_____________________________________________________________________ CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM MÉDICO-CIRÚRGICA O Autocuidado na Pessoa com Insuficiência Cardíaca Helena Isabel Fernandes Martins Coimbra, julho de 2015 _______________________________________________________________ CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM MÉDICO-CIRÚRGICA O Autocuidado na Pessoa com Insuficiência Cardíaca Helena Isabel Fernandes Martins Orientador: Rui Filipe Lopes Gonçalves, Professor Adjunto da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Dissertação apresentada à Escola Superior de Enfermagem de Coimbra para obtenção do grau de Mestre em Enfermagem Médico-Cirúrgica. Coimbra, julho de 2015 AGRADECIMENTOS Ao Senhor Professor Rui Gonçalves orientador desta dissertação, pelo apoio científico, disponibilidade, encorajamento e paciência ao longo deste percurso. Ao Senhor Dr. Rui Batista, pelas ideias e sugestões, que tornaram possível a concretização deste trabalho. À Senhora Enfermeira Lucinda Duarte, Enfermeira-Chefe do Serviço de Cardiologia AA, pelo apoio demonstrado aquando da realização deste trabalho. Aos Senhores Enfermeiros do serviço de Cardiologia A-A, pelo apoio, partilha e amizade demonstrada, que contribuiu para que este percurso se tornasse mais fácil. Ao Conselho de Administração e de Ética do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, pela autorização concedida, permitindo a viabilização deste trabalho. Aos meus pais, pelo apoio incondicional, força, encorajamento e compreensão, pois sem a sua ajuda não teria sido possível concluir este curso. À minha irmã por saber ouvir os meus desabafos e pelos seus conselhos. Ao Gonçalo pelo apoio e, principalmente, pela paciência. A todas as pessoas com Insuficiência Cardíaca que colaboraram na recolha de dados, contribuindo assim para a consecução desta dissertação. SIGLAS AVC – Acidente Vascular Cerebral BNP – Peptídeo Natriurético do tipo B; CDI – Cardiversor Desfibrilhador Implantável; CHUC – Centro Hospitalar Universitário de Coimbra; CIPE – Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem; DC – Débito Cardíaco; DGS – Direção-Geral da Saúde; DPN – Dispneia Paroxística Noturna; DPOC – Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica; EAM – Enfarte Agudo do Miocárdio; EACPIC - Escala de Autocuidado para a Pessoa com Insuficiência Cardíaca; EPICA - Epidemiologia da Insuficiência Cardíaca e Aprendizagem; FE – Fração de Ejeção; FEVE – Fração de Ejeção do Ventrículo Esquerdo; HUC – Hospitais da Universidade de Coimbra; IC – Insuficiência Cardíaca; ICC – Insuficiência Cardíaca Crónica; IC- FEP – Insuficiência Cardíaca com fração de ejeção preservada; IC- FER – Insuficiência Cardíaca com fração de ejeção reduzida; IECA – Inibidor da Enzima Conversora da Angiotensina; INE – Instituto Nacional de Estatística; MR-Pro ANP – Mid-regional Pro-atrial Natriuretic Peptide; NT-pro BNP – N-Terminal of the pro hormone brain natriuretic peptide; NYHA – New York Heart Association; OMS – Organização Mundial de Saúde; PET – Tomografia por Emissão de Positrões RMC – Ressonância Magnética Cardíaca; SPECT – Tomografia de Emissão de Fotão Único; SPSS - Statistical Package for the Social Sciences; TIBC – Capacidade de Ligação do Ferro Total RESUMO A Insuficiência Cardíaca (IC) é uma síndrome crónica e progressiva, caraterizada como o último estadio de todas as doenças cardiovasculares. Devido ao aumento da sua incidência e prevalência, possui uma elevada taxa de mortalidade e morbilidade, está associada a elevadas taxas de readmissão hospitalar e à diminuição da qualidade de vida das pessoas. Os cuidados de Enfermagem direcionados para adequação da gestão, manutenção e confiança para o autocuidado da pessoa com IC revelam-se uma estratégia fundamental para melhorar as suas respostas às necessidades e cuidados e, consequentemente, a sua qualidade de vida. Este trabalho tem como objeto de estudo o autocuidado na pessoa com IC, com o objetivo de se conhecer qual o nível de adequação do autocuidado da pessoa com IC e como se relaciona com as caraterísticas sociodemográficas e clínicas dos participantes. Para a sua concretização foi conduzido um estudo descritivo-correlacional com uma amostra de 65 pessoas submetidas a internamento hospitalar por IC que acederam responder ao instrumento de recolha de dados, constituído por uma escala de avaliação do autocuidado e por um questionário de caraterização sociodemográfica e clínica. Globalmente, a amostra em estudo evidenciou uma capacidade não adequada para o autocuidado. Identificámos ainda que: a capacidade para o autocuidado se encontrava menos adequada nas dimensões de gestão do autocuidado e de confiança no autocuidado e um pouco mais adequada na dimensão da manutenção do autocuidado; as pessoas mais velhas, com mais fatores de risco/doença tendem a evidenciar menor adequação do autocuidado; e que as pessoas com mais habilitações literárias, as que foram hospitalizadas ou recorreram a assistência de saúde nos últimos doze meses e as que apresentam maior fração de ejeção do ventrículo esquerdo, tendem a evidenciar maior adequação do autocuidado. Com base nas evidências científicas e nos resultados obtidos encontram-se reunidas as condições para a construção de um guião de orientação clínica a utilizar numa consulta de enfermagem, implementando práticas de educação para a saúde dirigidas à promoção do autocuidado na pessoa com IC, seus familiares/pessoa significativa. Palavras-chave: Enfermagem, Autocuidado, Insuficiência Cardíaca. ABSTRACT Heart Failure (HF) is a chronic and progressive syndrome, characterized as the last stage of all cardiovascular diseases. Due to the increased incidence and prevalence, it has a high mortality and morbidity rate. It is also associated with the high rate of hospital readmission and reduced quality of life. Nursing care aimed at self-care has proven to be a key strategy for a person with HF, in such a way that the person is encouraged to practice self-care in order to improve health outcomes and consequently the quality of life. This work focus on the self-care of a person with HF as study object and our goals are: to know the level of adequacy of self-care of the person with HF and the main influence of the socio-demographic and clinical characteristics of the sample. We conducted a descriptive and correlational study, with the participation of 65 people undergoing hospitalization for HF who accepted to answer to our data collection tool, which consisted of a self-care index for people with HF and a socio-demographic and clinical questionnaire. In the course of this study, we concluded that people who constituted the sample, in general, have shown a non adequate capacity for self-care. We also identified that: the ability for self-care was less adequate in self-care management and self confidence dimensions and slightly more adequate in the selfcare maintenance dimension; older people, with more risk/disease factors tend to show less capacity of self-care; and people with more qualifications, those who were hospitalized or in need of health care assistance in the last twelve months and those with higher left ventricular ejection fraction, tend to show a higher level of self-care adequacy. Therefore, based on scientific evidence and the results obtained in this study we are able to create a handbook for clinical guidance to be used in a future nursing consultation, allowing to the implementation of health education practices with the purpose of promoting self-care, focusing mainly on the person with HF, but also their family or caregivers. Key words: Nursing, Self-care, Heart Failure. ÍNDICE DE QUADROS Pág. Quadro 1 - Classificação funcional da IC baseada na gravidade dos sintomas e na atividade física de acordo com a New York Heart Association, adaptado da European Society of Cardiology (2012) .……………………..............................… 29 Quadro 2 - Critérios de Inclusão e exclusão dos participantes no estudo ……... 61 Quadro 3 - Caraterísticas sociodemográficas da amostra …………………..…… 68 Quadro 4 - Conhecimento da amostra acerca da doença e internamentos anteriores …………………………………………………………………………..…… 69 Quadro 5 - Dados clínicos da amostra ………………………………………….... 71 Quadro 5.1 - Dados clínicos da amostra (continuação) ……………………..….... 72 Quadro 6 - Consistência interna das Subescalas da SCHFI V6.2 ……………… 73 Quadro 7 - Respostas aos itens da Escala de Autocuidado para a pessoa com Insuficiência Cardíaca (dimensão “Manutenção do autocuidado”) …………..….. 74 Quadro 8 - Respostas aos itens da Escala de Autocuidado para a pessoa com Insuficiência Cardíaca (dimensão “Gestão do autocuidado”) ………………….…. 75 Quadro 9 - Respostas aos itens da Escala de Autocuidado para a pessoa com Insuficiência Cardíaca (dimensão “Confiança no autocuidado”) ……………..….. 76 Quadro 10 - Resultados da aplicação da Escala de Autocuidado para a pessoa com Insuficiência Cardíaca ……………………………..……………………...….…. 77 Quadro 11 - Resultados do estudo da correlação entre a Escala de Autocuidado e a idade da pessoa com Insuficiência Cardíaca …………...……… 78 Quadro 12 - Resultados da comparação da Escala de Autocuidado em função do estado civil da pessoa com Insuficiência Cardíaca ………………………….… 78 Quadro 13 - Resultados da comparação da Escala de Autocuidado em função do género da pessoa com Insuficiência Cardíaca …………………………….…… 79 Quadro 14 - Resultados da comparação da Escala de Autocuidado em função das habilitações literárias da pessoa com Insuficiência Cardíaca ……………….. 80 Quadro 15 - Resultados da comparação da Escala de Autocuidado em função da área de residência da pessoa com Insuficiência Cardíaca …………….…...… Quadro 16 - Resultados do estudo de correlação entre a escala de autocuidado e o tempo de diagnóstico da pessoa com Insuficiência 81 Cardíaca…………………………………………………………………………………. 81 Quadro 17 - Resultados da comparação da Escala de Autocuidado em função do facto da pessoa com Insuficiência Cardíaca ter sido hospitalizada ou ter procurado assistência de saúde nos últimos doze meses ……………………… 82 Quadro 18 - Resultados da comparação da Escala de Autocuidado em função da independência nas atividades diárias da pessoa com Insuficiência Cardíaca. 83 Quadro 19 - Resultados do estudo da correlação entre a Escala de Autocuidado e os valores da FEVE apresentados pela pessoa com Insuficiência Cardíaca …………………………………………………………….... 84 Quadro 20 - Resultados do estudo da correlação entre a Escala de Autocuidado e o número de fatores de risco/doenças apresentadas pela pessoa com Insuficiência Cardíaca ………………………………………………. 84 ÍNDICE Pág. INTRODUÇÃO …………………………………………………………………… 15 PARTE I FASE CONCEPTUAL 1 – DOENÇA CARDIOVASCULAR …………………………………………….. 21 1.1 – DEFINIÇÃO E CARATERIZAÇÃO ……………………………………….. 21 1.2 – INSUFICIÊNCIA CARDÍACA ……………………………………………… 23 2 – TEORIA DO DÉFICE DO AUTOCUIDADO EM ENFERMAGEM ………. 39 2.1 – AUTOCUIDADO NA PESSOA COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA ….. 42 2.2 – AUTOCUIDADO E CUIDADOS DE ENFERMAGEM …………………... 45 PARTE II FASE METODOLÓGICA/EMPÍRICA 1 – OPÇÕES METODOLÓGICAS ……………………………………………… 57 1.1 – QUESTÃO DE INVESTIGAÇÃO …………………………………………. 58 1.2 – OBJETIVOS DA INVESTIGAÇÃO ……………………………………….. 59 1.3 – POPULAÇÃO, AMOSTRA E CONTEXTO DO ESTUDO ……………… 60 1.4 – OPERACIONALIZAÇÃO DE VARIÁVEIS ……………………………... 61 1.5 – INSTRUMENTO DE RECOLHA DE DADOS …………………………… 62 1.6 – PROCEDIMENTOS FORMAIS E ÉTICOS PARA A RECOLHA DE DADOS …………………………………………………………………………….. 65 1.7 – MÉTODOS DE ANÁLISE DE DADOS …………………………………… 66 2 – ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS …………………………… 67 2.1 – CARATERIZAÇÃO SÓCIODEMOGRÁFICA DA AMOSTRA …………. 67 2.2 – CARATERIZAÇÃO CLÍNICA DA AMOSTRA …………………………… 70 2.3 – ADEQUAÇÃO DO AUTOCUIDADO DA AMOSTRA …………………… 73 3 – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ………………………………………… 85 CONCLUSÃO ……………………………………………………………………... 97 BIBLIOGRAFIA ANEXOS ANEXO I - Instrumento de recolha de dados ANEXO II - Esclarecimento/consentimento do doente ANEXO III - Pedido de autorização para a utilização da Escala de Autocuidado para a aaaaaaaaaaPessoa com Insuficiência Cardíaca (EACPIC) ANEXO IV - Autorização da Comissão de Ética e do Conselho de Administração do aaaaaaaaaa CHUC INTRODUÇÃO A Insuficiência Cardíaca (IC), de entre as patologias Cardiovasculares, constitui um grave problema de Saúde Pública, principalmente nas sociedades de cultura ocidental. O aumento da sua incidência e prevalência determina segundo Ceia et al. (2005) e Linhares et al. (2010) uma elevada taxa de mortalidade e morbilidade. Além disso, esta patologia está associada a grave situação de incapacidade, a elevadas taxas de readmissão hospitalar e à diminuição da qualidade de vida das pessoas, sendo que o seu tratamento requer um elevado consumo de meios assistenciais. A IC é uma síndrome complexa e de difícil diagnóstico. A sua prevalência global está a aumentar, preocupando principalmente os países onde a população é maioritariamente idosa, visto que a evolução nos tratamentos para esta síndrome propiciam a sua sobrevida (Ceia et al., 2005; Yera-Casas et al., 2009; Arruda & Cavalcanti, 2012). De todos os fatores que podem influenciar o prognóstico, o autocuidado surge como um aspeto importante no tratamento da IC. A existência de práticas sistemáticas de educação para a saúde sobre medidas farmacológicas e não farmacológicas, gestão dos sintomas e práticas de autocuidado direcionadas para a pessoa com IC e seus familiares, tornam-se fundamentais. Os principais objetivos devem ser direcionados para o ensinar, reforçar, melhorar e avaliar constantemente as capacidades das pessoas para o autocuidado. As práticas de educação para a saúde contribuem, assim, para manter a estabilidade clínica da pessoa, prevenir os fatores precipitantes de descompensação da doença e consequentemente reduzir o número de reinternamentos (Feijó et al., 2012; Gonçalves & Albuquerque, 2014). Torna-se fundamental que as pessoas com IC possam contar com a ajuda dos profissionais de saúde que atuam não só na prevenção primária, mas também na secundária e na terciária, uma vez que, só com esforços conjuntos é possível reduzir os fatores de risco associados a esta patologia. Desta equipa multidisciplinar, destacase o enfermeiro como elo fundamental, tendo como função supervisionar a pessoa com IC e potenciar o seu autocuidado por meio de educação para a saúde (Oliveira et al., 2013). 15 Tendo como objeto de estudo o autocuidado na pessoa com IC, o objetivo central desta pesquisa passa por conhecer o nível de adequação do autocuidado da pessoa com IC, por forma a definir, no futuro estratégias, de intervenção de enfermagem que promovam o autocuidado da pessoa com IC. Da realidade clínica emerge a necessidade de se encontrar uma resposta para um problema que está cada vez mais presente, e consequentemente, proporcionar uma amplificação do conhecimento técnico e científico sobre o nosso objeto de estudo. Assim surge a questão central de investigação: Qual o nível de adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca? Assim sendo, os objetivos deste estudo são: • Analisar quão adequado é o autocuidado praticado pela pessoa com insuficiência cardíaca ao nível da sua manutenção, gestão e confiança; • Analisar em que medida as características sócio demográficas influenciam a adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca; • Analisar que dados clínicos influenciam a adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca. Neste estudo é realizada uma abordagem quantitativa pela condução de um estudo do tipo descritivo-correlacional. Para dar resposta aos objetivos anteriores, pretende-se com base nos resultados e evidências científicas encontradas, fazer propostas de melhoria da qualidade dos cuidados de enfermagem à pessoa com IC, particularmente no que diz respeito à adequação do autocuidado. Pretende-se que esta ocorra através da realização de ações formativas e da análise do impacto da atividade formativa na promoção do autocuidado das pessoas com IC. A investigação em enfermagem constitui-se atualmente como um pilar para a promoção da excelência da melhoria contínua da qualidade dos cuidados e da sua afirmação enquanto ciência. Apesar de os contextos clínicos exigirem práticas baseadas nas melhores evidências científicas, mais do que na tradição, intuição ou experiência pessoal, a enfermagem continua a ser uma combinação entre arte e ciência (Polit, Beck & Hungler, 2004). No campo da saúde, a investigação é fundamental para que se possam adquirir novos conhecimentos, avaliar as práticas e responder a questões que permitam a reflexão sobre a qualidade dos cuidados prestados. 16 Estruturalmente, este documento é dividido em duas partes, a primeira corresponde à fase conceptual e a segunda à parte metodológica. Na fase conceptual é realizada um breve enquadramento às doenças cardiovasculares, seguindo-se a definição de IC, a qual englobará a sua tipologia, sinais e sintomas, exames complementares de diagnóstico e respetivo tratamento. Segue-se uma abordagem sobre o Autocuidado de acordo com a teoria do Défice do Autocuidado em Enfermagem e sobre o autocuidado na pessoa com IC, analisando a importância das Intervenções de Enfermagem para a concretização do mesmo. Na fase metodológica é realizada a descrição do percurso metodológico/ empírico do estudo, a análise, interpretação e discussão dos resultados obtidos. Apresenta-se por fim a conclusão, na qual são abordadas as principais limitações do estudo e propostas de melhoria. 17 18 PARTE I – FASE CONCEPTUAL 19 20 1 – DOENÇA CARDIOVASCULAR O estudo das doenças cardiovasculares torna-se primordial, uma vez que constituem a causa de morte mais relevante em toda a Europa, incluindo Portugal. Estas englobam um diverso conjunto de situações clínicas que afetam o sistema circulatório em diferentes localizações. Das doenças cardiovasculares, devido à elevada taxa de mortalidade e morbilidade, destacam-se a doença cerebrovascular e a doença coronária (DGS 2013). Torna-se fundamental que exista um plano de intervenção preventiva (primária, secundária, terciária), desenvolvido de forma sustentada e consistente, através da implementação de estratégias de intervenção, de melhoria de qualidade e de melhoria dos sistemas de informação. Além destas estratégias, destaca-se a disponibilização de novos fármacos e técnicas inovadoras que têm permitido uma precoce resposta da emergência pré-hospitalar e um correto encaminhamento para os locais onde possam ser prestados os tratamentos mais adequados, o que conduziu a uma progressiva diminuição das taxas de mortalidade ao longo das duas últimas décadas. Neste sentido, o Programa Nacional para as Doenças Cérebro Cardiovasculares tem vindo a dar realce e particular atenção à implementação das Vias Verdes: Coronária e do AVC (DGS, 2006; DGS, 2013). 1.1 – DEFINIÇÃO E CARATERIZAÇÃO A doença cardiovascular é crónica e de desenvolvimento lento ao longo da vida da pessoa. Com o decorrer dos anos vai evoluindo silenciosamente, apresentando sintomas já em fase avançada. Apesar das doenças cardiovasculares serem uma das maiores causas de morte prematura na Europa, a taxa de mortalidade tem vindo a baixar consideravelmente nas últimas décadas, estando contudo ainda associadas a uma elevada taxa de morbilidade em muitos países Europeus (e.g. Letónia, Finlândia, Bulgária, Polónia, Alemanha, Reino Unido). A European Society of Cardiology estimou nos dados de 2012 que mais de 80% das mortes por doença cardiovascular ocorre em países 21 desenvolvidos. As doenças cardiovasculares afetam tanto homens como mulheres, sendo que dos óbitos ocorridos na Europa antes dos 75 anos de idade por doença cardiovascular, 42% eram mulheres e 38% eram homens. As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte em Portugal, sendo responsáveis por cerca de 30% dos óbitos ocorridos em 2011, apesar de se encontrar em redução progressiva nas últimas duas décadas (DGS, 2013). Segundo a DireçãoGeral de Saúde e o Instituto Nacional de Estatística (2014), registou-se um total de 32 859 óbitos devido a doenças do aparelho circulatório no ano de 2012, o que representa uma taxa de 30,4% da mortalidade total do país. Destes, 6 977 óbitos (6,5% da mortalidade) são devidos a doença isquémica do coração e 4 614 óbitos (4,3% da mortalidade) são devidos a Enfarte Agudo do Miocárdio. As doenças cardiovasculares estão diretamente relacionadas com os estilos de vida, especialmente os hábitos tabágicos, hábitos de dieta pouco saudável, sedentarismo e stress. De acordo com a World Health Organization (2013), estima-se que cerca de 3/4 das causas de morte por doenças cardiovasculares poderiam ter sido prevenidas se tivessem existido mudanças adequadas nos estilos de vida das populações. Torna-se por isso fundamental implementar medidas de prevenção ao longo de todo o ciclo vital, ou seja, desde o nascimento até à idade avançada (European Society of Cardiology, 2012). As cartas especiais de risco, baseadas em pontuação (score) foram escritas para países de baixo e alto risco e adquiriram ampla aceitação em toda a Europa. O conceito de prevenção primária e secundária surgiu devido ao reconhecimento de que a aterosclerose é um processo contínuo. Entre as principais doenças cardiovasculares encontra-se a IC, caraterizada como sendo uma síndrome crónica e progressiva, que surge como o último estadio de todas as doenças cardiovasculares. Atinge frequentemente pessoas com mais de 60 anos, é responsável por uma elevada taxa de internamentos hospitalares e encontra-se associada a elevados custos para o sistema de saúde. Torna-se por isso crucial criar redes de tratamento da IC, englobando a equipa multidisciplinar hospitalar e de ambulatório, com o objetivo de promover a educação das pessoas com IC, dos seus familiares e/ou prestadores de cuidados. Divulgar conhecimento, instituir medidas adequadas a cada situação, rentabilizar e comunicar com os intervenientes no processo de prevenção e tratamento, são também medidas necessárias (Ceia & Fonseca, 2007). 22 Sob o ponto de vista epidemiológico, a IC apresenta algumas caraterísticas que ainda permanecem desconhecidas para a comunidade científica. Desta necessidade surge o Projeto EPICA, que é o primeiro projeto Europeu desenhado para obter dados sobre a prevalência da Insuficiência Cardíaca Crónica (ICC), de acordo com as recomendações da Sociedade Europeia de Cardiologia. Os dados apresentados em 2009 pelo Grupo de Investigação EPICA I (nas Primeiras Jornadas Lusófonas de Cardiologia), revelaram os valores epidemiológicos da IC em Portugal Continental. Os objetivos eram identificar a prevalência da ICC na população adulta com mais de 25 anos e contribuir para a identificação de problemas na área do diagnóstico e tratamento (Fonseca, 2009). A IC pode ser considerada a epidemia do século XXI, estimando-se que a sua prevalência aumente entre 50-75% até 2030, constituindo um prognóstico mais negativo que o conjunto das neoplasias malignas. Prevê-se que as admissões hospitalares sofrerão um aumento de 50% nos próximos 25 anos, sendo que 2/3 dos doentes com IC sejam internados em média duas vezes por ano e que exista uma taxa de reinternamento aos três meses por IC em 20% a 30% dos casos. Aproximadamente 35% dos novos casos de IC carecem de internamento nos primeiros doze meses subsequentes ao diagnóstico (Fonseca, 2009). O número de pessoas com IC tem vindo a aumentar na atualidade. De acordo com o estudo EPICA, existem 261000 doentes em Portugal com IC, dos quais 1/3 sofre de IC de classe NYHA III e IV com múltiplos internamentos. Este estudo revela ainda que à medida que a idade avança, aumenta o número de doentes com este diagnóstico, aumentando consequentemente a sua prevalência. 1.2 - INSUFICIÊNCIA CARDÍACA De acordo com as recomendações da European Society of Cardiology (2013), a IC pode definir-se como uma anomalia na estrutura ou na função cardíaca, que resulta na incapacidade do coração fornecer as doses de oxigénio necessárias às exigências dos tecidos, apesar das pressões de enchimento normais (ou apenas à custa do aumento das pressões de enchimento). Clinicamente é definida como uma síndrome na qual os doentes têm sintomas típicos (e.g. dispneia, edema maleolar e fadiga) e sinais (e.g. turgescência venosa jugular, crepitações pulmonares e área de impulso máxima deslocada) resultantes da referida anomalia. 