Sem t.tulo-3 - BVS MS

Propaganda
"Amar a humanidade, é fácil. Difícil é amar o próximo." Henry Ford
Boletim da Saúde
ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA/RS | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
HUMANIZAÇÃO
SAÚDE DA FAMÍLIA
ISSN 0102-1001
SECRETARIA ESTADUAL DA SAÚDE DO RIO GRANDE DO SUL
ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA
EDITOR/EDITOR
Paulo Antônio Barros Oliveira
O Boletim da Saúde é uma publicação semestral da Secretaria da
Saúde do Estado do Rio Grande do Sul editada sob a responsabilidade da Escola de Saúde Pública que visa à difusão do conhecimento em saúde pública e saúde coletiva em âmbito nacional e
internacional.
“Boletim da Saúde” – The Journal of Health – is a semi-annual
publication of the Rio Grande do Sul State Health Department,
under the responsibility of the Public Health School aiming at
divulging the knowledge on public and collective health, nationally and abroad.
CONSELHO EDITORIAL/EDITORIAL BOARD
Airton Fischmann – CEVS/SES – RS
Airton Stein – FFFCMPA/ULBRA/GHC
Álvaro Crespo Merlo – UFRGS
Áurea Jair Maciel– ESP/SES – RS
Carlos Dácio Araújo – ESP/SES – RS
Carlos Alvarez – UNIVERSIDADE DE ALICANTE/ESPANHA
Carmem Silveira Oliveira – UNISINOS – RS
Célia Regina Pierantoni – UERJ
Ceres Víctora – UFRGS
Cristianne Maria Famer Rocha – UERGS
Denise Rangel Ganzo de Castro Aerts – SMS/PMPA – RS
Djalmo Sanzi Souza – SES–RS
Elizabeth Kalil Nader dos Santos Rocha – GHC-RS
Jaime Breilh – EQUADOR
Janice Dornelles de Castro – UERGS/FAPERGS
José Luis Araújo – FIOCRUZ – PE
Jussara Gue Martini – ABEN/UNISINOS–RS
Jussara Maria Rosa Mendes–PPGSS/PUCRS
Liane Beatriz Righi – UNIJUI – RS
Maria Ceci Araújo Misoczky – UFRGS
Maria Cecília Souza Minayo – FIOCRUZ – RJ
Maria Isabel Barros Bellini – ESP/SES/PUCRS
Maria Teresa Anselmo Olinto – UNISINOS – RS
Mário Roberto da Silveira – ESP/RS
Marlow Kwitko – PUC/RS
Moacyr Scliar – FFFCMPA-RS
Moisés Goldbaum – USP
Newton Barros – AMRIGS
Paulo Duarte Amarante – ENSP/CEBES – RJ
Ricardo Burg Ceccim – MINISTÉRIO DA SAÚDE
Ronaldo Bordin – UFRGS
Sarah Escorel – CEBES – RJ
Sandra Maria Salles Fagundes – UERGS
Soraya Vargas Côrtes – NIPESC/UFRGS
Stela Meneghel – UNISINOS – RS
Teresa Armani – ESP – RS
Vânia Maria Fighera Olivo – UFSM – RS
Virginia Alonso Hortale – ENSP
CONSULTORES AD HOC/ AD HOC ADVISERS
Rosemari Dorigon Reinhardt - Adriana Boeira - Décio Ignácio
Angnes.
ASSESSORIA EDITORIAL/EDITORIAL ADVISORY BOARD
Lia Mara Becker Dilélio – CRB 10/921
Maria Sílvia Robaina de Sousa Lessa – CRB 10/665
Silvana Matos Amaro – CRB 10/1098
EQUIPE TÉCNICA/TECHNICAL TEAM
- Revisor de Português e Inglês Sílvia Maria Zanette Guimarães
- Estagiária Lisiane Alpi Monteiro
TIRAGEM
4000 Exemplares
A Revista Boletim da Saúde é associada à Associação Brasileira de
Editores Científicos
B668
Boletim da Saúde / Secretaria da Saúde do Rio Grande
do Sul; Escola de Saúde Pública.-v. 18, n. 2, 2004 Porto Alegre: SES/ESP, 1969 Semestral
ISSN 0102 1001.
1.Humanização 2.Boletim da Saúde - Periódicos
I.Secretaria Estadual da Saúde-RS. II.Escola de Saúde
Pública-RS.
NLM WA
SUMÁRIO
BOLETIM DA SAÚDE
VOLUME 18
NÚMERO 2
JUL./DEZ. 2004
5
EDITORIAL
7
APRESENTAÇÃO
9
HumanizaSAÚDE: diferencial do atendimento na saúde
Décio Ignácio Angnes
17
Acolhimento e humanização: proposta de mudança na recepção aos usuários do setor de emergência/urgência do Hospital Municipal de Novo
Hamburgo (HMNH)
Elizabeth Azeredo Andrade, Tagma Marina Schneider Donelli
25
Assistência pós-alta hospitalar para pacientes com cuidados especiais
Liege Silveira Dutra, Ana Flávia dos Santos, Sueli Terezinha Werlang
29
Cuidando do cuidador
Jacinta Subutzki, Mauro César Canete
35
Doutor Sorinho: cuidando dos pequenos
Marcia Fetter Nicoletti, Sandra Maria de Bortoli
41
Envelhecer com novos horizontes
Maria da Graça Viana Cardoso e Cunha
47
Garantia da excelência dos serviços
Helena Dahne, Alexandra Vanti
57
Humanização em ação: sensibilizando os profissionais para o processo de
humanização
Antônio Joesting Siedler, Dirce Stein Backes, Inês Munari Palomino, Margarete
Bicca Lemos, Olinda Prestes
65
Humanização: opção ou condição de sobrevivência na sociedade contemporânea
Maria Isabel Barros Bellini
71
A qualidade do atendimento aos pacientes do Hospital Cristo Redentor
Francinete Fabiane Menegazzo Oneda, Juliana Andreis Sabbi, Lilian Vanz
79
HumanizaSUS: um projeto coletivo
Eduardo Mendes Ribeiro
87
Internação Domiciliar
Equipe de Internação Domiciliar do Hospital Dom João Becker
93
Ludoteca hospitalar: resgate do impulso lúdico
Gladis Salete Marafon Rodegheri
105
O cuidado humanizado para pacientes psiquiátricos em hospital geral
Jacqueline Fátima Trevisan, Eugélia Wolmann, Edmundo Berni Reategui
109
O paciente hospitalizado como sujeito ou objeto
Délio José Kipper
113
Projeto abraço: um projeto social da FAU-HE/UFPEL promovendo a qualidade de vida da comunidade pelotense
Tânia Laís Brizola, Luiz Vicente Borsa Aquino, Vanessa Andina Teixeira
119
Projetos de humanização da internação pediátrica do Hospital São Lucas
da PUCRS vinculados à comissão dos direitos da criança e do adolescente
e cuidados hospitalares
Maria Estelita Gil, Délio José Kipper, Magda Suzana Ferreira
125
A Política de Humanização da Assistência à Saúde - PHAS
Secretaria Estadual de Saúde
131
Política e Normas Editoriais
TABLE OF
CONTENTS
BOLETIM DA SAÚDE
VOLUME 18
NUMBER 2
JUL./DEC. 2004
5
EDITORIAL
7
PRESENTATION
9
HumanizaSAÚDE: the difference on health care
Décio Ignácio Angnes
17
Change proposition at the users’ reception in the emergency room of
the Hospital Municipal de Novo Hamburgo
Elizabeth Azeredo Andrade, Tagma Marina Schneider Donelli
25
Post-hospital discharge assistance to patients under special care
Liege Silveira Dutra, Ana Flávia dos Santos, Sueli Terezinha Werlang
29
Taking care of the carer
Jacinta Subutzki, Mauro César Canete
35
Doctor “sorinho”: caring for children
Marcia Fetter Nicoletti, Sandra Maria de Bortoli
41
Aging with new horizons
Maria da Graça Viana Cardoso e Cunha
47
Guarantee of service excellence
Helena Dahne, Alexandra Vanti
57
Humanization in action: sensitizing professionals to the humanization
process
Antônio Joesting Siedler, Dirce Stein Backes, Inês Munari Palomino, Margarete Bicca Lemos, Olinda Prestes
65
Humanization: option or condition in the contemporary society
Maria Isabel Barros Bellini
71
The medical care quality to the Hospital Cristo Redentor patients
Francinete Fabiane Menegazzo Oneda, Juliana Andreis Sabbi, Lilian Vanz
79
Humanizasus: a collective project
Eduardo Mendes Ribeiro
87
Nursing home care
Equipe de Internação Domiciliar do Hospital Dom João Becker
93
Hospital play room: rescue of the playful pulse
Gladis Salete Marafon Rodegheri
105
The humanized care of psychiatric patients In general hospitals
Jacqueline Fátima Trevisan, Eugélia Wolmann, Edmundo Berni Reategui
109
The inpatient as a person or a thing
Délio José Kipper
113
Hug project: a FAU-HE/UFPEL social project promoting life quality of
pelotas community
Tânia Laís Brizola, Luiz Vicente Borsa Aquino, Vanessa Andina Teixeira
119
Humanization project of the “Hospital São Lucas - PUC/RS” pediatric
admission linked to the child and adolescent rights commission and
hospital care
Maria Estelita Gil, Délio José Kipper, Magda Suzana Ferreira
125
A Política de Humanização da Assistência à Saúde - PHAS
Secretaria Estadual de Saúde
131
Política e Normas Editoriais
EDITORIAL
Como pode ser notado, continuamos no lento
e gradual processo de regularização de nossas
edições, no propósito de voltarmos à indexação de
nossa revista. Mais do que as modificações na
apresentação e no visual de nosso Boletim da Saúde,
caminhamos firmemente para a consolidação de um
excelente Conselho Editorial, bem como na
qualificação de nosso corpo técnico. Agora, todos
os que trabalham na elaboração da revista são
servidores concursados do quadro da Secretaria, na
expectativa de que esta formatação permita a
continuidade do trabalho em futuras administrações,
sem as lamentáveis suspensões ocorridas em
gestões passadas.
Outro aspecto que merece esclarecimento é no
que se refere a este terceiro número temático.
A Política Nacional de Humanização do SUS, no plano
Federal, e a Política de Humanização da Assistência à
Saúde, no plano estadual, complementam-se, na
perspectiva de que a saúde é um direito de todos e
dever do Estado, mas que o acesso aos serviços, em
um quadro de extrema desigualdade socioeconômica,
que ainda caracteriza nosso País, acaba por permitir
que a responsabilização de acompanhamento das
necessidades de cada usuário permaneça com graves
lacunas. A este quadro, no dizer de Gastão Wagner
de Souza Campos, quando do lançamento do
HumanizaSUS, acrescenta-se a desvalorização dos
trabalhadores de saúde, expressiva precarização das
relações de trabalho, baixo investimento em um
processo de educação permanente desses
trabalhadores, pouca participação na gestão dos
serviços e frágil vínculo com os usuários. Na busca
da construção das mudanças necessárias neste perfil
descrito ainda em 2003, é que se procura, em todas
as esferas de governo, a construção de um Sistema
comprometido com a humanização, fortalecido em
seu processo de pactuação democrática e coletiva, e
que ultrapasse a idéia de que seria mais um "programa
de governo".
No plano estadual, a PHAS, coordenada pela
Escola de Saúde Pública (ESP), tem demonstrado força
e pioneirismo no avanço de medidas concretas de
melhoria na humanização do sistema. Neste curto
período, foram criados Comitês Regionais de
Humanização que cobrem todo o estado, com 250
grupos de trabalho constituídos, foram capacitadas
mais de 3000 pessoas, e os temas referentes à proposta
foram incluídos no currículo dos cursos da ESP, inclusive
nos de pós-graduação. Com uma proposta de
promover parcerias entre os diversos segmentos que
constituem o Sistema de Saúde e corresponsabilização
de gestores, trabalhadores da saúde, prestadores de
serviços e usuários, a PHAS tem conseguido dar maior
visibilidade ao SUS que dá certo.
Este número especial é parte do esforço de
todos no processo de valorização da dimensão
subjetiva e social em todas as práticas de atenção e
de gestão do sistema e do fortalecimento do trabalho
em equipe multiprofissional, estimulando a
transdisciplinaridade, com alta conectividade, e um
modo cooperativo e solidário de implementar o
Sistema Único de Saúde, com autonomia e
protagonismo dos sujeitos coletivos que o constroem
no dia a dia.
O EDITOR
EDITORIAL
As it can be noticed, we continue in the gradual
and slow process of regulating our editions, aiming
at coming back to the indexation of our Journal. More
than the changes of our Journal of Health presentation
and graphic layout, we are firmly advancing toward
the consolidation of an excellent Editorial Board, as
well as the qualification of our technical staff. Now,
all the ones who work with the Journal development
are part of the State Health Office selected workers,
expecting this layout allows the work continuity in
the future, without the unfortunate interruptions
occurred during the last managements.
Another aspect, which deserves elucidation, is
related to this third thematic edition. The SUS
National Humanization Policy, at federal level, and
the Humanization Policy of Health Assistance, at state
level, complete one another, as to the perspective
that health is everybody's right and a State duty, but
the access to the services, within an extremely
unbalanced socioeconomic scenery, which is still a
characteristic of our country, allows that the
responsibility of following up the needs of each user
still has serious problems. At the launching of the
'HumanizaSUS Program", according to Gastão
Wagner de Souza Campos, to this situation, it is
added the health workers depreciation, significant
precariousness of working relations, low investments
in a permanent qualification process of such worker,
the little participation in the services management
and the fragile link with the users. In the search of
building the necessary changes to this layout, already
described in 2003, within all the government
departments, we aim at the construction of a System
compromised with the humanization, strengthened
in its democratic and collective agreement process ,
surpassing the idea of being only one more
"Government Program".
At the state level, Humanization Plan of Health
Assistance - PHAS, coordinated by the Public Health
School - Escola de Saúde Pública (ESP), has shown
strength and pioneering at the advance of concrete
measures for the improvement at the system
humanization. Within this short term, Regional
Humanization Committees were created, covering
all the state with 250 working groups, where more
than 3000 people were trained, and the themes as
to the proposal were included in the ESP courses,
including the graduation ones. As a proposal to
promote partnerships among the different segments
forming the Health System and the coresponsibilization of managers, health workers,
service renderers and users, the PHAS can have given
more visibility to the Unique Health Plan - SUS which
has been successful.
This special edition is part of the effort of all
those making part of the valuation process of the
subjective and social dimension in all the attention
and mamagement practices of the system and the
strenghtening of multiprofessional team work,
stimulating the transdisciplinarity, with high
conectivity and a cooperative and solidary way of
implementing the Unique Health System - SUS, with
autonomy and leadership of collective subjects
building it daily.
