CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM MÉDICO

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CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM
MÉDICO-CIRÚRGICA
O Autocuidado na Pessoa com Insuficiência Cardíaca
Helena Isabel Fernandes Martins
Coimbra, julho de 2015
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CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM
MÉDICO-CIRÚRGICA
O Autocuidado na Pessoa com Insuficiência Cardíaca
Helena Isabel Fernandes Martins
Orientador: Rui Filipe Lopes Gonçalves, Professor
Adjunto da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
Dissertação apresentada à Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
para obtenção do grau de Mestre em Enfermagem Médico-Cirúrgica.
Coimbra, julho de 2015
AGRADECIMENTOS
Ao Senhor Professor Rui Gonçalves orientador desta dissertação, pelo apoio científico,
disponibilidade, encorajamento e paciência ao longo deste percurso.
Ao Senhor Dr. Rui Batista, pelas ideias e sugestões, que tornaram possível a
concretização deste trabalho.
À Senhora Enfermeira Lucinda Duarte, Enfermeira-Chefe do Serviço de Cardiologia AA, pelo apoio demonstrado aquando da realização deste trabalho.
Aos Senhores Enfermeiros do serviço de Cardiologia A-A, pelo apoio, partilha e
amizade demonstrada, que contribuiu para que este percurso se tornasse mais fácil.
Ao Conselho de Administração e de Ética do Centro Hospitalar e Universitário de
Coimbra, pela autorização concedida, permitindo a viabilização deste trabalho.
Aos meus pais, pelo apoio incondicional, força, encorajamento e compreensão, pois
sem a sua ajuda não teria sido possível concluir este curso.
À minha irmã por saber ouvir os meus desabafos e pelos seus conselhos.
Ao Gonçalo pelo apoio e, principalmente, pela paciência.
A todas as pessoas com Insuficiência Cardíaca que colaboraram na recolha de dados,
contribuindo assim para a consecução desta dissertação.
SIGLAS
AVC – Acidente Vascular Cerebral
BNP – Peptídeo Natriurético do tipo B;
CDI – Cardiversor Desfibrilhador Implantável;
CHUC – Centro Hospitalar Universitário de Coimbra;
CIPE – Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem;
DC – Débito Cardíaco;
DGS – Direção-Geral da Saúde;
DPN – Dispneia Paroxística Noturna;
DPOC – Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica;
EAM – Enfarte Agudo do Miocárdio;
EACPIC - Escala de Autocuidado para a Pessoa com Insuficiência Cardíaca;
EPICA - Epidemiologia da Insuficiência Cardíaca e Aprendizagem;
FE – Fração de Ejeção;
FEVE – Fração de Ejeção do Ventrículo Esquerdo;
HUC – Hospitais da Universidade de Coimbra;
IC – Insuficiência Cardíaca;
ICC – Insuficiência Cardíaca Crónica;
IC- FEP – Insuficiência Cardíaca com fração de ejeção preservada;
IC- FER – Insuficiência Cardíaca com fração de ejeção reduzida;
IECA – Inibidor da Enzima Conversora da Angiotensina;
INE – Instituto Nacional de Estatística;
MR-Pro ANP – Mid-regional Pro-atrial Natriuretic Peptide;
NT-pro BNP – N-Terminal of the pro hormone brain natriuretic peptide;
NYHA – New York Heart Association;
OMS – Organização Mundial de Saúde;
PET – Tomografia por Emissão de Positrões
RMC – Ressonância Magnética Cardíaca;
SPECT – Tomografia de Emissão de Fotão Único;
SPSS - Statistical Package for the Social Sciences;
TIBC – Capacidade de Ligação do Ferro Total
RESUMO
A Insuficiência Cardíaca (IC) é uma síndrome crónica e progressiva, caraterizada
como o último estadio de todas as doenças cardiovasculares. Devido ao aumento da
sua incidência e prevalência, possui uma elevada taxa de mortalidade e morbilidade,
está associada a elevadas taxas de readmissão hospitalar e à diminuição da qualidade
de vida das pessoas. Os cuidados de Enfermagem direcionados para adequação da
gestão, manutenção e confiança para o autocuidado da pessoa com IC revelam-se
uma estratégia fundamental para melhorar as suas respostas às necessidades e
cuidados e, consequentemente, a sua qualidade de vida. Este trabalho tem como
objeto de estudo o autocuidado na pessoa com IC, com o objetivo de se conhecer qual
o nível de adequação do autocuidado da pessoa com IC e como se relaciona com as
caraterísticas
sociodemográficas
e
clínicas
dos
participantes.
Para
a
sua
concretização foi conduzido um estudo descritivo-correlacional com uma amostra de
65 pessoas submetidas a internamento hospitalar por IC que acederam responder ao
instrumento de recolha de dados, constituído por uma escala de avaliação do
autocuidado e por um questionário de caraterização sociodemográfica e clínica.
Globalmente, a amostra em estudo evidenciou uma capacidade não adequada para o
autocuidado. Identificámos ainda que: a capacidade para o autocuidado se encontrava
menos adequada nas dimensões de gestão do autocuidado e de confiança no
autocuidado e um pouco mais adequada na dimensão da manutenção do autocuidado;
as pessoas mais velhas, com mais fatores de risco/doença tendem a evidenciar menor
adequação do autocuidado; e que as pessoas com mais habilitações literárias, as que
foram hospitalizadas ou recorreram a assistência de saúde nos últimos doze meses e
as que apresentam maior fração de ejeção do ventrículo esquerdo, tendem a
evidenciar maior adequação do autocuidado. Com base nas evidências científicas e
nos resultados obtidos encontram-se reunidas as condições para a construção de um
guião de orientação clínica a utilizar numa consulta de enfermagem, implementando
práticas de educação para a saúde dirigidas à promoção do autocuidado na pessoa
com IC, seus familiares/pessoa significativa.
Palavras-chave: Enfermagem, Autocuidado, Insuficiência Cardíaca.
ABSTRACT
Heart Failure (HF) is a chronic and progressive syndrome, characterized as the last
stage of all cardiovascular diseases. Due to the increased incidence and prevalence, it
has a high mortality and morbidity rate. It is also associated with the high rate of
hospital readmission and reduced quality of life. Nursing care aimed at self-care has
proven to be a key strategy for a person with HF, in such a way that the person is
encouraged to practice self-care in order to improve health outcomes and consequently
the quality of life. This work focus on the self-care of a person with HF as study object
and our goals are: to know the level of adequacy of self-care of the person with HF and
the main influence of the socio-demographic and clinical characteristics of the sample.
We conducted a descriptive and correlational study, with the participation of 65 people
undergoing hospitalization for HF who accepted to answer to our data collection tool,
which consisted of a self-care index for people with HF and a socio-demographic and
clinical questionnaire. In the course of this study, we concluded that people who
constituted the sample, in general, have shown a non adequate capacity for self-care.
We also identified that: the ability for self-care was less adequate in self-care
management and self confidence dimensions and slightly more adequate in the selfcare maintenance dimension; older people, with more risk/disease factors tend to show
less capacity of self-care; and people with more qualifications, those who were
hospitalized or in need of health care assistance in the last twelve months and those
with higher left ventricular ejection fraction, tend to show a higher level of self-care
adequacy. Therefore, based on scientific evidence and the results obtained in this
study we are able to create a handbook for clinical guidance to be used in a future
nursing consultation, allowing to the implementation of health education practices with
the purpose of promoting self-care, focusing mainly on the person with HF, but also
their family or caregivers.
Key words: Nursing, Self-care, Heart Failure.
ÍNDICE DE QUADROS
Pág.
Quadro 1 - Classificação funcional da IC baseada na gravidade dos sintomas e
na atividade física de acordo com a New York Heart Association, adaptado da
European Society of Cardiology (2012) .……………………..............................…
29
Quadro 2 - Critérios de Inclusão e exclusão dos participantes no estudo ……...
61
Quadro 3 - Caraterísticas sociodemográficas da amostra …………………..……
68
Quadro 4 - Conhecimento da amostra acerca da doença e internamentos
anteriores …………………………………………………………………………..……
69
Quadro 5 - Dados clínicos da amostra …………………………………………....
71
Quadro 5.1 - Dados clínicos da amostra (continuação) ……………………..…....
72
Quadro 6 - Consistência interna das Subescalas da SCHFI V6.2 ………………
73
Quadro 7 - Respostas aos itens da Escala de Autocuidado para a pessoa com
Insuficiência Cardíaca (dimensão “Manutenção do autocuidado”) …………..…..
74
Quadro 8 - Respostas aos itens da Escala de Autocuidado para a pessoa com
Insuficiência Cardíaca (dimensão “Gestão do autocuidado”) ………………….….
75
Quadro 9 - Respostas aos itens da Escala de Autocuidado para a pessoa com
Insuficiência Cardíaca (dimensão “Confiança no autocuidado”) ……………..…..
76
Quadro 10 - Resultados da aplicação da Escala de Autocuidado para a pessoa
com Insuficiência Cardíaca ……………………………..……………………...….….
77
Quadro 11 - Resultados do estudo da correlação entre a Escala de
Autocuidado e a idade da pessoa com Insuficiência Cardíaca …………...………
78
Quadro 12 - Resultados da comparação da Escala de Autocuidado em função
do estado civil da pessoa com Insuficiência Cardíaca ………………………….…
78
Quadro 13 - Resultados da comparação da Escala de Autocuidado em função
do género da pessoa com Insuficiência Cardíaca …………………………….……
79
Quadro 14 - Resultados da comparação da Escala de Autocuidado em função
das habilitações literárias da pessoa com Insuficiência Cardíaca ………………..
80
Quadro 15 - Resultados da comparação da Escala de Autocuidado em função
da área de residência da pessoa com Insuficiência Cardíaca …………….…...…
Quadro 16 - Resultados do estudo de correlação entre a escala de
autocuidado e o tempo de diagnóstico da pessoa com Insuficiência
81
Cardíaca…………………………………………………………………………………. 81
Quadro 17 - Resultados da comparação da Escala de Autocuidado em função
do facto da pessoa com Insuficiência Cardíaca ter sido hospitalizada ou ter
procurado assistência de saúde nos últimos doze meses ………………………
82
Quadro 18 - Resultados da comparação da Escala de Autocuidado em função
da independência nas atividades diárias da pessoa com Insuficiência Cardíaca.
83
Quadro 19 - Resultados do estudo da correlação entre a Escala de
Autocuidado e os valores da FEVE apresentados pela pessoa com
Insuficiência Cardíaca ……………………………………………………………....
84
Quadro 20 - Resultados do estudo da correlação entre a Escala de
Autocuidado e o número de fatores de risco/doenças apresentadas pela
pessoa com Insuficiência Cardíaca ……………………………………………….
84
ÍNDICE
Pág.
INTRODUÇÃO ……………………………………………………………………
15
PARTE I
FASE CONCEPTUAL
1 – DOENÇA CARDIOVASCULAR ……………………………………………..
21
1.1 – DEFINIÇÃO E CARATERIZAÇÃO ………………………………………..
21
1.2 – INSUFICIÊNCIA CARDÍACA ………………………………………………
23
2 – TEORIA DO DÉFICE DO AUTOCUIDADO EM ENFERMAGEM ……….
39
2.1 – AUTOCUIDADO NA PESSOA COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA …..
42
2.2 – AUTOCUIDADO E CUIDADOS DE ENFERMAGEM …………………...
45
PARTE II
FASE METODOLÓGICA/EMPÍRICA
1 – OPÇÕES METODOLÓGICAS ………………………………………………
57
1.1 – QUESTÃO DE INVESTIGAÇÃO ………………………………………….
58
1.2 – OBJETIVOS DA INVESTIGAÇÃO ………………………………………..
59
1.3 – POPULAÇÃO, AMOSTRA E CONTEXTO DO ESTUDO ………………
60
1.4 – OPERACIONALIZAÇÃO DE VARIÁVEIS ……………………………...
61
1.5 – INSTRUMENTO DE RECOLHA DE DADOS ……………………………
62
1.6 – PROCEDIMENTOS FORMAIS E ÉTICOS PARA A RECOLHA DE
DADOS ……………………………………………………………………………..
65
1.7 – MÉTODOS DE ANÁLISE DE DADOS ……………………………………
66
2 – ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ……………………………
67
2.1 – CARATERIZAÇÃO SÓCIODEMOGRÁFICA DA AMOSTRA ………….
67
2.2 – CARATERIZAÇÃO CLÍNICA DA AMOSTRA ……………………………
70
2.3 – ADEQUAÇÃO DO AUTOCUIDADO DA AMOSTRA ……………………
73
3 – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS …………………………………………
85
CONCLUSÃO ……………………………………………………………………...
97
BIBLIOGRAFIA
ANEXOS
ANEXO I - Instrumento de recolha de dados
ANEXO II - Esclarecimento/consentimento do doente
ANEXO III - Pedido de autorização para a utilização da Escala de Autocuidado para a
aaaaaaaaaaPessoa com Insuficiência Cardíaca (EACPIC)
ANEXO IV - Autorização da Comissão de Ética e do Conselho de Administração do
aaaaaaaaaa CHUC
INTRODUÇÃO
A Insuficiência Cardíaca (IC), de entre as patologias Cardiovasculares, constitui um
grave problema de Saúde Pública, principalmente nas sociedades de cultura ocidental.
O aumento da sua incidência e prevalência determina segundo Ceia et al. (2005) e
Linhares et al. (2010) uma elevada taxa de mortalidade e morbilidade. Além disso,
esta patologia está associada a grave situação de incapacidade, a elevadas taxas de
readmissão hospitalar e à diminuição da qualidade de vida das pessoas, sendo que o
seu tratamento requer um elevado consumo de meios assistenciais.
A IC é uma síndrome complexa e de difícil diagnóstico. A sua prevalência global está a
aumentar,
preocupando
principalmente
os
países
onde
a
população
é
maioritariamente idosa, visto que a evolução nos tratamentos para esta síndrome
propiciam a sua sobrevida (Ceia et al., 2005; Yera-Casas et al., 2009; Arruda &
Cavalcanti, 2012).
De todos os fatores que podem influenciar o prognóstico, o autocuidado surge como
um aspeto importante no tratamento da IC. A existência de práticas sistemáticas de
educação para a saúde sobre medidas farmacológicas e não farmacológicas, gestão
dos sintomas e práticas de autocuidado direcionadas para a pessoa com IC e seus
familiares, tornam-se fundamentais. Os principais objetivos devem ser direcionados
para o ensinar, reforçar, melhorar e avaliar constantemente as capacidades das
pessoas para o autocuidado. As práticas de educação para a saúde contribuem,
assim, para manter a estabilidade clínica da pessoa, prevenir os fatores precipitantes
de descompensação da doença e consequentemente reduzir o número de
reinternamentos (Feijó et al., 2012; Gonçalves & Albuquerque, 2014).
Torna-se fundamental que as pessoas com IC possam contar com a ajuda dos
profissionais de saúde que atuam não só na prevenção primária, mas também na
secundária e na terciária, uma vez que, só com esforços conjuntos é possível reduzir
os fatores de risco associados a esta patologia. Desta equipa multidisciplinar, destacase o enfermeiro como elo fundamental, tendo como função supervisionar a pessoa
com IC e potenciar o seu autocuidado por meio de educação para a saúde (Oliveira et
al., 2013).
15
Tendo como objeto de estudo o autocuidado na pessoa com IC, o objetivo central
desta pesquisa passa por conhecer o nível de adequação do autocuidado da pessoa
com IC, por forma a definir, no futuro estratégias, de intervenção de enfermagem que
promovam o autocuidado da pessoa com IC.
Da realidade clínica emerge a necessidade de se encontrar uma resposta para um
problema que está cada vez mais presente, e consequentemente, proporcionar uma
amplificação do conhecimento técnico e científico sobre o nosso objeto de estudo.
Assim surge a questão central de investigação: Qual o nível de adequação do
autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca?
Assim sendo, os objetivos deste estudo são:
• Analisar quão adequado é o autocuidado praticado pela pessoa com insuficiência
cardíaca ao nível da sua manutenção, gestão e confiança;
• Analisar em que medida as características sócio demográficas influenciam a
adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca;
• Analisar que dados clínicos influenciam a adequação do autocuidado da pessoa com
insuficiência cardíaca.
Neste estudo é realizada uma abordagem quantitativa pela condução de um estudo do
tipo descritivo-correlacional. Para dar resposta aos objetivos anteriores, pretende-se
com base nos resultados e evidências científicas encontradas, fazer propostas de
melhoria da qualidade dos cuidados de enfermagem à pessoa com IC, particularmente
no que diz respeito à adequação do autocuidado. Pretende-se que esta ocorra através
da realização de ações formativas e da análise do impacto da atividade formativa na
promoção do autocuidado das pessoas com IC.
A investigação em enfermagem constitui-se atualmente como um pilar para a
promoção da excelência da melhoria contínua da qualidade dos cuidados e da sua
afirmação enquanto ciência. Apesar de os contextos clínicos exigirem práticas
baseadas nas melhores evidências científicas, mais do que na tradição, intuição ou
experiência pessoal, a enfermagem continua a ser uma combinação entre arte e
ciência (Polit, Beck & Hungler, 2004).
No campo da saúde, a investigação é fundamental para que se possam adquirir novos
conhecimentos, avaliar as práticas e responder a questões que permitam a reflexão
sobre a qualidade dos cuidados prestados.
16
Estruturalmente, este documento é dividido em duas partes, a primeira corresponde à
fase conceptual e a segunda à parte metodológica. Na fase conceptual é realizada um
breve enquadramento às doenças cardiovasculares, seguindo-se a definição de IC, a
qual englobará a sua tipologia, sinais e sintomas, exames complementares de
diagnóstico e respetivo tratamento. Segue-se uma abordagem sobre o Autocuidado de
acordo com a teoria do Défice do Autocuidado em Enfermagem e sobre o autocuidado
na pessoa com IC, analisando a importância das Intervenções de Enfermagem para a
concretização do mesmo. Na fase metodológica é realizada a descrição do percurso
metodológico/ empírico do estudo, a análise, interpretação e discussão dos resultados
obtidos. Apresenta-se por fim a conclusão, na qual são abordadas as principais
limitações do estudo e propostas de melhoria.
17
18
PARTE I – FASE CONCEPTUAL
19
20
1 – DOENÇA CARDIOVASCULAR
O estudo das doenças cardiovasculares torna-se primordial, uma vez que constituem a
causa de morte mais relevante em toda a Europa, incluindo Portugal. Estas englobam
um diverso conjunto de situações clínicas que afetam o sistema circulatório em
diferentes localizações. Das doenças cardiovasculares, devido à elevada taxa de
mortalidade e morbilidade, destacam-se a doença cerebrovascular e a doença
coronária (DGS 2013).
Torna-se fundamental que exista um plano de intervenção preventiva (primária,
secundária, terciária), desenvolvido de forma sustentada e consistente, através da
implementação de estratégias de intervenção, de melhoria de qualidade e de melhoria
dos sistemas de informação.
Além destas estratégias, destaca-se a disponibilização de novos fármacos e técnicas
inovadoras que têm permitido uma precoce resposta da emergência pré-hospitalar e
