Isadora Carolina Maziero Louzada Larissa Freitas Leal ÁLCOOL

Propaganda
Isadora Carolina Maziero Louzada
Larissa Freitas Leal
ÁLCOOL ETÍLICO E SUAS INTERAÇÕES COM MEDICAMENTOS
COMUMENTE UTILIZADOS
Pindamonhangaba – SP
2015
Isadora Carolina Maziero Louzada
Larissa Freitas Leal
ÁLCOOL ETÍLICO E SUAS INTERAÇÕES COM MEDICAMENTOS
COMUMENTE UTILIZADOS
Monografia apresentada como parte dos requisitos
para obtenção do Diploma de Graduação pelo Curso
de Farmácia da Faculdade de Pindamonhangaba-SP
Orientador: Profa Dra. Luciana C. Silveira Chaud
Pindamonhangaba – SP
2015
Louzada, Isadora Carolina Maziero; Leal Larissa Freitas
Álcool etílico e suas interações com medicamentos comumente utilizados / Isadora
Carolina Maziero Louzada; Larissa Freitas Leal / Pindamonhangaba-SP : FAPI
Faculdade de Pindamonhangaba; 2015
40f. : il.
Monografia (Graduação em Farmácia) FAPI-SP.
Orientador: Profa Dra. Luciana C. Silveira Chaud
1 Álcool etílico. 2 Alcoolismo. 3 Etilismo. 4 Interações medicamentosas. 5 Antiinflamatórios. 6 Antidepressivo. 7 Hipoglicemiante e diabetes.
I Álcool etílico e suas interações com medicamentos comumente utilizados
II Isadora
Carolina Maziero Louzada; Larissa Freitas Leal
Isadora Carolina Maziero Louzada
Larissa Freitas Leal
ÁLCOOL ETÍLICO E SUAS INTERAÇÕES COM MEDICAMENTOS
COMUMENTE UTILIZADOS
Monografia apresentada como parte dos requisitos
para obtenção do Diploma de Graduação pelo Curso
de Farmácia da Faculdade de Pindamonhangaba
Data:___________________
Resultado:_______________
BANCA EXAMINADORA
Prof. _____________________________________
Faculdade de Pindamonhangaba
Assinatura_________________________________
Prof. _____________________________________
Faculdade de Pindamonhangaba
Assinatura_________________________________
Prof. _____________________________________
Assinatura_________________________________
Faculdade de Pindamonhangaba
Dedico a minha família pelo carinho e principalmente por suas
orações que pude contar nos momento em que parecia que não
conseguiria, principalmente pelo amor que posso contar a todos os
instantes.
Isadora Louzada
Dedico a meus pais e familiares que incansavelmente sempre
estiveram ao meu lado me apoiando independentemente de minhas
escolhas e jamais me esqueceram em suas orações, e ao carinho que
nunca me faltou.
Larissa Leal
AGRADECIMENTOS
Agradecemos primeiramente a Deus pelo dom da vida, o qual nos possível completar esta
etapa de nossas vidas.
Agradecemos a FAPI, instituição que academicamente nos proporcionou nossa formação e
principalmente nos proporcionando um bom aprendizado através de nobres mestres e
professores, que incansavelmente sempre estão prontos na arte do educar.
A nossa professora orientadora Profa Dra. Luciana C. Silveira Chaud, pelo auxilio, paciência e
disponibilidade de tempo , sempre disponível no fornecimento de material para pesquisa do
tema.
Aos amigos que pude nesta etapa contar e juntos podemos aprender e se apaixonar ainda mais
pela ciência da Farmácia, em especial Bianca Sene Freitas, Tais Dantas e Vanessa Cristina
Souza.
“O álcool etílico pode interferir com os fármacos metabolizados pelas enzimas do sistema
hepático microssomal, interação que depende de como o álcool é consumido. No caso do
consumo agudo há uma competição entre o álcool e o fármaco ao nível microssomal, com
diminuição do metabolismo do fármaco.” (Donarelli, 204, p1-4).
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Base estrutural COX-1 e COX-2...............................................................................
Figura 2 Classificação AINEs .................................................................................................
Figura 3 Local de ação dos antidepressivos ............................................................................
Figura 4 Agentes hipoglicemiantes de 2º geração ...................................................................
21
22
25
30
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11
2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................................. 13
2.1.ÁLCOOL ETÍLICO (ETANOL) ........................................................................................ 13
2.1.1 INTERAÇÃO ENTRE ÁLCOOL ETÍLICO E MEDICAMENTOS .............................. 16
2.1.1.1 Interação Farmacocinética ............................................................................................ 18
2.1.1.2 Interação Farmacodinâmica .......................................................................................... 19
2.2 ANTI-INFLAMATÓRIOS E USO CONCOMITANTE DE ÁLCOOL ............................ 20
2.3 ANTIDEPRESSIVOS E A INTERAÇÃO COM O ETANOL .......................................... 24
2.4 INTERAÇÃO ÁLCOOL E HIPOGLICEMIANTES ........................................................ 27
3 METODOLOGIA................................................................................................................ 31
4 DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 32
5 CONCLUSÃO...................................................................................................................... 35
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 36
RESUMO
O etanol (álcool etílico) é uma droga depressora do sistema nervoso central, é uma das
substâncias psicoativas com maior consumo no mundo, há vários séculos e atualmente em
evidencia pela sua facilidade em adquirir. De absorção rápida e hidrossolúvel, chega a níveis
plasmáticos em curto tempo, onde proporciona desde uma intoxicação aguda à dependência
alcoólica, causando vários problemas sociais decorrentes do uso abusivo da substância. O
presente trabalho trata de uma revisão literária e teve como objetivos estudar o alcoolismo,
sua interação com medicamentos, em evidência os para tratamento de Diabetes Mellitus, os
Antidepressivos e Anti-inflamatórios não Esteroides (AINES). O consumo de álcool
atualmente está bastante generalizado e traz riscos de sérias complicações médicos como
resultados, das interações com os fármacos. Várias medicações têm o potencial de interagir de
forma adversa com bebidas alcoólicas. Alguns fármacos alteram o metabolismo do álcool,
causando aumento ou diminuição de seus níveis sanguíneos. Por outro lado, o álcool modifica
o metabolismo de várias drogas, afetando as concentrações dessas substâncias no organismo.
A interação medicamentosa é um evento clinico em que os efeitos de um fármaco são
alterados pela presença de outro fármaco, fitoterápico, alimento, bebida ou algum agente
químico ambiental. Ação que ocorre na ingestão de álcool e anti-inflamatórios que causa
hemorragia gástrica, assim como nos antidepressivos que podem alterar a farmacodinâmica
do fármaco e na metabolização do hipoglicemiante em uso concomitante com o álcool. Dentre
as condições que colocam os indivíduos em alto risco para interações alcoólicas está, o grupo
de diabéticos por apresentarem doenças crônicas e na maioria das vezes fazerem uso de outros
fármacos.
, exacerbando seus efeitos colaterais.
Palavras-Chave: Álcool etílico. Alcoolismo. Etilismo. Interações medicamentosas e
alcoólicas. Anti-inflamatórios. Antidepressivo. Hipoglicemiante e diabetes.
ABSTRACT
Ethanol (ethyl alcohol) is a drug depressor of the central nervous system is one of
psychoactive substances with the highest consumption in the world for several centuries and
currently highlighted by its ease of purchase. The rapid absorption and hydrosoluble, reaches
the plasma levels in a short time, where it provides from an acute intoxication with alcohol
dependency, causing several social problems resulting from the abuse of the substance. The
present study deals with the literary review and aimed to study the alcoholism, its interaction
with medicines, highlights the for treatment of Diabetes Mellitus, antidepressants and nonsteroid anti-inflammatory (NSAIDS). The consumption of alcohol currently this rather
general and brings risk of serious medical complications as a result of interactions with the
drugs. Several medications have the potential to interact adversely with alcoholic beverages.
Some drugs affect the metabolism of alcohol, causing an increase or decrease in their blood
levels. On the other hand, the alcohol modifies the metabolism of several drugs, affecting the
concentrations of these substances in the body. A drug interaction is a clinical event in which
the effects of a drug are changed by the presence of another drug, phytotherapic, food, drink
or any chemical agent environment. Action that occurs in cases of ingestion of alcohol and
anti-inflammatory drugs that cause gastric hemorrhage, as well as antidepressants that can
change the pharmacodynamics of the drug and the metabolism of glucose in concomitant use
with alcohol. Among the conditions which place individuals at high risk for interactions
alcoholic beverages this group of diabetic patients presenting chronic diseases and in most
cases make use of other drugs.