THE EDITOR
APRESENTAÇÃO
O termo humanização nos remete a algumas
reflexões sobre outros aspectos correlatos que dão
sentido e justifica o seu emprego. A necessidade de
humanizar alguma coisa parte do pressuposto de que
esta mesma coisa pode, em um dado momento, estar desumanizada. Se buscarmos seu contexto na
humanização do atendimento na saúde, poderemos
notar que sua origem se dá no sentimento inato das
pessoas em praticar o bem e a caridade. Também
remete à necessidade de resgate de um atendimento humanizado, focando a dignidade das pessoas em
situações de necessidade de cuidados ou atenção.
Situações extremas, como as vividas durante as guerras, mostram como o desamor e o pouco valor à vida
podem ocorrer em determinadas situações, como
nos campos de concentração, ou nos guetos, onde a
supressão dos direitos mínimos acontecia impunemente. Se fizermos uma volta à origem do atendimento em saúde, veremos que os hospitais, inicialmente, foram construídos para acolher os inválidos,
carentes e vitimados das guerras. Não existia, a princípio, uma conotação precípua de atendimento médico. Segundo Foucault, esta forma de atendimento
representaria uma espécie de segregação social, onde
as classes menos favorecidas teriam algum tipo de
ajuda oferecida geralmente por instituições religiosas, e não "contaminariam" as classes mais diferenciadas, que podiam pagar seus atendimentos em nível
domiciliar. Este aparente paradoxo entre a caridade
e a exclusão persistiu até que o avanço tecnológico
obrigou aos profissionais a procurarem os hospitais,
já que, nestes, o conhecimento e a ciência se desenvolviam. Já no início do século XX, esta necessidade
começou a se tornar evidente e necessária, surgindo, então, a figura do superespecialista - aquele que
sabia cada vez mais do cada vez menos, situação esta
que persistiu até os dias de hoje. No entanto, à medida que esta especialização imposta pela circunstância
do avanço tecnológico e científico acontecia, acontecia,
também, a fragmentação da atenção. O paciente começou a ser tratado aos pedaços. Perdeu-se a noção
da integralidade da atenção e do próprio paciente.
Surgiram os traumatologistas, os cardiologistas, os
dermatologistas, entre outros. Contudo, embora o
agregar de conhecimento propiciasse resultados interessantes nos indicadores de saúde, também levava a um processo de desumanização crescente, além
de a um vertiginoso aumento dos custos. Começou
a surgir um cenário de fragmentação do atendimento e uma inviabilidade de sustentação na manutenção da assistência no ritmo vertiginoso que a evolução e o progresso da ciência determinava. Esta situação determinou um ponto de desequilíbrio no sistema. Surge, então, uma nova proposta de atendimento que resgatasse a integralidade, a universalidade, a gratuidade da atenção: o SUS. Com ele, surge
também a necessidade de outras alternativas de atendimento, como o médico de família e o atendimento
por equipe multidisciplinar bem como a participação
de outros atores que, até então, não tinham como
expressar suas vontades, começando a atuar na figura da representação social e das comunidades. O resgate da dignidade da atenção tanto em nível hospitalar como ambulatorial começa a se organizar com
força e com resultados interessantes em vários locais. No Estado do Rio Grande do Sul, este momento foi incorporado aos programas da Secretaria da
Saúde, através da Escola de Saúde Pública. Esta iniciativa propiciou o surgimento de um fórum de discussão e troca de experiências de forma fantástica.
Com o trabalho de alguns meses, foi possível arregimentar um verdadeiro exército de pessoas que se
preocupam com o tema e dedicam um pouco de seu
tempo para contribuir com o esforço de humanizar
o atendimento à saúde de suas comunidades. As expectativas foram extrapoladas muitas vezes, e o entusiasmo que se verifica quando, nos encontros realizados, os grupos podem mostrar as iniciativas e trabalhos desenvolvidos em suas comunidades. Esta
edição procura resgatar e registrar um pouco deste
grande trabalho que está sendo desenvolvido no estado do Rio Grande do Sul e que, certamente, determinará uma mudança de paradigmas e formas de fazer saúde com dignidade, qualidade e eficiência.
DIRETOR DA ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA
PRESENTATION
The word humanization sends us to some reflections on other correlated aspects, which give
meaning and justify its utilization. The need to humanize something assumes that this thing, in a certain
moment, can not be humanized. If we look for its
context in the health service humanization, we can
notice that its origin comes from the innate feeling of
people to do good and charity. It also sends to the
need of rescuing a humanized welcome, focusing the
people's dignity in situations they need care or attention. Extreme situations, as the ones lived during the
wars, show how the disaffection and the little value
for life may occur in determined situations, as in concentration camps or in ghettos, where the suppression of the minimal rights would happen unpunishably. If we came back to the origin of health system,
we would see that, at the beginning, the hospitals
were built to shelter the disabled, the poor, and the
war victims. At the beginning, there wasn't a prime
connotation of medical service. According to Foucault, this way of service would represent a kind of
social segregation, where the less favored social classes would have some kind of help generally offered
by religious institutions, and would not contaminate
the higher social classes, which could pay for the health services at home. Such apparent paradox between charity and exclusion had persisted until the technological advance made the professionals look for
hospitals, since at these places knowledge and science were being developed. At the beginning of the
20th., Century, such a need became evident and necessary, arousing the superspecialists - the ones
who knew more and more about the less and less.
Such a situation has continued up to now. However,
as such specialization imposed by the technological
and scientific advance happened, it also happened the
attention fragmentation. The patient began to be treated in pieces. It was not the notion of attention integrality and the patient himself. The traumatologists,
the cardiologists, the dermatologists, among others
appeared. Nevertheless, although aggregating knowledge propitiated interesting results at the health
indicators, it also brought to an increasing unhumanization, besides a vertiginous increase of costs. It
began to arouse a picture of service fragmentation
and a sustentation unfeasibility for the maintenance
of assistance at the vertiginous rhythm the evolution
and the science progress determined. This situation
determined an unbalanced point at the system. Then,
it appears a new proposal of health service, which
could rescue the integrality, the universality, and the
attention gratuitousness: the Unique Health System
- SUS. With it, it also appears the need of other alternatives of health service: the family doctor and the
multidisciplinary team service as well as the participation of other actors who, until then, haven't had a
way to show their desires, becoming to act as a social and community representatives. The rescue of attention dignity both at hospital and ambulatory level
has begun to be strongly organized, with interesting
results in many places. In Rio Grande do Sul state,
this moment was incorporated to the programs of
the State Health Office, through the Public Health
School. This initiative has propitiated the fantastic
appearance of a discussion forum and experiences
exchange . With the work during some months, it
was possible to regiment a true team of people who
are worried with the theme, and give some of their
time to contribute with the effort of humanizing the
health service of their communities. Many times, the
expectations were extrapolated, and the enthusiasm
noticed when, during the meetings performed, the
groups could show the initiatives and works developed within their communities. This edition intends
to rescue and register some of this great work which
has been developing within the Rio Grande do Sul
state and that, for sure, will determine the paradigm
changes and ways of performing health with dignity,
quality and efficiency.
HEAD OF THE PUBLIC HEALTH SCHOOL
HUMANIZASAÚDE: DIFERENCIAL
DO ATENDIMENTO NA SAÚDE
HUMANIZASAÚDE: THE DIFFERENCE ON HEALTH CARE
Décio Ignácio Angnes
Administrador Hospitalar, professor da ESP-SES/RS. Coordenador da Política da Humanização
da Assistência à Saúde - PHAS da Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul - SES/RS.
Coordenador Administrativo da Rede de Observatório de Recursos Humanos - RS
E-mail: [email protected].
RESUMO
Trata da construção e implementação da Política de
Humanização da Assistência à Saúde - PHAS, da Secretaria
Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul. Apresentaremos
o impacto que a implantação da PHAS produziu para
profissionais e usuários, a metodologia de implantação e a
motivação decorrente da possibilidade em tornar visíveis
as mais variadas ações de humanização em
desenvolvimento. Mostraremos, também, as diferentes
etapas na construção do processo de humanização, bem
como a consolidação de espaços que dão visibilidade ao
SUS que dá certo.
ABSTRACT
It is about the construction and implementation of the
Health Care Humanization Policy (PHAS) by the Rio
Grande do Sul State Health Department. We will show
the PHAS implementation impact on professionals and
users, this implementation and motivation methodology
arising out of the possibility of making visible the various
developing humanization actions. We will also show the
different steps in the construction of the humanization
process, as well as the consolidation spaces, which enhance
the SUS that is successful.
PALAVRAS-CHAVE
Assistência à saúde, humanização.
KEY WORDS
Health assistance, Humanization.
10 | DÉCIO INÁCIO ANGNES
INTRODUÇÃO
Nos últimos dez anos, o termo “humanização” tomou contornos inimagináveis,
pautando as discussões no campo da saúde,
pois define ações que valorizam e qualificam
a prestação de serviços de saúde. Este movimento “Humanizador” ganha maior visibilidade quando, em maio de 2000, o Ministério
da Saúde lança o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar
(PNHAH), e, também no mesmo ano, é tema
da 11ª Conferência Nacional de Saúde. O
PNHAH, substituído pela Política Nacional de
Humanização, em 2003, é justificado por um
diagnóstico que mostra a insatisfação dos usuários quanto ao relacionamento com os profissionais de saúde.
manização (PNH), que propõe “interagir com
todas as instâncias da rede SUS, articulando
as ações de humanização, co-responsabilizando todos os atores envolvidos na direção de
consolidar o SUS como direito universal à
saúde com qualidade” (RIO GRANDE DO
SUL, 2003, p. 7).
A PHAS-SES/RS encontra eco nas Conferências Municipais de Saúde, em 2003, que
definiram, com 38% das indicações no quesito capacitações, o tema relações entre profissionais e usuários – humanização, a ser desenvolvido nas capacitações dos profissionais
do SUS pela Escola de Saúde Pública – (ESP/
SES-RS). Desta forma, a Política de Humanização da Assistência à Saúde propõe práticas
de saúde que garantam mais do que o acesso
aos bens e serviços, mas sim que:
[...] na avaliação do público, a forma do
atendimento, a capacidade demonstrada
pelos profissionais de saúde para compreender suas demandas e expectativas são
fatores que chegam a ser mais valorizados
que a falta de medicação, a falta de espaço nos hospitais, a falta de medicamentos
(BRASIL apud DESLANDES, 2004, p. 9).
Essas práticas profissionais norteadas pela
dimensão ético-política devem enfatizar o
conhecimento técnico–científico, as vivências cotidianas que incidem nas especificidades sociais e culturais de cada espaço,
nas experiências dos sujeitos, suas crenças,
estilos de vida e subjetividade. (RIO GRANDE DO SUL, 2003, p. 5).
No Rio Grande do Sul, a Secretaria Estadual da Saúde constituiu a Política de Humanização da Assistência à Saúde (PHAS) em
consonância com a Política Nacional de Hu-
É neste contexto que, sob a coordenação da Escola de Saúde Pública, passa a ser
desenvolvida, no Rio Grande do Sul, a Política de Humanização da Assistência à Saúde,
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
HUMANIZASAÚDE: DIFERENCIAL
DO ATENDIMENTO NA SAÚDE
| 11
se constituem num dos seguimentos imprescindíveis no desenvolvimento da PHAS.
inicialmente focando a rede hospitalar, onde
cerca de três dezenas de equipes de humanização dos hospitais integrantes do PNHAH já
acumulam experiências. No decorrer de 2004,
verifica-se a adesão de quase três centenas de
hospitais vinculados ao Programa Parceria
Resolve da SES/RS, quando é formalizada a
constituição de mais de duzentos Grupos de
Trabalho de Humanização.
GTHS – MULTIPLICADORES
NAS INSTITUIÇÕES
Os Grupos de Trabalho de Humanização foram formados, a partir do lançamento da PHAS,
TABELA 1 – NÚMERO DE PARTICIPANTES POR EVENTO PROMOVIDO PELA PHAS
ESPEC.
LANÇAMENTO
(19CRS)
I OFICINA
(19CRS)
I ENC.
(7REG)
II OFICINA
(19CRS)
II ENC.
(7REG)
ENCONT.
ESTADUAL
TOTAL
Participantes
399
611
573
629
397
396
3.043
Instit. Repres.
247
223
223
266
193
144
#
Fonte: Dados HCR
MUDANÇA DE CULTURA
em novembro de 2003, para os dirigentes dos
hospitais, para os quais foram apresentados os
princípios e diretrizes propostos para o desenvolvimento do processo de humanização. Deste
encontro, resultaram a formação de 204 GTHs,
formados com, no mínimo, as representações
dos profissionais propostos no documento base
da PHAS, ou seja, com a representação da direção, representante da área médica, representante das chefias dos setores/serviços, representante dos técnico-científicos e representante do pessoal de apoio. Como a humanização é um processo de inclusão e não de
exclusão, a grande maioria dos GTHs constituiu-se com mais integrantes do que o mínimo recomendado.
Os GTHs assumem importância fundamental no desenvolvimento da PHAS, nos seus locais de trabalho, pois estes são os multiplicadores deste processo e que desenvolverão as
ações de humanização. Porém, era necessário
entender o significado dos GTHs, que são definidos como “espaços coletivos, organizados,
participativos e democráticos, que se destinam
a instaurar uma política institucional de resgate
A Política de Humanização da Assistência à Saúde – PHAS foi desenvolvida durante o ano de 2003/
2004, focando, principalmente, a rede hospitalar, e
o desafio inicial que se colocava era: qual o entendimento de humanização, pois o que a PHAS propõe
é uma nova prática de saúde, ou seja, ver o sujeito
na sua totalidade e não como um corpo ou a fragmentação deste, sem que este seja sujeito na produção de saúde. Muitas vezes, é denominado como
humanização um quarto pintado ou um quadro na
parede, quando deve ser visto como,
[...] um processo de transformação da cultura institucional que reconhece e valoriza os aspectos subjetivos, históricos e culturais dos profissionais e pacientes para melhorar as condições de trabalho e
qualidade do atendimento (FAIMAN et al., 2003).
Com o objetivo de promover uma reflexão
quanto ao conceito de humanização, foram realizadas oficinas nas dezenove Coordenadorias Regionais de Saúde, com os Grupos de Trabalho de Humanização (GTHs) formados pelos hospitais, que
BOLETIM
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
12 | DÉCIO INÁCIO ANGNES
da humanização na assistência à saúde, em beneficio dos usuários e dos profissionais de saúde” (RIO GRANDE DO SUL, f.11, 2004).
Atualmente, os 204 Grupos de Trabalho de
Humanização constituídos totalizam 1.530 profissionais de saúde, diretamente comprometidos com o desenvolvimento da humanização
nas instituições hospitalares no RS, tendo, estes, a atribuição de liderar a construção do processo de humanização nas instituições; traçar
as estratégias de comunicação; avaliar projetos
quanto ao enfoque humanizador, considerando os parâmetros da PHAS; estabelecer parcerias; promover a interação com os gestores
municipais; coordenar o voluntariado, entre
outros.
sentante do Departamento de Coordenação
das Regionais de Saúde.
