Memorias II Congreso Latinoamericano de Ingeniería Biomédica, Habana 2001, Mayo 23 al 25, 2001, La Habana, Cuba ENSAIOS PARA AVALIAÇÃO DE FUNCIONALIDADE DE OXÍMETROS DE PULSO Reinaldo Fernandes1, Renato Garcia Ojeda2, Marcos Vinicius Lucatelli3 1,2,3 Grupo de Pesquisas em Engenharia Biomédica (GPEB), Depto. de Engenharia Elétrica, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Brasil, 88040-900 Fone (55 48)331-9872, Fax (55 48)234-2177 [email protected] RESUMO A avaliação da funcionalidade de oxímetro de pulso é necessária para garantir segurança na operação deste equipamento. Estes ensaios permitem determinar as condições de operacionalidade e confiabilidade no uso destes equipamentos. Este artigo apresenta uma proposta de ensaio de funcionalidade de oxímetros de pulso que foi elaborada para atender as necessidades da área de avaliação técnica do Grupo de Pesquisas em Engenharia Biomédica (GPEB) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Palavras-chave: Engenharia Clínica, Oxímetro de Pulso, Ensaio de Funcionalidade . 1. INTRODUÇÃO O oxímetro de pulso é um monitor não-invasivo da medida da saturação da hemoglobina do sangue arterial (SpO2) pela transmissão de dois comprimentos de ondas de um sinal luminoso, geralmente 660 nm e 940 nm, que atravessa ou é refletida pelos tecidos humanos [1]. O principio de funcionamento do oxímetro de pulso é baseado na lei Beer-Lambert que relaciona a concentração de um soluto com a intensidade de luz transmitida através de uma solução[2]. O oxímetro de pulso utiliza, normalmente, dois LEDs como fonte de luz. A luz atravessa um leito vascular pulsátil e a parcela de luz transmitida é captada do outro lado por um fotodetector. O circuito do oxímetro consegue diferenciar a absorção de energia luminosa devido ao sangue arterial, componente pulsátil, da absorção devida aos outros tecidos, componente contínua. Através da equação 1, é obtido um número chamado razão (R)[3]. R= AC940 DC940 AC660 DC660 (1) Por meio da calibração do equipamento, durante a fase de desenvolvimento do oxímetro de pulso, este valor R é relacionado a um valor de SpO2. O uso do oxímetro de pulso popularizou-se no inicio da década de 80, e este equipamento tornou-se monitoração padrão em diversas áreas da rotina hospitalar.[4]. Devido a aspectos construtivos do equipamento e ao quadro clínico do paciente monitorado, vários fatores que podem afetar o funcionamento do oxímetro de pulso Dentre estes fatores podemos citar: artefatos de movimento, interferência eletromagnética, interferência de luz ambiente, níveis elevados de hemoglobinas não funcionais (Carboxiemoglobina e metaemoglobina) [3][4][5][6][7]. Atualmente, no Brasil, na área de equipamentos médicos, quase nenhum ou nenhum critério é utilizado, quanto ao uso, manuseio, instalação e segurança dos mesmos. Hoje há um interesse crescente, na normatização dos procedimentos relacionados com equipamentos eletromédicos. Devido aos fatos expostos acima, surge o interesse em se fazer uma metodologia de ensaio de funcionalidade de oxímetro de pulso visando auxiliar o gerenciamento deste tipo de tecnologia. 2. METODOLOGIA A funcionalidade de um equipamento está associada ao fornecimento de valores precisos dos parâmetros medidos, em concordância com os padrões estabelecidos. A funcionalidade também está relacionada a aspectos físicos dos equipamentos que permitam o aproveitamento de todos os recursos disponíveis no equipamento de forma segura para o paciente e o operador. A American Hospital Association (AHA) recomenda que sejam feitos ensaios de funcionalidade em oxímetros de pulso duas vezes ao ano [8]. O GPEB possui um simulador de oximetria de pulso (marca Bio-Tek, modelo Index), que simula diversas condições de SpO2 e freqüência cardíaca para as principais marcas de oxímetro de pulso existentes no mercado. Este equipamento é utilizado como padrão de comparação para os ensaios realizados. Para elaboração desta proposta de ensaio de funcionalidade, foram estudadas as normas relacionadas com o oximetro de pulso, além da leitura de livros sobre o principio de funcionamento de oxímetros de pulso e também foram estudados os manuais de operação das principais marcas de oxímetro de pulso existentes no mercado[9][10][11]. 