um correto encaminhamento para os locais onde possam ser prestados os
tratamentos mais adequados, o que conduziu a uma progressiva diminuição das taxas
de mortalidade ao longo das duas últimas décadas. Neste sentido, o Programa
Nacional para as Doenças Cérebro Cardiovasculares tem vindo a dar realce e
particular atenção à implementação das Vias Verdes: Coronária e do AVC (DGS,
2006; DGS, 2013).
1.1 – DEFINIÇÃO E CARATERIZAÇÃO
A doença cardiovascular é crónica e de desenvolvimento lento ao longo da vida da
pessoa. Com o decorrer dos anos vai evoluindo silenciosamente, apresentando
sintomas já em fase avançada.
Apesar das doenças cardiovasculares serem uma das maiores causas de morte
prematura na Europa, a taxa de mortalidade tem vindo a baixar consideravelmente nas
últimas décadas, estando contudo ainda associadas a uma elevada taxa de
morbilidade em muitos países Europeus (e.g. Letónia, Finlândia, Bulgária, Polónia,
Alemanha, Reino Unido). A European Society of Cardiology estimou nos dados de
2012 que mais de 80% das mortes por doença cardiovascular ocorre em países
21
desenvolvidos. As doenças cardiovasculares afetam tanto homens como mulheres,
sendo que dos óbitos ocorridos na Europa antes dos 75 anos de idade por doença
cardiovascular, 42% eram mulheres e 38% eram homens.
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte em Portugal, sendo
responsáveis por cerca de 30% dos óbitos ocorridos em 2011, apesar de se encontrar
em redução progressiva nas últimas duas décadas (DGS, 2013). Segundo a DireçãoGeral de Saúde e o Instituto Nacional de Estatística (2014), registou-se um total de
32 859 óbitos devido a doenças do aparelho circulatório no ano de 2012, o que
representa uma taxa de 30,4% da mortalidade total do país. Destes, 6 977 óbitos
(6,5% da mortalidade) são devidos a doença isquémica do coração e 4 614 óbitos
(4,3% da mortalidade) são devidos a Enfarte Agudo do Miocárdio.
As doenças cardiovasculares estão diretamente relacionadas com os estilos de vida,
especialmente os hábitos tabágicos, hábitos de dieta pouco saudável, sedentarismo e
stress. De acordo com a World Health Organization (2013), estima-se que cerca de 3/4
das causas de morte por doenças cardiovasculares poderiam ter sido prevenidas se
tivessem existido mudanças adequadas nos estilos de vida das populações. Torna-se
por isso fundamental implementar medidas de prevenção ao longo de todo o ciclo vital,
ou seja, desde o nascimento até à idade avançada (European Society of Cardiology,
2012).
As cartas especiais de risco, baseadas em pontuação (score) foram escritas para
países de baixo e alto risco e adquiriram ampla aceitação em toda a Europa. O
conceito de prevenção primária e secundária surgiu devido ao reconhecimento de que
a aterosclerose é um processo contínuo.
Entre as principais doenças cardiovasculares encontra-se a IC, caraterizada como
sendo uma síndrome crónica e progressiva, que surge como o último estadio de todas
as doenças cardiovasculares. Atinge frequentemente pessoas com mais de 60 anos, é
responsável por uma elevada taxa de internamentos hospitalares e encontra-se
associada a elevados custos para o sistema de saúde. Torna-se por isso crucial criar
redes de tratamento da IC, englobando a equipa multidisciplinar hospitalar e de
ambulatório, com o objetivo de promover a educação das pessoas com IC, dos seus
familiares e/ou prestadores de cuidados. Divulgar conhecimento, instituir medidas
adequadas a cada situação, rentabilizar e comunicar com os intervenientes no
processo de prevenção e tratamento, são também medidas necessárias (Ceia &
Fonseca, 2007).
22
Sob o ponto de vista epidemiológico, a IC apresenta algumas caraterísticas que ainda
permanecem desconhecidas para a comunidade científica. Desta necessidade surge o
Projeto EPICA, que é o primeiro projeto Europeu desenhado para obter dados sobre a
prevalência
da
Insuficiência
Cardíaca
Crónica
(ICC),
de
acordo
com
as
recomendações da Sociedade Europeia de Cardiologia. Os dados apresentados em
2009 pelo Grupo de Investigação EPICA I (nas Primeiras Jornadas Lusófonas de
Cardiologia), revelaram os valores epidemiológicos da IC em Portugal Continental. Os
objetivos eram identificar a prevalência da ICC na população adulta com mais de 25
anos e contribuir para a identificação de problemas na área do diagnóstico e
tratamento (Fonseca, 2009).
A IC pode ser considerada a epidemia do século XXI, estimando-se que a sua
prevalência aumente entre 50-75% até 2030, constituindo um prognóstico mais
negativo que o conjunto das neoplasias malignas. Prevê-se que as admissões
hospitalares sofrerão um aumento de 50% nos próximos 25 anos, sendo que 2/3 dos
doentes com IC sejam internados em média duas vezes por ano e que exista uma taxa
de reinternamento aos três meses por IC em 20% a 30% dos casos.
Aproximadamente 35% dos novos casos de IC carecem de internamento nos
primeiros doze meses subsequentes ao diagnóstico (Fonseca, 2009).
O número de pessoas com IC tem vindo a aumentar na atualidade. De acordo com o
estudo EPICA, existem 261000 doentes em Portugal com IC, dos quais 1/3 sofre de IC
de classe NYHA III e IV com múltiplos internamentos. Este estudo revela ainda que à
medida que a idade avança, aumenta o número de doentes com este diagnóstico,
aumentando consequentemente a sua prevalência.
1.2 - INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
De acordo com as recomendações da European Society of Cardiology (2013), a IC
pode definir-se como uma anomalia na estrutura ou na função cardíaca, que resulta na
incapacidade do coração fornecer as doses de oxigénio necessárias às exigências dos
tecidos, apesar das pressões de enchimento normais (ou apenas à custa do aumento
das pressões de enchimento). Clinicamente é definida como uma síndrome na qual os
doentes têm sintomas típicos (e.g. dispneia, edema maleolar e fadiga) e sinais (e.g.
turgescência venosa jugular, crepitações pulmonares e área de impulso máxima
deslocada) resultantes da referida anomalia.
23
A principal terminologia utilizada para descrever a IC baseia-se na medição da fração
de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE), e que corresponde ao volume diastólico
final menos o volume sistólico final, dividido pelo volume diastólico final.
A literatura tem vindo a mostrar que a avaliação da FEVE é importante na IC, não
apenas devido ao seu prognóstico (quanto mais baixa for a FEVE, menor será a
sobrevida), mas também porque, a maioria dos estudos clínicos selecionam os
doentes com base na FEVE, (e.g. estudo EPICA; Linhares et al., 2010; Dickson et al.,
2011 Seto et al., 2011) habitualmente medida através de ecocardiografia ou por
técnica de radionuclídeos (European Society of Cardiology, 2013).
No diagnóstico de IC deve identificar-se uma causa cardíaca subjacente.
Normalmente, é uma doença do miocárdio que causa disfunção ventricular sistólica.
Contudo, as anomalias da função diastólica ventricular, das válvulas, do pericárdio, do
endocárdio, do ritmo cardíaco e da condução também podem causar IC, sendo que
pode existir mais do que uma anomalia. Na maioria dos casos, a IC começa com
disfunção sistólica do ventrículo esquerdo, sendo que as três causas mais comuns de
diminuição da contratilidade do ventrículo esquerdo são a doença das artérias, a
estenose aórtica e a hipertensão sistémica. Por motivos terapêuticos, a identificação
do problema cardíaco subjacente deve ser precoce, na medida em que a sua
identificação determina qual o tratamento mais adequado (Haugh & Ballener, 2003;
Carbajal & Deedwania, 2005; Kumar et al., 2005).
Tipos de Insuficiência cardíaca
Para Carbajal e Deedwania (2005) e Haugh e Ballener (2003), a IC pode ser aguda ou
crónica, direita ou esquerda, de alto e baixos débitos, retrógrada e anterógrada e
sistólica ou diastólica.
Acrescentam que na Insuficiência Cardíaca Aguda e Crónica, as manifestações da IC
dependem da velocidade com que a síndrome se desenvolve e do período de tempo
para que o líquido se acumule nos espaços intersticiais. Em geral, se a anomalia
cardíaca subjacente se desenvolve lentamente, os mecanismos compensatórios têm
tempo de ser ativados e a pessoa é capaz de se adaptar à alteração do débito
cardíaco. Se a condição subjacente se desenvolve rapidamente, ou se um fator agudo
precipitante estiver presente, o resultado pode ser a perfusão inadequada de órgãos
ou a congestão aguda do leito venoso que drena para o ventrículo acometido,
24
causando descompensação cardíaca súbita, redução concomitante no débito cardíaco
e início agudo dos sintomas (Stevens & Lowe, 2002; Haugh & Ballener, 2003).
Na IC crónica, os mecanismos adaptativos são ativados gradualmente e ocorre
hipertrofia cardíaca. As alterações permitem que a pessoa se ajuste e tolere a redução
do débito cardíaco com menos dificuldade. Quando o início da IC esquerda é gradual,
o coração direito desenvolve pressões mais elevadas em resposta a um maior nível de
resistência pulmonar. O início agudo de aumentos semelhantes na resistência
pulmonar pode causar IC direita aguda. Uma pessoa com IC crónica pode conseguir a
compensação contudo, pode apresentar posteriormente descompensação aguda
como resultado de uma causa precipitante (e.g. não adesão a medidas farmacológicas
e não farmacológicas, disrritmias cardíacas, sobrecarga de líquidos, embolia ou
infeção pulmonar) (Stevens & Lowe, 2002; Haugh & Ballener, 2003; Carbajal &
Deedwania, 2005).
A Insuficiência Cardíaca Esquerda e Direita, refere-se ao lado do coração que se
encontra afetado, é geralmente limitada a um lado quando o início é abrupto (e.g. no
enfarte agudo do miocárdio). A capacidade de reserva venosa é menor à esquerda, as
pressões venosas elevadas e os sintomas associados ocorrem após a acumulação
relativamente menor de líquido à esquerda (Carbajal & Deedwania, 2005; Kumar et al.,
2005).
Embora inicialmente envolva apenas um dos ventrículos, numa fase posterior ocorre o
desenvolvimento de insuficiência biventricular, principalmente quando o ventrículo
esquerdo é o local do dano inicial. Os ventrículos partilham o septo interventricular e
as alterações bioquímicas não estão restritas ao ventrículo oposto. Além disso, como
as quatro câmaras estão contidas no saco pericárdico, quando ocorre o aumento
súbito de qualquer câmara, as câmaras opostas sofrem compressão e a pressão de
enchimento do ventrículo normal eleva-se.
A IC direita ocorre após a insuficiência ventricular esquerda, mas a IC esquerda
raramente ocorre após a IC direita isolada, sem que haja a presença de uma
anormalidade concomitante separada do coração esquerdo (e.g. coronariopatia com
isquémia ou enfarte agudo do miocárdio). Nas pessoas com insuficiência do ventrículo
esquerdo, a IC direita subsequente pode aliviar os sintomas respiratórios (e.g.
dispneia, ortopneia, dispneia noturna, dispneia de esforço), geralmente associados à
IC esquerda (Haugh & Ballener, 2003; Carbajal & Deedwania, 2005).
25
Na Insuficiência Cardíaca de Altos e Baixos Débitos, a maioria dos casos está
associada a um estado de baixo débito que causa alterações na circulação periférica
(vasoconstrição), incluindo extremidades frias, húmidas e pálidas, oligúria, baixa
pressão de pulso e um alargamento associado da diferença entre o oxigénio do
sangue arterial misto e venoso. A IC de alto débito é menos comum e geralmente
encontra-se
associada
a
estados
circulatórios
hipercinéticos
(e.g.
anemia,
tireotoxicose, gravidez, doença de Paget, fístula arteriovenosa), quadros que em geral
deflagram a IC quando sobrepostos à cardiopatia subjacente. A IC de alto débito está
associada a vasodilatação, a pessoa apresenta pele quente, ruborizada e pulso forte.
A diferença do oxigénio arteriovenoso misto encontra-se normal ou diminuído, mas
normalmente excede o nível encontrado em pessoas com IC de baixo débito (Haugh &
Ballener, 2003; Carbajal & Deedwania, 2005).
Na Insuficiência Cardíaca Retrógrada e Anterógrada, as manifestações clínicas estão
associadas ao aumento da pressão no sistema que drena para um ou ambos os
ventrículos (insuficiência retrógrada), ao débito cardíaco inadequado em direção
anterógrada (insuficiência anterógrada) ou a ambos. Um princípio importante da teoria
da insuficiência retrógrada é o surgimento de IC direita como consequência da
insuficiência ventricular esquerda. O aumento da pressão diastólica do ventrículo
esquerdo, da pressão da aurícula esquerda e da pressão venosa pulmonar, causam
transmissão retrógrada da pressão o que conduz a hipertensão pulmonar que, mais
tarde, irá causar insuficiência ventricular direita e aumento da pressão venosa
sistémica.
Além da congestão venosa, a IC retrógrada pode causar diminuição do débito
cardíaco
com
perfusão
orgânica
inadequada
(insuficiência
anterógrada).
A
insuficiência anterógrada pode ser responsável por muitas das manifestações clínicas
da IC, como confusão mental devido à diminuição da perfusão cerebral; fadiga e
fraqueza devido à diminuição da perfusão muscular esquelética; retenção de sódio e
de água com congestão venosa secundária por diminuição da perfusão renal. A
retenção de sódio e água, por sua vez aumenta o volume de líquido extracelular e
acaba por desencadear os sintomas de ICC, secundários à acumulação de líquido em
vários órgãos e tecidos periféricos (Haugh & Ballener, 2003; Carbajal & Deedwania,
2005; Kumer et al., 2005).
Os mecanismos que levam à IC tanto anterógrada como retrógrada existem na maioria
das pessoas com ICC. Entretanto com base no processo fisiopatológico subjacente
nas anormalidades hemodinâmicas e na rapidez com que ocorre a doença (e.g.
26
enfarte agudo do miocárdio, embolia pulmonar aguda), inicialmente uma ou outra pode
predominar. No início do processo de IC, o débito cardíaco pode ser normal em
repouso porém, quando em esforço ou em stress, como é o caso do exercício físico,
ou episódios em que existe aumento de consumo metabólico, o débito cardíaco não
consegue aumentar normalmente, a taxa de filtração glomerular diminui e os
mecanismos renais de retenção de sal e água, ativam-se. A pressão de enchimento
ventricular, bem como as pressões no átrio e no sistema venoso atrás do ventrículo
acometido, podem sofrer um aumento anormal durante o exercício, podendo causar
transudação de líquido e sintomas de congestão tecidual durante o exercício físico.
Nestes estádios iniciais, o repouso físico pode induzir a diurese e aliviar os sintomas
em muitas pessoas com IC leve, as atividades físicas excessivas e extenuantes
pioram o estado hemodinâmico comprometido e causam a progressão da IC (Carbajal
& Deedwania, 2005).
Na Insuficiência Cardíaca Sistólica e Diastólica, Carbajal e Deedwania (2005) apontam
que os sinais e sintomas podem ser causados por uma anomalia na função sistólica
que conduz a um defeito na ejeção do sangue de dentro do coração (insuficiência
cardíaca sistólica) ou uma anomalia na função diastólica do miocárdio que leva a um
defeito no enchimento ventricular (IC diastólica). A diminuição do enchimento do
ventrículo esquerdo causada pela disfunção diastólica provoca redução do volume
sistólico e sintomas associados de baixo débito cardíaco, enquanto o aumento das
pressões de enchimento causa sintomas de congestão pulmonar.
Assim, algumas das caraterísticas da IC (como é o caso, da incapacidade do
ventrículo esquerdo em fornecer débito anterógrado adequado para atender às
necessidades dos músculos esqueléticos durante o exercício físico enquanto mantém
pressões de enchimento normais), podem resultar principalmente da disfunção
diastólica, que em algumas pessoas, pode ocorrer com função sistólica do ventrículo
esquerdo normal.
Carbajal e Deedwania (2005) indicam que não existem dados exatos sobre a
prevalência da disfunção diastólica que conduz à IC na presença e função sistólica
normal. Vários fatores podem predispor ao aumento do risco de disfunção diastólica
na presença de função sistólica normal do ventrículo esquerdo (e.g. doença da artéria
coronária, hipertrofia do ventrículo esquerdo, miocardiopatia dilatada, sobrecarga de
volume, aumento da pós-carga, fibrose miocárdica, restrição ao enchimento e doenças
infiltrativas do miocárdio).
27
As principais manifestações clínicas da insuficiência sistólica resultam do débito
cardíaco
anterógrado
inadequado.
As
consequências
mais
importantes
da
insuficiência diastólica relacionam-se com a elevação da pressão de enchimento
ventricular e pressão venosa ascendente ao ventrículo, causando congestão venosa
sistémica ou pulmonar ou ambas. A insuficiência sistólica é causada pela disfunção
contrátil crónica secundária à necrose miocárdica decorrente do enfarte prévio e pela
redução aguda da contratilidade miocárdica, sendo considerada a forma mais comum
de IC.
Já a insuficiência diastólica em pessoas com doença das artérias coronárias, ocorre
primariamente devido à redução da complacência ventricular e ao aumento da rigidez,
causada pela substituição do miocárdio normal, e distensível por tecido cicatricial
fibroso, bem como pela redução aguda do relaxamento diastólico do miocárdio normal
durante episódios de isquémia miocárdica transitória. A disfunção diastólica é a mais
comum nos idosos. Contudo, com o avançar do tempo, os doentes com disfunção
diastólica, acabam por desenvolver disfunção sistólica em maior ou menor grau
(Haugh & Ballener, 2003; Carbajal & Deedwania, 2005).
A IC em pessoas com doença coronária resulta frequentemente da combinação da
disfunção sistólica e diastólica, correspondendo aproximadamente a 2/3 dos casos de
IC sistólica, embora a hipertensão e a diabetes estejam também presentes em muitos
casos. Existem outras causas de IC sistólica que incluem infeção vírica anterior
(reconhecida ou não), consumo abusivo de álcool, quimioterapia e cardiomiopatia
dilatada idiopática. Embora a causa seja desconhecida, alguns destes casos podem
ter origem genética (European Society of Cardiology, 2013).
A disfunção sistólica não tratada traduz-se no agravamento progressivo ao longo do
tempo, com o aumento crescente do ventrículo esquerdo e o declínio da Fração de
Ejeção, apesar da pessoa com IC poder não apresentar sintomas inicialmente.
Considera-se que dois mecanismos possam ser relevantes para esta progressão: a
ocorrência de outros eventos que levam à morte adicional de miócitos (Enfarte Agudo
do Miocárdio recorrente), e as respostas sistémicas induzidas pelo declínio na função
sistólica, principalmente a ativação neuro-humoral (European Society of Cardiology,
2013).
O estudo EPICA refere que, tendo por base os critérios ecocardiográficos, podem ser
definidos subtipos de ICC:

