As atividades “não-agrícolas” no meio rural e suas consequências sobre dinâmicas migratórias. Palavra-chave: atividades “não-agrícolas” Autor: Rafael de Souza Guedes Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE RESUMO Este artigo busca trazer para o debate sobre mudanças na divisão territorial do trabalho e as novas configurações do trabalho em espaços rurais, as contribuições sobre as recentes mudanças nas zonas rurais que estão sofrendo imersões de novas práticas de trabalho para além da agricultura tradicional. Neste artigo, especificamente produção de bolos, doces, queijo em conserva, entre outros produtos alimentícios. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD 2013 grande percentual de trabalhadores agrícolas (dentre os que possuem trabalhos secundários) exercem secundariamente atividades “não-agrícolas”, sendo que este fenômeno contribui para as novas formatações sociais territoriais de espaços rurais, consequentes do fenômeno de diversificação trabalhista que amplia a renda de produtores. Com base em alguns autores, o caso de Henri Lefebvre, existem exemplos no artigo sobre a divisão territorial do trabalho em diferentes sociedades históricas, bem como o desenvolvimento de relações rural / cidade e rural / urbano sobre estes processos. Além disso, há uma retomada dos períodos históricos brasileiros, por exemplo, o período de perto a abolição da escravatura, no século XIX, um fenómeno que, de acordo com Sérgio Buarque de Holanda, foi um marco na transição do Brasil para o primado da modelo de produção agrícola centrada áreas rurais, transferindo para os novos centros urbanos, cidades. O espaço rural hoje é altamente interligado com contexto social / econômico urbano e seu dinamismo comercial, que também repercute no território padrões / espaciais. Por fim, o estudo nos permitiu entender que estas novas atividades podem contribuir na atualidade para um processo de diminuição de fluxos migratórios no sentido campo para as cidades e até mesmo reversão do êxodo rural. Palavras-chave: atividades “não-agrícolas”, espaços rurais, fluxos migratórios. ABSTRACT This article seeks to bring for the debate on changes in the territorial division of labor and new job settings in rural spaces, contributions about the recent changes in rural areas who are suffering immersions of new working practices beyond the traditional agriculture. On this article specifically production of cakes, pastries, canned cheese, among other food products. According to data from the National Sample Survey of Households - PNAD 2013 large percentage of agricultural workers (among those with secondary works) have secondary activities "non-agricultural", and this phenomenon contributes to the new territorial social formatting of rural areas , resulting from labor diversification phenomenon that increases the income of producers. Based on some authors, the case of Henri Lefebvre, there are examples in the article on the territorial division of labor in different historical societies as well as the development of relations countryside/city and rural/urban over these processes. In addition, there is a resumption of Brazilian historical periods, for example, the period close to the abolition of slavery, the nineteenth century, a phenomenon which, according to Sérgio Buarque de Holanda, was a landmark in Brazil's transition to the primacy of the agricultural production model centered rural areas, transferring to the new urban centers, cities. The rural space today is highly interconnected with urban social / economic context and their commercial dynamism, which also reverberates in the territory / spatial patterns. Finally, the study allows us to understand that these new activities can contribute today to a process of reduction of migratory flows towards the countryside to the cities and even reversing the rural exodus. Keywords: activities "non-agricultural", rural spaces, migration flows. INTRODUÇÃO Espaços ditos rurais assim como os urbanos coexistem no território brasileiro superando um viés tradicional antigo que apontava a existência de uma dicotomia entre estes. Conforme apontado no “Atlas do espaço rural brasileiro”: (IBGE, 2011): “Supera em muito a leitura tradicional da divisão campo-cidade, dando ênfase às relações e continuidades geográficas estabelecidas nos dias atuais entre o rural e o urbano no território brasileiro”. (IBGE, 2011, p.3) Isto porque as fronteiras entre espaços rurais e urbanos são fluídas, se mesclam, se sobrepõem á todo momento, são processos constantes entre as ditas “urbanidades” e “ruralidades” (RUA, 2007): “A relação “urbanidade-ruralidade”, portanto, não desaparece, pelo contrário intensifica-se e isto mesmo nos países mais industrializados. Aparece então em plena luz do dia aquilo que se escondia sob o “tecido urbano”. (LEFÉBVRE, 2001, p.19) Inseridos neste contexto de trocas culturais/espaço-sociais, em tempos pósmodernos há fenômenos em curso de um renascimento de novas práticas sociais rurais (MOREIRA (org.) et all. CARNEIRO, 2005), que fomentam novas configurações do trabalho no mundo rural, em sua divisão e reestruturação sócio-territorial. Portanto como objetivo deste trabalho buscamos captar por meio de entrevistas semi-estruturadas aplicadas a alguns trabalhadores rurais na cidade de Juiz de Fora MG, até que ponto as novas atividades "não-agrícolas" contribuem para diminuição do êxodo rural e influenciam em questões migratórias. 