Experiência II – Lab. de Conv. Eletrom. de Energia B – Prof. N.SADOWSKI – GRUCAD/EEL/CTC/UFSC – 2005/2 Experiência II Teste de carga do motor de indução trifásico 1. Introdução O motor de indução trifásico tem características de funcionamento típicas como as mostradas nas Figuras 1 e 2 [1], [2]. A Fig. 1 mostra as curvas de escorregamento, rendimento, fator de potência e corrente absorvida pelo motor em função da potência no eixo da máquina. Ela é obtida para baixos valores de escorregamento (ou altas velocidades). Já a Fig. 2 apresenta o primeiro quadrante da curva de torque do motor em função da velocidade de rotação. Esta última curva também é muitas vezes dada em função do escorregamento. Fig. 1. Características de funcionamento típicas de motores de indução trifásicos para baixos valores de escorregamento (altas velocidades) ([1]). Experiência II – Lab. de Conv. Eletrom. de Energia B – Prof. N.SADOWSKI – GRUCAD/EEL/CTC/UFSC – 2005/2 Fig. 2. Primeiro quadrante da característica torque em função da velocidade para motores de indução trifásicos ([2]). A Tabela I define os diferentes torques que aparecem nesta figura [1], [2]. Estas características são típicas do funcionamento em regime permanente destas máquinas. Isto significa que as medidas experimentais são feitas com formas de onda senoidais de tensão e corrente aplicadas ao motor, sendo que os valores destas grandezas são registrados após o desaparecimento dos transitórios elétricos e mecânicos. O objetivo desta aula prática de laboratório é o levantamento das curvas mostradas na Fig. 1 para um motor trifásico específico disponível no Laboratório de Máquinas e Acionamentos Elétricos WEG do Departamento de Engenharia Elétrica da UFSC. A Fig. 3 mostra os dados de placa da máquina em questão, onde pode-se verificar tratar-se de um motor classe N. As bobinas do estator estão ligadas para a tensão entre fases de 380 Volts. Fig. 3. Placa do motor de indução trifásico a ser ensaiado. Experiência II – Lab. de Conv. Eletrom. de Energia B – Prof. N.SADOWSKI – GRUCAD/EEL/CTC/UFSC – 2005/2 Tabela I. Diferentes torques que aparecem na curva de torque em função da velocidade para motores de indução trifásicos. Torque ou Conjugado Conjugado nominal ou de plena carga Conjugado com rotor bloqueado ou conjugado de partida Conjugado mínimo Conjugado máximo Descrição É o conjugado desenvolvido pelo motor à potência nominal, sob tensão e freqüência nominal É o conjugado mínimo desenvolvido pelo motor bloqueado, para todas as posições angulares do rotor, sob tensão e freqüência nominais. Observações: a) Esta definição de conjugado de partida leva em conta o fato de que o conjugado com o rotor bloqueado pode variar um pouco conforme a posição em que se trava o motor. b) Na prática, o conjugado de rotor bloqueado deve ser o mais alto possível, para que o rotor possa vencer a inércia inicial da carga e possa acelerá-la rapidamente, principalmente quando a partida se dá com tensão reduzida. É o menor conjugado desenvolvido pelo motor ao acelerar desde a velocidade nula até a velocidade correspondente ao conjugado máximo. Observação: a) Na prática este valor não deve ser muito baixo, isto é, a curva não deve apresentar uma depressão acentuada na aceleração, para que a partida não seja muito demorada, sobreaquecendo o motor, especialmente nos casos de alta inérica ou partida com tensão reduzida. É o maior conjugado desenvolvido pelo motor, sob tensão e freqüência nominal, sem queda brusca de velocidade. Na prática, o conjugado máximo deve ser o mais alto possível, por duas razões principais: a) O motor deve ser capaz de vencer, sem grandes dificuldades, eventuais picos de carga como pode acontecer em certas aplicações, como em britadores, calandras, misturadores e outras. b) O motor não deve arriar, isto é, perder bruscamente a velocidade quando ocorrem quedas de tensão momentâneas. Experiência II – Lab. de Conv. Eletrom. de Energia B – Prof. N.SADOWSKI – GRUCAD/EEL/CTC/UFSC – 2005/2 No Brasil, as classes ou categorias de motores de indução trifásicos de gaiola, para tensão nominal igual ou inferior a 600 V, potência nominal igual ou inferior a 630 kW (856 cv) e previstos para partida direta ou