doença cardíaca valvular, podendo ser moderada ou grave;
28

doença do pericárdio na presença de derrame pericárdico moderado a grave;

IC direita, quando existe dilatação do isolada do ventrículo direito, ou
associada a dilatação da aurícula esquerda;

disfunção sistólica do ventrículo esquerdo com ou sem função preservada;

multifatorial, quando se registam várias anomalias e não é possível identificar
a causa primária (Ceia et al., 2005).
Para a European Society of Cardiology (2013), a limitação sintomática das pessoas
com IC pode ainda ser classificada através da classificação funcional da New York
Heart Association (NYHA) que em conjunto com a FEVE, constitui critério chave de
inclusão em praticamente todos os ensaios clínicos em IC (e.g. Linhares et al., 2010;
Dickson, et al., 2011; Seto et al., 2011). Face ao exposto, a IC pode ser classificada
em quatro classes, que se encontram descritas no Quadro 1.
As pessoas com IC que se encontram na classe I da NYHA não têm quaisquer
sintomas atribuíveis a doença cardíaca. Os sintomas das pessoas com IC que se
encontram nas classes II, III e IV da NYHA são considerados ligeiros, moderados ou
graves, respetivamente (Haugh & Ballener, 2003).
Classe I
Sem restrição de atividade física. A atividade física normal não provoca
falta de ar, fadiga nem palpitações desajustadas.
Classe II
Ligeira restrição de atividade física. Confortável em repouso, mas a
atividade física normal provoca falta de ar, fadiga ou palpitações
desajustadas.
Classe III
Restrição marcada de atividade física. Confortável em repouso, mas a
atividade física inferior ao normal provoca falta de ar, fadiga ou
palpitações desajustadas.
Classe IV
Incapacidade de realizar qualquer atividade física sem sentir
desconforto. Podem verificar-se sintomas em repouso. Perante a
realização de qualquer atividade física, o desconforto aumenta.
Quadro 1 – Classificação funcional da IC baseada na gravidade dos sintomas e na atividade
física de acordo com a New York Heart Association, adaptado da European Society of
Cardiology, 2013
É importante notar que a gravidade dos sintomas está pouco relacionada com a
função ventricular, embora haja uma relação clara entre a gravidade dos sintomas e a
29
sobrevida. As pessoas com IC com sintomas ligeiros podem ainda apresentar um risco
relativamente elevado de internamento hospitalar e morte. Os sintomas podem
também alterar-se repentinamente, sendo que a deterioração dos sintomas indica um
risco agravado de internamento hospitalar e morte, sendo um indicador para procurar
imediatamente ajuda médica e tratamento. A melhoria dos sintomas é um dos dois
maiores objetivos do tratamento da IC, sendo que o outro é reduzir a morbilidade,
evitar o internamento hospitalar e a mortalidade (European Society of Cardiology,
2013).
Sinais e sintomas de Insuficiência Cardíaca
O diagnóstico de IC pode ser difícil, principalmente nas fases iniciais da doença.
Embora os sintomas levem as pessoas a procurar ajuda médica por vezes, não são
específicos e por conseguinte não facilitam o diagnóstico diferencial entre a IC e
outras patologias. Por sua vez os sintomas mais específicos, como é o caso da
dispneia paroxística noturna e a ortopneia, são menos comuns, especialmente em
pessoas em fase inicial de IC (Ceia et al., 2005; Carbajal & Deedwania, 2005).
Muitos dos sinais da IC causam retenção de sódio e água e consequentemente
edemas periféricos, mas não são específicos. Os sinais mais específicos são a
pressão venosa jugular elevada e o deslocamento do impulso apical, sendo estes os
mais difíceis de detetar, sobretudo em pessoas obesas, idosos e em pessoas com
doença pulmonar obstrutiva crónica (European Society of Cardiology, 2013).
O historial clínico da pessoa é também fundamental, uma vez que a IC não é habitual
em pessoas sem qualquer historial clínico relevante (por exemplo, uma causa
potencial de lesão cardíaca, EAM prévio). Estes pontos realçam a necessidade de
obter evidências objetivas de uma anomalia cardíaca estrutural ou funcional, que se
pense ser um fator contributivo para os sintomas e sinais da pessoa, para consolidar o
diagnóstico (Carbajal & Deedwania, 2005).
Assim, os principais sinais e sintomas da IC são a dispneia, podendo ser considerada
ainda dentro deste grupo a dispneia paroxística noturna e a ortopneia; a fadiga e a
fraqueza; a noctúria e oligúria; os sintomas cerebrais e os sintomas abdominais
(Stevens & Lowe, 2002; Carbajal & Deedwania, 2005; Pinto & J., 2005; Kumar, et al.,
2005).
30
A dispneia é o sintoma mais precoce e mais frequente na IC. Inicialmente, a dispneia
durante o exercício físico é notada como uma mudança na extensão da atividade física
que causa a falta de ar. À medida que a IC progride, a intensidade do exercício físico
diminui. A pessoa com IC desenvolve progressivamente dispneia paroxística noturna,
ortopneia e posteriormente dispneia em repouso (Haugh & Ballener, 2003).
A gravidade da dispneia torna-se menos intensa na insuficiência do ventrículo
esquerdo, após a pessoa desenvolver falência do ventrículo direito. Geralmente a
dispneia é menos acentuada na insuficiência do ventrículo direito, pois não ocorre
congestão pulmonar. Entretanto, mesmo as pessoas com predomínio da insuficiência
do ventrículo direito podem desenvolver dispneia grave com a progressão da IC. Isto
ocorre devido à diminuição do débito cardíaco, da má perfusão dos músculos
respiratórios e da hipóxia associada, levando à acidose metabólica (Carbajal &
Deedwania, 2005).
A dispneia paroxística noturna (DPN) surge após a pessoa se encontrar a dormir em
posição de supina, referindo pouco tempo após sensação de falta de ar, sendo que em
posição de fowler existe alívio dos sintomas. A DPN, geralmente precede a ortopneia.
Pode estar associada a broncospasmo e sibilos e pode ser confundida com uma crise
de asma brônquica, especialmente em pessoas com doença pulmonar obstrutiva
crónica (DPOC) já previamente diagnosticada. A DPN é causada primariamente pela
mobilização de líquido intersticial (principalmente em pessoas com edemas) dos locais
infratorácicos durante a posição de decúbito dorsal. O resultado é o aumento de
volume de sangue circulante e o aumento da pressão venosa pulmonar,
especialmente em pessoas com disfunção diastólica do ventrículo esquerdo (Carbajal
& Deedwania, 2005).
A ortopneia é definida como a dificuldade respiratória que ocorre quando a pessoa
adota a posição de supina, aliviando a sintomatologia ao sentar-se ou levantar-se. As
pessoas acometidas de forma mais grave geralmente dormem usando várias
almofadas, em posição de semi-fowler, ou sentadas numa cadeira. A ortopneia tem a
mesma causa que a DPN, mas representa um enfraquecimento ainda mais grave. Por
vezes pode ocorrer tosse seca ou irritativa, em vez de ortopneia, dispneia noturna ou a
esforços. Isso acontece devido à congestão pulmonar em pessoas com IC, e
geralmente é aliviada pelo tratamento bem sucedido desta. Contudo alguns fármacos
utilizados no tratamento da IC podem provocar tosse, como é o caso dos Inibidores
da Enzima Conversora da Angiotensina (IECA) (Haugh & Ballener, 2003; Carbajal &
Deedwania, 2005).
31
A fadiga e a fraqueza são outros dos sintomas, especialmente a nível dos membros
inferiores. Estes são secundários ao baixo débito cardíaco, com redução da perfusão
dos músculos esqueléticos e podem ocorrer com exercício físico ou em repouso,
podendo piorar após a alimentação devido ao aumento de fluxo sanguíneo, o que
pode acentuar ainda mais a reserva limitada. Síndromes de baixo débito podem estar
presentes, sem evidências de congestão pulmonar, limitando o desempenho durante a
prova de esforço. A sede em excesso é um sintoma que por vezes está associado à
ativação do sistema arginina-vasopressina e à hiponatrémia em pessoas com IC
(Carbajal & Deedwania, 2005).
A noctúria e oligúria são sintomas precoces e comuns na IC. A filtração renal de sódio
e água está diminuída em pessoas com comprometimento da função do ventrículo
esquerdo, em parte devido à redistribuição do fluxo sanguíneo para longe dos rins na
posição de pé e durante a atividade física. A formação de urina aumenta na posição
de decúbito dorsal, quando o estímulo renal para vasoconstrição diminui e o retorno
venoso para o coração aumenta. A oligúria está associada ao débito cardíaco
acentuadamente diminuído e é geralmente um sinal de IC terminal, sendo por isso um
indicador de mau prognóstico (Carbajal & Deedwania, 2005).
Os sintomas cerebrais estão mais presentes nos idosos com IC avançada, e
manifesta-se através da confusão, défice de memória, ansiedade, cefaleias, insónias,
pesadelos, e ocasionalmente, delírio, desorientação e alucinações. Esses sintomas
cerebrais relacionam-se predominantemente à diminuição do débito cardíaco e à má
perfusão cerebral e de outros tecidos neurológicos (Haugh & Ballener, 2003; Carbajal
& Deedwania, 2005).
Os sintomas abdominais manifestam-se nas pessoas com IC através das queixas
gastrointestinais devido à congestão hepática e ao edema da parede abdominal e de
órgãos intra-abdominais. A congestão dos órgãos abdominais pode estar presente
quando existe ascite, aumento e empachamento abdominal, saciedade precoce,
distensão abdominal, anorexia, náuseas, vómitos, prisão de ventre e desconforto na
parte superior do abdómen.
O desconforto abdominal é geralmente descrito como uma dor surda ou sensação de
peso que piora ou pode ser reproduzida pela palpação do fígado ou da parte superior
do abdómen. Geralmente a pessoa reconhece estes sintomas quando nota uma
mudança a nível do tamanho da cintura ou através do aperto das roupas/cinto (Haugh
& Ballener, 2003; Carbajal & Deedwania, 2005).
32
Após o diagnóstico ser efetuado, é importante determinar a causa, principalmente as
corrigíveis e específicas. Os sintomas e sinais são importantes para monitorizar a
resposta da pessoa ao tratamento e a estabilidade ao longo do tempo. A persistência
destes, apesar do tratamento, normalmente indica a necessidade de terapêutica
adicional e o agravamento é um desenvolvimento sério que leva a que a pessoa
necessite de cuidados médicos imediatos (European Society of cardiology, 2013).
Exames de diagnóstico em pessoas com suspeita de Insuficiência Cardíaca
Considerando a dificuldade de classificação de evidências para os exames de
diagnóstico, as guidelines da European Society of Cardiology (2012), consideram que
que todos os doentes com suspeita de IC devem ser submetidos a eletrocardiograma,
radiografia do tórax, ecocardiograma e estudo analítico.
É recomendado um eletrocardiograma com 12 derivações para determinar o ritmo
cardíaco, a frequência cardíaca, a morfologia do QRS e a duração do QRS, bem como
para detetar outras anomalias relevantes. Esta informação também auxilia no
planeamento do tratamento e é importante para a determinação do prognóstico. A
existência de um eletrocardiograma completamente normal torna improvável a IC
sistólica.
A radiografia do tórax também é importante na medida em que permite observar a
cardiomegália, em pessoas inicialmente diagnosticadas com miocardiopatia dilatada
primária. Este exame também é importante para detetar/excluir determinados tipos de
doenças pulmonares, mas não exclui cancro, asma ou DPOC. Pode identificar
também congestão pulmonar/edema e é mais útil em pessoas em que existe suspeita
de IC na fase aguda.
A ecocardiografia transtorácica é recomendada para avaliar a estrutura e o
funcionamento cardíaco, incluindo a função diastólica e para medir a fração de ejeção
do ventrículo esquerdo. Isto permite fazer o diagnóstico de IC, auxiliar no
planeamento, monitorização do tratamento e obter informação sobre o prognóstico.
Os estudos analíticos são importantes no diagnóstico da IC, sendo que é fundamental
efetuá-los a todas as pessoas com suspeita de IC. A medição da concentração no
sangue do peptídeo natriurético consiste num conjunto de hormonas segregadas em
quantidades superiores, quando o coração tem uma doença ou quando a carga de
qualquer das câmaras é maior (por fibrilhação auricular, embolia pulmonar e algumas
33
doenças não cardiovasculares, incluindo a insuficiência renal crónica). A utilização de
peptídeos natriuréticos (BNP, NT-pro BNP ou MR- proANP) deve ser tida em conta
para excluir causas alternativas de dispneia e obter informação sobre o prognóstico. O
hemograma completo é recomendado para detetar anemia que pode ser causa
alternativa dos sinais e sintomas do doente e pode causar agravamento da IC e obter
informação sobre o prognóstico.
A realização de análises sanguíneas (sódio, potássio, cálcio, ureia/azoto ureico,
creatinina/taxa de filtração glomerular estimada, enzimas hepáticas, ferritina/TIBC,
função tiroideia) é recomendada para avaliar a adequabilidade da pessoa para
terapêutica
com
diuréticos,
antagonistas
da
renina-angiotensina-aldosterona,
anticoagulantes, monitorização do tratamento, bem como para detetar causas
reversíveis/tratáveis da IC (e.g. hipercalcémia, disfunção da tiróide) e comorbilidades
(e.g. falta de ferro) e obter informação sobre o prognóstico.
A avaliação do prognóstico é particularmente importante durante o aconselhamento às
pessoas sobre dispositivos e cirurgia (incluindo o transplante) e durante o
planeamento dos cuidados em fim de vida com as pessoas com IC, as suas famílias e
prestadores de cuidados (European Society of Cardiology, 2013).
As guidelines da European Society of Cardiology (2013) acrescentam ainda que se
deve considerar realizar ressonância magnética cardíaca (RMC), a angiografia
coronária, ecocardiografia/RMC/SPECT ou PET, cateterismo esquerdo e a prova de
esforço.
Tratamento da Insuficiência Cardíaca
O tratamento da IC requer uma abordagem de tratamento de alcance multidisciplinar,
podendo classificar-se em medidas farmacológicas e não farmacológicas (Carbajal &
Deedwania, 2005).
Os objetivos do tratamento farmacológico em pessoas com IC diagnosticada são
aliviar os sintomas e os sinais (e.g. edema), evitar o internamento e melhorar a
sobrevivência. As reduções nas taxas de mortalidade e de internamento refletem a
capacidade dos tratamentos eficazes no abrandamento ou prevenção do agravamento
progressivo da IC. Isto é frequentemente acompanhado por reversão da remodelagem
do ventrículo esquerdo e por uma redução das concentrações de peptídeos
natriuréticos circulares (European Society of Cardiology, 2013).
34
O tratamento farmacológico indicado nas pessoas com IC com Fração de Ejeção
Reduzida (IC sistólica) pretende aliviar os sintomas, evitar o internamento e melhorar a
sobrevida. As pessoas com IC devem ser medicadas com um Inibidor da Enzima de
Conversão da Angiotensina, ou se não tolerado, um antagonista do recetor da
angiotensina combinado com um betabloqueante, (salvo se contraindicado). Às
pessoas com sintomas persistentes e disfunção sistólica além deste tratamento deve
ser prescrito um antagonista dos recetores de mineralocorticóides.
No tratamento farmacológico da IC com Fração de Ejeção Preservada (IC diastólica),
desconhece-se qualquer tratamento que tenha comprovado a redução da mortalidade
e da morbilidade. Os diuréticos permitem controlar os níveis de sódio e a retenção de
líquidos bem como aliviar a dispneia e o edema, tal como na IC com Fração de Ejeção
Reduzida. Os betabloqueantes também devem ser utilizados para controlar a
frequência ventricular em pessoas com IC com fração de ejeção Preservada (IC-FEP)
e fibrilhação auricular. Os medicamentos que devem ser evitados na IC-FER. Também
devem ser evitados na IC-FEP, à exceção dos bloqueadores dos canais de cálcio
(European Society of Cardiology, 2013).
Existe ainda o tratamento não cirúrgico com dispositivos na IC-FER, em que é
recomendada a utilização de cardioversores desfibrilhadores implantados (CDI) em
pessoas com IC. Na prevenção primária recomenda-se um CDI numa pessoa com IC
classe III-IV e uma Fração de Ejeção inferior ou igual a 35%, apesar de se encontrar
medicada há três meses ou mais com terapêutica farmacológica otimizada e
esperança de vida superior a um ano com bom estado funcional, para reduzir o risco
de morte súbita. Deve possuir etiologia isquémica e com duração superior a 40 dias
após um enfarte agudo do miocárdio ou etiologia não isquémica. Na prevenção
secundária, recomenda-se um CDI numa pessoa com arritmia ventricular, que cause
instabilidade hemodinâmica, com esperança média de vida superior a um ano com um
bom estado funcional, para reduzir o risco de morte súbita (European Society of
Cardiology, 2013).
As intervenções não farmacológicas e não relacionadas com dispositivos nem cirurgia
usadas no tratamento da IC (tanto na IC-FER como na IC-FEP), recomendadas nas
guidelines da European Society of Cardiology (2013), consistem na prática regular de
exercício aeróbio para a melhoria da capacidade funcional e dos sintomas.
Recomenda-se também, a inclusão de pessoas com IC num programa de cuidados
multidisciplinares para regular o risco de internamento.
35
Segundo a revisão sistemática realizada por Van Der Wall et al. (2005); Rabelo et al.
(2007); Holguín, Gázquez e Urrego (2014), ficou comprovado que o condicionamento
físico conseguido através do exercício melhora a tolerância ao esforço, aumenta a
qualidade vida relacionada com a saúde e diminui a taxa de internamento em pessoas
com IC. As evidências sugerem que o exercício físico é benéfico, embora regra geral
as pessoas mais idosas não tivessem participado em muitos dos estudos e se
desconheça qual o nível ótimo de exercício a prescrever. O objetivo do tratamento da
IC consiste em providenciar um sistema integrado de cuidados, que abranja a
comunidade e as instituições de saúde, por forma a assegurar a prestação de um
tratamento otimizado, do princípio ao fim da cadeia de cuidados de saúde.
Assim, torna-se fundamental que os programas de tratamento a pessoas com IC-FER
ou IC-FEP tenham como principais caraterísticas a integração numa equipa com
abordagem multidisciplinar, constituída por cardiologistas, médicos de cuidados de
saúde primários, enfermeiros, farmacêuticos, entre outros, devendo visar as pessoas
com IC sintomáticas de alto risco e incluir pessoal competente e qualificado. Como
principais componentes estes programas devem possuir tratamento médico otimizado
e com dispositivos; informação à pessoa com IC, com ênfase especial sobre a adesão
e autocuidado; participação das pessoas com IC na monitorização de sintomas e
utilização flexível de diuréticos; acompanhamento pós alta (com consultas regulares
em hospital e/ou domicílio facultando apoio telefónico ou telemonitorização); maior
acesso a cuidados médicos através de acompanhamento pessoal e por contato
telefónico, sendo também possível o acompanhamento à distância; acesso facilitado
aos cuidados durante episódios de descompensação; avaliação e intervenção
adequada em caso de aumento inexplicável do peso, estado nutricional, estado
funcional, qualidade de vida e resultados laboratoriais; acesso a opções avançadas de
tratamento e prestação de apoio psicossocial a doentes, familiares e/ou pessoa
significativa (Rabelo et al., 2007; Holguín, 2010; Arruda & Cavalcanti, 2012; European
Society of Cardiology, 2013; Oliveira et al., 2013).
Para atingir este objetivo devem ser integrados outros serviços, como reabilitação
cardíaca e cuidados paliativos, no programa completo de tratamento de pessoas com
IC. Os programas de tratamento multidisciplinares desempenham um papel essencial
na prestação destes cuidados, pois têm como principal objetivo melhorar os resultados
através de um acompanhamento estruturado, que inclui informação à pessoa com IC,
otimização do tratamento médico, apoio psicossocial e o melhor acesso aos serviços.
36
A chave do sucesso destes programas é a coordenação do tratamento contínuo da IC
e da cadeia de cuidados prestados pelos vários serviços que compõem as entidades
do sistema de saúde. Para tal, é fundamental que haja colaboração multidisciplinar
(European Society of Cardiology, 2013).
Clinicamente, as mudanças descritas estão associadas ao desenvolvimento de
sintomas e agravamento dos mesmos ao longo do tempo, causando degradação da
qualidade de vida, capacidade funcional decrescente, episódios de descompensação
que levam ao internamento hospitalar e/ou morte prematura, normalmente devido a
falência ventricular ou arritmia ventricular. A reserva cardíaca limitada das pessoas
com IC depende também da contração auricular, contração sincronizada do ventrículo
esquerdo e da interação normal entre ventrículos direito e esquerdo. Eventos
intercorrentes que afetem qualquer um dos supramencionados ou que imponham uma
carga hemodinâmica adicional à IC (e.g. anemia) podem causar descompensação
aguda (European Society of Cardiology, 2013).
A intervenção ativa da equipa de enfermagem através de práticas de educação para a
saúde com enfoque para o autocuidado, desempenham um papel relevante quando
abordadas nas pessoas com IC, na medida em que o autocuidado é tido como o
reflexo da capacidade que as pessoas têm sobre o seu modo de agir. Sendo que as
ações de autocuidado constituem a prática de atividades, que as pessoas
desempenham de forma deliberada tendo como principal objetivo o seu próprio
benefício, de maneira a manter a vida, a saúde e o bem-estar (Bub et al., 2006).
37
38
2 - TEORIA DO DÉFICE DE AUTOCUIDADO EM ENFERMAGEM
Segundo o Conselho Internacional de Enfermeiros e Ordem dos enfermeiros (2011,
p.41) Autocuidado pode ser definido como: “Atividade executada pelo próprio: tratar do
que é necessário para se manter, manter-se operacional e lidar com as necessidades
individuais básicas e íntimas e as atividades da vida diária”.
O modelo do autocuidado proposto por Orem foi desenvolvido na década de 1950,
baseado na premissa de que as pessoas podem cuidar de si mesmas, sendo que este
modelo é composto por três teorias inter-relacionadas: a teoria dos sistemas de
enfermagem; a teoria do défice de autocuidado e a teoria do autocuidado (Vítor, Lopes
& Araújo, 2010)
O objetivo da autora era melhorar a qualidade dos cuidados de enfermagem e por
essa razão surgiu a necessidade de desenvolver a sua definição na prática. Após
vários trabalhos de investigação, Orem formulou a sua teoria do défice de autocuidado
como uma teoria geral composta de três teorias relacionadas: a teoria do autocuidado,
que descreve como e porque é que as pessoas cuidam de si mesmas; a teoria do
défice de autocuidado, na qual é descrito e explicado porque razão as pessoas podem
ser ajudadas através das equipas de enfermagem; e a teoria dos sistemas de
enfermagem, no qual é descrito e explicado como as pessoas são ajudadas pela
equipa de enfermagem (Taylor, 2004; Bub et al., 2006; Vítor, Lopes & Araújo, 2010).
Assim, para Orem, a teoria dos sistemas de enfermagem é a teoria unificadora na qual
estão incluídos todos os elementos essenciais. Esta explica e descreve como as
pessoas são ajudadas pela equipa de enfermagem, na medida em que os cuidados
são articulados com as necessidades das pessoas, ou seja, são ações produzidas
pelos enfermeiros tendo como destinatário as pessoas, sendo que podem ser
produzidos para doentes, familiares ou prestadores de cuidados (Diógenes & Pagliuca,
2003; Taylor, 2004).
A teoria do défice de autocuidado, constitui a essência da teoria geral de enfermagem,
pois exprime a relação entre a capacidade de ação da pessoa e as suas necessidades
de cuidado. Surge como fundamento das outras, na medida em que exprime o
objetivo, os métodos e o resultado de cuidar de si próprio (Diógenes & Pagliuca, 2003;
Taylor, 2004).
39
A teoria do autocuidado define autocuidado como uma função humana reguladora que
as pessoas têm que desempenhar, deliberadamente, por si ou que alguém execute
por eles de maneira a preservar a vida, a saúde, o desenvolvimento e o bem-estar.
Sendo que o autocuidado é considerado um sistema de ação. O desenvolvimento dos
conceitos de autocuidado, necessidade de autocuidado e atividade de autocuidado
constituem a base para compreender as condições e as limitações da ação das
pessoas, justificando em que medida podem beneficiar com a prestação de cuidados
de enfermagem (Taylor, 2004).
O autocuidado surge como um sistema de ação, na medida em que tem de ser
aprendido e executado deliberadamente e continuamente em conformidade com as
necessidades reguladoras das pessoas. Estas condições estão associadas aos seus
estádios de crescimento e de desenvolvimento, estados de saúde, caraterísticas
específicas de saúde ou de estados de desenvolvimento, níveis de consumo de
energia e fatores ambientais. A teoria do autocuidado é igualmente alargada a uma
teoria de cuidar dependente naquilo em que o objetivo, os métodos e os resultados do
cuidado dos outros é expresso (Taylor, 2004).
A teoria do défice de autocuidado é aplicada quando as pessoas se consideram
limitadas para prover autocuidado sistemático, necessitando por isso da prestação de
cuidados de enfermagem. Esta necessidade de prestação de cuidados de
enfermagem
encontra-se
associada
à
subjetividade
da
maturidade
e
do
amadurecimento das pessoas em relação às limitações da ação relacionadas com a
saúde ou com os cuidados de saúde. Estas deixam-nas completa ou parcialmente
incapazes de saber as condições existentes ou emergentes para o cuidado regulador
de si mesmas ou dos seus dependentes. Limitam também, a capacidade para se
encarregar da execução continuada de medidas de cuidado para controlar, ou gerir
fatores reguladores do seu próprio funcionamento e desenvolvimento ou dos seus
dependentes (Diógenes & Pagliuca, 2003; Taylor, 2004).
Esta teoria reflete a relação existente entre as capacidades de ação das pessoas e as
suas necessidades de cuidado. O défice de autocuidado é um conceito abstrato que,
quando expresso em termos de limitações de ação, fornece orientações para a
seleção de métodos de auxílio e compreensão do papel da pessoa no autocuidado.
A teoria dos sistemas de enfermagem sugere que são sistemas de ação concebidos e
produzidos por profissionais de enfermagem através do exercício da sua atividade
profissional para pessoas com limitações de autocuidado. Pode-se afirmar que esta
40
teoria engloba, a teoria do défice de autocuidado que, por sua vez, contém a teoria do
autocuidado (e.g. quando por algum motivo é necessário prestar cuidados de
enfermagem, é produzido um sistema de enfermagem) (Vítor, Lopes & Araújo, 2010).
A atividade de enfermagem inclui conceitos de ação deliberada, incluindo a
intencionalidade e operações de diagnóstico, prescrição e regulação. Os sistemas de
enfermagem podem ser produzidos para as próprias pessoas, para as pessoas que
constituam uma unidade de cuidar dependente, para grupos cujos membros possuam
necessidades de autocuidado terapêutico com componentes semelhantes ou que
apresentem limitações parecidas para a ocupação com autocuidado ou o cuidar
dependente, para famílias ou outras unidades multipessoais (Taylor, 2004).
O uso destas três teorias tem que estar implícito para que se aplique corretamente a
Teoria do Défice do Autocuidado de Orem (Taylor, 2004).
O autocuidado é uma função humana reguladora que se deve aplicar a cada pessoa
de forma deliberada com o objetivo de manter a sua vida, o seu estado de saúde,
desenvolvimento e bem-estar, tornando-se assim um sistema de ação. Sendo que
este deve aprender-se e aplicar-se de forma deliberada e contínua no tempo sempre
em consonância com as necessidades de regulação que as pessoas têm ao longo das
suas etapas de crescimento e de desenvolvimento, estado de saúde, caraterísticas de
saúde ou fases específicas de desenvolvimento, fatores ambientais e níveis de
consumo de energia (Kane & Kane, 1993; Gallegos & Cardénas, 2000; Gallo et al.,
2009).
Desta forma, as oito funções da teoria do défice de autocuidado são: definir que
termos referentes à pessoa são mais adequados à enfermagem; destacar o enfoque
de enfermagem mais adequado; estabelecer uma linguagem própria; definir limites
para orientar o pensamento, a prática, a investigação e a educação; reduzir a carga
cognitiva, proporcionando subsídios à razão para receber informações e permitir às
pessoas categorizar conceitos de forma a relacionar perceções sobre caraterísticas de
situações concretas de enfermagem; permitir interferências sobre as articulações da
enfermagem com outros domínios da atividade humana; gerar nos estudantes e nos
enfermeiros um estilo de pensamento e comunicação padronizados e inserir os
enfermeiros no âmbito académico (Vítor, Lopes & Araújo, 2010).
Para Holguín (2010), os comportamentos de autocuidado são condutas efetivas e
positivas que contribuem para que a pessoa seja capaz de tomar decisões e praticar
ações que ajudam a conservar a sua saúde, evitando assim, recidivas. Estes
41
comportamentos são influenciados pela motivação, pelo empoderamento, pelas
crenças, os hábitos e as práticas que caraterizam as formas de vida e cultura das
pessoas. O autocuidado é uma capacidade humana que permite à pessoa decidir
sobre que fatores deve controlar ou excluir de maneira a permitir a regulação da ação
de autocuidado intencional, podendo ser desenvolvido pela própria pessoa durante a
sua vida, por meio de um processo espontâneo de aprendizagem que é
complementado pela curiosidade intelectual, pela experiência, aprendizagem e pela
instrução e supervisão de terceiros que o constituem.
As ações de autocuidado têm objetivos a serem cumpridos
denominados de
requisitos de autocuidado, os quais foram classificados em universais, de
desenvolvimento e de desvio de saúde (Bub et al., 2006). Os universais são comuns a
todos os seres humanos, como é o caso da manutenção de um suprimento suficiente
de ar, ou manutenção do equilíbrio entre atividade e repouso. Os de desenvolvimento
consistem nas situações que ocorrem durante o ciclo vital da pessoa e que requerem
que esta adquira/pratique processos de desenvolvimento de maneira a promover o
autocuidado perante uma nova condição (e.g. gestação, perda de um familiar ou
pessoa próxima). Quanto aos de desvio de saúde estão presentes em situações de
doença, lesão ou como consequência de medidas médicas para diagnosticar ou
corrigir uma condição.
Os enfermeiros prestam cuidados utilizando o método de ajuda, no qual o cuidar é
compreendido como uma sequência de ações que ao serem implementadas vão
superar ou compensar limitações na saúde de pessoas envolvidas nas ações
reguladoras funcionais e de desenvolvimento.
Segundo a Teoria do Autocuidado, existem cinco métodos de ajuda através dos quais
uma pessoa pode compensar ou superar a sua dependência para o autocuidado. Os
métodos que os enfermeiros utilizam em pessoas que necessitam de ajuda nos
autocuidados são: agir ou fazer pelo outro; guiar ou direcionar; promover suporte físico
ou psicológico; proporcionar e manter um ambiente que promova o desenvolvimento
pessoal e ensinar (Bub et al., 2006).
2.1 - AUTOCUIDADO NA PESSOA COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
O controlo inadequado da IC e a não realização da prática adequada do autocuidado
representam uma ameaça para a vida da pessoa, pois contribui para o aparecimento
42
de complicações. A pessoa com IC carece de cuidados dos profissionais de saúde que
atuam na prevenção, primária, secundária e terciária, pois só com o envolvimento de
uma equipa multidisciplinar será possível fazer uma correta abordagem (Oliveira et al.,
2013).
A IC manifesta-se através de um conjunto de sintomas, que consiste em alterações
fisiológicas, que geralmente se manifestam pela presença de edemas, dispneia e que
culmina com o internamento hospitalar. Torna-se por isso fundamental, que a pessoa
seja capaz de identificar atempadamente quais são os sintomas de descompensação
(Olivella, Bonilla & Bastidas, 2012).
A importância do conhecimento da adequação das práticas de autocuidado em
pessoas com IC, revela-se imprescindível para que se consigam evitar crises e manter
a estabilidade clínica da pessoa. Torna-se fundamental que os enfermeiros
implementem atividades educativas, que levem a pessoa a tornar-se independente
neste autocuidado (Vítor, Lopes & Araújo, 2010).
A meta dos enfermeiros é fazer com que a pessoa satisfaça as suas necessidades de
autocuidado, ajudando-a a desenvolver e a exercer as mesmas, devendo para isso
promover a adequação deste às suas necessidades. Contudo, existem fatores que
condicionam o desenvolvimento, a operacionalidade e a qualidade da adequação do
autocuidado. A inclusão da orientação sociocultural é um dos fatores básicos que
condiciona a adequação do autocuidado. Os esforços para reforçar o autocuidado na
IC assumem uma extrema importância no que diz respeito à aquisição de
comportamentos relacionados com a dieta, adesão medicamentosa, redução do
número de internamentos e consequentemente a melhoria global de resultados. O
autocuidado na IC é muito variável, e novas abordagens são necessárias para diminuir
os internamentos evitáveis, reduzir os sintomas e melhorar a qualidade de vida. Assim,
a pessoa, os membros da família/pessoa significativa, devem ter acesso a atividades
educativas de forma individualizada bem como aconselhamento, que potenciem a
adequação do autocuidado (Olivella, Bonilla & Bastidas, 2012).
Se a sua implementação for bem-sucedida, contribuirá para que se consiga reduzir o
número de reinternamentos, os episódios de urgência na pessoa com IC, bem como,
contribuirá
para
que
os
elementos
da
família/pessoa
significativa
adotem
comportamentos assertivos, o que leva a uma mudança de comportamentos e
redução de fatores de risco, por forma a melhorar e obter qualidade de vida (Leonardo,
2001).
43
O processo de cuidar engloba a identificação e compreensão das respostas da pessoa
com IC aos problemas de saúde reais e potenciais, facilitando a escolha de
intervenções
de
enfermagem,
abordando
medidas
farmacológicas
e
não
farmacológicas que se propõem a melhorar a qualidade de vida e adesão ao
tratamento através de atividades educativas (Cavalcanti, Correia & Queluci, 2009).
Apesar dos avanços no tratamento farmacológico na IC resultante de um melhor
entendimento fisiopatológico, as taxas de reinternamento continuam a aumentar,
sendo que as causas mais frequentes são decorrentes da baixa adesão ao tratamento.
Este é um dado que vem reforçar a necessidade dos enfermeiros promoverem
atividades educativas que visem ensinar, reforçar, melhorar e avaliar constantemente
a capacidade da pessoa para a adequação do autocuidado (Evangelista & Dracup,
2000; Van Der Wal et al., 2005; Linhares et al., 2010).
Quando a IC é diagnosticada, é fundamental que a pessoa tenha presente que esta é
uma patologia crónica de desenvolvimento progressivo e que requer ajustes e
alterações no estilo de vida. Contudo, cabe aos enfermeiros, numa primeira
abordagem, não contemplar todos os aspetos relacionados com o complexo
tratamento. Estes devem ser capazes de avaliar as necessidades individuais e
encaminhar as atividades educativas baseadas no nível de perceção prévia da pessoa
sobre a patologia, no nível de escolaridade e na função cognitiva. Assim, quando a
pessoa aprende sobre a patologia, melhora o seu conhecimento e, consequentemente
adere mais facilmente ao tratamento. No entanto, por vezes existe uma diferença entre
o que é ensinado e o que é percecionado ou retido pela pessoa sobre a adequação do
autocuidado
e
mesmo
que
melhore
o
entendimento,
tal
não
se
traduz
necessariamente numa maior adesão/adequação (Rabelo et al., 2007).
De acordo com Holguín, Gázquez e Urrego (2012), as atividades educativas fazem
parte da intervenção de enfermagem para promover a adequação do autocuidado das
pessoas com IC, bem como das suas famílias e/pessoa significativa. Os cinco itens
prioritários na intervenção educativa são:

O conhecimento da patologia;

A adesão ao tratamento farmacológico e não farmacológico;

Saber pedir ajuda sempre que necessário;

Reconhecer que a IC é uma patologia crónica e que há que adaptar-se a ela,
bem como aos efeitos secundários da medicação;
44

