STAPHYLOCOCCUS AUREUS RESISTENTE A VANCOMICINA – EUA 2002 DM Sievert, ML Boulton et al. MMWR July 5, 2002/51 (26); 565 – 567 O Staphylococcus aureus é um agente etiológico de infecções adquiridas na comunidade assim como no hospital ( 1,2 ). Em 1996, foi registrado no Japão o primeiro isolamento clínico do Staphylococcus aureus com suscetibilidade reduzida a Vancomicina (3). A concentração inibitória mínima de Vancomicina (MIC) registrada para esse isolado foi de nível intermediário (Vancomicina MIC=8 mcg/ml), usando-se os critérios definidos pelo NCCLS (National Committee for Clinical Laboratory Standards) (4). Em junho de 2002, foram confirmados nos Estados Unidos oito pacientes com infecção causada por S. aureus com resistência intermediária a vancomicina (VISA) (5,6). O presente relatório descreve o primeiro caso documentado de infecção causada por S. aureus com resistência completa a Vancomicina (VRSA) (Vancomicina MIC>32mcg/ml) em um paciente nos Estados Unidos. O surgimento de VRSA ressalta a necessidade de programas para prevenir a propagação de microrganismos resistentes a antibióticos e controlar o uso de drogas antimicrobianos nos ambientes de assistência à saúde. Em junho de 2002, foi isolado um VRSA a partir de um swab obtido no sítio de saída de um cateter vascular em um morador de Michigan de 40 anos, portador de diabetes, enfermidade vascular periférica e insuficiência renal crônica. O paciente recebeu diálise em uma unidade ambulatorial (centro de diálise A). Desde abril de 2001, o paciente vinha sendo tratado de ulcerações crônicas no pé com múltiplos cursos de terapia antimicrobiana, sendo que alguns incluíam vancomicina. Em abril de 2002, o paciente foi submetido à amputação de um dedo do pé gangrenado e subseqüentemente desenvolveu bacteremia por S. aureus resistente a meticilina, cujo foco foi um enxerto infectado de fistula artériovenosa, implantado para realização hemodiálise. A infecção foi tratada com vancomicina e rifampicina, e o enxerto infectado foi removido. Em junho o paciente desenvolveu uma infecção supostamente no sítio de saída do cateter temporário implantado para diálise, que foi removido; culturas do sítio de saída e da ponta do cateter apresentaram crescimento de S. aureus resistente a oxacilina (MIC>16mcg/ml) e a Vancomicina (MIC>128mcg/ml). Uma semana após a remoção do cateter, o sítio de saída parecia curado; no entanto, a úlcera crônica nos pés do paciente parecia infectada. Foram isolados VRSA, Enterococcus faecalis resistente a vancomicina (VRE) e Klebsiella oxytoca também na cultura feita a partir da úlcera. Culturas de swabs obtidos no sítio de saída do cateter que havia curado e da cavidade nasal anterior não apresentaram crescimento de VRSA. Na presente data, o paciente encontra-se clinicamente estável e a infecção está respondendo ao tratamento ambulatorial, que consiste de cuidados no ferimento e terapia antimicrobiana agressiva com sulfametoxazol/trimetropim. O isolamento de VRSA obtido a partir do sítio de saída do cateter foi identificado inicialmente no laboratório de um hospital local, usando o teste de MIC e foi confirmado pelo Departamento de Saúde Pública de Michigan e pelo CDC. Os métodos de identificação usados pelo CDC incluem testes bioquímicos tradicionais e análises da seqüência de DNA da gyrA e o do gen codificador da fração 16S do RNA ribossomal. Testes moleculares para genes específicos do enterococo apresentaram resultado negativo. Os resultados do teste de MIC para vancomicina, teicoplanina e oxacilina apresentaram os resultados > 128mcg/ml, 32mcg/ml e >16mcg/ml respectivamente, através do método de microdiluição. O isolado continha o gene vanA de resistente a vancomicina do enterococo, o que é consistente com perfis MIC obtidos para os glicopeptídeos. Também continha o gene mecA, de resistência a oxacilina. O isolado apresentou suscetibilidade a cloranfenicol, linezolina, minoclina, quinupristina/dalfopristina, tetracilina e sulfametoxazol/trimetropim. Investigações epidemiológicas e laboratoriais estão em andamento, para avaliar o risco de transmissão de VRSA para outros pacientes, trabalhadores da área de saúde, familiares mais próximos e outros contatos. Até a presente data nenhuma transmissão de VRSA foi identificada. As práticas de controle de infecção no centro de diálise A foram avaliadas; todos os profissionais da área de saúde seguiam precauções padronizadas, consistentes com as diretrizes do CDC (7). Após a identificação do VRSA, o centro de diálise A iniciou com aplicação de precauções especiais com base nas recomendações do CDC (8), incluindo o uso de luvas, aventais e máscaras para todos os contatos com o paciente; realização das sessões de diálise em equipamento exclusivo, durante o último turno do dia, em uma área isolada dos outros pacientes; designação de um técnico exclusivo para cuidar do paciente; uso de materiais não críticos exclusivos para os cuidados com o paciente; e reforço da educação dos membros do quadro de funcionários sobre métodos apropriados para controle de infecções. As avaliações das práticas de controle de infecção em outros centros de saúde onde o paciente foi tratado estão em andamento. NOTA EDITORIAL DO WWMR: Este relatório descreve o primeiro isolamento clínico do S. aureus com resistência completa a vancomicina. O S. aureus é responsável por uma ampla gama de