Key Words: Ethyl alcohol. Alcoholism. Alcoholism. Drug interactions and alcoholic
beverages. Anti-inflammatory drugs. Antidepressant. Hypoglycemia and diabetes
11
1 INTRODUÇÃO
O álcool etílico (etanol) é uma substância depressora do sistema nervoso central
(SNC)1, diferindo da maioria dos outros agentes depressores por estar relativamente
disponível para adultos, pelo seu uso ser legal e aceito em muitas sociedades. Com a grande
disponibilidade do álcool estão associados os grandes custos sociais e pessoais pelo uso
abusivo, com centenas, milhões de indivíduos vêm se tornando cada dia mais dependentes
deste produto, ou seja, etilistas crônicos. O álcool é capaz de modificar o equilíbrio entre as
influencias excitatórias e inibitórias no cérebro, causando desinibição, ataxia e sedação após o
seu uso.1
Atualmente
a
Organização
Mundial
da
Saúde
(OMS)
estima
que
haja
aproximadamente dois bilhões de pessoas em todo o mundo consumidoras de bebidas
alcoólicas e há casos em que é possível observar algum tipo de desordem como consequência
do uso do álcool. No Brasil o consumo anual é de 8,6 litros per capta, no período de 1961 a
2000 o consumo de bebidas alcoólicas cresceu 154,8% per capta, situando o Brasil entre os 25
países que mais aumentaram o consumo de álcool no mundo. A partir de 2007, o Governo
Federal lançou a Política Nacional sobre o Álcool (PNA), um conjunto de medidas na
tentativa de reduzir e prevenir os danos à saúde e à vida, apresentando princípios
fundamentais à sustentação de estratégias, para o enfrentamento coletivo dos problemas
relacionados ao consumo de álcool.2 Na questão do uso crônico e exagerado, há um inquérito
domiciliar nacional que constatou a prevalência de uso de álcool na comunidade foi de 68,7%
(IC95%: 63,8 a 73,6), sendo que dependência ocorreu em 11,2 % (IC95%: 9,1 a 13,3).3
Também há relatos do uso abusivo do álcool com outras drogas. Essas substâncias
interagem com receptores específicos em células do sistema imune, produzindo
imunomodulação. Álcool exerce efeito imunomodulador, embora não mediado por receptor.3
O consumo de etanol é quase universal, e em grande parte dos usuários o uso do
mesmo é prazeroso. Mais de 90% dos americanos adultos referem que já experimentaram
álcool e cerca de 70% relatam algum grau de uso continuo. Em nossa sociedade, a prevalência
do uso e da dependência alcoólica em alguma época da vida varia de 5- 10% entre homens e
3-5% entre as mulheres.2
Segundo um levantamento em 2004, o álcool foi responsável por 4,6% da carga global
de doenças e injuria no mundo, sendo que a maioria ocorreu em indivíduos entre 15-29 anos.4
No Brasil de acordo com a Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas
12
por Inquérito Telefônico(VIGITEL), o percentual de consumo abusivo de etanol foi de 19%
em 2008, contra 17,5% em 2007.6 A representação social do álcool está mais ligada a esse
emprego do que ao entendimento de que é um fármaco, capaz de interagir com outros
medicamentos.5
Como uma substância psicotrópica, o álcool, tem potencial indutor de dependência o
que agrava e acomete o risco elevado de doenças e óbitos em todo o mundo, potencialmente
interferindo em vários aspectos da vida do indivíduo. Conforme pesquisas recentes, o Brasil
foi classificado como o quinto país das Américas em óbitos induzidos pelo uso abusivo do
álcool, estando o seu consumo ligado a 63% de ocorrências de cirrose hepática em homens e
60% em mulheres. Já em relação aos transtornos ligados à dependência alcoólica, estima-se
que cerca de 5,6% dos brasileiros estão inclusos nesse status.6
O uso concomitante de medicamentos com o álcool é uma das variáveis que afeta o
resultado terapêutico, ocasionando interações medicamentosas que são os resultados da
combinação de fármacos com outros fármacos, alimentos ou bebidas. Estas são tanto mais
prováveis quanto maior o número de medicamentos utilizados.2
Os riscos causados pela interação entre álcool e medicamentos são amplamente
conhecidos, no entanto um estudo publicado no jornal científico “Molecular Pharmaceutics”
provou que ingerir bebida alcoólica enquanto há uso de medicamentos pode ser mais perigoso
do que se imagina. O álcool pode alterar a interação de enzimas e de outras substâncias
corporais, segundo Christel Berstrom, quando entram em contato algumas classes de
medicamentos disponíveis no mercado, vendidos com ou sem prescrição médica, interferindo
em sua potencialidade.7
Houve 284 mortes atribuíveis à toxicidade de drogas induzidas pelo álcool entre 1995
a 2002, de acordo com uma análise de toxicologia post mortem publicada na edição de
novembro de 2005 da Revista Internacional de Medicina Legal.8
O presente trabalho tem como objetivo realizar uma revisão quantos aos efeitos do
álcool sobre as diferentes classes de medicamentos quando utilizados em conjunto, com
ênfase para os anti-inflamatórios, antidepressivos e hipoglicemiantes. Embora estes efeitos
sejam reconhecidamente danosos, por incrível que pareça, essas associações ainda são
extremamente comuns por parte da população, podendo acarretar em reações inesperadas
graves, inclusive com risco de morte.
13
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 ALCOOL ETÍLICO (ETANOL)
O álcool etílico (ou o “espírito do vinho”, do latim spiritus vini), doravante citado
apenas como álcool, cuja fórmula química é CH3CH2OH, é um líquido incolor encontrado em
todas as bebidas alcoólicas. Além do álcool. são encontrados, nas bebidas alcoólicas, outros
produtos de sua maturação ou fermentação, como metanol, butanol, aldeídos, ésteres,
histaminas, fenóis, ferro, chumbo e cobalto, que são, em grande parte, responsáveis pela
diferenciação de sabor entre os tipos de bebidas.1,9
Em seu uso como antisséptico, o álcool etílico elimina muitos microrganismos
encontrados na pele, em associação ao iodo (álcool iodado), em concentrações ótimas, ou em
solução aquosa (70% p/v) constitui-se num dos mais eficazes antissépticos disponíveis.5
O consumo excessivo do álcool sob a forma de bebida alcoólica é mundialmente
reconhecido. O transtorno causa comprometimento de órgãos como o fígado, coração e
pâncreas, em excesso acomete dano cerebral, levando a incapacidade física e intelectual.1
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo de etanol é o terceiro maior
fator de risco no mundo para doenças e incapacidades, sendo que quase 4% de todas as mortes
no mundo são atribuídas ao, maior do que as mortes causadas por VIH ou tuberculose. No
último relatório mundial da OMS sobre álcool e saúde, Global status report on alcohol and
health, de 2011, o consumo mundial de bebidas alcoólicas é equivalente a 6,13 litros de puro
álcool consumido por cada pessoa com idade superior a 15 anos, sendo os países
desenvolvidos os que apresentam níveis de consumo superiores.10
Seu baixo peso molecular CH3CH2OH, facilita a travessia do álcool nos canais de água
das membranas celulares. Consequentemente, distribui-se e se equilibra rapidamente em todo
o líquido contido no organismo se difunde para todos os tecidos e compartimentos, incluindo
o SNC, suor, urina e respiração. Sob o ponto de vista farmacológico, o etanol é um depressor
do sistema nervoso central e sua ação exerce de modo não seletivo.1,11
A absorção do álcool etílico ocorre no estômago e, predominantemente, no intestino
delgado, e dissemina se na água corpórea total. Distribui-se amplamente no organismo,
atingindo concentrações cerebrais semelhantes às plasmáticas. A biotransformação hepática
do álcool (90 a 98%) envolve duas enzimas: álcool desidrogenase e aldeído desidrogenase. A
primeira metaboliza o álcool a acetaldeído, substância tóxica e carcinogênica. Numa segunda
etapa, acetaldeído transforma-se em acetato que, por sua vez, é facilmente metabolizado em
14
água e CO2. Enzimas do sistema citocromo P450 hepático, (CYP2E1) e catalase também
metabolizam álcool em acetaldeído. Porém, CYP2E1 somente se ativa depois de a pessoa ter
consumido grande quantidade de álcool, e a catalase metaboliza somente pequena fração de
álcool no organismo. O álcool pode também interagir com ácidos graxos, formando ésteres
que contribuem para o dano hepático e pancreático.1,5
A eliminação obedece à cinética de ordem zero. O fígado só consegue metabolizar
uma quantidade fixa na unidade de tempo, aproximadamente 10 ml por hora, em média. Se o
indivíduo ingeriu 40 ml, a meia-vida será de duas horas. Para 80 ml, a meia-vida será de
quatro horas.5
Após o metabolismo hepático o álcool pode ser eliminado pelo pulmão, rim e
secreção, onde seu uso prolongado causa hipertrofia do retículo endoplasmático liso do
hepatócito. O consumo agudo de álcool inibe temporariamente a biotransformação de
fármacos pelo sistema oxidase de função mista (CYP) do fígado, podendo elevar
perigosamente os níveis plasmático desses fármacos.12
A metabolização do álcool tem uma grande tendência a variar de indivíduo para
indivíduo. Além disso, é possível que ocorra algum tipo de alteração no sistema biológico
devido ao consumo frequente e abusivo e até mesmo ao esgotamento do organismo, fazendo
com que um etilista passe reagir ao consumo do álcool etílico de forma patológica. É
importante considerar, também, a quantidade de bebida consumida diariamente por um
período prolongado, sendo que a fronteira de risco para os homens é aproximadamente 60 g