Reconhecer existência do autoconceito como um elemento que capacita e
motiva a pessoa de maneira a que esta consiga criar o seu próprio processo
de adaptação à doença.
2.2 – AUTOCUIDADO E CUIDADOS DE ENFERMAGEM
A IC é uma síndrome crónica e progressiva, na qual é fundamental que existam
ajustes e até mesmo alterações no estilo de vida. Muitas pessoas consideram-se
saudáveis até apresentarem sinais de descompensação e, por essa razão, não
aderem facilmente às orientações fornecidas pela equipa. É importante implementar
as atividades educativas, de maneira a que a pessoa possa aprender sobre a sua
doença, o que permitirá melhorar o seu conhecimento e adquirir uma postura de maior
adesão ao tratamento (Rabelo et al., 2007).
A intervenção deve ter por base o planeamento, a implementação e avaliação de um
programa elaborado para dar resposta às necessidades especiais da pessoa com IC
(Arruda et al., 2012). Torna-se fundamental que as atividades educativas sejam
fornecidas de modo sistemático e reforçadas positivamente, sendo que os
enfermeiros, bem como os restantes profissionais que integram a equipa
multidisciplinar, desempenham um papel fundamental neste processo (Rabelo et al.,
2007).
De acordo com Oliveira et al. (2013), o autocuidado da pessoa com IC inclui a
monitorização do peso, a restrição salina, a realização de atividade física, o uso
regular das medicações, a monitorização de sinais e sintomas de descompensação da
doença e o contato precoce com a equipa de enfermagem/médica, ou seja, é
recomendado um acompanhamento do tratamento farmacológico e não farmacológico.
Assim, torna-se fundamental que a pessoa com IC, adote um estilo de vida saudável
em relação à dieta, especialmente no que diz respeito à restrição hidrossalina,
abstenção tabágica e do etilismo, prática de exercício físico regular e controle do
stresse.
A orientação da pessoa com IC quanto à aferição do peso diário, no domicílio, é
fundamental na perceção dos sinais de hipervolémia. As pessoas com IC devem ser
orientadas a verificar o peso pela manhã, após urinar, com roupas leves, antes da
refeição e utilizando sempre a mesma balança. O aumento de peso corporal de 1,3 Kg
em dois dias ou de 1,3 Kg-2,2 Kg numa semana pode ser indicador de que existe
45
retenção de líquidos. De acordo com as recomendações internacionais, as pessoas
com IC são aconselhadas a pesarem-se diariamente e em caso de aumento súbito de
peso (> a 2 Kg em 3 dias), a entrarem em contato com a equipa ou a ajustar as doses
de diuréticos. A flexibilidade para o uso dessa medicação, depende das capacidades
da pessoa para o autocuidado, bem como da organização do serviço que a atende,
visto que necessitam de monitorização e acompanhamento constantes (Rabelo et al.,
2007).
Além da monitorização do peso é também importante o exame e palpação dos pés e
tornozelos de maneira a verificar se existe edema (Oliveira et al., 2013). O estudo
realizado por Van Der Wal et al. (2005), indica que as pessoas com IC toleram alguns
sintomas como edema, aumento de peso e fadiga até sete dias, e dispneia até três
dias antes de procurarem assistência médica, sendo que apenas 5% das pessoas
associam o aumento de peso como sintoma na admissão. Neste contexto, as
intervenções de enfermagem devem estar focadas na educação das pessoas com IC,
familiares/pessoa significativa para o reconhecimento precoce destes sinais e
sintomas evitando quadros de descompensação.
A quantidade de medicação utilizada, a manutenção do regime terapêutico e o número
de doses diárias são fatores que influenciam diretamente a adesão ao tratamento.
Quanto maior a quantidade de medicamentos, o número de doses e as mudanças no
regime terapêutico, maiores são as probabilidades da pessoa não aderir, aumentando
assim, os riscos de descompensação (Rabelo at al., 2004; Van Der Wal et al., 2005).
Desta forma, o regime medicamentoso deve ser revisto junto da pessoa e apresentado
de forma esquemática, dando ênfase ao nome dos medicamentos, quais as suas
indicações, doses, horários e possíveis efeitos colaterais. As pessoas devem ser
orientadas a tomar sempre a medicação, mesmo que não manifestem sintomatologia,
pois isso reflete que esta é eficaz. Cabe aos enfermeiros instruir as pessoas a levar a
tabela ou as receitas da medicação sempre que forem a consultas ou quando
estiverem internadas, facilitando assim possíveis casos de omissão, aumento de
dosagem ou confusão (Rabelo et al., 2007).
As pessoas com IC devem incorporar a toma de medicação como prática de
autocuidado, incluindo-a nas suas atividades diárias, gerindo as mudanças de rotina
(e.g. compromissos, viagens e outras situações clínicas) (Oliveira et al., 2013).
A evolução do conhecimento dobre a fisiopatologia da IC e a evidência dos benefícios
da atividade física encontrada em ensaios clínicos, levou a concluir que o exercício
46
físico é uma importante forma terapêutica na disfunção cardíaca crónica estabilizada.
Um estudo realizado por Belardinelli et al. (1999), demonstrou que a atividade física
contribui para uma melhor capacidade funcional e qualidade de vida nas pessoas que
a praticam. O efeito sustentado de melhoria funcional parece estar associado com a
baixa taxa de readmissão hospitalar por IC e menor taxa de mortalidade (Rabelo et al.,
2007).
A orientação para a atividade física deve ser individualizada, de acordo com o grau de
IC e a idade da pessoa. Um programa de caminhadas é a melhor opção para prevenir
as consequências negativas (fisiológicas e psicológicas) do sedentarismo. Contudo, as
pessoas devem aumentar, gradualmente, a distância percorrida. Esta orientação está
incluída no conjunto de medidas não farmacológicas do tratamento da IC, devendo ser
sempre abordada nas consultas de enfermagem (Rabelo et al., 2007; European
Society of Cardiology, 2013).
Em relação ao repouso na pessoa com IC, este só está indicado nos episódios de
descompensação aguda e mesmo assim, de acordo com as limitações de cada
pessoa (Rabelo et al., 2007).
Dependendo da gravidade da doença, a intolerância à atividade física pode ser um
dos fatores limitantes durante a realização das atividades de vida diária. A pessoa com
IC deve ser orientada para identificar se existe ausência ou presença de cansaço e de
dispneia para realizar as suas tarefas diárias e, a partir daí acompanhar o
desenvolvimento desses mesmos sintomas. Também as diretrizes para diagnóstico e
tratamento da IC orientam para atividades laborais que não exijam esforços porém,
sendo que o afastamento definitivo apenas se refere aos casos de IC grave (Rabelo et
al., 2007; European Society of Cardiology, 2013).
As pessoas com IC estável são encorajadas a manter a sua atividade sexual, fazendo
os ajustes necessários para evitar esforço em demasia e o aparecimento de sintomas.
Esta questão deve ser abordada pela equipa multidisciplinar de maneira natural e
informativa na primeira consulta e quando as pessoas manifestarem dúvidas ou
dificuldades. A presença de sintomas psicológicos decorrentes da IC, limitação física,
efeitos colaterais dos medicamentos (diuréticos e betabloqueantes), diagnóstico de
diabetes mellitus, hipertensão arterial sistémica, são alguns dos fatores que podem
estar envolvidos na existência de disfunção eréctil. As pessoas com classe I e II,
podem tomar citrato de sildenafila com segurança, contudo estes devem ser
informados, que quando em uso concomitante com nitratos, só poderá ser utilizado 24
47
horas após a suspensão do mesmo (Rabelo et al., 2007; European Society of
Cardiology, 2013).
A pessoa com IC necessita de adotar um estilo de vida saudável em relação à dieta,
especialmente no que diz respeito à restrição salina e hídrica sendo que as
orientações dos enfermeiros são realizadas de acordo com as necessidades
específicas de cada pessoa (Oliveira et al., 2013).
Estudos realizados por Collona et al. (2003), Riegel et al. (2009) e Linhares et al.
(2010), referem que a restrição salina é uma das práticas de autocuidado apontada.
Segundo estes, recomenda-se um consumo de sódio de 2 a 3g/dia, sendo que esta é
considerada a dose adequada para pessoas com IC. Essa restrição é recomendada
porque ajuda a reduzir a retenção hídrica, contribuindo para a diminuição do esforço
cardíaco.
No que concerne à quantidade ideal de líquidos a ingerir sem complicações de
sobrecarga hídrica não existe consonância. Contudo, existem recomendações de que
a ingestão de líquidos não deva exceder os 2l/dia em situações de IC grave (Colonna
et al., 2003 e Clark et al., 2010). No entanto, Rabelo et al. (2007) e Lainscak et al.
(2011) defendem que uma restrição hídrica de 1,5l/dia a 2l/dia pode ser considerada
em pessoas com sintomas graves, especialmente se existe hiponatrémia simultânea.
No caso de pessoas com resistência a diuréticos, a ingestão de líquidos deve ser
restringida ao mínimo tolerado, geralmente 800ml/dia a 1l/dia.
O uso de álcool e tabaco devem ser desencorajados, em função dos seus efeitos
negativos sobre o sistema cardiovascular. O álcool reduz a contractilidade miocárdica
e pode causar arritmias, sendo que em alguns casos conduz as pessoas à suspensão
da medicação por forma a poderem consumi-lo.
A vacinação contra o influenza deve ser indicada anualmente em todas as pessoas
com IC, conforme as recomendações nacionais e internacionais. A imunização reduz o
risco de infeção respiratória, prevenindo assim, quadros de descompensação cardíaca
(Rabelo et al., 2007).
Segundo a European Society of Cardiology (2013), os tópicos essenciais que devem
ser abordados nas atividades educativas ao doente, em relação às competências e ao
autocuidado, dizem respeito:

À definição e etiologia - a pessoa deve compreender a causa da IC e o motivo
do aparecimento dos sintomas;
48

O prognóstico - compreender os fatores de prognóstico importantes e tomar
decisões realistas;

Monitorização dos sintomas e autocuidado - vigiar e reconhecer sinais e
sintomas; registar o peso diário e reconhecer ganhos repentinos; saber como e
quando contatar os profissionais de saúde (aumento de dispneia, edema e
ganho de peso repentino superior a 2kg em 3 dias, podendo a pessoa
aumentar a dose de diuréticos e/ou informar a equipa de saúde);

Tratamento farmacológico - compreender as indicações, doses e efeitos dos
fármacos; reconhecer os efeitos secundários comuns de cada medicamento
prescrito.

Adesão ao tratamento - compreender a importância de cumprir as
recomendações de tratamento e manter a motivação para seguir o plano de
tratamento, restringir a ingestão de sódio pode ajudar a controlar os sintomas
e sinais de congestão nas pessoas com IC da classe III e IV.

Dieta - evitar a ingestão excessiva de líquidos: considerar restringir a ingestão
de líquidos a 1.5-2 l/dia em doentes com IC severa para o alívio de sintomas e
da congestão. A restrição de fluidos hipotónicos pode ajudar a melhorar a
hiponatrémia, sendo que a restrição por rotina de líquidos em todas as
pessoas com sintomas ligeiros a moderados provavelmente não é benéfica. A
restrição de líquidos com base no peso (30 ml/Kg de peso corporal superior a
85Kg) pode causar menor sensação de sede, permitir vigiar e prevenir a má
nutrição, praticar uma alimentação saudável e manter um peso adequado.

Álcool - moderar o consumo de álcool. A abstinência é recomendada em
pessoas
com
cardiopatia
induzida
por
álcool.
Caso
contrário
as
recomendações comuns sobre o álcool são aplicáveis (2 unidades por dia para
homens ou 1 unidade por dia para mulheres). Uma unidade é equivalente a
10ml de álcool puro (e.g. 1 copo de vinho, 1 copo de cerveja, 1 medida de
bebida espirituosa).

Tabagismo - parar de fumar e/ou consumir drogas ilícitas.

Atividade física - compreender os benefícios da atividade física, praticar
exercício físico regularmente, estar tranquilo e sentir-se confiante em relação à
atividade física.
49

Passeio e lazer - preparar passeios e atividades de lazer ajustados à
capacidade física, viajar sempre acompanhado de um relatório com o historial
clínico e o esquema posológico atual, bem como de medicação suplementar.
Controlar e ajustar a ingestão de líquidos, especialmente durante os voos e em
climas quentes, acautelar as reações à exposição solar com alguma
medicação (e.g. amiodarona).

Atividade sexual - sentir-se seguro sobre a vida sexual e discutir problemas
com os profissionais de saúde. Os doentes estáveis podem praticar uma
atividade sexual normal desde que não provoque sintomas inapropriados.

Imunização - imunizar contra a gripe e a infeção pneumocócica, em
conformidade com as orientações e práticas locais.

Perturbações
respiratórias
e
de
sono -
reconhecer
comportamentos
preventivos, como a redução do peso em pessoas obesas, deixar de fumar e
de consumir álcool, conhecer alternativas de tratamento, se necessário.

Aspetos psicossociais - compreender que sintomas depressivos e disfunção
cognitiva são comuns em pessoas com IC e perceber o valor do apoio social,
conhecer as alternativas de tratamento, se necessário.
A existência de uma consulta de enfermagem direcionada para o autocuidado na
pessoa com IC, deve ser baseada nas práticas de autocuidado estabelecidas num
plano de cuidados individualizado, que inclua o controlo de medidas não
farmacológicas em função das especificidades de cada pessoa. Esta consulta revelase uma estratégia fundamental para que a pessoa com IC seja incentivada a praticar o
autocuidado para melhorar a sua qualidade de vida, considerando os aspetos
essenciais do autocuidado para prevenção de doenças e promoção de saúde,
contribuindo para a redução do número de reinternamentos e taxas de mortalidade
(European Society of Cardiology, 2013).
As atividades educativas desenvolvidas com vista à promoção do autocuidado, devem
ser promovidas por enfermeiros com conhecimento sobre a patologia e avaliação de
comportamentos de autocuidado (Holguín, Gázquez & Urrego, 2012; Gonçalves &
Albuquerque, 2014).
Estas devem iniciar-se ainda quando as pessoas estão internadas, pois este momento
é o ideal para ajudar a pessoas com IC a adaptarem-se aos sintomas, a gerir a
autoadministração
da
terapêutica
prescrita,
50
a
solucionar
problemas
quando
confrontados com novas situações e a evitar complicações. O período de internamento
revela-se fundamental para promover o treino das pessoas bem como dos seus
familiares/pessoa significativa, aproveitando também o impacto causado pelo mesmo
e a existência de sintomas de descompensação. Os dias que se seguem à
recuperação são extremamente úteis para a adaptação da pessoa e da sua
família/pessoa significativa quanto ao entendimento e valorização dessas medidas de
manutenção da estabilidade clínica. O planeamento precoce da alta hospitalar, inclui
visitas diárias para avaliar e reforçar a adesão e dar apoio às pessoas e
familiares/pessoa significativa, além de dar ênfase ao reconhecimento de sinais e
sintomas de descompensação (Rabelo et al., 2007; Gonçalves & Albuquerque, 2014).
Para Holguín (2010) solicitar ajuda, fortalecer o autoconceito, adaptar-se à nova
condição de vida, monitorizar a doença e motivar-se frente ao seu autocuidado, são
elementos que a pessoa adquire se os enfermeiros utilizarem programas dirigidos para
o cuidar à pessoa com IC, mas também à sua família/pessoa significativa. A
adequação do autocuidado na pessoa com IC representa um desafio para os
enfermeiros, pois requer que exista uma valorização integral de si mesmo (confiança)
e um acompanhamento permanente para identificar e gerir os recursos que a
pessoa/família/pessoa significativa possuem. O objetivo será identificar os recursos de
adequação do autocuidado e identifica-los quando a pessoa não os têm.
Numa revisão sistemática da literatura, Gonçalves e Albuquerque (2014), concluem
que as atividades educativas realizadas pela equipa de enfermagem, implementadas
através de consultas a pessoas com IC permitiram: aumentar a adesão ao tratamento
farmacológico e não farmacológico; reduzir as taxas de morbilidade e mortalidade;
reduzir as taxas de readmissões e melhorar a qualidade de vida.
Para uma melhor compreensão do objeto de estudo, na literatura foram surgindo
alguns instrumentos de avaliação do Autocuidado, construídos para pessoas com IC,
como é o caso do Cardiac Patient Learning Needs Inventory (Gerald & Peterson,
1984), o Minnesota Living With Heart Failure Questionare (Rector, Francis & Cohn,
1987), a European Heart Failure Self-care Behaviour Scale (Jaarsma et al., 2003), a
Dutch Heart Failure Knowledge Scale (Van Der Wal et al., 2005), o Self-Care of Heart
Failure Index V6.2 (Riegel et al., 2009), entre outros.
Dos vários instrumentos que se encontram divulgados no meio científico, Cameron et
al. (2009), concluíram que apenas dois apresentavam valor psicométrico satisfatório
para a avaliação da adequação do autocuidado na pessoa com IC: a European Heart
51
Failure Self-Care Behaviour Scale (EHFScBS) de Jaarsma et al. (2003), e o Self-Care
of Heart Failure Index v6.2 (SCHFI v6.2) de Riegel et al. (2009). A utilização destes
instrumentos constitui uma mais valia na prática clínica, pois podem ser utilizados de
forma consistente e válida em pessoas com IC, traduzindo-se em ganhos para os
próprios e para os sistemas de saúde.
Orientados pelas evidências científicas publicadas, optamos por utilizar o Self-Care of
Heart Failure Index v6.2 (SCHFI v6.2) de Riegel et al. (2009) no presente trabalho, por
ser uma escala amplamente utilizada na prática clínica. Desde a sua publicação em
2004, já foi utilizada em 25 países diferentes e em 17 estudos divulgados no seio da
literatura especializada. Desde a sua publicação original foram refinados e adicionados
novos itens, tendo sido testado o seu perfil psicométrico. Além disso, a sua validade
também foi avaliada através de estudos com abordagens quantitativas e qualitativas
(Riegel et al., 2009).
Outro motivo relevante para a sua utilização prende-se com o facto de esta escala
abordar outras dimensões para além da manutenção do autocuidado, que são a
gestão do autocuidado e a autoconfiança no autocuidado. Estas dimensões não são
avaliadas noutros instrumentos disponíveis para avaliação da adequação do
autocuidado.
Em Portugal, a SCHFI v6.2 já se encontra validada e aferida para a população
portuguesa por Marques et al. (2013), aguardando divulgação para a sociedade
científica. Assim, o Self-Care of Heart Failure Index V6.2 de Riegel et al. (2009)
validado para a População Portuguesa passa a designar-se como Escala de
Autocuidado para a Pessoa com Insuficiência Cardíaca (EACPIC). Após a validação
de conteúdo realizada por equivalência semântica e da análise de confiabilidade do
instrumento testando a consistência interna através da média, desvio padrão e o Alfa
de Cronbach, Marques et al. (2013) concluem que os resultados não apresentam
diferenças significativas comparativamente com os do estudo original e que pode ser
utilizada no contexto nacional.
Riegel et al. (2009) definiram o autocuidado como a decisão naturalista de fazer
progressos envolvendo a escolha dos comportamentos, para manter a estabilidade
física (manutenção) e a resposta aos sintomas quando estes ocorrem (gestão). As
pessoas com adequado nível de manutenção do autocuidado são as que adotam um
estilo de vida saudável, aderem ao regime medicamentoso e monitorizam os sintomas.
52
A adequação eficaz do autocuidado constitui a pedra angular na gestão do
autocuidado na pessoa com IC, visto que a maioria dos cuidados farmacológicos e
não farmacológicos são realizados pelas pessoas no domicílio (Evangelista &
Shinnick, 2008; Riegel, 2008; Clark et al., 2009).
No que concerne à gestão do autocuidado, é primordial que a pessoa com IC
reconheça os sintomas, interprete-os e posteriormente saiba relaciona-los com as
necessidades em cuidados que daí decorrem. A existência de sintomas ou a
descompensação levam a que exista necessidade de reconhecimento das estratégias
de gestão do autocuidado ou utilização das suas estratégias de coping. As decisões
tornam-se fundamentais para averiguar se a pessoa consegue gerir o autocuidado ou
se necessita de procurar ajuda junto dos seus familiares/pessoa significativa ou dos
profissionais de saúde (Riegel & Dickson, 2008; Clark et al., 2008; Moser & Watkins,
2008; Clark et al., 2009).
O enfermeiro desempenha um papel fundamental na promoção na gestão do
autocuidado da pessoa com IC, bem como no encorajamento para que esta se possa
tornar o agente principal no seu tratamento. Contudo, quando a pessoa com IC não
consegue gerir o autocuidado (apesar dos ensinos mantém inadequação do
autocuidado), existe necessidade de recorrer, mais frequentemente, aos cuidados de
enfermagem bem como procurar ajuda junto dos seus familiares/pessoa significativa
(Evangelista & Dracup, 2000; Clark et al., 2009).
Para que exista bom nível de adequação na gestão dos autocuidado, é necessário que
existam ajustes no que se refere ao estilo de vida por parte da pessoa e da sua
família/pessoa significativa. Estes ajustes incluem a modificação da dieta, adesão ao
regime medicamentoso, e adesão às práticas de monitorização de sintomas (Happ,
Naylor & Roe-Prior, 1997; Clark et al., 2009).
Os enfermeiros desempenham um papel fundamental através da promoção da gestão
no autocuidado às pessoas com IC, e do encorajamento para que estas se tornem
agentes ativos no seu próprio tratamento. A gestão do autocuidado dá enfoque à
individualização do tratamento, permitindo desta maneira que se identifiquem as
necessidades, as preferências, o ambiente e a experiência prévia que a pessoa com
IC detém. O envolvimento ativo das pessoas com IC no seu processo de tratamento,
promove uma melhor preparação para gerir regimes terapêuticos complexos (Miller,
1997; Evangelista & Dracup, 2000; Clark et al., 2009).
53
Contudo, as estratégias de gestão do autocuidado, não são aceitáveis para todas as
pessoas com IC. É fundamental que estas compreendam que são as responsáveis por
gerir o seu tratamento. É crucial que exista uma cuidadosa avaliação por parte dos
enfermeiros, de maneira a avaliar se as pessoas estão envolvidas e preparadas para
aceitar as responsabilidades, bem como, se têm os conhecimentos, habilidades e
recursos necessários. Compete ainda aos enfermeiros supervisionar e dar apoio às
pessoas com IC para que consigam ser autónomas no que concerne a gestão do
autocuidado (Clark et al., 2009).
Apesar do autocuidado ser representado principalmente pelas dimensões manutenção
e gestão, Riegel et al. (2009) referem que a existência da confiança no autocuidado
revela-se também importante, uma vez que esta é vista como um processo importante,
que modera a relação entre a adequação do autocuidado e os resultados obtidos. A
dimensão confiança tem maior valor como moderador da relação entre o autocuidado
e os resultados do que como componente do autocuidado, propriamente dito.
A confiança consiste na capacidade que a pessoa tem de se sentir capaz de controlar
os sintomas e aderir ao regime medicamentoso. Pode ainda ser definida como a
noção que a pessoa detém sobre a sua capacidade de moderar ou mediar a relação
entre o autocuidado e os resultados (Cené et al., 2013).
Assim, justifica-se que o instrumento que avalia o autocuidado seja constituído pelas
dimensões: manutenção, gestão e confiança, pois apesar de serem avaliadas
individualmente, encontram-se interligadas.
De maneira a evidenciar o nível de adequação do autocuidado na pessoa com IC em
relação a estas dimensões, aplicou-se a escala do Autocuidado na Pessoa com
Insuficiência Cardíaca, pretendendo-se obter dados que permitam conhecer melhor a
população em análise no que se refere a esta temática.
54
PARTE II – FASE METODOLÓGIA/EMPÍRICA
55
56
1 – OPÇÕES METODOLÓGICAS
De acordo com Fortin (2009), a investigação científica constitui o melhor método para
adquirir novos conhecimentos, sendo que esta é definida como uma estratégia ou um
processo racional com vista à aquisição de conhecimentos. A investigação científica
distingue-se de outros tipos de aquisição de conhecimentos devido ao seu caráter
sistemático e rigoroso, que assenta na recolha de dados observáveis e verificáveis,
retirados do mundo empírico.
A pesquisa em enfermagem torna-se fundamental na medida em que permite
desenvolver conhecimento sobre assuntos relevantes e estabelecer uma base
científica de conhecimento para a prática clínica (Polit, Beck & Hungler, 2004).
Este estudo surge assim, da necessidade de se conhecerem as razões que estão na
origem do elevado número de reinternamentos de pessoas com IC e de perceber qual
a sua relação com o défice de conhecimentos e com a não adequação do
autocuidado.
Uma vez que a prevalência da IC tem vindo a aumentar (Fonseca, 2009) e sabendo
que os enfermeiros desempenham um papel preponderante nos cuidados de saúde
primários, secundários e terciários, surge a necessidade de desenvolver um estudo
desta natureza. Pretende-se conhecer o nível de adequação do autocuidado de
pessoas com IC, especificamente sobre manutenção, gestão e confiança no
autocuidado, de modo a que se possam desenvolver um conjunto de propostas de
intervenção que contribuam para a melhoria da qualidade dos cuidados e para a
redução do número de reinternamentos.
Com o intuito de conseguir obter respostas às questões ou resolver os problemas,
surge deste modo a necessidade de desenvolver um processo de pesquisa em
enfermagem com a finalidade de desenvolver, aprimorar e expandir um corpo teórico
de conhecimentos. A investigação científica em enfermagem assenta principalmente
em dois paradigmas: o positivista (abordagem quantitativa) e o naturalista (abordagem
qualitativa) (Polit, Beck & Hungler, 2004).
A abordagem quantitativa é fundamentada pela crença de que os seres humanos são
um complexo de muitos sistemas corporais, podendo ser medidos de forma objetiva
57
(Lobiondo-Wood & Haber, 2001). Segundo Brymer e Cramer (1992) a investigação de
abordagem quantitativa coloca ênfase na compreensão e análise de dados, tendo
ainda como principal vantagem, conhecer os métodos de análise que mais se
adequam.
Pela natureza do objeto de estudo e pela escassez de evidências científicas prévias,
entendemos que o percurso metodológico teria uma abordagem do tipo quantitativo,
visando explicar e predizer o fenómeno da adequação do autocuidado, através da
mensuração das variáveis e análise de dados recolhidos (Fortin, 2009).
Este tipo de abordagem assenta no paradigma positivista, pois presume que existe
uma realidade objetiva cujos fenómenos naturais são regulares, ordenados e não
causais, mas resultantes de causas anteriores. Este paradigma está ainda associado à
abordagem científica tradicional, que consiste num processo sistemático e controlado,
baseado nos achados em evidência empírica, procurando a generalização dos
resultados para além de um único cenário ou situação (Polit, Beck & Hungler, 2004).
Neste estudo optou-se por uma investigação de natureza descritiva e correlacional. A
investigação descritiva desempenha um papel fundamental na medida em que visa
evidenciar novos conhecimentos, desvendar fenómenos existentes, determinar a
frequência da sua ocorrência numa dada população ou categorizar a informação.
Revela-se contudo bastante pertinente, que face ao objeto de estudo, esteja presente
uma orientação do tipo correlacional, uma vez que esta se apoia no conhecimento que
se dispõe sobre o assunto em estudo, expõem-se os conceitos existentes,
determinam-se as relações entre as variáveis e explica-se de que forma estas se
encontram ligadas entre si (Fortin, 2009).
1.1 – QUESTÃO DE INVESTIGAÇÃO
A finalidade da pesquisa em enfermagem é responder às questões ou solucionar os
problemas de relevância que emergem da prática clínica, servindo ainda para
estabelecer uma base científica de conhecimento para a mesma (Polit, Beck &
Hungler, 2004).
Os conhecimentos gerados através da investigação em enfermagem são utilizados
para desenvolver a prática baseada em evidências, melhorar a qualidade dos
cuidados e maximizar os resultados de saúde e o custo-benefício das intervenções de
enfermagem (Ordem dos enfermeiros, 1999).
58
Para Fortin (2009), a questão de investigação consiste numa interrogação precisa, que
indica claramente a direção que se entende tomar, sendo que neste caso em concreto
pretende descrever um fenómeno.
Surge deste modo, a questão central do estudo: Qual o nível de adequação do
autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca?
Pretende-se ainda responder às seguintes subquestões:
- Qual a relação entre as variáveis sociodemográficas e o nível de adequação do
autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca?
- Qual a relação entre as variáveis clínicas e o nível de adequação do autocuidado da
pessoa com insuficiência cardíaca?
1.2 – OBJETIVOS DA INVESTIGAÇÃO
Após a clarificação do objeto de estudo e respetiva questão de investigação é
necessário definir e determinar quais os objetivos que orientam o percurso
metodológico desta pesquisa. Ao definir os objetivos da investigação, o investigador
consegue precisar qual a direção que pretende dar à investigação, no sentido de dar
resposta às questões levantadas (Fortin, 2009).
Assim sendo, os objetivos deste estudo são:
• Analisar quão adequado é o autocuidado praticado pela pessoa com insuficiência
cardíaca, ao nível da sua manutenção, gestão e confiança;
• Analisar em que medida as caraterísticas sócio demográficas influenciam a
adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca;
• Analisar que dados clínicos influenciam a adequação do autocuidado da pessoa com
insuficiência cardíaca.
Com a realização deste estudo, pretendemos proceder à elaboração de uma listagem
de lacunas existentes ao nível da adequação do autocuidado, que possa ser a base de
construção de um guião de atuação a ser utilizado posteriormente numa consulta de
enfermagem dirigida à pessoa com IC. Pretende-se ainda planear um conjunto de
sessões formativas entre pares, tendentes à melhoria das atividades educativas da
pessoa com IC.
59
1.3 – POPULAÇÃO, AMOSTRA E CONTEXTO DO ESTUDO
Para que se consiga desenvolver a investigação, é necessário definir a população
junto da qual será recolhida a informação. Esta é designada de população alvo, sendo
constituída por um grupo de pessoas com caraterísticas comuns que reúnem critérios
de seleção previamente definidos e que permitem fazer generalizações (Fortin, 2009).
Num estudo de natureza quantitativa, os investigadores necessitam de especificar
uma população para indicar as caraterísticas que os sujeitos devem possuir, bem
como definir o grupo para o qual os resultados podem ser generalizados (Polit, Beck &
Hungler, 2004).
Porém, como é difícil estudar a população alvo na sua totalidade, torna-se necessário
definir
uma
amostra
representativa
da
população
que
permita
fazer
tais
generalizações.
Sendo um subgrupo da população, a amostra torna mais prático o processo de recolha
de dados à população, devendo no entanto ser representativa (Polit, Beck & Hungler,
2004).
Para Fortin (2009), a representatividade é a qualidade essencial de uma amostra e
pelas suas caraterísticas, é considerada uma réplica da população. A amostra deve
refletir as caraterísticas do ambiente natural, mas também das pessoas que a
constituem. Esta deve possuir variáveis sociodemográficas tais como a idade, o
género e a escolaridade, pois é o que define a sua representatividade. Trata-se então
de uma amostra não probabilística, uma vez que não dá a todos os elementos da
população a mesma possibilidade de ser selecionado para a constituir, tendo presente
que é difícil aceder à totalidade da população.
No presente estudo a amostragem será acidental, pois é constituída por participantes
facilmente acessíveis. Uma vez que existe o risco destes não serem representativos
da população, foram definidos critérios de inclusão e de exclusão restritos, que se
encontram abaixo descritos (Quadro 2).
60
Critérios de Inclusão
Critérios de Exclusão

