HUMANIZAÇÃO NO PROCESSO DE MORTE/MORRER SOB A

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HUMANIZAÇÃO NO PROCESSO DE MORTE/MORRER SOB
A PERSPECTIVA DO ENFERMEIRO DE UTI
ANUÁRIO DA PRODUÇÃO DE
INICIAÇÃO CIENTÍFICA DISCENTE
Vol. 13, N. 18, Ano 2010
Adrielle Gislaine Santos Souza
Prof. Vânia Lúcia Melo de
Oliveira
Curso:
Enfermagem
FACULDADE ANHANGUERA DE
TABOÃO DA SERRA
RESUMO
O presente artigo cujo tema é humanização no processo de
morte/morrer tem como propósito identificar como a
humanização é aplicada no cuidado prestado pelo Enfermeiro ao
paciente em fase terminal de uma Unidade de Terapia Intensiva
Adulta. Os objetivos foram compreender como é a assistência
prestada pelo enfermeiro ao paciente em fase terminal, assim
como apontar as principais causas que dificultam a humanização
por parte do enfermeiro de UTI no processo de morte e selecionar
os aspectos em que a humanização relacionada à terminalidade
ainda não faz parte da atividade do enfermeiro em UTI
sugerindo modificações em tal sentido. Trata-se de uma pesquisa
qualitativa, realizada por meio de um estudo exploratóriodescritivo com abordagem fenomenológica. Foram entrevistados
nove enfermeiros de uma UTI Adulta de um hospital de grande
porte do Estado de São Paulo. Os dados foram coletados entre os
meses de abril e maio de 2010. Três categorias emergiram da
análise: Percepções relacionadas à morte; Assistência no processo
de morte; e Humanização na terminalidade. Ter identificado
como é a assistência prestada pelo enfermeiro em meio ao
processo de morte/morrer mostrou que a humanização tem
permeado de forma parcial o processo, sendo ainda necessário
ajustes e aprimoramentos a fim de contribuir para a efetividade
do processo no todo, pois se percebe que esse processo é tão
difícil e desgastante, tanto para quem cuida como para quem é
cuidado.
Palavras-Chave: Morte/Morrer; Humanização; UTI; Assistência;
Enfermeiro
Anhanguera Educacional Ltda.
Correspondência/Contato
Alameda Maria Tereza, 4266
Valinhos, SP - CEP 13278-181
[email protected]
Coordenação
Instituto de Pesquisas Aplicadas e
Desenvolvimento Educacional - IPADE
Publicação: 1 de novembro de 2012
Trabalho realizado com o incentivo e
fomento da Anhanguera Educacional
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176
Humanização no processo de morte/morrer sob a perspectiva do Enfermeiro de UTI
1.
INTRODUÇÃO
O fim da existência é algo pouco aceito para a sociedade, um assunto pouco abordado,
embora muito presente no cotidiano das instituições hospitalares, em especial no âmbito
das unidades de terapia intensiva (UTI), por se tratar de um ambiente projetado pra lidar
com pacientes em estado crítico, Sulzbacher et al. (2009, p. 12) escreve que:
A morte é frequente no espaço hospitalar, em especial em Unidades de Terapia Intensiva
(UTI), e há certo despreparo dos profissionais para enfrentá-la e lidar com a dor e o
sofrimento do outro. Neste cenário, o enfermeiro tem contato permanente com a pessoa
que está morrendo, podendo ser este um elemento que interfere no cuidado, de um lado
pela possibilidade de banalização e, de outro, pelo sofrimento imposto ao trabalhador.
Em função disso, discussões têm acontecido sobre esse processo de
morte/morrer e até que ponto tem sido praticado o cuidado humanizado em meio aos
cuidados paliativos. Nesse sentido Ruiz (2008) aponta que apesar da Política Nacional de
Humanização (PNH) oferecer processos que visem à construção de serviços
humanizados, ela não aborda a assistência humanizada em meio ao processo de morte,
fazendo-se necessária uma reflexão sobre cuidado prestado durante esse processo, pois
exige também uma assistência humanizada.
Assim sendo, uma nova temática tem sido levantada no que se refere à questão
da humanização é a assistência prestada ao paciente em fase terminal, pois tem sido
discutido como fazer acolhimento de forma humanizada no processo de morte em meios
aos espaços de saúde. O cuidado paliativo que segundo Silva e Hortale (2006) é
reconhecido como toda abordagem que visa melhora da qualidade de vida dos indivíduos
e familiares na presença de doenças terminais. Embora ocorra, a humanização nem
sempre está envolvida nesse processo, Santana et al. (2009) apontam que é fundamental
unir os cuidados paliativos a uma proposta de ação mais humanizada, não como
obrigação, mas sim como um ato de respeito e de solidariedade.