Também, durante o ano de 2004, foram
constituídos os dezenove Comitês Regionais de
Humanização, garantindo a descentralização, e
que tem, na sua composição, representante dos
hospitais referenciais; representante das Coordenadorias Regionais de Saúde; representante do
Conselho Regional de Saúde e da Associação dos
Secretários e dirigentes municipais de saúde.
Os Comitês Municipais de Humanização
estão em fase de estruturação, e é, neste momento, que a rede básica na prestação de serviços de saúde passa a desenvolver a PHAS,
constituindo-se, assim, na política que perpassa todo o Sistema Único de Saúde.
A DESCENTRALIZAÇÃO DA PHAS
ENCONTROS DA PHAS
COMO DIFERENCIAL
A PHAS tem constituído as suas instâncias
de desenvolvimento, que visam à descentralização, considerando as especificidades de cada
região, pois, “desta forma, busca-se garantir o
respeito às características regionais e à organização ética do SUS” (HumanizaSAÚDE, 2003).
Estas instâncias de discussão, planejamento,
acompanhamento e proposição são fundamentais e serão constituídas de Comitê Estadual de
Humanização, Comitês Regionais de Humanização e Comitês Municipais de Humanização,
conforme definido na PHAS.
Os diferentes atores que compõe o Sistema Único de Saúde – SUS estão representados
no Comitê Estadual formado no inicio de 2004,
que fica assim constituído: representante do
Conselho Estadual de Saúde; representante da
Escola de Saúde Publica; representante da Associação dos Secretários e Dirigentes Municipais de Saúde; representante do Departamento de Assistência Hospitalar Ambulatorial; representante do Ministério da Saúde e repre-
O desenvolvimento da PHAS seguiu o principio da descentralização, cuja agenda previu
oficinas regionais (realizadas 38, em 2004), encontros microrregionais (realizados 14, em
2004) e encontros estaduais (realizado um, em
2004), sendo que o planejamento do segundo
semestre de 2004 foi realizado juntamente com
os Comitês Regionais de Humanização, no I Encontro Estadual destes, garantindo assim a “coresponsabilidade de todos os atores”, (RIO
GRANDE DO SUL, 2003, p. 7). A primeira oficina, realizada nas 19 Coordenadorias Regionais de Saúde, com os Grupos de Trabalho de
Humanização – GTHs, teve como tema “Como
implantar o processo de humanização”, ocasião
em que foram abordados os passos a serem
desenvolvidos para orientar a construção da
PHAS, que consiste na sensibilização da gestão
e do staff funcional para o processo de humanização, na consolidação do GTHs como referência da humanização, na realização de avalia-
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
HUMANIZASAÚDE: DIFERENCIAL
VOLUNTARIADO:
REALIZAÇÃO DO SER HUMANO
“O homem é feito de sonhos, ideais, e compromissos” (CAMARGO, [200-?]).
O trabalho voluntário tem conquistado
cada vez mais visibilidade e respeito, e é cada
vez maior o número de pessoas que participam de ações que têm, por objetivo principal, a defesa de uma causa, de um princípio,
de um ideal, visando ao bem coletivo. Quando desenvolvido de forma organizada, com
critérios e objetivos claros, o trabalho voluntário significa uma fonte de recursos e competências qualificadas, além de promover a
participação direta da comunidade no desenvolvimento do processo de humanização, já
que “pode responder com mais visibilidade
e credibilidade às necessidades e expectativas dos usuários” (Manual PHAS-2004).
Contudo, é necessário, ainda, superar
preconceitos quanto ao voluntariado. Isto irá
acontecer com a divulgação de experiências
exitosas e a integração dos voluntários e dos
Grupos de Trabalho de Humanização e das
instituições prestadoras de serviços de saúde para gerenciar adequadamente o potencial do trabalho voluntário.
No Rio Grande de Sul, são diversas as
instituições nas quais encontramos experiências bem sucedidas de voluntariado, que vão
desde a confecção de materiais e/ou recursos, participação em programas, projetos das
instituições, ou o inverso, à integração dos
profissionais de saúde em ações da comunidade, onde disponibilizam seus conhecimen-
TABELA 2 – AVALIAÇÃO DOS TEMAS APRESENTADOS NOS
ENCONTROS DA PHAS
BOM
RUIM
Pertinência dos temas
97,8%
0,5%
NÃO RESPONDEU
1,8%
A agenda de encontros de 2004 abordou
diversos temas que atenderam a sugestões dos
participantes, tais como: rede – estratégias de
articulação; indicadores – mecanismos de moBOLETIM
| 13
nitoramento e avaliação; PHAS e PNH; regimento da PHAS, entre outros, o que garantiu o interesse e a participação, bem como a aprovação.
ção situacional, enfocando os projetos em desenvolvimento e situações de conflitos, na proposição de ações de melhoria e do acompanhamento dos resultados. Nestes encontros,
também foram discutidos os parâmetros de
humanização, pois é fundamental, no desenvolvimento do processo, avaliar, de forma coletiva,
se as ações propostas promovem a humanização
do atendimento aos usuários e das condições de
trabalho dos profissionais, pois “é preciso construir uma nova filosofia organizacional, uma cultura de humanização” (Rio Grande do Sul, 2004).
A construção desta cultura pressupõe a participação de todos durante a discussão, elaboração,
implementação e análise das ações, campanhas e
programas, e é sempre bom lembrar que “humanizar é verbo pessoal e intransferível, pois ninguém pode ser humano em nosso lugar. E é multiplicável, pois é contagiante” (RIO GRANDE DO
SUL, p. 5, 2004).
Porém, quando falamos de humanização e
do desenvolvimento de seu processo de construção, é bom lembrar que este não pressupõe
a tolerância frente a absurdos praticados na
prestação de serviços de saúde ou a falta de
condições adequadas para o desenvolvimento
das atividades dos profissionais em nome de
uma pretensa “humanização”. É importante que
lembremos que humanização também pressupõe que não podemos perder o poder da indignação frente a estas situações.
ESPEC.
DO ATENDIMENTO NA SAÚDE
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
14 | DÉCIO INÁCIO ANGNES
tos em orientações, palestras e campanhas
educacionais. Experiências exitosas, que
mostram como, por exemplo, a diminuição
do tempo médio de internação, decorrente do
trabalho voluntário desenvolvido por profissionais da saúde e professores da rede escolar,
cuja ação consiste na visita do professor, quando da internação do aluno, com o objetivo de
mantê-lo atualizado e com vínculo com sua rede
social, assim como a redução de doenças sexualmente transmissíveis, decorrentes das orientações e palestras realizadas pelos profissionais
de saúde em escolas, conforme agenda estabelecida pelos mesmos.
São experiências como esta que motivam e
dão novo ânimo, e que nos remetem a uma profunda reflexão quanto à substituição de atribuições por contribuições, sem considerar que é,
em ações de voluntariado, que podemos retribuir um pouco do tanto que a vida nos oferece.
HUMANIZAÇÃO NA FORMAÇÃO –
FATOR DE TRANSFORMAÇÃO
A humanização dos serviços de saúde, da
atenção aos usuários, do trabalho dos profissionais é discutida permanentemente. É necessário
que se promova uma profunda discussão quanto
à formação dos futuros profissionais de saúde,
pois é necessário, além da formação técnica,
imprescindível para a prestação de serviços de
saúde, preparar estes futuros profissionais para
um novo olhar sobre a produção do cuidado
em saúde, onde o paciente não seja visto de
forma fragmentada, negando sua subjetividade,
ou seja, é necessário “desenvolver a sensibilidade dos profissionais da saúde para conhecer
melhor a realidade do paciente, ouvir suas queixas e encontrar, junto com ele, estratégias que
facilitem a aceitação e a compreensão da doença” (BACKES, 2004, f. 23).
É neste contexto, e baseada num dos princípios da Política de Humanização da Assistência à Saúde, de propor novas ações que visem
à humanização do Sistema Único de Saúde –
SUS, que a Escola de Saúde Pública, coordenadora da PHAS no RS, e também responsável
pela capacitação dos recursos humanos da saúde da Secretaria Estadual da Saúde, tomou a
iniciativa, em 2004, no sentido de promover
uma reavaliação do conteúdo curricular dos seus
cursos de formação técnica, objetivando a inclusão do tema humanização, sendo, assim, pioneira nesta proposição, acreditando que a construção de uma cultura de humanização dos serviços
de saúde deve começar no preparo dos profissionais ainda na formação técnico/acadêmica.
CONCLUSÃO
Ao participar da construção do processo de
implantação e implementação da PHAS-RS, acompanhando o desenvolvimento de todas as etapas,
desde a proposição pelo Ministério da Saúde do
Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar - PNHAH, até o presente momento, que, como coordenador da PHAS no RS, estamos convencidos de que a Política de Humanização da Assistência à Saúde – PHAS/SES-RS, ao
propor um novo olhar na produção de saúde,
convidando e comprometendo todos os atores
que compõe o Sistema Único de saúde – SUS e
visando à construção deste processo de forma
descentralizada, assume definitivamente o caráter de ser uma política que perpassa todo o sistema de saúde, estimulando a discussão e a proposição de soluções para os problemas enfrentados
na construção de um Sistema Único de Saúde que
garanta seus princípios de equidade, integralidade e universalidade.
Os princípios da PHAS de apoiar, incentivar e propor ações de humanização são fato-
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
HUMANIZASAÚDE: DIFERENCIAL
DO ATENDIMENTO NA SAÚDE
| 15
res de integração entre profissionais, usuários e
gestores, uma vez que já tem consolidado um
espaço no sentido de dar visibilidade ao SUS que
dá certo, fato que leva ao reconhecimento e à
valorização das instituições prestadoras de serviços de saúde e dos profissionais de saúde que
desenvolvem ações de humanização bem sucedidas, motivando, assim, a todos, à construção
de uma política que qualifique a prestação dos
serviços de saúde em beneficio de todos.
REFERÊNCIAS
BACKES, Dirce Stein. A construção de um espaço dialógico-reflexivo com vistas à humanização do ambiente hospitalar. 2003. 43 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) Fundação Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande,
2003.
BRASIL. Ministério da Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: Política Nacional de
Humanização - PNH : documento base para gestores e trabalhadores do SUS. Brasília, DF, 2004. 56p.
CAMARGO, Z. A minha história. Intérprete: Zezé Di Camargo. In: CAMARGO, Z.; LUCIANO. Manaus: Sony, [200-?]. 1
CD. Faixa 1.
DESLANDES, Suely F. Análise do discurso oficial sobre a humanização da assistência hospitalar. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro,v.9, n.1, p.7-14, 2004.
FAIMAN, C. S. et al. Os cuidadores: a prática clinica dos profissionais da saúde. O Mundo da Saúde, São Paulo, v. 27, n.
2, p.248-253, abr./jun. 2003.
RIO GRANDE DO SUL. Secretaria Estadual da Saúde. HumanizaSAÚDE: Política de Humanização da Assistência à Saúde PHAS. Porto Alegre: Escola de Saúde Pública, 2003. 21p.
. HumanizaSAÚDE: manual: Política de Humanização da Assistência à Saúde - PHAS. Porto Alegre: Escola de
Saúde Pública, 2004. 21p.
BOLETIM
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
ACOLHIMENTO E HUMANIZAÇÃO: PROPOSTA DE
MUDANÇA NA RECEPÇÃO AOS USUÁRIOS DO
SETOR DE EMERGÊNCIA/URGÊNCIA DO HOSPITAL
MUNICIPAL DE NOVO HAMBURGO (HMNH)
WELCOMING AND HUMANIZATION: CHANGE PROPOSITION AT THE
USERS' RECEPTION IN THE EMERGENCY ROOM OF THE HOSPITAL
MUNICIPAL DE NOVO HAMBURGO
Elizabeth Azeredo Andrade
Especialista em Metodologia do Ensino Superior e em Saúde Comunitária. Enfermeira-chefe do Hospital Municipal de Novo
Hamburgo e enfermeira do Hospital Getúlio Vargas de Estância Velha
Tagma Marina Schneider Donelli
Mestre em Psicologia do Desenvolvimento. Especialista em Psicologia Hospitalar, doutoranda em Psicologia do Desenvolvimento
pela UFRGS. Psicóloga do Hospital Municipal de Novo Hamburgo
Instituição: Hospital Municipal de Novo Hamburgo
Avenida Pedro Adams Filho, 6520 - Bairro Operário
Novo Hamburgo - RS - Brasil CEP 93310-003
Fone/fax: (51) 593-11-66
E-mail: [email protected]
RESUMO
Sabe-se que os serviços de urgência e emergência dos
hospitais, além de serem a porta de entrada da instituição,
são grandes consumidores de recursos humanos e
materiais. Pensando nisso, e na necessidade de reformular
o atendimento no setor, buscando a satisfação de usuários
e de profissionais, criou-se um projeto baseado nos
conceitos de humanização, acolhimento e triagem. Este
trabalho visou a reduzir o tempo de espera e a priorizar o
atendimento através de avaliação de risco. Seus resultados
indicam a importância da iniciativa, premiada com Menção
Honrosa no Prêmio Nacional David Capistrano - 2004,
uma iniciativa do Ministério da Saúde e da Política Nacional
de Humanização - HumanizaSUS.
ABSTRACT
It's known that the emergency room in hospitals, besides
being the "entrance door" of the institution, it is a great
consumer of human and material resources. Thinking about
such matter and about the need of reformulating the
service in this sector, aiming at the users and professionals'
satisfaction, it was created a project based on the concepts
of humanization, welcome and screening. This work aimed
at shortening the waiting time and prioritizing the medical
attention with the risk evaluation.. The results show the
importance of the initiative, which was awarded an
Honorable Mention from the David Capistrano National
Prize- 2004, a program of the National Health and
Humanization Policy Department and - HumanizaSUS
PALAVRAS-CHAVE
Humanização, serviço hospitalar de emergência.
KEY WORDS
Humanization, hospital emergency room.
18 | ELIZABETH ANDRADE; TAGMA DONELLI
INTRODUÇÃO
O município de Novo Hamburgo possui
uma população de 250.000 mil habitantes, e o
HMNH é o único hospital do SUS na cidade.
Além da população de Novo Hamburgo, a instituição é referência em traumatologia, neurologia e UTI neonatal para os municípios de Estância Velha, Sapiranga, Campo Bom, Ivoti, Dois
Irmãos e Nova Petrópolis.
O Setor de Emergência e Urgência é formado pela sala de emergência, com capacidade
para 08 pacientes, setor de observação, com 11
leitos, 01 isolamento, consultório para traumatologia, clínica e pediatria (com consultas à noite e finais de semana – sem internação), observação pediátrica, sala de medicação, sala de procedimentos contaminados e uma sala de pequenos procedimentos cirúrgicos.