23 A principal terminologia utilizada para descrever a IC baseia-se na medição da fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE), e que corresponde ao volume diastólico final menos o volume sistólico final, dividido pelo volume diastólico final. A literatura tem vindo a mostrar que a avaliação da FEVE é importante na IC, não apenas devido ao seu prognóstico (quanto mais baixa for a FEVE, menor será a sobrevida), mas também porque, a maioria dos estudos clínicos selecionam os doentes com base na FEVE, (e.g. estudo EPICA; Linhares et al., 2010; Dickson et al., 2011 Seto et al., 2011) habitualmente medida através de ecocardiografia ou por técnica de radionuclídeos (European Society of Cardiology, 2013). No diagnóstico de IC deve identificar-se uma causa cardíaca subjacente. Normalmente, é uma doença do miocárdio que causa disfunção ventricular sistólica. Contudo, as anomalias da função diastólica ventricular, das válvulas, do pericárdio, do endocárdio, do ritmo cardíaco e da condução também podem causar IC, sendo que pode existir mais do que uma anomalia. Na maioria dos casos, a IC começa com disfunção sistólica do ventrículo esquerdo, sendo que as três causas mais comuns de diminuição da contratilidade do ventrículo esquerdo são a doença das artérias, a estenose aórtica e a hipertensão sistémica. Por motivos terapêuticos, a identificação do problema cardíaco subjacente deve ser precoce, na medida em que a sua identificação determina qual o tratamento mais adequado (Haugh & Ballener, 2003; Carbajal & Deedwania, 2005; Kumar et al., 2005). Tipos de Insuficiência cardíaca Para Carbajal e Deedwania (2005) e Haugh e Ballener (2003), a IC pode ser aguda ou crónica, direita ou esquerda, de alto e baixos débitos, retrógrada e anterógrada e sistólica ou diastólica. Acrescentam que na Insuficiência Cardíaca Aguda e Crónica, as manifestações da IC dependem da velocidade com que a síndrome se desenvolve e do período de tempo para que o líquido se acumule nos espaços intersticiais. Em geral, se a anomalia cardíaca subjacente se desenvolve lentamente, os mecanismos compensatórios têm tempo de ser ativados e a pessoa é capaz de se adaptar à alteração do débito cardíaco. Se a condição subjacente se desenvolve rapidamente, ou se um fator agudo precipitante estiver presente, o resultado pode ser a perfusão inadequada de órgãos ou a congestão aguda do leito venoso que drena para o ventrículo acometido, 24 causando descompensação cardíaca súbita, redução concomitante no débito cardíaco e início agudo dos sintomas (Stevens & Lowe, 2002; Haugh & Ballener, 2003). Na IC crónica, os mecanismos adaptativos são ativados gradualmente e ocorre hipertrofia cardíaca. As alterações permitem que a pessoa se ajuste e tolere a redução do débito cardíaco com menos dificuldade. Quando o início da IC esquerda é gradual, o coração direito desenvolve pressões mais elevadas em resposta a um maior nível de resistência pulmonar. O início agudo de aumentos semelhantes na resistência pulmonar pode causar IC direita aguda. Uma pessoa com IC crónica pode conseguir a compensação contudo, pode apresentar posteriormente descompensação aguda como resultado de uma causa precipitante (e.g. não adesão a medidas farmacológicas e não farmacológicas, disrritmias cardíacas, sobrecarga de líquidos, embolia ou infeção pulmonar) (Stevens & Lowe, 2002; Haugh & Ballener, 2003; Carbajal & Deedwania, 2005). A Insuficiência Cardíaca Esquerda e Direita, refere-se ao lado do coração que se encontra afetado, é geralmente limitada a um lado quando o início é abrupto (e.g. no enfarte agudo do miocárdio). A capacidade de reserva venosa é menor à esquerda, as pressões venosas elevadas e os sintomas associados ocorrem após a acumulação relativamente menor de líquido à esquerda (Carbajal & Deedwania, 2005; Kumar et al., 2005). Embora inicialmente envolva apenas um dos ventrículos, numa fase posterior ocorre o desenvolvimento de insuficiência biventricular, principalmente quando o ventrículo esquerdo é o local do dano inicial. Os ventrículos partilham o septo interventricular e as alterações bioquímicas não estão restritas ao ventrículo oposto. Além disso, como as quatro câmaras estão contidas no saco pericárdico, quando ocorre o aumento súbito de qualquer câmara, as câmaras opostas sofrem compressão e a pressão de enchimento do ventrículo normal eleva-se. A IC direita ocorre após a insuficiência ventricular esquerda, mas a IC esquerda raramente ocorre após a IC direita isolada, sem que haja a presença de uma anormalidade concomitante separada do coração esquerdo (e.g. coronariopatia com isquémia ou enfarte agudo do miocárdio). Nas pessoas com insuficiência do ventrículo esquerdo, a IC direita subsequente pode aliviar os sintomas respiratórios (e.g. dispneia, ortopneia, dispneia noturna, dispneia de esforço), geralmente associados à IC esquerda (Haugh & Ballener, 2003; Carbajal & Deedwania, 2005). 25 Na Insuficiência Cardíaca de Altos e Baixos Débitos, a maioria dos casos está associada a um estado de baixo débito que causa alterações na circulação periférica (vasoconstrição), incluindo extremidades frias, húmidas e pálidas, oligúria, baixa pressão de pulso e um alargamento associado da diferença entre o oxigénio do sangue arterial misto e venoso. A IC de alto débito é menos comum e geralmente encontra-se associada a estados circulatórios hipercinéticos (e.g. anemia, tireotoxicose, gravidez, doença de Paget, fístula arteriovenosa), quadros que em geral deflagram a IC quando sobrepostos à cardiopatia subjacente. A IC de alto débito está associada a vasodilatação, a pessoa apresenta pele quente, ruborizada e pulso forte. A diferença do oxigénio arteriovenoso misto encontra-se normal ou diminuído, mas normalmente excede o nível encontrado em pessoas com IC de baixo débito (Haugh & Ballener, 2003; Carbajal & Deedwania, 2005). Na Insuficiência Cardíaca Retrógrada e Anterógrada, as manifestações clínicas estão associadas ao aumento da pressão no sistema que drena para um ou ambos os ventrículos (insuficiência retrógrada), ao débito cardíaco inadequado em direção anterógrada (insuficiência anterógrada) ou a ambos. Um princípio importante da teoria da insuficiência retrógrada é o surgimento de IC direita como consequência da insuficiência ventricular esquerda. O aumento da pressão diastólica do ventrículo esquerdo, da pressão da aurícula esquerda e da pressão venosa pulmonar, causam transmissão retrógrada da pressão o que conduz a hipertensão pulmonar que, mais tarde, irá causar insuficiência ventricular direita e aumento da pressão venosa sistémica. Além da congestão venosa, a IC retrógrada pode causar diminuição do débito cardíaco com perfusão orgânica inadequada (insuficiência anterógrada). A insuficiência anterógrada pode ser responsável por muitas das manifestações clínicas da IC, como confusão mental devido à diminuição da perfusão cerebral; fadiga e fraqueza devido à diminuição da perfusão muscular esquelética; retenção de sódio e de água com congestão venosa secundária por diminuição da perfusão renal. A retenção de sódio e água, por sua vez aumenta o volume de líquido extracelular e acaba por desencadear os sintomas de ICC, secundários à acumulação de líquido em vários órgãos e tecidos periféricos (Haugh & Ballener, 2003; Carbajal & Deedwania, 2005; Kumer et al., 2005). Os mecanismos que levam à IC tanto anterógrada como retrógrada existem na maioria das pessoas com ICC. Entretanto com base no processo fisiopatológico subjacente nas anormalidades hemodinâmicas e na rapidez com que ocorre a doença (e.g. 26 enfarte agudo do miocárdio, embolia pulmonar aguda), inicialmente uma ou outra pode predominar. No início do processo de IC, o débito cardíaco pode ser normal em repouso porém, quando em esforço ou em stress, como é o caso do exercício físico, ou episódios em que existe aumento de consumo metabólico, o débito cardíaco não consegue aumentar normalmente, a taxa de filtração glomerular diminui e os mecanismos renais de retenção de sal e água, ativam-se. A pressão de enchimento ventricular, bem como as pressões no átrio e no sistema venoso atrás do ventrículo acometido, podem sofrer um aumento anormal durante o exercício, podendo causar transudação de líquido e sintomas de congestão tecidual durante o exercício físico. Nestes estádios iniciais, o repouso físico pode induzir a diurese e aliviar os sintomas em muitas pessoas com IC leve, as atividades físicas excessivas e extenuantes pioram o estado hemodinâmico comprometido e causam a progressão da IC (Carbajal & Deedwania, 2005). Na Insuficiência Cardíaca Sistólica e Diastólica, Carbajal e Deedwania (2005) apontam que os sinais e sintomas podem ser causados por uma anomalia na função sistólica que conduz a um defeito na ejeção do sangue de dentro do coração (insuficiência cardíaca sistólica) ou uma anomalia na função diastólica do miocárdio que leva a um defeito no enchimento ventricular (IC diastólica). A diminuição do enchimento do ventrículo esquerdo causada pela disfunção diastólica provoca redução do volume sistólico e sintomas associados de baixo débito cardíaco, enquanto o aumento das pressões de enchimento causa sintomas de congestão pulmonar. Assim, algumas das caraterísticas da IC (como é o caso, da incapacidade do ventrículo esquerdo em fornecer débito anterógrado adequado para atender às necessidades dos músculos esqueléticos durante o exercício físico enquanto mantém pressões de enchimento normais), podem resultar principalmente da disfunção diastólica, que em algumas pessoas, pode ocorrer com função sistólica do ventrículo esquerdo normal. Carbajal e Deedwania (2005) indicam que não existem dados exatos sobre a prevalência da disfunção diastólica que conduz à IC na presença e função sistólica normal. Vários fatores podem predispor ao aumento do risco de disfunção diastólica na presença de função sistólica normal do ventrículo esquerdo (e.g. doença da artéria coronária, hipertrofia do ventrículo esquerdo, miocardiopatia dilatada, sobrecarga de volume, aumento da pós-carga, fibrose miocárdica, restrição ao enchimento e doenças infiltrativas do miocárdio). 27 As principais manifestações clínicas da insuficiência sistólica resultam do débito cardíaco anterógrado inadequado. As consequências mais importantes da insuficiência diastólica relacionam-se com a elevação da pressão de enchimento ventricular e pressão venosa ascendente ao ventrículo, causando congestão venosa sistémica ou pulmonar ou ambas. A insuficiência sistólica é causada pela disfunção contrátil crónica secundária à necrose miocárdica decorrente do enfarte prévio e pela redução aguda da contratilidade miocárdica, sendo considerada a forma mais comum de IC. Já a insuficiência diastólica em pessoas com doença das artérias coronárias, ocorre primariamente devido à redução da complacência ventricular e ao aumento da rigidez, causada pela substituição do miocárdio normal, e distensível por tecido cicatricial fibroso, bem como pela redução aguda do relaxamento diastólico do miocárdio normal durante episódios de isquémia miocárdica transitória. A disfunção diastólica é a mais comum nos idosos. Contudo, com o avançar do tempo, os doentes com disfunção diastólica, acabam por desenvolver disfunção sistólica em maior ou menor grau (Haugh & Ballener, 2003; Carbajal & Deedwania, 2005). A IC em pessoas com doença coronária resulta frequentemente da combinação da disfunção sistólica e diastólica, correspondendo aproximadamente a 2/3 dos casos de IC sistólica, embora a hipertensão e a diabetes estejam também presentes em muitos casos. Existem outras causas de IC sistólica que incluem infeção vírica anterior (reconhecida ou não), consumo abusivo de álcool, quimioterapia e cardiomiopatia dilatada idiopática. Embora a causa seja desconhecida, alguns destes casos podem ter origem genética (European Society of Cardiology, 2013). A disfunção sistólica não tratada traduz-se no agravamento progressivo ao longo do tempo, com o aumento crescente do ventrículo esquerdo e o declínio da Fração de Ejeção, apesar da pessoa com IC poder não apresentar sintomas inicialmente. Considera-se que dois mecanismos possam ser relevantes para esta progressão: a ocorrência de outros eventos que levam à morte adicional de miócitos (Enfarte Agudo do Miocárdio recorrente), e as respostas sistémicas induzidas pelo declínio na função sistólica, principalmente a ativação neuro-humoral (European Society of Cardiology, 2013). O estudo EPICA refere que, tendo por base os critérios ecocardiográficos, podem ser definidos subtipos de ICC: doença cardíaca valvular, podendo ser moderada ou grave; 28 doença do pericárdio na presença de derrame pericárdico moderado a grave; IC direita, quando existe dilatação do isolada do ventrículo direito, ou associada a dilatação da aurícula esquerda; disfunção sistólica do ventrículo esquerdo com ou sem função preservada; multifatorial, quando se registam várias anomalias e não é possível identificar a causa primária (Ceia et al., 2005). Para a European Society of Cardiology (2013), a limitação sintomática das pessoas com IC pode ainda ser classificada através da classificação funcional da New York Heart Association (NYHA) que em conjunto com a FEVE, constitui critério chave de inclusão em praticamente todos os ensaios clínicos em IC (e.g. Linhares et al., 2010; Dickson, et al., 2011; Seto et al., 2011). Face ao exposto, a IC pode ser classificada em quatro classes, que se encontram descritas no Quadro 1. As pessoas com IC que se encontram na classe I da NYHA não têm quaisquer sintomas atribuíveis a doença cardíaca. Os sintomas das pessoas com IC que se encontram nas classes II, III e IV da NYHA são considerados ligeiros, moderados ou graves, respetivamente (Haugh & Ballener, 2003). Classe I Sem restrição de atividade física. A atividade física normal não provoca falta de ar, fadiga nem palpitações desajustadas. Classe II Ligeira restrição de atividade física. Confortável em repouso, mas a atividade física normal provoca falta de ar, fadiga ou palpitações desajustadas. Classe III Restrição marcada de atividade física. Confortável em repouso, mas a atividade física inferior ao normal provoca falta de ar, fadiga ou palpitações desajustadas. Classe IV Incapacidade de realizar qualquer atividade física sem sentir desconforto. Podem verificar-se sintomas em repouso. Perante a realização de qualquer atividade física, o desconforto aumenta. Quadro 1 – Classificação funcional da IC baseada na gravidade dos sintomas e na atividade física de acordo com a New York Heart Association, adaptado da European Society of Cardiology, 2013 É importante notar que a gravidade dos sintomas está pouco relacionada com a função ventricular, embora haja uma relação clara entre a gravidade dos sintomas e a 29 sobrevida. As pessoas com IC com sintomas ligeiros podem ainda apresentar um risco relativamente elevado de internamento hospitalar e morte. Os sintomas podem também alterar-se repentinamente, sendo que a deterioração dos sintomas indica um risco agravado de internamento hospitalar e morte, sendo um indicador para procurar imediatamente ajuda médica e tratamento. A melhoria dos sintomas é um dos dois maiores objetivos do tratamento da IC, sendo que o outro é reduzir a morbilidade, evitar o internamento hospitalar e a mortalidade (European Society of Cardiology, 2013). Sinais e sintomas de Insuficiência Cardíaca O diagnóstico de IC pode ser difícil, principalmente nas fases iniciais da doença. Embora os sintomas levem as pessoas a procurar ajuda médica por vezes, não são específicos e por conseguinte não facilitam o diagnóstico diferencial entre a IC e outras patologias. Por sua vez os sintomas mais específicos, como é o caso da dispneia paroxística noturna e a ortopneia, são menos comuns, especialmente em pessoas em fase inicial de IC (Ceia et al., 2005; Carbajal & Deedwania, 2005). Muitos dos sinais da IC causam retenção de sódio e água e consequentemente edemas periféricos, mas não são específicos. Os sinais mais específicos são a pressão venosa jugular elevada e o deslocamento do impulso apical, sendo estes os mais difíceis de detetar, sobretudo em pessoas obesas, idosos e em pessoas com doença pulmonar obstrutiva crónica (European Society of Cardiology, 2013). O historial clínico da pessoa é também fundamental, uma vez que a IC não é habitual em pessoas sem qualquer historial clínico relevante (por exemplo, uma causa potencial de lesão cardíaca, EAM prévio). Estes pontos realçam a necessidade de obter evidências objetivas de uma anomalia cardíaca estrutural ou funcional, que se pense ser um fator contributivo para os sintomas e sinais da pessoa, para consolidar o diagnóstico (Carbajal & Deedwania, 2005). Assim, os principais sinais e sintomas da IC são a dispneia, podendo ser considerada ainda dentro deste grupo a dispneia paroxística noturna e a ortopneia; a fadiga e a fraqueza; a noctúria e oligúria; os sintomas cerebrais e os sintomas abdominais (Stevens & Lowe, 2002; Carbajal & Deedwania, 2005; Pinto & J., 2005; Kumar, et al., 2005). 30 A dispneia é o sintoma mais precoce e mais frequente na IC. Inicialmente, a dispneia durante o exercício físico é notada como uma mudança na extensão da atividade física que causa a falta de ar. À medida que a IC progride, a intensidade do exercício físico diminui. A pessoa com IC desenvolve progressivamente dispneia paroxística noturna, ortopneia e posteriormente dispneia em repouso (Haugh & Ballener, 2003). A gravidade da dispneia torna-se menos intensa na insuficiência do ventrículo esquerdo, após a pessoa desenvolver falência do ventrículo direito. Geralmente a dispneia é menos acentuada na insuficiência do ventrículo direito, pois não ocorre congestão pulmonar. Entretanto, mesmo as pessoas com predomínio da insuficiência do ventrículo direito podem desenvolver dispneia grave com a progressão da IC. Isto ocorre devido à diminuição do débito cardíaco, da má perfusão dos músculos respiratórios e da hipóxia associada, levando à acidose metabólica (Carbajal & Deedwania, 2005). A dispneia paroxística noturna (DPN) surge após a pessoa se encontrar a dormir em posição de supina, referindo pouco tempo após sensação de falta de ar, sendo que em posição de fowler existe alívio dos sintomas. A DPN, geralmente precede a ortopneia. Pode estar associada a broncospasmo e sibilos e pode ser confundida com uma crise de asma brônquica, especialmente em pessoas com doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) já previamente diagnosticada. A DPN é causada primariamente pela mobilização de líquido intersticial (principalmente em pessoas com edemas) dos locais infratorácicos durante a posição de decúbito dorsal. O resultado é o aumento de volume de sangue circulante e o aumento da pressão venosa pulmonar, especialmente em pessoas com disfunção diastólica do ventrículo esquerdo (Carbajal & Deedwania, 2005). A ortopneia é definida como a dificuldade respiratória que ocorre quando a pessoa adota a posição de supina, aliviando a sintomatologia ao sentar-se ou levantar-se. As pessoas acometidas de forma mais grave geralmente dormem usando várias almofadas, em posição de semi-fowler, ou sentadas numa cadeira. A ortopneia tem a mesma causa que a DPN, mas representa um enfraquecimento ainda mais grave. Por vezes pode ocorrer tosse seca ou irritativa, em vez de ortopneia, dispneia noturna ou a esforços. Isso acontece devido à congestão pulmonar em pessoas com IC, e geralmente é aliviada pelo tratamento bem sucedido desta. Contudo alguns fármacos utilizados no tratamento da IC podem provocar tosse, como é o caso dos Inibidores da Enzima Conversora da Angiotensina (IECA) (Haugh & Ballener, 2003; Carbajal & Deedwania, 2005). 31 A fadiga e a fraqueza são outros dos sintomas, especialmente a nível dos membros inferiores. Estes são secundários ao baixo débito cardíaco, com redução da perfusão dos músculos esqueléticos e podem ocorrer com exercício físico ou em repouso, podendo piorar após a alimentação devido ao aumento de fluxo sanguíneo, o que pode acentuar ainda mais a reserva limitada. Síndromes de baixo débito podem estar presentes, sem evidências de congestão pulmonar, limitando o desempenho durante a prova de esforço. A sede em excesso é um sintoma que por vezes está associado à ativação do sistema arginina-vasopressina e à hiponatrémia em pessoas com IC (Carbajal & Deedwania, 2005). A noctúria e oligúria são sintomas precoces e comuns na IC. A filtração renal de sódio e água está diminuída em pessoas com comprometimento da função do ventrículo esquerdo, em parte devido à redistribuição do fluxo sanguíneo para longe dos rins na posição de pé e durante a atividade física. A formação de urina aumenta na posição de decúbito dorsal, quando o estímulo renal para vasoconstrição diminui e o retorno venoso para o coração aumenta. A oligúria está associada ao débito cardíaco acentuadamente diminuído e é geralmente um sinal de IC terminal, sendo por isso um indicador de mau prognóstico (Carbajal & Deedwania, 2005). Os sintomas cerebrais estão mais presentes nos idosos com IC avançada, e manifesta-se através da confusão, défice de memória, ansiedade, cefaleias, insónias, pesadelos, e ocasionalmente, delírio, desorientação e alucinações. Esses sintomas cerebrais relacionam-se predominantemente à diminuição do débito cardíaco e à má perfusão cerebral e de outros tecidos neurológicos (Haugh & Ballener, 2003; Carbajal & Deedwania, 2005). Os sintomas abdominais manifestam-se nas pessoas com IC através das queixas gastrointestinais devido à congestão hepática e ao edema da parede abdominal e de órgãos intra-abdominais. A congestão dos órgãos abdominais pode estar presente quando existe ascite, aumento e empachamento abdominal, saciedade precoce, distensão abdominal, anorexia, náuseas, vómitos, prisão de ventre e desconforto na parte superior do abdómen. O desconforto abdominal é geralmente descrito como uma dor surda ou sensação de peso que piora ou pode ser reproduzida pela palpação do fígado ou da parte superior do abdómen. Geralmente a pessoa reconhece estes sintomas quando nota uma mudança a nível do tamanho da cintura ou através do aperto das roupas/cinto (Haugh & Ballener, 2003; Carbajal & Deedwania, 2005). 32 Após o diagnóstico ser efetuado, é importante determinar a causa, principalmente as corrigíveis e específicas. Os sintomas e sinais são importantes para monitorizar a resposta da pessoa ao tratamento e a estabilidade ao longo do tempo. A persistência destes, apesar do tratamento, normalmente indica a necessidade de terapêutica adicional e o agravamento é um desenvolvimento sério que leva a que a pessoa necessite de cuidados médicos imediatos (European Society of cardiology, 2013). Exames de diagnóstico em pessoas com suspeita de Insuficiência Cardíaca Considerando a dificuldade de classificação de evidências para os exames de diagnóstico, as guidelines da European Society of Cardiology (2012), consideram que que todos os doentes com suspeita de IC devem ser submetidos a eletrocardiograma, radiografia do tórax, ecocardiograma e estudo analítico. É recomendado um eletrocardiograma com 12 derivações para determinar o ritmo cardíaco, a frequência cardíaca, a morfologia do QRS e a duração do QRS, bem como para detetar outras anomalias relevantes. Esta informação também auxilia no planeamento do tratamento e é importante para a determinação do prognóstico. A existência de um eletrocardiograma completamente normal torna improvável a IC sistólica. A radiografia do tórax também é importante na medida em que permite observar a cardiomegália, em pessoas inicialmente diagnosticadas com miocardiopatia dilatada primária. Este exame também é importante para detetar/excluir determinados tipos de doenças pulmonares, mas não exclui cancro, asma ou DPOC. Pode identificar também congestão pulmonar/edema e é mais útil em pessoas em que existe suspeita de IC na fase aguda. A ecocardiografia transtorácica é recomendada para avaliar a estrutura e o funcionamento cardíaco, incluindo a função diastólica e para medir a fração de ejeção do ventrículo esquerdo. Isto permite fazer o diagnóstico de IC, auxiliar no planeamento, monitorização do tratamento e obter informação sobre o prognóstico. Os estudos analíticos são importantes no diagnóstico da IC, sendo que é fundamental efetuá-los a todas as pessoas com suspeita de IC. A medição da concentração no sangue do peptídeo natriurético consiste num conjunto de hormonas segregadas em quantidades superiores, quando o coração tem uma doença ou quando a carga de qualquer das câmaras é maior (por fibrilhação auricular, embolia pulmonar e algumas 33 doenças não cardiovasculares, incluindo a insuficiência renal crónica). A utilização de peptídeos natriuréticos (BNP, NT-pro BNP ou MR- proANP) deve ser tida em conta para excluir causas alternativas de dispneia e obter informação sobre o prognóstico. O hemograma completo é recomendado para detetar anemia que pode ser causa alternativa dos sinais e sintomas do doente e pode causar agravamento da IC e obter informação sobre o prognóstico. A realização de análises sanguíneas (sódio, potássio, cálcio, ureia/azoto ureico, creatinina/taxa de filtração glomerular estimada, enzimas hepáticas, ferritina/TIBC, função tiroideia) é recomendada para avaliar a adequabilidade da pessoa para terapêutica com diuréticos, antagonistas da renina-angiotensina-aldosterona, anticoagulantes, monitorização do tratamento, bem como para detetar causas reversíveis/tratáveis da IC (e.g. hipercalcémia, disfunção da tiróide) e comorbilidades (e.g. falta de ferro) e obter informação sobre o prognóstico. A avaliação do prognóstico é particularmente importante durante o aconselhamento às pessoas sobre dispositivos e cirurgia (incluindo o transplante) e durante o planeamento dos cuidados em fim de vida com as pessoas com IC, as suas famílias e prestadores de cuidados (European Society of Cardiology, 2013). As guidelines da European Society of Cardiology (2013) acrescentam ainda que se deve considerar realizar ressonância magnética cardíaca (RMC), a angiografia coronária, ecocardiografia/RMC/SPECT ou PET, cateterismo esquerdo e a prova de esforço. Tratamento da Insuficiência Cardíaca O tratamento da IC requer uma abordagem de tratamento de alcance multidisciplinar, podendo classificar-se em medidas farmacológicas e não farmacológicas (Carbajal & Deedwania, 2005). Os objetivos do tratamento farmacológico em pessoas com IC diagnosticada são aliviar os sintomas e os sinais (e.g. edema), evitar o internamento e melhorar a sobrevivência. As reduções nas taxas de mortalidade e de internamento refletem a capacidade dos tratamentos eficazes no abrandamento ou prevenção do agravamento progressivo da IC. Isto é frequentemente acompanhado por reversão da remodelagem do ventrículo esquerdo e por uma redução das concentrações de peptídeos natriuréticos circulares (European Society of Cardiology, 2013). 