Sob a ótica da Política Nacional de Humanização (PNH) “Humanizar é, então,
ofertar atendimento de qualidade articulando os avanços tecnológicos com acolhimento,
com melhoria dos ambientes de cuidado e das condições de trabalho dos profissionais”
(Brasil, 2004). No entanto, ao refletir sobre esse conceito na Unidade de Terapia Intensiva
(UTI), é notório que essa prática nem sempre é constante, visto que a UTI conforme
apontado por Salicio e Gaiva (2006, p. 371) é:
Uma unidade preparada para atender pacientes graves ou potencialmente graves,
apesar de contar com assistência médica e de enfermagem especializadas e contínuas e
dispor de equipamentos diferenciados, expõe o paciente a um ambiente hostil, com
exposição intensa a estímulos dolorosos, onde a luz contínua, bem como procedimentos
clínicos invasivos são constante em sua rotina de cuidados.
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Segundo Matté (2001) para que se obtenha um cuidado de Enfermagem
adequado as exigências de um cliente em estado crítico, é preciso uma estrutura
organizacional específica, tanto em relação aos cuidados humanos quanto aos recursos
físicos e materiais, é nesse contexto que a Sistematização da Assistência de Enfermagem
(SAE) traz sua contribuição, uma vez que o Processo de Enfermagem, que é considerado a
base de sustentação da SAE, apresenta fases que envolvem desde a identificação de
problemas de saúde do cliente até a implementação dos cuidados e avaliação dos
resultados (BITTAR; PEREIRA; LEMOS, 2006).
Nesse sentido Silva e Pereira (2006) apontam que na terminalidade, a SAE é uma
maneira de tornar a Enfermagem mais científica, que promove um cuidado de
enfermagem mais humanizado, contínuo, justo e com qualidade para o paciente.
Diante do exposto anteriormente, a questão a ser respondida é a possibilidade de
assistência humanizada ao paciente em fase terminal em UTI, visando o atendimento
individualizado em todo o processo de perda.
A partir da questão criada, sugere-se como hipótese que a realidade do cuidado
prestado pelo enfermeiro de UTI ao paciente em fase terminal nem sempre apresenta sua
prática de forma humanizada, e que necessita de modificações em especial para um
momento tão difícil quanto o processo de morte.
Diante do apresentado, cabe ressaltar que a maioria dos profissionais de saúde
que trabalham com pacientes terminais enfrentam desafios para tentar promover uma
assistência de qualidade, sem se esquecer do lado humano do cuidar (SANTANA et al.,
2009).
Araújo e Silva (2007) dizem ainda que não é fácil para o enfermeiro lidar em seu
cotidiano com o sofrimento alheio e a morte, pois se trata de um momento difícil, que
causa sensação de tristeza, frustração, impotência e até mesmo culpa por falhas na
assistência prestada. Com isso muitos profissionais utilizam a negação, a fuga e a
aparente frieza como mecanismos de defesa para o enfrentamento da situação.
Ao consultar a definição de Humanização no Dicionário, obtém-se o seguinte
conceito “Humanização é o ato ou efeito de humanizar-se, de tornar-se benévolo ou mais
sociável” (HOUAISS, 2009, p. 1037). Aplicando esse conceito na área da saúde Deslandes
(2004) escreve que a humanização remete a um conjunto de iniciativas que visam à
produção de cuidados em saúde, que englobam desde a melhor tecnologia disponível, a
promoção de acolhimento, respeito aos valores e culturas do paciente, ambiente de
trabalho favorável, bom exercício técnico até a satisfação dos profissionais de saúde e os
usuários.
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Humanização no processo de morte/morrer sob a perspectiva do Enfermeiro de UTI
Nesse sentido justifica-se a relevância desta pesquisa pelo seu valor teórico e
social imprescindível ao conteúdo de um trabalho científico no campo da Enfermagem.
Teoricamente, justifica-se a pesquisa pelo fato do cuidado humanizado ter sido algo tão
preconizado na realidade. É nesse cenário que se apresenta a figura do enfermeiro, o qual
tem a missão de liderar sua equipe, promover a humanização, garantindo a assistência de
qualidade ao paciente. Por outro lado, é justamente aí que ocorrem as falhas, pois,
conforme citado por Caetano et al. (2007), as ações desenvolvidas pelos profissionais de
saúde tendem a se apresentar de forma mais técnica, deixando de lado o cuidar como
uma característica humana com base na afetividade e valores com o intuito de favorecer a
potencialidade dos pacientes em aderir ao tratamento.
