musicom artigo _3 - Curso de Música

Propaganda
V ENCONTRO DE PESQUISADORES EM COMUNICAÇÃO E MÚSICA POPULAR 1
Territórios e fronteiras da música mediática
29 a 31 de agosto de 2013 – Centur, Belém-PA
Whisk ou água x Vou passar cerol na mão: 1
Uma análise sobre o Funk e suas transformações
Anissa Ayala Rocha da Silva Cavalcante2
Marina Fernanda Veiga dos Santos de Farias3
Resumo: A música por si só possui uma peculiar forma de comunicação em que pode ser
descrita da linguagem através da canção e interpretação por um cantor ou cantora. Quando
isso é realizado através de danças e expressões que caracterizam esses elementos se tornam
composição dessa estrutura, o sucesso é certo. Esta fórmula acontece com o funk que se
dissemina em todo o Brasil independente de classe social, e se populariza através de redes
sociais. Grupos são formados por homens e mulheres mobilizando pessoas em busca de
diversão. Mas até que ponto, o funk tem influência na música brasileira? O Funk pode ser
cultura musical? Estas são indagações que serão explanadas na pesquisa a seguir como forma
de analisar o funk e suas transformações no cenário musical do Brasil.
Palavras-chave: funk, música, comunicação, arte
1 Introdução
O Funk é um gênero musical que se originou na década de 60 nos guetos americanos e se
popularizou no Brasil a partir dos anos 90. O funk tradicional misturava outros ritmos como
soul, jazz e rhythm and blues, responsáveis pelo ritmo dançante da sua música. No Brasil, a
sua popularização aconteceu nos morros cariocas com bailes funk, reunindo jovens que
dançavam ao som de “pancadões” e “MC’s”. Além disso, ganhou letras com duplo sentido e
danças sensuais, causando polêmicas sobre a sua importância dentro do meio musical
brasileiro. Portanto, através deste artigo pretendo analisar as características do funk desde o
“boom” dos grupos como Bonde do Tigrão entre outros, até o momento, além das suas
1
Trabalho apresentado ao GT (Nº 04): Mídia,Música e Mercado, do V Musicom – Encontro de Pesquisadores
em Comunicação e Música Popular, realizado no período de 29 de agosto de 2013, no Centur, em Bélem-PA.
2
Bacharela em Curso de Comunicação Social – Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão - UFMA.
Possui interesse em temáticas que envolvam temas como: mídia, convergência e comunicação. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2788717181423010. Email: [email protected]
3
Bacharela em Comunicação Social- Rádio e TV pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e Estudante
do 6º período do Curso de Comunicação Social –Jornalismo da Faculdade Estácio São Luis. Possui interesse em
temáticas que envolvam temas como: comunicação, cibercultura, mídias e música. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/9994267253743990 . Email: [email protected]
V ENCONTRO DE PESQUISADORES EM COMUNICAÇÃO E MÚSICA POPULAR 2
Territórios e fronteiras da música mediática
29 a 31 de agosto de 2013 – Centur, Belém-PA
transformações e ascensão através de ferramentas comunicacionais como o Youtube e
Facebook.
2 A Origem do FUNK
Diferentemente como muitos pensam, o Funk se originou nos Estados Unidos na segunda
metade da década de 60. Cantores afro-americanos como James Brown e músicos como o
pianista norte-americano Horace Silver, misturavam ritmos como o soul, jazz e rhythm and
blues. Primeiramente chamavam de funk à música com um ritmo mais suave. Posteriormente
passaram a denominar assim aquelas com um ritmo mais intenso, agitado, por causa da
associação da palavra "funk" com as relações sexuais (a palavra funk também era relacionada
ao odor do corpo durante as relações sexuais), o que estabeleceu uma associação sensual deste
gênero que perdura até hoje. Já na década de 70, o ritmo funk se tornou mais pesado com
bandas Parliament e Funkadelic. Nesse período surgiram renomadas bandas como B.T.
Express, Commodores, Earth Wind & Fire, War, Lakeside, Brass Construction, Kool & The
Gang. Logo após essa fase a reprodução deste tipo de música ganhou notoriedade com a
popularização radiofônica tornando-a extremamente comercial. Seus derivados rap, hip-hop e
break ganhavam força nos EUA através de bandas como Sugarhill Gang e Soulsonic Force.