de álcool puro/dia e para as mulheres, de 40 g/dia. Tendo como parâmetro que uma taça de
vinho equivale a 20 g/dia, uma garrafa de cerveja a 25g/dia e uma dose de bebida destilada a
60g/dia. Isso significa que uma margem segura deve estar abaixo desses limiares. Todavia, a
dependência física, com suas consequências devastadoras, aparece relativamente tarde,
geralmente após 4 a 6 anos de consumo regular para o adolescente e após 6 a 8 anos para o
adulto.13
Tem efeitos hemodinâmicos complexos, causando vasodilatação por ação direta no
tônus da musculatura lisa vascular e agindo também através do sistema do óxido nítrico. Seu
efeito sobre a pressão arterial é bifásico, causando um aumento inicial e, posteriormente, uma
queda sustentada.14
Pela vasodilatação que determina, aumentando a dissipação de calor corporal, pode ser
considerado um agente antifebril, reforçando o efeito de antitérmicos.5
O álcool atua como um antagonista dos receptores NMDA (N-Metil-D-Aspartato), um
receptor do tipo excitatório do SNC.15
15
Em pacientes com dor crônica refratária a outras medidas, o bloqueio anestésico
definitivo é obtido com injeção direta de altas concentrações de álcool nos nervos periféricos
(neurólise).5
Conforme Katzung a farmacodinâmica do álcool se dá da seguinte maneira: No
sistema nervoso central, o álcool tende causar sedação e alívio da ansiedade, fala pastosa,
distúrbio do juízo crítico, comportamento desinibido, uma embriaguez, que é mais acentuada
quando o nível sanguíneo está aumentado. Já no coração, ocorre uma depressão significativa
da contratilidade miocárdica. O acetaldeído é capaz de causar anormalidades (alterações
estruturais) cardíacas pela alteração das reservas miocárdicas de catecolaminas. Enquanto que
no músculo liso, o etanol é vasodilatador, acometendo hipotermia em ambientes frios,
provavelmente em consequência tanto dos efeitos sobre o sistema nervoso central (depressão
do centro vasomotor), como do relaxamento muscular liso produzido por seu metabólito
acetaldeído.13
De acordo com Laranjeira et al. no SNC o álcool funciona como chave, se liga a
receptores (fechadura) dopaminérgicos através da sinapse em quantidades moderadas, sendo a
dopamina responsável pelas sensações de bem estar e euforia. Em quantidade excessiva, esta
altera os níveis do neurotransmissor ácido gamaaminobutírico (GABA), responsável por
inibir a atividade das células nervosas, causando movimentos lentos e fala enrolada. Ao
mesmo tempo inibe os receptores excitatório do glutamato, e consequentemente, deprime o
SNC causando um retardamento fisiológico.16
De acordo com Katzung a ingestão do álcool etílico acomete danos a um grande
número de proteínas e membranas que participam em vias de sinalização, incluindo os
receptores de neurotransmissores para aminas, aminoácidos, opióides e neuropeptídios;
enzimas como a Na+/k+- ATPase, a adenililciclase, a fosfolipase C especifica de
fosfoinositídeos; um transportador de nucleotídeos, e canais iônicos.17
De grande importância os efeitos do álcool na neurotransmissão pelo glutamato e pelo
acido gama-aminobutírico (GABA), os principais neurotransmissores excitatório e inibitórios
do SNC. A exposição aguda ao álcool aumenta a ação do GABA nos receptores de GABA A,
o que é compatível com a capacidade dos GABA miméticos para intensificar muitos dos
efeitos agudos do álcool e dos antagonistas do GABA A para atenuar algumas ações do álcool.
O álcool inibe a capacidade do glutamato de abrir os canais catiônicos associados ao subtipo
N-metil-D-aspartato (NMDA) de receptores de glutamato.17
16
2.1.1Interações entre álcool e medicamentos
Há algumas classes de medicamentos que podem ter seus efeitos potencializados pelo
uso concomitante de álcool, enquanto outras podem ser inibidas. Entretanto, nem todas essas
interações apresentam significância clínica e os efeitos sobre um determinado indivíduo não
podem ser completamente previstos pelos dados da literatura.18
Entre o álcool e fármacos é notável a descrição de três tipos de interações: as
interações farmacocinéticas, as interações farmacodinâmicas e as interações de efeito, que
podem resultar num aumento do efeito do álcool, e numa redução ou aumento da eficácia dos
fármacos, ou mesmo num aumento dos seus efeitos secundários. O álcool pode induzir
tolerância farmacodinâmica, associada ao desenvolvimento de dependência física.19
Quanto aos efeitos, a interação entre álcool e medicamentos pode resultar em reações
diferentes, a saber:

Os fármacos potencializam a diminuição da velocidade de eliminação do álcool no
nosso corpo. Esse fato pode originar sintomas desagradáveis, nomeadamente rubor acentuado,
náuseas, dores de cabeça, baixa pressão arterial ou palpitações.20

A ingestão de bebidas alcoólicas pode diminuir ou aumentar a longevidade da
substância ativa do medicamento no nosso organismo. Não só podem aumentar o tempo de meia
vida, com eventuais perigos de overdose ou, ao invés, promover a sua excreção mais rapidamente
do que o esperado.20

O álcool pode aumentar os efeitos e os efeitos primários e secundários de certos
medicamentos.20
O álcool altera a expressão ou a atividade de algumas enzimas utilizadas na
biotransformação de vários fármacos. Nos casos de uso crônico, induz a atividade
microssomal, determinando maior metabolismo de alguns fármacos. Em caso de sobrecarga
aguda de álcool, há competição por sistemas detoxificadores hepáticos, com diminuição do
metabolismo de certos medicamentos, aumentando o risco de superdosagem.5
O álcool etílico pode ainda dissolver mais rápidos alguns resíduos de medicamentos
no organismo, potencializando em até três vezes a dose original do medicamento. Alguns
medicamentos não se dissolvem totalmente no trato gastrointestinal, especialmente no
estômago e no intestino, através de pesquisas com o álcool, essas drogas poderiam se
dissolver mais facilmente e descobriu-se que há combinação intensificava o efeito do
medicamento.7
17
Apresenta especial importância a potencialização do etanol sobre os ansiolíticos,
sedativos, antidepressivos e antipsicóticos. Podem apresentar interações sinérgicas,
aprofundando a depressão central. Por outro lado, podem interagir com vários medicamentos
empregados no tratamento do Diabetes e interferir na ação de substâncias anticonvulsivantes e
anticoagulantes. Também pode aumentar o risco de sangramento gastrointestinal em pessoas
usando aspirina e/ou anti-inflamatórios não hormonais, incluindo o ibuprofeno e o naproxeno,
porque destrói a barreira de muco gástrico e aumenta a retrodifusão de íons hidrogênio.18-19
A interação entre medicamentos e o álcool etílico é notoriamente danosa, e
infelizmente atualmente, essa associação ainda é extremamente comum por parte da
população. O álcool etílico modifica o metabolismo de várias drogas, afetando as
concentrações dessas substâncias no organismo e, além disso, pode interferir na eficácia de
certas medicações, exacerbando seus efeitos colaterais. Esta associação pode acarretar efeitos
colaterais graves, inclusive com risco de morte. Podendo tanto potencializar os efeitos de um
medicamento quanto neutralizá-lo, podendo também ativar enzimas que metabolizam o
medicamento em substâncias tóxicas para o organismo. Outra maneira de potencialização de
medicamentos é quando estes, assim como o álcool, também atuam sobre o SNC, como no
caso de narcóticos e sedativos. Este sinergismo pode causar uma intensa e perigosa sedação.21
Na maioria das interações entre álcool e fármacos ocorre apenas nos casos de
consumos excessivos de álcool, há relatos que algumas que ocorrem por meio da ingestão
moderada (social). Todos os indivíduos estão sujeitos a essas reações, independentemente do
sexo, idade, raça ou distribuição geográfica. Contudo os idosos apresentam risco
particularmente aumentado, uma vez que mais de 60% costumam fazer uso de um ou mais
medicamentos regularmente, e até 60% dos homens e 41% das mulheres continuam
consumindo álcool.18
A ingestão aguda ou crônica tende alterar os mecanismos tanto farmacocinéticos
quanto farmacodinâmicos dos medicamentos.19

Farmacocinética: quando ocorrem alterações da absorção, distribuição ou
eliminação de um fármaco pelo outro, resultando em maior ou menor concentração da(s)
substância(s) no organismo.5

Farmacodinâmica: onde o álcool interfere nos efeitos dos medicamentos e
ocorre no Sistema Nervoso Central (SNC) dos indivíduos.3

Interações de efeito: quando o álcool reforça ou inibe os efeitos de outros
fármacos, atuando em sítios diferentes e por mecanismos diversos (exemplo: sinergia dos
18
efeitos de depressores do sistema nervoso central, como sedativos, opióides, anestésicos
gerais entre outros).5
Na ingestão do álcool ocorre uma interação dos efeitos depressores no SNC, entre
ansiolíticos, hipnóticos e sedativos e o uso abusivo do álcool, ocorre uma interação danosa em
seus efeitos, havendo a alta prevalência de óbito, acometido por falência do sistema
cardiovascular, depressão respiratória ou grave hipotermia.1,22
2.1.1.1 Interação Farmacocinética
A concentração sérica de fármacos está em equilíbrio dinâmico com os receptores
desses fármacos. Portanto, o nível sérico de um fármaco é excelente indicador para os efeitos
tóxicos e farmacológicos. Os parâmetros farmacológicos que representam a absorção,
distribuição e eliminação são obtidos do perfil de concentração plasmática do fármaco.