O Hospital dispõe de 10 leitos de UTI adulto, UTI Neonatal e 100 leitos credenciados pelo
SUS. Serve de estágio a diversos cursos da área
da saúde, desempenhando um papel importante na formação acadêmica de estudantes de enfermagem, fisioterapia e nutrição. Semestralmente, entre estagiários de cursos técnicos e de
graduação, passam aproximadamente 200 alunos pelo HMNH.
O funcionamento do Serviço de Emergência/Urgência tem sido, ao longo dos anos, uma
preocupação constante. Por múltiplas razões, os
Serviços Emergência/Urgência têm se transfor-
mado na porta da entrada do sistema de saúde
e em grandes consumidores de recursos humanos e financeiros.
Anualmente, verifica-se o crescimento da
procura por serviços de emergência/urgência,
sendo que aproximadamente 40% destes atendimentos não necessitam efetivamente de cuidados de urgência. Conseqüentemente, existe
o desvio de recursos humanos e privação do
atendimento àqueles que realmente necessitam,
o que pode causar um impacto negativo na qualidade dos cuidados prestados.
Os doentes, que recorrem indevidamente
a este serviço, recebem, em parte, atendimento inadequado por:
–
–
–
–
Impossibilidade de abordagem global ao
doente;
Dificuldade no controle de doenças
crônicas;
Impossibilidade de construir uma relação funcional médico-paciente;
Dificuldade de abordar o paciente com
múltiplas patologias.
Para os serviços de saúde, tal fato implica
uma redução da eficiência, com maior dificuldade em dar respostas adequadas às reais necessidades da população.
Apesar do conhecimento do problema e da
freqüente discussão empreendida pelos diversos setores e profissionais da saúde, pouco se
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
ACOLHIMENTO E HUMANIZAÇÃO: PROPOSTA DE MUDANÇA NA RECEPÇÃO AOS USUÁRIOS DO SETOR DE EMERGÊNCIA/URGÊNCIA ... | 19
Ao mesmo tempo, buscou-se a satisfação
dos profissionais pelo seu exercício profissional,
valorização e reconhecimento.
Um modelo apenas não satisfaria o que se
pretendia. Portanto, usaram-se os modelos de
acolhimento, humanização e triagem por acreditar que este seria o caminho para atingir os
objetivos.
tem conseguido ou avançado, parecendo inexorável o agravamento do problema. Já que o
problema existe, o que o Hospital Municipal de
Novo Hamburgo buscou, foram formas de melhor administrá-lo e de diminuir a interferência
do mesmo na qualidade da assistência. Frente
a isto, foi proposta a implantação de um modelo de recepção, acolhimento e triagem de prioridade que hierarquizasse o tempo de atendimento e, ao mesmo, lhe conferisse um caráter humano. Porque a dimensão humana é subjetiva, ela
está na base de toda intervenção de saúde, da
mais simples à mais complexa, e tem enorme
influência na eficácia dos serviços prestados
pelo hospital.
É preciso mudar a forma como os hospitais
se posicionam frente ao seu principal objetivo
de trabalho – a vida, o sofrimento e a dor de um
indivíduo fragilizado pela doença – sem o que,
valerão menos os esforços para aperfeiçoamento gerencial, financeiro e tecnológico das organizações de saúde. Existem investimentos para
melhoria da gestão, para compra de equipamento e tecnologia. Entretanto, é isto que a história
nos ensina: a mais formidável tecnologia, sem
ética, sem delicadeza, não produz bem-estar.
Muitas vezes, desertifica o homem.
A elaboração desta proposta de trabalho
está fundamentada nos conceitos de cidadania,
humanização e acolhimento. Entendemos que a
busca de uma assistência qualificada deve ser
baseada na realidade, e a proposta do Hospital
Municipal de Novo Hamburgo partiu da rotina
diária dos serviços. Buscaram-se alternativas aos
problemas identificados, com soluções práticas,
objetivas e humanizadas, que atendessem às reais
necessidades da população.
Agilizar e organizar o serviço não significa, apenas, estabelecer normas, mas estabelecer uma relação humanizada com os usuários,
satisfazendo as suas necessidades de forma cordial e ética.
BOLETIM
JUSTIFICATIVA
A desumanidade é uma marca da sociedade moderna: nunca se viram tanta insensibilidade, violência, desrespeito, impunidade, e tantas
injustiças a afetar a condição humana. Os profissionais da saúde são testemunhas oculares destes fatos num serviço de emergência. Lida-se
cotidianamente com vida e morte, dor e prazer,
ou seja, contradições.
Vê-se o homem sendo ultrajado em seus
direitos e, ao mesmo tempo, sendo negligente
com seus valores e no modo de agir com seus
semelhantes na assistência à saúde. Frente ao
exposto, é feito diariamente o mesmo questionamento: o que se tem feito para mudar?
As mudanças não ocorrem repentinamente, nem por decreto governamental. Para construir um mundo melhor, não se pode viver sob
o lema “deitado eternamente em berço esplêndido”, aguardando a banda passar.
Parafraseando Paulo Freire, é importante
frisar que só estaremos mudando esta história
se, a partir da própria história, for possível reinventar o aprendizado e aplicá-lo em situações
reais e concretas.
Levando em consideração o baixo nível de
satisfação dos usuários com os serviços oferecidos pelo Setor de Emergência/Urgência, a frustração dos profissionais e a necessidade de reformular a forma de atendimento, foi proposto
este projeto.
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
20 | ELIZABETH ANDRADE; TAGMA DONELLI
OBJETIVOS
–
Geral
–
–
–
Acolher todo cidadão que busque atendimento no HMNH, aprimorando e
melhorando o atendimento e dando
qualidade à identificação imediata do
problema apresentado pelo usuário.
Solucionar dúvidas do paciente e dos
familiares no momento da alta;
Promover o trabalho interdisciplinar, valorizando os profissionais da instituição;
Exercer o efeito multiplicador na instituição, usando o projeto e seus resultados
de modelo para a prática humanizada em
todos os setores da instituição. É a humanização entrando no hospital pela recepção, e se expandindo para as unidades.
Específicos
METODOLOGIA
–
–
–
–
–
–
–
Organizar a ordem de atendimento;
Qualificar a relação usuário-trabalhador, que deve se dar por parâmetros
humanitários, de solidariedade e cidadania;
Acompanhar o usuário-cliente nas diversas etapas do atendimento;
Prestar informações a familiares, sempre que solicitado, ou conforme estabelecido pelo projeto, de forma respeitosa e clara, objetivando diminuir a ansiedade, a angústia e o sofrimento na
sala de espera;
Educar, através da orientação sobre a
necessidade daquele usuário que buscou o setor de emergência, sobre a
possibilidade de acompanhamento na
UBS, dos benefícios desta prática para
sua saúde, das finalidades dos serviços
de urgência/emergência e todos esclarecimentos necessários para o usuário
paciente e familiar;
Facilitar seu ingresso no sistema de saúde quando necessário, agendando consulta para acompanhamento na UBS
próxima de sua casa, num prazo a ser
determinado pelo médico;
Prestar orientação pós-consulta sobre
medicação, exames, acompanhamento
por profissionais da saúde;
Antes da implantação do projeto, foram
realizadas reuniões do grupo técnico (enfermeiros e técnicos de enfermagem, coordenação da
recepção e psicóloga), com o objetivo de encontrar maneiras de desenvolver um trabalho
cooperativo e interdisciplinar. Em seguida, foi
feito um trabalho de motivação da equipe e de
zelo pelas relações interpessoais. Após, foi realizado treinamento sobre avaliação de risco, visando à classificação da prioridade nos problemas de saúdes. Além disso, foram trabalhados
os conceitos de humanização, comunicação, cidadania, liberdade e ética. E, finalmente, partiuse para o conhecimento e ajustes na área física.
As ações iniciais podem ser assim resumidas:
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
–
–
–
–
–
Percepção de dificuldades nas assistências prestadas aos pacientes que chegam ao setor de emergência quando
realizada apenas por uma categoria de
profissionais;
Avaliação da insatisfação do usuário;
Ação inicial e elaboração do projeto;
Trabalho de oficinas com participação
da equipe, com uma proposta de construção de conceitos de humanização,
que partiram da concepção do grupo
envolvido no trabalho;
Implantação do projeto.
ACOLHIMENTO E HUMANIZAÇÃO: PROPOSTA DE MUDANÇA NA RECEPÇÃO AOS USUÁRIOS DO SETOR DE EMERGÊNCIA/URGÊNCIA ... | 21
Azul: Serão atendidos num prazo de 01
a 02 horas, pois não é situação de urgência. Estes são os casos que deveriam
buscar as Unidades Básicas de Saúde
(UBS), e serão orientados para terem
acompanhamento em UBS. Conforme
necessidade, terão consulta agendada
em UBS após o atendimento no Hospital: lombalgia crônica, suprimento de
medicamentos, problemas dentários
Não é negado atendimento a nenhum usuário
que busque atendimento no hospital, e tampouco é
feito encaminhamento a outro local sem prestar
atendimento. A necessidade de atendimento pode
ser resumida:
O protocolo estabelece que a velocidade
do atendimento é determinada pela gravidade
do caso, em detrimento da ordem de chegada.
Portanto, o atendimento é por gravidade e não
por chegada. A seguir, são apresentados os passos seguidos pela equipe do acolhimento:
–
–
–
Recepcionar o paciente e conduzi-lo de
forma correta (deambulando, em cadeira de rodas ou em maca);
Saber quais os sintomas iniciais e verificar sinais vitais, registrando-os (se não
foi caracterizado como emergência,
encaminhar paciente, deixando-o confortável aguardando a consulta, seja na
sala de espera ou no consultório);
Comunicar a equipe do setor sobre
chegada do paciente, passando o caso.
Ao chegar ao setor, o usuário é recebido pelo profissional de saúde – enfermeiro e técnico de enfermagem – que
avalia qual a possibilidade de seu estado agravar-se em um período de duas
horas, comunicando ao médico, que lhe
atribui uma senha/cor:
Vermelho: imediato
Laranja: em até 10 minutos
Amarelo: em até 30 minutos
Verde: em até 01 hora
Azul: Prazo de 01 a 02 horas
–
Vermelho: Emergência - atendimento
imediato no setor de emergência: dor
torácica, TCE, queda de altura, perda
de consciência, Insuficiência Respiratória Grave.
Laranja: Atendimento no período máximo de 10 minutos, no setor de emergência.
Amarelo: Atendimento em até 30 minutos.
Verde: Casos pouco urgentes, que
podem ser atendidos num prazo de
uma hora. Tosse e febre com história
de 24 horas ou mais, pacientes seqüelados por diminuição de aceitação de
VO e HGT em 80-100.
BOLETIM
–
–
–
–
DA
Caso ocorra a chegada de 2 (dois) pacientes ao mesmo tempo, seguir os
passos descritos e comunicar médico,
que determina a ordem do atendimento por prioridade.
Manter diálogo com paciente e familiares na sala de espera, orientando-os
sobre acompanhamento posterior e
suas vantagens na UBS.
Acompanhar o paciente passo a passo, desde sua entrada no setor até a
conduta médica.
Prestar informações aos familiares
que aguardam na sala de espera sobre local em que está o paciente, se
já recebeu atendimento, se aguarda
exames, etc. Ser o elo de ligação paciente/família.
Agendar consulta para o paciente na
UBS mais próxima de sua residência,
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
22 | ELIZABETH ANDRADE; TAGMA DONELLI
–
–
–
–
caso necessite acompanhamento profissional após atendimento.
Orientar quanto ao uso da medicação
prescrita.
Em caso de óbito, providenciar ambiente
adequado e reservado para o médico comunicar aos familiares o ocorrido. Permitir a manifestação dos seus sentimentos.
Coordenar a entrada dos familiares junto
a portarias, no horário de visita.
Realização de reuniões periódicas (no
mínimo mensal), para avaliar o projeto
e buscar a alternativa para melhorar o
atendimento.
A metodologia utilizada é a participativa, e as
decisões são tomadas em grupos. Nas reuniões,
são discutidas avaliações dos usuários. Se houver
problemas, buscar as prováveis causas para solucioná-los.
PÚBLICO ATENDIDO
A maioria dos atendimentos no setor de
emergência do HMNH é por demanda espontânea dos pacientes e, entre estes, 1/3 referem
habitualmente consultar no serviço de emergência. Outros referem falta de acesso ou dificuldade de acesso ao serviço adequado nas Unidades
Básicas de Saúde (UBSs) e outras facilidades,
como a de realizar prontamente os exames, ou
a resolutibilidade do serviço. Os sintomas deste
grupo são, geralmente, dor abdominal, dor torácica, cefaléia, tosse e, hipertermia e mal-estar.
O tempo de espera para a consulta não ultrapassa, em média, uma hora, mas a maioria é atendida nos primeiros 30 minutos desde a sua chegada
no setor. Estas consultas costumam resultar em
observação para aguardar resultados ou realizarem
exames. A internação se dá com aproximadamente
10 a 30% dos pacientes que buscam o serviço.
Outros grupos são compostos daqueles encaminhados pelas UBSs e clínicas privadas, ou encaminhados por outros municípios para avaliação
específicas de especialistas da Neurologia e Traumatologia.
As vítimas de acidentes ou FAF ou FAB são pelos
bombeiros ou por serviços de resgates da iniciativa
privada. Em menor número, há os trazidos pela Brigada Militar para exames de lesões corporais.
No ano de 2003, foram realizados, em média, 5.216 atendimentos no Setor de Urgência e
Emergência.
Já entre os meses de janeiro e agosto de 2004,
houve um incremento de aproximadamente 30%,
totalizando uma média mensal de 6.539 atendimentos neste período.
RESULTADOS
Através da pesquisa de satisfação do usuário,
obteve-se algumas respostas, especialmente em
relação à melhoria da qualidade da assistência. Esta
pesquisa era realizada antes da implantação do projeto, e, mensalmente, pôde-se observar a melhoria.
No item “Cordialidade e apresentação da equipe” da Recepção, o mês de julho do ano de 2003
revelou que 23% dos participantes da pesquisa atribuíram conceito “péssimo” para o setor. No mês
de agosto do mesmo ano, ocorreu um decréscimo
do conceito “ótimo” (de 23% para 10%), e o aumento dos conceitos “regular” (de 22% para 30%)
e “péssimo” (de 23% para 30%). Já no mês de outubro de 2003, mês no qual o projeto foi implantado, o conceito “ótimo” voltou a crescer (de 10%
para 19%), e houve uma melhora no conceito “péssimo”, que decaiu de 30% para 19%. E o mês de
novembro parece ter revelado os melhores resultados dos últimos meses de 2003, pois o conceito “péssimo” foi o mais baixo desde julho
(apenas 11%). Já o conceito “bom” também foi
o melhor dos últimos meses (35%).