1 TEMA Historicamente, no período temporal das cidades políticas na Grécia antiga, o geógrafo James Amorim Araújo (2012) em sua análise: “Sobre a cidade e o urbano em Henri Lefébvre”, traçou um quadro onde expõe o que para Lefébvre se configurou enquanto a primeira divisão social do trabalho, que teria sido a responsável pela distinção morfológica/conceitual entre duas áreas (campo/cidade), com o meio rural comportando camponeses, artesões e escravos e nas cidades os “homens livres”. Posteriormente, nesta sociedade as práticas comerciais que num primeiro momento eram de responsabilidade dos forasteiros os quais perambulavam como nômades foram resignificadas a partir do surgimento de mercados comerciais fixos na cidade. O conceito morfológico arquitetônico das cidades gregas passou então a ter sua centralidade nos mercados, onde passaram a concentrar-se: artesãos, bancários e comerciantes, mercadores não mais forasteiros, porém centrais socialmente. Mais a frente com o surgimento das cidades industriais (pós-maturação e evolução das práticas comerciais que culminaram no processo de industrialização) o fenômeno industrial impôs uma descontinuidade histórica do modelo social anterior dado que as relações sociais foram transformadas amplamente com a generalização da produção e comercialização de mercadorias em massa (ARAÚJO, 2012). Henri Lefébvre (1978) pontua que ao longo do tempo histórico o meio rural esteve imerso a momentos importantes como a revolução agrícola do século XVIII ou a revolução industrial da economia, com o processo crescente de soberania da indústria e suas consequências econômicas, políticas e sociais sobre a agricultura, que suscitaram evoluções, desaparecimento ou superações das formas tradicionais agrícolas. Na continuidade da analise Lefébvreviana a noção de comunidade rural é relacionada com o desenvolvimento das forças produtivas, visto que o trabalho na terra é organizado sobre determinadas condições técnicas e sociais. Uma comunidade rural qualquer e especifica que na análise do autor foi caracterizada como orgânica graças a solidariedade entre seus membros (não seria mecânica contratual), em determinados momentos poderia entrar em conflito com regras do modo produtivo caso houvesse triunfo das mercadorias, do dinheiro e da economia monetária. Isto porque as comunidades estariam subordinadas aos contratos de trabalho e, a partir do momento que o direito a posse da terra (no sentido romano de propriedade privada) prevalecesse, para o autor a comunidade (direitos da família ou do estado) tenderia a desaparecer. Por outro lado, a propriedade coletiva (esta sendo diferente das comunidades rurais orgânicas, indivisíveis) desde a antiguidade já apresentaria seus limites quando alguns bens de consumo e uma parte dos instrumentos teriam sido privadamente apropriados, pelos primeiros membros que se apropriaram do solo. Porém, no caso das comunidades indivisíveis, na história os “comuneros franceses” (final do século XVIII) podem ser citados como exemplo, dado que as montanhas, os pastos, a água e os bosques são até hoje, em parte, propriedades indivisíveis da comunidade rural francesa. Após clarificar as características básicas de comunidade em seu estudo, o filósofo francês aponta que sua representação democrática não pode escapar as funções políticas, no que tange a defesa das comunidades contra perigos exteriores, arbitrariedades distintas e questões de poder que envolvam diferentes grupos de interesses e classes sociais distintas. Isto é importante porque as situa no movimento histórico dialético temporal das sociedades. Finalmente trás sua definição: “La comunidad rural (campesina) es una forma de agrupación social que organiza, según modalidades historicamente determinadas, un conjunto de familias fijadas al suelo. Estos grupos primarios poseen por una parte bienes colectivos o indivisos, por otra bienes privados, según relaciones variables, pero siempre historicamente determinadas. Están relacionados por disciplinas colectivas y designan aun cuando la comunidad guarde vida propia responsables mandatarios para dirigir la realización de estas tareas de interés general." (LEFÉBVRE, 1978, p. 31 e 32) Em conclusão da caracterização evolutiva campesina, referente ao seu momento enquanto “espaço rural” nas sociedades modernas e a dinâmica deste espaço com o meio urbano, Lefébvre aponta que: “Hoy día la vida campesina carece de autonomia. No puede evolucionar de acuerdo con leyes propias: se relaciona de muchas maneras con la economia general, la vida nacional. la vida urbana. la tecnologia moderna... Sin embargo, el estudio de esta rica y compleja realidad, en el pasado y en el