Portanto chamadas as interações em que um dos fármacos modifica a cinética de outro
administrado concomitantemente. Em 1953, Dost propôs o termo farmacocinético para
descrever o movimento da droga através do organismo. A farmacocinética igualmente estuda
quantitativamente a cronologia dos processos metabólicos da absorção, distribuição e
eliminação das drogas. Efeitos diretos na absorção ou indiretos na metabolização da droga,
por exemplo, a interação que ocorre no fígado onde muitas drogas são metabolizadas pelas
mesmas enzimas.2,23
As interações farmacocinéticas mais frequentes entre medicamentos, drogas e álcool
ocorrem como resultado da proliferação induzida pelo álcool no retículo endoplasmático liso
das células hepáticas. Portanto, a ingestão prolongada, sem lesão para o fígado, pode
aumentar a biotransformação metabólica dos fármacos, o que já no uso agudo é capaz de
inibir o metabolismo, devido à alteração do metabolismo ou à alteração do fluxo sanguíneo
hepático. Este efeito agudo do álcool pode contribuir para o perigo comum de misturá-lo com
fármacos. As fenotiazinas, os antidepressivos tricíclicos e as drogas sedativas são as mais
importantes capazes de interagirem com o álcool através deste mecanismo.1
As interações farmacocinéticas têm grandes possibilidades de resultar de alterações na
taxa de esvaziamento gástrico, afetando a quantidade de álcool ou do fármaco absorvidos. Já
os fármacos que reduzam o esvaziamento gástrico diminuem a velocidade de absorção do
álcool e a sua concentração no sangue, em contrapartida os que acelerem o esvaziamento
gástrico conduzem a um aumento da concentração de álcool no sangue. O próprio álcool pode
atrasar o esvaziamento gástrico.14,18
19
Medicamentos que impedem a oxidação do acetaldeído, por inibição da ALDH,
tendem a provocar uma reação sistêmica se administrados concomitantemente com o álcool
desencadeiam uma reação tipo “dissulfiram”, fármaco usado para encorajar a abstinência em
doentes alcoólicos que decidiram parar de beber, ao ser administrado concomitantemente com
o álcool conduz a um aumento da concentração de acetaldeído.14,18-19
O álcool etílico pode interferir com os fármacos metabolizados pelas enzimas do
sistema hepático microssomal, interação que depende de como o álcool é consumido. No caso
do consumo agudo há uma competição entre o álcool e o fármaco ao nível microssomal, com
diminuição do metabolismo do fármaco, resultando numa excreção diminuída dos produtos de
metabolismo e num aumento do risco de sobredosagem.14,18
Já o consumo crônico resulta num aumento da atividade microssomal, mesmo na
ausência de álcool, com aumento do metabolismo do fármaco e diminuição das suas
concentrações plasmáticas.14,18
As interações farmacocinéticas são as mais frequentes e promovem, muitas vezes,
influência significativa sobre a terapêutica medicamentosa, em confronto com as interações
farmacodinâmicas que são quase sempre previsíveis. A farmacocinética utiliza metodologia
matemática para descrever as variações no tempo dos processos de absorção, distribuição,
biotransformação e excreção. A variável básica desses estudos é a concentração das drogas e
dos seus metabólitos nos diferentes tecidos e excreções do organismo.23
2.1.1.2 Interação Farmacodinâmica
A farmacodinâmica estuda o caminho de como o medicamento administrado
concomitantemente com ao álcool vai interagir com o corpo humano para realizar a sua
função, através do mecanismo de ação dos fármacos. Fica notório que para cada classe de
fármacos a farmacodinâmica será bem particular.2
As
interações
farmacodinâmicas
são
quase
sempre
previsíveis,
mas
não
necessariamente menos importantes que as farmacocinéticas, forma mais manifestada é a
relativa ao efeito reforçado dos fármacos que deprimem o sistema nervoso central (SNC) pela
ingestão concomitante de álcool.18
Podem interagir com outras drogas como benzodiazepínicos, opióides, analgésicos,
anfetaminas, cocaína, barbitúricos, alucinógenos, antibióticos e anti-histamínicos, sendo que
estas combinações podem afetar o indivíduo em muitas formas. Interação farmacológica
20
significa que há uma alteração das propriedades de determinada droga quando na presença de
outra.23
Interações farmacodinâmicas resultam em tolerância cruzada entre álcool e outros
depressores do SNC, pois competem pelo mesmo sítio de ação e facilitam o controle da
abstinência alcoólica.5
O álcool também potencializa os efeitos farmacológicos de muitas drogas não
sedativas, incluindo os vasodilatadores e os fármacos hipoglicêmicos orais. Também aumenta
a ação antiplaquetária da aspirina. Tem uma interferência no mecanismo de ação das drogas,
assim tendo efeitos imprevisíveis e perigos potenciais envolvidos na mistura do álcool com
outras drogas.1
Ao fazer uso excessivo de álcool, os etilistas desenvolvem tolerância as bebidas
alcoólicas e fármacos, o que resulta em uma tolerância cruzada, acometido em parte, pela
adaptação do SNC, ocasionando a tolerância farmacodinâmica e a tolerância metabólica.1
2.2
ANTI-INFLAMATÓRIOS
NÃO
ESTEROIDES
(AINES)
E
USO
CONCOMITANTE DE ETANOL
De acordo com Goodman e Gilman os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs)
estão entre os medicamentos mais amplamente utilizados dentre os agentes terapêuticos. Esta
classe de medicamentos é formada por vários fármacos que têm em comum a capacidade de
controlar a inflamação, produzir analgesia (reduzir a dor), e combater a hipertermia
(febre). Apesar de em sua maioria serem constituídos por ácidos orgânicos, sua estrutura
química é diversificada.1,19
A maioria dos fármacos que pertencem à classe dos AINEs é de fácil absorção, e sua
biodisponibilidade não é consideravelmente modificada pela presença de alimento, sendo em
sua maioria altamente metabolizados, alguns pelo mecanismo de fase I, seguida de fase II, e
outros por glicuronização direta (fase II) apenas. O metabolismo dos AINEs ocorre, em
grande parte, pelas famílias CYP3A ou CYP2C das enzimas P450 do fígado. Embora a
excreção renal seja a via mais importante de eliminação final, quase todos os AINEs sofrem
graus variáveis de excreção biliar e reabsorção (circulação êntero-hepática).17
Os AINEs são um grupo quimicamente heterogêneo de compostos que, no entanto,
compartilham determinadas ações terapêuticas e efeitos adversos. Estes fármacos são
inibidores inespecíficos das enzimas ciclooxigenase (COX) (Fig.1). A COX possui duas
formas ligeiramente diferentes, designadas COX-1 e COX-2. Estas são importantíssimas
21
na cascata do ácido araquidónico, pois transforma o ácido araquidônico, uma substância
formada a partir de lipídios presentes na membrana celular pela ação da fosfolípase A2, em
dois tipos de compostos, as prostaglandinas e os tromboxanos. A via de lipoxigenase do
metabolismo do araquidonato produz leucotrienos, que exercem um poderoso efeito
quimiotático nos eosinófilos, nos neutrófilos e nos macrófagos, promovendo broncoconstrição
e a alteração da permeabilidade vascular.1,17
Figura 1- Estrutura espacial das enzimas COX-1 e COX-2. Evidência para os pontos de inibição
promovidos por AINEs
Fonte: Goodman e Gilman, 2012.
De função constitutiva a enzima COX-1 é sempre presente no organismo, colaborando
para o funcionamento fisiológico dos órgãos estando presentes na maioria dos mesmos.