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
ACOLHIMENTO E HUMANIZAÇÃO: PROPOSTA DE MUDANÇA NA RECEPÇÃO AOS USUÁRIOS DO SETOR DE EMERGÊNCIA/URGÊNCIA ... | 23
sos, a fim de criar um local de convivência para
os pacientes e familiares.
A semente do projeto desenvolvido criou
raízes e se expandiu por todos os setores do hospital. Os benefícios concretos estão aparecendo
para todos: trabalhadores de saúde, usuários e
gestores do sistema hospitalar.
Para o usuário, a oferta de um tratamento digno, solidário e acolhedor por parte de quem o atende não é apenas direito, mas contribui com uma
etapa fundamental na conquista da cidadania.
Para o profissional do hospital, há a oportunidade de resgatar o verdadeiro sentido de sua
prática, o sentido e valor de se trabalhar numa
organização de saúde – realização pessoal, profissional e valorização.
Contudo não existem soluções mágicas,
nem atalhos fáceis nesta caminhada, pois, com
esta proposta, iniciou-se a mudança de um modelo assistencial para a construção do hospital
humanizado. Será um processo gradual e complexo.
Será necessário transitar obstinadamente de
uma forma a outra. Trocar velhos paradigmas por
novos hábitos, exercer a criatividade e a reflexão coletiva, o agir comunicativo, a participação
democrática na busca de soluções que sejam
úteis para cada realidade singular.
Existe a participação dos gestores, seja pelo
apoio ao projeto ou participação da avaliação do
mesmo com a equipe. Percebe-se, por parte dos
gestores, estímulo à continuidade das ações com
a satisfação do usuário, proporcionando, assim,
condições para corrigir problemas surgidos.
Este trabalho significa a construção de uma
relação de diálogo entre companheiros e uma
relação de muitas mãos. É o trabalho interdisciplinar e a construção de um espaço de recriação do trabalho em saúde, o melhor em um hospital. É a reconstrução da ética solidária do
dia-a-dia do serviço de saúde, o que significa que
não há saúde sem cidadania.
Em relação à assistência de enfermagem, a
avaliação do item “Cordialidade e apresentação
da equipe” revelou que o mês de novembro
novamente foi o de melhor desempenho: os
conceitos “ótimo” e “bom” somam, juntos, 63%
da opinião dos participantes.
Já em relação à assistência médica, percebeu-se uma queda no seu desempenho no mês de
agosto, em comparação com o mês anterior: o conceito “ótimo” caiu de 33% para 13%, e o conceito
“péssimo” aumentou de 15% para 25%. O desempenho do setor voltou a melhorar no mês de outubro, e apresentou excelente resultado no mês de
novembro, em relação à cordialidade e apresentação da equipe: os conceitos “ótimo” e “bom” somaram, juntos, 71%.
No ano de 2004, percebeu-se um incremento
gradativo nos níveis de satisfação do usuário. A Portaria e Recepção foram avaliada como “ótimas” e
“boas” por mais de 50% dos participantes da pesquisa, tanto nos itens Cordialidade e Apresentação
da Equipe e Agilidade no Atendimento, como no
item Clareza nas Informações. A equipe de enfermagem também obteve resultados semelhantes,
assim como a equipe médica, que foi avaliada como
“ótima” e “boa” no item Qualidade da Assistência
por mais de 60% dos usuários.
CONCLUSÃO
A partir da avaliação das pesquisas de satisfação dos usuários, tem-se o respaldo para dar
continuidade ao projeto, considerando a mudança de opinião para melhor que houve depois de
sua implantação. O HMNH vive, hoje, uma nova
realidade, onde os diversos setores do hospital
buscam, através de suas características, humanizar a assistência e o trabalho dos profissionais.
Foram formados, espontaneamente, grupos que
trabalham, no momento, na adequação dos espaços assistenciais com os mais diversos recurBOLETIM
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
24 | ELIZABETH ANDRADE; TAGMA DONELLI
REFERÊNCIAS
BOBBIO, Norberto. Igualdade e liberdade. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997.
CHAUI, Marilena. Notas sobre cultura popular. In: Cultura e democracia. São Paulo: Cortez, 1990.
LENIN, V. I. O programa agrário da social democracia na primeira Revolução Russa de 1905-1907. São
Paulo: Ciências Humanas, 1980.
MACHADO, Maria Helena. Profissionais de saúde: uma
abordagem sociológica. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 1995.
MARX, Karl. O Capital. São Paulo: Difel, 1982.
SINGER, Paul. O capitalismo: sua evolução, sua lógica e
sua dinâmica. São Paulo: Moderna, 1989.
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
ASSISTÊNCIA PÓS-ALTA HOSPITALAR PARA
PACIENTES COM CUIDADOS ESPECIAIS
POST-HOSPITAL DISCHARGE ASSISTANCE
TO PATIENTS UNDER SPECIAL CARE
Liege Silveira Dutra
Enfermeira, especialista em Administração em Serviços de Enfermagem, chefe de enfermagem. Coordenadora do Projeto
Ana Flávia dos Santos
Enfermeira, especialista em Gestão de Recursos Humanos, chefe de Unidade.
Sueli Terezinha Werlang
Enfermeira, especialista em Administração Hospitalar, chefe do Centro de Tratamento Intensivo Cardiológico.
Instituição: Hospital São Vicente de Paulo - Passo Fundo/RS.
Fone: (54) 316-4011
E-mail: [email protected]
RESUMO
Este projeto visa a melhorar a qualidade de vida do paciente
e de sua família, pois a visita domiciliar traz segurança, e
esclarece dúvidas que aparecem após sua alta. Neste
momento, pensamos cada vez mais na humanização do
atendimento, e resolvemos ousar com este projeto, saindo
dos limites da área física hospitalar, buscando diminuir, assim,
as reinternações e conseqüentes emissões de Autorização
para Internação Hospitalar. A visita domiciliar tornou-se
indispensável na melhoria da qualidade de vida dos pacientes
que necessitam de cuidados especiais, e, para os enfermeiros
que desenvolvem esta atividade, é muito gratificante a
satisfação demonstrada pela família visitada.
ABSTRACT
This project aims at improving the patient and his/her
family's life quality, for the home visit brings confidence
and clarifies doubts, which can appear after his/her
discharge. At the moment, we believe more and more in
care humanization, and, with this project, we have decided
to dare, leaving the physical limits of the hospital area,
trying to diminish the readmissions and consequent issuing
of Hospital Admission Authorization. The home visit has
become essential for the improvement of patient´s life
quality, and for the nurses who have been developing this
activity; it is very rewarding the satisfaction shown by the
visited family.
PALAVRAS-CHAVE
Cuidados domiciliares de saúde, serviços hospitalares de
assistência domiciliar.
KEY WORDS
Home healthcare, home assistance of hospital services.
26 | LIEGE DUTRA; ANA FLÁVIA
DOS
S ANTOS; SUELI W ERLANG
INTRODUÇÃO
Empenhado em desenvolver sua missão institucional e, também, como parte integrante do
Sistema Municipal de Saúde de Passo Fundo, o
Hospital São Vicente de Paulo acredita ser de fundamental importância sua participação no “Programa Parceria Resolve”, da Secretaria de Saúde
do Estado, e, assim, elabora a proposta envolvendo o atendimento extra-hospitalar.
Este projeto foi desenvolvido no Hospital São
Vicente de Paulo, visando a diminuir as reinternações e, ao mesmo tempo, humanizar o atendimento prestado aos clientes com cuidados especiais, proporcionando-lhes uma atmosfera psicologicamente mais favorável e segura em seu domicílio, juntamente com seus familiares.
relacionados ao que a pessoa precisa, ou que são
necessários para seu problema de saúde.
Percebe-se, então, que a assistência de enfermagem é de grande importância para que as
pessoas desenvolvam uma prática apropriada,
mais efetiva de autocuidado. A enfermagem, além
de exercer o cuidado, a partir de experiências e
conhecimentos científicos, também exerce a função de educar. Por meio da assistência, procura
planejar os cuidados relacionados ao que realmente é necessário para resolver determinado problema de saúde, auxiliando o ser humano a tomar consciência da realidade do seu processo
saúde-doença. Porém, esse planejamento deve
ser embasado na realidade em que vivem os seres humanos com quem ela interage. O contexto
social, econômico e cultural deve ser conhecido
pelo enfermeiro, pois frente a essa realidade, torna-se necessário a execução desse projeto.
JUSTIFICATIVA
No cotidiano hospitalar, é possível perceber
a ansiedade dos familiares e do próprio paciente
próximo à alta, devido à deficiência de informações quanto a seu autocuidado.
Percebemos que as pessoas adotam práticas
de autocuidado e devemos entender que essas
práticas são expressões estruturadas que apóiam
o indivíduo ou seu grupo a manter seu bem-estar.
Essas práticas de autocuidado são desenvolvidas
ao longo da vida. O que acontece, muitas vezes,
é que muitas dessas práticas adotadas nem sempre coincidem com as necessidades de cuidados
FINALIDADE
Diminuir as reinternações de pacientes, reduzindo as emissões de Autorização para Internação Hospitalar (AIH’s).
OBJETIVO GERAL
Orientar e visitar pacientes com cuidados
especiais em nível domiciliar, promovendo a manutenção e melhora no restabelecimento da saúde.
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
ASSISTÊNCIA
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
–
–
–
–
–
–
–
PÓS -ALTA HOSPITALAR PARA PACIENTES COM CUIDADOS ESPECIAIS
| 27
para orientar e tirar dúvidas do paciente e familiares, frente à realidade de seu ambiente. É mantido
contato com o enfermeiro da Secretaria Municipal
de Saúde daquela área de atuação, marcando uma
segunda visita domiciliar no terceiro ou quarto dia
pós-alta, onde, juntos, discutem os cuidados necessários ao paciente, que passa, agora, a ser assumido
pelo profissional da Secretaria.
Se o paciente pertencer a outro município, o
enfermeiro do Hospital São Vicente de Paulo entra
em contato telefônico com o colega da Secretaria
de Saúde do município de origem, informando-o
sobre a alta, passando as orientações necessárias e
a importância do acompanhamento para evitar as
reinternações. No momento da alta, juntamente
com o relatório de orientações, o paciente e familiares são orientados a entrar em contato com o enfermeiro da Secretaria de Saúde de sua cidade, para
acompanhamento.
Proporcionar uma melhora na qualidade de vida do paciente;
Proporcionar orientação, visando à tranqüilidade e segurança para os pacientes
e familiares na alta hospitalar;
Capacitar todos os enfermeiros de unidade para realizar orientação na alta
hospitalar do paciente;
Reduzir a longa permanência de pacientes com cuidados especiais;
Promover visita domiciliar a pacientes com
propensão à reinternação hospitalar;
Integrar as ações hospitalares com as
ações da Secretaria Municipal da Saúde;
Fornecer um relatório dos cuidados necessários em nível domiciliar para pacientes de outros municípios dentro deste
contexto.
CONCLUSÃO
METODOLOGIA
Este projeto teve início no final de outubro de
2003, sendo que, em média, 8 pacientes/mês são
beneficiados por este acompanhamento.
Para os enfermeiros do Hospital São Vicente
de Paulo, está sendo muito gratificante o desenvolvimento deste trabalho, pois é visível a satisfação e a
segurança que o paciente e seus familiares têm após
receberem a visita domiciliar, e, para o enfermeiro,
fica comprovada a importância da visita e das orientações, pois tudo é adaptado à realidade de cada
paciente.
Nossa meta está sendo totalmente contemplada, pois além de integrar as ações do hospital com
as ações da Secretaria Municipal da Saúde, estamos reduzindo as reinternações destes pacientes, diminuindo, assim, as emissões de Autorização para Internação Hospitalar (AIH’s), pois dos
79 pacientes atendidos com o projeto, apenas 15
deles reinternaram.
O enfermeiro do setor detecta os pacientes
internados que necessitam de cuidados especiais,
mas que necessariamente não precisam ficar hospitalizados por mais tempo. Diante disso, é feito contato com o médico assistente, para ver a possibilidade da alta hospitalar.
Durante a permanência no hospital, o paciente
e familiares são orientados quanto aos cuidados relacionados a sua patologia, como limpeza de cânula
de traqueostomia, autosondagem vesical, cuidados
com escaras de decúbito, entre outros. No momento da alta hospitalar, é entregue um relatório com as
orientações.
Quando necessário, é encaminhado à Coordenadoria ou Secretaria de Saúde processo de solicitação de materiais para o tratamento no domicílio.
No segundo dia pós-alta, o enfermeiro do Hospital São Vicente de Paulo faz uma visita domiciliar
BOLETIM
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
28 | LIEGE DUTRA; ANA FLÁVIA
DOS
S ANTOS; SUELI W ERLANG
REFERÊNCIAS
BRUNNER, S. Tratado de enfermagem médico cirúrgica. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.
HUDAK, C. M.; GALLO, B. M. J. Cuidados intensivos
de enfermagem: uma abordagem holística. 6. ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997.
SMELTZER, S. C.; BARE, B. G. Tratado de enfermagem médico cirúrgica de Brunner e Suddart. 7.ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1993.
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
CUIDANDO DO CUIDADOR
TAKING CARE OF THE CARER
Jacinta Subutzki
Enfermeira
Mauro César Canete
Secretário
Instituição: Hospital Vida & Saúde
da Associação Hospitalar Caridade Santa Rosa
Fone: (55)3512-5050
E-mail: informá[email protected]
RESUMO
Desde a sua implantação, em maio de 2003, por ocasião do
Dia do Trabalhador, o Projeto "Cuidando do Cuidador" vem
lançando mão da criatividade em favor do resgate da
cidadania, da auto-estima e de uma melhor qualidade de
vida dos colaboradores do Hospital "Vida & Saúde", de Santa
Rosa (RS). A iniciativa surgiu com o propósito de estimular
a adoção de novos paradigmas para melhorar ainda mais as
relações interpessoais na instituição. Assim, a Equipe de
Humanização assumiu o desafio de propor uma forma
diferenciada e inovadora de comemorar o Dia do
Trabalhador, caracterizando a data em torno do verdadeiro
sentido do "cuidar", de si mesmo e do outro. O Projeto
"Cuidando do Cuidador", assentado em princípios da
Humanização, proporciona aos colaboradores a
oportunidade de usufruir de ações de saúde e bem-estar,
durante a jornada de trabalho, dentro da estrutura hospitalar.