34 O tratamento farmacológico indicado nas pessoas com IC com Fração de Ejeção Reduzida (IC sistólica) pretende aliviar os sintomas, evitar o internamento e melhorar a sobrevida. As pessoas com IC devem ser medicadas com um Inibidor da Enzima de Conversão da Angiotensina, ou se não tolerado, um antagonista do recetor da angiotensina combinado com um betabloqueante, (salvo se contraindicado). Às pessoas com sintomas persistentes e disfunção sistólica além deste tratamento deve ser prescrito um antagonista dos recetores de mineralocorticóides. No tratamento farmacológico da IC com Fração de Ejeção Preservada (IC diastólica), desconhece-se qualquer tratamento que tenha comprovado a redução da mortalidade e da morbilidade. Os diuréticos permitem controlar os níveis de sódio e a retenção de líquidos bem como aliviar a dispneia e o edema, tal como na IC com Fração de Ejeção Reduzida. Os betabloqueantes também devem ser utilizados para controlar a frequência ventricular em pessoas com IC com fração de ejeção Preservada (IC-FEP) e fibrilhação auricular. Os medicamentos que devem ser evitados na IC-FER. Também devem ser evitados na IC-FEP, à exceção dos bloqueadores dos canais de cálcio (European Society of Cardiology, 2013). Existe ainda o tratamento não cirúrgico com dispositivos na IC-FER, em que é recomendada a utilização de cardioversores desfibrilhadores implantados (CDI) em pessoas com IC. Na prevenção primária recomenda-se um CDI numa pessoa com IC classe III-IV e uma Fração de Ejeção inferior ou igual a 35%, apesar de se encontrar medicada há três meses ou mais com terapêutica farmacológica otimizada e esperança de vida superior a um ano com bom estado funcional, para reduzir o risco de morte súbita. Deve possuir etiologia isquémica e com duração superior a 40 dias após um enfarte agudo do miocárdio ou etiologia não isquémica. Na prevenção secundária, recomenda-se um CDI numa pessoa com arritmia ventricular, que cause instabilidade hemodinâmica, com esperança média de vida superior a um ano com um bom estado funcional, para reduzir o risco de morte súbita (European Society of Cardiology, 2013). As intervenções não farmacológicas e não relacionadas com dispositivos nem cirurgia usadas no tratamento da IC (tanto na IC-FER como na IC-FEP), recomendadas nas guidelines da European Society of Cardiology (2013), consistem na prática regular de exercício aeróbio para a melhoria da capacidade funcional e dos sintomas. Recomenda-se também, a inclusão de pessoas com IC num programa de cuidados multidisciplinares para regular o risco de internamento. 35 Segundo a revisão sistemática realizada por Van Der Wall et al. (2005); Rabelo et al. (2007); Holguín, Gázquez e Urrego (2014), ficou comprovado que o condicionamento físico conseguido através do exercício melhora a tolerância ao esforço, aumenta a qualidade vida relacionada com a saúde e diminui a taxa de internamento em pessoas com IC. As evidências sugerem que o exercício físico é benéfico, embora regra geral as pessoas mais idosas não tivessem participado em muitos dos estudos e se desconheça qual o nível ótimo de exercício a prescrever. O objetivo do tratamento da IC consiste em providenciar um sistema integrado de cuidados, que abranja a comunidade e as instituições de saúde, por forma a assegurar a prestação de um tratamento otimizado, do princípio ao fim da cadeia de cuidados de saúde. Assim, torna-se fundamental que os programas de tratamento a pessoas com IC-FER ou IC-FEP tenham como principais caraterísticas a integração numa equipa com abordagem multidisciplinar, constituída por cardiologistas, médicos de cuidados de saúde primários, enfermeiros, farmacêuticos, entre outros, devendo visar as pessoas com IC sintomáticas de alto risco e incluir pessoal competente e qualificado. Como principais componentes estes programas devem possuir tratamento médico otimizado e com dispositivos; informação à pessoa com IC, com ênfase especial sobre a adesão e autocuidado; participação das pessoas com IC na monitorização de sintomas e utilização flexível de diuréticos; acompanhamento pós alta (com consultas regulares em hospital e/ou domicílio facultando apoio telefónico ou telemonitorização); maior acesso a cuidados médicos através de acompanhamento pessoal e por contato telefónico, sendo também possível o acompanhamento à distância; acesso facilitado aos cuidados durante episódios de descompensação; avaliação e intervenção adequada em caso de aumento inexplicável do peso, estado nutricional, estado funcional, qualidade de vida e resultados laboratoriais; acesso a opções avançadas de tratamento e prestação de apoio psicossocial a doentes, familiares e/ou pessoa significativa (Rabelo et al., 2007; Holguín, 2010; Arruda & Cavalcanti, 2012; European Society of Cardiology, 2013; Oliveira et al., 2013). Para atingir este objetivo devem ser integrados outros serviços, como reabilitação cardíaca e cuidados paliativos, no programa completo de tratamento de pessoas com IC. Os programas de tratamento multidisciplinares desempenham um papel essencial na prestação destes cuidados, pois têm como principal objetivo melhorar os resultados através de um acompanhamento estruturado, que inclui informação à pessoa com IC, otimização do tratamento médico, apoio psicossocial e o melhor acesso aos serviços. 36 A chave do sucesso destes programas é a coordenação do tratamento contínuo da IC e da cadeia de cuidados prestados pelos vários serviços que compõem as entidades do sistema de saúde. Para tal, é fundamental que haja colaboração multidisciplinar (European Society of Cardiology, 2013). Clinicamente, as mudanças descritas estão associadas ao desenvolvimento de sintomas e agravamento dos mesmos ao longo do tempo, causando degradação da qualidade de vida, capacidade funcional decrescente, episódios de descompensação que levam ao internamento hospitalar e/ou morte prematura, normalmente devido a falência ventricular ou arritmia ventricular. A reserva cardíaca limitada das pessoas com IC depende também da contração auricular, contração sincronizada do ventrículo esquerdo e da interação normal entre ventrículos direito e esquerdo. Eventos intercorrentes que afetem qualquer um dos supramencionados ou que imponham uma carga hemodinâmica adicional à IC (e.g. anemia) podem causar descompensação aguda (European Society of Cardiology, 2013). A intervenção ativa da equipa de enfermagem através de práticas de educação para a saúde com enfoque para o autocuidado, desempenham um papel relevante quando abordadas nas pessoas com IC, na medida em que o autocuidado é tido como o reflexo da capacidade que as pessoas têm sobre o seu modo de agir. Sendo que as ações de autocuidado constituem a prática de atividades, que as pessoas desempenham de forma deliberada tendo como principal objetivo o seu próprio benefício, de maneira a manter a vida, a saúde e o bem-estar (Bub et al., 2006). 37 38 2 - TEORIA DO DÉFICE DE AUTOCUIDADO EM ENFERMAGEM Segundo o Conselho Internacional de Enfermeiros e Ordem dos enfermeiros (2011, p.41) Autocuidado pode ser definido como: “Atividade executada pelo próprio: tratar do que é necessário para se manter, manter-se operacional e lidar com as necessidades individuais básicas e íntimas e as atividades da vida diária”. O modelo do autocuidado proposto por Orem foi desenvolvido na década de 1950, baseado na premissa de que as pessoas podem cuidar de si mesmas, sendo que este modelo é composto por três teorias inter-relacionadas: a teoria dos sistemas de enfermagem; a teoria do défice de autocuidado e a teoria do autocuidado (Vítor, Lopes & Araújo, 2010) O objetivo da autora era melhorar a qualidade dos cuidados de enfermagem e por essa razão surgiu a necessidade de desenvolver a sua definição na prática. Após vários trabalhos de investigação, Orem formulou a sua teoria do défice de autocuidado como uma teoria geral composta de três teorias relacionadas: a teoria do autocuidado, que descreve como e porque é que as pessoas cuidam de si mesmas; a teoria do défice de autocuidado, na qual é descrito e explicado porque razão as pessoas podem ser ajudadas através das equipas de enfermagem; e a teoria dos sistemas de enfermagem, no qual é descrito e explicado como as pessoas são ajudadas pela equipa de enfermagem (Taylor, 2004; Bub et al., 2006; Vítor, Lopes & Araújo, 2010). Assim, para Orem, a teoria dos sistemas de enfermagem é a teoria unificadora na qual estão incluídos todos os elementos essenciais. Esta explica e descreve como as pessoas são ajudadas pela equipa de enfermagem, na medida em que os cuidados são articulados com as necessidades das pessoas, ou seja, são ações produzidas pelos enfermeiros tendo como destinatário as pessoas, sendo que podem ser produzidos para doentes, familiares ou prestadores de cuidados (Diógenes & Pagliuca, 2003; Taylor, 2004). A teoria do défice de autocuidado, constitui a essência da teoria geral de enfermagem, pois exprime a relação entre a capacidade de ação da pessoa e as suas necessidades de cuidado. Surge como fundamento das outras, na medida em que exprime o objetivo, os métodos e o resultado de cuidar de si próprio (Diógenes & Pagliuca, 2003; Taylor, 2004). 39 A teoria do autocuidado define autocuidado como uma função humana reguladora que as pessoas têm que desempenhar, deliberadamente, por si ou que alguém execute por eles de maneira a preservar a vida, a saúde, o desenvolvimento e o bem-estar. Sendo que o autocuidado é considerado um sistema de ação. O desenvolvimento dos conceitos de autocuidado, necessidade de autocuidado e atividade de autocuidado constituem a base para compreender as condições e as limitações da ação das pessoas, justificando em que medida podem beneficiar com a prestação de cuidados de enfermagem (Taylor, 2004). O autocuidado surge como um sistema de ação, na medida em que tem de ser aprendido e executado deliberadamente e continuamente em conformidade com as necessidades reguladoras das pessoas. Estas condições estão associadas aos seus estádios de crescimento e de desenvolvimento, estados de saúde, caraterísticas específicas de saúde ou de estados de desenvolvimento, níveis de consumo de energia e fatores ambientais. A teoria do autocuidado é igualmente alargada a uma teoria de cuidar dependente naquilo em que o objetivo, os métodos e os resultados do cuidado dos outros é expresso (Taylor, 2004). A teoria do défice de autocuidado é aplicada quando as pessoas se consideram limitadas para prover autocuidado sistemático, necessitando por isso da prestação de cuidados de enfermagem. Esta necessidade de prestação de cuidados de enfermagem encontra-se associada à subjetividade da maturidade e do amadurecimento das pessoas em relação às limitações da ação relacionadas com a saúde ou com os cuidados de saúde. Estas deixam-nas completa ou parcialmente incapazes de saber as condições existentes ou emergentes para o cuidado regulador de si mesmas ou dos seus dependentes. Limitam também, a capacidade para se encarregar da execução continuada de medidas de cuidado para controlar, ou gerir fatores reguladores do seu próprio funcionamento e desenvolvimento ou dos seus dependentes (Diógenes & Pagliuca, 2003; Taylor, 2004). Esta teoria reflete a relação existente entre as capacidades de ação das pessoas e as suas necessidades de cuidado. O défice de autocuidado é um conceito abstrato que, quando expresso em termos de limitações de ação, fornece orientações para a seleção de métodos de auxílio e compreensão do papel da pessoa no autocuidado. A teoria dos sistemas de enfermagem sugere que são sistemas de ação concebidos e produzidos por profissionais de enfermagem através do exercício da sua atividade profissional para pessoas com limitações de autocuidado. Pode-se afirmar que esta 40 teoria engloba, a teoria do défice de autocuidado que, por sua vez, contém a teoria do autocuidado (e.g. quando por algum motivo é necessário prestar cuidados de enfermagem, é produzido um sistema de enfermagem) (Vítor, Lopes & Araújo, 2010). A atividade de enfermagem inclui conceitos de ação deliberada, incluindo a intencionalidade e operações de diagnóstico, prescrição e regulação. Os sistemas de enfermagem podem ser produzidos para as próprias pessoas, para as pessoas que constituam uma unidade de cuidar dependente, para grupos cujos membros possuam necessidades de autocuidado terapêutico com componentes semelhantes ou que apresentem limitações parecidas para a ocupação com autocuidado ou o cuidar dependente, para famílias ou outras unidades multipessoais (Taylor, 2004). O uso destas três teorias tem que estar implícito para que se aplique corretamente a Teoria do Défice do Autocuidado de Orem (Taylor, 2004). O autocuidado é uma função humana reguladora que se deve aplicar a cada pessoa de forma deliberada com o objetivo de manter a sua vida, o seu estado de saúde, desenvolvimento e bem-estar, tornando-se assim um sistema de ação. Sendo que este deve aprender-se e aplicar-se de forma deliberada e contínua no tempo sempre em consonância com as necessidades de regulação que as pessoas têm ao longo das suas etapas de crescimento e de desenvolvimento, estado de saúde, caraterísticas de saúde ou fases específicas de desenvolvimento, fatores ambientais e níveis de consumo de energia (Kane & Kane, 1993; Gallegos & Cardénas, 2000; Gallo et al., 2009). Desta forma, as oito funções da teoria do défice de autocuidado são: definir que termos referentes à pessoa são mais adequados à enfermagem; destacar o enfoque de enfermagem mais adequado; estabelecer uma linguagem própria; definir limites para orientar o pensamento, a prática, a investigação e a educação; reduzir a carga cognitiva, proporcionando subsídios à razão para receber informações e permitir às pessoas categorizar conceitos de forma a relacionar perceções sobre caraterísticas de situações concretas de enfermagem; permitir interferências sobre as articulações da enfermagem com outros domínios da atividade humana; gerar nos estudantes e nos enfermeiros um estilo de pensamento e comunicação padronizados e inserir os enfermeiros no âmbito académico (Vítor, Lopes & Araújo, 2010). Para Holguín (2010), os comportamentos de autocuidado são condutas efetivas e positivas que contribuem para que a pessoa seja capaz de tomar decisões e praticar ações que ajudam a conservar a sua saúde, evitando assim, recidivas. Estes 41 comportamentos são influenciados pela motivação, pelo empoderamento, pelas crenças, os hábitos e as práticas que caraterizam as formas de vida e cultura das pessoas. O autocuidado é uma capacidade humana que permite à pessoa decidir sobre que fatores deve controlar ou excluir de maneira a permitir a regulação da ação de autocuidado intencional, podendo ser desenvolvido pela própria pessoa durante a sua vida, por meio de um processo espontâneo de aprendizagem que é complementado pela curiosidade intelectual, pela experiência, aprendizagem e pela instrução e supervisão de terceiros que o constituem. As ações de autocuidado têm objetivos a serem cumpridos denominados de requisitos de autocuidado, os quais foram classificados em universais, de desenvolvimento e de desvio de saúde (Bub et al., 2006). Os universais são comuns a todos os seres humanos, como é o caso da manutenção de um suprimento suficiente de ar, ou manutenção do equilíbrio entre atividade e repouso. Os de desenvolvimento consistem nas situações que ocorrem durante o ciclo vital da pessoa e que requerem que esta adquira/pratique processos de desenvolvimento de maneira a promover o autocuidado perante uma nova condição (e.g. gestação, perda de um familiar ou pessoa próxima). Quanto aos de desvio de saúde estão presentes em situações de doença, lesão ou como consequência de medidas médicas para diagnosticar ou corrigir uma condição. Os enfermeiros prestam cuidados utilizando o método de ajuda, no qual o cuidar é compreendido como uma sequência de ações que ao serem implementadas vão superar ou compensar limitações na saúde de pessoas envolvidas nas ações reguladoras funcionais e de desenvolvimento. Segundo a Teoria do Autocuidado, existem cinco métodos de ajuda através dos quais uma pessoa pode compensar ou superar a sua dependência para o autocuidado. Os métodos que os enfermeiros utilizam em pessoas que necessitam de ajuda nos autocuidados são: agir ou fazer pelo outro; guiar ou direcionar; promover suporte físico ou psicológico; proporcionar e manter um ambiente que promova o desenvolvimento pessoal e ensinar (Bub et al., 2006). 2.1 - AUTOCUIDADO NA PESSOA COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA O controlo inadequado da IC e a não realização da prática adequada do autocuidado representam uma ameaça para a vida da pessoa, pois contribui para o aparecimento 42 de complicações. A pessoa com IC carece de cuidados dos profissionais de saúde que atuam na prevenção, primária, secundária e terciária, pois só com o envolvimento de uma equipa multidisciplinar será possível fazer uma correta abordagem (Oliveira et al., 2013). A IC manifesta-se através de um conjunto de sintomas, que consiste em alterações fisiológicas, que geralmente se manifestam pela presença de edemas, dispneia e que culmina com o internamento hospitalar. Torna-se por isso fundamental, que a pessoa seja capaz de identificar atempadamente quais são os sintomas de descompensação (Olivella, Bonilla & Bastidas, 2012). A importância do conhecimento da adequação das práticas de autocuidado em pessoas com IC, revela-se imprescindível para que se consigam evitar crises e manter a estabilidade clínica da pessoa. Torna-se fundamental que os enfermeiros implementem atividades educativas, que levem a pessoa a tornar-se independente neste autocuidado (Vítor, Lopes & Araújo, 2010). A meta dos enfermeiros é fazer com que a pessoa satisfaça as suas necessidades de autocuidado, ajudando-a a desenvolver e a exercer as mesmas, devendo para isso promover a adequação deste às suas necessidades. Contudo, existem fatores que condicionam o desenvolvimento, a operacionalidade e a qualidade da adequação do autocuidado. A inclusão da orientação sociocultural é um dos fatores básicos que condiciona a adequação do autocuidado. Os esforços para reforçar o autocuidado na IC assumem uma extrema importância no que diz respeito à aquisição de comportamentos relacionados com a dieta, adesão medicamentosa, redução do número de internamentos e consequentemente a melhoria global de resultados. O autocuidado na IC é muito variável, e novas abordagens são necessárias para diminuir os internamentos evitáveis, reduzir os sintomas e melhorar a qualidade de vida. Assim, a pessoa, os membros da família/pessoa significativa, devem ter acesso a atividades educativas de forma individualizada bem como aconselhamento, que potenciem a adequação do autocuidado (Olivella, Bonilla & Bastidas, 2012). Se a sua implementação for bem-sucedida, contribuirá para que se consiga reduzir o número de reinternamentos, os episódios de urgência na pessoa com IC, bem como, contribuirá para que os elementos da família/pessoa significativa adotem comportamentos assertivos, o que leva a uma mudança de comportamentos e redução de fatores de risco, por forma a melhorar e obter qualidade de vida (Leonardo, 2001). 43 O processo de cuidar engloba a identificação e compreensão das respostas da pessoa com IC aos problemas de saúde reais e potenciais, facilitando a escolha de intervenções de enfermagem, abordando medidas farmacológicas e não farmacológicas que se propõem a melhorar a qualidade de vida e adesão ao tratamento através de atividades educativas (Cavalcanti, Correia & Queluci, 2009). Apesar dos avanços no tratamento farmacológico na IC resultante de um melhor entendimento fisiopatológico, as taxas de reinternamento continuam a aumentar, sendo que as causas mais frequentes são decorrentes da baixa adesão ao tratamento. Este é um dado que vem reforçar a necessidade dos enfermeiros promoverem atividades educativas que visem ensinar, reforçar, melhorar e avaliar constantemente a capacidade da pessoa para a adequação do autocuidado (Evangelista & Dracup, 2000; Van Der Wal et al., 2005; Linhares et al., 2010). Quando a IC é diagnosticada, é fundamental que a pessoa tenha presente que esta é uma patologia crónica de desenvolvimento progressivo e que requer ajustes e alterações no estilo de vida. Contudo, cabe aos enfermeiros, numa primeira abordagem, não contemplar todos os aspetos relacionados com o complexo tratamento. Estes devem ser capazes de avaliar as necessidades individuais e encaminhar as atividades educativas baseadas no nível de perceção prévia da pessoa sobre a patologia, no nível de escolaridade e na função cognitiva. Assim, quando a pessoa aprende sobre a patologia, melhora o seu conhecimento e, consequentemente adere mais facilmente ao tratamento. No entanto, por vezes existe uma diferença entre o que é ensinado e o que é percecionado ou retido pela pessoa sobre a adequação do autocuidado e mesmo que melhore o entendimento, tal não se traduz necessariamente numa maior adesão/adequação (Rabelo et al., 2007). De acordo com Holguín, Gázquez e Urrego (2012), as atividades educativas fazem parte da intervenção de enfermagem para promover a adequação do autocuidado das pessoas com IC, bem como das suas famílias e/pessoa significativa. Os cinco itens prioritários na intervenção educativa são: O conhecimento da patologia; A adesão ao tratamento farmacológico e não farmacológico; Saber pedir ajuda sempre que necessário; Reconhecer que a IC é uma patologia crónica e que há que adaptar-se a ela, bem como aos efeitos secundários da medicação; 44 Reconhecer existência do autoconceito como um elemento que capacita e motiva a pessoa de maneira a que esta consiga criar o seu próprio processo de adaptação à doença. 