Ter diagnóstico médico de IC

Estar internado no Serviço de 
Cardiologia A

Maiores de 18 anos

Orientação alopsíquica

Capacidade de compreensão da

Patologia psiquiátrica delirante
Sequelas cognitivas

Iliteracia.
língua Portuguesa

Concordar participar no estudo
Quadro 2- Critérios de Inclusão e exclusão dos participantes no estudo
Não existindo uma equação simples para determinar o tamanho necessário de uma
amostra, é recomendado porém que o investigador numa abordagem do tipo
quantitativo utilize, dentro do possível, uma amostra com muitos elementos. Quanto
maior a amostra, maior a representatividade e consequentemente, menor será o erro
de amostragem (Polit, Beck & Hungler, 2004). Assim, de acordo com o limite temporal
e os critérios de inclusão e exclusão definidos, o número de participantes que iriam
constituir a amostra só seria definido após a recolha dos dados.
O local para a recolha de dados foi o Serviço de Cardiologia A-A do Centro Hospitalar
de Coimbra, Pólo Hospitais da Universidade de Coimbra. Este é um serviço misto,
com possibilidade de acolher 32 pessoas, com predominância de IC como causa de
internamento.
1.4 – OPERACIONALIZAÇÃO DE VARIÁVEIS
Para Fortin (2009), as variáveis são as unidades de base da investigação. Estas
consistem em qualidades, propriedades ou caraterísticas de pessoas, objetos de
situações suscetíveis de mudar ou variar no tempo. Podem variar entre diversos
valores, pois podem ser medidas, manipuladas ou controladas. Dependendo do papel
que exerçam na investigação, as variáveis podem ser classificadas como
independentes, dependentes, de investigação, atributos e estranhas.
Tendo em consideração o objeto de estudo, procedeu-se assim à definição concetual
e operacionalização das variáveis envolvidas neste estudo.
61
Para Polit, Beck e Hungler (2004), a variável dependente é a variável que o
pesquisador está interessado em compreender, explicar ou prever. Neste estudo
consideramos como variável dependente o Autocuidado na Insuficiência Cardíaca.
Para operacionalizar esta variável foi utilizada a Escala de Autocuidado para a Pessoa
com Insuficiência Cardíaca (Marques et al., 2013), nas suas dimensões de
Manutenção, Gestão e Confiança do Autocuidado.
A variável independente consiste no elemento que é introduzido e manipulado numa
situação de investigação com o objetivo de exercer um efeito sobre uma outra variável,
sendo por isso considerada como a causa do efeito produzido na variável dependente
(Fortin, 2009).
As variáveis independentes consideradas neste estudo, são os fatores sócio
demográficos: idade, estado civil, género, habilitações literárias, profissão, tempo de
diagnóstico da patologia e internamentos anteriores, assim como os dados clínicos:
etiologia da IC, fração de ejeção do ventrículo esquerdo, classificação segundo a
NYHA, medicação prescrita (diuréticos, betabloqueantes, IECA e digoxina) e
comorbilidades. Além destas constituírem as variáveis independentes, são também
variáveis atributo, visto que são referentes a caraterísticas pré existentes dos
participantes no estudo (Fortin, 2009).
1.5 – INSTRUMENTO DE RECOLHA DE DADOS
O instrumento de recolha de dados selecionado (ou construído) para a investigação
deve ser capaz de responder às questões de investigação e possibilitar a comparação
entre as diferentes variáveis (Fortin, 2009). Face à natureza do objeto de estudo,
considerou-se que o instrumento de recolha de dados mais adequado seria o inquérito
por questionário, pois exige dos participantes respostas escritas a um conjunto de
questões e permite recolher informação sobre acontecimentos e conhecimentos, neste
caso, sobre a adequação do autocuidado.
Dos instrumentos de recolha de dados disponíveis na literatura optou-se por
selecionar um que englobasse a caraterização sociodemográfica e clínica da amostra
e uma escala de avaliação do autocuidado para a pessoa com IC, aferida para a
população portuguesa. Não havendo uma ferramenta para a caraterização
sóciodemográfica e clínica da amostra, optou-se por construir um questionário que
permitisse tal caraterização. Para a segunda parte do instrumento de recolha de
62
dados, a opção recaiu sobre o instrumento validado e aferido para a população
portuguesa por Marques et al. (2013) – Escala de Autocuidado para a Pessoa com
Insuficiência Cardíaca (EACPIC).
O instrumento de recolha de dados ficou assim constituído por duas partes:
- A primeira corresponde ao questionário de caraterização sociodemográfica e clínica,
constituído por dezassete perguntas fechadas. No que se refere à caraterização
sociodemográfica, recolhe dados fornecidos pela pessoa sobre a idade, estado civil,
género, habilitações literárias, profissão, conhecimento da doença e internamentos
anteriores. Os dados clínicos são referentes à etiologia da IC, fração de ejeção do
ventrículo esquerdo, classificação segundo a NYHA, medicação prescrita (diuréticos,
betabloqueantes, IECA e digoxina) e comorbilidades, recolhidos pelo investigador
através da consulta do processo clínico.
- A segunda corresponde à escala de autocuidado para a pessoa com insuficiência
cardíaca – EACPIC, com um total de vinte e duas questões de resposta fechada,
distribuídas por três secções (A, B e C).
A secção A é composta por dez itens que se referem à estabilidade e comportamentos
de manutenção do autocuidado das pessoas com IC, sendo que a pontuação 1
corresponde à menor frequência e 4 à maior frequência de realização das atividades.
A secção B aborda itens relativos à gestão dos sintomas por parte das pessoas com
IC, com questões direcionadas para as pessoas que apresentam os sintomas de
dispneia e edemas. O primeiro item é aferido através de uma escala tipo likert e varia
de 0 (que corresponde ao não reconhecimento de sintomas) a 4 (corresponde à
existência dos sintomas com evolução muito rápida), existindo ainda a opção da não
existência dos sintomas. Os quatro itens seguintes avaliam os procedimentos
utilizados pelas pessoas com IC com problemas respiratórios ou existência de edemas
periféricos, podendo variar de 1 (nada provável) a 4 (muito provável). O último item
abordado nesta secção avalia o conhecimento que a pessoa detém sobre o benefício
do autocuidado no alívio dos sintomas, sendo que 0 se refere à não existência de
procedimentos de maneira a melhorar a situação clínica e 4 corresponde à certeza
absoluta em como o procedimento ajudou no alívio dos sintomas.
A secção C é composta por seis itens que avaliam a autoconfiança no autocuidado da
pessoa com IC, variando de 1 (nada confiante) a 4 (extremamente confiante).
63
Para Riegel at al. (2009), o SCHFI v6.2 (versão original da EACPIC) expressa a
medida de adequação do autocuidado definida como uma decisão naturalista em
progredir, envolvendo a escolha de comportamentos que permitem a manutenção da
estabilidade fisiológica (dimensão manutenção do autocuidado), a resposta aos
sintomas quando estes ocorrem (dimensão gestão de autocuidado) e confiança no
autocuidado. É ainda recomendado que as três dimensões da escala sejam usadas
em separado, visto que o autocuidado é melhor representado pelas dimensões de
manutenção e de gestão. A dimensão confiança é um processo muito importante na
medida em que serve de moderador de relação entre o autocuidado e os resultados.
Assim, a sua utilização conjunta deve permitir uma melhor descrição da adequação do
autocuidado da população de pessoas com IC e avaliar o efeito das suas práticas de
autocuidado.
Quando o instrumento de recolha de dados ficou redigido, a formulação de todas as
questões e a sua ordem foram provisoriamente fixadas, existindo a necessidade de
garantir que era de facto aplicável e que respondia efetivamente aos objetivos
definidos, pelo que se realizou um pré-teste.
Polit, Beck & Hungler (2004) referem que o pré- teste é considerado como sendo um
ensaio para determinar se o instrumento de recolha de dados se encontra formulado
com clareza, sem parcialidade e se é útil para gerar as informações desejadas. Fortin
(2009) acrescenta que o pré-teste é considerado o ensaio de um instrumento de
medida ou de um equipamento antes da sua utilização num grupo maior.
Para verificar a eficácia e o valor do instrumento, este deve ser aplicado junto de uma
amostra reduzida (entre 10 a 20 pessoas) da população alvo (Fortin, 2009), dissipando
quaisquer dificuldades que os participantes possam apresentar aquando do seu
preenchimento.
O pré-teste foi realizado a 10 pessoas com diagnóstico de IC, que não integraram a
amostra final do estudo, tendo-se dialogado com os respondentes afim de registar as
dificuldades sentidas, incompreensões, aborrecimentos ou impaciência. No decorrer
do pré-teste, verificou-se que não existia necessidade de proceder a alterações na
formulação das questões, uma vez que não se detetou nenhuma dificuldade no seu
preenchimento, obtendo-se o instrumento definitivo (Anexo I) adaptado à população
alvo e aos desígnios da pesquisa e do investigador.
Devido à idade dos possíveis respondentes, surgiu a necessidade de investir na
formação de um grupo de enfermeiros que exercem funções no Serviço de Cardiologia
64
A-A. Recorreu-se à colaboração de três enfermeiros que se constituíram como
colaboradores da investigação, aos quais foi facultada toda a informação sobre a
natureza do objeto de estudo, os objetivos do estudo, instrumento de recolha de dados
e seu preenchimento, em momento de formação. Esta sessão revelou-se útil sempre
que surgiram dúvidas ou necessidade de esclarecimento por parte dos participantes
do estudo, aquando do seu preenchimento, permitindo um maior controlo sobre
variáveis estranhas e de difícil operacionalização.
1.6 – PROCEDIMENTOS FORMAIS E ÉTICOS PARA A RECOLHA DE DADOS
A investigação em enfermagem envolve pessoas, comportamentos, estados de saúde
e prestação de cuidados, entre outros. Por estas razões, há um conjunto de
pressupostos éticos e deontológicos a ter em consideração desde o seu início.
Independentemente do estudo, a investigação deve ser realizada respeitando os
direitos das pessoas, sendo que os pressupostos éticos fundamentais são o respeito
pela pessoa e o princípio da beneficência (Fortin, 2009).
Com
o
intuito
de
respeitar
todos
os
princípios
éticos,
foi
solicitada
autorização/consentimento aos participantes do estudo (Anexo II), explicitando-se
todas as informações sobre o estudo e dando-se a possibilidade dos potenciais
respondentes anuírem ao nosso pedido de colaboração de modo livre e esclarecido.
Foi também salvaguarda a previsão de quaisquer danos e a violação da privacidade,
sendo que o preenchimento do instrumento de recolha de dados foi realizado num
local adequado, sem interferência de ruído exterior e preenchido pelos participantes no
estudo (quando possível) ou colaboradores de investigação. Sempre que o
participante não reunia condições para a autoadministração do instrumento, este foi
preenchido pelo investigador e/ou colaboradores da investigação. Foi referido aos
participantes que os benefícios da investigação dizem respeito a uma maior
comunicação/interação dos profissionais de enfermagem com as pessoas com IC,
permitindo assim contribuir para a adequação do autocuidado e para uma melhor
qualidade de vida, bem como para um menor número de reinternamentos hospitalares,
sendo também um reflexo da melhoria da qualidade dos cuidados de enfermagem.
O anonimato foi garantido aos participantes, sendo que a recolha de dados não
permitiu a sua identificação, mantendo-se ainda a confidencialidade durante o estudo,
65
e a sua divulgação, estando sempre explícita a possibilidade de abandono do
participante em qualquer momento.
Além do pedido de autorização/consentimento aos participantes do estudo, foi
efetuado um pedido de autorização para desenvolver o estudo, junto da Comissão de
Ética e do Conselho de Administração do CHUC, os quais foram formalizados após a
realização do desenho do estudo e a obtenção da autorização da autora da EACPIC
(Anexo III).
Estabelecidos
os
contactos
necessários
para
colaboração,
instrução
dos
colaboradores na recolha dos dados e autorização da Comissão de Ética e Conselho
de Administração (Anexo IV), procedeu-se à recolha dos dados que decorreu entre os
meses de outubro de 2014 e janeiro de 2015.
1.7 – MÉTODOS DE ANÁLISE DOS DADOS
Para organizar e sistematizar a informação contida nos dados e obter resultados
descritivos e inferenciais recorremos ao programa de tratamento estatístico Statistical
Package for the Social Sciences (SPSS) na versão 22.0 de 2014.
Utilizámos
técnicas
da
estatística
descritiva
e
da
estatística
inferencial,
nomeadamente, apresentação em quadros de frequências (absolutas e percentuais) e
cálculo de medidas de tendência central (média aritmética, média ordinal e mediana),
de medidas de dispersão ou variabilidade (valor mínimo, valor máximo e desvio
padrão) e ainda, dos coeficientes alpha de Cronbach e correlação de Spearman.
Foram também aplicados os testes estatísticos U de Mann-Whitney, Kruskal-Wallis e o
teste da significância do coeficiente de Spearman. Para testar a normalidade da
distribuição de frequências das variáveis quantitativas em estudo, foi aplicado o teste
Kolmogorov-Smirnov.
Na escolha dos testes atendemos às caraterísticas das variáveis em estudo e às
recomendações apresentadas por Maroco (2007) e Pestana & Gageiro (2005). A
opção por testes não paramétricos justifica-se pelo facto de a variável autocuidado
para a pessoa com IC apresentar distribuições de frequências não normais em duas
das suas dimensões.
Fixámos o valor 0.050 como limite de significância em todos os testes, isto é, a
hipótese nula foi rejeitada quando a probabilidade do erro tipo I (probabilidade de
rejeição da hipótese nula quando ela é verdadeira) era inferior àquele valor, ou seja,
quando p  0.050.
66
2 - ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
Seguidamente procedemos à análise e apresentação dos dados obtidos através da
aplicação do instrumento de recolha elaborado e à análise e apresentação dos
resultados das técnicas estatísticas aplicadas para responder à questões de
investigação formuladas. Com o intuito de melhor conhecermos as relações entre as
variáveis em estudo, sentimos necessidade de decompor as subquestões de
investigação apresentadas anteriormente.
2.1- CARATERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA DA AMOSTRA
Como podemos constatar pelos dados apresentados no quadro 3, os 65 inquiridos
apresentavam idades compreendidas entre 29 e 94 anos, sendo a idade média
76.25±11.80 anos. Verificamos que 47.7% pertenciam ao grupo etário dos 80 aos 90
anos, seguidos de 23.1% que tinham entre 70 e 80 anos. Metade dos elementos da
amostra apresentava idades iguais ou superiores a 80.00 anos (idade mediana) e a
distribuição de frequência afastou-se significativamente de uma distribuição normal (p
= 0.003).
Relativamente ao estado civil, constatou-se que a maioria dos inquiridos (53.8%) era
casado(a) ou vivia em união de facto, seguiram-se 38.5% que eram viúvos(as).
Quanto ao género, verificamos que a maioria dos elementos da amostra,
concretamente 61.5%, era do género masculino.
Verificamos que 70.8% dos indivíduos apresentava como habilitações literárias o 1º
Ciclo do Ensino Básico.
No que concerne à situação profissional, verificamos que 93.8% dos inquiridos
estavam na situação de não ativos.
Quanto à área de residência, constatou-se que 52.3% dos elementos que constituíam
a amostra residiam em áreas urbanas.
67
Variável
n
%
Grupo etário
< 50
2
3.1
[50 – 60[
4
6.1
[60 – 70[
11
16.9
[70 – 80[
15
23.1
[80 – 90[
31
47.7
≥ 90
2
3.1
̅ = 76.25; Md = 80.00; s = 11.80; xmin = 29.00; xmáx = 94.00; p = 0.003
Estado civil
Casado(a) / União de facto
35
53.8
Solteiro(a)
4
6.2
Viúvo(a)
25
38.5
Divorciado (a)
1
1.5
Variável
n
%
Género
Feminino
25
38.5
Masculino
40
61.5
Habilitações literárias
1º Ciclo do Ensino Básico
46
70.8
2º Ciclo do Ensino Básico
4
6.2
3º Ciclo do Ensino Básico
2
3.1
Ensino Secundário
5
7.7
Bacharelato
3
4.6
Licenciatura
5
7.7
Mestrado
0.0
Situação profissional
Ativo
4
6.2
Não ativo
61
93.8
Área de residência
Área Urbana
34
52.3
Área Rural
31
47.7
Quadro 3 - Caraterísticas sociodemográficas da amostra
Os dados que constituem o quadro 4 são referentes ao conhecimento acerca da
doença e dos internamentos anteriores.
Verificamos que o tempo de diagnóstico da IC era desconhecido para 21.5% (14) dos
inquiridos. Para os restantes 51 indivíduos, o tempo variou entre 3 meses (0.25 anos)
e 88 anos, sendo o tempo médio de 16.68±15.29 anos. Constatou-se ainda, que
13.9% dos inquiridos referiram tempo de diagnóstico compreendido entre 5 e 10 anos,
entre 10 e 15 anos e entre 20 e 25 anos, seguindo-se 12.3% cujo diagnóstico foi feito
há menos de 5 anos. Metade dos indivíduos tiveram o diagnóstico de IC há menos de
14
anos
e
a
distribuição
de
frequências
para
esta
variável
afastou-se
significativamente de uma distribuição normal (p = 0.000).
Cerca de metade dos elementos da amostra (50.8%) afirmou que nos últimos doze
meses teve necessidade de ser hospitalizado ou recorrer a assistência de saúde
68
devido à IC. A maioria destes 33 doentes, concretamente 75.7%, afirmou que foi
internado ou recorreu a assistência médica 1 ou 2 vezes no período referenciado.
60.0% dos inquiridos afirmou que a doença os impedia de realizar algumas atividades
diárias que antes faziam sozinhos, seguidos de 27.7% que referiram que a IC os
impedia de realizar a maior parte das atividades que anteriormente faziam sozinhos.
Variável
Tempo de diagnóstico da insuficiência cardíaca (anos)
<5
[5 – 10[
[10 – 15[
[15 – 20[
[20 – 25[
[25 – 30[
≥ 30
Desconhecido
n
8
9
9
6
9
4
6
14
̅ = 16.68; Md = 14.00; s = 15.29; xmin = 0.25; xmáx = 88.00;
Foi hospitalizado(a) ou procurou assistência de saúde
nos últimos doze meses devido à insuficiência cardíaca
Não
Sim
32
33
Número de hospitalizações ou assistências de saúde
nos últimos doze meses devido à insuficiência cardíaca
1–2
3–4
25
≥5
7
1
Desde que foi diagnosticada a insuficiência cardíaca,
considera que:
A doença não o(a) te impedido de fazer as suas
atividades do dia-a-dia sozinho(a)
7
A doença impede-o(a) de realizar algumas
atividades diárias que antes fazia sozinho(a)
39
A doença impede-o(a) de realizar a maior parte
das atividades diárias que antes fazia
sozinho(a)
Necessita de apoio total de outras pessoas
18
para realizar as atividades diárias
1
%
12.3
13.9
13.9
9.2
13.9
6.1
9.2
21.5
p = 0.000
Quadro 4 - Conhecimento da amostra acerca da doença e internamentos anteriores
69
49.2
50.8
75.7
21.3
3.0
10.8
60.0
27.7
1.5
2.2- CARATERIZAÇÃO CLÍNICA DA AMOSTRA
Relativamente aos dados clínicos da amostra, podemos constatar (quadros 5 e 5.1)
que para 23.1% dos inquiridos a IC estava associada a etiologia valvular aórtica,
seguindo-se 21.5% cuja IC tinha etiologia valvular mitral, 15.4% cuja IC tinha etiologia
isquémica não submetida a CABG e 12.3% que sofriam de miocardiopatia dilatada.
Quanto à fração de ejeção do ventrículo esquerdo, verificamos que a maior parte dos
inquiridos (67.7%) tinha fração de ejeção preservada (36% ≤ FE ≤ 50%). Os valores
desta variável situaram-se entre 19.00% e 50.00%, sendo o valor médio
39.72±10.43%. Metade dos elementos da amostra apresentava FEVE igual ou inferior
a 43.00% e a distribuição de frequências não pode ser considerada normal (p =
0.000).
No que concerne à classificação NYHA atribuída nos três meses prévios ao
internamento, verificamos que ela era desconhecida em 87.7% dos casos.
Verificamos, ainda, que 7.7% foram classificados com classe III, 3.1% com classe IV e
1,5% com classe II.
Verificamos também que 96.9% dos inquiridos tomava diuréticos, 69.2% tomava
betabloqueantes, 52.3% fazia IECA, 64.6% não tomava espirolactona, 73.8% não fazia
digoxina e 72.3% não possuía Pacemaker ou CDI.
Relativamente aos fatores de risco, o mais frequente era o facto de sofrerem de outras
doenças (73.8%), 72.3% apresentavam dislipidémia, 70.8% eram sedentários, 67.7%
sofriam de hipertensão arterial, 59.9% apresentavam outras doenças de foro cardíaco.
Dos 37 doentes que apresentavam outras doenças do foro cardíaco, 64.9% sofriam de
fibrilhação auricular, 13.5% de hipertensão pulmonar e 5.4% de aneurisma da aorta ou
doença de três vasos.
Para os 48 indivíduos que apresentavam outras doenças, 31.3% sofriam de doença
pulmonar obstrutiva crónica, 25.0% insuficiência renal crónica, 14.6% tiveram acidente
vascular cerebral, sendo que igual percentagem foi apresentada pelos indivíduos com
patologia tiroideia e patologia prostática.
Conjugando a informação referente aos fatores de risco com a das doenças
associadas, verificamos que 41.5% tinham associados 4 ou 5 fatores de risco ou
doenças, seguidos de 32.3% que apresentavam entre 6 e 7 fatores de risco ou
doenças.
70
Variável
n
%
Etiologia
Isquémica – submetido a CABG
6
9.2
Isquémica – não submetido a CABG
10
15.4
Miocardiopatia dilatada
8
12.3
Miocardiopatia hipertófica
2
3.1
Valvular – mitral
14
21.5
Valvular – aórtica
15
23.1
Valvular – mitral e aórtica
6
9.2
Outras
3
4.6
Desconhecida
1
1.5
Fração de Ejeção do Ventrículo Esquerdo (FEVE)
FE reduzida (≤ 35%)
21
32.3
FE preservada (36% a 50%)
44
67.7
̅ = 39.72%; Md = 43.00%; s = 10.43%; xmin = 19.00%; xmáx = 50.00%; p = 0.000
Classificação NYHA (três meses antes do internamento)
Grau II
1
1.5
Grau III
5
7.7
Grau IV
2
3.1
Desconhecida
57
87.7
Faz diuréticos
Sim
62
96.9
Não
2
3.1
Faz betabloqueantes
Sim
45
69.2
Não
20
30.8
Faz IECA
Sim
34
52.3
Não
31
47.7
Faz espirolactona
Sim
23
35.4
Não
42
64.6
Faz digoxina
Sim
17
26.2
Não
48
73.8
Possui dispositivo
Pacemaker
13
20.0
CDI
5
7.7
Não
47
72.3
Fatores de risco
Tabagismo
5
7.7
Dislipidémia
47
72.3
Diabetes mellitus
29
44.6
Hipertensão arterial
44
67.7
Obesidade
20
30.8
Sedentarismo
46
70.8
Doenças do foro cardíaco
37
59.9
Outras doenças
48
73.8
Não apresenta fatores de risco
0.0
Informação não disponível no processo clínico
0.0
Quadro 5 - Dados clínicos da amostra
71
Variável
Doenças do foro cardíaco
Fibrilhação Auricular
Hipertensão Pulmonar
Aneurisma da Aorta
Doença de três vasos
Doença Coronária de um vaso
Angina Estável
Doença Carotídea
Extrassístoles
Fístula Coronária
Flutter Auricular
Patologia Valvular
Doença Coronária do Tronco
Taquicardia Ventricular
Comunicação Intra Auricular
Insuficiência Tricúspide
Bloqueio Completo do Ramo Esquerdo
Ateromatose da Aorta Torácica
Miocardiopatia Isquémica
Estenose Aórtica Severa
Outras doenças
Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica
Insuficiência Renal Crónica
Acidente Vascular Cerebral
Patologia Tiroideia
Patologia Prostática
Neoplasia Retal
Parkinson
Síndrome Depressivo
Glaucoma
Patologia Osteoarticular
Anemia
Polimialgia Reumática
Síndrome Mielo displásico
Doença de Crohn
Diarreia Crónica
Colite
Mieloma Múltiplo
Síndrome de Lynch
Líquen Plano
Hemangioma Hepático
Número de fatores de risco/doenças associadas
2–3
4–5
6–7
≥8
Quadro 5.1 - Dados clínicos da amostra (continuação)
72
n
%
24
5
2
2
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
64.9
13.5
5.4
5.4
2.7
2.7
2.7
2.7
2.7
2.7
2.7
2.7
2.7
2.7
2.7
2.7
2.7
2.7
2.7
15
12
7
7
7
3
3
3
2
2
2
1
1
1
1
1