A relevância social desta pesquisa repousa sob o processo de morte que ainda é
pouco discutido, e, portanto, ainda gera distanciamentos e falta de estrutura psíquica
tanto por parte dos profissionais, quanto por parte do paciente e seus familiares para lidar
com isso, ainda que seja algo esperado e natural.
Afinal, a morte é um evento que faz parte do ciclo de vida de cada indivíduo,
segundo Sulzbacher et al. (2009, p.12):
[...] no campo da medicina, estudos acerca das enfermidades, prognósticos e
modalidades de tratamento contribuem para o prolongamento da vida e adiantamento
da morte. No entanto, a morte mantém-se, ainda, como um mistério a ser desvendado.
Historicamente, conforme apontado por Santana et al. (2009), nota-se que a
percepção de morte se transformou e tomou um novo rumo, pois para os antepassados a
morte era algo tão comum que acontecia dentro das casas, mas na atualidade ela passou a
acontecer nos estabelecimentos hospitalares, transferindo o cuidado desses pacientes aos
profissionais de saúde.
No âmbito da Enfermagem tal estudo é particularmente relevante, porque
associa duas variáveis que permeiam o campo da Enfermagem, a saber: a humanização e
o processo de morte, ambos deveriam estar correlacionados, visto que a morte faz parte
do ciclo da vida e a Enfermagem está incumbida de dar assistência ao cliente em todas as
fases da vida e vê-lo holisticamente, o que implica na Humanização, que é traduzida pelo
cuidar do indivíduo com dignidade, respeito e principalmente qualidade até os últimos
instantes de sua vida.
Contudo tal estudo surgiu da necessidade de se verificar se o que é evidenciado
na teoria condiz com a prática, pois discussões ocorridas em sala de aula apontam que
nem sempre isso ocorre, em função disso surgiu à necessidade de investigar em maior
profundidade sobre o tema e chegar a uma conclusão para tal questionamento.
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O quadro teórico apresentado será complementado com entrevistas qualitativas.
Ele foi selecionado, em princípio, levando-se em conta a pertinência dos textos com o
problema de pesquisa investigado.
2.
OBJETIVOS
O objetivo geral do trabalho é identificar como a humanização é aplicada no cuidado
prestado pelo Enfermeiro de UTI Adulto ao paciente em fase terminal. Já os objetivos
específicos são:
3.
š
Compreender como é a assistência prestada pelo Enfermeiro ao paciente
em fase terminal de uma UTI Adulto.
š
Apontar as principais causas que dificultam a aplicação da humanização
por parte do enfermeiro de UTI no processo de morte;
š
Selecionar os aspectos em que a humanização relacionada à
Terminalidade ainda não faz parte da atividade do Enfermeiro em UTI
Adulto, sugerindo modificações em tal sentido.
METODOLOGIA
Este trabalho foi desenvolvido em uma UTIA de um município do Estado de São Paulo,
em um hospital de grande porte e de referência regional, onde o processo investigativo foi
feito
por
meio
de
estudo
exploratório-descritivo,
com
abordagem
qualitativa
fenomenológica, pois permitiu investigar a interação dos profissionais com os desafios da
humanização, identificando sua assimilação a tal tendência de trabalho. Pesquisa
qualitativa essa, que envolveu a obtenção de dados descritivos, por meio de contato direto
do pesquisador com a situação estudada, enfatizando mais o processo do que o produto e
se preocupando em retratar a perspectiva dos participantes.
As pesquisas bibliográfica e documental foram privilegiadas num primeiro
momento, tendo em vista a necessidade de se levantar o que já foi discutido sobre o
assunto, para isso foi efetuada uma revisão das publicações na área de saúde dos últimos
10 anos por meio da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), tendo sido consultadas as bases
de dados Lilacs, Medline e Scielo, com os seguintes descritores: Morte/Morrer,
Humanização, UTI, Assistência, Enfermeiro.
Em atendimento a Resolução 196/96, foi solicitada a anuência deste estudo a
Gerente de Enfermagem do Hospital e ao Comitê de Ética de Enfermagem. Aos sujeitos
de pesquisa (Enfermeiros) foi solicitado a sua concordância por meio de assinatura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Vale ressaltar que foi preservada a
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Humanização no processo de morte/morrer sob a perspectiva do Enfermeiro de UTI
identidade dos sujeitos participantes do estudo, conforme as “Normas de Pesquisa em
Saúde com Seres Humanos”.