Entre as ações desenvolvidas estão: realização do exame
de mama e educação para o auto-exame, exame de
Papanicolau, consulta de enfermagem, encaminhamento
gratuito para especialidades médicas e realização de exames
complementares de acordo com as necessidades,
orientações sobre prevenção de doenças, educação para o
exercício físico, sessões de ginástica laboral, verificação de
peso, orientação nutricional, verificação de PA, testes de
glicose, massagem terapêutica, corte de cabelo, manicure,
oficinas de pele e técnicas de maquiagem. Na primeira
edição, houve adesão de 119 colaboradores, (40%) do
quadro de 310 colaboradores. Na segunda edição, com a
repercussão positiva e a credibilidade evidenciada através
da pesquisa de satisfação, a participação subiu para 70%.
ABSTRACT
Since its implementation, in May 2003, the Worker's
Day, the Project "Taking care of the Carer" is taking hold
of the creativity in behalf of the rescue of citizenship,
self-esteem and a better life quality of the Hospital Vida
& Saúde" collaborators, from Santa Rosa (RS). The
initiative aimed at stimulating the adoption of new
paradigms to improve the interpersonal relationships
at the hospital. Thus, the Humanization Team took onthe
challenge of proposing a different and innovative way
of cellebrating the Worker's Day, characterizing the date
on the real meaning of "taking care", of him/herself and
of the other one. The Project "Taking Care of the Carer",
based on the principles of Humanization provides the
collaborators the opportunity of enjoying the health and
well-being actions , during the workday, within the
hospital. Among the actions developed there are: breast
exam and information on breast self-exam, Papanicolau
examination , nursing consultation, free consultation in
medical specialties and additional exams according to
the needs, disease prevention guidelines, physical
exercises indication , laboral gymnastics sessions, weight
assessment, nutritional orientation, Blood Pressure
check, glucose tests, therapeutic massage, haircut,
manicure, skin workshops and make-up techniques. In
the first year, 119 collaborators participated, (40 per
cent) of the 310 collaborators team. In the second year,
with the successful repercussion and the credibility
provided by the satisfaction research, the participation
went to 70 Percent.
PALAVRAS-CHAVE
Cuidadores, humanização, saúde.
KEY WORDS
Carers, humanization, health.
30 | JACINTA S UBUTZKI; M AURO CANETE
INTRODUÇÃO
Qualquer projeto é sempre precedido de
um sonho, de um desejo de gerar mudanças positivas em um determinado contexto. Este sonho serve de combustível para traçar planos e
metas que, por sua vez, acabam se transformando em ações e resultados. Assim também nasceu o projeto “Cuidando do Cuidador”, que, a
partir de sua implantação, vem procurando preencher uma importante lacuna na área da saúde: o cuidado com quem dedica a sua vida a cuidar de outros.
A idéia surgiu em um exercício de “brainstorm” e trouxe à tona uma situação comum em
instituições de saúde: a de que, em muitos casos,
o trabalhador, que dedica sua vida no cuidado do
outro (pacientes, acompanhantes, família ...), possui, também, a necessidade de receber cuidados
e atenção especiais. No entanto, às vezes, enfrenta
dificuldades maiores de acesso à assistência à
saúde do que o cliente externo.
Proporcionar condições de atendimento,
em ambiente favorável, em prol de cuidadores
mais saudáveis e satisfeitos, justamente no dia
em que o trabalhador é homenageado, foi o desafio inicial deste projeto. Os números apontam
que a aceitação foi positiva, de tal forma, que,
hoje, traz para a equipe uma nova meta: a de
ampliar o leque de atendimento, com novas
ações, buscando maior qualidade e resolutividade às atividades desenvolvidas atualmente.
Parafraseando Puccini (2004), o movimento de exigência de humanização das atividades
humanas não é, absolutamente, novidade na área
de saúde, nem na sociedade em geral, mas é importante incorporar esse tipo de contribuição
no dia-a-dia do trabalhador da área de saúde,
para que se sinta valorizado e reconhecido e,
conseqüentemente, mais motivado no cuidado
com o outro.
Entendemos que, o compromisso com a
pessoa que sofre pode ter as mais diversas motivações, assim como o compromisso com os
cuidadores e, destes, entre si. Cabe aos gestores e lideranças promover ações, campanhas, programas e políticas assistenciais voltadas aos colaboradores, tendo como base,
fundamentalmente, a ética, o respeito, o reconhecimento mútuo, a solidariedade e a responsabilidade.
CUIDANDO DO CUIDADOR
Objetivo Geral
Estimular o surgimento e a disseminação de
uma nova concepção do “cuidador” dentro do
Hospital Vida & Saúde, proporcionando-lhe acesso a um “cuidado” mais adequado e, por conseqüência, o desenvolvimento de relações mais
favoráveis com colegas de trabalho, pacientes e
familiares.
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
CUIDANDO
Objetivos Específicos
–
–
–
–
–
–
–
DO CUIDADOR
| 31
Ações Desenvolvidas
Comemorar de forma diferenciada
o Dia do Trabalhador (1º de Maio),
com ações que valorizam o colaborador;
Contribuir na prevenção de doenças entre os cuidadores;
Oportunizar, ao trabalhador de saúde da instituição, o direito de usufruir dos serviços e tecnologia instalados;
Desenvolver ações de cuidado específicas voltadas ao cuidador, tanto no
que se refere à saúde física, como
psíquica e/ou emocional.
Contribuir para a melhoria da qualidade de vida, auto-estima e de convivência social dos colaboradores;
Incentivar o trabalho voluntário entre os colaboradores e comunidade, conscientizando-os da importância do comprometimento com o
outro e da formação de vínculos
saudáveis;
Valorizar e reconhecer habilidades
especiais entre os colaboradores;
Dentro dos objetivos propostos e considerando que nenhuma técnica, por mais sofisticada
que seja, consegue substituir o cuidado, a cordialidade e o carinho nas relações humanas, foram
projetadas várias ações no sentido de promover
mudanças favoráveis no campo pessoal e profissional dos trabalhadores que atuam na instituição.
A preocupação de proporcionar um cuidado diferenciado ao cuidador tem sido a meta
constante da Equipe de Humanização, valorizando-os enquanto seres humanos e profissionais, que dedicam sua vida em favor da vida dos
outros. Para tanto, são promovidos encontros
regulares, com enfoque democrático-participativo, em que os colaboradores são estimulados a falar de seus conflitos, dificuldades e limitações, compartilhando, também, as alegrias
e conquistas. A troca de experiências positivas ou não e o exercício de olhar para o outro
além das aparências têm provocado um grau
maior de cooperação e integração nas equipes de trabalho.
Além do cuidado emocional, o Projeto “Cuidando do Cuidador”, tem conseguido proporcionar
ações concretas para melhorar o bem-estar físico,
através de medidas simples que incluem:
Perfil do Público Atendido
–
A população-alvo beneficiada através do
Projeto “Cuidando do Cuidador” são os colaboradores de todas as áreas e serviços do Hospital Vida & Saúde, funcionários de serviços
terceirizados e estudantes dos cursos da área
de saúde, vinculados ao hospital, de ambos os
sexos, com idade variando entre 18 e 60 anos,
sendo que, mais de 50% destes não possuem
plano de saúde, dependendo do Sistema Único de Saúde (SUS) para receber a assistência
necessária.
–
–
–
BOLETIM
–
–
–
–
DA
Realização do exame de mama e educação
para o auto-exame;
Exame de Papanicolau;
Dosagem de gliocose;
Agendamento e encaminhamento para realização do exame da próstata;
Consulta de Enfermagem;
Encaminhamento gratuito para as diferentes especialidades médicas de acordo com
as necessidades;
Realização gratuita de exames complementares necessários;
Orientações sobre prevenção de doenças;
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
32 | JACINTA S UBUTZKI; M AURO CANETE
–
–
–
–
–
–
–
–
–
Educação para o exercício físico e participação em sessões de ginástica laboral;
Verificação de peso ideal e orientação
nutricional;
Verificação de PA;
Oficinas de cuidado para com a pele;
Oficinas de técnicas de maquiagem;
Corte de cabelo;
Manicure;
Massagem terapêutica e miorelaxante;
Sorteio de prêmios aos participantes.
–
–
–
–
–
–
–
METODOLOGIA APLICADA
Tendo como proposta a otimização dos
atendimentos e uma incidência mínima de imprevistos, a Equipe de Humanização se reúne e
define, antes de cada nova edição, um plano de
ação a ser seguido pelos envolvidos no projeto,
composto pelas atividades descritas a seguir:
–
–
–
–
–
–
–
Formação da equipe que coordenará o
evento;
Definição da data, horário e local do
evento;
Elaboração da programação das ações
a serem desenvolvidas no dia;
Formalização de parceria com a Fundação Municipal de Saúde para autorização e custeio dos exames complementares necessários;
Recrutamento de voluntários para cada
atividade a ser desenvolvida:
I. Colaboradores do hospital;
II. Profissionais médicos;
III. Acadêmicos de Enfermagem;
IV. Profissionais voluntários da comunidade.
Definição da escala de atividades e respectivos responsáveis;
Divulgação do Projeto, visando à ade-
são do maior número possível de colaboradores;
Captação de recursos para concretização do projeto;
Elaboração de material de logística;
Adequação do local para as necessidades do evento;
Reuniões de planejamento e organização;
Avaliação posterior do projeto;
Divulgação do resultado das ações desenvolvidas;
Entrega de um mimo e carta de agradecimento aos voluntários que trabalharam no projeto.
Resultados quantitativos das edições de: 2003 e 2004
Número de colaboradores atendidos
119
208
Verificação de pressão arterial
62
135
Testes de glicose
55
38
Consultas de enfermagem
36
24
Encaminhamentos para especialidades médicas
12
15
Exame preventivo do câncer de mama com
orientação para o auto-exame
25
65
Coleta para o exame preventivo
do câncer ginecológico
25
24
Encaminhamento para exame de próstata
03
Exames diversos (Raio-X, ecografia, mamografia) 18
32
Controle do peso ideal e orientação nutricional
61
82
Corte de cabelo
35
45
Manicure
21
28
Demonstração da técnica de limpeza da pele
81
Demonstração da técnica de maquiagem
52
12
Participação em oficinas de pele
(palestra/orientação)
55
Massagem terapêutica e relaxante
19
Participação nas sessões de ginástica laboral
75
Sorteio de brindes
13
45
Fornecimento de cesta básica para funcionários
03
em situação especial
Divulgação e venda de passagens para viagem de
Integração dos colaboradores (Novembro/2004)
41
Total de ações desenvolvidas
534 1030
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
CUIDANDO
| 33
e existirá na medida em que as pessoas quiserem. Para isto, elas precisam ser preparadas e
incentivadas. Partindo desse enfoque, é que
nasceu a 1ª Edição do Projeto “Cuidando do
Cuidador”, organizando e direcionando ações
de humanização voltadas para ele, valorizando-o e enxergando-o como elemento fundamental para garantir um atendimento de elevada qualidade aos usuários, familiares e dos
colaboradores entre si.
É importante salientar que o Projeto “Cuidando do Cuidador”, do Hospital Vida & Saúde, de Santa Rosa, não se restringe apenas às
ações desenvolvidas em favor do colaborador
num determinado dia, trabalha para que se torne uma prática constante e diária, instituindo
uma cultura organizacional humanizada, em
busca de um elevado grau de satisfação dos colaboradores, o que reflete diretamente na melhoria do atendimento ao cliente externo.
O Projeto engloba ações simples, mas contínuas, tais como: lembrar do aniversário dos
colaboradores com um pequeno mimo, expondo o nome dos aniversariantes no Mural da Humanização; expor no mural, também, as formaturas, casamentos, nascimento de filhos,
concursos e óbitos de familiares. São comemoradas todas as datas especiais junto aos colaboradores, incluindo: Dia das Mães, Dia dos Pais,
Dia dos Avós, Páscoa, Natal, Dia das Crianças,
Dia do Gaúcho, Semana da Enfermagem, Dia do
Riso, Dia do Amigo, entre outros.
Na Noite de Natal e Noite da Virada para
o Ano Novo, a Equipe de Humanização prepara uma ceia especial aos colaboradores e
médicos de plantão e faz questão de a própria
Equipe servir a ceia para eles. Com isso, notou-se que já não relutam mais tanto ao serem escalados para trabalhar nestas ocasiões.
Concordamos com ORLANDO (2001),
que, trabalhando a humanização nas instituições, busca-se resgatar o respeito pela vida
Observação: em ambas as edições, verificou-se alterações em exames de pré-câncer de
mama, ginecológico e de próstata, que tiveram
o devido encaminhamento e posterior acompanhamento dentro de cada especialidade, ou seja,
em 2003, 3 casos apresentaram algum tipo de
alteração e, em 2004, 12 casos.
POSSIBILIDADE DE CONTINUIDADE
E/OU AMPLIAÇÃO DA INICIATIVA
A meta principal é melhorar e ampliar anualmente a extensão do projeto, para atingir o maior número possível de colaboradores com as
ações disponibilizadas, não se preocupando apenas com o assistencialismo, mas também com a
resolutividade, satisfação e qualidade de vida dos
cuidadores.
A Equipe de Humanização, mantendo as
suas diretrizes de trabalhar por um atendimento mais humanizado na instituição, acredita
que ações como estas venham a contribuir na
satisfação, no desenvolvimento pessoal e na
formação de vínculos mais saudáveis entre os
colaboradores.
Todo o trabalho envolvido no projeto justifica-se na afirmação de Remen (1993) de que os
profissionais de saúde sofreram profundas modificações como resultado de treinamento especializado, do conhecimento e da experiência; são pessoas diariamente expostas à dor, à doença e à
morte, para quem essas experiências não são
mais conceitos abstratos, mas sim, realidades
comuns.
CONCLUSÃO
Entendemos que a humanização nas instituições de saúde passa pela comunicação da
palavra, do gesto e do olhar entre as pessoas
BOLETIM
DO CUIDADOR
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
34 | JACINTA S UBUTZKI; M AURO CANETE
humana em circunstâncias sociais, éticas, educacionais e psíquicas em todo relacionamento
humano. No entanto, estamos cientes que isso
acontece em passos lentos, que são necessárias persistência e motivação para fazer acontecer pequenas ações diárias, com mudanças
de atitude, acreditando que, na somatória final, farão a grande diferença.
REFERÊNCIAS
BRASIL.Ministério da Saúde. Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS. Brasília, DF, 2004.
CAMPOS, R. O. Reflexões sobre o conceito de humanização em saúde. Saúde em Debate, v. 27, n. 64, p. 123130, maio/ago. 2003.
MEZOMO, J. C. Gestão da qualidade na saúde. São
Paulo: Manole, 2001.
ORLANDO, J. M. C. UTI: muito além da técnica. São Paulo: Ateneu; 2001.
PUCCINI, P. T.; CECÍLIO, L. C. O. A humanização dos
serviços e direito à saúde. Cadernos de Saúde Pública,
Rio de Janeiro, v. 20, n. 5, set./out, 2004.
REMEN, R. N. O paciente como ser humano. São Paulo: Summus, 1993.
RIO GRANDE DO SUL. Secretaria Estadual da Saúde.