1
1
1
1
31.3
25.0
14.6
14.6
14.6
6.3
6.3
6.3
4.2
4.2
4.2
2.1
2.1
2.1
2.1
2.1
2.1
2.1
2.1
2.1
15
27
21
2
23.1
41.5
32.3
3.1
2.3 - ADEQUAÇÃO DO AUTOCUIDADO DA AMOSTRA
Antes de iniciarmos o estudo da adequação do autocuidado houve necessidade de
avaliar a confiabilidade da escala de Autocuidado para a Pessoa com Insuficiência
Cardíaca (SCHFI v6.2) através da análise da respetiva consistência interna. Quanto
mais elevada é a consistência interna de uma escala/subescala, mais os enunciados
dos respetivos itens estão correlacionados e maior é a sua homogeneidade. O método
utilizado consistiu na determinação do coeficiente alpha de Cronbach, cujos valores
podem variar entre 0 e 1. Para este coeficiente, valores mais elevados, ou seja, mais
próximos de 1, são interpretados como reveladores de maior consistência interna e de
maior confiabilidade. Este procedimento estatístico é indicado para escalas do tipo
Likert e de acordo com a maioria dos autores, nomeadamente Nunnally (1978) apud
Maroco e Garcia-Marques (2006), resultados iguais ou superiores a 0,70 são
reveladores de boa consistência interna. Alguns autores consideram ainda que são
aceitáveis valores iguais ou superiores a 0.60, principalmente quando é reduzido o
número de itens envolvidos, como referiu DeVellis (1991) apud Maroco e GarciaMarques (2006).
Como podemos constatar no Quadro 6, as três subescalas que constituem a SCHFI
v6.2 apresentaram valores de alpha superiores a 0.70 e estão compreendidos entre
0.736, na subescala da manutenção do autocuidado e 0.827 na subescala de
confiança no autocuidado. Nas duas primeiras subescalas, os valores observados são
bastante superiores aos obtidos em estudos desenvolvidos pelos autores da escala
original, verificando-se uma igualdade na terceira subescala.
Em sumula, podemos concluir que a escala apresenta boa ou mesmo elevada
consistência interna e boa confiabilidade no presente estudo.
Alfa de Cronbach
Subescala
Número
de itens
No presente
estudo
Em estudos
dos autores
Manutenção do autocuidado
10
0.736
0.553
Gestão do autocuidado
6
0.770
0.597
Confiança no autocuidado
6
0.827
0.827
Quadro 6 - Consistência interna das subescalas da SCHFI v6.2
Os dados que constituem o Quadro 7 permitem-nos conhecer a tendência de resposta
dos inquiridos aos itens que constituem a subescala referente à dimensão manutenção
de autocuidado. Verificamos que 36.69% afirmaram que nunca ou raramente se
pesavam sozinhos, seguidos de 35.4% que o faziam às vezes; quanto à inspeção dos
73
tornozelos dirigida à procura de inchaço, 35.5% afirmaram que a faziam às vezes,
seguidos de 29.2% que o faziam sempre ou diariamente; 47.7% nunca ou raramente
evitavam adoecer, fazendo vacinas da gripe ou evitando o contacto com pessoas
doentes; 78.5% nunca ou raramente praticavam algum tipo de atividade física; 64.6%
sempre ou diariamente cumprem as orientações dos médicos ou dos enfermeiros e
igual percentagem sempre ou diariamente praticam uma alimentação com baixo teor
de sal; 78.5% nunca ou raramente se exercita durante 30 minutos por dia; 81.5%
nunca ou raramente se esquecem de tomar algum dos medicamentos; 64.6% nunca
ou raramente pedem alimentos com baixo teor de sal quando fazem refeições fora de
casa; 78.5% sempre ou diariamente usam um sistema (caixa de comprimidos ou
lembrete) para ajudar a controlar a toma dos medicamentos.
Nunca ou
raramente
Resposta
Item
Pesa-se sozinho?
Inspeciona os seus
tornozelos à procura de
inchaço?
Evita adoecer (ex: Faz
a vacina da gripe, evita
contacto com pessoas
doentes?
Pratica algum tipo de
atividade física?
Cumpre as orientações
dos médicos ou dos
enfermeiros?
Pratica
uma
alimentação com baixo
teor de sal?
Exercita-se
por
30
minutos dia?
Esquece-se de tomar
algum
dos
seus
medicamentos?
Pede alimentos com
baixo teor de sal
quando faz refeições
fora de casa?
Usa um Sistema (caixa
de
comprimidos,
lembrete) para o ajudar
a controlar a toma dos
medicamentos?
Às vezes
Frequentemente
Sempre ou
diariamente
n
%
n
%
n
%
n
%
24
36.9
23
35.4
17
26.2
1
1.5
5
7.7
23
35.5
18
27.7
19
29.2
31
47.7
12
18.5
1
1.5
21
32.3
51
78.5
9
13.8
3
4.6
2
3.1
-
0.0
5
7.7
18
27.7
42
64.6
5
7.7
8
12.3
10
15.4
42
64.6
51
78.5
9
13.8
2
3.1
3
4.6
53
81.5
9
13.8
1
1.5
2
3.1
42
64.6
6
9.2
5
7.7
12
18.5
14
21.5
-
0.0
-
0.0
51
78.5
Quadro 7 - Respostas aos itens da Escala de Autocuidado para a pessoa com Insuficiência
Cardíaca (dimensão “Manutenção do autocuidado”)
74
Os dados obtidos permitiram-nos constatar que todos os inquiridos afirmaram que
tiveram problemas respiratórios ou de inchaço nos tornozelos no último mês.
Quanto aos itens da dimensão gestão do autocuidado, verificamos no Quadro 8 que
43.1% dos elementos da amostra afirmaram que reconheceram de forma lenta os
sintomas como sendo de IC; 50.8% consideraram nada provável a redução de sal da
dieta; 66.2% afirmaram como sendo nada provável reduzir a quantidade de líquidos
ingeridos; 87.7% também consideram nada provável tomar um diurético extra; 52.3%
afirmaram ser provável contactar com o seu médico ou enfermeiro para
aconselhamento; 58.5% responderam que não tentaram nada quando questionados
sobre o facto de estarem certos que o procedimento adotado tenha ajudado na
melhoria dos sintomas de IC.
Resposta
Item
Com que rapidez
reconheceu estes
sintomas
como
de insuficiência
cardíaca?
Não tive estes
sintomas
n
%
-
0.0
Não
reconheci
estes
problemas
n
%
22
33.8
De forma
lenta
De forma
normal
Rapidamente
De forma
muito
rápida
n
%
n
%
n
%
n
%
28
43.1
5
7.7
8
12.3
2
3.1
----
Nada
provável
n
%
Pouco
provável
n
%
n
%
----
----
33
50.8
3
4.6
12
18.5
17
26.2
----
----
43
66.2
8
12.3
8
12.3
6
9.2
----
----
57
87.7
2
3.1
2
3.1
4
6.2
----
----
3
4.6
11
16.9
34
52.3
17
26.2
----
Não tentei
nada
Resposta
----
----
Item
Reduzir o sal na
sua dieta
Reduzir
a
quantidade
de
líquidos por si
ingeridos
Tomar
um
diurético
(comprimido para
eliminar
os
líquidos) extra
Contactar o seu
médico
ou
enfermeiro para
aconselhamento
----
Resposta
Não tenho
a certeza
Tenho
uma vaga
ideia
n
%
Provável
Tenho a
certeza
Muito
provável
n
%
Tenho a
certeza
absoluta
n
%
Item
n
%
n
%
n
%
n
%
Está certo sobre
o
facto
do
38
58.5 10 15.4
---3
4.6
7
10.8
7
10.8
procedimento ter
ajudado ou não?
Quadro 8 - Respostas aos itens da Escala de Autocuidado para a pessoa com Insuficiência
Cardíaca (dimensão “Gestão do autocuidado”).
75
No Quadro 9 apresentamos as respostas dos inquiridos nos itens da subescala
relativa à dimensão confiança no autocuidado. Verificamos que 49.2% se afirmaram
nada confiantes em manter-se livres de sintomas de IC; 60.0% declararam estar muito
confiantes ao seguir o tratamento que lhes foi aconselhado; 47.7% referiram o mesmo
nível de confiança perante a avaliação dos sintomas; 49.2% também disseram estar
muito confiantes no reconhecimento de mudanças que possam ocorrer na saúde; com
a mesma percentagem disseram não estar confiantes em fazer alguma coisa que
alivie os sintomas; 44.6% afirmaram estar pouco confiantes com a avaliação da
eficácia de um qualquer procedimento.
Resposta
Item
Manter-se livre de sintomas de
insuficiência cardíaca?
Seguir o tratamento que lhe
tenha sido aconselhado?
Avaliar a importância dos seus
sintomas?
Reconhecer mudanças na sua
saúde se estas ocorreram?
Fazer alguma coisa que alivie os
seus sintomas?
Avaliar a eficácia de um
qualquer procedimento?
Nada
confiante
n
%
49.
32
2
Pouco
confiante
n
%
33.
22
8
-
0.0
6
7
10.
8
20
3
4.6
23
32
19
49.
2
29.
2
19
29
9.2
30.
8
35.
4
29.
2
44.
6
Muito
confiante
n
%
Extremamen
-te confiante
n
%
8
12.3
3
4.6
39
60.0
20
30.8
31
47.7
7
10.8
32
49.2
7
10.8
11
16.9
3
4.6
12
18.5
5
7.7
Quadro 9 - Respostas aos itens da Escala de Autocuidado para a pessoa com Insuficiência
Cardíaca (dimensão “Confiança no autocuidado”)
Com base nas respostas fornecidas aos itens anteriores pudemos avaliar a adequação
do autocuidado da pessoa com IC. Os resultados que apresentamos no Quadro 10
revelam que na subescala referente à dimensão manutenção do autocuidado, foram
observados scores compreendidos entre 16.70 e 93.30, sendo o valor médio
51.28±15.49. Metade dos inquiridos obtiveram resultados iguais ou inferiores a 50.00 e
a distribuição de frequências dos resultados apresentou caraterísticas próximas de
uma distribuição normal (p = 0.200). Nesta dimensão 87.7% dos inquiridos revelaram
uma capacidade de autocuidado não adequada.
Para a subescala relativa à dimensão gestão do autocuidado observaram-se scores
entre 0.00 e 85.00, sendo o valor médio 31.00±22.56. Metade dos indivíduos
apresentaram scores iguais ou inferiores a 20.00 e a distribuição de frequências
afastou-se significativamente de uma distribuição normal (p = 0.000). Verificamos que
90.8% dos elementos da amostra evidenciaram uma capacidade para o autocuidado
não adequada.
76
Quanto à dimensão confiança no autocuidado, observamos scores compreendidos
entre 11.10 e 100.00, tendo como valor médio 44.44±19.72. Nesta dimensão, metade
dos doentes apresentou scores iguais ou inferiores a 44.44 e a distribuição de
frequências dos resultados afastou-se das caraterísticas de uma distribuição normal (p
= 0.045). Verificamos, ainda, que 93.8% dos indivíduos revelaram uma capacidade de
autocuidado não adequada.
Em sumula e para responder à questão «qual o nível de adequação do autocuidado
da pessoa com insuficiência cardíaca?» podemos afirmar que os doentes
evidenciaram capacidade para o autocuidado não adequada, sendo menos adequada
nas dimensões gestão do autocuidado e de confiança no autocuidado e um pouco
mais adequada na dimensão manutenção do autocuidado.
Dimensão
n
%
Manutenção do autocuidado
Capacidade de autocuidado não adequada (Score < 70)
57
87.7
Capacidade de autocuidado adequada (Score ≥ 70)
8
12.3
̅ = 51.28; Md = 50.00; s = 15.49; xmin = 16.70; xmáx = 93.30; p = 0.200
Gestão do autocuidado
Capacidade de autocuidado não adequada (Score < 70)
59
90.8
Capacidade de autocuidado adequada (Score ≥ 70)
6
9.2
̅ = 31.00; Md = 20.00; s = 22.56; xmin = 0.00; xmáx = 85.00; p = 0.000
Confiança no autocuidado
Capacidade de autocuidado não adequada (Score < 70)
61
93.8
Capacidade de autocuidado adequada (Score ≥ 70)
4
6.2
̅ = 44.44; Md = 44.44; s = 19.72; xmin = 11.10; xmáx = 100.00; p = 0.045
Quadro 10 - Resultados da aplicação da Escala de Autocuidado para a pessoa com
Insuficiência Cardíaca
Para responder à questão «Qual a relação entre a idade e o nível de adequação do
autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca?» procedemos ao estudo da
correlação entre as duas variáveis através do coeficiente de correlação de Spearman
e do respetivo teste de significância. Os resultados que constituem o Quadro 11
permitem-nos afirmar que existe correlação estatisticamente significativa nas
dimensões gestão do autocuidado (p = 0.002) e confiança no autocuidado (p = 0.000).
Atendendo a que, em ambas as dimensões, a correlação é negativa podemos, ainda,
afirmar que os indivíduos mais velhos tendem a evidenciar menor nível de adequação
do autocuidado.
Com o objetivo de fazer uma análise mais minuciosa procedemos ao estudo da
correlação entre a idade e cada um dos itens das duas dimensões atrás referidas.
Verificámos a existência de correlações estatisticamente significativas nos itens “Com
que rapidez reconheceu estes sintomas como de insuficiência cardíaca?” (rs = -0.26; p
77
= 0.045), “Reduzir a quantidade de líquidos por si ingeridos” (rs = -0.33; p = 0.008) e
“Tomar um diurético (comprimido para eliminar os líquidos) extra” (r s = -0.27; p =
0.030) da dimensão gestão do autocuidado e nos itens “Está certo sobre o facto do
procedimento ter ajudado ou não?” (rs = -0.32; p = 0.010), “Manter-se livre de sintomas
de insuficiência cardíaca?” (rs = -0.30; p = 0.017), “Seguir o tratamento que lhe tenha
sido aconselhado?” (rs = -0.25; p = 0.048), “Avaliar a importância dos seus sintomas?”
(rs = -0.43; p = 0.000), “Reconhecer mudanças na sua saúde se estas ocorreram?” (rs
= -0.33; p = 0.007), “Fazer alguma coisa que alivie os seus sintomas?” (r s = -0.26; p =
0.035) e “Avaliar a eficácia de um qualquer procedimento?” (rs = -0.25; p = 0.043) da
dimensão confiança no autocuidado.
Dimensão
Idade
rs
+0.02
-0.38
-0.43
n
65
65
65
Manutenção do autocuidado
Gestão do autocuidado
Confiança no autocuidado
p
0.860
0.002
0.000
Quadro 11 - Resultados do estudo da correlação entre a Escala de Autocuidado e a idade da
pessoa com Insuficiência Cardíaca
A resposta à questão «Qual a relação entre o estado civil e o nível de adequação
da pessoa com insuficiência cardíaca?» foi obtida através da aplicação do teste U
de Mann-Whitney para comparar os scores do autocuidado em função da facto do
indivíduo ter o estado civil de casado/união de facto ou ter qualquer outro estado civil.
Os resultados que apresentamos no Quadro 12 revelam que não se verifica diferença
estatisticamente significativa em qualquer das dimensões. Assim, concluímos que o
estado civil do indivíduo com IC não influencia significativamente o nível de adequação
do autocuidado que ele evidencia.
Dimensão
Estado civil (agrupado)
Manutenção do autocuidado
Casado(a) / União de
facto
Outros
Gestão do autocuidado
Casado(a) / União de
facto
Outros
Confiança no autocuidado
Casado(a) / União de
facto
Outros
n
̅
̅
Md
z
p
35
30
33.63
32.27
51.81
50.67
50.00
51.67
-0.290
0.771
35
30
31.36
34.92
29.71
32.50
15.00
25.00
-0.765
0.444
35
30
32.79
33.25
44.60
44.26
44.44
44.44
-0.099
0.921
Quadro 12 - Resultados da comparação da Escala de Autocuidado em função do estado civil
da pessoa com Insuficiência Cardíaca
78
De modo semelhante, ou seja, aplicando o teste U de Mann-Whitney procedemos ao
estudo conducente a obter a resposta para a questão «Qual a relação entre o género
e o nível de adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca?».
Analisando os resultados que constituem o Quadro 13 podemos verificar que nenhuma
das diferenças observadas pode ser considerada estatisticamente significativa (p>
0.050). Este facto permite-nos concluir que o nível de adequação do autocuidado das
pessoas do género feminino com IC é semelhante ao evidenciado pelas pessoas do
género masculino.
Dimensão
Género
Manutenção do autocuidado
Feminino
Masculino
Gestão do autocuidado
Feminino
Masculino
Confiança no autocuidado
Feminino
Masculino
̅
n
̅
Md
z
p
25
40
34.34
32.16
52.00
50.83
53.33
48.33
-0.453
0.6
50
25
40
36.26
30.96
35.00
28.50
35.00
17.50
-1.111
0.2
67
25
40
33.08
32.95
45.33
43.89
50.00
44.44
-0.027
0.9
78
Quadro 13 - Resultados da comparação da Escala de Autocuidado em função do género da
pessoa com Insuficiência Cardíaca
Através da aplicação do teste Kruskal-Wallis procedemos ao estudo necessário para
obter resposta à questão «Qual a relação entre as habilitações literárias e o nível
de adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca?». Como
podemos verificar pelos resultados que constituem o Quadro 14, apenas se observa a
existência de alguma diferença significativa em termos de confiança no autocuidado (p
= 0.002). A comparação dos valores observados para as medidas de tendência central
permitem-nos constatar que a maior diferença existe entre a adequação do
autocuidado revelada pelas pessoas com o 1º Ciclo do Ensino Básico e os restantes
dois grupos, apresentando estes valores próximos. Concluímos assim que o nível de
adequação do autocuidado é diferente conforme as habilitações literárias das pessoas
com IC, particularmente em termos de confiança no autocuidado, sendo mais baixa
para aquelas que possuem menores habilitações literárias.
Aplicando o estudo aos itens que constituem a dimensão inerente à confiança no
autocuidado verificamos a existência de diferenças estatisticamente significativas nos
itens “Avaliar a importância dos seus sintomas?” (p = 0.023), “Fazer alguma coisa que
alivie os seus sintomas?” (p = 0.002) e “Avaliar a eficácia de um qualquer
79
procedimento?” (p = 0.013). Em todos estes itens a tendência foi idêntica à observada
para o global da dimensão, ou seja, as pessoas com menores habilitações literárias
tendem a evidenciar níveis mais baixos de adequação do autocuidado.
Dimensão
Habilitações literárias
Manutenção do autocuidado
1º Ciclo do Ensino
Básico
2º e 3º Ciclo do Ensino
Básico
Ensino Secundário ou
Superior
Gestão do autocuidado
1º Ciclo do Ensino
Básico
2º e 3º Ciclo do Ensino
Básico
Ensino Secundário ou
Superior
Confiança no autocuidado
1º Ciclo do Ensino
Básico
2º e 3º Ciclo do Ensino
Básico
Ensino Secundário ou
Superior
n
̅
̅
Md
2
p
46
6
13
32.51
23.42
39.15
51.01
43.89
55.64
50.00
43.33
53.33
2.968
0.227
46
6
13
30.93
34.25
39.73
28.48
32.50
39.23
20.00
20.00
45.00
2.270
0.321
46
6
13
27.77
48.17
44.50
39.73
56.48
55.56
38.89
58.33
55.56
12.302
0.002
Quadro 14 - Resultados da comparação da Escala de Autocuidado em função das habilitações
literárias da pessoa com Insuficiência Cardíaca
Usando, novamente, o teste U de Mann-Whitney podemos obter informação para
responder à questão «Qual a relação entre a área de residência e o nível de
adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca?». Como se
constata pelos resultados que constituem o Quadro 15, não se observou a existência
de qualquer diferença estatisticamente significativa (p> 0.050). Estes resultados
levam-nos a responder negativamente à questão colocada ou, por outras palavras,
não existem evidências que nos permitam afirmar que o nível de adequação do
autocuidado é diferente conforme a área de residência da pessoa com IC.
80
Dimensão
Área de residência
Manutenção do autocuidado
Área urbana
Área rural
Gestão do autocuidado
Área urbana
Área rural
Confiança no autocuidado
Área urbana
Área rural
n
̅
̅
Md
z
p
34
31
31.74
34.39
50.20
52.47
48.33
53.33
-0.567
0.571
34
31
33.50
32.45
32.35
29.52
20.00
20.00
-0.226
0.821
34
31
35.16
30.63
46.73
41.94
47.22
44.44
-0.970
0.332
Quadro 15 - Resultados da comparação da Escala de Autocuidado em função da área de
residência da pessoa com Insuficiência Cardíaca
A questão «Qual a relação entre o tempo de diagnóstico e o nível de adequação
do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca?» foi respondida através do
estudo da correlação entre as duas variáveis usando o coeficiente de correlação de
Spearman e do respetivo teste de significância. Atendendo aos resultados que
constituem o Quadro 16 podemos afirmar que não existe qualquer correlação
estatisticamente significativa entre o tempo de diagnóstico e as dimensões da escala
de avaliação do autocuidado. Este facto leva-nos a responder negativamente à
questão colocada.
Tempo de diagnóstico
n
rs
p
51
0.08
0.574
51
-0.18
0.200
51
-0.12
0.421
Dimensão
Manutenção do autocuidado
Gestão do autocuidado
Confiança no autocuidado
Quadro 16 - Resultados do estudo da correlação entre a Escala de Autocuidado e o tempo de
diagnóstico da pessoa com Insuficiência Cardíaca
Através do teste U de Mann-Whitney obtivemos informação para responder à questão
«Qual a relação entre ter estado hospitalizado ou recorrer à assistência de saúde
nos últimos doze meses e o nível de adequação do autocuidado da pessoa com
Insuficiência cardíaca?». Como podemos verificar (Quadro 17) existem diferenças
estatisticamente significativas nas dimensões manutenção do autocuidado (p = 0.026)
e gestão do autocuidado (p = 0.018). Os resultados obtidos para as médias e mediana
revelam que as pessoas que foram hospitalizadas ou recorreram a assistência de
saúde nos últimos doze meses evidenciam maior nível de adequação do autocuidado.
81
Aplicando o estudo aos itens que constituem as duas dimensões podemos constatar
que as diferenças estatisticamente significativas ocorreram no item “Inspeciona os
seus tornozelos à procura de inchaço?” (p = 0.023) e “Com que rapidez reconheceu
estes sintomas como de insuficiência cardíaca?” (p = 0.022), sendo a tendência de
respostas semelhante à verificada para o global de ambas as dimensões.
Dimensão
Hospitalização ou
assistência de saúde
Manutenção do autocuidado
Não
Sim
Gestão do autocuidado
Não
Sim
Confiança no autocuidado
Não
Sim
n
̅
̅
Md
z
p
32
33
27.72
38.12
47.19
55.25
43.33
53.33
-2.225
0.026
32
33
27.42
38.41
24.69
37.12
15.00
35.00
-2.367
0.018
32
33
29.59
36.30
41.32
47.48
38.89
50.00
-1.437
0.151
Quadro 17 - Resultados da comparação da Escala de Autocuidado em função do facto da
pessoa com Insuficiência Cardíaca ter sido hospitalizada ou ter procurado assistência de saúde
nos últimos doze meses
Aplicando uma vez mais o teste Kruskal-Wallis, obtivemos a informação necessária
para responder à questão «Qual a relação entre a independência nas atividades de
vida diária e o nível de adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência
cardíaca?». Como podemos constatar (Quadro 18) não se observou qualquer
diferença estatisticamente significativa (p> 0.050) pelo que a resposta à questão
formulada é negativa. Tal facto significa que o nível de adequação do autocuidado não
é influenciado pela independência nas atividades diárias da pessoa com IC.
82
Dimensão
̅
Md
30.86
50.48
46.67
39
32.77
51.20
53.33
A doença impede de realizar a
maioria das atividades diárias
Gestão do autocuidado
18
32.56
51.67
46.67
A doença não impede de realizar
as atividades diárias
7
36.64
36.43
30.00
A doença impede de realizar
algumas das atividades diárias
39
31.01
28.46
20.00
A doença impede de realizar a
maioria das atividades diárias
Confiança no autocuidado
18
34.11
35.28
27.50
A doença não impede de realizar
as atividades diárias
7
48.21
45.99
55.56
A doença impede de realizar
algumas das atividades diárias
39
30.00
42.31
44.44
A doença impede de realizar a
maioria das atividades diárias
18
31.81
42.59
41.67
Independência nas
atividades diárias
Manutenção do autocuidado
n
A doença não impede de realizar
as atividades diárias
7
A doença impede de realizar
algumas das atividades diárias
̅
2
p
0.063
0.969
0.745
0.689
5.768
0.056
Quadro 18 - Resultados da comparação da Escala de Autocuidado em função da
independência nas atividades diárias da pessoa com Insuficiência Cardíaca
O estudo da correlação através do cálculo do coeficiente de Spearman e da aplicação
do respetivo teste de significância permitem-nos responder à questão «Qual a relação
entre a fração de ejeção do ventrículo esquerdo e o nível de adequação do
autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca?». Os resultados que
apresentamos no Quadro 19 permitem-nos afirmar que, apenas, existe correlação
estatisticamente significativa na dimensão manutenção do autocuidado. Este facto,
permite-nos responder positivamente à questão colocada e, atendendo a que a
correlação é positiva, concluímos que as pessoas que apresentam maior fração de
ejeção do ventrículo esquerdo tendem a evidenciar melhor manutenção do
autocuidado.
83
Com o objetivo de fazer uma análise mais minuciosa procedemos ao estudo da
correlação entre a fração de ejeção do ventrículo esquerdo e as dimensões de
manutenção, gestão e confiança, tendo constatado a existência de correlação positiva
e estatisticamente significativa no item “Pratica uma alimentação com baixo teor de
sal?” (rs = +0.35; p = 0.005).
Dimensão
n
60
60
60
Manutenção do autocuidado
Gestão do autocuidado
Confiança no autocuidado
FEVE
rs
+0.27
+0.12
+0.09