presente, se encuentra sin cesar ante la existencia o la prolongación de una formación original: la comunidad rural.” (LEFÉBVRE, 1978, p. 37) E ainda complementa que: “Si es cierto que la comunidad campesina puede renacer en la actualidad, en función de exigencias modernas y sobre bases modernas, nada más interesante que este renacimiento; quizá de él pueda surgir un sentido nuevo de la Tierra.” (LEFÉBVRE, 1978, p. 38) Lefébvre analisa também as classes sociais e a sociedade rural, relativizando-as. Tomando como exemplo a região italiana da Toscana o autor trabalha a enorme influência da cidade no campo, como centro econômico e político. As cidades necessitam amplamente dos produtos agrícolas demandando aumento da produtividade e do trabalho e, naquela sociedade específica, sob tutela da antiga aristocracia fundiária de origem feudal e da aristocracia urbana de origem mercantil e bancária, que reorganizaram seus domínios rurais, no século XVIII. Antigos senhores feudais poucos poderosos não resistiram as investidas dos ricos urbanos e venderam suas terras, num contexto de passagem do período da exploração servil para a exploração comercial (LEFÉBVRE, 1978). Os trabalhadores rurais, por sua vez, recebiam somente metade da produção visto que os senhores temiam sua acumulação de renda e possível independência financeira que poderia acarretar numa liberdade trabalhista. Os rurais, nos poucos casos em que conseguiam adquirir pedaços de terra, por vezes não possuíam capital para os elementos técnicos da produtividade e do trabalho e acabavam, por experiência própria, convencidos a abandonar o velho ideal camponês de possuir a terra. Naquele momento o aumento laboral chegou a seu limite necessitando de condições estruturais mais evoluídas, a partir da compra de instrumentos mais modernos. Antecedendo a tal processo estava a acumulação de capital cada vez maior, processo este que inverteu a lógica produtiva das terras cultiváveis. Uma importante estrutura que pode exemplificar a evolução das práticas agrícolas foram as comunidades de meeiros onde muitos camponeses viviam em uma propriedade fundiária sem sua posse e cultivavam as terras, constituindo algo parecido com um empresa. De fato, o contexto social da época, segundo Lefébvre, indicava que a dominação territorial por parte de grandes agricultores aumentava em torno das grandes cidades. (LEFÉBVRE, 1978). Por um lado, os empresários fundiários e os parceiros/meeiros tenderam a individualizar-se enquanto os trabalhadores braçais sentiram necessidade de agrupamento para defender seus interesses contra grandes latifundiários e, para Henri Lefébvre, aí ocorre a criação de classes a partir de sua função em comum sendo que os sindicatos dos trabalhadores braçais se convertem num elemento importante da vida social e política, assim como os grandes fundiários por sua influência econômica, social e política. O autor também caracteriza a população rural da Toscana em sua totalidade mostrando que há heterogeneidade de funções rurais, porém todas elas ligadas a produção agrícola e comércio agropecuário, atividades tipicamente rurais. O filósofo francês faz uma imersão no campo da sociologia rural não para isolar esta realidade, mas para analisar suas características singulares. Dado um paradoxo presente nas sociedades o meio rural segue sendo em muitos casos ignorado (principalmente o modo de vida rural) enquanto o meio urbano com seus métodos produtivos e superestruturas recebem toda a atenção. Porém, para as ciências o “campo” se tornou objeto desde quando suscitou questões práticas. São questões que, dentre outras, envolvem repartições de terra, migrações/êxodo rural e comercialização/produção agrária sendo que considerá-las na totalidade faz parte do aporte sociológico o qual enfoca o conjunto dos processos sociais, suas dinâmicas e leis. As transformações na estrutura agrária as são, graças às transformações dos mercados mundiais e nacionais e das estruturas sociais e políticas dos Estados, ou seja, o campo está essencialmente conectado ao todo. (LEFÉBVRE, 1978) Este fundamento contribui para desmistificar a falsa dicotomia rural/urbano. Um exemplo citado pelo autor caracteriza um modo de vida dinâmico de um indivíduo entre os espaços rural e urbano. Nos Estados Unidos onde o capitalismo agrário atingiu, segundo ele, seu auge com uma mecanização estrondosamente avançada nos cultivos da terra, o proprietário pode optar viver metade do ano em sua cidade urbana e se dirigir ao local de cultivo rural somente na época dos trabalhos, contratando mão de obra temporária. Mas há também casos em que formas de épocas passadas ainda existem na atualidade, como o exemplo do Norte da África onde as técnicas arcaicas permanecem. De fato, estas estruturas em determinados espaços e momentos históricos se cruzam e se sobrepõem umas as outras, sendo crucial entender o passado que constituiu o presente, por exemplo, segundo opinião de Lefébvre, na passagem da Europa agrária para a industrial, em comparativo com a sociologia rural das Américas (pouco histórica