O funk brasileiro popularizado no Rio de Janeiro foi influenciado por um novo ritmo
originário da Flórida, o Miami Bass, que dispunha de músicas erotizadas e batidas mais
rápidas. Depois de 1989, os bailes funk começaram a atrair pessoas. Inicialmente as letras
falavam sobre drogas, armas e a vida nas favelas, posteriormente a temática principal do funk
veio a ser a erótica, com letras de conotação sexual e de duplo sentido. Hoje o funk alcançou
todas regiões e diferentes classes que vão aos bailes para diversão e aproveitar os pancadões,
além de dançar freneticamente ao som de MC’s, responsáveis por agitar estas festas.
Com isso, percebemos a influência do funk na sociedade brasileira e americana, além de se
tratar de questões sociais como violência, sedução e erotismo. Portanto, apesar de inúmeras
críticas sobre o seu conteúdo, este gênero continua atraindo simpatizantes em todo mundo.
3 FUNK: O retrato do Brasil
V ENCONTRO DE PESQUISADORES EM COMUNICAÇÃO E MÚSICA POPULAR 3
Territórios e fronteiras da música mediática
29 a 31 de agosto de 2013 – Centur, Belém-PA
“A nacionalização do funk e sua consolidação como expressão dos subúrbios e favelas cariocas
não implica em reconhecimento cultural ampliado. Pelo contrário. Foi justamente durante estes
anos de consolidação que o funk sofreu a maior perseguição e estigma da mídia, da policia, dos
“formadores de opinião”’ (SÁ, 2007, p.11)
A musicalidade brasileira tem como característica a sua variedade. De música
popular ao samba, chegando ao funk, milhares de brasileiros são atraídos pelo ritmo
contagiante. Com isso, a popularidade musical se expande e se consolida, levando também
pesquisadores questionarem sobre esta cultura. Nesta pesquisa daremos ênfase ao funk, que
deve ter destaque pelas suas características que permeiam questões sociais como a ascensão
do funk nas comunidades cariocas e hoje atinge a elite brasileira, além das suas letras e
expressões muitas vezes criticadas pelo seu cunho sexual (ou não?). O funk tem como
essência trazer diversão e alcançar as massas. O seu jeito descontraído divide opiniões se o
funk pode ser pensado como cultura ou não. CANEDO (2009, p. 01) fala sobre conceitos de
cultura.
”A cultura evoca interesses, multidisciplinares, sendo estudada em áreas como sociologia, antropologia, história,
comunicação, administração, economia, entre outras. Em cada uma dessas áreas, é trabalhada a partir de distintos
enfoques e usos. Tal realidade concerne ao próprio caráter transversal da cultura, que perpassa diferentes campos
da vida cotidiana. Além disso, a palavra “cultura” também tem sido utilizada em diferentes campos semânticos
em substituição a outros termos como “mentalidade”, “espírito”, “tradição” e “ideologia” (Cuche, 2002, p.203).”
O seu limiar que perpassa por diferentes classes revelam uma face diversificada
do brasileiro. Pessoas ouvem os “batidões” e utilizam uma série de ferramentas que facilitam
a popularização destes hits como o Youtube. Milhares de vídeos de pessoas que desejam se
divertir ganham os olhares e se tornam famosos. A ascensão de diferentes segmentos musicais
tem permitido o surgimento de novos cantores.
“O advento das mídias eletroacústicas favoreceu o surgimento e numerosos desdobramentos
da perfomance. (...) O signo musical tornou-se mais complexo, não somente em relação à sua
produção, mas também no que diz respeito à suas condições de transmissão, ficção e
recepção” (VALENTE, 2007, p.95)
Estas características permitem que as músicas pelo qual ouvimos “grude” em nossas
mentes. Letras fáceis são responsáveis por esta reação. Além das danças que envolvem
sensualidade, existem expressões que indicam que este tipo de relação que sofrem alterações
no decorrer dos anos como “potranca” e “popozuda” que faz uma sugestiva referência ao
V ENCONTRO DE PESQUISADORES EM COMUNICAÇÃO E MÚSICA POPULAR 4
Territórios e fronteiras da música mediática
29 a 31 de agosto de 2013 – Centur, Belém-PA
dérriere feminino. Atualmente expressões como “novinha” e “quadradinho de 8” são
recorrentes o que demonstra que este gênero musical tem influências que vão além da dança e
ritmo. O funk se consolidou no subúrbio carioca como uma tentativa de retomada de uma
musicalidade que atingisse as massas. ESSINGER (2005, p.52) fala sobre isso “A onda da
discothèque começava a dar sinais de enfraquecimento, mesmo no Brasil onde tudo chega
com atraso e se estende por mais tempo do que deveria. Nos subúrbios, principalmente, a
massa clamava por um tipo de som novo.” , que acontece na década de 80. Este foi apenas o
inicio de transformações como a própria visibilidade do gênero. Além disso, o funk até hoje
sofre críticas pela sua origem muitas vezes associadas à violência no morro. Esta pesquisa
pretende desmitificar e descobrir as nuances do funk no Brasil.