p
0.030
0.348
0.515
Quadro 19 - Resultados do estudo da correlação entre a Escala de Autocuidado e os valores
da FEVE apresentados pela pessoa com Insuficiência Cardíaca
Através do cálculo do coeficiente de correlação de Spearman e da aplicação do
respetivo teste de significância obtivemos informação para responder à questão «Qual
a relação entre o número de fatores de risco/doenças e o nível de adequação do
autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca?». Analisando os resultados
que constam do Quadro 20 podemos afirmar que, apenas, existe correlação
estatisticamente significativa entre a dimensão inerente à confiança no autocuidado e
o número de fatores de risco/doenças. Este facto leva-nos a responder positivamente
à questão colocada e, atendendo a que a correlação é negativa, podemos, também,
afirmar que as pessoas que apresentam maior número de fatores de risco/doenças
tendem a evidenciar menor confiança no autocuidado.
O estudo realizado para cada um dos seis itens que constituem esta dimensão revelou
a existência de correlações significativas nos itens “Fazer alguma coisa que alivie os
seus sintomas?” (rs = -0.42; p = 0.000) e “Avaliar a eficácia de um qualquer
procedimento?” (rs = -0.28; p = 0.022). Como se constata, em ambos também
obtivemos correlações negativas.
Dimensão
Manutenção do autocuidado
Gestão do autocuidado
Confiança no autocuidado
n
65
65
65
Número de fatores de risco/doenças
rs
p
-0.13
0.305
-0.20
0.109
0.002
-0.37
Quadro 20 - Resultados do estudo da correlação entre a Escala de Autocuidado e o número de
fatores de risco/doenças apresentadas pela pessoa com Insuficiência Cardíaca
84
3 - DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Nesta parte do trabalho procedemos à discussão dos resultados obtidos através da
análise inferencial dos dados, tendo por base as questões de investigação formuladas,
sendo que daremos apenas enfoque às questões onde se comprovou existir
correlação estatisticamente significativa. Assim, através da análise dos resultados
obtidos neste estudo e atendendo aos estudos consultados aquando da pesquisa
bibliográfica, iremos procurar possíveis explicações para os resultados encontrados no
decorrer do mesmo.
Procedeu-se à análise individual das três dimensões da escala, seguida da análise e
interpretação das questões de investigação, nas quais se comprovou existir relação
estatisticamente significativa.
A IC é uma patologia complexa e progressiva, que apesar dos avanços técnico
científicos de diagnóstico e da evolução dos tratamentos farmacológicos, continua a
evidenciar elevadas taxas de mortalidade bem como a diminuição da capacidade
funcional das pessoas, contribuindo para o aumento das taxas de internamento e
reinternamento hospitalar (Ceia et al., 2005; Scattolin et al., 2007; Linhares et al.,
2010).
É nosso propósito saber qual o nível de adequação do Autocuidado da Pessoa com
IC, para que o enfermeiro possa intervir neste contexto, de forma a melhorar os
comportamentos de adesão ao regime terapêutico, quer farmacológico, quer não
farmacológico.
A IC é responsável pela diminuição da capacidade funcional das pessoas, o que se
traduz em elevadas taxas de morbilidade. Estas caraterísticas contribuem ainda para o
aumento da prevalência da IC, que se estima aumentar entre 50% a 75% até 2030 em
Portugal. Um dos fatores que poderá contribuir para o seu aumento está relacionado
com a idade da população, que é cada vez mais envelhecida, assim como com as
comorbilidades associadas, que também estão presentes e em maior número, à
medida que a população envelhece (Ceia et al., 2005; Rabelo et al.,2007; Fonseca,
2009). O facto das pessoas que constituem a amostra serem maioritariamente idosas,
contribuirá para que melhor possamos compreender os resultados obtidos.
85
O autocuidado reflete a capacidade que as pessoas têm de fazer progressos
envolvendo a escolha dos comportamentos para manter a estabilidade física
(manutenção) e a resposta aos sintomas, quando estes ocorrem (gestão). Os estudos
indicam que as pessoas com bom nível de adequação de manutenção do autocuidado
são as que praticam um estilo de vida saudável, com boa adesão ao regime
medicamentoso e que monitorizam os sintomas. A monitorização de sintomas é
essencial para uma boa gestão do autocuidado, pois refere-se à capacidade de tomar
decisões em resposta aos sintomas (Riegel et al., 2009).
A prática baseada em evidências científicas, que consequentemente se reflete na
qualidade dos cuidados de enfermagem e na satisfação das pessoas com IC, constitui
um fator decisivo no processo de tomada de decisão. O relacionamento que a pessoa
estabelece com a manutenção e a gestão do autocuidado, constitui também uma das
variáveis que pode ser tida em consideração no processo de adaptação e
reestruturação do estilo de vida da pessoa com IC (Riegel et al., 2009; Mendes,
Bastos & Paiva, 2010).
Segundo Seto et al. (2011), a existência de uma prática de autocuidado adequada
traduz-se em benefícios para a pessoa, na medida em que lhe permite alcançar
melhores resultados de saúde, contribui para a diminuição de reinternamentos, bem
como para a redução dos custos de saúde. Reflete-se no aumento de conhecimento
para o autocuidado (ao nível do tratamento e da manutenção dos sintomas), bem
como na melhoria da qualidade de vida da pessoa com IC.
De acordo com Riegel et al. (2009), as três subescalas da SCHFI v6.2 devem ser
avaliadas separadamente (dimensões: manutenção, gestão e confiança), sendo que a
pontuação (score) de cada subescala varia entre 0 e 100 e que para uma pontuação
superior ou igual a 70 é considerado que o autocuidado é adequado. Para a amostra
em estudo, tendo em conta que os scores obtidos pela aplicação da escala SCHFI
v6.2 são inferiores a 70% e na tentativa de dar reposta a uma das questões de
investigação de estudo, podemos apurar que as pessoas evidenciam uma capacidade
para o autocuidado não adequada, sendo menos adequada nas dimensões gestão e
confiança do autocuidado e um pouco mais adequada na dimensão manutenção do
autocuidado.
No estudo da dimensão manutenção do autocuidado, verificamos que os itens que
tiveram menor adesão por parte dos inquiridos foram: a monitorização do peso
(36.69% nunca se pesavam e 35.4% pesavam-se às vezes); monitorização de edemas
86
(35.5% inspecionavam às vezes os tornozelos à procura de inchaço); imunização
(47.7% nunca ou raramente evitavam adoecer fazendo vacinas da gripe ou evitando
contacto com pessoas doentes); ingestão de dieta com baixo teor de sal quando faz
refeições fora de casa (64.6% refere nunca ou raramente pedir); a atividade física
(78.5% nunca ou raramente se exercita), bem como o exercício durante 30 minutos
(78.5% nunca ou raramente se exercita durante 30 minutos).
Contudo, os itens de autocuidado mais adequado demonstrado pelas pessoas que
constituíram a amostra foram: o cumprimento das orientações dadas pelos médicos ou
enfermeiros (64.6% cumprem sempre ou diariamente); prática de uma alimentação
com baixo teor de sal (64.6% referem fazê-lo sempre ou diariamente); o cumprimento
da toma da medicação (81.5% cumprem sempre ou diariamente a medicação); o uso
de dispositivos auxiliares – caixa de medicação, lembretes (78.5% refere fazer uso
sempre ou diariamente).
Os estudos de Evangelista & Dracup (2000) evidenciaram que os fatores que
exercem influência direta na adesão ao tratamento são os que se referem à
medicação, à quantidade utilizada, à manutenção do regime terapêutico e ao número
de doses diárias, existindo uma taxa de adesão à terapêutica que oscila entre 20% e
58%. Porém, a taxa de adesão à toma da medicação demonstrou ser muito superior
(81.5%) para a amostra em estudo. Este valor pode ser explicado pelo facto de existir
envolvimento por parte da equipa de enfermagem e médica em rever o regime
medicamentoso junto do doente durante o internamento, dando ênfase ao nome da
medicação, das suas indicações, doses, horários e possíveis efeitos secundários,
entre outras, estratégias também corroboradas por Evangelista e Dracup (2000). Outra
explicação prende-se com o incentivo ao uso de um sistema, quer seja através do uso
de caixa de comprimidos, quer seja por sistema de lembrete, que tem uma grande
adesão por parte dos elementos da amostra em estudo (78.5%).
A atividade física é aconselhada a todas as pessoas com IC estáveis, não existindo
evidências para que esta deva ser limitada a um determinado subgrupo de pessoas
com IC. A atividade física permite aumentar a capacidade de exercício, reduzir os
sintomas durante o mesmo e melhorar a qualidade de vida. Apesar dos benefícios da
atividade física no tratamento da IC, muitas pessoas consideram que a realização
dessa prática de autocuidado é mais difícil do que as práticas relacionadas com a
toma da medicação, modificações dietéticas ou restrição hídrica (Oliveira et al., 2013).
A amostra em estudo apresenta uma baixa adequação do autocuidado nesta prática, o
que pode ser explicado com base na faixa etária, uma vez que que à medida que a
87
idade avança, as limitações na locomoção tendem a aumentar. A intolerância ao
esforço físico pode ser uma das razões explicativas para os resultados encontrados,
tal como o desconhecimento por parte dos participantes, justificando a não realização
de exercício físico com o facto de esforçarem o coração (órgão que se encontra já
lesado), aliado ao receio de não conseguirem tolerar o esforço físico, por
desconhecerem qual o tipo de atividade física mais adequada à sua função cardíaca
(Seto et al., 2011). A inexistência de centros recreativos para adultos, a falta de tempo
e a falta de segurança são justificações descritas no estudo de Holguín, Gazquez e
Urrego (2014).
O baixo nível de adequação do autocuidado encontrado para os itens da
monitorização de peso, vigilância de edemas, imunização pode ser explicado pelo
desconhecimento dos elementos da amostra sobre o verdadeiro fundamento para a
sua realização. No caso da monitorização do peso e vigilância dos edemas, a baixa
percentagem de pessoas que a realiza pode ser explicada pelo desconhecimento dos
valores de referência e atitudes a tomar no caso de existirem alterações dos valores
considerados normais. Outro motivo relevante é a inexistência de recursos materiais
no domicílio (e.g. balança e fita métrica) para monitorização de alguns parâmetros,
uma vez que as pessoas só têm acesso a estes meios quando se deslocam às
consultas ou a uma farmácia. Se por um lado, com o progredir da idade, as pessoas
podem não apresentar os conhecimentos necessários para o efeito, por outro podem
também não conseguir monitorizar o peso por apresentarem algum tipo de
desequilíbrio na marcha e/ou limitação motora (Seto et al., 2011; Holguín, Gazquez &
Urrego, 2014).
Quanto à imunização, também continua a ser uma prática com elevada percentagem
de não cumprimento (47.7%), facilmente explicada pelo receio que as pessoas têm em
contrair síndrome gripal após a sua administração (um dos seus efeitos secundários).
Outra explicação encontrada, reside na dificuldade sentida por parte das pessoas em
recorrer atempadamente aos serviços de saúde na comunidade para efeitos de
imunização. Por outro lado, a baixa adesão parece estar associada ao facto das
pessoas não valorizarem a importância da imunização, uma vez que desconhecem as
suas vantagens (Holguín, Gazquez & Urrego, 2014).
Quando questionados sobre o teor de sal na alimentação, verificamos que 64.4% dos
respondentes referem fazê-lo sempre ou diariamente, enquanto que 64.6% referem
que nunca ou raramente “pede alimentos com baixo teor de sal quando faz refeições
fora de casa”. Na amostra em estudo, constituída essencialmente por idosos, esta
88
discrepância de resultados pode ser facilmente explicada pelo facto da maioria dos
inquiridos raramente realizarem refeições fora de casa, sendo que em casa realizam
refeições com baixo teor de sal, uma vez que na maior parte dos casos as refeições
são fornecidas por instituições que levam em linha de conta as especificações
dietéticas de cada pessoa. A elevada adesão às refeições com baixo teor em sal pode
ser também explicada pelo ensino realizado em consulta e pelo facto de que sempre
que as pessoas se encontram internadas a dieta fornecida é pobre em sal, o que faz
com que facilmente adiram a este regime alimentar.
Van Der Wal et al. (2005) constataram que as maiores taxas de não adesão referemse à dieta e restrição de líquidos, à monitorização de peso diário e à atividade física e
repouso. Resultados que são parcialmente sobreponíveis aos do presente estudo.
Estes podem ser explicados pelo facto de ao longo dos anos se verificar uma evolução
ao nível dos tratamentos farmacológicos e não farmacológicos, tornando por isso mais
complexa a gestão do regime terapêutico para as pessoas com IC, o que se traduz
numa baixa adesão ao regime medicamentoso e consequentemente num autocuidado
inadequado.
Sobre a adequação da gestão do autocuidado, o pleno de respostas dos elementos da
amostra é justificado pelo facto destes se encontrarem internados, sendo que os
motivos de procura de cuidados de saúde são maioritariamente devido, a dispneia ou
aumento dos edemas.
Ainda sobre a gestão do autocuidado verificamos que 43.1% dos elementos da
amostra afirmaram ter reconhecido de forma lenta os sintomas como sendo de IC. Isto
permite-nos constatar que os elementos da amostra ainda não estão despertos para
os sinais e sintomas, não sendo por isso capazes de gerir o autocuidado.
Ao compararmos o resultado desta dimensão com a dimensão manutenção, podemos
afirmar que o não reconhecimento do surgimento súbito dos sintomas de IC, pode ser
visto como uma consequência da baixa adesão aos itens do cumprimento de medidas
não farmacológicas (e.g. monitorização de peso, vigilância de edemas). Uma outra
explicação para os resultados obtidos, pode-se relacionar com a baixa motivação das
pessoas para a gestão do autocuidado, resultante do baixo impacto que a
sintomatologia tem no desenvolvimento das suas atividades de vida diária (Riegel et
al., 2011; Lee et al.,2013; Gonçalves & Albuquerque, 2014).
A análise realizada permite constatar que a procura de ajuda junto de profissionais de
saúde apresenta a melhor adesão (52.3%) na presença de sinais de dispneia ou
89
edemas. 50.8% referem como nada provável adotar o procedimento de reduzir o sal
na sua dieta para reduzir os sintomas de dispneia e edemas, assim como 66.2%
referem o mesmo em relação à redução da quantidade de líquidos, sendo que mais de
metade dos elementos da amostra (87.7%) afirma como nada provável o
procedimento de tomar um diurético extra. Os valores encontrados para os
procedimentos referentes à gestão do uso do sal e da ingestão hídrica, podem-se
explicar pelo facto de não se traduzirem em efeitos imediatos na melhoria dos
sintomas, pelo que as pessoas acabam por não os adotar. Relativamente à toma de
um diurético extra, a justificação para o resultado obtido prende-se com o eventual
desconhecimento associado à permissão dessa conduta, pois os elementos da
amostra não são geralmente orientados quanto a essa prática. De acordo com o
estudo realizado por Lee et al. (2013) estes resultados podem ser explicados pelo
facto da pessoa com IC possuir conhecimento sobre quando procurar ajuda junto dos
profissionais de saúde para a auxiliar a gerir o autocuidado, mas não se sentir
capacitada para gerir o autocuidado de forma autónoma.
58.8% dos respondentes referem não ter tentado nenhum procedimento que os
pudesse ajudar a compensar a IC. Os resultados encontrados demonstram que os
elementos da amostra não se encontram capacitados para gerir adequadamente o
autocuidado, não desenvolvendo por isso competências ao nível da prevenção. Este
resultado permite-nos concluir que existe um longo caminho a percorrer por parte dos
enfermeiros no que diz respeito às atividades de educação para a saúde junto dos
beneficiários dos seus cuidados, ao treino de capacidades e à promoção de
competências de gestão do autocuidado na IC.
Quanto à confiança na adequação do autocuidado, a análise destaca que 49.2% das
pessoas da amostra se afirmaram nada confiantes em manter-se livres de sintomas de
IC, seguidos de 33.8% que referiram sentir-se pouco confiantes. Consideramos que
estes resultados podem ser explicados pelo facto de espelharem o modo como a
pessoa perceciona esta patologia (incapacitante e crónica). Apesar de terem
conhecimento de algumas medidas de intervenção face à doença, sabem que irão ter
que recorrer muitas vezes à ajuda dos profissionais de saúde (Rabelo et al., 2007).
60.0% dos elementos da amostra declararam estar muito confiantes em seguir o
tratamento que lhes foi aconselhado, 47.7% referiram o mesmo nível de confiança
perante a avaliação dos sintomas e 49.2% disseram estar muito confiantes no
reconhecimento de mudanças que possam ocorrer. Estes resultados demonstram que
apesar dos elementos da amostra se mostrarem muito confiantes em alguns itens, não
90
significa que tenham um elevado nível de adequação do autocuidado em termos da
sua manutenção ou gestão, tal como ficou comprovado anteriormente.
Verificou-se ainda que 49.2% dos inquiridos referiram não estar confiantes em fazer
algo que possa aliviar os sintomas e 44.6% afirmaram estar pouco confiantes com a
avaliação da eficácia de um qualquer procedimento, o que é sobreponível com os
resultados analisados na dimensão gestão do autocuidado.
No estudo realizado por Seto et al. (2011), verificou-se que por vezes, a pessoa com
baixo nível de adequação na autoconfiança sente maior dificuldade em praticar
comportamentos de autocuidado, especialmente se não se sentir bem (e.g. existência
de sintomas de IC), sendo que quando existe ausência de sintomas, aumenta a
confiança no autocuidado.
Apesar de a confiança influenciar o autocuidado, não é sinónimo de autocuidado.
Riegel et al. (2011); Seto et al. (2011); Lee et al. (2013), afirmam que a confiança
modera a relação entre o autocuidado e os resultados de saúde, sendo por isso
importante para explicar a adequação ao autocuidado. Porém, considerando que a
totalidade da amostra apresentou sintomas de descompensação cardíaca (sinal de
baixo nível de gestão de autocuidado) e simultaneamente menor confiança no
autocuidado, facilmente compreendemos a interligação entre as diferentes dimensões
e os baixos níveis de adequação do autocuidado.
Considerando as recomendações de Riegel et al. (2009) sobre a análise
individualizada das três dimensões da SCHI v6.2, visto que o autocuidado é melhor
representado pela manutenção e gestão e que a confiança é um processo importante
que serve de moderador de relação entre o autocuidado e os resultados, tendo
presentes as respostas obtidas nos itens anteriores, podemos avaliar a adequação do
autocuidado das pessoas com IC assim dar resposta à questão central deste estudo:
«Qual o nível de adequação do autocuidado da pessoa com Insuficiência Cardíaca?»
A análise realizada permite concluir que os elementos da amostra evidenciaram
capacidade não adequada para o autocuidado, sendo menos adequada na gestão do
autocuidado e na confiança no autocuidado. Ao invés, é na manutenção do
autocuidado que os elementos da amostra em estudo evidenciam uma melhor
adequação. Apesar destes resultados, eles aproximam-se dos obtidos por Riegel et al.
(2009) nos Estados Unidos, Austrália, México e Tailândia, utilizando o mesmo
instrumento de avaliação do nível de adequação do autocuidado, onde constataram
igualmente, que as pessoas com IC apresentam baixos níveis de adequação do
91
autocuidado. Estamos em condições de poder afirmar que ainda existe um longo
percurso a percorrer na sensibilização e potenciação dos recursos das pessoas com
IC. Pela proximidade que mantêm junto dos beneficiários dos seus cuidados, os
enfermeiros são os profissionais melhor colocados para a potenciação das atividades
de adequação do autocuidado.
No que se refere à questão de investigação: «Qual a relação entre a idade e o nível de
adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca?», verificamos que
existe relação significativa com a adequação da gestão do autocuidado e confiança no
autocuidado, embora seja negativa, o que nos impele a afirmar que as pessoas mais
velhas tendem a evidenciar menor nível de adequação do autocuidado.
Da análise efetuada, especificamente no que diz respeito à adequação da gestão do
autocuidado e confiança no autocuidado, sobressai que à medida que a idade
aumenta há um agravamento da inadequação do autocuidado no que diz respeito ao
reconhecimento dos sintomas, à gestão medicamentosa, ao controlo da ingestão
hídrica e à segurança que têm em desenvolver as atividades. Se pensarmos que as
pessoas mais jovens possuem melhor capacidade de adaptação a novas condições de
vida, facilmente compreendemos que as pessoas mais velhas apresentam menor
capacidade de adaptação e predisposição para mudar comportamentos. Também os
estudos de Riegel et al. (2009), mostram que as pessoas mais jovens apresentavam
scores mais elevados de autocuidado de gestão e manutenção, pois assumiam
estratégias e habilidades para tomarem decisões sobre os seus cuidados de saúde,
enquanto que os mais idosos apenas aguardavam pelas recomendações dos
profissionais de saúde.
Na mesma linha de pensamento, Falk et al. (2013) concluíram que o baixo nível de
autocuidado manifestado pelas pessoas idosas, pode ser explicado pelo facto destas
apresentarem sintomas graves e frequentes que limitam vários aspetos da sua vida,
tornando-as dependentes de terceiros, na sua sobrevivência.
No que se refere à questão de investigação: «Qual a relação entre as habilitações
literárias e o nível de adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência
cardíaca?»
Sobressai da análise dos resultados que o nível de adequação do autocuidado é
diferente conforme as habilitações literárias das pessoas com IC, particularmente em
termos de confiança no autocuidado, sendo mais baixa para as que possuem menores
habilitações literárias.
92
Estes resultados realçam também que o facto das pessoas com maior escolaridade
apresentarem maior confiança no autocuidado, não significa que possuam maior
literacia em saúde. Esta constatação pode estar na base da explicação dos motivos de
não existirem correlações com as outras dimensões em estudo, especificamente, com
a adequação na gestão e manutenção do autocuidado.
Se entendermos a literacia em saúde como a capacidade de assimilar, processar,
entender a informação sobre saúde e serviços disponíveis, avaliar as necessidades
individuais, bem como a sua capacidade para o autocuidado, facilmente percebemos a
sua relação com o baixo nível de conhecimento, erros de medicação frequentes, os
custos, as altas taxas de morbilidade, readmissões, passagens recorrentes pela sala
de emergência e mortalidade entre doentes com iliteracia em saúde (Westlake,
Sethares & Davidson, 2013). Tendo presente o resultados do nosso estudo, podemos
evidenciar que o mecanismo de iliteracia em saúde influencia os resultados propostos
em pessoas com IC.