Política Humanização da Assistência à Saúde - PHAS.
HumanizaSaúde. Porto Alegre, 2003.
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
DOUTOR SORINHO:
CUIDANDO DOS PEQUENOS
DOCTOR "SORINHO": CARING FOR CHILDREN
Marcia Fetter Nicoletti
Psicóloga, especialista em Psicologia Organizacional e Clínica, coordenadora de Recursos Humanos
Sandra Maria de Bortoli
Técnica em contabilidade, assessora de Projetos e Comissões Permanentes
Instituição: Hospital Beneficente São Carlos - Rua da República,51 - Centro
CEP 95180-000 - Farroupilha - RS
Fone: (54) 268-3344
E-mail: [email protected]
RESUMO
A hospitalização precisa ser bem compreendida pela criança,
devendo-se evitar situações difíceis e traumáticas durante
o seu período de internação, pois a criança necessita receber
suporte físico e emocional por parte de sua família e de
toda a equipe de saúde envolvida em seu tratamento.
Visando a desenvolver esta proposta, em maio de 2003,
elaborou-se o Projeto de Humanização Pediátrica Doutor
Sorinho, que abrange toda a ala pediátrica do Hospital
Beneficente São Carlos, situado no município de
Farroupilha, região nordeste do estado do Rio Grande do
Sul. Este projeto desenvolve várias atividades lúdicas,
individualmente ou em grupos, dentro da Sala de Recreação,
aproveitando o espaço oferecido pela instituição, onde os
indivíduos são estimulados a interagir com seus
familiares.Também são desenvolvidas outras ações
humanizadas voltadas ao acolhimento dos usuários. Em
ambas as modalidades, a equipe multiprofissional e a
comunidade se envolvem de forma contagiante no decorrer
do processo, propiciando respostas adaptativas das crianças
e de seus familiares ao restabelecimento físico e emocional.
Desenvolvendo o trabalho de dessensibilização da criança
em relação à sua situação de doença e a necessidade de
aceitação dos procedimentos técnicos, visando a diminuir
o período de permanência, o projeto investiu desde o nome
"Dr. Sorinho" até a realização de algumas atividades, no
aproveitamento de embalagens de soro como um meio de
atingir tal objetivo. Criatividade, simplicidade, pró-atividade,
uso de materiais alternativos, custos mínimos para a
instituição e resultados qualitativos e quantitativos são as
características principais do "Dr. Sorinho".
ABSTRACT
The hospitalization needs to be well understood by the
child. Care must be taken to avoid difficult and traumatic
situations during the period of hospitalization, because
the child needs to receive physical and emotional support
from his/her family and the whole medical team involved
in the treatment. Aiming at developing this proposal, in
May 2003, it was created the "Doctor Sorinho"
Humanization Pediatric Project covering all the Pediatric
Wing of the Hospital Beneficiente São Carlos located in
Farroupilha town, at the northeastern region of Rio
Grande do Sul state. This project has developed several
individual or group playful activities in the playroom,
taking advantage of the space offered by the institution,
where the individuals are stimulated to interact with their
family members. It has been also developed other
humanizing actions aiming at welcoming of the users. In
both modalities, the multiprofessional team and the
community get involved in a contagious way throughout
the process, leading to the adaptation of the children and
their families to the physical and emotional recovery. To
develop the child desensitization work as to his/her
disease and the need to accept the technical procedures
shortening the hospitalization period , the project has
invested from the name "Doctor Sorinho" through the
development of some activities, such as the utilization of
serum containers as a way to reach such goal. Creativity,
simplicity, and proactivity, utilization of alternative
materials, minimal costs for the institution, and qualitative
and quantitative results are the main "Doctor Sorinho"
features.
PALAVRAS-CHAVE
Acolhimento, criatividade.
KEY WORDS
Welcome, creativity.
36 | MARCIA N ICOLETTI; SANDRA BORTOLI
CONTEXTUALIZAÇÃO
E DESENVOLVIMENTO
Promover resoluções humanizadas em saúde com aprimoramento contínuo, objetivando
a excelência no atendimento de forma integrada à comunidade, é a missão do Hospital Beneficente São Carlos, fundado em fevereiro de
1934. Situado no município de Farroupilha, no
estado do Rio Grande do Sul, é uma entidade
sem fins lucrativos. Usuários com convênios privativos e do Sistema Único de Saúde – SUS são
o perfil de sua clientela. É classificado como um
hospital microrregional, referência para o município de Nova Roma do Sul, possui 120 leitos,
UTI tipo II, com 6 leitos, dos quais 5 leitos estão
à disposição do SUS. A ala pediátrica do HBSC é
composta por 12 leitos, Sala de Recreação e
Posto de Enfermagem. A demanda da internação pediátrica representa 19% do volume total
das internações do HBSC. A Sala de Recreação
Dr. Sorinho atendeu 989 crianças em 2003.
Visando a atender a demanda de internações pediátricas de forma a tornar o ambiente
hospitalar o mais acolhedor possível, e fazer com
que a criança pudesse se sentir como um ser
humano protegido e amado, podendo, assim,
desenvolver respostas adaptativas positivas para
uma melhor e mais rápida recuperação, em 30
de maio de 2003, foi implantado o Projeto de
Humanização da Internação Pediátrica, que, posteriormente, recebeu o nome de “Doutor So-
rinho”. É coordenado pelo Setor de Psicologia,
e as atividades propostas são desenvolvidas por
equipe multiprofissional, bem como por voluntários que dedicam parte de seu tempo aos nossos usuários. Além do objetivo geral, o projeto
possui os seguintes objetivos específicos: tornar
o tempo de internação o mais agradável possível,
colaborar na cura da enfermidade das crianças,
alegrar o ambiente hospitalar, tornar a ala pediátrica ímpar, dinamizar e diversificar o trabalho
realizado na sala de recreação, proporcionar uma
internação com qualidade nos serviços prestados,
manter a equipe pediátrica motivada e participativa nas atividades propostas e oportunizar
momentos de interação entre o paciente e seus
familiares. Com o intuito de atingir tais objetivos, o Hospital dispõe da:
Sala de Recreação para pacientes da pediatria, com uma recreacionista, 04 voluntárias e 01
estagiária à disposição. Recentemente, a sala recebeu um novo nome: “DOUTOR SORINHO”,
escolhido através de concurso interno, com envolvimento de todos os colaboradores do Hospital, onde cada um fez sua sugestão. Todas as sugestões foram avaliadas pela Comissão Julgadora
e, após, foi realizada uma comemoração pela
escolha do nome e a entrega de prêmio ao funcionário vencedor.
A mascote Doutor Sorinho foi escolhido por
um concurso interno, onde os colaboradores
foram convidados a criar uma figura que retratasse a proposta do projeto. A figura do urso de
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
DOUTOR
| 37
visita de alguém que lhes traz alegria, ou mesmo
quando elas têm à sua disposição materiais para
se fantasiar. É por isso que cada data importante é lembrada às crianças que se encontram internadas na pediatria do HBSC pelo próprio personagem do dia comemorado, por exemplo, no
Dia da Criança, o Palhaço; na Páscoa, o Coelho;
no Natal, o Papai Noel. Nestas datas, a equipe
de enfermagem do setor de pediatria também
se caracteriza.
Mensalmente, são realizadas Apresentações
de Oficina de Teatro e Literatura de escolas da
comunidade na internação pediátrica, bem como
apresentações do Coral do HBSC, devidamente
caracterizado, com o objetivo de aliviar a tensão
causada pela doença durante a permanência da
criança e familiares no Hospital. O convite para
estas apresentações é extensivo a todos os
funcionários e seus filhos , bem como à comunidade. O paciente, que estiver aniversariando durante o período da internação, recebe um lanche
diferenciado, cartazes, balões na porta do quarto,
alusivos à data e um cartão de aniversário. Esta
atividade é denominada: “Aniversariante Dodói”.
O Piquenique no Pátio é uma atividade que
depende das condições climáticas, por isso é desenvolvida esporadicamente, onde os pacientes
e seus acompanhantes são convidados a realizar
seu lanche na área ao ar livre de que o Hospital
dispõe. Durante o piquenique, o Setor de Nutrição e Dietética serve um lanche diferenciado,
respeitando a dieta prescrita de cada paciente.
Também são realizadas atividades recreativas.
A enfermagem conduz e acompanha os pacientes, realizando todos os procedimentos técnicos necessários ao bem-estar dos pacientes durante a realização desta atividade.
Para que a criança se sinta valorizada, no momento da alta, os trabalhos artísticos realizados durante o período de internação são entregues juntamente com um boneco “Dr. Sorinho”, recheado
de doces, com um cartão de parabéns pela alta
pelúcia, com os utensílios utilizados pelos médicos e a roupa de soro retratou fielmente o objetivo do projeto e tornou-se a marca oficial.
Decorar a ala pediátrica com motivos infantis é uma atividade que compreende um conjunto de ações que tornam o ambiente da pediatria um setor diferenciado dos demais setores do hospital. A ala pediátrica teve as portas
dos quartos pintadas com cores alegres e variadas. Os funcionários do setor pediátrico e a
recreacionista passaram a utilizar jalecos coloridos, com estampas infantis. Os suportes para
rede de oxigênio em cada leito sempre estão
decorados com balões. Também ficam expostos permanentemente balões em forma de arco
na entrada da pediatria. O material para a decoração é, em sua maior parte, doado pela comunidade.
No Varal Artístico, os pacientes expõem seus
trabalhos artísticos que são feitos durante o período internação, e, no Varal Artístico Papai e
Mamãe, os pais ou acompanhantes podem expor
os trabalhos executados no hospital, ou alguma
reportagem interessante. O momento esperto
Tic-Tic é um mural fotográfico destinado à exposição das fotografias dos eventos realizados no
setor. O quadro Legal Pinte e Brinque consiste em
um quadro negro e giz à disposição dos pacientes
que não precisam ficar no quarto, onde podem
colocar sua criatividade em prática.
Os suportes para soro da ala pediátrica foram
pintados com cores vivas, com o objetivo de
deixar o ambiente hospitalar alegre e agradável e
afastar, o máximo possível, a criança do ambiente
“sombrio” que representa o hospital, que não
representa mais um local de simples cura, mas,
sim, de restabelecimento físico e psicológico.
Cada suporte recebe um enfeite personalizado,
confeccionado pelo próprio paciente, com material alternativo como o frasco de soro.
Vê-se claramente, no rosto das crianças, a
felicidade que elas sentem quando recebem a
BOLETIM
SORINHO: CUIDANDO DOS PEQUENOS
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
38 | MARCIA N ICOLETTI; SANDRA BORTOLI
hospitalar; é a Lembrança Legal que o projeto oferece ao paciente. Quando, por qualquer motivo, a
criança, na hora da alta, não receber a “Lembrança Legal”, a equipe do Hospital encarregar-se-á de
enviá-la pelo Correio Surpresa.
O Dia da Saúde é realizado, anualmente, no
mês de agosto, e tem por objetivo a orientação
nutricional, através da pirâmide alimentar e a
presença da nutricionista.
Mãozinhas Abertas é uma atividade que
busca a participação da comunidade, através da
adoção de uma das ações do projeto por estabelecimentos comerciais.
Visando ao aprimoramento do projeto, novas atividades estão em fase de implantação, elaboradas pela equipe multiprofissional do hospital, seguindo as principais características do “Dr.
Sorinho”: a simplicidade aliada à criatividade com
custos mínimos. Abaixo, estão relacionadas algumas das novas atividades a serem desenvolvidas.
Pela pediatria do HBSC, passam crianças das
mais diferentes condições sócio-econômicas.
Pensando nisto, a equipe multiprofissional elaborou a Sessão Cinema, com o objetivo de oferecer ao paciente internado a oportunidade de
assistir filmes infantis que, pelos mais variados
motivos, a criança não tem acesso.
Durante o período de internação, materiais
alternativos serão oferecidos à criança, para a
confecção de uma lembrança que será ofertada
a um colaborador do hospital, escolhido por
sorteio. O colaborador tornar-se-á o Amigo
Secreto. Durante esta atividade, a criança será
acompanhada pela recreacionista. O objetivo é
fazer com que a criança interaja com o ambiente hospitalar, fora da ala pediátrica.
O “Estudante Dodói” é uma atividade destinada aos pacientes que necessitam de uma internação prolongada. Estes pacientes receberão
suporte pedagógico, através de serviços voluntários de profissionais e /ou alunos do curso de
Pedagogia, ou afins, de escolas da comunidade.
“Imaginação à Solta” é o nome dado ao baú
de fantasias que está na sala de recreação, que
fica à disposição dos pacientes para que possam
ter a possibilidade de elaboração de seus estados psíquico e físico através do lúdico. Outra
atividade proposta é a “Gincana Doutor Sorinho”, realizada anualmente, envolvendo todos
os setores do hospital, e é voltada para a arrecadação de materiais necessários à realização das
atividades recreativas.
As “Dicas Supimpas” consistem em orientações importantes escritas e verbais sobre os
cuidados com sua saúde física médicos, nutricionais, psicológicos e de enfermagem, que serão
oferecidas ao paciente e seus acompanhantes
no momento da alta hospitalar. Para promover
maior integração do projeto com os nossos
colaboradores, será criada a Semana da Visitação, onde todos os funcionários receberão convite e serão agendados horários para cada setor do hospital realizar uma visita à ala pediátrica. No “Crachá Personalizado”, a criança
confecciona, com material alternativo, o seu
crachá que é fixado em seu leito, para que a
sua identificação fique clara e precisa.
Salientamos que este projeto conta com a
colaboração do Gestor Municipal, Conselho
Municipal de Saúde, Conselho de Administração
do Hospital, os profissionais médicos, equipe da
enfermagem, Serviço de Nutrição e Dietética,
Serviço Social, Psicologia, Higienização, Manutenção, Transporte, bem como os demais colaboradores. Também conta com a participação da
comunidade, através das escolas e Voluntariado.
Este projeto é considerado inovador, pois
ampliou as ações para fora da Sala de Recreação, tornando a pediatria do HBSC um local diferenciado, onde os pacientes desfrutam de momentos de integração preciosos com seus pais
ou acompanhantes, através das atividades oferecidas, o que, na maioria das vezes, devido à
rotina doméstica, não acontece.
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
DOUTOR
CONSIDERAÇÕES FINAIS
| 39
lificação técnica e eficiência, que possuem, depositam afeto, respeito e carinho em cada atividade realizada. Afinal a matéria-prima do hospital é o ser
humano.
Desde a sua implantação, 1.175 atividades com
pacientes já foram realizadas, todas devidamente
registradas em fichas, onde constam o nome do
paciente, do responsável e o tipo de atividade.
Por ser um projeto relativamente novo, possui
poucos indicadores quantitativos de resultados. Um
deles é a taxa de permanência que é medida através
do plano estatístico do HBSC e apresenta uma redução de 23% no primeiro ano do “Projeto Dr.