4 Funk: na década de 90
Nesta época, grupos como Bonde do Tigrão e danças como “Dança da motinha”
ficaram populares nas principais rádios e programas televisivos. Letras fáceis e com
expressões que envolviam prosmicuidade e ritmo contagiante atraíam jovens de diferentes
idades. Além dos próprios grupos que se caracterizavam pelo estilo, ainda havia a presença de
duplas como Claudinho e Buchecha, que fizeram sucesso com o chamado “funk melody”
ESSINGER (2005, p.134) destaca que o funk e a juventude estão relacionados.
“ Nos primeiros meses de 1995, a aproximação da juventude do asfalto com o mundo funk já era uma realidadee das mais vistosas, difícil de negar. A onda da garotada em busca de emoções- ao menos aquelas que as boates
da moda não podiam oferecer- era ir ao baile do Morro Chapéu da Mangueira ( no bairro do Leme ) na sextafeira, no do bairro Morro Azul ( Flamengo ) no sábado e no do Santa Marta ( Botafogo) no domingo com
eventuais escapadas também no Emoções, da Rocinha”
Com isso, podemos perceber que o funk estava relacionado a uma classe em sua maioria
jovem que viviam nas comunidades cariocas. Porém, com a popularização deste gênero
permitiu a sua ascendência para outros nichos sociais como a classe média alta. Hoje não é
difícil vermos jovens com elevada condição social participarem de baladas ou shows de
funkeiros famosos. Essa inversão de papéis foi algo gradativo devido a constante associação
do funk e crime. PASCHOAL (2009, s/p) destaca como o funk se consolida como um “gênero
do povo”
O funk, tal como rap e o hip-hop, são manifestações legítimas de grupos sociais geralmente mantidos à margem
da sociedade. Por não serem formas artísticas aceitas pelos cânones estabelecidos pelas classes dominantes são
V ENCONTRO DE PESQUISADORES EM COMUNICAÇÃO E MÚSICA POPULAR 5
Territórios e fronteiras da música mediática
29 a 31 de agosto de 2013 – Centur, Belém-PA
quase sempre consideradas com desconfiança e rejeitadas por força dos preconceitos que fundamentam o
apartheid social entre ricos e pobres, em uma sociedade tão desigual como a brasileira. As letras das formas
musicais debatidas nos citados programas, repletas de erotismo e de situações extremas regidas pela violência,
apenas retratam o cotidiano de uma parte significativa de nossa população.”
A relação comunidade e funk permite uma nova forma de diversão. Em meio a
violência e tráfico de drogas, o funk sofreu (e ainda) sofre preconceito devido a sua origem.
Músicas dançantes com letras de conotação sexual revelam a necessidade de liberdade diante
dos conflitos sociais. Na primeira fase, tivemos os cantores de funk melody, entre eles
podemos citar: Claudinho e Buchecha e Pepê e Neném. Logo depois, surgiram nomes como
“Bonde do Tigrão” e expressões como “popozuda” e “potranca” tornaram do cotidiano
brasileiro. Com essa nova modelagem, o funk ganhou popularidade, se adequando para todas
as classes.
Outra característica do funk é o consumismo que ela oferece. Por exemplo, o funk
conhecido como “ostentação” se caracteriza por letras que falam sobre dinheiro, carros e
mulheres. Recentemente, este tipo tem sido associado a violência nas grandes cidades.