950-7132-57-5 (c) 2001, Sociedad Cubana de Bioingeniería, artículo 00325 isolação, o estado dos conectores e a flexibilidade do cabo. 3. RESULTADOS Após analise das características funcionais que possam comprometer o uso do equipamento e o estudo das normas relacionadas, foi desenvolvido o ensaio de funcionalidade de oxímetro de pulso apresentado abaixo. Em anexo é apresentado um modelo de formulário para este tipo de ensaio, que compreende ensaios qualitativos e ensaios quantitativos. 1 – Ensaio qualitativo No ensaio qualitativo é realizado uma inspeção geral do equipamento, visando identificar itens que possam comprometer a funcionalidade do equipamento e que possam por em risco tanto o operador quanto o paciente. No ensaio qualitativo são avaliados os seguintes itens: Aparência externa, marcações, indicações visuais e sonoras, botões e teclas, fusível de proteção, cabo de alimentação, probe de oximetria de pulso e bateria interna. 1.1 - Aparência externa Neste item é verificado a situação geral do gabinete, observando a existência de rachaduras, trincas, presença de líquidos, entre outros aspectos. 1.2 - Marcações Neste item é verificado o estado das marcações do painel dianteiro e traseiro do equipamento e sua concordância com a cláusula 6 da Norma NBR IEC 601-1:1994 [12] e a cláusula 1.7 da Norma NBR ISO 9919:1997 [1]. 1.3 – Indicações visuais e sonoras e mostradores Com o equipamento ligado a um simular de oximetria de pulso são verificados os seguintes itens: a) A legibilidade do display gráfico da onda pletismográfica (se existir), b) A legibilidade dos displays numéricos de SpO2, freqüência cardíaca e alarmes, c) São criadas situações de ativação de alarme de SpO2 e freqüência cardíaca, afim de verificar o funcionamento dos indicadores visuais e sonoros dos alarmes. 1.4 – Botões e teclas Neste item é verificado o estado e funcionamento dos botões e teclas de controle. o 1.5 – Fusível de proteção Neste item é verificado o estado do fusível de proteção, observando a presença de oxidação nos contatos e se o valor do fusível esta de acordo com o recomendado pelo fabricante . 1.6 – Cabo de alimentação Neste item é verificado a situação do cabo de alimentação, observando possíveis falhas na 1.7 – Probe de oximetria de pulso Neste item os seguintes pontos devem ser observados: a) Falhas na isolação do cabo da probe, b) Rupturas na isolação do sensor (LEDs e fotodiodos), c) O estado dos conectores, d) Danos na estrutura do sensor (rachaduras, quebra de mola de pressão), que possam comprometer a isolação luminosa do sensor. Obs: esta verificação não se aplica a sensores descartáveis. 1.8 – Bateria interna Se o equipamento possui alimentação por bateria interna recarregável, deve-se seguir os procedimentos abaixo para testá-la: a) A bateria deve ser carregada totalmente de acordo com as recomendações do fabricante, b) Deve-se ligar o equipamento e deixa-lo funcionando, alimentado pela bateria interna, ate a descarga da mesma, observando a autonomia do equipamento (tempo de funcionamento com bateria interna) e as indicações visuais e sonoras de baixa carga na bateria. No ensaio qualitativo, cada item observado recebe uma classificação entre bom, regular e ruim. Bom significa que todos os pontos verificados são atendidos. Regular representa que o equipamento não atende a algum ponto verificado, mas seu funcionamento não é comprometido, sendo que, o problema encontrado deve ser corrigido. Se a classificação for ruim, o equipamento deve ser retirado de operação, pois o problema encontrado compromete o funcionamento do equipamento e a segurança do operador e do paciente. 2 – Ensaio quantitativo No ensaio quantitativo são verificados possíveis erros de leitura de SpO2 e freqüência cardíaca, e condições de ativação do alarme de SpO2. Nos ensaios quantitativos, área de avaliação técnica, utiliza o simulador de oximetria de pulso Index da Biotek [14]. 2.1 – Medição de SpO2 São efetuadas oito medições de SpO2, na faixa entre 80 e 100%. Este intervalo foi adotado porque devido ao processo de calibração in vivo do oximetro de pulso, muitos fabricantes não garantem a performance do equipamento fora deste intervalo, e também porque este é o intervalo normal de trabalho do equipamento. A ECRI (Emergency Care Research Institute) [13] determina que o erro de leitura do oxímetro de pulso não deve ser maior que ± 3% em relação ao equipamento padrão utilizado. Neste Ensaio, foi acrescentado ± 1% a este limite devido ao erro do equipamento de analise, ficando em ± 4% o limite aceitável da leitura de SpO2. Obs: Para medições de SpO2, o valor da freqüência cardíaca é mantida em 75 bpm. Bateria interna ( ) ( ) ( ) 3 – Ensaio quantitativo 2.2 – Medição da freqüência cardíaca São realizadas oito medições de freqüência cardíaca na faixa entre 30 e 250 bpm. Segundo a ECRI [13], as medições de freqüência cardíaca deve ter uma precisão de 5% ou 3 bpm, vale o que for maior. Obs: Para medições da freqüência cardíaca, o valor da SpO2 é mantida em 96 %. 