estrela-triângulo são definidas pela norma NBR 7094 [3]. Conforme as suas características de conjugado em relação à velocidade e corrente de partida, os motores de indução trifásicos com rotor de gaiola são classificados segundo sua adequação ao acionamento de um tipo de carga: a) Categoria N: motores com conjugado de partida normal, corrente de partida normal, baixo escorregamento. Constituem a maioria dos motores encontrados no mercado e prestam-se ao acionamento de cargas normais, como bombas, máquinas operatrizes, ventiladores. b) Categoria H: conjugado de partida alto, corrente de partida normal, baixo escorregamento. Usados para cargas que exigem maior conjugado na partida, como peneiras, transportadores carregadores, cargas de alta inércia, britadores, etc. c) Categoria D: conjugado de partida alta, corrente de partida normal, alto escorregamento (mais de 5%). Usados em prensas excêntricas e máquinas semelhantes, onde a carga apresenta picos periódicos. Usados também em elevadores e cargas que necessitam de conjugados de partida muito altos e corrente de partida limitada. As curvas conjugado versus velocidade das diferentes categorias podem ser vistas na Fig. 4. Fig. 4. Curvas torque ou conjugado versus velocidade das diferentes categorias de motores de indução trifásicos de gaiola, segundo norma NBR 7094 ([2]). d) Categoria NY: esta categoria inclui os motores semelhantes aos de categoria N, porém, previstos para partida estrela-triângulo. e) Categoria HY: inclui os motores semelhantes aos de categoria H, porém previstos para partida estrela-triângulo. Experiência II – Lab. de Conv. Eletrom. de Energia B – Prof. N.SADOWSKI – GRUCAD/EEL/CTC/UFSC – 2005/2 Nos ensaios, o acionamento do motor é assegurado através da bancada de ensaio de máquinas elétricas fabricada pela WEG e mostrada na Fig. 5. Esta bancada compreende a mesa de comando (e os dispositivos de proteção e fontes instaladas no cofre blindado) e um dinamômetro ou freio de Foucault. Este último mostrado em maiores detalhes na Fig. 6 impõe um torque de carga ao motor à medida que injeta-se corrente contínua nos dois enrolamentos que são ligados em série. A Fig. 7 mostra esquematicamente o mecanismo de geração de forças tangenciais e conseqüentemente do torque. Fig. 5. Bancada de ensaio de máquinas elétricas. Experiência II – Lab. de Conv. Eletrom. de Energia B – Prof. N.SADOWSKI – GRUCAD/EEL/CTC/UFSC – 2005/2 Fig. 6. Dinamômetro ou freio de Foucault. O mecanismo de geração das forças pode ser entendido supondo-se que a velocidade nos dois pontos do disco de alumínio em frente aos pólos da armadura do dinamômetro seja v t , como indicado no desenho. Admitindo que as densidades de fluxo magnético B , oriundas pela corrente injetada nos enrolamentos de armadura, tenham as direções indicadas na figura, densidades de corrente elétrica J aparecerão no disco devidas à interação entre v t e B conforme a equação abaixo [4] J = σ E = σ ( v t × B) (1) onde σ é a condutividade elétrica e E é o campo elétrico. Por outro lado, a interação entre as densidades de fluxo magnético e estas correntes origina forças que obedecem a lei F = J×B (2) Experiência II – Lab. de Conv. Eletrom. de Energia B – Prof. N.SADOWSKI – GRUCAD/EEL/CTC/UFSC – 2005/2 Fig. 7. Esquema do freio de Foucault. e que têm a direção indicada na Fig. 7. Note que estas forças se opõem à rotação e geram portanto um torque resistente conforme a relação abaixo onde r é o braço de alavanca ligando o centro do disco aos pontos onde estão indicados os vetores B T = r×F (3) 2. Procedimento experimental Antes de se efetuar o ensaio propriamente dito, deve-se escolher os taps dos transformadores de potencial e de corrente em função das características do motor que será ensaiado (380 V, 750 W, 1.78 A nominais). 