Foram utilizados como sujeitos desta pesquisa 9 Enfermeiros que trabalham com
pacientes adultos na UTI, em todos os turnos: manhã, tarde e noite, que contemplavam
toda a população.
Foi elaborado um questionário semi-estruturado, com questões abertas e semifechadas, para a caracterização do enfrentamento do Enfermeiro perante a morte em uma
UTIA, que foi norteador para as entrevistas. Nesse sentido, foram realizados testes
pilotos, em duas UTI´s de dois diferentes hospitais de grande porte, para validar o
questionário como instrumento plausível para a coleta de dados. Além disso, o conteúdo
transcrito das entrevistas foi submetido à análise, em busca de categorias advindas das
convergências de respostas.
Foram realizadas entrevistas individuais com os envolvidos na pesquisa, no
início de cada entrevista ocorreu uma breve explicação sobre o tema, a importância da
colaboração do mesmo neste estudo e a garantia da preservação da identidade do
envolvido, para isso os nomes dos participantes foram substituídos por pseudônimos.
Para garantir o anonimato dos sujeitos da pesquisa, foram estruturados os depoimentos
dos sujeitos utilizando a letra E seguida de um número cardinal, conforme a sequência
das entrevistas. E também foi apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
para que houvesse concordância em participar do estudo através da assinatura por
extenso.
As entrevistas foram pré-agendadas e ocorreram no decorrer do plantão de cada
profissional envolvido no estudo, sendo estipulado pelo menos 30 minutos para cada
entrevista. A coleta de dados se deu entre abril e maio de 2010.
Para a análise dos dados foi realizada uma avaliação fenomenológica qualitativa,
explicando a problemática através da leitura reflexiva e crítica dos dados, composta por
leitura geral para levantamento dos dados obtidos, nova leitura para discriminar as
unidades de significado, transformação das expressões cotidianas para chegar às
categorias, por fim foi feito uma síntese das unidades de significados, traduzindo assim
na análise temática dos dados.
4.
RESULTADOS
A análise dos dados permitiu num primeiro momento caracterizar o perfil da população
estudada, sendo esta composta pela maioria sendo do gênero masculino 56% e 44% sendo
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representado pelo gênero feminino, refletindo assim um perfil diferente do atualmente
encontrado, tendo em vista que a Enfermagem como se sabe é uma profissão exercida em
sua maioria por mulheres. A faixa etária dos profissionais pesquisados é apresentada no
Gráfico 1.
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
27 a 29 30 a 32
anos
anos
Gráfico 1 - Distribuição por faixa etária dos profissionais pesquisados.
Observa-se que a maior parcela dos Enfermeiros participantes do estudo está na
faixa etária dos 27 aos 29 anos, reproduzindo assim uma nova característica desse perfil
de enfermeiro de UTI. Os que se apresentaram em menor número foram aqueles entre 30
e 32 anos.
34% dos participantes se formaram entre 5 e 6 anos, 44 % têm entre 3 e 4 anos de
formado e 22% tem entre 6 meses a 2 anos. Quanto à área de especialização dos
entrevistados, a distribuição está demonstrada no Gráfico 2.
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Humanização no processo de morte/morrer sob a perspectiva do Enfermeiro de UTI
11%
11%
11%
56%
11%
UTI
Docência
Gestão de Pessoas
Saúde Pública
Nenhuma
Gráfico 2 - Distribuição por área de especialização dos profissionais pesquisados.
Nota-se que 56% são intensivistas o que representa um dado favorável, e 33% são
especialistas em outras áreas, somente 11% não possui especialização.
Quanto ao tempo de atuação 67% tem de 3 a 6 anos na área, o que tende a
favorecer também o andamento dos processos e serviços, 33% apresentam entre 2 meses a
1 ano de atuação. A tabela abaixo mostrará mais detalhadamente à área de atuação
anterior dos profissionais entrevistados.
Tabela 1 – Descritivo dos Profissionais quanto à área de atuação anterior.