Portanto, independemente da sua origem, o funk proporciona diversão e alegria para
aqueles que curtem e apreciam suas músicas.
5 Conclusão
O funk em toda sua história tem inúmeras referências como o rythm, soul, black
music, eletrônico que foram essenciais para seu desenvolvimento e ascensão no mercado
fonográfico. Hoje os grupos de funk são caracterizando que tipo de conteúdo são usadas nas
letras, significando a fragmentação de um nicho envolvido também com tendências de moda,
quando a jovem compra um produto ou um adolescente que deseja ser um MC. Essas
influências determinam não somente o mercado, mas questões sociais relevantes. Com isso
percebemos a sua relevância para a sociedade.
6 Referências
V ENCONTRO DE PESQUISADORES EM COMUNICAÇÃO E MÚSICA POPULAR 6
Territórios e fronteiras da música mediática
29 a 31 de agosto de 2013 – Centur, Belém-PA
CANEDO, Daniele. “CULTURA É O QUÊ?” – Reflexões sobre o conceito de cultura e a
atuação dos poderes públicos. V ENECULT - Encontro de Estudos Multidisciplinares em
Cultura
27 a 29 de maio de 2009.Faculdade de Comunicação/UFBa, Salvador-Bahia. Disponível em:
< http://www.cult.ufba.br/enecult2009/19353.pdf>, Acesso em: 17 junho 2013.
ESSINGER, Silvio. Batidão: uma história do funk.Rio de Janeiro e São Paulo: Record,
2005
CONSOLO, Adriana Janurio ( et. Al ). Nas batidas do funk: Uma análise do movimento.
UNESCOM - Congresso Multidisciplinar de Comunicação para o Desenvolvimento Regional
São Bernardo do Campo - SP ñ Brasil - 9 a 11 de outubro de 2006 – Universidade Metodista
de São Paulo. Disponível em: <http://encipecom.metodista.br/mediawiki/images/c/c7/GT4_IC-_FOLKCOM-_03-_Nas_batidas_do_Funk-varios.pdf>, Visualizado em: 07 de maio de
2013.
LAIGNIER, Pablo. Contradições do funk carioca: entre a canção popular massiva e a
sedução
contra
hegemônica.
Disponível
em:
<http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2008/resumos/R3-1899-1.pdf>, Visualizado no
dia 07 de maio de 2013.Trabalho apresentado no NP Comunicação e Culturas Urbanas, do
VIII Nupecom- Encontro dos Núcleos de Pesquisa em Comunicação do XXXI Congresso
Brasileiro de Ciências da Comunicação, Natal, 2008.
MIZRAHI, Mylene. Funk, religião e ironia no mundo de Mr. Catra. Relig.
soc. vol.27 no.2 Rio de Janeiro Dec. 2007.
RODRIGUEZ, Andréa; FERREIRA Sodré Rhaniele;ARRUDA, Angela. Representações
sociais e território nas letras de funk proibido de facção. Revista Psicol. rev. (Belo
Horizonte) vol.17 no.3 Belo Horizonte dez. 2011.
SÁ, de Pereira Simone.Funk carioca:música eletrônica popular brasileira?!. Disponível
em:<
http://www.compos.org.br/seer/index.php/e-compos/article/viewFile/195/196>.
Associação Nacional dos Programas de Pós Graduação em Comunicação. XVI Compós.
Universidade Tuiutu do Paraná, UTP, 2007,Curitiba.
TIBURI, Marcia. A nova moral do funk: Gênero modificou a natureza clandestina da
pornografia. Revista Cult. São Paulo. Edição 163, Janeiro 2012.
VALENTE, A. Duarte Heloísa. Música e mídia: novas abordagens sobre a canção.Gil
Nuno Vaz ...(et al ). São Paulo: Via Lettera/ Fapesp,2007.
V ENCONTRO DE PESQUISADORES EM COMUNICAÇÃO E MÚSICA POPULAR 7
Territórios e fronteiras da música mediática
29 a 31 de agosto de 2013 – Centur, Belém-PA
PASCHOAL,José Erlon. O funk e a criminalidade. Cultura e Mercado: desde 1998 para quem vive
de
cultura.Disponível
em:<http://www.culturaemercado.com.br/pontos-de-vista/o-funk-e-acriminalidade/>.Acesso em: 30 de junho de 2013
Download