2.2 – AUTOCUIDADO E CUIDADOS DE ENFERMAGEM A IC é uma síndrome crónica e progressiva, na qual é fundamental que existam ajustes e até mesmo alterações no estilo de vida. Muitas pessoas consideram-se saudáveis até apresentarem sinais de descompensação e, por essa razão, não aderem facilmente às orientações fornecidas pela equipa. É importante implementar as atividades educativas, de maneira a que a pessoa possa aprender sobre a sua doença, o que permitirá melhorar o seu conhecimento e adquirir uma postura de maior adesão ao tratamento (Rabelo et al., 2007). A intervenção deve ter por base o planeamento, a implementação e avaliação de um programa elaborado para dar resposta às necessidades especiais da pessoa com IC (Arruda et al., 2012). Torna-se fundamental que as atividades educativas sejam fornecidas de modo sistemático e reforçadas positivamente, sendo que os enfermeiros, bem como os restantes profissionais que integram a equipa multidisciplinar, desempenham um papel fundamental neste processo (Rabelo et al., 2007). De acordo com Oliveira et al. (2013), o autocuidado da pessoa com IC inclui a monitorização do peso, a restrição salina, a realização de atividade física, o uso regular das medicações, a monitorização de sinais e sintomas de descompensação da doença e o contato precoce com a equipa de enfermagem/médica, ou seja, é recomendado um acompanhamento do tratamento farmacológico e não farmacológico. Assim, torna-se fundamental que a pessoa com IC, adote um estilo de vida saudável em relação à dieta, especialmente no que diz respeito à restrição hidrossalina, abstenção tabágica e do etilismo, prática de exercício físico regular e controle do stresse. A orientação da pessoa com IC quanto à aferição do peso diário, no domicílio, é fundamental na perceção dos sinais de hipervolémia. As pessoas com IC devem ser orientadas a verificar o peso pela manhã, após urinar, com roupas leves, antes da refeição e utilizando sempre a mesma balança. O aumento de peso corporal de 1,3 Kg em dois dias ou de 1,3 Kg-2,2 Kg numa semana pode ser indicador de que existe 45 retenção de líquidos. De acordo com as recomendações internacionais, as pessoas com IC são aconselhadas a pesarem-se diariamente e em caso de aumento súbito de peso (> a 2 Kg em 3 dias), a entrarem em contato com a equipa ou a ajustar as doses de diuréticos. A flexibilidade para o uso dessa medicação, depende das capacidades da pessoa para o autocuidado, bem como da organização do serviço que a atende, visto que necessitam de monitorização e acompanhamento constantes (Rabelo et al., 2007). Além da monitorização do peso é também importante o exame e palpação dos pés e tornozelos de maneira a verificar se existe edema (Oliveira et al., 2013). O estudo realizado por Van Der Wal et al. (2005), indica que as pessoas com IC toleram alguns sintomas como edema, aumento de peso e fadiga até sete dias, e dispneia até três dias antes de procurarem assistência médica, sendo que apenas 5% das pessoas associam o aumento de peso como sintoma na admissão. Neste contexto, as intervenções de enfermagem devem estar focadas na educação das pessoas com IC, familiares/pessoa significativa para o reconhecimento precoce destes sinais e sintomas evitando quadros de descompensação. A quantidade de medicação utilizada, a manutenção do regime terapêutico e o número de doses diárias são fatores que influenciam diretamente a adesão ao tratamento. Quanto maior a quantidade de medicamentos, o número de doses e as mudanças no regime terapêutico, maiores são as probabilidades da pessoa não aderir, aumentando assim, os riscos de descompensação (Rabelo at al., 2004; Van Der Wal et al., 2005). Desta forma, o regime medicamentoso deve ser revisto junto da pessoa e apresentado de forma esquemática, dando ênfase ao nome dos medicamentos, quais as suas indicações, doses, horários e possíveis efeitos colaterais. As pessoas devem ser orientadas a tomar sempre a medicação, mesmo que não manifestem sintomatologia, pois isso reflete que esta é eficaz. Cabe aos enfermeiros instruir as pessoas a levar a tabela ou as receitas da medicação sempre que forem a consultas ou quando estiverem internadas, facilitando assim possíveis casos de omissão, aumento de dosagem ou confusão (Rabelo et al., 2007). As pessoas com IC devem incorporar a toma de medicação como prática de autocuidado, incluindo-a nas suas atividades diárias, gerindo as mudanças de rotina (e.g. compromissos, viagens e outras situações clínicas) (Oliveira et al., 2013). A evolução do conhecimento dobre a fisiopatologia da IC e a evidência dos benefícios da atividade física encontrada em ensaios clínicos, levou a concluir que o exercício 46 físico é uma importante forma terapêutica na disfunção cardíaca crónica estabilizada. Um estudo realizado por Belardinelli et al. (1999), demonstrou que a atividade física contribui para uma melhor capacidade funcional e qualidade de vida nas pessoas que a praticam. O efeito sustentado de melhoria funcional parece estar associado com a baixa taxa de readmissão hospitalar por IC e menor taxa de mortalidade (Rabelo et al., 2007). A orientação para a atividade física deve ser individualizada, de acordo com o grau de IC e a idade da pessoa. Um programa de caminhadas é a melhor opção para prevenir as consequências negativas (fisiológicas e psicológicas) do sedentarismo. Contudo, as pessoas devem aumentar, gradualmente, a distância percorrida. Esta orientação está incluída no conjunto de medidas não farmacológicas do tratamento da IC, devendo ser sempre abordada nas consultas de enfermagem (Rabelo et al., 2007; European Society of Cardiology, 2013). Em relação ao repouso na pessoa com IC, este só está indicado nos episódios de descompensação aguda e mesmo assim, de acordo com as limitações de cada pessoa (Rabelo et al., 2007). Dependendo da gravidade da doença, a intolerância à atividade física pode ser um dos fatores limitantes durante a realização das atividades de vida diária. A pessoa com IC deve ser orientada para identificar se existe ausência ou presença de cansaço e de dispneia para realizar as suas tarefas diárias e, a partir daí acompanhar o desenvolvimento desses mesmos sintomas. Também as diretrizes para diagnóstico e tratamento da IC orientam para atividades laborais que não exijam esforços porém, sendo que o afastamento definitivo apenas se refere aos casos de IC grave (Rabelo et al., 2007; European Society of Cardiology, 2013). As pessoas com IC estável são encorajadas a manter a sua atividade sexual, fazendo os ajustes necessários para evitar esforço em demasia e o aparecimento de sintomas. Esta questão deve ser abordada pela equipa multidisciplinar de maneira natural e informativa na primeira consulta e quando as pessoas manifestarem dúvidas ou dificuldades. A presença de sintomas psicológicos decorrentes da IC, limitação física, efeitos colaterais dos medicamentos (diuréticos e betabloqueantes), diagnóstico de diabetes mellitus, hipertensão arterial sistémica, são alguns dos fatores que podem estar envolvidos na existência de disfunção eréctil. As pessoas com classe I e II, podem tomar citrato de sildenafila com segurança, contudo estes devem ser informados, que quando em uso concomitante com nitratos, só poderá ser utilizado 24 47 horas após a suspensão do mesmo (Rabelo et al., 2007; European Society of Cardiology, 2013). A pessoa com IC necessita de adotar um estilo de vida saudável em relação à dieta, especialmente no que diz respeito à restrição salina e hídrica sendo que as orientações dos enfermeiros são realizadas de acordo com as necessidades específicas de cada pessoa (Oliveira et al., 2013). Estudos realizados por Collona et al. (2003), Riegel et al. (2009) e Linhares et al. (2010), referem que a restrição salina é uma das práticas de autocuidado apontada. Segundo estes, recomenda-se um consumo de sódio de 2 a 3g/dia, sendo que esta é considerada a dose adequada para pessoas com IC. Essa restrição é recomendada porque ajuda a reduzir a retenção hídrica, contribuindo para a diminuição do esforço cardíaco. No que concerne à quantidade ideal de líquidos a ingerir sem complicações de sobrecarga hídrica não existe consonância. Contudo, existem recomendações de que a ingestão de líquidos não deva exceder os 2l/dia em situações de IC grave (Colonna et al., 2003 e Clark et al., 2010). No entanto, Rabelo et al. (2007) e Lainscak et al. (2011) defendem que uma restrição hídrica de 1,5l/dia a 2l/dia pode ser considerada em pessoas com sintomas graves, especialmente se existe hiponatrémia simultânea. No caso de pessoas com resistência a diuréticos, a ingestão de líquidos deve ser restringida ao mínimo tolerado, geralmente 800ml/dia a 1l/dia. O uso de álcool e tabaco devem ser desencorajados, em função dos seus efeitos negativos sobre o sistema cardiovascular. O álcool reduz a contractilidade miocárdica e pode causar arritmias, sendo que em alguns casos conduz as pessoas à suspensão da medicação por forma a poderem consumi-lo. A vacinação contra o influenza deve ser indicada anualmente em todas as pessoas com IC, conforme as recomendações nacionais e internacionais. A imunização reduz o risco de infeção respiratória, prevenindo assim, quadros de descompensação cardíaca (Rabelo et al., 2007). Segundo a European Society of Cardiology (2013), os tópicos essenciais que devem ser abordados nas atividades educativas ao doente, em relação às competências e ao autocuidado, dizem respeito: À definição e etiologia - a pessoa deve compreender a causa da IC e o motivo do aparecimento dos sintomas; 48 O prognóstico - compreender os fatores de prognóstico importantes e tomar decisões realistas; Monitorização dos sintomas e autocuidado - vigiar e reconhecer sinais e sintomas; registar o peso diário e reconhecer ganhos repentinos; saber como e quando contatar os profissionais de saúde (aumento de dispneia, edema e ganho de peso repentino superior a 2kg em 3 dias, podendo a pessoa aumentar a dose de diuréticos e/ou informar a equipa de saúde); Tratamento farmacológico - compreender as indicações, doses e efeitos dos fármacos; reconhecer os efeitos secundários comuns de cada medicamento prescrito. Adesão ao tratamento - compreender a importância de cumprir as recomendações de tratamento e manter a motivação para seguir o plano de tratamento, restringir a ingestão de sódio pode ajudar a controlar os sintomas e sinais de congestão nas pessoas com IC da classe III e IV. Dieta - evitar a ingestão excessiva de líquidos: considerar restringir a ingestão de líquidos a 1.5-2 l/dia em doentes com IC severa para o alívio de sintomas e da congestão. A restrição de fluidos hipotónicos pode ajudar a melhorar a hiponatrémia, sendo que a restrição por rotina de líquidos em todas as pessoas com sintomas ligeiros a moderados provavelmente não é benéfica. A restrição de líquidos com base no peso (30 ml/Kg de peso corporal superior a 85Kg) pode causar menor sensação de sede, permitir vigiar e prevenir a má nutrição, praticar uma alimentação saudável e manter um peso adequado. Álcool - moderar o consumo de álcool. A abstinência é recomendada em pessoas com cardiopatia induzida por álcool. Caso contrário as recomendações comuns sobre o álcool são aplicáveis (2 unidades por dia para homens ou 1 unidade por dia para mulheres). Uma unidade é equivalente a 10ml de álcool puro (e.g. 1 copo de vinho, 1 copo de cerveja, 1 medida de bebida espirituosa). Tabagismo - parar de fumar e/ou consumir drogas ilícitas. Atividade física - compreender os benefícios da atividade física, praticar exercício físico regularmente, estar tranquilo e sentir-se confiante em relação à atividade física. 49 Passeio e lazer - preparar passeios e atividades de lazer ajustados à capacidade física, viajar sempre acompanhado de um relatório com o historial clínico e o esquema posológico atual, bem como de medicação suplementar. Controlar e ajustar a ingestão de líquidos, especialmente durante os voos e em climas quentes, acautelar as reações à exposição solar com alguma medicação (e.g. amiodarona). Atividade sexual - sentir-se seguro sobre a vida sexual e discutir problemas com os profissionais de saúde. Os doentes estáveis podem praticar uma atividade sexual normal desde que não provoque sintomas inapropriados. Imunização - imunizar contra a gripe e a infeção pneumocócica, em conformidade com as orientações e práticas locais. Perturbações respiratórias e de sono - reconhecer comportamentos preventivos, como a redução do peso em pessoas obesas, deixar de fumar e de consumir álcool, conhecer alternativas de tratamento, se necessário. Aspetos psicossociais - compreender que sintomas depressivos e disfunção cognitiva são comuns em pessoas com IC e perceber o valor do apoio social, conhecer as alternativas de tratamento, se necessário. A existência de uma consulta de enfermagem direcionada para o autocuidado na pessoa com IC, deve ser baseada nas práticas de autocuidado estabelecidas num plano de cuidados individualizado, que inclua o controlo de medidas não farmacológicas em função das especificidades de cada pessoa. Esta consulta revelase uma estratégia fundamental para que a pessoa com IC seja incentivada a praticar o autocuidado para melhorar a sua qualidade de vida, considerando os aspetos essenciais do autocuidado para prevenção de doenças e promoção de saúde, contribuindo para a redução do número de reinternamentos e taxas de mortalidade (European Society of Cardiology, 2013). As atividades educativas desenvolvidas com vista à promoção do autocuidado, devem ser promovidas por enfermeiros com conhecimento sobre a patologia e avaliação de comportamentos de autocuidado (Holguín, Gázquez & Urrego, 2012; Gonçalves & Albuquerque, 2014). Estas devem iniciar-se ainda quando as pessoas estão internadas, pois este momento é o ideal para ajudar a pessoas com IC a adaptarem-se aos sintomas, a gerir a autoadministração da terapêutica prescrita, 50 a solucionar problemas quando confrontados com novas situações e a evitar complicações. O período de internamento revela-se fundamental para promover o treino das pessoas bem como dos seus familiares/pessoa significativa, aproveitando também o impacto causado pelo mesmo e a existência de sintomas de descompensação. Os dias que se seguem à recuperação são extremamente úteis para a adaptação da pessoa e da sua família/pessoa significativa quanto ao entendimento e valorização dessas medidas de manutenção da estabilidade clínica. O planeamento precoce da alta hospitalar, inclui visitas diárias para avaliar e reforçar a adesão e dar apoio às pessoas e familiares/pessoa significativa, além de dar ênfase ao reconhecimento de sinais e sintomas de descompensação (Rabelo et al., 2007; Gonçalves & Albuquerque, 2014). Para Holguín (2010) solicitar ajuda, fortalecer o autoconceito, adaptar-se à nova condição de vida, monitorizar a doença e motivar-se frente ao seu autocuidado, são elementos que a pessoa adquire se os enfermeiros utilizarem programas dirigidos para o cuidar à pessoa com IC, mas também à sua família/pessoa significativa. A adequação do autocuidado na pessoa com IC representa um desafio para os enfermeiros, pois requer que exista uma valorização integral de si mesmo (confiança) e um acompanhamento permanente para identificar e gerir os recursos que a pessoa/família/pessoa significativa possuem. O objetivo será identificar os recursos de adequação do autocuidado e identifica-los quando a pessoa não os têm. Numa revisão sistemática da literatura, Gonçalves e Albuquerque (2014), concluem que as atividades educativas realizadas pela equipa de enfermagem, implementadas através de consultas a pessoas com IC permitiram: aumentar a adesão ao tratamento farmacológico e não farmacológico; reduzir as taxas de morbilidade e mortalidade; reduzir as taxas de readmissões e melhorar a qualidade de vida. Para uma melhor compreensão do objeto de estudo, na literatura foram surgindo alguns instrumentos de avaliação do Autocuidado, construídos para pessoas com IC, como é o caso do Cardiac Patient Learning Needs Inventory (Gerald & Peterson, 1984), o Minnesota Living With Heart Failure Questionare (Rector, Francis & Cohn, 1987), a European Heart Failure Self-care Behaviour Scale (Jaarsma et al., 2003), a Dutch Heart Failure Knowledge Scale (Van Der Wal et al., 2005), o Self-Care of Heart Failure Index V6.2 (Riegel et al., 2009), entre outros. Dos vários instrumentos que se encontram divulgados no meio científico, Cameron et al. (2009), concluíram que apenas dois apresentavam valor psicométrico satisfatório para a avaliação da adequação do autocuidado na pessoa com IC: a European Heart 51 Failure Self-Care Behaviour Scale (EHFScBS) de Jaarsma et al. (2003), e o Self-Care of Heart Failure Index v6.2 (SCHFI v6.2) de Riegel et al. (2009). A utilização destes instrumentos constitui uma mais valia na prática clínica, pois podem ser utilizados de forma consistente e válida em pessoas com IC, traduzindo-se em ganhos para os próprios e para os sistemas de saúde. Orientados pelas evidências científicas publicadas, optamos por utilizar o Self-Care of Heart Failure Index v6.2 (SCHFI v6.2) de Riegel et al. (2009) no presente trabalho, por ser uma escala amplamente utilizada na prática clínica. Desde a sua publicação em 2004, já foi utilizada em 25 países diferentes e em 17 estudos divulgados no seio da literatura especializada. Desde a sua publicação original foram refinados e adicionados novos itens, tendo sido testado o seu perfil psicométrico. Além disso, a sua validade também foi avaliada através de estudos com abordagens quantitativas e qualitativas (Riegel et al., 2009). Outro motivo relevante para a sua utilização prende-se com o facto de esta escala abordar outras dimensões para além da manutenção do autocuidado, que são a gestão do autocuidado e a autoconfiança no autocuidado. Estas dimensões não são avaliadas noutros instrumentos disponíveis para avaliação da adequação do autocuidado. Em Portugal, a SCHFI v6.2 já se encontra validada e aferida para a população portuguesa por Marques et al. (2013), aguardando divulgação para a sociedade científica. Assim, o Self-Care of Heart Failure Index V6.2 de Riegel et al. (2009) validado para a População Portuguesa passa a designar-se como Escala de Autocuidado para a Pessoa com Insuficiência Cardíaca (EACPIC). Após a validação de conteúdo realizada por equivalência semântica e da análise de confiabilidade do instrumento testando a consistência interna através da média, desvio padrão e o Alfa de Cronbach, Marques et al. (2013) concluem que os resultados não apresentam diferenças significativas comparativamente com os do estudo original e que pode ser utilizada no contexto nacional. Riegel et al. (2009) definiram o autocuidado como a decisão naturalista de fazer progressos envolvendo a escolha dos comportamentos, para manter a estabilidade física (manutenção) e a resposta aos sintomas quando estes ocorrem (gestão). As pessoas com adequado nível de manutenção do autocuidado são as que adotam um estilo de vida saudável, aderem ao regime medicamentoso e monitorizam os sintomas. 52 A adequação eficaz do autocuidado constitui a pedra angular na gestão do autocuidado na pessoa com IC, visto que a maioria dos cuidados farmacológicos e não farmacológicos são realizados pelas pessoas no domicílio (Evangelista & Shinnick, 2008; Riegel, 2008; Clark et al., 2009). No que concerne à gestão do autocuidado, é primordial que a pessoa com IC reconheça os sintomas, interprete-os e posteriormente saiba relaciona-los com as necessidades em cuidados que daí decorrem. A existência de sintomas ou a descompensação levam a que exista necessidade de reconhecimento das estratégias de gestão do autocuidado ou utilização das suas estratégias de coping. As decisões tornam-se fundamentais para averiguar se a pessoa consegue gerir o autocuidado ou se necessita de procurar ajuda junto dos seus familiares/pessoa significativa ou dos profissionais de saúde (Riegel & Dickson, 2008; Clark et al., 2008; Moser & Watkins, 2008; Clark et al., 2009). O enfermeiro desempenha um papel fundamental na promoção na gestão do autocuidado da pessoa com IC, bem como no encorajamento para que esta se possa tornar o agente principal no seu tratamento. Contudo, quando a pessoa com IC não consegue gerir o autocuidado (apesar dos ensinos mantém inadequação do autocuidado), existe necessidade de recorrer, mais frequentemente, aos cuidados de enfermagem bem como procurar ajuda junto dos seus familiares/pessoa significativa (Evangelista & Dracup, 2000; Clark et al., 2009). Para que exista bom nível de adequação na gestão dos autocuidado, é necessário que existam ajustes no que se refere ao estilo de vida por parte da pessoa e da sua família/pessoa significativa. Estes ajustes incluem a modificação da dieta, adesão ao regime medicamentoso, e adesão às práticas de monitorização de sintomas (Happ, Naylor & Roe-Prior, 1997; Clark et al., 2009). Os enfermeiros desempenham um papel fundamental através da promoção da gestão no autocuidado às pessoas com IC, e do encorajamento para que estas se tornem agentes ativos no seu próprio tratamento. A gestão do autocuidado dá enfoque à individualização do tratamento, permitindo desta maneira que se identifiquem as necessidades, as preferências, o ambiente e a experiência prévia que a pessoa com IC detém. O envolvimento ativo das pessoas com IC no seu processo de tratamento, promove uma melhor preparação para gerir regimes terapêuticos complexos (Miller, 1997; Evangelista & Dracup, 2000; Clark et al., 2009). 53 Contudo, as estratégias de gestão do autocuidado, não são aceitáveis para todas as pessoas com IC. É fundamental que estas compreendam que são as responsáveis por gerir o seu tratamento. É crucial que exista uma cuidadosa avaliação por parte dos enfermeiros, de maneira a avaliar se as pessoas estão envolvidas e preparadas para aceitar as responsabilidades, bem como, se têm os conhecimentos, habilidades e recursos necessários. Compete ainda aos enfermeiros supervisionar e dar apoio às pessoas com IC para que consigam ser autónomas no que concerne a gestão do autocuidado (Clark et al., 2009). Apesar do autocuidado ser representado principalmente pelas dimensões manutenção e gestão, Riegel et al. (2009) referem que a existência da confiança no autocuidado revela-se também importante, uma vez que esta é vista como um processo importante, que modera a relação entre a adequação do autocuidado e os resultados obtidos. A dimensão confiança tem maior valor como moderador da relação entre o autocuidado e os resultados do que como componente do autocuidado, propriamente dito. A confiança consiste na capacidade que a pessoa tem de se sentir capaz de controlar os sintomas e aderir ao regime medicamentoso. Pode ainda ser definida como a noção que a pessoa detém sobre a sua capacidade de moderar ou mediar a relação entre o autocuidado e os resultados (Cené et al., 2013). Assim, justifica-se que o instrumento que avalia o autocuidado seja constituído pelas dimensões: manutenção, gestão e confiança, pois apesar de serem avaliadas individualmente, encontram-se interligadas. De maneira a evidenciar o nível de adequação do autocuidado na pessoa com IC em relação a estas dimensões, aplicou-se a escala do Autocuidado na Pessoa com Insuficiência Cardíaca, pretendendo-se obter dados que permitam conhecer melhor a população em análise no que se refere a esta temática. 54 PARTE II – FASE METODOLÓGIA/EMPÍRICA 55 56 1 – OPÇÕES METODOLÓGICAS De acordo com Fortin (2009), a investigação científica constitui o melhor método para adquirir novos conhecimentos, sendo que esta é definida como uma estratégia ou um processo racional com vista à aquisição de conhecimentos. A investigação científica distingue-se de outros tipos de aquisição de conhecimentos devido ao seu caráter sistemático e rigoroso, que assenta na recolha de dados observáveis e verificáveis, retirados do mundo empírico. A pesquisa em enfermagem torna-se fundamental na medida em que permite desenvolver conhecimento sobre assuntos relevantes e estabelecer uma base científica de conhecimento para a prática clínica (Polit, Beck & Hungler, 2004). Este estudo surge assim, da necessidade de se conhecerem as razões que estão na origem do elevado número de reinternamentos de pessoas com IC e de perceber qual a sua relação com o défice de conhecimentos e com a não adequação do autocuidado. Uma vez que a prevalência da IC tem vindo a aumentar (Fonseca, 2009) e sabendo que os enfermeiros desempenham um papel preponderante nos cuidados de saúde primários, secundários e terciários, surge a necessidade de desenvolver um estudo desta natureza. Pretende-se conhecer o nível de adequação do autocuidado de pessoas com IC, especificamente sobre manutenção, gestão e confiança no autocuidado, de modo a que se possam desenvolver um conjunto de propostas de intervenção que contribuam para a melhoria da qualidade dos cuidados e para a redução do número de reinternamentos. Com o intuito de conseguir obter respostas às questões ou resolver os problemas, surge deste modo a necessidade de desenvolver um processo de pesquisa em enfermagem com a finalidade de desenvolver, aprimorar e expandir um corpo teórico de conhecimentos. A investigação científica em enfermagem assenta principalmente em dois paradigmas: o positivista (abordagem quantitativa) e o naturalista (abordagem qualitativa) (Polit, Beck & Hungler, 2004). A abordagem quantitativa é fundamentada pela crença de que os seres humanos são um complexo de muitos sistemas corporais, podendo ser medidos de forma objetiva 57 (Lobiondo-Wood & Haber, 2001). Segundo Brymer e Cramer (1992) a investigação de abordagem quantitativa coloca ênfase na compreensão e análise de dados, tendo ainda como principal vantagem, conhecer os métodos de análise que mais se adequam. Pela natureza do objeto de estudo e pela escassez de evidências científicas prévias, entendemos que o percurso metodológico teria uma abordagem do tipo quantitativo, visando explicar e predizer o fenómeno da adequação do autocuidado, através da mensuração das variáveis e análise de dados recolhidos (Fortin, 2009). Este tipo de abordagem assenta no paradigma positivista, pois presume que existe uma realidade objetiva cujos fenómenos naturais são regulares, ordenados e não causais, mas resultantes de causas anteriores. Este paradigma está ainda associado à abordagem científica tradicional, que consiste num processo sistemático e controlado, baseado nos achados em evidência empírica, procurando a generalização dos resultados para além de um único cenário ou situação (Polit, Beck & Hungler, 2004). Neste estudo optou-se por uma investigação de natureza descritiva e correlacional. A investigação descritiva desempenha um papel fundamental na medida em que visa evidenciar novos conhecimentos, desvendar fenómenos existentes, determinar a frequência da sua ocorrência numa dada população ou categorizar a informação. Revela-se contudo bastante pertinente, que face ao objeto de estudo, esteja presente uma orientação do tipo correlacional, uma vez que esta se apoia no conhecimento que se dispõe sobre o assunto em estudo, expõem-se os conceitos existentes, determinam-se as relações entre as variáveis e explica-se de que forma estas se encontram ligadas entre si (Fortin, 2009). 