Pseudônimo
Áreas de Atuação anterior
E1
UTI Neonatal; UTI Pediátrica; UTI Adulto
E2
UTI Neonatal; UTI Pediátrica; UTI Coronariana; Maternidade
E3
Clínica Médica
E4
UTI Adulto
E5
Clínica Médica, Clínica Cirúrgica; PS; UTI Adulto
E6
Clínica Médica, Clínica Cirúrgica; UTI Adulto; Oncologia
E7
O
Clínica Médica, Clínica Cirúrgica; UTI Adulto; PS; UTI Neurológica; Semi-Intensiva
E8
Clínica Cirúrgica
E9
PS; UTI Adulta
Observa-se que no que diz respeito às áreas de atuação foi evidenciado que 56%
já atuaram em 3 áreas ou mais, 11% em 2 áreas e 33% apenas em uma área, representando
mais um dado significativo que tende a favorecer a assistência dada ao cliente.
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Entretanto, no que se refere à caracterização do perfil da população estudada,
nota-se que os profissionais apesar de novos, nem por isso possuem uma percepção muito
diferenciada acerca da humanização no processo de morte, sendo este um tema que ainda
precisa ser mais explorado de modo a mudar as concepções ora encontradas na atual
sociedade.
A partir da análise e compreensão dos depoimentos dos entrevistados, permitiuse construir 3 categorias de análise que constituem a essência do fenômeno estudado:
Percepções relacionadas à morte; Assistência no processo de morte; e Humanização na
Terminalidade.
Percepções relacionadas à morte
Nota-se que nos depoimentos dos entrevistados que alguns se sentem tranquilos
e se conformam com a morte, uma vez que ela faz parte do ciclo da vida, no entanto, é
algo que para outros é mais difícil de lidar, as falas a seguir demonstram os sentimentos
dos profissionais em relação à morte:
“A morte é algo inevitável! Infelizmente a única certeza que a gente tem é após nascer é
que um dia todos vão morrer [...]” (E1)
“No meu ponto de vista, pelo que eu vejo aqui na UTI, acredito que é a pior parte do
nosso serviço. Entre diversos pontos ai que pode citar [...] eu acho que a morte é
complicada, principalmente quando é um jovem, porque a idéia qual que é? É o filho
enterrar o pai, não o contrário, e acho que isso pesa muito na família, acho que é a parte
mais complicada do nosso serviço” (E3)
“Ah me sinto tranquila, hoje eu não tenho nenhum problema assim com a morte. Com o
tempo a gente vai trabalhando e a gente aprende a lidar melhor com isso, em UTI como
infelizmente ocorrem muitas mortes, então a gente vê como uma fase, eu vejo como uma
fase que todos nós iremos passar.” (E4)
“Em relação à morte quando diz respeito a um paciente onde a gente tem que estar
passando para o familiar, é uma coisa complicada. O pessoal costuma dizer que a gente
acaba acostumando, mas cada morte é um caso diferente, a gente sente de uma forma
diferente, mas não se detém aquilo, a gente tem que aprender a separar o lógico do
emocional”. (E5)
“Bom como eu me sinto... Eu trabalho assim, eu separo um pouco, um pouquinho o que
dá pra separar, por exemplo, em relação à morte de um paciente se eu não sei muito
sobre a vida dele, eu não participei muito da vida dele, a gente lamenta, por não ter de
repente conseguido reverter o quadro, conseguido fazer com que saísse daqui (UTI) com
vida [...], mas acabo fazendo os procedimentos burocráticos, oriento os meninos quanto
à assistência ao corpo e o que tem que ser feito, e assim acaba encerrando ali, não tem
grandes envolvimentos. Quando é um paciente que já conheço, já convivi mais tempo
com ele, principalmente sei um pouco mais da vida dele lá fora [...] eu me comovo um
pouquinho mais, fico triste, chateada, lamento porque imagino o sofrimento da família
[...] (E6)
Conforme visto anteriormente, os profissionais ainda apresentam dificuldades
para encarar a morte como algo que faz parte do ciclo vital, e tal realidade ora exposta,
demonstra que esse é um tema que precisa ser mais explorado e discutido.