No que se refere à questão de investigação: «Qual a relação entre ter estado
hospitalizado ou recorrer à assistência de saúde nos últimos doze meses e o nível de
adequação do autocuidado da pessoa com Insuficiência cardíaca?» Somos levados a
afirmar que existem diferenças estatisticamente significativas na adequação da
manutenção e gestão do autocuidado e que as pessoas que foram hospitalizadas ou
recorreram a assistência de saúde nos últimos doze meses evidenciam maiores níveis
de adequação do autocuidado.
Nos estudos de Linhares et al. (2010) podemos obter uma possível explicação para
esta evidência. Os resultados mostraram que as pessoas com maior número de
internamentos apresentaram mais conhecimento sobre fisiopatologia e a manutenção
do autocuidado. Contudo, apesar das pessoas com o maior número de internamentos
terem mais conhecimento sobre a doença e o autocuidado, não significa que possuam
maior adesão às orientações e à diminuição das taxas de readmissão.
A relação entre o autocuidado e os resultados é muito complexo nas pessoas com IC.
Contudo, a adequação da manutenção e da gestão do autocuidado têm estado
associadas a melhores resultados, incluindo a diminuição de reinternamentos (Riegel
et al., 2009; Dickson et al., 2011).
No que se refere à questão de investigação: «Qual a relação entre a fração de ejeção
do ventrículo esquerdo e o nível de adequação do autocuidado da pessoa com
insuficiência cardíaca?», os resultados expostos permitem-nos afirmar que apenas
93
existe correlação na adequação da manutenção do autocuidado, e numa análise mais
minuciosa, podemos evidenciar que a correlação é mais significativa quanto à prática
de uma alimentação hipossalina.
Com base neste pressuposto, podemos referir que as pessoas que apresentam maior
fração de ejeção do ventrículo esquerdo tendem a evidenciar melhor adequação na
manutenção do autocuidado.
Não havendo evidências anteriores sobre este fenómeno, na leitura do estudo
realizado por Lee et al. (2013) verificou-se que as pessoas com maior fração de ejeção
do ventrículo esquerdo, são as que sentem menor necessidade recorrer à ajuda dos
profissionais de saúde, uma vez que os sintomas são pouco evidentes ou não existe
incapacidade funcional que constitua uma barreira às suas atividades de vida diária.
Este motivo contribui para que as pessoas com IC não sintam necessidade de se
envolverem na gestão do autocuidado, visto que a sua qualidade de vida se mantém.
A existência de sintomas conduz a uma melhor adequação da gestão do autocuidado,
visto que a sua severidade faz com que a que pessoa sinta necessidade/ motivação
de se tornar agente ativo no processo do autocuidado (Lee et al., 2013 & Seto et
al.,2011).
A leitura do estudo de Seto et al. (2011) corrobora estes resultados, na medida em que
afirmam que a baixa fração de ejeção do ventrículo esquerdo está associada a um
melhor autocuidado. Referem ainda que as pessoas com baixa fração de ejeção
apresentam uma maior perceção da necessidade de possuírem um elevado nível de
adequação do autocuidado e de terem um acompanhamento clínico mais rigoroso, em
comparação com as pessoas que têm a fração de ejeção preservada.
Fazendo uma analogia para a amostra do nosso estudo, apesar das conclusões serem
contraditórias, consideramos encontrar explicação para o facto das pessoas com
maior fração de ejeção do ventrículo esquerdo tenderem a evidenciar melhor
adequação na manutenção do autocuidado. Embora a maioria dos sujeitos (67.7%)
apresente fração de ejeção preservada (superior a 36%) e poucas limitações nas
atividades de vida diária, constatamos que o total da amostra refere sentir sintomas de
descompensação da IC (problemas respiratórios ou inchaço dos tornozelos) no último
mês. Esta análise permite-nos concluir que pelo facto dos sintomas existirem, torna-se
só por si suficiente para que os sujeitos da amostra se sintam mais motivados para
gerir o autocuidado, o que consequentemente se refletirá numa melhor manutenção.
94
No que se refere à questão de investigação: «Qual a relação entre o número de
fatores de risco/doenças e o nível de adequação do autocuidado da pessoa com
insuficiência cardíaca?»
Analisando os resultados, constamos que existe apenas correlação estatisticamente
significativa entre a adequação da confiança no autocuidado e o número de fatores de
risco/doenças, especificamente no que se refere ao alívio dos sintomas e avaliação da
eficácia das medidas implementadas. Sendo esta correlação negativa, podemos
afirmar que as pessoas que apresentam maior número de fatores de risco/doenças
tendem a evidenciar menores níveis de adequação da confiança no autocuidado.
Já em 2012, a European Society of Cardiology alertara para a necessidade de se
conhecerem quais as comorbilidades nas pessoas com IC. Estas influenciam
significativamente o tratamento para a IC, a sua maioria está associada a um pior
estado clínico e são preditoras de um prognóstico reservado (como é o caso da
diabetes). Assim, algumas comorbilidades tornam-se elas próprias alvos terapêuticos,
o que faz com que o seu tratamento constitua um elemento fulcral na abordagem
holística das pessoas com IC.
Os resultados obtidos no nosso estudo estão diretamente relacionados com algumas
das caraterísticas sociodemográficas e clínicas da amostra, maioritariamente
constituída por pessoas idosas, colocando uma vez mais ênfase na premissa de que à
medida que a população envelhece, as comorbilidades aumentam. Deste modo,
facilmente compreendemos o impacto que estas têm no prognóstico e nos níveis de
adequação da gestão do autocuidado das pessoas com IC. Consequentemente, ao
constatarem que os resultados em saúde não se traduzem no que seria expectável
(devido à existência de comorbilidades) e que a sua qualidade de vida não sofreu
melhorias, as pessoas sentem que os cuidados que recebem devido às
comorbilidades (que na maioria dos casos são crónicas) são fragmentados, sendo que
quanto maior for o número de fatores de risco/ doenças associadas, maior será este
sentimento de cuidados fragmentados (Rushton, Satchithananda & Kadam, 2011).
Este facto permite-nos justificar assim qual o motivo que leva as pessoas com maior
número de fatores de risco/doenças a evidenciar menor nível de adequação da
confiança no autocuidado.
Da análise e discussão dos resultados, podemos constatar que, o Autocuidado na
Pessoa com IC não é adequado para a amostra em estudo e no global, com maiores
evidências na adequação da gestão e confiança do autocuidado. Torna-se por isso
fundamental o desenvolvimento de estratégias eficazes, bem como a avaliação e
95
mensuração
das
mudanças
na
adequação
do
autocuidado
e
habilidades
desenvolvidas pelas pessoas com IC. A existência de instrumentos válidos capazes
avaliar o Autocuidado das pessoas com IC constituem uma mais valia, pois permitem
conhecer o nível inicial que detêm, bem como avaliar a influência que as atividades
educativas em saúde promovidas pelos profissionais de saúde têm na evolução da
patologia.
No entanto e de acordo com estudos realizados por Arruda e Cavalcanti (2012), além
da utilização destes instrumentos, os profissionais de saúde devem abordar o
problema começando por perguntar às pessoas o que as incomoda e o que para elas
é mais difícil de executar, o que permitirá identificar quais as intervenções que são
realmente importantes e para as quais se devem direcionar as intervenções de
enfermagem. Outra estratégia apontada é a estratégia de ensino por meio de grupos
de orientação, permitindo a existência de interação entre pessoas que compartilham
vivências semelhantes. A família/pessoa significativa deve constituir parte integrante
deste processo com o objetivo de ser também instruída como observadores das
atitudes adotadas no ambiente familiar.
Ao existir um acompanhamento sistemático e sistematizado por parte dos profissionais
de saúde, as pessoas com IC tornam-se mais seguras acabando por conseguir
cumprir as suas metas e dar resposta às suas necessidades em cuidados.
96
CONCLUSÃO
O título de Enfermeiro Especialista é atribuído ao profissional detentor de um
conhecimento aprofundado num domínio específico de enfermagem, sendo capaz de
responder às necessidades humanas afetadas e de demonstrar capacidade de
julgamento clínico e tomada de decisão.
Para além disso, compete ao enfermeiro especialista envolver as diferentes
dimensões associadas às práticas de educação para a saúde das pessoas e dos seus
pares, a orientação, aconselhamento e liderança, incluindo a responsabilidade de
descodificar, disseminar e levar a cabo processos de investigação relevantes, que
potenciem a evolução da profissão e o aperfeiçoamento dos cuidados de enfermagem
(Ordem dos Enfermeiros, 2010).
No decorrer deste estudo, verificamos que apesar do atual avanço técnico-científico e
das expectativas de vida das pessoas com IC continua a verificar-se um aumento da
incidência, do número de reinternamentos (principalmente na população idosa) e da
taxa de mortalidade associadas a esta patologia.
Torna-se por isso fundamental dar enfoque às práticas de educação para a saúde,
direcionadas para as pessoas com IC e seus familiares ou pessoa significativa, sendo
que o autocuidado constitui o núcleo da temática a abordar.
O autocuidado consiste na realização de ações voluntárias e deliberadas dirigidas a si
mesmo ou ao ambiente, com o objetivo de manter a vida, saúde e bem-estar. Pode
afirmar-se por esse motivo, que o autocuidado é considerado como uma das temáticas
centrais a ser abordada nas pessoas com IC, visto que é através da sua interiorização,
que se conseguem melhorar os comportamentos de adesão ao regime terapêutico
(farmacológico e não farmacológico). Além disso, o facto de existirem instrumentos de
recolha de dados capazes de avaliar o nível de adequação do autocuidado, constitui
uma ferramenta fulcral para as equipas de enfermagem, na medida em que permitem
avaliar a influência das práticas de educação para a saúde na evolução da IC.
Atendendo à natureza do objeto de estudo, às suas questões, ao método e processo
de recolha de dados, à sua organização, análise e interpretação, dão-se como
alcançados os objetivos propostos no planeamento e operacionalização desta
97
pesquisa. Ao revelarmos a resposta às questões de investigação, concluímos que as
pessoas que constituíam a amostra do estudo evidenciaram capacidade para o
autocuidado não adequada, sendo menos adequada na gestão e confiança do
autocuidado e um pouco mais adequada na manutenção do autocuidado. Isto
demonstra que a equipa de enfermagem tem um longo caminho a percorrer no que
concerne às práticas de educação para a saúde, tendo em vista o autocuidado e as
dimensões que lhe estão subjacentes (manutenção, gestão e confiança).
Apesar de termos verificado que existem dimensões do cuidar onde a adesão é
elevada por parte dos respondentes, existem outras em que tal não se verifica,
principalmente no que respeita à adequação da gestão e da confiança no autocuidado.
Importa neste sentido, que a equipa de Enfermagem elabore um plano de atuação que
possa potenciar estas dimensões.
Para a amostra em estudo, poderemos dizer então que:
- As pessoas evidenciaram globalmente uma capacidade para o autocuidado não
adequada. Sendo menos adequada nas dimensões de gestão do autocuidado e de
confiança no autocuidado e um pouco mais adequada na dimensão da manutenção do
autocuidado;
- As pessoas mais velhas tendem a evidenciar níveis mais baixos de adequação do
autocuidado;
- As pessoas com mais habilitações literárias detêm níveis mais elevados de
adequação do autocuidado, particularmente no que se refere à confiança no
autocuidado;
- As pessoas que foram hospitalizadas ou recorreram a assistência de saúde nos
últimos doze meses evidenciam níveis mais elevados de adequação do autocuidado;
- As pessoas que apresentam maior fração de ejeção do ventrículo esquerdo tendem a
evidenciar níveis mais elevados de adequação na manutenção do autocuidado;
- As pessoas que apresentam maior número de fatores de risco/doenças tendem a
evidenciar menor confiança no autocuidado.
Pretendemos com a realização deste estudo, elaborar um guião de orientação clínica
passível de ser utilizado numa consulta de enfermagem que perspetivamos criar no
futuro, por forma a serem desenvolvidas práticas de educação para a saúde dirigidas à
promoção do autocuidado, tendo como principal foco de atenção a pessoa com IC,
mas também os seus familiares ou prestadores de cuidados. Após a implementação
da consulta de enfermagem, pretendemos aplicar novamente o instrumento de
avaliação do autocuidado, com o objetivo de comparar os resultados e de identificar
98
sinais de mudança nos níveis de adequação do autocuidado. Outra iniciativa prevista,
será a realização de ações de formação entre pares, dando a conhecer os resultados
deste trabalho e a proposta de realização de um trabalho conjunto, direcionado à
estruturação de estratégias efetivas de educação para a saúde, a serem
implementadas desde o primeiro dia de internamento das pessoas com IC,
independentemente da sua fase de evolução clínica.
Pretendemos ainda desenvolver no futuro próximo, um estudo de investigação
semelhante que inclua uma amostra de pessoas mais jovens, no sentido de se
identificar a necessidade de ajustamento nas estratégias de abordagem, supervisão e
avaliação das necessidades em cuidados das pessoas com IC, especificamente no
que se refere à manutenção, gestão e confiança no autocuidado.
No estudo aqui apresentado, o tamanho da amostra poderá constituir-se como a sua
principal limitação, penalizando-o estatisticamente e condicionando o estabelecimento
de
relações
significativas
entre
as
variáveis
envolvidas.
As
caraterísticas
sociodemográficas/clínicas dos utilizadores do contexto clínico onde decorreu o
estudo, bem como o respetivo tempo de internamento, limitaram desde logo a
dilatação da amostra.
Apesar de não se poderem generalizar os resultados para todas as pessoas com IC,
entendemos ter construído uma base científica importante para a prestação de
cuidados de enfermagem na instituição de saúde onde foi realizada a investigação.
Pudemos concluir que as pessoas mais velhas, com menores habilitações literárias,
menor número de reinternamentos/procura de assistência de saúde, menor fração de
ejeção do ventrículo esquerdo e maior número de fatores de risco/doenças, poderão
considerar-se como grupos de risco no que concerne ao processo de adaptação às
alterações impostas pela IC, em virtude dos mais baixos níveis de adequação do
autocuidado que apresentam.
A prestação de cuidados de enfermagem a pessoas com IC requer investigação
adicional e o presente estudo pode trazer consequências clínicas e sociais imediatas
para as intervenções desenvolvidas junto das pessoas com IC, particularmente no que
diz respeito à identificação, prevenção e acompanhamento das reais e/ou potenciais
dificuldades na adequação do autocuidado. Por apresentar linhas de orientação sobre
a adequação do autocuidado da pessoa com IC, este trabalho pode contribuir para o
desenvolvimento do conhecimento científico associado a esta temática e para a
formação diferenciada dos profissionais de enfermagem.
99
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ANEXOS
ANEXO I
Instrumento de recolha de dados
QUESTIONÁRIO SOBRE AUTOCUIDADO NA PESSOA COM INSUFICIÊNCIA
CARDÍACA
Por favor coloque um X na resposta que melhor se aplica a si.
PARTE I
I) DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS
1)IDADE:_____ anos
2) ESTADO CIVIL: Casado/ em união de facto __
Solteiro (a)__
Viúvo (a) __
Divorciado (a) __
3) GÉNERO: Feminino __
Masculino __
4) HABILITAÇÕES LITERÁRIAS: 1º Ciclo do Ensino Básico (4ª Classe)
2º Ciclo do Ensino Básico (Ensino Preparatório)
3º Ciclo do Ensino Básico
Ensino Secundário
Bacharelato
Licenciatura
Mestrado
5) Profissão: __________________________________
6) Local de residência: Área Urbana (Vila, Cidade) ____
Área Rural (Aldeia) ___
II) CONHECIMENTO DA DOENÇA E INTERNAMENTOS ANTERIORES
1)Há quanto tempo lhe foi diagnosticada Insuficiência Cardíaca?
____ meses
____ anos
Não sei/ não me lembro __
2) Ficou hospitalizado/a ou procurou assistência de saúde nos últimos doze
meses por causa da doença do coração?
Não sei/ não me lembro/ desconheço __
Não __
Sim __ Quantas vezes? __
3) Desde que lhe foi diagnosticada a Insuficiência Cardíaca, considera que:
(Assinale a opção que melhor se aplica à sua situação)
A doença não o (a) tem impedido de fazer as suas atividades do dia-a-dia sozinho
(a)__
A doença impede-o (a) de realizar algumas atividades diárias que antes conseguia
fazer sozinho (a)? __
A doença tem-no (a) impedido de realizar a maior parte das atividades diárias, que
antes conseguia fazer sozinho (a)? __
Necessita de apoio total de outras pessoas para realizar as atividades diárias? __
III) DADOS CLÍNICOS
1)Etiologia
Conhecida __
Isquémica: Submetido a CABG __
Miocardiopatia dilatada: __
Valvular: Mitral __
Não submetido a CABG__
Miocardiopatia Hipertrófica: __
Aórtica __
Outras: __ Qual? _______________
Informação não disponível no Processo Clínico __
2)FEVE: ____%
Informação não disponível no processo clínico ___
3)Classificação NYHA (3 meses antes do internamento) ___
Informação não disponível no processo clínico ___
4) Faz diuréticos: Sim ___
Não___
5) Faz Betabloqueantes: Sim ___
6) Faz IECA: Sim ___
Não ___
Não ___
7) Faz espirolactona: Sim ___ Não ___
8) Faz Digoxina: Sim ___
Não ___
9) Possui dispositivo: Não__
Sim: __
Pacemaker __
CDI __
CRT-P __
CRT-D __
8)Fatores de risco:
Tabagismo __
Dislipidémia __
Diabetes mellitus __
Hipertensão arterial __
Obesidade __
Sedentarismo __
Não a presenta doenças: ___
Informação não disponível no processo clínico ___
Doenças de foro cardíaco ___ Qual (ais)? _______________________
Outras: ___ Quais ___________________
PARTE II
ESCALA DE AUTOCUIDADO PARA A PESSOA COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
(EACPIC)
O questionário abaixo pretende avaliar o seu conhecimento sobre o autocuidado.
SECÇÃO A:
Cada uma das questões abaixo é respondida pela colocação de um círculo num dos
números, sendo que o 1 se refere à menor frequência e o 4 se refere às atividades
que realiza sempre.
1. Pesa-se sozinho?
Nunca ou
Às
Frequentemente
Raramente
vezes
Sempre ou
Diariamente
1
2
3
4
1
2
3
4
1
2
3
4
1
2
3
4
1
2
3
4
1
2
3
4
1
2
3
4
1
2
3
4
1
2
3
4
1
2
3
4
2. Inspeciona os seus tornozelos
à procura de inchaço?
3. Evita adoecer (ex: Faz a
vacina da gripe, evita contato
com pessoas doentes?
4. Pratica algum tipo de
actividade física?
5. Cumpre as orientações dos
médicos ou dos enfermeiros?
6. Pratica uma alimentação com
baixo teor de sal?
7. Exercita-se por 30 minutos
dia?
8. Esquece-se de tomar algum
dos seus medicamentos?
9. Pede alimentos com baixo teor
de sal quando faz refeições fora
de casa?
10. Usa um Sistema (caixa de
comprimidos, lembrete) para o
ajudar a controlar a toma dos
medicamentos?
SECÇÃO B:
Muitas pessoas têm sintomas devido à sua insuficiência Cardíaca. Dificuldades
respiratórias e inchaço nos tornozelos, são sintomas comuns da Insuficiência
Cardíaca.
No mês passado, teve problemas respiratórios ou inchaço dos tornozelos? Assinale
com um círculo.
Não
Sim
11. Teve problemas de respiração ou de inchaço nos tornozelos no último mês
(assinale com um círculo um dos números).
Com que rapidez
reconheceu estes
sintomas como de
insuficiência cardíaca?
Não tive
estes
sintomas
Não
reconheci
estes
problemas
N/A
0
De
forma
lenta
De
forma
normal
Rapidamente
De forma
muito
rápida
2
3
4
1
Listados abaixo estão procedimentos que as pessoas com insuficiência cardíaca
utilizam. Se tem problemas respiratórios ou inchaço nos tornozelos, qual é a
probabilidade de usar um destes procedimentos?
(assinale com um círculo um número para cada procedimento?
Nada
Pouco
Provável Muito
provável provável
provável
12. Reduzir o sal na sua dieta
1
2
3
4
13. Reduzir a quantidade de líquidos por
si ingeridos
14. Tomar um diurético (comprimido
para eliminar os líquidos) extra
15. Contatar o seu médico ou enfermeiro
para aconselhamento
1
2
3
4
1
2
3
4
1
2
3
4
16. Pense num procedimento por si tentado na última vez que teve problemas
respiratórios ou inchaço nos tornozelos,
(assinale com um círculo um número)
Não
tentei
nada
Está certo sobre o facto do
procedimento ter ajudado ou
não?
Não tenho
a certeza
Tenho
uma vaga
ideia
Tenho
a
certeza
Tenho a
certeza
absoluta
1
2
3
4
0
SECÇÃO C:
No geral, está confiante de que consegue:
17. Manter-se livre de sintomas
de insuficiência cardíaca?
18. Seguir o tratamento que lhe
tenha sido aconselhado?
19. Avaliar a importância dos
seus sintomas?
20. Reconhecer mudanças na
sua saúde se estas ocorreram?
21. Fazer alguma coisa que alivie
os seus sintomas?
22. Avaliar a eficácia de um
qualquer procedimento?
Nada
confiante
1
Pouco
confiante
2
Muito
confiante
3
Extremamente
confiante
4
1
2
3
4
1
2
3
4
1
2
3
4
1
2
3
4
1
2
3
4
OBRIGADA PELA SUA PARTICIPAÇÃO
ANEXO II
Esclarecimento/consentimento do doente
Esclarecimento/consentimento do estudo ao doente
Caro participante:
Eu, Helena Isabel Fernandes Martins, enfermeira, encontro-me a frequentar o IV
Curso de Mestrado com o intuito de aumentar conhecimentos de modo a melhorar a
minha prestação de cuidados.
No âmbito deste curso estou a desenvolver um estudo que se designa por
“Autocuidado na pessoa com Insuficiência Cardíaca”, através do qual pretendo
analisar quão adequado é o autocuidado praticado pela pessoa com IC ao nível da
sua manutenção, gestão e confiança; analisar em que medidas as caraterísticas
sociodemográficas influenciam a adequação do autocuidado e analisar que dados
clínicos influenciam a adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência
cardíaca.
Para esse efeito, venho por este meio solicitar a sua participação, agradecendo desde
já, a sua disponibilidade e colaboração.
A recolha de dados será feita através da aplicação do questionário às pessoas com
Insuficiência Cardíaca.
O uso da informação que o possa identificar é exclusivo para este trabalho e não
estará acessível a outras pessoas, sendo os resultados apresentados num relatório
final que ficará disponível para consulta.
A sua participação não prevê quaisquer prejuízos para si.
É de referir que este estudo foi sujeito a aprovação pela Comissão de Ética do CHUC,
EPE.
Declaro que, após ter sido esclarecido sobre o tema, os objectivos, os procedimentos,
a garantia de confidencialidade e o caráter voluntário da minha participação, aceito
participar na investigação intitulada “Autocuidado na pessoa com Insuficiência
Cardíaca”, a desenvolver pela Enf.ª Helena Martins.
Participante:
_______________________________________________
Investigadora:
_______________________________________________
Orientador
_______________________________________________
Data: ______/______/______, ______________________
ANEXO III
Pedido de autorização para utilização da Escala de Autocuidado para a Pessoa
com Insuficiência Cardíaca (EACPIC)
ANEXO IV
Autorização da Comissão de Ética e do Conselho de Administração do CHUC
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