quando analisada problematicamente a questão): “En Europa, la agricultura ha precedido a la industria, y la ciudad se ha desarrollado en un medio campesino. La vida campesina tiene sus costumbres, sus hábitos y sus tradiciones. Podría hablarse, en cierta medida, de cultura campesina. Pero en América el campo recibe sus modelos culturales (patterns) de la ciudad. Si hay una cultura campesina, no tiene elementos tradicionales originales; representa sólo una degradación o lenta asimilación de la cultura urbana (acculturation).” (LEFÉBVRE, 1978, p.65) Henri Lefébvre contribui amplamente para desconstruir o mito de que “a vida rural y la estructura agraria son más simples que la vida moderra de las ciudades y fábricas” (LEFÉBVRE, 1978, p. 77), falácia esta com origem, dentre outros, no fato da agricultura ter antecedido a indústria. Na prática a sociologia rural teria de dar conta de realidades extremamente complexas, pois pode estar permeada de movimentos contraditórios, visto as várias formas que se mesclariam, as em decomposição e as novas, pertencentes a estruturas de diversas épocas da história. Em países capitalistas coexistem estruturas agrárias diferentes de formações em épocas histórias distintas. Lefébvre as cita: as comunidades rurais ou arcaicas, estruturas feudais, pequenas propriedades e as grandes propriedades capitalistas. Dentre todas elas, segundo o autor, a propriedade de exploração capitalista tende a subordinar a si todas as outras formas. Portanto, a importância de caracterizar este modo produtivo, no entendimento do autor e como se dá esta dinâmica de subordinação. Este hoje se caracteriza pelos monopólios, sendo que o grande investidor capitalista por vezes não obtém somente o lucro médio do capital que investiu, mas parte da renda e até a renda total. Para exemplificar, quando este contrata funcionários agrícolas e paga-os baixos salários, ou quando possui uma alta mecanização de seu maquinário (baixando desta forma os custos) ou quando também tem influência de manipulação sobre os preços do mercado: cotas, tarifas aduaneiras, condições de crédito... Muitos trabalhadores rurais passaram a migrar para trabalhos em empresas agrícolas, vale o comentário do autor: “La antigua población de campesinos productores y de artesanos es reemplazada por obreros agrícolas (alojados o no en la explotación)” (LEFÉBVRE, 1978, p. 83), estes com seus baixos salários e péssimas condições de vida contrastam com o que o autor chama de “nova elite”: os mecânicos e tratoristas e os especialistas e técnicos científicos rurais. Analisando o contexto de parte do sul do território francês, século XVIII, o autor observou que pequenas e médias propriedades sobreviveriam com grandes dificuldades, resistindo apesar de estarem em plena decadência. As poucas cidades concentradoras de riquezas desta região seriam as de moradia dos proprietários das terras cedidas em parcerias ou as cidades com sistemas de exportação mais modernos, constituindo não somente mercado consumidor, mas centros administrativos. São transformações na divisão social do trabalho que refletem nos espaços e territórios rurais e urbanos, e também nas culturas societárias. Por exemplo, no caso do Brasil do século XIX, que segundo Sérgio Buarque de Holanda, aponta a abolição da escravidão no Brasil como um momento importante do processo de fim do predomínio agrário no país, em paralelo as articulações políticas e leis fomentadas naquele momento para dar conta da nova composição social preparando o “terreno para um novo sistema, com seu centro de gravidade já não mais nos domínios rurais, mas sim nos centros urbanos.” (HOLANDA, 1995. p. 172). À mesma época o mundo do trabalho em espaços rurais e urbanos brasileiros vinha sendo reconfigurado a partir do fenômeno de definhamento das lavouras de açúcar paralelo ao crescente destaque da cultura do café, junto com todas as mudanças técnicas, produtivas e comerciais que esta alteração implicou. Além disto, a influência das cidades sobre o rural só fazia aumentar e muitos lavradores já passavam a residir em novos eixos urbanos o que contribuiu com a carência da mão-de-obra nas fazendas, já extenuada pela abolição. Os escravos ainda em atividade passaram ter sobrecarga laboral com o café e a produção agrícola de mantimentos passou também a ser ramo de atividade de “quitandeiros [...] lavradores que se dedicavam a plantar e a vender aqueles mantimentos” (HOLANDA, 1995. p. 174). A cultura do café inserida num contexto de primazia das cidades fez com que os centros de distribuição, antes presentes no rural, fossem deslocados pros novos centros, caracterizando uma estrutura algo parecida com um “centro de exploração industrial” (HOLANDA, 1995. p. 175). Já no século XIX, o mercado interno agrário brasileiro e o tipo das relações de produção e dos moldes trabalhistas, no atual estágio de concentração fundiária em que o Brasil se encontra, seria condição para rebaixar as condições nas quais os trabalhadores das cidades vendem sua força de trabalho, o que restringiria o processo de ampliação