Diante de quadros inflamatórios, a atividade desta isoforma não parece ser alterada ou
apresenta um aumento discreto de 2 a 4 vezes na sua expressão. Sua inibição produz, efeitos
como lesões às mucosas, lesão renal, alterações hemodinâmicas e distúrbios da função
uterina, sendo estes efeitos indesejados dos AINEs. A COX-2 é induzida por citocinas,
estresse de cisalhamento e promotores de tumor, caracterizando-se como a fonte mais
importante de formação de prostanóides na inflamação e talvez no câncer, com indução pelos
processos inflamatórios e produz prostaglandinas que sensibilizam os nociceptores e
provocam febre e inflamação por meio da vasodilatação e do aumento da permeabilidade
vascular. Porém, em alguns órgãos, a COX-2 também é constitutiva, como nos rins, endotélio
vascular, útero e SNC. O papel destes mediadores na inflamação e na dor, assim como em
vários outros processos fisiológicos (como na coagulação), é amplamente aceito.1,19,24
22
A ação anti-inflamatória está ligada à inibição da COX-2, resultando normalmente em
vasodilatação, edema de modo indireto, e dor. Em menores quantidades, a COX-2 encontra-se
em determinados tecidos como cérebro, intestinos, rins, testículos, glândula tireoide, pâncreas;
diante de quadro inflamatório, sua expressão é aumentada cerca de 20 vezes ou mais. Além do
ácido araquidônico, a COX-2 também é capaz de agir no metabolismo de outras substâncias
como: ácido linolênico e ácido linolêico.1,24
De acordo com Silva (2002) o mecanismo de ação destes medicamentos está
relacionado com a inibição periférica e central da atividade das enzimas ciclooxigenases
(COX-1 e COX-2) e subsequente diminuição da biossíntese e liberação dos mediadores da
inflamação, dor e febre, as prostaglandina(Fig.2).25
Figura 5- Classificação dos AINEs de acordo com sua estrutura química e mecanismo de ação
Fonte: http://www.actafisiatrica.org.br/
É provável que quando utilizados para casos inflamatórios, seus efeitos indesejáveis
decorram em grande parte da inibição da COX-1. Os AINEs não seletivos podem apresentar
diversos efeitos colaterais, dentre os quais o mais importante é a tendência a produzir
ulceração gástrica e duodenal. Este efeito colateral pode ser explicado pelo fato da inibição da
23
COX-1 constitutivamente expressa no estômago resultar no bloqueio da biossíntese de
importantes prostaglandinas (PGE2 e PGI2) envolvidas na citoproteção gástrica.26
Apesar da diminuição na incidência de complicações gástricas com o uso de
inibidores seletivos da COX-2, estes fármacos também podem causar problemas, tais como
doenças cardiovasculares e renais. Além disso, em doses altas também são capazes de causar
dano gastrointestinal.26
Inibindo as ciclooxigenase os AINEs podem provocar uma série de efeitos colaterais
como: diarreia, hemorragia gastrointestinal, dispepsia, úlcera péptica, disfunção e falência
renal, inibição da agregação plaquetária e aumento do tempo de sangramento, alterações dos
testes de função renal, icterícia e interações com outras drogas. Fazem parte deste grupo
medicamentos muito conhecidos, em parte por alguns já estarem disponíveis há muito tempo,
por serem de venda livre, e pelo vasto número de situações em que são usados. Alguns nomes
mais populares incluem o ácido acetilsalicílico, ibuprofeno e naproxeno.27
Segundo Olson a maioria dos efeitos tóxicos dos AINEs também se da pela inibição
das ciclooxigenases, que levam a redução das prostaglandinas, visto que estas estão
envolvidas na manutenção da regulação do fluxo sanguíneo renal e da integridade da mucosa
gástrica. Portanto a toxicidade aguda ou crônica poderá atingir os rins e o estômago. Porém,
ainda não se tem dados suficientes em seres humanos para estabelecer uma correlação
confiável entre a quantidade de fármaco administrada, as concentrações plasmáticas e os
efeitos clínicos tóxicos, embora haja relatos de sintomas significativos após a ingestão de
mais de 5 a 10 vezes a dose terapêutica usual.25
Conforme Gómez-Moreno et al. o paracetamol é um AINE com propriedades
analgésicas e antipirética, usado no tratamento de dores leves e moderadas, tais como cefaleia,
mialgia, artralgia, dor crônica do câncer, pós-operatório, dor pós parto e febre (FATAH et al,
2005). Este fármaco é metabolizado no fígado pela CYP2E1 que participa também da
metabolização do álcool. Quando esta enzima metaboliza o paracetamol é produzido um
metabolito muito hepatotóxico, denominado N-Acetil-p-benzoquinonimina (NAPQI), que é
rapidamente degradado pela glutationa hepática. Este AINE apresenta pouca atividade antiinflamatória explicada por sua fraca ação inibidora sobre a COX-1 e COX-2.28
Para a FDA (Food and Drug Administration), órgão norte-americano de supervisão na
área dos medicamentos e interações, segundo suas pesquisas não há informações de
problemas sérios entre o uso concomitantemente de anti-inflamatórios e o consumo moderado
álcool.19
24
O consumo de álcool parece acentuar as hemorragias gastrointestinais causadas pelo
ácido acetilsalicílico (AAS) e outros AINEs, assim como prolongar o tempo de hemorragia.
Não há evidências de que o consumo ligeiro a moderado de álcool aumente significativamente
o risco de hemorragia, vale salientar aos consumidores excessivos de álcool que tomam AAS
ou outros AINEs regularmente, para um particular risco de hemorragia gastrointestinal.19
Gómez-Moreno et al. relata que a toxicidade do paracetamol em uso concomitante
com o álcool etílico se deve quer à indução da CYP2E1, quer à depleção da GSH (Glutationa
reduzida) mitocondrial. Como tal, se um alcoólatra crônico tomar paracetamol deve
interromper o consumo de etanol. Isto porque se irá verificar quer uma depleção da glutationa,
quer uma elevada quantidade de CYP2E1, levando a uma produção elevada de NAPQI. Estes
fenômenos podem provocar danos hepáticos irreversíveis, que podem levar a uma falência
hepática.28
O Diclofenaco de sódio, o Diclofenaco de potássio, o Piroxican, o Tenoxican, o
Ibuprofeno e o Naproxeno, anti-inflamatórios mais vendidos livremente no Brasil, podem
provocar por si só, irritação gástrica, úlcera e hemorragia gastrintestinal, quando associados
ao álcool, estes medicamentos podem potencializar seus efeitos secundários.30
O alto consumo de álcool mundialmente em uso concomitantemente com os AINES
têm contribuído para o crescimento de úlcera gástrica. Já o AAS aumenta os efeitos do álcool,
e seus resultados que avaliaram sua possível interação com o álcool são conflitantes. O maior
risco dessa associação, provavelmente, está no aumento da possibilidade de sangramento
gastrointestinal (assim como a concomitância de AINEs e álcool).18,31-32
2.3 ANTIDEPRESSIVOS E A INTERAÇÃO COM O ÁLCOOL
De acordo com Moreno et al. os fármacos antidepressivos não influenciam a resposta
basal dos indivíduos normais e apenas corrigem condições alteradas de pessoas com a
síndrome depressivas por meio de mecanismos diversos.33
Atualmente os antidepressivos compreende uma distinta variedade de tipos químicos,
sendo que essas diferenças dos alvos moleculares é que proporcionam a base para a distinção
dos vários subgrupos como pode ser observado no quadro 1. Mesmo com as diferentes
estruturas químicas os antidepressivos tem em comum o potencial de elevação sináptica de
algumas monoaminas (norepinefrina, serotonina e dopamina), o que reforça a hipótese
monoaminergica da depressão.17
25
Na classe de medicamentos antidepressivos é possível destacar os antidepressivos
tricíclicos (inibidores dos transportadores das monoaminas), IRSN (inibidores da recaptação
de serotonina e noradrenalina), ISRS (inibidores seletivos da recaptação de serotonina) e
inibidores da monoaminaoxidase.1 Agem diretamente no cérebro, modificando e corrigindo
a transmissão neuroquímica em áreas do sistema nervoso que regulam o estado do humor (o
nível da vitalidade, energia, interesse, emoções e a variação entre alegria e tristeza), quando o
humor está afetado negativamente num grau significativo. Aumentam as concentrações de
dopamina, noradrenalina e serotonina entra as sinapses, o que pode em seguida levar a
mudanças adptativas.1
Os inibidores de recaptação conhecidos como inibidores de segunda geração, inibem
tanto a SERT, o transportador de serotonina neuronial (5-hidroxitriptamina; 5-HTP) quanto a
NET, o transportador neuronal de norepinefrina (NE), ou ambas (Fig.3).1
Figura 3-Locais de ação dos antidepressivos. Esquema que representa as terminações nervosas noradrenérgicas
(no alto) e serotonérgicas (embaixo). ISRSs, IRSNs e ADTs aumentam a neurotransmissão noradrenérgica ou
serotonérgica bloqueando o transportador de norepinefrina ou serotonina nos terminais pré-sinápticos (NERT,
SERT). Os IMAOs inibem o catabolismo da norepinefrina e da serotonina.
Fonte: Goodman e Gilman, 2012.
26
Quadro 1- classificação dos antidepressivos
Classificação dos antidepressivos
CLASSE
EXEMPLO DE MEDICAMENTOS
IMAO
Tranilcipromina, Moclobemida
ADT s
Imipramina, Amitriptilina
ISRS
Fluoxetina, Sertralina
ISRSN
Venlafaxina
ISRDA
Bupropiona
Fonte: Adaptado de Moreno et al.