1) Preparação do ensaio: Experiência II – Lab. de Conv. Eletrom. de Energia B – Prof. N.SADOWSKI – GRUCAD/EEL/CTC/UFSC – 2005/2 a) Acionar as botoeiras “Reset Sobrecorrente” e “Reset Sobretensão” se as luzes indicativas destas anomalias estiverem acesas. b) Escolher a tensão de teste C.A.”: ligar a botoeira “LIGA 380V”. c) Escolher os taps dos transformadores de potencial: acionar a botoeira “LIGA 440V” que é a adequada para a alimentação até 380 V do motor. As leituras de tensão deverão ser multiplicadas por 4. d) Escolher os taps dos transformadores de corrente: girar a chave para a posição “12 A”; com a chave nesta posição as leituras de corrente deverão ser multiplicadas por 2. e) Colocar a chave “Desliga medição C.A.” na posição 1, inibindo as leituras durante a partida do motor. f) Verificar que o comando de “desliga-liga dinamômetro” esteja desligado na partida do motor. g) Verificar também que o dial de “ajuste de carga” esteja zerado. 2) Ensaio a vazio: a) Destravar o dinamômetro de maneira que o rotor possa girar livremente. b) Aplicar gradativamente tensão até atingir 380 V através do Varivolt disponível na mesa de comando (painel frontal). Utilizar chave “Congela Leitura” para efetuar as medidas de potência trifásica (P), corrente ( I L ) e tensão entre fases ( VL ). A leitura da potência trifásica deverá ser multiplicada por 8 devido ao fator multiplicativo de 2 para a corrente e de 4 para a tensão (veja passos “c” e “d” do item 1 acima). c) Diminuir gradativamente a tensão, anotando seu valor bem como o da potência e o da corrente. Interromper o ensaio a partir do ponto em que as correntes começam a aumentar. Traçar a curva de P em função de VL e dela extrair as perdas rotacionais, como foi feito em experiência anterior para o motor de indução de rotor bobinado ANEL. d) Zerar a tensão de entrada. 3) Se a proteção atuar, repetir item 1 acima.. 4) Ensaio em carga a) Aplicar gradativamente tensão de 380 V no estator através do Varivolt disponível na mesa de comando (painel frontal). Utilizar chave “Congela Leitura” para efetuar as medidas de potência trifásica (P), corrente ( I L ) e tensão entre fases ( VL ). Medir também a velocidade ω r utilizando o tacômetro mostrado na Fig. 8, acionando-o frontalmente ao disco de alumínio sobre o qual adesivos reflexivos estão colados. b) Ligar o dinamômetro através da botoeira “Desliga-liga dinamômetro”. c) Girar o dial de ajuste de carga até que a balança indique uma variação de 0.1 kg. d) Repetir as medições de P , I L , VL e ω r . e) Repetir os passos c e d variando a medição da balança de 0.1 em 0.1 kg até que a corrente nominal do motor (1.78 A) seja atingida. Neste ponto compare a velocidade do motor com a nominal do motor apresentada na sua placa. Experiência II – Lab. de Conv. Eletrom. de Energia B – Prof. N.SADOWSKI – GRUCAD/EEL/CTC/UFSC – 2005/2 f) Fazer ainda medidas em sobrecarga (0.1 kg adicional). Esta medição deverá ser feita rapidamente, pois as proteções poderão atuar. g) Desligar a bancada diminuindo a tensão. Fig. 8. Tacômetro digital. 5) Se a proteção atuar, repetir o item 1. 6) Ensaio com rotor travado a) Bloquear o dinamômetro de modo a travar o motor. b) Aplicar tensão de modo a impor corrente nominal ao motor (1.78 A) c) Medir P , VL e I L . d) Desligar a bancada diminuindo a tensão de alimentação através do varivolt. 3. Calcular os parâmetros do circuito elétrico equivalente do motor a partir dos resultados dos ensaios de funcionamento a vazio e com o rotor travado. 4. Traçar, em função da potência no eixo do motor Pm , as seguintes curvas: a) Velocidade ω r [rpm] Experiência II – Lab. de Conv. Eletrom. de Energia B – Prof. N.SADOWSKI – GRUCAD/EEL/CTC/UFSC – 2005/2 b) Fator de potência cos φ = P 3VL I L c) Corrente absorvida I L [A] d) Torque | T |=| r × F |= (0.33m)(indicação da balanca em kg )(9.81m / s 2 ) [Nm], onde 0.33 m é o valor do braço de alavanca do dinamômetro P e) Rendimento η = Pm f) Potência de entrada P [W] A potência no eixo do motor Pm é calculada a partir do torque e da velocidade do motor. Se a velocidade estiver expressa em rotações por minuto, a potência no eixo do motor ficará Pm = 2π | T | ωr 60 (4) Referências [1] R. H. Engelmann, W. H. Middendorf, Handbook of Electric Motors, Marcel Dekker, New York, 1995, ISBN 0-8247-8915-6. [2] Catálogo Geral Motores Elétricos: Linhas de Produtos, Carcterísticas, Especificação, Instalação, Manutenção; Editado por WEG Motores, Mod. 050.01/032000. [3] Norma NBR 7094 de 1996. [4] J.P.A. Bastos, N.Sadowski, Electromagnetic Modeling by Finite Element Methods, Marcel Dekker, New York, 2003, ISBN: 0-8247-4269-9.