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Humanização no processo de morte/morrer sob a perspectiva do Enfermeiro de UTI
Ainda sobre as percepções relacionadas à morte nota-se que os profissionais
durante suas formações nos cursos de Graduação não tiveram uma abordagem adequada
sobre esse tema, Gutierrez (2003) diz que durante a formação o aluno é preparado para
salvar vidas, e poucas vezes fala-se sobre morte como alívio ao paciente, e isso faz com
que o profissional veja a morte como um fracasso e não como a última fase da vida. As
falas a seguir retratam um pouco sobre como foi à abordagem do tema morte durante a
formação dos profissionais:
“Olha na faculdade você aprende muito que tem que ser “homem de pedra”, não pode
ter sentimento, mas eu acredito que foi inadequada a abordagem, porque muita gente
sai da faculdade [...] e não consegue lidar com isso [...] na minha própria formação os
professores não trataram a morte, para eles era indiferente, eles queriam falar mais de
outras coisas, como administração, sabiam muito de administração. Mas a morte em si o
lidar com a morte/morrer não tinha, era muito pouco abordado.” (E3)
“Na verdade a gente teve essa abordagem de morte e lidar com a morte do cliente, mas
não foi no aspecto amplo da coisa, a gente foi vê isso mais no dia-a-dia, aprender a lidar
com isso no dia-a-dia mesmo.” (E5)
A temática morte também é pouco abordada, pois para o profissional da UTI, em
especial, que convive com pacientes terminais, não é fácil ver que toda a tecnologia
disponível no setor não vai livrá-los da morte, sendo assim, o profissional é levado a
repensar sobre sua própria terminalidade, e isso causa grande impacto para o mesmo.
(ULLER, 2007).
Quando questionados sobre o que poderia ser feito para ajudá-los a lidar melhor
com o processo de morte, percebe-se a necessidade de suporte psicológico, assim como
discussões sobre o assunto, isso é evidenciado pelos relatos:
“No meu ponto de vista, acho que apoio psicológico seria importante, porque pra nós
em geral é necessário, por mais que você fale não consigo conversar, acho que você
precisa você tem que desabafar alguma coisa que está acontecendo, se não você começa
a somatizar demais e ai você acaba, sei lá, descontando em outras pessoas, o nosso
trabalho é muito estressante, então por isso o suporte pro profissional é adequado [...]”.
(E3)
“Olha é difícil, porque como eu falei ninguém quer morrer, envolve muitas questões, é
um tema muito amplo, porque cada um tem uma formação, cada um tem uma
religiosidade, todo mundo tem suas opiniões no seu intimo, mas eu acho que falar mais
sobre morte, filosofar mesmo, de onde vim, pra onde vou, como vou, porque vou, pois
todo mundo tem medo, porque todo mundo vai saber que quando tiver chegando
próximo da sua morte vai sentir medo, vai sentir um aperto dentro do seu coração, vai
pensar não quero ir agora [...]” (E6)
“Acredito que estar discutindo mais entre a equipe multiprofissional, buscando sempre
mais informações e com o auxilio da Psicologia aprender como melhor lidar com os
familiares e toda essa situação [...]” (E9)
Diante do exposto anteriormente uma importante referência é dada por Kovács
(2002), segundo ela se faz necessário preparar as pessoas em todos os níveis para o
enfrentamento da morte, isso inclui a criação de fóruns convencionais para trabalhar essa
temática, pois conforme apontado pela própria autora o luto mal elaborado pode causar
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sintomas físicos e mentais que tende a prejudicar tanto o profissional quanto o
cliente/família.
Assistência no processo de morte
Gutierrez (2003) diz que a equipe de Enfermagem é constituída por profissionais
que apresentam dificuldades no que se refere ao enfrentamento do processo de morte no
que diz respeito às relações interpessoais, nesse sentido nota-se que os profissionais
prezam pela boa assistência ao paciente em processo de morte, no entanto lidar com o
familiar desse paciente não é algo muito fácil, conforme as falas a seguir nota-se que os
profissionais fazem de tudo para dar uma boa assistência de modo a minimizar o
sofrimento desse cliente, mas a assistência ao familiar é algo que precisa ser mais
trabalhado:
“Ao lidar com o paciente em fase terminal eu me sinto tranquila, aqui a gente preza pela
boa assistência, mesmo no processo como a gente tem em pacientes que evolui para
morte encefálica, tem todo processo de capitação de órgãos, então a gente zela por todos
os cuidados do paciente, não é porque ele está em morte encefálica que a gente deixa de
prestar assistência, então é um paciente como qualquer outro pra gente”. (E4)
“Assistir o familiar do paciente em processo de morte, é a parte que me deixa mais
emotivo, ver o sofrimento do familiar realmente, é uma parte muito desgastante”. (E5)
“Eu já me sinto um pouco mais nervoso ao assistir o familiar, por exemplo, no momento
de dar, acompanhar na verdade o momento de falar que o paciente, aquele ente querido
foi a óbito, eu já procuro não ir, porque eu fico muito nervoso”. (E2)
“Ao assistir o familiar me sinto mal, acabo sentindo um pouco da dor deles, porque
assim como hoje a dor é deles, amanhã pode acontecer comigo e eu me sentiria triste,
abalado, questionando a situação, por que isso? Porque aquilo? Então a gente tenta se