De acordo com Goodman e Gilman os antidepressivos em sua maioria tem fácil
absorção após administração oral. Embora em geral sejam inicialmente utilizados em doses
fracionadas, suas meias-vidas relativamente longas e faixa bastante ampla de concentrações
toleradas permitem uma transição gradual para uma dose única diária administrada ao deitar.1
O metabolismo da maioria dos antidepressivos depende da atividade de isozimas do sistema
do citocromo P450 (CYP) microssômico hepático. É comum à ocorrência de efeitos colaterais
significativos dos antidepressivos. Os antidepressivos tricíclicos rotineiramente exercem
efeitos autônomos adversos, em parte relacionados com seus efeitos antimuscarinicos
relativamente potentes. Incluem ressecamento da boca e gosto azedo ou metálico, desconforto
epigástrico, prisão de ventre, tonteira, taquicardia, palpitações, visão embaçada (acomodação
deficiente, com maior risco de glaucoma) e retenção urinária. Além disso, os efeitos
cardiovasculares incluem hipotensão ortostática, taquicardia sinusal e prolongamento variável
do tempo de condução cardíaca, com potencial de arritmias, em particular no caso de
dosagem excessiva.1
O uso abusivo de álcool em conjunto com fármacos antidepressivos como a
Amitriptilina, o Cloridrato de Clomipramina, o Cloridrato de Imipramina e o Cloridrato de
Nortriptilina desencadeiam reações semelhantes às dos anti-histamínicos, isto é, uma redução
do estado de alerta, e consequentemente risco na condução e no manejo de máquinas
perigosas, e desequilíbrio, com possibilidade de acidente. Enquanto antidepressivos mais
modernos como a Fluoxetina, Fluoxamina, Paroxetina e Moclobemide parecem não interferir
com a farmacocinética do álcool. Combinar álcool e antidepressivos também pode piorar os
27
sintomas da depressão. Por sua vez, antidepressivos pode agravar a capacidade de intoxicação
do álcool.18
Nos indivíduos que fazem uso de uma determinada classe de antidepressivos
chamados inibidores da monoaminaoxidase (IMAO), é restrito o uso de álcool
completamente, uma interação perigosa podendo causar aumento da pressão arterial.5
Além disso, alguns compostos presentes no vinho e na cerveja também podem
interagir com outros fármacos levando a efeitos adversos. O mais comum é a interação dos
IMAO com a tiramina presente nestas bebidas o que pode causar crise hipertensiva.18
O álcool pode aumentar o efeito entorpecente dos medicamentos antidepressivos. É
muito importante ter este aspecto em atenção quando se conduz veículos ou participa em
atividades que requerem uma forte dose de atenção.34
A maioria dos antidepressivos tem alguns efeitos colaterais tóxicos e a dosagem é
geralmente ajustada para isso. Como o álcool é metabolizado pelo fígado, isso pode resultar
no aumento da toxidade porque o fígado é incapaz de lidar com as toxinas do álcool e dos
antidepressivos comumente utilizados. Isso é especialmente verdadeiro para as novas classes
de antidepressivos, tais como Venlafaxina, Mirtazapina entre outros, para os quais a
toxicidade pode ser fatal.8
2.4 INTERAÇÃO ÁLCOOL E HIPOGLICEMIANTES
O Diabetes Mellitus (DM) é uma síndrome do metabolismo defeituoso de
carboidratos, lipídios e proteínas acometidos possivelmente de duas formas: falta de produção
ou falha na utilização da insulina. Na falta de produção ocorre um processo autoimune onde o
organismo não reconhece as células β do pâncreas, secretoras de insulina. A destruição das
células β leva o organismo à incapacidade total ou quase total de produzir o hormônio, sendo
o paciente obrigado a fazer uso de insulina sintética. Tipicamente conhecida como diabetes
tipo 1 ou insulino-dependente. Normalmente se manifesta durante a adolescência, porém pode
surgir em qualquer idade após um distúrbio que cause a destruição das células β.35
De acordo com Katzung o diabetes mellitus é definido por níveis elevados de glicemia
associados a uma secreção pancreática de insulina inadequada ou ausente, com ou sem
comprometimento concomitante da ação da insulina, sendo atualmente classificada em quatro
categorias: tipo 1-diabetes insulino-dependente; tipo 2-diabetes não insulino-dependente; tipo
3-outros; tipo 4-diabetes melito gestacional.17
28
O número de indivíduos com diabetes está aumentando devido ao crescimento e ao
envelhecimento populacional, à maior urbanização, à crescente prevalência de obesidade e ao
sedentarismo, bem como à maior sobrevida da pessoa com DM. No Brasil, segundo
estimativas, já são mais de 12 milhões de portadores1 com maior incidência em obesos acima
dos 40 anos. Nos EUA entre 7 a 10% da população adulta são acometidos e uma percentagem
até três vezes maior corre risco de desenvolver a doença.3,35
Segundo a Associação Americana de Diabete a hiperglicemia crônica do DM está
associada a danos em longo prazo com disfunção e falência de múltipla de órgãos.36
A insulina constitui a base do tratamento de praticamente todos os pacientes tanto com
Diabetes Mellitus tipo 1 quanto do tipo 2. Sua administração pode ser por via intravenosa ou
por via intramuscular, porém o tratamento em longo prazo baseia-se predominantemente na
injeção subcutânea do hormônio.36
As sulfonilurérias são importante hipoglicemiantes orais no tratamento do Diabetes
Mellitus tipo 2 provocam hipoglicemia ao estimular a liberação de insulina das células β do
pâncreas. Entretanto seus efeitos no tratamento do diabetes são mais complexos. A
administração aguda de sulfonilureias a pacientes com DM tipo 2 aumenta a liberação de
insulina do pâncreas e tem uma grande tendência em aumentar ainda mais os níveis de
insulina ao reduzir a depuração hepática do hormônio.1
Durante a década de 1920 as biguanidas foram investigadas para uso no diabetes,
porem foram eclipsadas pela descoberta da insulina. Pouco depois da introdução das
sulfonilureias, as primeiras biguanidas tornaram-se disponíveis para uso clinico. Entretanto a
fenformina, o primeiro fármaco desse grupo, foi retirado do mercado nos EUA e na Europa,
devido a uma frequência aumentada da acidose láctica associada a seu uso. Outra biguanida a
metformina foi extensamente utilizada na Europa sem efeitos adversos significativos e em
1995 foi aprovada para uso nos EUA. A metformina é um dos principais fármacos no
tratamento da DM e administrada isoladamente ou em combinação com uma sulfonilureia,
melhora o controle glicêmico e as concentrações de lipídios em pacientes que respondem de
modo insatisfatório a dieta ou a uma sulfonilureia isoladamente.1,35
Em indivíduos com Diabetes Mellitus controlados com insulina, antidiabéticos orais,
ou dieta, a ingestão de elevadas quantidades de álcool pode causar hipoglicemia, uma vez que
o álcool inibe a neoglucogenese, potenciando a resposta da insulina perante um aporte de
glucose. Estes indivíduos devem ser alertados para os efeitos depressores do SNC causados
pelo álcool que, associados a uma situação de hipoglicemia, podem tornar perigosa à tarefa de
conduzir ou manipular máquinas. Os doentes com neuropatia periférica deverão ser alertados
29
para o fato de o álcool poder agravar esta condição. Uso agudo de álcool prolonga os efeitos
enquanto que o uso crônico inibe os antidiabéticos.19.37
A metformina é um hipoglicemiante que tem sido associado com um efeito secundário
raro, mas potencialmente grave quando tomado por indivíduos que tenham ingerido
excessivamente álcool. Isso aumenta o risco de acidose láctica, o que provoca uma
acumulação de ácido láctico no sangue e pode levar a sintomas tais como náuseas e fraqueza.
Já Glimepirida e outras sulfonilureias, também podem ocasionalmente interagir com o álcool
e causar tonturas, náuseas e os níveis extremamente baixos de glicose no sangue, que pode
levar a desmaios e até a morte se a pessoa não for socorrida a tempo (Fig.4).1,17
O alto teor de ingestão de bebidas alcoólicas por um tempo longo pode danificar o
fígado a ponto dele não ser capaz mais de produzir glicose, o que agrava o controle da
diabetes. Além disso, danos neurais causados pela ingestão inadequada do álcool, aumenta às
dores, a ardência, o formigamento, o entorpecimento e outros sintomas decorrentes dos danos
nos nervos.38
O álcool pode se acumular nas células nervosas, intensificando os danos causados
pelos altos níveis de glicose e piorar a neuropatia. Ela também aumenta as triglicérides, a
pressão arterial e o risco de catarata.38
Em indivíduos diabéticos que fazem uso de medicamentos que aumentam a quantidade
de insulina no sangue, ou mesmo naqueles diabéticos que aplicam insulina, ao ingerir álcool,
o fígado fica muito ocupado desativando o álcool ingerido, não metabolizando a quantidade
de açúcar no sangue corretamente. Além disso, outro problema é que as bebidas alcoólicas
são, geralmente, muito calóricas, ganho de peso, o que é tido como danoso no caso de
indivíduos com diabetes.39
O álcool pode causar náuseas e aumento da frequência cardíaca. O álcool também
pode aumentar a pressão arterial. Estudos descobriram que os riscos de saúde para as pessoas
com pressão arterial elevada ao longo diabetes é duas vezes maior do que aqueles que não têm
diabetes.40
30
Figura 4- Agentes de 2º geração
Fonte: Goodman e Gilman, 2012
31
3 METODOLOGIA
Foi realizado um rastreamento bibliográfico, utilizando livros de farmacologia, além de
artigos científicos, revistas nacionais e internacionais e dissertações de mestrado no período
de 2000 a 2015. As bases de dados consultadas na internet são as que seguem: Scielo, Google
Acadêmico, Pub Med., Medline, por meio das seguintes palavras chave: interação
medicamentosa, etanol, antiinflamatórios, hipoglicemiantes e antidepressivos.