infecções humanas e é uma causa importante de infecções relacionadas à assistência a saúde. A introdução de novas classes de antimicrobianos geralmente é seguida pelo surgimento de resistência no S aureus. Após o sucesso inicial da penicilina no tratamento de infecções por S. aureus o aparecimento do S. aureus resistente a penicilina tornou-se uma grande ameaça em hospitais e berçários nos anos 50, exigindo o uso de meticilina e drogas relacionadas para o tratamento de infecções por S. aureus. Nos anos 80 surge o S. aureus resistente a meticilina, que se torna endêmico em muitos hospitais, levando ao aumento do uso da vancomicina. No final dos anos 90 são relatados casos de VISA. Apesar dos determinantes de aquisição de resistência a vancomicina vanA, vanB, vanD, vanE e vanF e vanG terem sido relatados a partir de VRE estes determinantes de resistência não foram previamente identificados em isolados clínicos de S. aureus (9). A transferência conjugada do gene van A a partir do enterococo para S. aureus foi demonstrada in vitro (10). A presença de vanA neste VRSA sugere que o determinante de resistência pode ter sido adquirido através da troca de material genético a partir do enterococo resistente a vancomicina que também foi isolado a partir da cultura do swab da ferida. Este isolado de VRSA é suscetível in vitro a diversos agentes antimicrobianos, inclusive alguns recentemente aprovados pelo FDA (linezolida e quinupristina/dalfopristina) ativos contra microrganismos grampositivos resistentes e glicopeptídeos. Em 1997 o Comitê de Recomendações para Práticas de Infecções (Healthcare Infection Control Practices Advisory Committee – HICPAC) publicou diretrizes para a prevenção e controle de infecções por Staphylococcus com susceptibilidade reduzida a vancomicina (8); planos para conter VISA/VRSA baseados nas recomendações do CDC, foram instituídos em alguns departamentos de saúde estaduais. Em ambientes de assistência à saúde, o paciente com VISA/VRSA deve ser mantido em quarto separado e deve ser destinados artigos de uso exclusivo para o seu cuidado. Funcionários designados para atender estes pacientes devem seguir precauções de contato (usar avental, máscaras, luvas e sabão anti-séptico para lavagem das mãos). Estas medidas de controle foram adotadas pelo centro de diálise A imediatamente após a confirmação do isolado de VRSA. Até o presente não foi documentada propagação deste microrganismo para outros pacientes ou trabalhadores da área de saúde. Estratégias para melhorar a adoção das atuais diretrizes para prevenir a transmissão de microrganismos resistentes a antimicrobianos em ambientes de assistência à saúde devem ser priorizadas por todos os estabelecimentos de saúde nos Estados Unidos. S. aureus deve ser testado com relação à resistência a vancomicina pela determinação do MIC. O isolado de S. aureus com resistência a vancomicina confirmada ou presumida deve ser relatado imediatamente aos departamentos de saúde locais e estaduais para a Divison of Healthcare Quality Promotion, National Center for Infectious Diseases, CDC, telefone 800-893-0485. Referências: 1. CDC. National Nosocomial Infections Surveillance report, data summary from October 1986—April 1996, issued May 1996. Am J Infect Control 1996;24:380-8. 2. Waldvogel FA. Staphylococcus aureus (including toxic shock syndrome). In: Mandell GL, Bennett JE, Dolin R, eds. Mandell, Douglas and Benett’s Principles and Practice of Infectious Diseases, 4th ed. New York, New York: Churchill Livingstone, 1995:1774-77. 3. Hiramatsu K, Hanaki H, Ino T, Yabuta K, Oguri T, Tenover FC. Methicillin-resistant Staphylococcus aureus clinical strain wich reduced vancomycin susceptibility. J Antimicrob Chemother 1997;40:135-6. 4. National Committee for Clinical Laboratory Standards. Methods for dilution antimicrobial suscepbility tests for bacteria that grow aerobically. 5th de. Approved Standard, M7-A5. Wayne, Pennsylvania: National Committee for Clinical Laboratory Standards,2000. 5. Smith TL, Pearson ML, Wilcox KR, el al. Emergence of vancomycin resistance in Staphylococcus aureus. N Engl J Med 1999;340:493-501. 6. Fridkin SK. Vancomycin-intermediate and-resistant Staphylococcus aureus: what the infectious disease specialist needs to know. Clin Infect Dis. 2001;32:108-15. 7. CDC. Recommendations for preventing transmission of infections among chronic hemodialysis patients. MMWR 2001;50(RR-5). 8. CDC. Interim guidelines for prevention and control of staphylococcal infections associated wich reduced susceptibility to vancomycin. MMWR 1997;46:626-8,635. 9. Woodford N. Epidemiology of the genetic elements responsible for acquired glycopeptide resistance in enterococci.. Microb Drug Resist 2001;7:229-36. 10.Noble WC, Virani Z, Cree RG. Co-transfer of vancomycin and other resistance genes from Enterococcus faecalis NCTC 122201 to Staphylococcus aureus. FEMS Microbiol Lett 1992;93:195-8. NOTA: Dr. Paulo R. Margotto: Consulte neste site , em Infecções bacterianas e Fúngicas, a brilhante Conferência da Prof. Dra. Rosana Richtmann Como lidar com a resistência bacteriana na UTI Neonatal, proferida em Brasília, por ocasião do II Simpósio Multidisciplinar da Associação Médica de Brasília, no dia 28 de agosto de 2001e a Microbiota na UTI Neonatal do Hospital Regional da Asa Sul (HRAS) realizado pelo Dr. David Urbáez Brito, Chefe da CCIH DO HRAS.