1.1 – QUESTÃO DE INVESTIGAÇÃO A finalidade da pesquisa em enfermagem é responder às questões ou solucionar os problemas de relevância que emergem da prática clínica, servindo ainda para estabelecer uma base científica de conhecimento para a mesma (Polit, Beck & Hungler, 2004). Os conhecimentos gerados através da investigação em enfermagem são utilizados para desenvolver a prática baseada em evidências, melhorar a qualidade dos cuidados e maximizar os resultados de saúde e o custo-benefício das intervenções de enfermagem (Ordem dos enfermeiros, 1999). 58 Para Fortin (2009), a questão de investigação consiste numa interrogação precisa, que indica claramente a direção que se entende tomar, sendo que neste caso em concreto pretende descrever um fenómeno. Surge deste modo, a questão central do estudo: Qual o nível de adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca? Pretende-se ainda responder às seguintes subquestões: - Qual a relação entre as variáveis sociodemográficas e o nível de adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca? - Qual a relação entre as variáveis clínicas e o nível de adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca? 1.2 – OBJETIVOS DA INVESTIGAÇÃO Após a clarificação do objeto de estudo e respetiva questão de investigação é necessário definir e determinar quais os objetivos que orientam o percurso metodológico desta pesquisa. Ao definir os objetivos da investigação, o investigador consegue precisar qual a direção que pretende dar à investigação, no sentido de dar resposta às questões levantadas (Fortin, 2009). Assim sendo, os objetivos deste estudo são: • Analisar quão adequado é o autocuidado praticado pela pessoa com insuficiência cardíaca, ao nível da sua manutenção, gestão e confiança; • Analisar em que medida as caraterísticas sócio demográficas influenciam a adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca; • Analisar que dados clínicos influenciam a adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca. Com a realização deste estudo, pretendemos proceder à elaboração de uma listagem de lacunas existentes ao nível da adequação do autocuidado, que possa ser a base de construção de um guião de atuação a ser utilizado posteriormente numa consulta de enfermagem dirigida à pessoa com IC. Pretende-se ainda planear um conjunto de sessões formativas entre pares, tendentes à melhoria das atividades educativas da pessoa com IC. 59 1.3 – POPULAÇÃO, AMOSTRA E CONTEXTO DO ESTUDO Para que se consiga desenvolver a investigação, é necessário definir a população junto da qual será recolhida a informação. Esta é designada de população alvo, sendo constituída por um grupo de pessoas com caraterísticas comuns que reúnem critérios de seleção previamente definidos e que permitem fazer generalizações (Fortin, 2009). Num estudo de natureza quantitativa, os investigadores necessitam de especificar uma população para indicar as caraterísticas que os sujeitos devem possuir, bem como definir o grupo para o qual os resultados podem ser generalizados (Polit, Beck & Hungler, 2004). Porém, como é difícil estudar a população alvo na sua totalidade, torna-se necessário definir uma amostra representativa da população que permita fazer tais generalizações. Sendo um subgrupo da população, a amostra torna mais prático o processo de recolha de dados à população, devendo no entanto ser representativa (Polit, Beck & Hungler, 2004). Para Fortin (2009), a representatividade é a qualidade essencial de uma amostra e pelas suas caraterísticas, é considerada uma réplica da população. A amostra deve refletir as caraterísticas do ambiente natural, mas também das pessoas que a constituem. Esta deve possuir variáveis sociodemográficas tais como a idade, o género e a escolaridade, pois é o que define a sua representatividade. Trata-se então de uma amostra não probabilística, uma vez que não dá a todos os elementos da população a mesma possibilidade de ser selecionado para a constituir, tendo presente que é difícil aceder à totalidade da população. No presente estudo a amostragem será acidental, pois é constituída por participantes facilmente acessíveis. Uma vez que existe o risco destes não serem representativos da população, foram definidos critérios de inclusão e de exclusão restritos, que se encontram abaixo descritos (Quadro 2). 60 Critérios de Inclusão Critérios de Exclusão Ter diagnóstico médico de IC Estar internado no Serviço de Cardiologia A Maiores de 18 anos Orientação alopsíquica Capacidade de compreensão da Patologia psiquiátrica delirante Sequelas cognitivas Iliteracia. língua Portuguesa Concordar participar no estudo Quadro 2- Critérios de Inclusão e exclusão dos participantes no estudo Não existindo uma equação simples para determinar o tamanho necessário de uma amostra, é recomendado porém que o investigador numa abordagem do tipo quantitativo utilize, dentro do possível, uma amostra com muitos elementos. Quanto maior a amostra, maior a representatividade e consequentemente, menor será o erro de amostragem (Polit, Beck & Hungler, 2004). Assim, de acordo com o limite temporal e os critérios de inclusão e exclusão definidos, o número de participantes que iriam constituir a amostra só seria definido após a recolha dos dados. O local para a recolha de dados foi o Serviço de Cardiologia A-A do Centro Hospitalar de Coimbra, Pólo Hospitais da Universidade de Coimbra. Este é um serviço misto, com possibilidade de acolher 32 pessoas, com predominância de IC como causa de internamento. 1.4 – OPERACIONALIZAÇÃO DE VARIÁVEIS Para Fortin (2009), as variáveis são as unidades de base da investigação. Estas consistem em qualidades, propriedades ou caraterísticas de pessoas, objetos de situações suscetíveis de mudar ou variar no tempo. Podem variar entre diversos valores, pois podem ser medidas, manipuladas ou controladas. Dependendo do papel que exerçam na investigação, as variáveis podem ser classificadas como independentes, dependentes, de investigação, atributos e estranhas. Tendo em consideração o objeto de estudo, procedeu-se assim à definição concetual e operacionalização das variáveis envolvidas neste estudo. 61 Para Polit, Beck e Hungler (2004), a variável dependente é a variável que o pesquisador está interessado em compreender, explicar ou prever. Neste estudo consideramos como variável dependente o Autocuidado na Insuficiência Cardíaca. Para operacionalizar esta variável foi utilizada a Escala de Autocuidado para a Pessoa com Insuficiência Cardíaca (Marques et al., 2013), nas suas dimensões de Manutenção, Gestão e Confiança do Autocuidado. A variável independente consiste no elemento que é introduzido e manipulado numa situação de investigação com o objetivo de exercer um efeito sobre uma outra variável, sendo por isso considerada como a causa do efeito produzido na variável dependente (Fortin, 2009). As variáveis independentes consideradas neste estudo, são os fatores sócio demográficos: idade, estado civil, género, habilitações literárias, profissão, tempo de diagnóstico da patologia e internamentos anteriores, assim como os dados clínicos: etiologia da IC, fração de ejeção do ventrículo esquerdo, classificação segundo a NYHA, medicação prescrita (diuréticos, betabloqueantes, IECA e digoxina) e comorbilidades. Além destas constituírem as variáveis independentes, são também variáveis atributo, visto que são referentes a caraterísticas pré existentes dos participantes no estudo (Fortin, 2009). 1.5 – INSTRUMENTO DE RECOLHA DE DADOS O instrumento de recolha de dados selecionado (ou construído) para a investigação deve ser capaz de responder às questões de investigação e possibilitar a comparação entre as diferentes variáveis (Fortin, 2009). Face à natureza do objeto de estudo, considerou-se que o instrumento de recolha de dados mais adequado seria o inquérito por questionário, pois exige dos participantes respostas escritas a um conjunto de questões e permite recolher informação sobre acontecimentos e conhecimentos, neste caso, sobre a adequação do autocuidado. Dos instrumentos de recolha de dados disponíveis na literatura optou-se por selecionar um que englobasse a caraterização sociodemográfica e clínica da amostra e uma escala de avaliação do autocuidado para a pessoa com IC, aferida para a população portuguesa. Não havendo uma ferramenta para a caraterização sóciodemográfica e clínica da amostra, optou-se por construir um questionário que permitisse tal caraterização. Para a segunda parte do instrumento de recolha de 62 dados, a opção recaiu sobre o instrumento validado e aferido para a população portuguesa por Marques et al. (2013) – Escala de Autocuidado para a Pessoa com Insuficiência Cardíaca (EACPIC). O instrumento de recolha de dados ficou assim constituído por duas partes: - A primeira corresponde ao questionário de caraterização sociodemográfica e clínica, constituído por dezassete perguntas fechadas. No que se refere à caraterização sociodemográfica, recolhe dados fornecidos pela pessoa sobre a idade, estado civil, género, habilitações literárias, profissão, conhecimento da doença e internamentos anteriores. Os dados clínicos são referentes à etiologia da IC, fração de ejeção do ventrículo esquerdo, classificação segundo a NYHA, medicação prescrita (diuréticos, betabloqueantes, IECA e digoxina) e comorbilidades, recolhidos pelo investigador através da consulta do processo clínico. - A segunda corresponde à escala de autocuidado para a pessoa com insuficiência cardíaca – EACPIC, com um total de vinte e duas questões de resposta fechada, distribuídas por três secções (A, B e C). A secção A é composta por dez itens que se referem à estabilidade e comportamentos de manutenção do autocuidado das pessoas com IC, sendo que a pontuação 1 corresponde à menor frequência e 4 à maior frequência de realização das atividades. A secção B aborda itens relativos à gestão dos sintomas por parte das pessoas com IC, com questões direcionadas para as pessoas que apresentam os sintomas de dispneia e edemas. O primeiro item é aferido através de uma escala tipo likert e varia de 0 (que corresponde ao não reconhecimento de sintomas) a 4 (corresponde à existência dos sintomas com evolução muito rápida), existindo ainda a opção da não existência dos sintomas. Os quatro itens seguintes avaliam os procedimentos utilizados pelas pessoas com IC com problemas respiratórios ou existência de edemas periféricos, podendo variar de 1 (nada provável) a 4 (muito provável). O último item abordado nesta secção avalia o conhecimento que a pessoa detém sobre o benefício do autocuidado no alívio dos sintomas, sendo que 0 se refere à não existência de procedimentos de maneira a melhorar a situação clínica e 4 corresponde à certeza absoluta em como o procedimento ajudou no alívio dos sintomas. A secção C é composta por seis itens que avaliam a autoconfiança no autocuidado da pessoa com IC, variando de 1 (nada confiante) a 4 (extremamente confiante). 63 Para Riegel at al. (2009), o SCHFI v6.2 (versão original da EACPIC) expressa a medida de adequação do autocuidado definida como uma decisão naturalista em progredir, envolvendo a escolha de comportamentos que permitem a manutenção da estabilidade fisiológica (dimensão manutenção do autocuidado), a resposta aos sintomas quando estes ocorrem (dimensão gestão de autocuidado) e confiança no autocuidado. É ainda recomendado que as três dimensões da escala sejam usadas em separado, visto que o autocuidado é melhor representado pelas dimensões de manutenção e de gestão. A dimensão confiança é um processo muito importante na medida em que serve de moderador de relação entre o autocuidado e os resultados. Assim, a sua utilização conjunta deve permitir uma melhor descrição da adequação do autocuidado da população de pessoas com IC e avaliar o efeito das suas práticas de autocuidado. Quando o instrumento de recolha de dados ficou redigido, a formulação de todas as questões e a sua ordem foram provisoriamente fixadas, existindo a necessidade de garantir que era de facto aplicável e que respondia efetivamente aos objetivos definidos, pelo que se realizou um pré-teste. Polit, Beck & Hungler (2004) referem que o pré- teste é considerado como sendo um ensaio para determinar se o instrumento de recolha de dados se encontra formulado com clareza, sem parcialidade e se é útil para gerar as informações desejadas. Fortin (2009) acrescenta que o pré-teste é considerado o ensaio de um instrumento de medida ou de um equipamento antes da sua utilização num grupo maior. Para verificar a eficácia e o valor do instrumento, este deve ser aplicado junto de uma amostra reduzida (entre 10 a 20 pessoas) da população alvo (Fortin, 2009), dissipando quaisquer dificuldades que os participantes possam apresentar aquando do seu preenchimento. O pré-teste foi realizado a 10 pessoas com diagnóstico de IC, que não integraram a amostra final do estudo, tendo-se dialogado com os respondentes afim de registar as dificuldades sentidas, incompreensões, aborrecimentos ou impaciência. No decorrer do pré-teste, verificou-se que não existia necessidade de proceder a alterações na formulação das questões, uma vez que não se detetou nenhuma dificuldade no seu preenchimento, obtendo-se o instrumento definitivo (Anexo I) adaptado à população alvo e aos desígnios da pesquisa e do investigador. Devido à idade dos possíveis respondentes, surgiu a necessidade de investir na formação de um grupo de enfermeiros que exercem funções no Serviço de Cardiologia 64 A-A. Recorreu-se à colaboração de três enfermeiros que se constituíram como colaboradores da investigação, aos quais foi facultada toda a informação sobre a natureza do objeto de estudo, os objetivos do estudo, instrumento de recolha de dados e seu preenchimento, em momento de formação. Esta sessão revelou-se útil sempre que surgiram dúvidas ou necessidade de esclarecimento por parte dos participantes do estudo, aquando do seu preenchimento, permitindo um maior controlo sobre variáveis estranhas e de difícil operacionalização. 1.6 – PROCEDIMENTOS FORMAIS E ÉTICOS PARA A RECOLHA DE DADOS A investigação em enfermagem envolve pessoas, comportamentos, estados de saúde e prestação de cuidados, entre outros. Por estas razões, há um conjunto de pressupostos éticos e deontológicos a ter em consideração desde o seu início. Independentemente do estudo, a investigação deve ser realizada respeitando os direitos das pessoas, sendo que os pressupostos éticos fundamentais são o respeito pela pessoa e o princípio da beneficência (Fortin, 2009). Com o intuito de respeitar todos os princípios éticos, foi solicitada autorização/consentimento aos participantes do estudo (Anexo II), explicitando-se todas as informações sobre o estudo e dando-se a possibilidade dos potenciais respondentes anuírem ao nosso pedido de colaboração de modo livre e esclarecido. Foi também salvaguarda a previsão de quaisquer danos e a violação da privacidade, sendo que o preenchimento do instrumento de recolha de dados foi realizado num local adequado, sem interferência de ruído exterior e preenchido pelos participantes no estudo (quando possível) ou colaboradores de investigação. Sempre que o participante não reunia condições para a autoadministração do instrumento, este foi preenchido pelo investigador e/ou colaboradores da investigação. Foi referido aos participantes que os benefícios da investigação dizem respeito a uma maior comunicação/interação dos profissionais de enfermagem com as pessoas com IC, permitindo assim contribuir para a adequação do autocuidado e para uma melhor qualidade de vida, bem como para um menor número de reinternamentos hospitalares, sendo também um reflexo da melhoria da qualidade dos cuidados de enfermagem. O anonimato foi garantido aos participantes, sendo que a recolha de dados não permitiu a sua identificação, mantendo-se ainda a confidencialidade durante o estudo, 65 e a sua divulgação, estando sempre explícita a possibilidade de abandono do participante em qualquer momento. Além do pedido de autorização/consentimento aos participantes do estudo, foi efetuado um pedido de autorização para desenvolver o estudo, junto da Comissão de Ética e do Conselho de Administração do CHUC, os quais foram formalizados após a realização do desenho do estudo e a obtenção da autorização da autora da EACPIC (Anexo III). Estabelecidos os contactos necessários para colaboração, instrução dos colaboradores na recolha dos dados e autorização da Comissão de Ética e Conselho de Administração (Anexo IV), procedeu-se à recolha dos dados que decorreu entre os meses de outubro de 2014 e janeiro de 2015. 1.7 – MÉTODOS DE ANÁLISE DOS DADOS Para organizar e sistematizar a informação contida nos dados e obter resultados descritivos e inferenciais recorremos ao programa de tratamento estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) na versão 22.0 de 2014. Utilizámos técnicas da estatística descritiva e da estatística inferencial, nomeadamente, apresentação em quadros de frequências (absolutas e percentuais) e cálculo de medidas de tendência central (média aritmética, média ordinal e mediana), de medidas de dispersão ou variabilidade (valor mínimo, valor máximo e desvio padrão) e ainda, dos coeficientes alpha de Cronbach e correlação de Spearman. Foram também aplicados os testes estatísticos U de Mann-Whitney, Kruskal-Wallis e o teste da significância do coeficiente de Spearman. Para testar a normalidade da distribuição de frequências das variáveis quantitativas em estudo, foi aplicado o teste Kolmogorov-Smirnov. Na escolha dos testes atendemos às caraterísticas das variáveis em estudo e às recomendações apresentadas por Maroco (2007) e Pestana & Gageiro (2005). A opção por testes não paramétricos justifica-se pelo facto de a variável autocuidado para a pessoa com IC apresentar distribuições de frequências não normais em duas das suas dimensões. Fixámos o valor 0.050 como limite de significância em todos os testes, isto é, a hipótese nula foi rejeitada quando a probabilidade do erro tipo I (probabilidade de rejeição da hipótese nula quando ela é verdadeira) era inferior àquele valor, ou seja, quando p 0.050. 66 2 - ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS Seguidamente procedemos à análise e apresentação dos dados obtidos através da aplicação do instrumento de recolha elaborado e à análise e apresentação dos resultados das técnicas estatísticas aplicadas para responder à questões de investigação formuladas. Com o intuito de melhor conhecermos as relações entre as variáveis em estudo, sentimos necessidade de decompor as subquestões de investigação apresentadas anteriormente. 2.1- CARATERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA DA AMOSTRA Como podemos constatar pelos dados apresentados no quadro 3, os 65 inquiridos apresentavam idades compreendidas entre 29 e 94 anos, sendo a idade média 76.25±11.80 anos. Verificamos que 47.7% pertenciam ao grupo etário dos 80 aos 90 anos, seguidos de 23.1% que tinham entre 70 e 80 anos. Metade dos elementos da amostra apresentava idades iguais ou superiores a 80.00 anos (idade mediana) e a distribuição de frequência afastou-se significativamente de uma distribuição normal (p = 0.003). Relativamente ao estado civil, constatou-se que a maioria dos inquiridos (53.8%) era casado(a) ou vivia em união de facto, seguiram-se 38.5% que eram viúvos(as). Quanto ao género, verificamos que a maioria dos elementos da amostra, concretamente 61.5%, era do género masculino. Verificamos que 70.8% dos indivíduos apresentava como habilitações literárias o 1º Ciclo do Ensino Básico. No que concerne à situação profissional, verificamos que 93.8% dos inquiridos estavam na situação de não ativos. Quanto à área de residência, constatou-se que 52.3% dos elementos que constituíam a amostra residiam em áreas urbanas. 67 Variável n % Grupo etário < 50 2 3.1 [50 – 60[ 4 6.1 [60 – 70[ 11 16.9 [70 – 80[ 15 23.1 [80 – 90[ 31 47.7 ≥ 90 2 3.1 ̅ = 76.25; Md = 80.00; s = 11.80; xmin = 29.00; xmáx = 94.00; p = 0.003 Estado civil Casado(a) / União de facto 35 53.8 Solteiro(a) 4 6.2 Viúvo(a) 25 38.5 Divorciado (a) 1 1.5 Variável n % Género Feminino 25 38.5 Masculino 40 61.5 Habilitações literárias 1º Ciclo do Ensino Básico 46 70.8 2º Ciclo do Ensino Básico 4 6.2 3º Ciclo do Ensino Básico 2 3.1 Ensino Secundário 5 7.7 Bacharelato 3 4.6 Licenciatura 5 7.7 Mestrado 0.0 Situação profissional Ativo 4 6.2 Não ativo 61 93.8 Área de residência Área Urbana 34 52.3 Área Rural 31 47.7 Quadro 3 - Caraterísticas sociodemográficas da amostra Os dados que constituem o quadro 4 são referentes ao conhecimento acerca da doença e dos internamentos anteriores. Verificamos que o tempo de diagnóstico da IC era desconhecido para 21.5% (14) dos inquiridos. Para os restantes 51 indivíduos, o tempo variou entre 3 meses (0.25 anos) e 88 anos, sendo o tempo médio de 16.68±15.29 anos. Constatou-se ainda, que 13.9% dos inquiridos referiram tempo de diagnóstico compreendido entre 5 e 10 anos, entre 10 e 15 anos e entre 20 e 25 anos, seguindo-se 12.3% cujo diagnóstico foi feito há menos de 5 anos. Metade dos indivíduos tiveram o diagnóstico de IC há menos de 14 anos e a distribuição de frequências para esta variável afastou-se significativamente de uma distribuição normal (p = 0.000). Cerca de metade dos elementos da amostra (50.8%) afirmou que nos últimos doze meses teve necessidade de ser hospitalizado ou recorrer a assistência de saúde 68 devido à IC. A maioria destes 33 doentes, concretamente 75.7%, afirmou que foi internado ou recorreu a assistência médica 1 ou 2 vezes no período referenciado. 