32
4 DISCUSSÃO
O álcool é uma droga psicoativo que altera praticamente toda a farmacocinética dos
alimentos, promovendo deficiências nutricionais, particularmente de vitaminas e minerais, e
além de ser um estimulador da secreção gástrica ácida, retarda o esvaziamento gástrico,
interferindo na cinética de absorção de fármacos. Por outro lado, os fármacos que alteram a
motilidade gastrintestinal interferem na absorção do álcool.19
Através da comparação de dados, é possível detectar que o percentual de indivíduos
com consumo de álcool (34,1%) é menor quando comparados aos estudos realizados na
Califórnia (50,8%) e no México (62%). Em relação ao padrão de consumo, 4,9% pacientes
consumiam três doses ou mais, o que é superior ao consumo encontrado na Califórnia (1,6%).
Nos resultados, aqui, deste estudo, 15,8% pacientes consumiam menos de uma dose ao mês,
enquanto que na Califórnia, 34%. Desse modo, o percentual de pacientes que consumiam
álcool era menor, no entanto, a quantidade ingerida é maior. Por outro lado, o consumo igual
ou inferior a uma vez ao mês, está em concordância com os resultados encontrados em
investigação realizada no México.3
Os riscos associados à mistura entre medicações e bebidas alcoólicas são ainda
maiores na população idosa. As pessoas com mais de 65 anos de idade respondem por 25 a
30% do consumo geral de remédios e são mais propensas a sofrerem efeitos colaterais quando
comparadas a pacientes mais jovens.41
Apenas nos EUA, existem mais de 4.800 medicamentos liberados para uso, e os
médicos preenchem mais de 14 bilhões de receitas a cada ano. Os especialistas calculam que
aproximadamente 70% da população adulta consomem bebidas alcoólicas pelo menos
ocasionalmente, sendo que 10% fazem uso diário. Estes números combinados sugerem que a
associação entre bebidas alcoólicas e medicamentos será quase inevitável em algum
momento.41
As interações entre álcool e o uso concomitantemente de medicamentos, podem tanto
aumentar quanto diminuir a eficácia terapêutica, o que pode acentuar ou atenuar os
fenômenos indesejáveis, denominados efeitos colaterais de medicamentos. Em alguns casos,
essas interações são tão perigosas que podem levar o paciente ao coma e/ou óbito. Vale
enfatizar que os efeitos das interações graves são potencialmente letais ou de tal intensidade
que chegam a causar danos irreversíveis ao paciente. A gravidade potencial da interação e
particularmente o risco devem ser sempre avaliados. Prescrevendo-se dosagens apropriadas
33
ou modificando-se o regime de administração, os efeitos negativos da maioria destas
interações, podem ser evitados.6,12
Os etilistas acometidos pela tolerância ao álcool e a outros medicamentos, ocorrendo
uma tolerância cruzada, pela adaptação do SNC, uma tolerância farmacodinâmica e tolerância
metabólica, que acomete os etilistas crônicos, o que ocasiona uma tendência a necessidade de
maiores doses de fármacos para obtenção da eficácia terapêutica desejada.12
Nas interações entre os medicamentos e o álcool, destaca-se a ocorrência de maior
interação entre álcool e Paracetamol (19,6%) e menor interação entre álcool e Metformina
(0,8%). Por isso, no decorrer de anos, associou-se dano hepático a uso de paracetamol em
pacientes alcoólatras. O álcool induz a enzima CYP2E1, envolvida na formação do metabólito
hepatotóxico do paracetamol. Deste modo, o uso crônico de álcool juntamente com a
administração concomitante de paracetamol aumenta os efeitos hepatotóxicos deste
medicamento, além de provocar depleção de glutationa e deste modo também promover o
progresso dos efeitos tóxicos no individuo.5
O uso crônico de álcool pode acometer o individuo ao desenvolvimento de danos ao
fígado, o que concerne na sua incapacidade de metabolizar certos fármacos, ou seja, o álcool
altera a expressão ou a atividade de algumas enzimas utilizadas na biotransformação de vários
fármacos.
No Brasil, diferentes estudos de utilização de medicamentos situam os antiinflamatórios não esteroides (AINEs) entre os mais utilizados pela população. Os AINEs
integram o grupo dos fármacos mais comumente prescritos em todo o mundo e estão entre os
mais utilizados nas práticas de automedicação. Nos Estados Unidos, respondem por mais de
70 milhões de prescrições e mais de 30 bilhões de comprimidos de venda livre
comercializados anualmente.12,42
Os efeitos do uso do álcool nas pessoas que possuíam o Diabetes Mellitus são
complexos e precisam de maiores estudos, pois, há dados em que é sugerido que o álcool
aumenta a obesidade, induz pancreatite, provocando alterações no metabolismo de
carboidratos e glicose com períodos de hipoglicemia, na ingestão crônica do álcool e com
longos períodos de jejum.3
Através da compilação de dados foi observado que interações do álcool com
antidiabéticos, em potencial, são consideradas de alta periculosidade. Quanto à glibenclamida,
além da reação do tipo dissulfiram, uma reação caracterizada pela interferência no
metabolismo do álcool no corpo do individuo pela inibição irreversível da enzima acetaldeído
desidrogenase, alterações nos níveis sanguíneos de glicose, principalmente hipoglicemia,
34
poderiam ocorrer. O uso concomitante de insulina e metformina com bebidas alcoólicas
também poderia incrementar, no primeiro caso, o risco de hipoglicemias e, no segundo caso, a
chance de acidose láctica.
Em uma pesquisa aplicada em locais de atendimento primário à saúde, 869 adultos
com distúrbios devidos a álcool e que recebiam medicamentos foram investigados quanto ao
potencial de interação entre eles. Do total de pacientes, 348 (40%) estavam tomando
medicamentos com potencial de interação com álcool, mais frequentemente bupropiona e
compostos contendo paracetamol.5
Um total de 38.564 indivíduos adultos com diabetes foi avaliado quanto à associação
entre o consumo de álcool e o controle glicêmico em um período de um ano pelo Kaiser
Permanente Northern California Medical Care Program. Em seu resultado, também mostrou
que o consumo moderado de álcool está associado ao melhor controle glicêmico, prevendo
valores mais baixos de hemoglobina glicada em cerca de 0,5% por um valor de consumo de
bebidas,doses/dia, traduzindo em benefícios na prevenção de complicações relacionadas ao
diabetes. Ha uma referência que essa diferença é clinicamente significativa e pode ser
comparada com o mesmo efeito alcançado com o início de uma terapia intensiva com
metformina.3
Entretanto não podemos perder de vista os riscos associados a ingestão concomitante
de álcool e produtos antidiabeticos, que podem levar ao aparecimento da hipoglicemia grave,
além de problemas relacionados ao sistema nervoso, endócrino e principalmente psicológico,
uma transtorno clinico que muda radicalmente a vida de um individuo, lhe acometendo de
varias disfunções o que acaba lhe negando a possibilidade de uma vida comum.
35
5 CONCLUSÃO
Conclui-se que a interação entre álcool e medicamentos acomete sério risco ao ser
humano, com efeitos colaterais graves, inclusive com risco de morte. O álcool pode tanto
potencializar os efeitos de um medicamento quanto neutralizá-lo. Pode também ativar
enzimas que metabolizam o medicamento em substâncias tóxicas para o organismo
As reações adversas variam desde alterações gastrointestinais, como náuseas e
vômitos, ou reações mais intensas como dores de cabeça, palpitações, hipotensão, tontura,
taquicardia, sedação, convulsões, intoxicação aguda, coma e até a morte.
Através da compilação de dados obtidos pela pesquisa conclui-se que o uso
concomitante entre álcool e anti-inflamatórios é nocivo, tendo um elevado número de
perturbações gastrointestinais, ulceras e sangramentos, atualmente um dos casos mais
interessantes e o uso de Paracetamol e álcool ocasionado hepatite medicamentosa.
O uso concomitante de álcool e hipoglicemiantes pode levar a casos de severas
hipoglicemia severa com quadro de taquicardia, sudorese, dores de cabeça, convulsão e coma.
A associação do álcool com a glibenclamida pode levar a reações semelhantes à do tipo
dissulfiram, também cólicas abdominais, náuseas, vômitos, e cefaleia.
O uso indevido de álcool e medicamentos antidepressivos, leva a redução do estado de
alerta, além de que os antidepressivos podem agravar a capacidade de intoxicação do álcool.