por no lugar deles para tentar responder essas perguntas e tentar dar suporte da melhor
maneira possível.” (E8)
Humanização na Terminalidade
Ao questionar os entrevistados sobre o que entendem por assistência
humanizada no processo de morte, percebe-se que eles visam o conforto e a minimização
do sofrimento. Os relatos a seguir ilustram bem isso:
“Vai morrer que morra com dignidade, acho que é o mínimo que você tem que ter. Está
fechando um ciclo que começou lá no seu nascimento, acho que na hora que termina
esse clico o mínimo que você tem que ter é dignidade, é ser bem tratado, isso é uma
coisa que aprendi não relacionado à psicologia ou qualquer outra área, mas aprendi na
anatomia, que aquele corpo, ele é feito de amor entre duas pessoas, então você tem que
respeitar, respeite tudo o que for fazer, porque ali viveu uma pessoa, não é um pedaço
de papel que você joga fora [...] (E3)
“Tirar todo tipo de sofrimento do paciente que ele venha a ter, evitar o máximo possível
o sofrimento do paciente e do familiar também, tem familiares mais orientados que tem
condições de estar presente a gente até libera, eu faço questão que libere, mas tem
familiar que não tem condição, acho que isso faz parte da humanização” (E5)
Santos (2009) acrescenta nessa perspectiva que a medicina paliativa tem como
foco principal o cuidado, e que para este ocorrer alguns pontos precisam ser considerados,
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Humanização no processo de morte/morrer sob a perspectiva do Enfermeiro de UTI
tais como: escuta empática para o paciente, elaboração de diagnóstico antes do
tratamento, conhecimento das drogas a serem utilizadas, e principalmente aprender a
reconhecer e desfrutar pequenas realizações e ter consciência de sempre há algo a ser
feito.
Mas ao se refletir sobre o conceito de cuidados paliativos é evidenciado um
cuidado que às vezes se apresenta de forma distante, nesse sentido os sujeitos relataram
os fatores que dificultam o cuidado paliativo em ser mais humanizado:
“O profissional se distancia porque a parte psicológica acho que pesa muito no
profissional, acho que não tanto aqui, na UTI onde só tem adultos, mas acho que na UTI
Neo é pior [...] é difícil lidar com esse tipo de coisa, então o mecanismo de defesa dos
próprios profissionais é se fechar pro mundo [...] e isso atrapalha por que você fica
naquela coisa muito mecânica [...]” (E3)
“Falta conscientização de todo grupo [...] sobre o que vem a ser humanização no quadro
de morte do paciente, pré morte onde sabe que o paciente está indo, não tem mais o que
fazer e o familiar já está consciente. Acho que uma conscientização do quadro da saúde
no geral de como lidar com isso, porque lidar com isso, quais os fatores benéficos para
familiares e para o paciente. Falta uma conscientização [...] do que é humanização nessa
fase o porquê dessa humanização”. (E5)
“Na minha opinião o preparo do profissional, porque quando você fala em morte ela
envolve várias questões, educação que você recebeu desde sua criação, desde a sua
formação em casa, como também fora de casa, como vivencia a questão da morte, ai
entra também a questão religiosa e tem muitos profissionais que não estão preparados
mesmo [...]” (E6)
“Olha às vezes uma escala mais reduzida de funcionários, um excesso de
procedimentos, acaba diminuindo essa qualidade, essa atenção holística dada ao
paciente terminal [...]” (E9)
Ainda sobre a questão da Humanização na Terminalidade os entrevistados foram
questionados se elaboravam diagnósticos e intervenções de Enfermagem referentes à
humanização no processo de morte/morrer, no entanto, percebe-se que esse ainda é um
ponto que precisa ser mais explorado, pois nenhum dos entrevistados se foca nesses
aspectos agindo como se fosse um paciente comum, esquecendo-se que o mesmo requer
um cuidado especial, voltado mais a prática de cuidados paliativos associados a uma
prática mais humanizadora, os relatos a seguir evidenciam essa realidade:
“Não elaboro diagnósticos específicos, mas alguns pacientes dependendo do diagnóstico
médico, a gente elabora, não especifico para o processo de morte e sim para minimizar o
máximo de sofrimento possível, humanizar toda a situação, mas não que seja especifico
a esse processo.” (E5)
“Olha intervenções de Enfermagem eu até faço, mas diagnósticos eu vou ser bem
sincera, estou tentando lembrar agora algo especifico, direcionado e pode ser que tenha
alguns diagnósticos que acabam se aplicando a muitos outros pacientes que não sejam
terminais, mas assim especificamente eu não consigo me lembrar. É que assim em
cuidados paliativos você acaba priorizando conforto, mas faltam diagnósticos mais
direcionados a esse processo.” (E6)
Neste momento crucial de vida/morte, cuidar requer dos profissionais de saúde,
em especial dos enfermeiros, empatia, sensibilidade, envolvimento, percepção aguçada,
interação, conhecimento e crença. Sendo assim, com esses quesitos o cuidado será eficaz e
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apresentará resolutividade no que se refere à relação com o paciente e sua família nesse
processo doloroso. É necessário que os profissionais reflitam diariamente sobre o rito de
passagem da vida para a morte, dessa forma poderão cuidar com qualidade, oferecendo o
suporte necessário aos que necessitam nestas horas difíceis (ALENCAR; LACERDA;
CENTO, 2005).
