GT20 - Metamorfoses do rural contemporâneo Coordenadores: Rodrigo Constante Martins (UFSCar), Flávio Sacco dos Anjos (UFPel) Ementa: Em consonância com a superação do antagonismo campo-cidade como eixo estruturador dos instrumentos de análise das questões sociais, este Grupo de Trabalho propõe-se a debater realidades e categorias analíticas que se apresentam à luz de novos instrumentais teórico-metodológicos nos estudos rurais. Buscar-se-á a sistematização e a discussão de estudos feitos no Brasil que versem sobre as metamorfoses contemporâneas do rural, promovendo um espaço de interlocução acerca dos novos desafios postos pelo mundo rural à teoria social. Dentre os temas centrais a serem discutidos, estão as transformações sócio-demográficas do rural (masculinização, envelhecimento, desagrarização), a regulação ambiental, a governança sócio-territorial, globalização e reestruturação dos espaços rurais, multifuncionalidade, pluriatividade, o papel das redes de solidariedade e de cooperação no campo e os processos de diferenciação e agregação de valor aos produtos agroalimentares (produção orgânica, denominações de origem, comércio justo, etc). Ressignificações dos movimentos sociais rurais a partir da perspectiva territorial Joana Tereza Vaz de Moura Este artigo tem como principal objetivo compreender como os movimentos sociais rurais modificam suas estratégias e/ou recriam e constroem novas identidades a partir do contexto do desenvolvimento territorial, particularmente após a criação dos colegiados territoriais, espaços de articulação entre a sociedade civil e o Estado. Procura-se apontar como o revigoramento dos espaços de participação social, com a criação dos colegiados territoriais, pode influenciar na criação de novas estratégias de intervenção, na construção dos interesses e na representação política dos movimentos sociais rurais. A introdução desse novo espaço- o território- no âmbito das políticas públicas de desenvolvimento rural pressupõe uma reorganização constante das estratégias dos diversos atores sociais que configuram esse espaço, pois as demandas devem ser pensadas nesse novo âmbito. O eixo teórico da análise fundamentase preferencialmente na abordagem relacional para entender a construção de interesses e a representação política dos movimentos sociais no espaço dos colegiados. A sociologia relacional tem como pressupostos analíticos os processos e não os resultados, permitindo enfocar em um novo patamar analítico as relações sociais, ao invés dos atributos individuais. Dados relacionais envolvem contatos, vínculos e conexões que relacionam os agentes entre si e não podem ser reduzidos às propriedades dos agentes individuais (EMIRBAYER, 1997). A reflexão sobre o tema construção de interesses traz consigo a discussão sobre ação coletiva e identidade pensando o processo de diferenciação social como ponto de partida desta problemática. Mais ainda, traz implícita a discussão sobre poder na sua forma simbólica potencializando a mobilização e estruturando relações de força e dominação. Portanto, partir da conformação de interesses, busca-se refletir sobre a identidade referente à legitimação da organização. Procura-se também chamar a atenção para a importância da noção de campo político e representação feita por Bourdieu (1989; 1990; 2000), sinalizando para a relação de força existente num campo e como a produção das representações sociais não está distribuída de forma igualitária entre os diferentes agentes sociais. Busca-se, assim, entender o processo de configuração sócio-política em que a representação aparece e a sua estruturação; ou seja, compreender como se estabelece esta representação e como se constrói a legitimidade do representante frente ao representado e/ou frente ao Estado, enfatizando a capacidade do porta-voz de mobilizar os interesses de um grupo social significativo. Touraine (1973) chama de “identidade dos movimentos sociais” a auto-definição do grupo, sobre o que ele é, e em nome de quem se pronuncia. A construção da identidade passa por um processo social e que se configura na interação dos agentes onde a consciência de identidade faz parte da definição de uma classe ou de uma força social de classe, pois as classes sociais só podem ser definidas em termos de relações sociais, portanto das orientações de cada um dos adversários sociais” (Touraine, 1973:345). Como os movimentos sociais constroem novas identidades diante de novas políticas públicas, agora com enfoque territorial? Que modificações podem ser constatadas na relação dos movimentos com o campo político-institucional? A partir de uma pesquisa no Colegiado Territorial do Mato Grande, RN, pretende-se fazer essas reflexões, buscando sistematizar as contribuições de alguns autores, identificados com a sociologia relacional, promovendo um espaço de interlocução acerca dos novos desafios postos pelo mundo rural à teoria social.