60.0% dos inquiridos afirmou que a doença os impedia de realizar algumas atividades diárias que antes faziam sozinhos, seguidos de 27.7% que referiram que a IC os impedia de realizar a maior parte das atividades que anteriormente faziam sozinhos. Variável Tempo de diagnóstico da insuficiência cardíaca (anos) <5 [5 – 10[ [10 – 15[ [15 – 20[ [20 – 25[ [25 – 30[ ≥ 30 Desconhecido n 8 9 9 6 9 4 6 14 ̅ = 16.68; Md = 14.00; s = 15.29; xmin = 0.25; xmáx = 88.00; Foi hospitalizado(a) ou procurou assistência de saúde nos últimos doze meses devido à insuficiência cardíaca Não Sim 32 33 Número de hospitalizações ou assistências de saúde nos últimos doze meses devido à insuficiência cardíaca 1–2 3–4 25 ≥5 7 1 Desde que foi diagnosticada a insuficiência cardíaca, considera que: A doença não o(a) te impedido de fazer as suas atividades do dia-a-dia sozinho(a) 7 A doença impede-o(a) de realizar algumas atividades diárias que antes fazia sozinho(a) 39 A doença impede-o(a) de realizar a maior parte das atividades diárias que antes fazia sozinho(a) Necessita de apoio total de outras pessoas 18 para realizar as atividades diárias 1 % 12.3 13.9 13.9 9.2 13.9 6.1 9.2 21.5 p = 0.000 Quadro 4 - Conhecimento da amostra acerca da doença e internamentos anteriores 69 49.2 50.8 75.7 21.3 3.0 10.8 60.0 27.7 1.5 2.2- CARATERIZAÇÃO CLÍNICA DA AMOSTRA Relativamente aos dados clínicos da amostra, podemos constatar (quadros 5 e 5.1) que para 23.1% dos inquiridos a IC estava associada a etiologia valvular aórtica, seguindo-se 21.5% cuja IC tinha etiologia valvular mitral, 15.4% cuja IC tinha etiologia isquémica não submetida a CABG e 12.3% que sofriam de miocardiopatia dilatada. Quanto à fração de ejeção do ventrículo esquerdo, verificamos que a maior parte dos inquiridos (67.7%) tinha fração de ejeção preservada (36% ≤ FE ≤ 50%). Os valores desta variável situaram-se entre 19.00% e 50.00%, sendo o valor médio 39.72±10.43%. Metade dos elementos da amostra apresentava FEVE igual ou inferior a 43.00% e a distribuição de frequências não pode ser considerada normal (p = 0.000). No que concerne à classificação NYHA atribuída nos três meses prévios ao internamento, verificamos que ela era desconhecida em 87.7% dos casos. Verificamos, ainda, que 7.7% foram classificados com classe III, 3.1% com classe IV e 1,5% com classe II. Verificamos também que 96.9% dos inquiridos tomava diuréticos, 69.2% tomava betabloqueantes, 52.3% fazia IECA, 64.6% não tomava espirolactona, 73.8% não fazia digoxina e 72.3% não possuía Pacemaker ou CDI. Relativamente aos fatores de risco, o mais frequente era o facto de sofrerem de outras doenças (73.8%), 72.3% apresentavam dislipidémia, 70.8% eram sedentários, 67.7% sofriam de hipertensão arterial, 59.9% apresentavam outras doenças de foro cardíaco. Dos 37 doentes que apresentavam outras doenças do foro cardíaco, 64.9% sofriam de fibrilhação auricular, 13.5% de hipertensão pulmonar e 5.4% de aneurisma da aorta ou doença de três vasos. Para os 48 indivíduos que apresentavam outras doenças, 31.3% sofriam de doença pulmonar obstrutiva crónica, 25.0% insuficiência renal crónica, 14.6% tiveram acidente vascular cerebral, sendo que igual percentagem foi apresentada pelos indivíduos com patologia tiroideia e patologia prostática. Conjugando a informação referente aos fatores de risco com a das doenças associadas, verificamos que 41.5% tinham associados 4 ou 5 fatores de risco ou doenças, seguidos de 32.3% que apresentavam entre 6 e 7 fatores de risco ou doenças. 70 Variável n % Etiologia Isquémica – submetido a CABG 6 9.2 Isquémica – não submetido a CABG 10 15.4 Miocardiopatia dilatada 8 12.3 Miocardiopatia hipertófica 2 3.1 Valvular – mitral 14 21.5 Valvular – aórtica 15 23.1 Valvular – mitral e aórtica 6 9.2 Outras 3 4.6 Desconhecida 1 1.5 Fração de Ejeção do Ventrículo Esquerdo (FEVE) FE reduzida (≤ 35%) 21 32.3 FE preservada (36% a 50%) 44 67.7 ̅ = 39.72%; Md = 43.00%; s = 10.43%; xmin = 19.00%; xmáx = 50.00%; p = 0.000 Classificação NYHA (três meses antes do internamento) Grau II 1 1.5 Grau III 5 7.7 Grau IV 2 3.1 Desconhecida 57 87.7 Faz diuréticos Sim 62 96.9 Não 2 3.1 Faz betabloqueantes Sim 45 69.2 Não 20 30.8 Faz IECA Sim 34 52.3 Não 31 47.7 Faz espirolactona Sim 23 35.4 Não 42 64.6 Faz digoxina Sim 17 26.2 Não 48 73.8 Possui dispositivo Pacemaker 13 20.0 CDI 5 7.7 Não 47 72.3 Fatores de risco Tabagismo 5 7.7 Dislipidémia 47 72.3 Diabetes mellitus 29 44.6 Hipertensão arterial 44 67.7 Obesidade 20 30.8 Sedentarismo 46 70.8 Doenças do foro cardíaco 37 59.9 Outras doenças 48 73.8 Não apresenta fatores de risco 0.0 Informação não disponível no processo clínico 0.0 Quadro 5 - Dados clínicos da amostra 71 Variável Doenças do foro cardíaco Fibrilhação Auricular Hipertensão Pulmonar Aneurisma da Aorta Doença de três vasos Doença Coronária de um vaso Angina Estável Doença Carotídea Extrassístoles Fístula Coronária Flutter Auricular Patologia Valvular Doença Coronária do Tronco Taquicardia Ventricular Comunicação Intra Auricular Insuficiência Tricúspide Bloqueio Completo do Ramo Esquerdo Ateromatose da Aorta Torácica Miocardiopatia Isquémica Estenose Aórtica Severa Outras doenças Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica Insuficiência Renal Crónica Acidente Vascular Cerebral Patologia Tiroideia Patologia Prostática Neoplasia Retal Parkinson Síndrome Depressivo Glaucoma Patologia Osteoarticular Anemia Polimialgia Reumática Síndrome Mielo displásico Doença de Crohn Diarreia Crónica Colite Mieloma Múltiplo Síndrome de Lynch Líquen Plano Hemangioma Hepático Número de fatores de risco/doenças associadas 2–3 4–5 6–7 ≥8 Quadro 5.1 - Dados clínicos da amostra (continuação) 72 n % 24 5 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 64.9 13.5 5.4 5.4 2.7 2.7 2.7 2.7 2.7 2.7 2.7 2.7 2.7 2.7 2.7 2.7 2.7 2.7 2.7 15 12 7 7 7 3 3 3 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 31.3 25.0 14.6 14.6 14.6 6.3 6.3 6.3 4.2 4.2 4.2 2.1 2.1 2.1 2.1 2.1 2.1 2.1 2.1 2.1 15 27 21 2 23.1 41.5 32.3 3.1 2.3 - ADEQUAÇÃO DO AUTOCUIDADO DA AMOSTRA Antes de iniciarmos o estudo da adequação do autocuidado houve necessidade de avaliar a confiabilidade da escala de Autocuidado para a Pessoa com Insuficiência Cardíaca (SCHFI v6.2) através da análise da respetiva consistência interna. Quanto mais elevada é a consistência interna de uma escala/subescala, mais os enunciados dos respetivos itens estão correlacionados e maior é a sua homogeneidade. O método utilizado consistiu na determinação do coeficiente alpha de Cronbach, cujos valores podem variar entre 0 e 1. Para este coeficiente, valores mais elevados, ou seja, mais próximos de 1, são interpretados como reveladores de maior consistência interna e de maior confiabilidade. Este procedimento estatístico é indicado para escalas do tipo Likert e de acordo com a maioria dos autores, nomeadamente Nunnally (1978) apud Maroco e Garcia-Marques (2006), resultados iguais ou superiores a 0,70 são reveladores de boa consistência interna. Alguns autores consideram ainda que são aceitáveis valores iguais ou superiores a 0.60, principalmente quando é reduzido o número de itens envolvidos, como referiu DeVellis (1991) apud Maroco e GarciaMarques (2006). Como podemos constatar no Quadro 6, as três subescalas que constituem a SCHFI v6.2 apresentaram valores de alpha superiores a 0.70 e estão compreendidos entre 0.736, na subescala da manutenção do autocuidado e 0.827 na subescala de confiança no autocuidado. Nas duas primeiras subescalas, os valores observados são bastante superiores aos obtidos em estudos desenvolvidos pelos autores da escala original, verificando-se uma igualdade na terceira subescala. Em sumula, podemos concluir que a escala apresenta boa ou mesmo elevada consistência interna e boa confiabilidade no presente estudo. Alfa de Cronbach Subescala Número de itens No presente estudo Em estudos dos autores Manutenção do autocuidado 10 0.736 0.553 Gestão do autocuidado 6 0.770 0.597 Confiança no autocuidado 6 0.827 0.827 Quadro 6 - Consistência interna das subescalas da SCHFI v6.2 Os dados que constituem o Quadro 7 permitem-nos conhecer a tendência de resposta dos inquiridos aos itens que constituem a subescala referente à dimensão manutenção de autocuidado. Verificamos que 36.69% afirmaram que nunca ou raramente se pesavam sozinhos, seguidos de 35.4% que o faziam às vezes; quanto à inspeção dos 73 tornozelos dirigida à procura de inchaço, 35.5% afirmaram que a faziam às vezes, seguidos de 29.2% que o faziam sempre ou diariamente; 47.7% nunca ou raramente evitavam adoecer, fazendo vacinas da gripe ou evitando o contacto com pessoas doentes; 78.5% nunca ou raramente praticavam algum tipo de atividade física; 64.6% sempre ou diariamente cumprem as orientações dos médicos ou dos enfermeiros e igual percentagem sempre ou diariamente praticam uma alimentação com baixo teor de sal; 78.5% nunca ou raramente se exercita durante 30 minutos por dia; 81.5% nunca ou raramente se esquecem de tomar algum dos medicamentos; 64.6% nunca ou raramente pedem alimentos com baixo teor de sal quando fazem refeições fora de casa; 78.5% sempre ou diariamente usam um sistema (caixa de comprimidos ou lembrete) para ajudar a controlar a toma dos medicamentos. Nunca ou raramente Resposta Item Pesa-se sozinho? Inspeciona os seus tornozelos à procura de inchaço? Evita adoecer (ex: Faz a vacina da gripe, evita contacto com pessoas doentes? Pratica algum tipo de atividade física? Cumpre as orientações dos médicos ou dos enfermeiros? Pratica uma alimentação com baixo teor de sal? Exercita-se por 30 minutos dia? Esquece-se de tomar algum dos seus medicamentos? Pede alimentos com baixo teor de sal quando faz refeições fora de casa? Usa um Sistema (caixa de comprimidos, lembrete) para o ajudar a controlar a toma dos medicamentos? Às vezes Frequentemente Sempre ou diariamente n % n % n % n % 24 36.9 23 35.4 17 26.2 1 1.5 5 7.7 23 35.5 18 27.7 19 29.2 31 47.7 12 18.5 1 1.5 21 32.3 51 78.5 9 13.8 3 4.6 2 3.1 - 0.0 5 7.7 18 27.7 42 64.6 5 7.7 8 12.3 10 15.4 42 64.6 51 78.5 9 13.8 2 3.1 3 4.6 53 81.5 9 13.8 1 1.5 2 3.1 42 64.6 6 9.2 5 7.7 12 18.5 14 21.5 - 0.0 - 0.0 51 78.5 Quadro 7 - Respostas aos itens da Escala de Autocuidado para a pessoa com Insuficiência Cardíaca (dimensão “Manutenção do autocuidado”) 74 Os dados obtidos permitiram-nos constatar que todos os inquiridos afirmaram que tiveram problemas respiratórios ou de inchaço nos tornozelos no último mês. Quanto aos itens da dimensão gestão do autocuidado, verificamos no Quadro 8 que 43.1% dos elementos da amostra afirmaram que reconheceram de forma lenta os sintomas como sendo de IC; 50.8% consideraram nada provável a redução de sal da dieta; 66.2% afirmaram como sendo nada provável reduzir a quantidade de líquidos ingeridos; 87.7% também consideram nada provável tomar um diurético extra; 52.3% afirmaram ser provável contactar com o seu médico ou enfermeiro para aconselhamento; 58.5% responderam que não tentaram nada quando questionados sobre o facto de estarem certos que o procedimento adotado tenha ajudado na melhoria dos sintomas de IC. Resposta Item Com que rapidez reconheceu estes sintomas como de insuficiência cardíaca? Não tive estes sintomas n % - 0.0 Não reconheci estes problemas n % 22 33.8 De forma lenta De forma normal Rapidamente De forma muito rápida n % n % n % n % 28 43.1 5 7.7 8 12.3 2 3.1 ---- Nada provável n % Pouco provável n % n % ---- ---- 33 50.8 3 4.6 12 18.5 17 26.2 ---- ---- 43 66.2 8 12.3 8 12.3 6 9.2 ---- ---- 57 87.7 2 3.1 2 3.1 4 6.2 ---- ---- 3 4.6 11 16.9 34 52.3 17 26.2 ---- Não tentei nada Resposta ---- ---- Item Reduzir o sal na sua dieta Reduzir a quantidade de líquidos por si ingeridos Tomar um diurético (comprimido para eliminar os líquidos) extra Contactar o seu médico ou enfermeiro para aconselhamento ---- Resposta Não tenho a certeza Tenho uma vaga ideia n % Provável Tenho a certeza Muito provável n % Tenho a certeza absoluta n % Item n % n % n % n % Está certo sobre o facto do 38 58.5 10 15.4 ---3 4.6 7 10.8 7 10.8 procedimento ter ajudado ou não? Quadro 8 - Respostas aos itens da Escala de Autocuidado para a pessoa com Insuficiência Cardíaca (dimensão “Gestão do autocuidado”). 75 No Quadro 9 apresentamos as respostas dos inquiridos nos itens da subescala relativa à dimensão confiança no autocuidado. Verificamos que 49.2% se afirmaram nada confiantes em manter-se livres de sintomas de IC; 60.0% declararam estar muito confiantes ao seguir o tratamento que lhes foi aconselhado; 47.7% referiram o mesmo nível de confiança perante a avaliação dos sintomas; 49.2% também disseram estar muito confiantes no reconhecimento de mudanças que possam ocorrer na saúde; com a mesma percentagem disseram não estar confiantes em fazer alguma coisa que alivie os sintomas; 44.6% afirmaram estar pouco confiantes com a avaliação da eficácia de um qualquer procedimento. Resposta Item Manter-se livre de sintomas de insuficiência cardíaca? Seguir o tratamento que lhe tenha sido aconselhado? Avaliar a importância dos seus sintomas? Reconhecer mudanças na sua saúde se estas ocorreram? Fazer alguma coisa que alivie os seus sintomas? Avaliar a eficácia de um qualquer procedimento? Nada confiante n % 49. 32 2 Pouco confiante n % 33. 22 8 - 0.0 6 7 10. 8 20 3 4.6 23 32 19 49. 2 29. 2 19 29 9.2 30. 8 35. 4 29. 2 44. 6 Muito confiante n % Extremamen -te confiante n % 8 12.3 3 4.6 39 60.0 20 30.8 31 47.7 7 10.8 32 49.2 7 10.8 11 16.9 3 4.6 12 18.5 5 7.7 Quadro 9 - Respostas aos itens da Escala de Autocuidado para a pessoa com Insuficiência Cardíaca (dimensão “Confiança no autocuidado”) Com base nas respostas fornecidas aos itens anteriores pudemos avaliar a adequação do autocuidado da pessoa com IC. Os resultados que apresentamos no Quadro 10 revelam que na subescala referente à dimensão manutenção do autocuidado, foram observados scores compreendidos entre 16.70 e 93.30, sendo o valor médio 51.28±15.49. Metade dos inquiridos obtiveram resultados iguais ou inferiores a 50.00 e a distribuição de frequências dos resultados apresentou caraterísticas próximas de uma distribuição normal (p = 0.200). Nesta dimensão 87.7% dos inquiridos revelaram uma capacidade de autocuidado não adequada. Para a subescala relativa à dimensão gestão do autocuidado observaram-se scores entre 0.00 e 85.00, sendo o valor médio 31.00±22.56. Metade dos indivíduos apresentaram scores iguais ou inferiores a 20.00 e a distribuição de frequências afastou-se significativamente de uma distribuição normal (p = 0.000). Verificamos que 90.8% dos elementos da amostra evidenciaram uma capacidade para o autocuidado não adequada. 76 Quanto à dimensão confiança no autocuidado, observamos scores compreendidos entre 11.10 e 100.00, tendo como valor médio 44.44±19.72. Nesta dimensão, metade dos doentes apresentou scores iguais ou inferiores a 44.44 e a distribuição de frequências dos resultados afastou-se das caraterísticas de uma distribuição normal (p = 0.045). Verificamos, ainda, que 93.8% dos indivíduos revelaram uma capacidade de autocuidado não adequada. Em sumula e para responder à questão «qual o nível de adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca?» podemos afirmar que os doentes evidenciaram capacidade para o autocuidado não adequada, sendo menos adequada nas dimensões gestão do autocuidado e de confiança no autocuidado e um pouco mais adequada na dimensão manutenção do autocuidado. Dimensão n % Manutenção do autocuidado Capacidade de autocuidado não adequada (Score < 70) 57 87.7 Capacidade de autocuidado adequada (Score ≥ 70) 8 12.3 ̅ = 51.28; Md = 50.00; s = 15.49; xmin = 16.70; xmáx = 93.30; p = 0.200 Gestão do autocuidado Capacidade de autocuidado não adequada (Score < 70) 59 90.8 Capacidade de autocuidado adequada (Score ≥ 70) 6 9.2 ̅ = 31.00; Md = 20.00; s = 22.56; xmin = 0.00; xmáx = 85.00; p = 0.000 Confiança no autocuidado Capacidade de autocuidado não adequada (Score < 70) 61 93.8 Capacidade de autocuidado adequada (Score ≥ 70) 4 6.2 ̅ = 44.44; Md = 44.44; s = 19.72; xmin = 11.10; xmáx = 100.00; p = 0.045 Quadro 10 - Resultados da aplicação da Escala de Autocuidado para a pessoa com Insuficiência Cardíaca Para responder à questão «Qual a relação entre a idade e o nível de adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca?» procedemos ao estudo da correlação entre as duas variáveis através do coeficiente de correlação de Spearman e do respetivo teste de significância. Os resultados que constituem o Quadro 11 permitem-nos afirmar que existe correlação estatisticamente significativa nas dimensões gestão do autocuidado (p = 0.002) e confiança no autocuidado (p = 0.000). Atendendo a que, em ambas as dimensões, a correlação é negativa podemos, ainda, afirmar que os indivíduos mais velhos tendem a evidenciar menor nível de adequação do autocuidado. Com o objetivo de fazer uma análise mais minuciosa procedemos ao estudo da correlação entre a idade e cada um dos itens das duas dimensões atrás referidas. Verificámos a existência de correlações estatisticamente significativas nos itens “Com que rapidez reconheceu estes sintomas como de insuficiência cardíaca?” (rs = -0.26; p 77 = 0.045), “Reduzir a quantidade de líquidos por si ingeridos” (rs = -0.33; p = 0.008) e “Tomar um diurético (comprimido para eliminar os líquidos) extra” (r s = -0.27; p = 0.030) da dimensão gestão do autocuidado e nos itens “Está certo sobre o facto do procedimento ter ajudado ou não?” (rs = -0.32; p = 0.010), “Manter-se livre de sintomas de insuficiência cardíaca?” (rs = -0.30; p = 0.017), “Seguir o tratamento que lhe tenha sido aconselhado?” (rs = -0.25; p = 0.048), “Avaliar a importância dos seus sintomas?” (rs = -0.43; p = 0.000), “Reconhecer mudanças na sua saúde se estas ocorreram?” (rs = -0.33; p = 0.007), “Fazer alguma coisa que alivie os seus sintomas?” (r s = -0.26; p = 0.035) e “Avaliar a eficácia de um qualquer procedimento?” (rs = -0.25; p = 0.043) da dimensão confiança no autocuidado. Dimensão Idade rs +0.02 -0.38 -0.43 n 65 65 65 Manutenção do autocuidado Gestão do autocuidado Confiança no autocuidado p 0.860 0.002 0.000 Quadro 11 - Resultados do estudo da correlação entre a Escala de Autocuidado e a idade da pessoa com Insuficiência Cardíaca A resposta à questão «Qual a relação entre o estado civil e o nível de adequação da pessoa com insuficiência cardíaca?» foi obtida através da aplicação do teste U de Mann-Whitney para comparar os scores do autocuidado em função da facto do indivíduo ter o estado civil de casado/união de facto ou ter qualquer outro estado civil. Os resultados que apresentamos no Quadro 12 revelam que não se verifica diferença estatisticamente significativa em qualquer das dimensões. Assim, concluímos que o estado civil do indivíduo com IC não influencia significativamente o nível de adequação do autocuidado que ele evidencia. Dimensão Estado civil (agrupado) Manutenção do autocuidado Casado(a) / União de facto Outros Gestão do autocuidado Casado(a) / União de facto Outros Confiança no autocuidado Casado(a) / União de facto Outros n ̅ ̅ Md z p 35 30 33.63 32.27 51.81 50.67 50.00 51.67 -0.290 0.771 35 30 31.36 34.92 29.71 32.50 15.00 25.00 -0.765 0.444 35 30 32.79 33.25 44.60 44.26 44.44 44.44 -0.099 0.921 Quadro 12 - Resultados da comparação da Escala de Autocuidado em função do estado civil da pessoa com Insuficiência Cardíaca 78 De modo semelhante, ou seja, aplicando o teste U de Mann-Whitney procedemos ao estudo conducente a obter a resposta para a questão «Qual a relação entre o género e o nível de adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca?». Analisando os resultados que constituem o Quadro 13 podemos verificar que nenhuma das diferenças observadas pode ser considerada estatisticamente significativa (p> 0.050). Este facto permite-nos concluir que o nível de adequação do autocuidado das pessoas do género feminino com IC é semelhante ao evidenciado pelas pessoas do género masculino. Dimensão Género Manutenção do autocuidado Feminino Masculino Gestão do autocuidado Feminino Masculino Confiança no autocuidado Feminino Masculino ̅ n ̅ Md z p 25 40 34.34 32.16 52.00 50.83 53.33 48.33 -0.453 0.6 50 25 40 36.26 30.96 35.00 28.50 35.00 17.50 -1.111 0.2 67 25 40 33.08 32.95 45.33 43.89 50.00 44.44 -0.027 0.9 78 Quadro 13 - Resultados da comparação da Escala de Autocuidado em função do género da pessoa com Insuficiência Cardíaca Através da aplicação do teste Kruskal-Wallis procedemos ao estudo necessário para obter resposta à questão «Qual a relação entre as habilitações literárias e o nível de adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca?». Como podemos verificar pelos resultados que constituem o Quadro 14, apenas se observa a existência de alguma diferença significativa em termos de confiança no autocuidado (p = 0.002). A comparação dos valores observados para as medidas de tendência central permitem-nos constatar que a maior diferença existe entre a adequação do autocuidado revelada pelas pessoas com o 1º Ciclo do Ensino Básico e os restantes dois grupos, apresentando estes valores próximos. Concluímos assim que o nível de adequação do autocuidado é diferente conforme as habilitações literárias das pessoas com IC, particularmente em termos de confiança no autocuidado, sendo mais baixa para aquelas que possuem menores habilitações literárias. Aplicando o estudo aos itens que constituem a dimensão inerente à confiança no autocuidado verificamos a existência de diferenças estatisticamente significativas nos itens “Avaliar a importância dos seus sintomas?” (p = 0.023), “Fazer alguma coisa que alivie os seus sintomas?” (p = 0.002) e “Avaliar a eficácia de um qualquer 79 procedimento?” (p = 0.013). Em todos estes itens a tendência foi idêntica à observada para o global da dimensão, ou seja, as pessoas com menores habilitações literárias tendem a evidenciar níveis mais baixos de adequação do autocuidado. Dimensão Habilitações literárias Manutenção do autocuidado 1º Ciclo do Ensino Básico 2º e 3º Ciclo do Ensino Básico Ensino Secundário ou Superior Gestão do autocuidado 1º Ciclo do Ensino Básico 2º e 3º Ciclo do Ensino Básico Ensino Secundário ou Superior Confiança no autocuidado 1º Ciclo do Ensino Básico 2º e 3º Ciclo do Ensino Básico Ensino Secundário ou Superior n ̅ ̅ Md 2 p 46 6 13 32.51 23.42 39.15 51.01 43.89 55.64 50.00 43.33 53.33 2.968 0.227 46 6 13 30.93 34.25 39.73 28.48 32.50 39.23 20.00 20.00 45.00 2.270 0.321 46 6 13 27.77 48.17 44.50 39.73 56.48 55.56 38.89 58.33 55.56 12.302 0.002 Quadro 14 - Resultados da comparação da Escala de Autocuidado em função das habilitações literárias da pessoa com Insuficiência Cardíaca Usando, novamente, o teste U de Mann-Whitney podemos obter informação para responder à questão «Qual a relação entre a área de residência e o nível de adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca?». Como se constata pelos resultados que constituem o Quadro 15, não se observou a existência de qualquer diferença estatisticamente significativa (p> 0.050). Estes resultados levam-nos a responder negativamente à questão colocada ou, por outras palavras, não existem evidências que nos permitam afirmar que o nível de adequação do autocuidado é diferente conforme a área de residência da pessoa com IC. 80 Dimensão Área de residência Manutenção do autocuidado Área urbana Área rural Gestão do autocuidado Área urbana Área rural Confiança no autocuidado Área urbana Área rural n ̅ ̅ Md z p 34 31 31.74 34.39 50.20 52.47 48.33 53.33 -0.567 0.571 34 31 33.50 32.45 32.35 29.52 20.00 20.00 -0.226 0.821 34 31 35.16 30.63 46.73 41.94 47.22 44.44 -0.970 0.332 Quadro 15 - Resultados da comparação da Escala de Autocuidado em função da área de residência da pessoa com Insuficiência Cardíaca A questão «Qual a relação entre o tempo de diagnóstico e o nível de adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca?» foi respondida através do estudo da correlação entre as duas variáveis usando o coeficiente de correlação de Spearman e do respetivo teste de significância. Atendendo aos resultados que constituem o Quadro 16 podemos afirmar que não existe qualquer correlação estatisticamente significativa entre o tempo de diagnóstico e as dimensões da escala de avaliação do autocuidado. Este facto leva-nos a responder negativamente à questão colocada. Tempo de diagnóstico n rs p 51 0.08 0.574 51 -0.18 0.200 51 -0.12 0.421 Dimensão Manutenção do autocuidado Gestão do autocuidado Confiança no autocuidado Quadro 16 - Resultados do estudo da correlação entre a Escala de Autocuidado e o tempo de diagnóstico da pessoa com Insuficiência Cardíaca Através do teste U de Mann-Whitney obtivemos informação para responder à questão «Qual a relação entre ter estado hospitalizado ou recorrer à assistência de saúde nos últimos doze meses e o nível de adequação do autocuidado da pessoa com Insuficiência cardíaca?». Como podemos verificar (Quadro 17) existem diferenças estatisticamente significativas nas dimensões manutenção do autocuidado (p = 0.026) e gestão do autocuidado (p = 0.018). Os resultados obtidos para as médias e mediana revelam que as pessoas que foram hospitalizadas ou recorreram a assistência de saúde nos últimos doze meses evidenciam maior nível de adequação do autocuidado. 