e diversificação do mercado consumidor. (Édi Benini... (org.) et all. RODRIGUES E FILHO, 2011) Estes rebatimentos (principalmente a concentração agrária) seriam frutos do processo de inserção do modo produtivo capitalista no campo brasileiro, a partir da década de 1960 (MOREIRA (org.) et all. LIMA, 2005). Grande parte de pequenas e médias propriedades não sobreviveram aos moldes de produção e comercialização vigentes e sucumbiram, enquanto outras tantas sobrevivem ainda hoje com enormes dificuldades, porque dentre o processo de modernização das grandes propriedades foram implantadas diretrizes de aumento da qualidade e produtividade pautadas por constantes desenvolvimentos técnicos. Pequenos e médios agricultores sofreram um processo de espoliação maior do que o normal, dando origem ao grande êxodo rural ocorrido nas décadas de 70 e 80 (CARDIM, VIEIRA E VIEGAS, 2000). A população brasileira predominantemente rural até a década de 1950 veio transformando-se nas décadas seguintes em população urbana, naquele que foi um movimento sócio-territorial bastante intenso e rápido, sendo que em 1970 os centros urbanos já concentravam mais pessoas do que as áreas rurais. Já na década de 1980 diante do surgimento dá temática “Agricultura Familiar” e seus posteriores rebatimentos Roberto Moreira (2005) aponta, sob a tutela de um novo paradigma, a possibilidade de reversão da migração rural-urbana. Estes movimentos migratórios (urbano-rural) contemporâneos são diferentes de outros momentos, por exemplo, aqueles “ligados aos ciclos econômicos de produtos agrícolas destinados ao mercado externo, como borracha, algodão, o café, etc...” (STEDILE, J. P. (org.) et all. GIULIANO apud FIALHO, 2005). De fato aqueles produtos para exportação, como é o caso da soja brasileira atual, no máximo necessitavam de mão-de-obra barata, o que gerou o consequente êxodo de trabalhadores para os campos. Entretanto, na contemporaneidade a agricultura capitalista/industrial passa por um processo de tecnificação produtiva cada vez maior o que diminuiu a necessidade de trabalhadores braçais, diferentemente daqueles outros cultivos (borracha, algodão, café). Outro ponto importante é o fato de que a agricultura familiar por vezes pode englobar a perspectiva das famílias enquanto possuidoras da terra e dos equipamentos utilizados na produção, o que lhes garante maior autonomia, do que se fossem somente funcionários. Uma família que produz conforme os termos de agricultura familiar e ilustra bem a condição descrita anteriormente foi estudada por Fialho (2005) no município de Dois Irmãos-RS: “Esta família caracteriza-se por implementar um sistema de produção pouco comum na região, mas que vem sendo identificado em várias regiões do país. Um sistema de produção que se destaca pelo “cultivo orgânico de alimentos”, pelo modo “contemporâneo” de comercializar a produção (teleentrega), pela utilização diferenciada das redes comerciais e sociais, pelo modo de aquisição do conhecimento técnico (livros, revistas, programas de rádio e televisão) e, a principal característica, a origem urbana da família (caminho inverso do êxodo rural).” (STEDILE, J. P. (org.) et all. FIALHO, 2005, p. 110/111) Este grupo migrante do urbano para uma área rural é diferente de tantas outras famílias que por toda sua vida já se encontravam no campo e vivem da agricultura familiar resistindo ás transformações mercadológicas capitalistas e/ou se adequando a elas (STEDILE, J. P. (org.) et all. FIALHO, 2005). Em resumo, no contexto contemporâneo de transformações embasadas por atividades “não-agrícolas”, setores da economia encontraram espaço aberto para desenvolvimento, que em muitos casos implicaram novas configurações trabalhistas no campo dando-lhe nova estrutura (SILVA, 2011). Foram criados, por exemplo, hotéis fazendas, trilhas ecológicas, experiências com lavouras orgânicas, dentre outros. Esta nova morfologia do espaço rural impulsionado pela evolução da infraestrutura urbana que as cidades expandiram para recriação de diferentes lugares tornaram-se novas possibilidades “de geração de emprego e renda, de inserção de um amplo segmento da população ligada ao folclore, ao artesanato, às tradições, à confecção e prestação de serviços especializados” (SILVA, 2011, p.10). 2 MÉTODO DE PESQUISA Com base em microdados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios 2013 pudemos constatar que grande percentual de trabalhadores agrícolas possuem trabalhos secundários considerados “não-agrícolas”. Posteriormente foi aplicada uma pesquisa qualitativa via estudo de caso (visitas a campo) com entrevistas semiestruturadas. O “estudo de caso” é uma estratégia de pesquisa utilizada para análise de um fenômeno em curso no âmbito natural (no contexto da vida real) onde diversos fatores podem lhe interferir sendo necessário para aumento da qualidade da investigação identificar a interação global entre estas variáveis visto que ela determina a dinâmica do fenômeno (C. P. ARAÚJO et al. 2008). “Quase tudo pode ser um “caso”: um indivíduo, um personagem, um pequeno