores. A Educação Especial, para alunos com altas habilidades/superdotação, é contemplada na Declaração Universal dos Direitos Humanos como um direito às condições apropriadas de vida e de aprendizagem para que cada um se desenvolva. O educador especial, que atua no atendimento das necessidades educacionais do aluno com altas habilidades/superdotação, terá que ser um profissional de relações abertas em todos os aspectos – cognitivo, afetivo e social – e preparado para ações transformadoras. Os desafios profissionais propostos visam uma perspectiva relacional entre o atendimento ao aluno e o acompanhamento do processo educacional do mesmo. Tal compreensão permite entender que a atuação desse professor deixa de ser formativa, técnica e limitada. Neste sentido, a noção de competência que mais responde ao paradigma da educação inclusiva é aquele que qualifica, dialeticamente, o saber teórico e o saber prático. Segundo Perrenoud (2000), ter competência significa ser capaz de atuar cognitivamente com habilidades para solucionar situações diversas. Com essa compreensão o educador especial deverá unir os conhecimentos aos valores, às atitudes e às habilidades na concretização de ações junto ao aluno com necessidades educacionais especiais, principalmente, aqueles que apresentam altas habilidades/superdotação. Esses alunos são pessoas que também sofrem influencias dos diversos fatores ativos no seu ambiente físico e sócio-cultural, portanto, apresentam características individuais, habilidades diversificadas, com interesses, estilos de aprendizagem, nível de motivação e necessidades educacionais próprias. Diante disso, o educador especial terá que demonstrar competências para prover respostas adequadas às necessidades educacionais desses alunos, configurando-se como um significativo desafio profissional. Segundo Rios (2005, p. 23): “A competência pode ser definida como saber fazer bem o que é necessária e desejável no espaço da profissão. Isso nos revela na articulação de suas dimensões técnica, política, mediada pela ética.” Entendendo que o fazer bem envolve uma valoração que orienta a prática profissional na efetivação de seu sentido político, tanto para responder as necessidades educacionais dos alunos com altas habilidades/superdotação, quanto para mediar ações que possibilitem uma educação de qualidade para esse aluno. Considerando que esse profissional estará atuando no processo educacional do aluno que apresenta, de acordo com as Diretrizes Nacionais de Educação Especial na Educação Básica (2001, p. 7): “notável desempenho e elevadas potencialidades em qualquer dos seguintes aspectos isolados ou combinados: capacidade intelectual geral, aptidão acadêmica específica, pensamento criativo ou produtivo, capacidade de liderança, talento especial para artes e capacidade psicomotora” que caracteriza a abrangência no desenvolvimento das suas competências. A atuação do educador especial não se restringirá na formação do aluno, terá que informar a comunidade escolar quanto às suas características e assim, mediar a identificação do mesmo no contexto escolar, incentivando práticas educacionais reflexivas. Seguindo ainda as Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica (2001, p.32): “São considerados professores especializados em educação especial aqueles que desenvolveram competências para identificar as necessidades educacionais especiais, definir e implementar respostas educativas a essas necessidades, apoiar o professor de classe comum, atuar nos processos de desenvolvimento e aprendizagem dos alunos, desenvolvendo estratégias de flexibilização, adaptação curricular e práticas pedagógicas alternativas (...).” A identidade profissional desse educador está evidenciada no conhecimento dos conteúdos didático-pedagógicos, os conteúdos teóricos das praticas pedagógicas, conteúdos específicos da área de educação especial e da temática altas habilidades/superdotação, conteúdos humanísticos. Com o propósito de auxiliar os sistemas de ensino na identificação, no planejamento e nas adequações necessárias ao atendimento aos alunos, a atuação do educador especializado passa pela adoção de uma nova ética e uma nova ótica de co-responsabilidade no provimento de uma educação de qualidade a esse alunado. Implícita no conceito de Educação Especial, há uma visão de desenvolvimento humano que, segundo esse paradigma, o aluno passa a ocupar o centro do processo educacional. Essa visão ultrapassa tanto o individualismo fragmentador quanto o coletivismo massificante, que colocam o aluno e o educador como meros instrumentos a serviço de uma sociedade capitalista. Portanto, esse educador especial terá que questionar sua prática, refletir se ele tem se preocupado em atualizar e construir respostas educativas que contribuem com o desenvolvimento desse aluno enquanto cidadão historicamente ativo na sociedade em que vive. Seguindo as idéias de Perrenoud (2000), para desenvolver competências é preciso trabalhar com desafios e isso propõe uma atuação profissional ativa, cooperativa, aberta e em equipe com ética e solidariedade. A aquisição de competências para o desenvolvimento humano será o fio condutor na formação profissional do educador especial na concepção de uma educação inclusiva. Para Delors (2001), o ser, o conviver, o conhecer e o fazer são os quatros pilares da educação e que podem ser convertidos em competências para a vida.Traduzir os quatros pilares na vida do educador – enquanto profissional da Educação Especial – é o esforço organizado e consciente de definir a capacidade de utilizar o que aprenderam para conduzir suas ações educativas. Desse modo, para o educador especial, que acompanha o processo educacional do aluno com altas habilidades/superdotação, “aprender a ser” corresponde à transformação das relações consigo mesmo, construindo concepções profissionais que estimulem seu potencial e valorizem suas próprias competências, respeitando suas limitações. Essas competências pessoais, que geram no profissional a capacidade de criar uma trajetória singular, fazem a diferença no processo educacional do aluno. Transformar em conhecimento a relação com os outros é “aprender a conviver”. Tais competências relacionais permitem, ao educador especial enquanto um profissional da educação, formar atitudes de compromisso com o desenvolvimento do aluno, habilidades para conviver com autonomia, ética e solidariedade na atuação em equipe. Apropriar-se dos instrumentos de conhecimentos, gerais e específicos, usando-os com efetividade no seu desempenho profissional é o “aprender a conhecer”. São competências cognitivas que geram atitudes de valorização do desenvolvimento intelectual, dominando os processos de produção e gestão dos conhecimentos. Atuar efetivamente no atendimento das necessidades educacionais do aluno com altas habilidades/superdotação é o “aprender a fazer”. O gerenciamento das próprias ações – auto-gestão –, das ações em equipe – co-gestão– e de outras pessoas – hetero-gestão – são competências produtivas do educador especial, na concepção de educação inclusiva, atendendo o aluno que é um desafio à escola, enquanto instituição formadora. Conclusão A discussão sobre as competências necessárias aos educadores especiais – para atuar com o aluno que apresenta altas habilidades/superdotação – vai além das suas formações profissionais inicial e continuada. Nesta pesquisa, fica enfatizado que a formação de competências nesse profissional, passa pelo individual e social. Enfim, estar falando de competência profissional do educador especial para atender as necessidades educacionais especiais desse aluno, não se está tratando de ser sensível ou criativo de maneira banalizada, mas, sim, como conjunto de valores e princípios orientadores de ações educativas voltadas para o desenvolvimento humano, em uma sociedade capitalista. Bibliografia BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Brasília: MEC-SEESP, 2001. CERVO, Amado L.; BERVIAN, Pedro A. Metodologia Científica. São Paulo: Prentice Halkl, 2002. DELORS, Jaques et alli. Educação – um tesouro a descobrir. Relatório UNESCO/São Paulo: Cortez, 1998. PERRENOUD, Philipe. Práticas Pedagógicas, profissão docente e formação – perspectivas sociológicas. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2000. RIOS, Terezinha A. Compreender e ensinar: por uma docência de melhor qualidade. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2005. UNESCO. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília: CORDE, 1994.