81 Aplicando o estudo aos itens que constituem as duas dimensões podemos constatar que as diferenças estatisticamente significativas ocorreram no item “Inspeciona os seus tornozelos à procura de inchaço?” (p = 0.023) e “Com que rapidez reconheceu estes sintomas como de insuficiência cardíaca?” (p = 0.022), sendo a tendência de respostas semelhante à verificada para o global de ambas as dimensões. Dimensão Hospitalização ou assistência de saúde Manutenção do autocuidado Não Sim Gestão do autocuidado Não Sim Confiança no autocuidado Não Sim n ̅ ̅ Md z p 32 33 27.72 38.12 47.19 55.25 43.33 53.33 -2.225 0.026 32 33 27.42 38.41 24.69 37.12 15.00 35.00 -2.367 0.018 32 33 29.59 36.30 41.32 47.48 38.89 50.00 -1.437 0.151 Quadro 17 - Resultados da comparação da Escala de Autocuidado em função do facto da pessoa com Insuficiência Cardíaca ter sido hospitalizada ou ter procurado assistência de saúde nos últimos doze meses Aplicando uma vez mais o teste Kruskal-Wallis, obtivemos a informação necessária para responder à questão «Qual a relação entre a independência nas atividades de vida diária e o nível de adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca?». Como podemos constatar (Quadro 18) não se observou qualquer diferença estatisticamente significativa (p> 0.050) pelo que a resposta à questão formulada é negativa. Tal facto significa que o nível de adequação do autocuidado não é influenciado pela independência nas atividades diárias da pessoa com IC. 82 Dimensão ̅ Md 30.86 50.48 46.67 39 32.77 51.20 53.33 A doença impede de realizar a maioria das atividades diárias Gestão do autocuidado 18 32.56 51.67 46.67 A doença não impede de realizar as atividades diárias 7 36.64 36.43 30.00 A doença impede de realizar algumas das atividades diárias 39 31.01 28.46 20.00 A doença impede de realizar a maioria das atividades diárias Confiança no autocuidado 18 34.11 35.28 27.50 A doença não impede de realizar as atividades diárias 7 48.21 45.99 55.56 A doença impede de realizar algumas das atividades diárias 39 30.00 42.31 44.44 A doença impede de realizar a maioria das atividades diárias 18 31.81 42.59 41.67 Independência nas atividades diárias Manutenção do autocuidado n A doença não impede de realizar as atividades diárias 7 A doença impede de realizar algumas das atividades diárias ̅ 2 p 0.063 0.969 0.745 0.689 5.768 0.056 Quadro 18 - Resultados da comparação da Escala de Autocuidado em função da independência nas atividades diárias da pessoa com Insuficiência Cardíaca O estudo da correlação através do cálculo do coeficiente de Spearman e da aplicação do respetivo teste de significância permitem-nos responder à questão «Qual a relação entre a fração de ejeção do ventrículo esquerdo e o nível de adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca?». Os resultados que apresentamos no Quadro 19 permitem-nos afirmar que, apenas, existe correlação estatisticamente significativa na dimensão manutenção do autocuidado. Este facto, permite-nos responder positivamente à questão colocada e, atendendo a que a correlação é positiva, concluímos que as pessoas que apresentam maior fração de ejeção do ventrículo esquerdo tendem a evidenciar melhor manutenção do autocuidado. 83 Com o objetivo de fazer uma análise mais minuciosa procedemos ao estudo da correlação entre a fração de ejeção do ventrículo esquerdo e as dimensões de manutenção, gestão e confiança, tendo constatado a existência de correlação positiva e estatisticamente significativa no item “Pratica uma alimentação com baixo teor de sal?” (rs = +0.35; p = 0.005). Dimensão n 60 60 60 Manutenção do autocuidado Gestão do autocuidado Confiança no autocuidado FEVE rs +0.27 +0.12 +0.09 p 0.030 0.348 0.515 Quadro 19 - Resultados do estudo da correlação entre a Escala de Autocuidado e os valores da FEVE apresentados pela pessoa com Insuficiência Cardíaca Através do cálculo do coeficiente de correlação de Spearman e da aplicação do respetivo teste de significância obtivemos informação para responder à questão «Qual a relação entre o número de fatores de risco/doenças e o nível de adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca?». Analisando os resultados que constam do Quadro 20 podemos afirmar que, apenas, existe correlação estatisticamente significativa entre a dimensão inerente à confiança no autocuidado e o número de fatores de risco/doenças. Este facto leva-nos a responder positivamente à questão colocada e, atendendo a que a correlação é negativa, podemos, também, afirmar que as pessoas que apresentam maior número de fatores de risco/doenças tendem a evidenciar menor confiança no autocuidado. O estudo realizado para cada um dos seis itens que constituem esta dimensão revelou a existência de correlações significativas nos itens “Fazer alguma coisa que alivie os seus sintomas?” (rs = -0.42; p = 0.000) e “Avaliar a eficácia de um qualquer procedimento?” (rs = -0.28; p = 0.022). Como se constata, em ambos também obtivemos correlações negativas. Dimensão Manutenção do autocuidado Gestão do autocuidado Confiança no autocuidado n 65 65 65 Número de fatores de risco/doenças rs p -0.13 0.305 -0.20 0.109 0.002 -0.37 Quadro 20 - Resultados do estudo da correlação entre a Escala de Autocuidado e o número de fatores de risco/doenças apresentadas pela pessoa com Insuficiência Cardíaca 84 3 - DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Nesta parte do trabalho procedemos à discussão dos resultados obtidos através da análise inferencial dos dados, tendo por base as questões de investigação formuladas, sendo que daremos apenas enfoque às questões onde se comprovou existir correlação estatisticamente significativa. Assim, através da análise dos resultados obtidos neste estudo e atendendo aos estudos consultados aquando da pesquisa bibliográfica, iremos procurar possíveis explicações para os resultados encontrados no decorrer do mesmo. Procedeu-se à análise individual das três dimensões da escala, seguida da análise e interpretação das questões de investigação, nas quais se comprovou existir relação estatisticamente significativa. A IC é uma patologia complexa e progressiva, que apesar dos avanços técnico científicos de diagnóstico e da evolução dos tratamentos farmacológicos, continua a evidenciar elevadas taxas de mortalidade bem como a diminuição da capacidade funcional das pessoas, contribuindo para o aumento das taxas de internamento e reinternamento hospitalar (Ceia et al., 2005; Scattolin et al., 2007; Linhares et al., 2010). É nosso propósito saber qual o nível de adequação do Autocuidado da Pessoa com IC, para que o enfermeiro possa intervir neste contexto, de forma a melhorar os comportamentos de adesão ao regime terapêutico, quer farmacológico, quer não farmacológico. A IC é responsável pela diminuição da capacidade funcional das pessoas, o que se traduz em elevadas taxas de morbilidade. Estas caraterísticas contribuem ainda para o aumento da prevalência da IC, que se estima aumentar entre 50% a 75% até 2030 em Portugal. Um dos fatores que poderá contribuir para o seu aumento está relacionado com a idade da população, que é cada vez mais envelhecida, assim como com as comorbilidades associadas, que também estão presentes e em maior número, à medida que a população envelhece (Ceia et al., 2005; Rabelo et al.,2007; Fonseca, 2009). O facto das pessoas que constituem a amostra serem maioritariamente idosas, contribuirá para que melhor possamos compreender os resultados obtidos. 85 O autocuidado reflete a capacidade que as pessoas têm de fazer progressos envolvendo a escolha dos comportamentos para manter a estabilidade física (manutenção) e a resposta aos sintomas, quando estes ocorrem (gestão). Os estudos indicam que as pessoas com bom nível de adequação de manutenção do autocuidado são as que praticam um estilo de vida saudável, com boa adesão ao regime medicamentoso e que monitorizam os sintomas. A monitorização de sintomas é essencial para uma boa gestão do autocuidado, pois refere-se à capacidade de tomar decisões em resposta aos sintomas (Riegel et al., 2009). A prática baseada em evidências científicas, que consequentemente se reflete na qualidade dos cuidados de enfermagem e na satisfação das pessoas com IC, constitui um fator decisivo no processo de tomada de decisão. O relacionamento que a pessoa estabelece com a manutenção e a gestão do autocuidado, constitui também uma das variáveis que pode ser tida em consideração no processo de adaptação e reestruturação do estilo de vida da pessoa com IC (Riegel et al., 2009; Mendes, Bastos & Paiva, 2010). Segundo Seto et al. (2011), a existência de uma prática de autocuidado adequada traduz-se em benefícios para a pessoa, na medida em que lhe permite alcançar melhores resultados de saúde, contribui para a diminuição de reinternamentos, bem como para a redução dos custos de saúde. Reflete-se no aumento de conhecimento para o autocuidado (ao nível do tratamento e da manutenção dos sintomas), bem como na melhoria da qualidade de vida da pessoa com IC. De acordo com Riegel et al. (2009), as três subescalas da SCHFI v6.2 devem ser avaliadas separadamente (dimensões: manutenção, gestão e confiança), sendo que a pontuação (score) de cada subescala varia entre 0 e 100 e que para uma pontuação superior ou igual a 70 é considerado que o autocuidado é adequado. Para a amostra em estudo, tendo em conta que os scores obtidos pela aplicação da escala SCHFI v6.2 são inferiores a 70% e na tentativa de dar reposta a uma das questões de investigação de estudo, podemos apurar que as pessoas evidenciam uma capacidade para o autocuidado não adequada, sendo menos adequada nas dimensões gestão e confiança do autocuidado e um pouco mais adequada na dimensão manutenção do autocuidado. No estudo da dimensão manutenção do autocuidado, verificamos que os itens que tiveram menor adesão por parte dos inquiridos foram: a monitorização do peso (36.69% nunca se pesavam e 35.4% pesavam-se às vezes); monitorização de edemas 86 (35.5% inspecionavam às vezes os tornozelos à procura de inchaço); imunização (47.7% nunca ou raramente evitavam adoecer fazendo vacinas da gripe ou evitando contacto com pessoas doentes); ingestão de dieta com baixo teor de sal quando faz refeições fora de casa (64.6% refere nunca ou raramente pedir); a atividade física (78.5% nunca ou raramente se exercita), bem como o exercício durante 30 minutos (78.5% nunca ou raramente se exercita durante 30 minutos). Contudo, os itens de autocuidado mais adequado demonstrado pelas pessoas que constituíram a amostra foram: o cumprimento das orientações dadas pelos médicos ou enfermeiros (64.6% cumprem sempre ou diariamente); prática de uma alimentação com baixo teor de sal (64.6% referem fazê-lo sempre ou diariamente); o cumprimento da toma da medicação (81.5% cumprem sempre ou diariamente a medicação); o uso de dispositivos auxiliares – caixa de medicação, lembretes (78.5% refere fazer uso sempre ou diariamente). Os estudos de Evangelista & Dracup (2000) evidenciaram que os fatores que exercem influência direta na adesão ao tratamento são os que se referem à medicação, à quantidade utilizada, à manutenção do regime terapêutico e ao número de doses diárias, existindo uma taxa de adesão à terapêutica que oscila entre 20% e 58%. Porém, a taxa de adesão à toma da medicação demonstrou ser muito superior (81.5%) para a amostra em estudo. Este valor pode ser explicado pelo facto de existir envolvimento por parte da equipa de enfermagem e médica em rever o regime medicamentoso junto do doente durante o internamento, dando ênfase ao nome da medicação, das suas indicações, doses, horários e possíveis efeitos secundários, entre outras, estratégias também corroboradas por Evangelista e Dracup (2000). Outra explicação prende-se com o incentivo ao uso de um sistema, quer seja através do uso de caixa de comprimidos, quer seja por sistema de lembrete, que tem uma grande adesão por parte dos elementos da amostra em estudo (78.5%). A atividade física é aconselhada a todas as pessoas com IC estáveis, não existindo evidências para que esta deva ser limitada a um determinado subgrupo de pessoas com IC. A atividade física permite aumentar a capacidade de exercício, reduzir os sintomas durante o mesmo e melhorar a qualidade de vida. Apesar dos benefícios da atividade física no tratamento da IC, muitas pessoas consideram que a realização dessa prática de autocuidado é mais difícil do que as práticas relacionadas com a toma da medicação, modificações dietéticas ou restrição hídrica (Oliveira et al., 2013). A amostra em estudo apresenta uma baixa adequação do autocuidado nesta prática, o que pode ser explicado com base na faixa etária, uma vez que que à medida que a 87 idade avança, as limitações na locomoção tendem a aumentar. A intolerância ao esforço físico pode ser uma das razões explicativas para os resultados encontrados, tal como o desconhecimento por parte dos participantes, justificando a não realização de exercício físico com o facto de esforçarem o coração (órgão que se encontra já lesado), aliado ao receio de não conseguirem tolerar o esforço físico, por desconhecerem qual o tipo de atividade física mais adequada à sua função cardíaca (Seto et al., 2011). A inexistência de centros recreativos para adultos, a falta de tempo e a falta de segurança são justificações descritas no estudo de Holguín, Gazquez e Urrego (2014). O baixo nível de adequação do autocuidado encontrado para os itens da monitorização de peso, vigilância de edemas, imunização pode ser explicado pelo desconhecimento dos elementos da amostra sobre o verdadeiro fundamento para a sua realização. No caso da monitorização do peso e vigilância dos edemas, a baixa percentagem de pessoas que a realiza pode ser explicada pelo desconhecimento dos valores de referência e atitudes a tomar no caso de existirem alterações dos valores considerados normais. Outro motivo relevante é a inexistência de recursos materiais no domicílio (e.g. balança e fita métrica) para monitorização de alguns parâmetros, uma vez que as pessoas só têm acesso a estes meios quando se deslocam às consultas ou a uma farmácia. Se por um lado, com o progredir da idade, as pessoas podem não apresentar os conhecimentos necessários para o efeito, por outro podem também não conseguir monitorizar o peso por apresentarem algum tipo de desequilíbrio na marcha e/ou limitação motora (Seto et al., 2011; Holguín, Gazquez & Urrego, 2014). Quanto à imunização, também continua a ser uma prática com elevada percentagem de não cumprimento (47.7%), facilmente explicada pelo receio que as pessoas têm em contrair síndrome gripal após a sua administração (um dos seus efeitos secundários). Outra explicação encontrada, reside na dificuldade sentida por parte das pessoas em recorrer atempadamente aos serviços de saúde na comunidade para efeitos de imunização. Por outro lado, a baixa adesão parece estar associada ao facto das pessoas não valorizarem a importância da imunização, uma vez que desconhecem as suas vantagens (Holguín, Gazquez & Urrego, 2014). Quando questionados sobre o teor de sal na alimentação, verificamos que 64.4% dos respondentes referem fazê-lo sempre ou diariamente, enquanto que 64.6% referem que nunca ou raramente “pede alimentos com baixo teor de sal quando faz refeições fora de casa”. Na amostra em estudo, constituída essencialmente por idosos, esta 88 discrepância de resultados pode ser facilmente explicada pelo facto da maioria dos inquiridos raramente realizarem refeições fora de casa, sendo que em casa realizam refeições com baixo teor de sal, uma vez que na maior parte dos casos as refeições são fornecidas por instituições que levam em linha de conta as especificações dietéticas de cada pessoa. A elevada adesão às refeições com baixo teor em sal pode ser também explicada pelo ensino realizado em consulta e pelo facto de que sempre que as pessoas se encontram internadas a dieta fornecida é pobre em sal, o que faz com que facilmente adiram a este regime alimentar. Van Der Wal et al. (2005) constataram que as maiores taxas de não adesão referemse à dieta e restrição de líquidos, à monitorização de peso diário e à atividade física e repouso. Resultados que são parcialmente sobreponíveis aos do presente estudo. Estes podem ser explicados pelo facto de ao longo dos anos se verificar uma evolução ao nível dos tratamentos farmacológicos e não farmacológicos, tornando por isso mais complexa a gestão do regime terapêutico para as pessoas com IC, o que se traduz numa baixa adesão ao regime medicamentoso e consequentemente num autocuidado inadequado. Sobre a adequação da gestão do autocuidado, o pleno de respostas dos elementos da amostra é justificado pelo facto destes se encontrarem internados, sendo que os motivos de procura de cuidados de saúde são maioritariamente devido, a dispneia ou aumento dos edemas. Ainda sobre a gestão do autocuidado verificamos que 43.1% dos elementos da amostra afirmaram ter reconhecido de forma lenta os sintomas como sendo de IC. Isto permite-nos constatar que os elementos da amostra ainda não estão despertos para os sinais e sintomas, não sendo por isso capazes de gerir o autocuidado. Ao compararmos o resultado desta dimensão com a dimensão manutenção, podemos afirmar que o não reconhecimento do surgimento súbito dos sintomas de IC, pode ser visto como uma consequência da baixa adesão aos itens do cumprimento de medidas não farmacológicas (e.g. monitorização de peso, vigilância de edemas). Uma outra explicação para os resultados obtidos, pode-se relacionar com a baixa motivação das pessoas para a gestão do autocuidado, resultante do baixo impacto que a sintomatologia tem no desenvolvimento das suas atividades de vida diária (Riegel et al., 2011; Lee et al.,2013; Gonçalves & Albuquerque, 2014). A análise realizada permite constatar que a procura de ajuda junto de profissionais de saúde apresenta a melhor adesão (52.3%) na presença de sinais de dispneia ou 89 edemas. 50.8% referem como nada provável adotar o procedimento de reduzir o sal na sua dieta para reduzir os sintomas de dispneia e edemas, assim como 66.2% referem o mesmo em relação à redução da quantidade de líquidos, sendo que mais de metade dos elementos da amostra (87.7%) afirma como nada provável o procedimento de tomar um diurético extra. Os valores encontrados para os procedimentos referentes à gestão do uso do sal e da ingestão hídrica, podem-se explicar pelo facto de não se traduzirem em efeitos imediatos na melhoria dos sintomas, pelo que as pessoas acabam por não os adotar. Relativamente à toma de um diurético extra, a justificação para o resultado obtido prende-se com o eventual desconhecimento associado à permissão dessa conduta, pois os elementos da amostra não são geralmente orientados quanto a essa prática. De acordo com o estudo realizado por Lee et al. (2013) estes resultados podem ser explicados pelo facto da pessoa com IC possuir conhecimento sobre quando procurar ajuda junto dos profissionais de saúde para a auxiliar a gerir o autocuidado, mas não se sentir capacitada para gerir o autocuidado de forma autónoma. 58.8% dos respondentes referem não ter tentado nenhum procedimento que os pudesse ajudar a compensar a IC. Os resultados encontrados demonstram que os elementos da amostra não se encontram capacitados para gerir adequadamente o autocuidado, não desenvolvendo por isso competências ao nível da prevenção. Este resultado permite-nos concluir que existe um longo caminho a percorrer por parte dos enfermeiros no que diz respeito às atividades de educação para a saúde junto dos beneficiários dos seus cuidados, ao treino de capacidades e à promoção de competências de gestão do autocuidado na IC. Quanto à confiança na adequação do autocuidado, a análise destaca que 49.2% das pessoas da amostra se afirmaram nada confiantes em manter-se livres de sintomas de IC, seguidos de 33.8% que referiram sentir-se pouco confiantes. Consideramos que estes resultados podem ser explicados pelo facto de espelharem o modo como a pessoa perceciona esta patologia (incapacitante e crónica). Apesar de terem conhecimento de algumas medidas de intervenção face à doença, sabem que irão ter que recorrer muitas vezes à ajuda dos profissionais de saúde (Rabelo et al., 2007). 60.0% dos elementos da amostra declararam estar muito confiantes em seguir o tratamento que lhes foi aconselhado, 47.7% referiram o mesmo nível de confiança perante a avaliação dos sintomas e 49.2% disseram estar muito confiantes no reconhecimento de mudanças que possam ocorrer. Estes resultados demonstram que apesar dos elementos da amostra se mostrarem muito confiantes em alguns itens, não 90 significa que tenham um elevado nível de adequação do autocuidado em termos da sua manutenção ou gestão, tal como ficou comprovado anteriormente. Verificou-se ainda que 49.2% dos inquiridos referiram não estar confiantes em fazer algo que possa aliviar os sintomas e 44.6% afirmaram estar pouco confiantes com a avaliação da eficácia de um qualquer procedimento, o que é sobreponível com os resultados analisados na dimensão gestão do autocuidado. No estudo realizado por Seto et al. (2011), verificou-se que por vezes, a pessoa com baixo nível de adequação na autoconfiança sente maior dificuldade em praticar comportamentos de autocuidado, especialmente se não se sentir bem (e.g. existência de sintomas de IC), sendo que quando existe ausência de sintomas, aumenta a confiança no autocuidado. Apesar de a confiança influenciar o autocuidado, não é sinónimo de autocuidado. Riegel et al. (2011); Seto et al. (2011); Lee et al. (2013), afirmam que a confiança modera a relação entre o autocuidado e os resultados de saúde, sendo por isso importante para explicar a adequação ao autocuidado. Porém, considerando que a totalidade da amostra apresentou sintomas de descompensação cardíaca (sinal de baixo nível de gestão de autocuidado) e simultaneamente menor confiança no autocuidado, facilmente compreendemos a interligação entre as diferentes dimensões e os baixos níveis de adequação do autocuidado. Considerando as recomendações de Riegel et al. (2009) sobre a análise individualizada das três dimensões da SCHI v6.2, visto que o autocuidado é melhor representado pela manutenção e gestão e que a confiança é um processo importante que serve de moderador de relação entre o autocuidado e os resultados, tendo presentes as respostas obtidas nos itens anteriores, podemos avaliar a adequação do autocuidado das pessoas com IC assim dar resposta à questão central deste estudo: «Qual o nível de adequação do autocuidado da pessoa com Insuficiência Cardíaca?» A análise realizada permite concluir que os elementos da amostra evidenciaram capacidade não adequada para o autocuidado, sendo menos adequada na gestão do autocuidado e na confiança no autocuidado. Ao invés, é na manutenção do autocuidado que os elementos da amostra em estudo evidenciam uma melhor adequação. Apesar destes resultados, eles aproximam-se dos obtidos por Riegel et al. (2009) nos Estados Unidos, Austrália, México e Tailândia, utilizando o mesmo instrumento de avaliação do nível de adequação do autocuidado, onde constataram igualmente, que as pessoas com IC apresentam baixos níveis de adequação do 91 autocuidado. Estamos em condições de poder afirmar que ainda existe um longo percurso a percorrer na sensibilização e potenciação dos recursos das pessoas com IC. Pela proximidade que mantêm junto dos beneficiários dos seus cuidados, os enfermeiros são os profissionais melhor colocados para a potenciação das atividades de adequação do autocuidado. No que se refere à questão de investigação: «Qual a relação entre a idade e o nível de adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca?», verificamos que existe relação significativa com a adequação da gestão do autocuidado e confiança no autocuidado, embora seja negativa, o que nos impele a afirmar que as pessoas mais velhas tendem a evidenciar menor nível de adequação do autocuidado. Da análise efetuada, especificamente no que diz respeito à adequação da gestão do autocuidado e confiança no autocuidado, sobressai que à medida que a idade aumenta há um agravamento da inadequação do autocuidado no que diz respeito ao reconhecimento dos sintomas, à gestão medicamentosa, ao controlo da ingestão hídrica e à segurança que têm em desenvolver as atividades. Se pensarmos que as pessoas mais jovens possuem melhor capacidade de adaptação a novas condições de vida, facilmente compreendemos que as pessoas mais velhas apresentam menor capacidade de adaptação e predisposição para mudar comportamentos. Também os estudos de Riegel et al. (2009), mostram que as pessoas mais jovens apresentavam scores mais elevados de autocuidado de gestão e manutenção, pois assumiam estratégias e habilidades para tomarem decisões sobre os seus cuidados de saúde, enquanto que os mais idosos apenas aguardavam pelas recomendações dos profissionais de saúde. Na mesma linha de pensamento, Falk et al. (2013) concluíram que o baixo nível de autocuidado manifestado pelas pessoas idosas, pode ser explicado pelo facto destas apresentarem sintomas graves e frequentes que limitam vários aspetos da sua vida, tornando-as dependentes de terceiros, na sua sobrevivência. No que se refere à questão de investigação: «Qual a relação entre as habilitações literárias e o nível de adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca?» Sobressai da análise dos resultados que o nível de adequação do autocuidado é diferente conforme as habilitações literárias das pessoas com IC, particularmente em termos de confiança no autocuidado, sendo mais baixa para as que possuem menores habilitações literárias. 