grupo, uma organização, uma comunidade ou mesmo uma nação.” (COUTINHO apud C. P. ARAÚJO et al. 2008, p. 4). No caso específico dos trabalhadores neste artigo estudados, encontramos aqueles que produzem bolos, doces caseiros, queijos, tortas, dentre outros produtos e os vendem, principalmente, na Feira da Agricultura Familiar. Estas são organizadas em uma parceria da Prefeitura de Juiz de Fora (Secretaria de Agropecuária e Abastecimento) com a EMATER (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais) e os trabalhadores agrícolas. As feiras acontecem as quintas e sextas-feiras, no horário da manhã, onde são montadas barracas, quinta no Parque Halfeld (região central) e sexta na Praça do Bom Pastor (também região central). A escolha pela aplicação de entrevistas consistiu no fato de que “a entrevista é indicada para buscar informações sobre opinião, concepções, expectativas, percepções sobre objetos ou fatos” (MANZINI, 2003, p. 4) sendo que as impressões coletadas posteriormente à aplicação das entrevistas nos indicarão não somente dados pontuais, mas também informações gerais sobre acontecimentos e passagens da história de vida dos entrevistados. As entrevistas semi-estruturadas constituem um tipo de entrevista onde há utilização de um roteiro previamente estruturado (MANZINI, 2003) fundamentado nas temáticas que pretendemos trabalhar, porém sem serem tão rígidas quanto entrevistas formais, uma vez que se assemelham mais a uma conversa/diálogo com os entrevistados. Esta flexibilidade permite-nos enquanto pesquisadores no momento da coleta de informações adaptarmo-nos as reações dos entrevistados, o que nos leva a um recolhimento de dados mais amplo, além da possibilidade de identificarmos novas questões relevantes ao desenvolvimento do tema ás quais, entretanto não havíamos apriori apontado, conforme afirmação a seguir: “Os questionamentos dariam frutos a novas hipóteses surgidas a partir das respostas dos informantes” (MANZINI, 2003, p.2). Já o modelo metodológico conhecido como “regressivo-progressivo” proposto pelo filósofo Henri Lefébvre, sob o qual nos debruçamos para a presente análise, possui como característica principal a integração da história e da sociologia sob um enfoque dialético. Lefébvre entendia que a sociologia rural não pode desconsiderar nunca os processos históricos porque o meio rural não é espaço fixo, estável e estático, mas sim dinâmico em suas relações políticas e sociais. Estes processos temporais são passíveis de comparações entre si (etapa nomeada por Lefébvre de analítica regressiva). Já a etapa nomeada por “Histórico-genético” é o estudo das alterações introduzidas na estrutura atual em questão, a partir do desenvolvimento do período anterior a ela, além de captar sua relação com todas as estruturas que compõem o próprio objeto, em sua totalidade. Desta forma ao retornar a análise para o tempo presente o fenômeno estará “elucidado y comprendido: explicado.” (LEFÉBVRE, 1978, p. 71) O fundamento deste modelo é o proceder “Analítico-regressivo”, preceito formulado por Karl Marx quando propôs que o “atual” permite compreender o passado, assim como a sociedade capitalista em relação às sociedades anteriores porque a anteriores desenvolveram as categorias essenciais de formação da atual. Nessa linha metodológica, o momento presente precede outro momento histórico, anterior, porém, visto que sofreu uma análise regressiva torna-se clarificado, “desentranhado a partir de si mesmo”. (LEFÉBVRE, 1978, página 17) Já o método analítica de Marx diz respeito a reprodução do movimento real dos objetos sendo que toda conclusão científica sobre quaisquer fenômenos “é sempre provisória, sujeita a comprovação, retificação, abandono, etc.” (NETTO, 1997, p. 7) visto que fenômenos e processos sociais são constantes, nunca estáticos. 3 ENTREVISTAS DE CAMPO E RESULTADOS Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD 2013 apontam que grande percentual de trabalhadores agrícolas possuem por trabalhos secundários atividades “não-agrícolas”. Tabela 1: Trabalhadores agrícolas que tinham 2 ou mais trabalhos na semana de referência da PNAD 2013, Brasil 2013 NÚMERO DE TRABALHADORES PERCENTUAL TRABALHADORES AGRÍCOLAS CUJO TRABALHO SECUNDÁRIO FOI DEFINIDO 211.591 53,8% 182.001 46,2% 393.592 100% COMO “ATIVIDADE AGRÍCOLA” TRABALHADORES AGRÍCOLAS CUJO TRABALHO SECUNDÁRIO FOI DEFINIDO COMO “ATIVIDADE NÃO-AGRÍCOLA” TOTAL POPULACIONAL Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2013, PNAD A Tabela 1 e o Gráfico 1 mostram que do universo de 383.592 pessoas que tinham como atividade principal uma atividade agrícola e que possuíam dois trabalhos ou mais na semana de referência da PNAD quase a metade destes, “46,2%”, tinha como trabalho secundário uma atividade não agrícola. Entre estas atividades se enquadram, por exemplo, trabalhadores da indústria, atores e trabalhadores domésticos, além de vendedores e prestadores de serviços do comércio, o que vai de encontro aos produtores rurais que produzem e vendem suas manufaturas (doces, queijos, bolos, etc.). Isto pode ser justificado pela possibilidade de que sujeitos rurais aumentem seus rendimentos através da diversificação funcional/laboral. Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2013, PNAD A produtora rural Marieta Ribeiro Campos, membro da Associação dos Produtores Rurais da Agroindústria Familiar de Juiz de Fora (AGROJUF), que produz no sítio Solidão do Paraíso, é moradora do bairro Nova Califórnia, bairro com parte pertencente ao perímetro urbano da cidade de Juiz de Fora, Minas Gerias (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 2000). Apesar desta localização oficial (urbana) pode-se dividir a área do bairro em duas partes, sendo que a característica da área de moradia e existência da produção é isolada do centro urbano da cidade, estando a beira da rodovia interestadual BR-040 (KM 794,5) na Zona Rural. A outra parte do bairro fica em uma área muitíssimo povoada, com muitas infra-estruturas urbanas e pouco verde. Marieta viveu até os sete anos de idade na “roça”, foi pra cidade estudar, depois trabalhou até os vinte e quatro anos quando então retornou a residir na “roça”, após a morte de seu pai. Nesta época a família somente produzia banana e ela resolveu voltar para dar continuidade a produção porque acreditava ganhar um baixo salário na cidade, em seu antigo emprego. As bananas eram oferecidas por Marieta em mercados diversos da cidade, porém, em determinado momento recebeu uma visita de uma técnica da EMATER (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais) que lhe ensinou a produzir doces em conserva (diversificação produtiva) e a convidou para vender seus produtos nas feiras agrícolas centrais de Juiz de Fora. Hoje já faz trinta anos que participa das feiras. Questionada sobre êxodo rural possibilidade de se mudar para o centro da cidade mineira, Marieta respondeu: “Nunca, nunca, nunca mais! A vida na cidade é muito difícil. Na zona rural eu estou bem, eu produzo tudo, eu venho pra cidade e eu vendo tudo. É muito bom, eu gosto muito do que eu faço. (MARIETA, 2016)” O transporte das mercadorias é feito por ela própria com uso de caminhonete pessoal. Questionada a respeito de se a produção específica dos doces lhe deu um aumento de ganhos na renda familiar que poderia ser entendida como um motivo forte para sua ideia de manter-se vivendo na zona rural, Marieta afirmou que sim: “a produção de doces dá sim, um aumento na renda, dá, dá, muito. Contribui muito para que eu continue morando onde estou (MARIETA, 2016)”. Marieta trabalha em quatro feiras centrais diferentes, de quinta a domingo, e de segunda a quarta na produção rural. Tem três ajudantes além de uma irmã que também produz. Comercializam ovos caipiras, hortaliças, doces em conserva (compota) e banana. Quando viveu na cidade trabalho enquanto funcionária de consultório médico, enquanto hoje é dona do próprio negócio. Sobre a condição do produtor rural: “Tem muita gente na roça sofrendo, precisando que estas pessoas da EMATER vão até lá e as ensine a eles a fazer doces. É muito fácil fazer isso ai (MARIETA, 2016)”. Já a produtora rural Lourdes, hoje moradora de Humaitá há 40 anos, distrito de Juiz de Fora, zona rural, é nascida e criada em outro distrito de Juiz de Fora, Torreões, também zona rural. Afirma que: “sempre gostei de morar na roça, no centro eu não gosto de ficar morando não” (LOURDES, 2016). Seus dois filhos, também residentes no local, trabalham na produção agrícola e na produção de doces, queijos, bolos e biscoitos. Atualmente a dificuldade em encontrar mão-de-obra no campo fez com que a produção de hortaliças ficasse em segundo plano na propriedade, além de que o queijo é o produto mais vendido, sendo que toma a produção é comercializada em veículo pessoal da família. Ela por opção participa somente da feira no Parque Halfeld e já tem freguesia certa. Lourdes nunca teve outro tipo de trabalho. Maior problema da produção rural, ninguém quer ficar trabalhando na roça porque é muito trabalho, querem ir embora, e caso encontre alguém que queira ali trabalhar ela entende que pagar funcionários na roça sairia muito caro. A figura 1 apresenta nove pequenas imagens. Do canto esquerdo superior até o canto direito inferior temos na sequência: 1 – Compota de doce de mamão (pote verde) com os outros sabores ao fundo. 2 – Barracas durante a feira realizada no Parque Halfeld. 3 – Campo arado com sementes recém-plantadas na zona rural de Humaitá (distrito de Juiz de Fora). 4 – Produtora rural (Lourdes) vendendo seus produtos (na foto muitos bolos). 5 - Sala de produção do queijo 6 – Produtora rural (Marieta) comercializando seus produtos na praça do Bom Pastor. 7 – Farinha utilizada na produção de bolos. 8 – Queijos já embalados. 