5.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A morte tal qual o nascimento deveria ser tratada com naturalidade, principalmente no
contexto hospitalar, como uma forma de cessar o sofrimento, infelizmente a realidade não
é essa, porém o entendimento da morte varia de acordo com a cultura de cada pessoa o
que deve ser respeitado.
Conforme visto no presente trabalho verifica-se uma necessidade imensa de
humanizar tal processo, desta maneira, humanizar o processo de morte tende a amenizar
o sofrimento existente que causa grande desgaste tanto para quem é cuidado quanto para
quem cuida, tal pesquisa mostrou que a questão da humanização tem permeado o
processo de morte de forma parcial, sendo ainda necessário ajustar alguns pontos de
forma a contribuir para a efetividade do processo como um todo.
A assistência individualizada em todo processo de perda é possível desde que
mais discussões sobre o assunto sejam feitas, assim como políticas sobre essa temática
sejam implantadas nas instituições de saúde, e legislações sejam vigentes no país, se faz
necessário também uma maior oferta de suporte ao profissional de forma que ele consiga
se trabalhar para melhor desempenhar a assistência, que conforme visto ocorre de forma
deficitária, uma vez que existem fatores sociais que dificultam uma melhor abordagem
por parte do profissional.
Um ponto que precisa ser mais explorado é o relacionamento com a família do
paciente em fase terminal, pois esse aspecto se apresentou com uma das principais causas
que dificulta a aplicação da humanização por parte do enfermeiro, uma vez que a parte
emocional desse profissional fica abalada quando precisa abordar o familiar, sendo assim,
o suporte psicológico é uma ferramenta que tende a contribuir para que essa dificuldade
seja superada.
Afinal o enfermeiro tem um importante papel dentro da equipe de enfermagem,
e esse papel é realçado ainda mais quando o assunto é humanização, pois conforme visto,
o indivíduo por excelência já é humano, mas com o passar dos anos tem perdido alguns
valores essenciais sendo necessário relembrar alguns conceitos fundamentais para uma
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Humanização no processo de morte/morrer sob a perspectiva do Enfermeiro de UTI
assistência mais humanizada, em especial na fase terminal, assim sendo, o enfermeiro
como líder e gestor de sua equipe precisa conscientizá-la de que mesmo quando a cura já
não é mais possível, sempre há algo a ser feito de modo a minimizar o sofrimento.
Nesse sentido, a grade curricular dos cursos da saúde, em especial da
enfermagem, poderiam ser reformuladas a fim de abordar em maior proporção a questão
da morte, do paciente terminal e seus familiares, uma vez que esse profissional sai da
faculdade sem um preparo adequado e, por vezes acaba criando mecanismos de defesa
que culminam no distanciamento e nas ações ditas desumanizantes.
Nesse contexto, tal estudo se torna mais uma ferramenta que tende a oferecer
subsídios para que se pense em uma reformulação visando o aprimoramento da
assistência de Enfermagem ao paciente em fase terminal. Espera-se que para o futuro
mudanças ocorram nesse sentido e que mais discussões sobre essa temática sejam feitas, a
fim reestruturar desde a formação dos profissionais até mesmo a concepção que a
sociedade traz consigo sobre morte.
PARECER DE APROVAÇÃO DE COMITÊ
Pesquisa autorizada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Ensino e Pesquisa
Armênio Crestana – IEPAC / SECONCI - SP em 15/04/2010 por meio do parecer
07/2010.
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