92 Estes resultados realçam também que o facto das pessoas com maior escolaridade apresentarem maior confiança no autocuidado, não significa que possuam maior literacia em saúde. Esta constatação pode estar na base da explicação dos motivos de não existirem correlações com as outras dimensões em estudo, especificamente, com a adequação na gestão e manutenção do autocuidado. Se entendermos a literacia em saúde como a capacidade de assimilar, processar, entender a informação sobre saúde e serviços disponíveis, avaliar as necessidades individuais, bem como a sua capacidade para o autocuidado, facilmente percebemos a sua relação com o baixo nível de conhecimento, erros de medicação frequentes, os custos, as altas taxas de morbilidade, readmissões, passagens recorrentes pela sala de emergência e mortalidade entre doentes com iliteracia em saúde (Westlake, Sethares & Davidson, 2013). Tendo presente o resultados do nosso estudo, podemos evidenciar que o mecanismo de iliteracia em saúde influencia os resultados propostos em pessoas com IC. No que se refere à questão de investigação: «Qual a relação entre ter estado hospitalizado ou recorrer à assistência de saúde nos últimos doze meses e o nível de adequação do autocuidado da pessoa com Insuficiência cardíaca?» Somos levados a afirmar que existem diferenças estatisticamente significativas na adequação da manutenção e gestão do autocuidado e que as pessoas que foram hospitalizadas ou recorreram a assistência de saúde nos últimos doze meses evidenciam maiores níveis de adequação do autocuidado. Nos estudos de Linhares et al. (2010) podemos obter uma possível explicação para esta evidência. Os resultados mostraram que as pessoas com maior número de internamentos apresentaram mais conhecimento sobre fisiopatologia e a manutenção do autocuidado. Contudo, apesar das pessoas com o maior número de internamentos terem mais conhecimento sobre a doença e o autocuidado, não significa que possuam maior adesão às orientações e à diminuição das taxas de readmissão. A relação entre o autocuidado e os resultados é muito complexo nas pessoas com IC. Contudo, a adequação da manutenção e da gestão do autocuidado têm estado associadas a melhores resultados, incluindo a diminuição de reinternamentos (Riegel et al., 2009; Dickson et al., 2011). No que se refere à questão de investigação: «Qual a relação entre a fração de ejeção do ventrículo esquerdo e o nível de adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca?», os resultados expostos permitem-nos afirmar que apenas 93 existe correlação na adequação da manutenção do autocuidado, e numa análise mais minuciosa, podemos evidenciar que a correlação é mais significativa quanto à prática de uma alimentação hipossalina. Com base neste pressuposto, podemos referir que as pessoas que apresentam maior fração de ejeção do ventrículo esquerdo tendem a evidenciar melhor adequação na manutenção do autocuidado. Não havendo evidências anteriores sobre este fenómeno, na leitura do estudo realizado por Lee et al. (2013) verificou-se que as pessoas com maior fração de ejeção do ventrículo esquerdo, são as que sentem menor necessidade recorrer à ajuda dos profissionais de saúde, uma vez que os sintomas são pouco evidentes ou não existe incapacidade funcional que constitua uma barreira às suas atividades de vida diária. Este motivo contribui para que as pessoas com IC não sintam necessidade de se envolverem na gestão do autocuidado, visto que a sua qualidade de vida se mantém. A existência de sintomas conduz a uma melhor adequação da gestão do autocuidado, visto que a sua severidade faz com que a que pessoa sinta necessidade/ motivação de se tornar agente ativo no processo do autocuidado (Lee et al., 2013 & Seto et al.,2011). A leitura do estudo de Seto et al. (2011) corrobora estes resultados, na medida em que afirmam que a baixa fração de ejeção do ventrículo esquerdo está associada a um melhor autocuidado. Referem ainda que as pessoas com baixa fração de ejeção apresentam uma maior perceção da necessidade de possuírem um elevado nível de adequação do autocuidado e de terem um acompanhamento clínico mais rigoroso, em comparação com as pessoas que têm a fração de ejeção preservada. Fazendo uma analogia para a amostra do nosso estudo, apesar das conclusões serem contraditórias, consideramos encontrar explicação para o facto das pessoas com maior fração de ejeção do ventrículo esquerdo tenderem a evidenciar melhor adequação na manutenção do autocuidado. Embora a maioria dos sujeitos (67.7%) apresente fração de ejeção preservada (superior a 36%) e poucas limitações nas atividades de vida diária, constatamos que o total da amostra refere sentir sintomas de descompensação da IC (problemas respiratórios ou inchaço dos tornozelos) no último mês. Esta análise permite-nos concluir que pelo facto dos sintomas existirem, torna-se só por si suficiente para que os sujeitos da amostra se sintam mais motivados para gerir o autocuidado, o que consequentemente se refletirá numa melhor manutenção. 94 No que se refere à questão de investigação: «Qual a relação entre o número de fatores de risco/doenças e o nível de adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca?» Analisando os resultados, constamos que existe apenas correlação estatisticamente significativa entre a adequação da confiança no autocuidado e o número de fatores de risco/doenças, especificamente no que se refere ao alívio dos sintomas e avaliação da eficácia das medidas implementadas. Sendo esta correlação negativa, podemos afirmar que as pessoas que apresentam maior número de fatores de risco/doenças tendem a evidenciar menores níveis de adequação da confiança no autocuidado. Já em 2012, a European Society of Cardiology alertara para a necessidade de se conhecerem quais as comorbilidades nas pessoas com IC. Estas influenciam significativamente o tratamento para a IC, a sua maioria está associada a um pior estado clínico e são preditoras de um prognóstico reservado (como é o caso da diabetes). Assim, algumas comorbilidades tornam-se elas próprias alvos terapêuticos, o que faz com que o seu tratamento constitua um elemento fulcral na abordagem holística das pessoas com IC. Os resultados obtidos no nosso estudo estão diretamente relacionados com algumas das caraterísticas sociodemográficas e clínicas da amostra, maioritariamente constituída por pessoas idosas, colocando uma vez mais ênfase na premissa de que à medida que a população envelhece, as comorbilidades aumentam. Deste modo, facilmente compreendemos o impacto que estas têm no prognóstico e nos níveis de adequação da gestão do autocuidado das pessoas com IC. Consequentemente, ao constatarem que os resultados em saúde não se traduzem no que seria expectável (devido à existência de comorbilidades) e que a sua qualidade de vida não sofreu melhorias, as pessoas sentem que os cuidados que recebem devido às comorbilidades (que na maioria dos casos são crónicas) são fragmentados, sendo que quanto maior for o número de fatores de risco/ doenças associadas, maior será este sentimento de cuidados fragmentados (Rushton, Satchithananda & Kadam, 2011). Este facto permite-nos justificar assim qual o motivo que leva as pessoas com maior número de fatores de risco/doenças a evidenciar menor nível de adequação da confiança no autocuidado. Da análise e discussão dos resultados, podemos constatar que, o Autocuidado na Pessoa com IC não é adequado para a amostra em estudo e no global, com maiores evidências na adequação da gestão e confiança do autocuidado. Torna-se por isso fundamental o desenvolvimento de estratégias eficazes, bem como a avaliação e 95 mensuração das mudanças na adequação do autocuidado e habilidades desenvolvidas pelas pessoas com IC. A existência de instrumentos válidos capazes avaliar o Autocuidado das pessoas com IC constituem uma mais valia, pois permitem conhecer o nível inicial que detêm, bem como avaliar a influência que as atividades educativas em saúde promovidas pelos profissionais de saúde têm na evolução da patologia. No entanto e de acordo com estudos realizados por Arruda e Cavalcanti (2012), além da utilização destes instrumentos, os profissionais de saúde devem abordar o problema começando por perguntar às pessoas o que as incomoda e o que para elas é mais difícil de executar, o que permitirá identificar quais as intervenções que são realmente importantes e para as quais se devem direcionar as intervenções de enfermagem. Outra estratégia apontada é a estratégia de ensino por meio de grupos de orientação, permitindo a existência de interação entre pessoas que compartilham vivências semelhantes. A família/pessoa significativa deve constituir parte integrante deste processo com o objetivo de ser também instruída como observadores das atitudes adotadas no ambiente familiar. Ao existir um acompanhamento sistemático e sistematizado por parte dos profissionais de saúde, as pessoas com IC tornam-se mais seguras acabando por conseguir cumprir as suas metas e dar resposta às suas necessidades em cuidados. 96 CONCLUSÃO O título de Enfermeiro Especialista é atribuído ao profissional detentor de um conhecimento aprofundado num domínio específico de enfermagem, sendo capaz de responder às necessidades humanas afetadas e de demonstrar capacidade de julgamento clínico e tomada de decisão. Para além disso, compete ao enfermeiro especialista envolver as diferentes dimensões associadas às práticas de educação para a saúde das pessoas e dos seus pares, a orientação, aconselhamento e liderança, incluindo a responsabilidade de descodificar, disseminar e levar a cabo processos de investigação relevantes, que potenciem a evolução da profissão e o aperfeiçoamento dos cuidados de enfermagem (Ordem dos Enfermeiros, 2010). No decorrer deste estudo, verificamos que apesar do atual avanço técnico-científico e das expectativas de vida das pessoas com IC continua a verificar-se um aumento da incidência, do número de reinternamentos (principalmente na população idosa) e da taxa de mortalidade associadas a esta patologia. Torna-se por isso fundamental dar enfoque às práticas de educação para a saúde, direcionadas para as pessoas com IC e seus familiares ou pessoa significativa, sendo que o autocuidado constitui o núcleo da temática a abordar. O autocuidado consiste na realização de ações voluntárias e deliberadas dirigidas a si mesmo ou ao ambiente, com o objetivo de manter a vida, saúde e bem-estar. Pode afirmar-se por esse motivo, que o autocuidado é considerado como uma das temáticas centrais a ser abordada nas pessoas com IC, visto que é através da sua interiorização, que se conseguem melhorar os comportamentos de adesão ao regime terapêutico (farmacológico e não farmacológico). Além disso, o facto de existirem instrumentos de recolha de dados capazes de avaliar o nível de adequação do autocuidado, constitui uma ferramenta fulcral para as equipas de enfermagem, na medida em que permitem avaliar a influência das práticas de educação para a saúde na evolução da IC. Atendendo à natureza do objeto de estudo, às suas questões, ao método e processo de recolha de dados, à sua organização, análise e interpretação, dão-se como alcançados os objetivos propostos no planeamento e operacionalização desta 97 pesquisa. Ao revelarmos a resposta às questões de investigação, concluímos que as pessoas que constituíam a amostra do estudo evidenciaram capacidade para o autocuidado não adequada, sendo menos adequada na gestão e confiança do autocuidado e um pouco mais adequada na manutenção do autocuidado. Isto demonstra que a equipa de enfermagem tem um longo caminho a percorrer no que concerne às práticas de educação para a saúde, tendo em vista o autocuidado e as dimensões que lhe estão subjacentes (manutenção, gestão e confiança). Apesar de termos verificado que existem dimensões do cuidar onde a adesão é elevada por parte dos respondentes, existem outras em que tal não se verifica, principalmente no que respeita à adequação da gestão e da confiança no autocuidado. Importa neste sentido, que a equipa de Enfermagem elabore um plano de atuação que possa potenciar estas dimensões. Para a amostra em estudo, poderemos dizer então que: - As pessoas evidenciaram globalmente uma capacidade para o autocuidado não adequada. Sendo menos adequada nas dimensões de gestão do autocuidado e de confiança no autocuidado e um pouco mais adequada na dimensão da manutenção do autocuidado; - As pessoas mais velhas tendem a evidenciar níveis mais baixos de adequação do autocuidado; - As pessoas com mais habilitações literárias detêm níveis mais elevados de adequação do autocuidado, particularmente no que se refere à confiança no autocuidado; - As pessoas que foram hospitalizadas ou recorreram a assistência de saúde nos últimos doze meses evidenciam níveis mais elevados de adequação do autocuidado; - As pessoas que apresentam maior fração de ejeção do ventrículo esquerdo tendem a evidenciar níveis mais elevados de adequação na manutenção do autocuidado; - As pessoas que apresentam maior número de fatores de risco/doenças tendem a evidenciar menor confiança no autocuidado. Pretendemos com a realização deste estudo, elaborar um guião de orientação clínica passível de ser utilizado numa consulta de enfermagem que perspetivamos criar no futuro, por forma a serem desenvolvidas práticas de educação para a saúde dirigidas à promoção do autocuidado, tendo como principal foco de atenção a pessoa com IC, mas também os seus familiares ou prestadores de cuidados. Após a implementação da consulta de enfermagem, pretendemos aplicar novamente o instrumento de avaliação do autocuidado, com o objetivo de comparar os resultados e de identificar 98 sinais de mudança nos níveis de adequação do autocuidado. Outra iniciativa prevista, será a realização de ações de formação entre pares, dando a conhecer os resultados deste trabalho e a proposta de realização de um trabalho conjunto, direcionado à estruturação de estratégias efetivas de educação para a saúde, a serem implementadas desde o primeiro dia de internamento das pessoas com IC, independentemente da sua fase de evolução clínica. Pretendemos ainda desenvolver no futuro próximo, um estudo de investigação semelhante que inclua uma amostra de pessoas mais jovens, no sentido de se identificar a necessidade de ajustamento nas estratégias de abordagem, supervisão e avaliação das necessidades em cuidados das pessoas com IC, especificamente no que se refere à manutenção, gestão e confiança no autocuidado. No estudo aqui apresentado, o tamanho da amostra poderá constituir-se como a sua principal limitação, penalizando-o estatisticamente e condicionando o estabelecimento de relações significativas entre as variáveis envolvidas. As caraterísticas sociodemográficas/clínicas dos utilizadores do contexto clínico onde decorreu o estudo, bem como o respetivo tempo de internamento, limitaram desde logo a dilatação da amostra. Apesar de não se poderem generalizar os resultados para todas as pessoas com IC, entendemos ter construído uma base científica importante para a prestação de cuidados de enfermagem na instituição de saúde onde foi realizada a investigação. Pudemos concluir que as pessoas mais velhas, com menores habilitações literárias, menor número de reinternamentos/procura de assistência de saúde, menor fração de ejeção do ventrículo esquerdo e maior número de fatores de risco/doenças, poderão considerar-se como grupos de risco no que concerne ao processo de adaptação às alterações impostas pela IC, em virtude dos mais baixos níveis de adequação do autocuidado que apresentam. A prestação de cuidados de enfermagem a pessoas com IC requer investigação adicional e o presente estudo pode trazer consequências clínicas e sociais imediatas para as intervenções desenvolvidas junto das pessoas com IC, particularmente no que diz respeito à identificação, prevenção e acompanhamento das reais e/ou potenciais dificuldades na adequação do autocuidado. Por apresentar linhas de orientação sobre a adequação do autocuidado da pessoa com IC, este trabalho pode contribuir para o desenvolvimento do conhecimento científico associado a esta temática e para a formação diferenciada dos profissionais de enfermagem. 99 100 BIBLIOGRAFIA ARRUDA, Cristina Silva; CAVALCANTI, Ana Carla Dantas – Ensino ao paciente com insuficiência cardíaca: Estratégias utilizadas nas intervenções de enfermagem. Cogitare em Enfermagem. [Em linha] 17 (12): 355-61 (2012) [Consult. 10 Jan. 2014] Disponível em WWW:<URL: http://www.ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/cogitare/article/view/21088/18555>. 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PARTE I I) DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS 1)IDADE:_____ anos 2) ESTADO CIVIL: Casado/ em união de facto __ Solteiro (a)__ Viúvo (a) __ Divorciado (a) __ 3) GÉNERO: Feminino __ Masculino __ 4) HABILITAÇÕES LITERÁRIAS: 1º Ciclo do Ensino Básico (4ª Classe) 2º Ciclo do Ensino Básico (Ensino Preparatório) 3º Ciclo do Ensino Básico Ensino Secundário Bacharelato Licenciatura Mestrado 5) Profissão: __________________________________ 6) Local de residência: Área Urbana (Vila, Cidade) ____ Área Rural (Aldeia) ___ II) CONHECIMENTO DA DOENÇA E INTERNAMENTOS ANTERIORES 1)Há quanto tempo lhe foi diagnosticada Insuficiência Cardíaca? ____ meses ____ anos Não sei/ não me lembro __ 2) Ficou hospitalizado/a ou procurou assistência de saúde nos últimos doze meses por causa da doença do coração? Não sei/ não me lembro/ desconheço __ Não __ Sim __ Quantas vezes? __ 3) Desde que lhe foi diagnosticada a Insuficiência Cardíaca, considera que: (Assinale a opção que melhor se aplica à sua situação) A doença não o (a) tem impedido de fazer as suas atividades do dia-a-dia sozinho (a)__ A doença impede-o (a) de realizar algumas atividades diárias que antes conseguia fazer sozinho (a)? __ A doença tem-no (a) impedido de realizar a maior parte das atividades diárias, que antes conseguia fazer sozinho (a)? __ Necessita de apoio total de outras pessoas para realizar as atividades diárias? __ III) DADOS CLÍNICOS 1)Etiologia Conhecida __ Isquémica: Submetido a CABG __ Miocardiopatia dilatada: __ Valvular: Mitral __ Não submetido a CABG__ Miocardiopatia Hipertrófica: __ Aórtica __ Outras: __ Qual? _______________ Informação não disponível no Processo Clínico __ 2)FEVE: ____% Informação não disponível no processo clínico ___ 3)Classificação NYHA (3 meses antes do internamento) ___ Informação não disponível no processo clínico ___ 4) Faz diuréticos: Sim ___ Não___ 5) Faz Betabloqueantes: Sim ___ 6) Faz IECA: Sim ___ Não ___ Não ___ 7) Faz espirolactona: Sim ___ Não ___ 8) Faz Digoxina: Sim ___ Não ___ 9) Possui dispositivo: Não__ Sim: __ Pacemaker __ CDI __ CRT-P __ CRT-D __ 8)Fatores de risco: Tabagismo __ Dislipidémia __ Diabetes mellitus __ Hipertensão arterial __ Obesidade __ Sedentarismo __ Não a presenta doenças: ___ Informação não disponível no processo clínico ___ Doenças de foro cardíaco ___ Qual (ais)? _______________________ Outras: ___ Quais ___________________ PARTE II ESCALA DE AUTOCUIDADO PARA A PESSOA COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA (EACPIC) O questionário abaixo pretende avaliar o seu conhecimento sobre o autocuidado. SECÇÃO A: Cada uma das questões abaixo é respondida pela colocação de um círculo num dos números, sendo que o 1 se refere à menor frequência e o 4 se refere às atividades que realiza sempre. 1. Pesa-se sozinho? Nunca ou Às Frequentemente Raramente vezes Sempre ou Diariamente 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 2. Inspeciona os seus tornozelos à procura de inchaço? 3. Evita adoecer (ex: Faz a vacina da gripe, evita contato com pessoas doentes? 4. Pratica algum tipo de actividade física? 5. Cumpre as orientações dos médicos ou dos enfermeiros? 6. Pratica uma alimentação com baixo teor de sal? 7. Exercita-se por 30 minutos dia? 8. Esquece-se de tomar algum dos seus medicamentos? 9. Pede alimentos com baixo teor de sal quando faz refeições fora de casa? 10. Usa um Sistema (caixa de comprimidos, lembrete) para o ajudar a controlar a toma dos medicamentos? SECÇÃO B: Muitas pessoas têm sintomas devido à sua insuficiência Cardíaca. Dificuldades respiratórias e inchaço nos tornozelos, são sintomas comuns da Insuficiência Cardíaca. No mês passado, teve problemas respiratórios ou inchaço dos tornozelos? Assinale com um círculo. Não Sim 11. Teve problemas de respiração ou de inchaço nos tornozelos no último mês (assinale com um círculo um dos números). Com que rapidez reconheceu estes sintomas como de insuficiência cardíaca? Não tive estes sintomas Não reconheci estes problemas N/A 0 De forma lenta De forma normal Rapidamente De forma muito rápida 2 3 4 1 Listados abaixo estão procedimentos que as pessoas com insuficiência cardíaca utilizam. Se tem problemas respiratórios ou inchaço nos tornozelos, qual é a probabilidade de usar um destes procedimentos? (assinale com um círculo um número para cada procedimento? Nada Pouco Provável Muito provável provável provável 12. Reduzir o sal na sua dieta 1 2 3 4 13. Reduzir a quantidade de líquidos por si ingeridos 14. Tomar um diurético (comprimido para eliminar os líquidos) extra 15. Contatar o seu médico ou enfermeiro para aconselhamento 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 16. Pense num procedimento por si tentado na última vez que teve problemas respiratórios ou inchaço nos tornozelos, (assinale com um círculo um número) Não tentei nada Está certo sobre o facto do procedimento ter ajudado ou não? Não tenho a certeza Tenho uma vaga ideia Tenho a certeza Tenho a certeza absoluta 1 2 3 4 0 SECÇÃO C: No geral, está confiante de que consegue: 17. Manter-se livre de sintomas de insuficiência cardíaca? 18. Seguir o tratamento que lhe tenha sido aconselhado? 19. Avaliar a importância dos seus sintomas? 20. Reconhecer mudanças na sua saúde se estas ocorreram? 21. Fazer alguma coisa que alivie os seus sintomas? 22. Avaliar a eficácia de um qualquer procedimento? Nada confiante 1 Pouco confiante 2 Muito confiante 3 Extremamente confiante 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 OBRIGADA PELA SUA PARTICIPAÇÃO ANEXO II Esclarecimento/consentimento do doente Esclarecimento/consentimento do estudo ao doente Caro participante: Eu, Helena Isabel Fernandes Martins, enfermeira, encontro-me a frequentar o IV Curso de Mestrado com o intuito de aumentar conhecimentos de modo a melhorar a minha prestação de cuidados. No âmbito deste curso estou a desenvolver um estudo que se designa por “Autocuidado na pessoa com Insuficiência Cardíaca”, através do qual pretendo analisar quão adequado é o autocuidado praticado pela pessoa com IC ao nível da sua manutenção, gestão e confiança; analisar em que medidas as caraterísticas sociodemográficas influenciam a adequação do autocuidado e analisar que dados clínicos influenciam a adequação do autocuidado da pessoa com insuficiência cardíaca. Para esse efeito, venho por este meio solicitar a sua participação, agradecendo desde já, a sua disponibilidade e colaboração. A recolha de dados será feita através da aplicação do questionário às pessoas com Insuficiência Cardíaca. O uso da informação que o possa identificar é exclusivo para este trabalho e não estará acessível a outras pessoas, sendo os resultados apresentados num relatório final que ficará disponível para consulta. A sua participação não prevê quaisquer prejuízos para si. É de referir que este estudo foi sujeito a aprovação pela Comissão de Ética do CHUC, EPE. Declaro que, após ter sido esclarecido sobre o tema, os objectivos, os procedimentos, a garantia de confidencialidade e o caráter voluntário da minha participação, aceito participar na investigação intitulada “Autocuidado na pessoa com Insuficiência Cardíaca”, a desenvolver pela Enf.ª Helena Martins. Participante: _______________________________________________ Investigadora: _______________________________________________ Orientador _______________________________________________ Data: ______/______/______, ______________________ ANEXO III Pedido de autorização para utilização da Escala de Autocuidado para a Pessoa com Insuficiência Cardíaca (EACPIC) ANEXO IV Autorização da Comissão de Ética e do Conselho de Administração do CHUC