9 – Horta com variedades de produtos agrícolas no bairro Nova Califórnia (Couve, Taioba, Alface, etc.) Por sua vez a produtora rural Miriam, irmã de Marieta, diz que nunca pensou em morar no centro da cidade: “porque já fui criada nisso, nesse ritmo de feira” (MIRIAM, 2016). Desde os 14 anos trabalhando na roça, preferiu ficar ali ao invés de estudar: “A produção ia só crescendo, as feiras aumentando.” (MIRIAM, 2016). Segundo Miriam o sistema produtivo atual em que ela produz garante a ela viver bem na zona rural, com condições estruturais, financeiras e sociais. Ela ainda fez uma queixa que é a mesma feita pela produtora Lourdes, sobre a escassez de mão de obra no campo: “Sem funcionário a gente quer aumentar a produção, mas não tem como” (MIRIAM, 2016). A última produtora entrevistas, Tânia Maria Fonseca de Oliveira, reside no distrito rural de Juiz de Fora chamado Torreões. Há 18 anos é produtora de Farináceos (Pão de Canela, Pão de Batata, Bolo de Banana, Biscoito de Nata e Biscoito de Canela). Também fez um curso pela EMATER, à época, segundo Tânia: “buscando um aumento da renda familiar” (TÂNIA, 2016). Sua família anteriormente somente vendia leite ao laticínio. Atualmente Tânia já diminuiu bastante a produção e variedade de produtos desde o tempo que começou (dada a uma tendinite e ao fato de também trabalhar atualmente no cartório de registros do distrito). Diante disto não encontra mão-de-obra disponível na roça para ajuda-la porque muitos preferem ir para o centro da cidade (sede em Juiz de Fora). Caso houvesse disponibilidade de trabalhadores Tânia ainda considera ser muito dificultoso fazer o registro trabalhista destes dadas as dificuldades financeiras e os custos da contratação. No caso de Tânia que não possui automóvel e, portanto, não consegue fazer o escoamento de sua produção, um carro da prefeitura busca seus produtos uma vez por semana. Em 1997 os produtores organizadamente com parceira de funcionários da EMATER conseguiram realizar um sonho, a inauguração do primeiro centro de vendas para os produtores rurais alunos dos cursos da EMATER. O primeiro ponto de vendas foi aberto na rodoviária de Juiz de Fora e três anos depois foi aberta uma no mercado municipal, ambas com o nome de Empório Rural. A associação dos produtores de Juiz de Fora se chama AGROJUF e, por sua vez, o projeto da EMATER da Feira de Agricultura Familiar (que completou em 2016 35 anos) integra 38 famílias de 11 municípios. Apesar de Tânia ter um emprego no cartório de Torreões os doces segundo ela lhe garantem grande parte da renda familiar, o que contribui para manutenção de sua residência no campo, local onde ela considera possuir qualidade de vida ao residir. Além de enxergar ser um local muito calmo, ela considera que as infra-estruturas urbanas (água encanada, iluminação elétrica, etc.) presentes hoje na zona rural contribuem muito para a qualidade de vida e possibilidades de maior desenvolvimento técnico na produção. O tabela 2 exemplifica a presença maciça de uma destas infraestruturas na vida de produtores rurais, a eletricidade: Tabela 2: Domicílios onde residem trabalhadores agrícolas por forma de iluminação, Brasil 2013 NÚMERO DE PERCENTUAL TRABALHADORES ACESSO A ENERGIA ELÉTRICA 13.428.540 97,2% OUTRAS FORMAS DE 370.485 2,7% ILUMINAÇÃO NÃO APLICÁVEL 17.659 0,1% TOTAL POPULACIONAL 13.816.684 100% Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2013, PNAD CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste processo de produção, distribuição e comercialização de produtos agrícolas e “não-agrícolas” que envolve as produtoras neste artigo entrevistadas ocorre uma reestruturação produtiva e territorial quando abordamos o fato de que alguns trabalhadores rurais preferem/conseguem se manter em zonas rurais. É que a dinâmica do projeto da EMATER fornece determinada estrutura como cursos técnicos, espaços de comercialização, apoio pra transporte de mercadorias (em parceria com a prefeitura municipal), dentre outras políticas, que contribuem para que produtores tenham uma maior autonomia incidindo diretamente para a reversão da dinâmica migratória do movimento de pessoas das zonas rurais que se deslocavam para os centros urbanos em busca de melhores condições de vida. É que o novo contexto de reprodução social destes sujeitos e suas novas condições materiais ampliam as possibilidades deles de permanecerem vivendo em espaços rurais dadas as novas perspectivas de vida. As novas atividades “não-agrícolas” no campo vêm como vetor que garante aos produtores aumentos de suas rendas, sendo portanto um meio deles terem condições financeiras e materiais de manutenção da residência no campo ou ainda, de que a dinâmica migratória sofra reversão, dado que nos centros das cidades, em certos casos, os rendimentos financeiros, as condições de trabalho e a qualidade de vida seriam menos interessantes do que no campo, se comparada a este fenômeno de novas estruturas rurais e condições produtivas. BIBLIOGRAFIA ARAÚJO, C. P., E. M. F. LOPES, J. NOGUEIRA, L. PINTO, R. Estudo de Caso: trabalho para o curso de Mestrado em Educação. Área de Especialização em Tecnologia Educativa. Universidade do Minho - Instituto de Educação e Psicologia. 2008 ARAUJO, J. A. Sobre a Cidade e o Urbano em Henri Léfébvre. GEOUSP – Espaço e Tempo. São Paulo. N31. 2012. CARDIM, S. E. de C. S. VIEIRA, Paulo de T. L. VIEGAS. José L. R. 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