O uso de álcool deve ser completamente restrito com antidepressivos IMAO, visto que está
interação perigosa pode causar o aumento da pressão arterial.
O tipo de bebida e as características individuais dos medicamentos influenciam
diretamente na forma e intensidade das reações. Os efeitos no organismo podem variar de
intensidade, dependendo do indivíduo e da quantidade ingerida, do horário e do tempo de
utilização do medicamento.
36
REFERÊNCIAS
1. Goodman e Gilman, As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 12º edição. Rio de
Janeiro RJ; McGraw-Hill Interamericana do Brasil Ltda.; 2005.MANAHAN, Stanley
E., Toxicological Chemistry, second edition, 1992: 331-332.
2. Silva CB, Lafaiete R, Donato M. O consumo de álcool durante o tratamento de
Tuberculose: percepção dos pacientes. SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool
Drog. (Ed. port.),2011;7(1):10-7.
3. Olivatto GM, Veras VS, Zanetti GG, Zanetti ACG, Ruiz FGR, Teixeira CRS.
Consumo de álcool e os resultados no controle metabólico em indivíduos com
diabetes, antes e após a participação em um processo educativo. SMAD, Rev.
Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. 2014;10(1):3-10.
4. Cisa - Centro de informações sobre saúde e álcool, Álcool e medicamentos
http://www.cisa.org.br/tags/%C3%A1lcool [internet] acessado em 20 de maio de
2015.
5. Wannmacher L. Interações de medicamentos com álcool: verdades e mitos. Ministério
da Saúde. Brasília, 2007:4(12).
6. Cruz MG. Lorazepam no tratamento do alcoolismo: uma revisão. Universidade de
Brasília- UNB Faculdade de Ceilândia- FCE, Ceilândia, DF, 2015.
7. Maranhão L. O risco de brindar. [Doc. Online] Disponível em: <
http://www.leonardomaranhao.blog.br/#!O-risco-ao-brindar/c218b> Acessado em
Agosto, 2015.
8. Bailey C. Os efeitos da combinação de álcool com antidepressivos. Traduzido por Morgana
Nunes. Disponível em < http://www.ehow.com.br/efeitos-combinacao-alcoolantidepressivos-info> Acessado em Maio, 2015.
9. Pires ISA. Intoxicação Alcoólica Aguda: Casuística no Serviço de Urgência Geral do
Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. [Dissertação de Mestrado] Universidade da
Beira Interior, Ciências da Saúde. Covilhã, 2013.
37
10. Global status report on alcohol and health, World Health Organization, 2011.
Disponível em <
http://translate.google.com.br/translate?hl=ptBR&sl=en&u=http://www.who.int/substa
nce_abuse/publications/global_alcohol> Acessado em 21 de maio de 2005.
11. Greghi et al. Interações medicamentosa envolvendo os neuropsicofarmacos
padronizados no HURNP. Psiquiatria Geral. Disponível em <
http://www.psiquiatriageral.com.br/tratamento/interacoes> Acessado em Maio, 2015.
12. Gotardelo et al. Consumo de álcool e interações álcool-drogas entre idosos atendidos
na Estratégia Saúde da Família. Rev Med Minas Gerais 2015; 25(3): 363-68.
13. Ramos et al. Álcool e drogas no contexto da Atenção Básica Universidade Federal do
Rio de Janeiro. Centro de Ciências da Saúde, Rio de Janeiro, 2011.
14. Silva et al. Repercussão cardiovascular, com e sem álcool, do Carbonato de
Lodenafila, um novo inibidor da PDE5. Arq Bras Cardiol 2010; 94(2) :160-67.
15. LaranjeiraR, Pinsky I. O Alcoolismo. Rev Bras Psiquiatr 2000;22(2):62-71.
16. Reis et al. Alcoolismo e seu tratamento. Revista Científica do ITPAC, Araguaína,
2014;7(2),Pub.4.
17. Katzung B[org.]. Farmacologia básica e clinica. Porto Alegre:AMGH, 2014.
18. Paulo GA. Álcool x medicamentos: uma guerra sem vencedores. [Online] Disponível
em <http://www.artwine.com.br/edicoes/wine-style-8-alcool-x-medicamentos-umaguerra-sem-vencedores.pdf> Acessado em Maio, 2015.
19. Viveiro J. Interações do álcool com medicamentos. CIM Disponível em: <
http://www.ordemfarmaceuticos.pt/xFiles/scContentDeployer_pt/docs> Acessado em
Maio, 2015.
20. Cervejas do mundo. Cerveja, Álcool e Medicamentos. Disponível em
<http://www.cervejasdomundo.com/Medicamentos.html> Acessado em Maio, 2015.
38
21. Pinheiro P. Interação do Álcool com remédios e energéticos. Postado Junho de 2015.
[Online] Disponível em <http://www.mdsaude.com/2008/12/lcool-x-remdios.html>
Acessado em Agosto, 2015.
22. Nicolau PFM, Rocha CRMN [org]. Interações de Medicamentos com álcool. [Doc.
Online] Disponível em
<http://www.psiquiatriageral.com.br/tratamento/interacoes11.htm> Acessado em
Maio, 2015.
23. Portal educação. Interações de álcool com outras drogas. [Online] Disponível em
<http://www.portaleducacao.com.br/Artigo/Imprimir/12474> Acessado em Maio,
2015.
24. Kummer CL, Coelho TCRB. Anti-inflamatórios Não Esteroides Inibidores da
Ciclooxigenase-2 (COX-2): Aspectos Atuais. Rev Bras Anestesiol,2002;52(4):498-12.
25. Schallemberger JB, Pletsch MU. Riscos de uso indiscriminado de anti-inflamatórios
não esteroidais (AINES). XXII Seminário de Iniciação Cientifica, 2014.
26. Coutinho MAS et al. Flavonoides: Potenciais Agentes Terapêuticos para o Processo
Inflamatório.Rev. Virtual Quim, 2009;1(3):241-56.
27. Silva P. Farmacologia. 8 º edição.Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2010 :39-1325.
28. Vieira JMF. Metabolismo do etanol. [Dissertação de Mestrado] Universidade
Fernando Pessoa. Faculdade Ciências da Saúde.Porto, 2012.
29. Süleyman H, Demircan B, Karagöz Y (2007). "Anti-inflammatory and side effects of
cyclooxygenase inhibitors". Pharmacological reports: PR: 59(3):247-58.
30. Monteiro et al. Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs). Revista Online.
Disponível em < http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia>
Acessado em Agosto, 2015.
31. Interação álcool e medicamentos. Álcool x remédios. [internet] Disponível em:
<http://www.mdsaude.com/2008/12/lcool-x-remdios.html#ixzz27Cdf9cGw>.Acesso
20 Maio de 2015
39
32. Lullmann H, Mohr K, Hein L. Farmacologia: texto e atlas. 6 ed. Porto Alegre:
Artmed, 2010
33. Moreno et al. Psicofarmacologia de antidepressivos. Rev Bras Psiquiatr. Depressão.
1999; 21:24-40.
34. Kleinman M et al., "Drugs and Drug Policy: What Everyone Needs to Know". Oxford
University Press: 2011.
35. Ferreira VA, Campos SMB. Avanços farmacológicos no tratamento do Diabetes Tipo
2. Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research – BJSCR, 2014;8(3):72-78.
36. Gomes et al. Atenção farmacêutica a um portador de diabetes: relato de caso.
Boletim Informativo Geum, 2014;5(1):108-21.
37. Fa Euclides PGA medicinanet.com. br, O clínico geral e o paciente psiquiátrico.
[Internet ]Disponível em
<http://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/1854/o_clinico_geral_e_o_pacie
nte_psiquiatrico.html> Acessado em junho de 2015.
38. Danos álcool diabéticos: diabetes: unb2-2010. blogspot.com/2011/01[internet] alcoole-diabetes.html. Disponível em <http://www.diabete.com.br/biblio/alcool> Acessado
em Maio, 2015.
39. Problemas com o álcool. Diabetes e Álcool: Beber ou não beber, eis a questão
[internet] Disponível em < http://www.diabetes.org.br/colunistas/dra-andressaheimbecher-soares/diabetes-e-alcool-beber-ou-nao-beber-eis-a-questao> Acessado em
Maio de 2015.
40. Effect of accohol on diabetic: Os efeitos do álcool sobre a diabetes Saúde –[Doc.
Online] Disponível em < http://www.boldsky.com/health/disorders-cure/2012/effectof-alcohol-on-diabetes-031690.html> Acessado em Maio, 2015.
41. Consumo de bebidas: Álcool em medicamentos. [internet]. Disponível em
<http://www.boasaude.com.br/artigos-de-saude/5442/-1/consumo-de-bebidaalcoolicaxdurante-uso-de antibioticos.html> Acessado em Maio, 2015.
40
42. Ribeiro AQ et al. Prevalência e fatores associados ao uso de anti-inflamatórios
nãoesteróides por pacientes submetidos a endoscopia digestiva alta, Belo Horizonte,
Minas Gerais, Rev Bras Epidemiol,2005;8(3):306-15.
Download