2.3 – Alarme de SpO2 Seguindo a Norma NBR ISO 9919:1997 [1], são efetuadas quatro medições para alarme baixo de SpO2 e quatro medições para alarme alto (quando este existir). Para cada leitura de SpO2, o ponto de alarme é ajustado de modo a ficar desativado. Em seguida o valor do limite de alarme é variado até ativá-lo. Segundo a Norma NBR ISO 9919:1997 [1], a diferença entre o ponto de ativação do alarme e a leitura da SpO2 não deve ser maior que 2% da SpO2. Tabela 1 3.1 – Medição da SpO2 SpO2 do simulador 80 84 88 90 Modelo de formulário para Ensaio de funcionalidade de oxímetro de pulso 1 - Dados do equipamento Modelo: ________________ N° de Série: _ N° de Patrimônio: _ Código Celec: _ Acessórios: __________________________________________ 2 – Ensaio qualitativo Aparência Externa Marcações Indicações visuais/sonoras Botões/teclas Fusível de proteção Cabo de Alimentação Probe de oximetria de pulso Bom ( ( ( ( ( ( ( SpO2 do equipamento bpm do simulador 30 60 90 120 bpm do equipamento bpm do simulador 150 180 210 250 bpm do equipamento Tabela 3 3.3 – Alarmes SpO2 do simulador 80 84 88 90 Valor de ativação do alarme baixo SpO2 do simulador 90 94 96 98 Valor de ativação do alarme alto AGRADECIMENTOS Aos colegas do GPEB pela convivência e a troca de informações. REFERÊNCIAS 5. ANEXO Marca: __________ SpO2 do simulador 94 96 98 100 Tabela 2 3.2 – Medição da freqüência cardíaca 4. CONCLUSÃO O procedimento de ensaio de funcionalidade apresentado neste artigo não deve ser tomado como norma. Este procedimento está sendo utilizado na avaliação dos oxímetros existentes nos Hospitais Públicos de Florianópolis – Santa Catarina . A avaliação de funcionalidade, através de ensaio, é uma importante ferramenta na verificação da qualidade dos serviços prestado por empresas que realizam manutenção em equipamentos eletromédicos e no diagnóstico de possíveis falhas nos equipamentos, o que demonstra a relevância deste trabalho. SpO2 do equipamento Regular Ruim ) ( ) ( ) ) ( ) ( ) ) ( ) ( ) ) ( ) ( ) ) ( ) ( ) ) ( ) ( ) ) ( ) ( ) [1] ABNT, "Norma NBR ISO 9919 – Oxímetro de pulso para uso médico - Prescrições", 1997. [2] Elias Knobel, “Condutas no paciente grave”, Editora Atheneu, Segunda edição, 1998. [3] Lynn M. Schnapp and Neal H. Cohen, “Pulse Oximetry – Uses and Abuses”, Chest, Vol 98, pp 1244-1250. [4] M. B. Taylor and J. G. Whitwam, “The current status of pulse oximetry”, Anaesthesia, Vol 41, pp 934-949, 1986. [5] J. T. B. Moyle, “Uses and abuses of pulse oximetry”, Archives of Disease in Childhood, Vol. 74, pp 77-80, 1996. [6] A. C. Ralston, R. K. Webb and W. B. Runciman, “Potential errors in pulse oximetry II: effects of changes in saturation and signal quality”, Anaesthesia, Vol 46, pp 207-212, 1991. [7] A. C. Ralston, R. K. Webb and W. B. Runciman, “Potential errors in pulse oximetry III: effects of interference, dyes, dyshaemoglobins and others pigments”, Anaesthesia, Vol 46, pp 291-295, 1991. [8] American Hospital Association, “Maintenance Management for Medical Equipment”, 1996, USA. [9] Dixtal , “Oxímetro de pulso DX 2405 – Manual de operação”. [10] Dixtal , “Oxímetro de pulso DX 2515 – Manual de operação”. [11] Ohmeda, “Pulse Oximeter Biox 3700 – Operator’s Manual”. [12] ABNT, “Norma NBR IEC 601-1:1997 – Equipamento eletromédico – Parte 1 – Prescrições gerais para segurança. [13] ECRI, “Pulse Oximeters”, Health Devices, Vol 18, 1989, pp 185-230. [14] Bio-Tek, “Index SpO2 Simulador – User’s Guide”,1994. FUNCTIONAL CHARACTERISTICS ASSESSMENT OF PULSE OXIMETERS ABSTRACT The functional characteristic assessment of pulse oximeter is a procedure necessary for safe operation of this equipment. The functional characteristics assessment are tests where the main characteristics of the equipment are verified. This paper shows a proposal of functional characteristics assessment of pulse oximeters that was elaborated to assist the technical evaluation area at Biomedical Engineering Laboratory (GPEB) in Federal University of Santa Catarina (UFSC). Keywords: Clinical engineering, Functional Characteristics assessment, Pulse Oximeter