Sorinho”. Com o objetivo de medir o grau satisfação do usuário através de dados quantitativos, está
sendo implantada a Pesquisa de Opinião junto aos
usuários e seus responsáveis. Por outro lado, existem vários indicadores qualitativos, um deles é o
Livro de Registros batizado como “EU ACHO”,
onde os usuários são convidados a deixar sua opinião sobre o projeto. Também existe o “Diário de
Bordo”, registro sistemático das atividades desenvolvidas no projeto.
O projeto também apresenta outros resultados que não podem ser medidos através de números, mas são perfeitamente percebidos através das
atitudes dos seus usuários, como, por exemplo, o
resultado paliativo, que ajuda a aliviar a dor e a angústia da hospitalização; o preventivo, que ajuda a
prevenir transtornos psíquicos reativos; o auxiliar
terapêutico, como reforço das defesas do organismo; a humanização do ambiente, que proporciona
um local agradável; a dignidade preservada, tendo
em vista que a recreação é um direito previsto por
lei; a intervenção precoce, onde a criança e seu responsável têm o lúdico incentivado; a relação humanizada, pois a equipe e paciente ficam mais calmos e
a promoção da reeducação como um novo paradigma que dá certo, pois, através da utilização de
novos conceitos no atendimento ao paciente, chegou-se a resultados impressionantes.
O “Doutor Sorinho” nasceu de uma necessidade da instituição, contudo sobrevive porque todos os profissionais envolvidos nele, além da quaBOLETIM
SORINHO: CUIDANDO DOS PEQUENOS
TABELA 1 – MÉDIA DE PERMANÊNCIA NA PEDIATRIA
PERÍODO
MÉDIA (DIA)
30/05/200230/05/2003
3,1
31/05/200330/05/2004
2,4
Fonte: Plano Estatístico HBSC
REFERÊNCIAS
BALINT, M. O médico, seu paciente e a doença. Rio de
Janeiro: Atheneu, 1975.
DUARTE, Inúbia. A prática da psicoterapia infantil. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1989.
HORTA, A.; MATTOS, V. A criança e o perigo de morte.
Jornal de Pediatria, Porto Alegre, v. 52, n.5, p. 357-360, 1982.
LEBOVICI, S. Quelques considérations d’un psychiatre
d’ enfants sur les soinsà donner aux enfants placés dansdes crèches et des institutions. Genève: Organization Mondiale de la Santé, 1965.
MACHADO, R.; LOUREIRO, A.; LUZ, R.; MURICY, K. Da
noção da norma medicina social e constituição da psiquiatria no Brasil. Rio de Janeiro: Graal, 1978.
NOVAES, Luiza. O alívio do estresse na criança hospitalizada pelo brincar. Pelotas: [s.n.], 1996.
RODULFO, Ricardo. O brincar e o significante. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
SILVA, M. G. Prática médica: dominação e submissão, uma
análise institucional. Rio de Janeiro: Zahar,1978.
TORRES, Ruth da Costa; GUEDES, Wanda Gurgel; TORRES,
Wilma da Costa. Não me deixe morrer sozinho. Arquivos
Brasileiros de Psicologia Aplicada, Rio de Janeiro, v.32, n.3,
p. 138-142, jul./set. 1980.
WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1971.
. Textos selecionados da pediatria à psicanálise.
Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1978.
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
ENVELHECER COM NOVOS HORIZONTES
AGING WITH NEW HORIZONS
Maria da Graça Viana Cardoso e Cunha
Assistente Social
Instituição: Associação de Caridade Santa Casa do Rio Grande
General Osório, 625 - Centro - Rio Grande/RS
Fone: (53) 3233-7156
E-mail: [email protected]
RESUMO
O presente artigo foi elaborado a partir da observação
realizada em idosos asilados, onde se percebe, claramente,
que "envelhecer" provoca a exclusão do ser humano do
convívio social e que, neste, o velho não tem prioridades.
Idosos são vistos como pessoas em declínio tanto físico
quanto socialmente, e, assim, vão sentindo a perda de sua
identidade. O idoso, quando colocado pelos familiares em
instituições, resignam-se, pois culturalmente passam a ser
um transtorno se estiverem junto ao grupo familiar.
Conscientes da situação, é, nesse momento, que se dá a
auto-exclusão, quando o próprio idoso aceita ser deixado
em um "lugar só para velhos", sem questionamento. Frente
a essa situação, é que os "cuidadores" deveriam receber
todo o respaldo necessário do poder público para dar
atenção integral às pessoas da melhor idade, através de
políticas sociais compatíveis com o segmento, programas
preventivos nas questões do envelhecimento e na oferta
de serviços que tratem adequadamente os problemas físicos,
psíquicos e sociais, dando, a esse grupo etário, a
oportunidade de trabalhar, a sua autonomia e
independência, mesmo que dentro de suas limitações.
ABSTRACT
This article was elaborated from the study developed
with the elderly living in nursing homes, where it is clearly
noticed that "aging" excludes the human being of the social
living and that in this environment, the elderly don't have
priorities. The elderly are considered as people both
physically and socially in decline, and thus, they begin to
feel like losing their identity. The elderly, when placed
by the relatives in nursing homes, they become resigned,
because culturally they become to be a trouble if living
together with the family group. Conscious of the
situation, it is at that moment that it happens the selfexclusion, when the elderly themselves accept to be let
in a "place just for the elderly", without any question. In
this situation is that the "carers" should receive all the
necessary protection of the public power to give total
attention to the people at the best age, through social
policies compatible with the segment, preventive
programs related to aging and to service offer treating
the physical, psychic and social problems properly, giving
to the elderly the opportunity to work, autonomy and
independence, even if with their limitations.
PALAVRAS-CHAVE
Cuidadores, cuidados, grupos etários, humanização, idoso.
KEY WORDS
Carers, cares, age groups, humanization, elderly.
42 | MARIA DA GRAÇA V IANA CARDOSO E CUNHA
INTRODUÇÃO
A cada ano que passa, mais de 650 mil idosos engrossam as estatísticas populacionais brasileiras. Sendo assim, temos que perder a ilusão
de ser ainda um país jovem e procurar aceitar as
informações demográficas que mostram e projetam o envelhecimento da nossa população.
Para o enfrentamento do aumento da população de idosos, é necessário a elaboração de
políticas sociais direcionadas a este segmento,
que sejam amplas e articuladas entre diversos
órgãos governamentais e não governamentais.
Com a rotina de vida da população, nesta
corrida desenfreada para garantir o mínimo de
sobrevivência com qualidade, é amplamente reconhecido que os idosos cada vez mais deverão
ser “cuidados”, e, por isso, os “cuidadores” têm
que estar capacitados para dar esse atendimento, não deixando as instituições se transformarem em depósitos de pessoas em situação de
envelhecimento.
No Recanto do Idoso, instituição que abriga 113 velhos, cresceu, vertiginosamente, a procura por vagas e observou-se que muito pouco
era oferecido. Assim, chegamos a elaboração
do projeto “Envelhecer com Novos Horizontes”, na tentativa de motivar os que estão na
melhor idade a não se deixar ficar “esperando a
morte “, expressão esta pronunciada por um dos
“cuidados”; porque o desenvolvimento físico,
psíquico e social do ser humano não é só man-
tê-lo com as necessidades básicas supridas, temos que estimulá-los para que acreditem no
amanhã.
Neste cenário da pouca valorização da velhice, teremos que trabalhar para estabelecer
prioridades, desenvolvendo ações humanizadoras de atendimento em todos os setores da instituição (nutrição, enfermagem, médicos, higienização...), que melhorem a qualidade de vida
dos que lá residem.
O envelhecimento populacional é um fenômeno geral e afeta a todos - homens, mulheres
e crianças. A solidariedade e a inter-geracionalidade devem ser a base das ações da sociedade
civil e do estado. O envelhecer é importante,
pois contribuiu, e continua a contribuir com a
sociedade, mantém a história viva de gerações
para gerações e tem conseqüências em todos
os setores da vida humana tais como: econômico, saúde, previdência, lazer e cultura. A estas
pessoas, deve ser preservado o direito de igualdade em todos os aspectos da vida.
JUSTIFICATIVA
O Serviço Social da instituição “Recanto do
Idoso” – A .C. Santa Casa do Rio Grande, juntamente com outros profissionais que atuam no
pensionato, sentiram a necessidade de dar aos
residentes maior segurança nas áreas de deambulação, ampliar o atendimento em nível de la-
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
ENVELHECER
| 43
cia, cria espaços de participação política e de
inserção social desse segmento, possibilitando
que os idosos de “fundo de quintal”, que se encontram em situação de risco social possam recuperar a dignidade e cidadania, mesmo que seja
através de “cuidadores” institucionais.
O estatuto deixa claro que o idoso deverá,
sempre que possível, ficar junto aos familiares,
tanto que está garantido pela Lei Orgânica da
Assistência Social -LOAS, o benefício de prestação continuada - BPC, no valor de um salário
mínimo, para pessoas a partir dos 65 anos que
não possuam meios de prover sua subsistência,
e nem de tê-la provida por sua família.
zer, atividades laborais, tratamento físico e tornar o ambiente mais confortável e prazeroso,
estimulando o sentimento de pertencimento ao
lugar que passa a ser a sua casa, fazendo com
que percebam serem eles o que há de mais importante na instituição e que tudo visa à satisfação de suas necessidades.
Convivendo com os “cuidados” do pensionato, constatamos que o vínculo familiar inexiste
e/ou fica enfraquecido devido às visitas dos parentes escassearem ao longo do tempo. Isto faz
com que o idoso sinta-se excluído da sociedade e
ingresse na tão conhecida marginalidade social,
pois a própria palavra, “velho”, nos diz que ser
velho é estar em desuso, é não servir para nada e
são as coisas velhas que se doam ou se jogam
fora. É nesse momento que se inicia o processo
de auto-isolamento; como conseqüência, acentuam-se as fragilidades naturais do envelhecimento e, tentando evitar este processo, teremos, também, que trabalhar a família para que esta não
seja protagonista do abandono.
Portanto, é fundamental fazer um exercício
de reflexão com o idoso, levando-o a se perceber como cidadão em tempo presente, com
possibilidades de tempo futuro.
Cabe à equipe multiprofissional incentivar
o idoso a construir um projeto de vida, e se permita a ousadia de sonhar e ter vontade de realizar “coisas”, claro dentro das limitações que o
tempo lhe infringiu, pois, enquanto houver planos a serem vividos, com certeza haverá vida.
Cabe também à equipe, oferecer-lhes uma assistência humanizada, porque cuidar de pessoas
significa cuidar de um cidadão como um todo.
O profissional deverá assumir postura ética
que respeite a singularidade das necessidades do
usuário, que acolha o desconhecido e que aceite os limites de cada situação apresentada.
O Estatuto do Idoso, aprovado em outubro de 2003, é referência fundamental para a
garantia dos direitos, dá condições de subsistênBOLETIM
COM NOVOS HORIZONTES
OBJETIVO GERAL
Proporcionar a valorização da melhor idade, demonstrando a preocupação em satisfazer
suas necessidades, e dando aos idosos um atendimento humanizado, despertando o sentimento de auto-estima, e apresentando alternativas
de como viver o agora, projetando o amanhã,
sem se sentir um fardo muito pesado para os
que lhes dedicam atenção.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
–
–
–
–
–
–
–
DA
Oferecer ao idoso asilado melhor qualidade de vida;
Estimular que repassem as experiências já vivenciadas;
Manter o idoso ativo e atuante frente
às diversas limitações;
Intensificar as relações interpessoais
através de eventos;
Incentivar a integração intergerações;
Fortalecer o vínculo familiar, sempre
que houver a existência de familiares;
Divulgar, na instituição, planos, progra-
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
44 | MARIA DA GRAÇA V IANA CARDOSO E CUNHA
–
–
–
mas e projetos concernentes à pessoa
idosa;
Estimular a parceria entre grupos e organizações governamentais e não governamentais, para que estejam atualizados com as atividades oferecidas a
este segmento;
Oportunizar a participação dos pensionistas em eventos e campanhas educativas;
Capacitar recursos humanos voltados
para o atendimento da pessoa idosa,
visando à melhoria do seu desempenho e da qualidade dos serviços prestados.
Metas
–
–
Atender aos 113 idosos que residem
no pensionato “Recanto do Idoso”;
Atender os familiares sempre que houver algum impasse que dificulte a relação instituição x idoso x família.
Recursos
Humanos
–
–
–
–
–
–
–
METODOLOGIA
1 arte educador ou terapeuta ocupacional;
1 fisioterapeuta;
1 psicólogo;
1 assistente social;
1 médico clínico geral ou geriatra;
2 administrativos;
1 nutricionista.
Grupos de atividades
Materiais
–
–
–
–
–
Manuais;
Artísticas;
Físicas;
Externas (almoços, praia, bailes, passeios, encontros com outros grupos da
terceira idade da comunidade...);
Exposição (trabalhos realizados nos
grupos e mostra das habilidades, coral, dança, declamação...), a cada trimestre, com a participação da comunidade e familiares.
Terapia de Grupo
–
–
–
Sentimentos;
Motivação;
Família.
–
Financeiros
–
Os valores oferecidos pela instituição
e ou convênios firmados através do fundo municipal da assistência social.
DEPOIMENTOS DE ALGUNS
IDOSOS PENSIONISTAS
Cronograma
–
–
Todo material necessário para o desenvolvimento das atividades para a reforma e
manutenção dos corrimões e pisos.
3 vezes por semana;
manhã/tarde.
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
“Eu nem imagino minha vida se não houvesse
este lugar. Aqui, é como se fosse minha casa,
passeio, vou à churrascaria e participo de festas. É muito bom!” (N., 89 anos)
“Eu não quero sair daqui. Aqui é bom, tem
bastante comida e bala”.(A., 103 anos)
ENVELHECER
| 45
das, brinquedos confeccionados por eles. (Em
12/10/2003).
“Como meus sobrinhos não podem me cuidar,
me largaram aqui como se eu fosse um pacote. Até me acostumei, agora é minha casa”.
(D., 76 anos)
CONCLUSÃO
“Eu e minha irmã somos bem tratadas, não temos nenhum familiar, eu cuido dela por que é cega
e as funcionárias cuidam de mim”. (E., 85 anos)
Com o desenvolvimento das ações aqui
mencionadas, é certo que iremos minimizar as
perdas sofridas pelas pessoas que envelhecem.
Em muitos casos, elas poderiam ser evitadas, se
houvessem políticas sociais de inclusão que promovessem a qualidade de vida dessa população
há muito esquecida, e que, hoje, vislumbra um
pouco de dignidade no futuro.
Ainda estamos fazendo a caminhada para a
plenitude do nosso projeto. Acreditamos que a
equipe multiprofissional proposta faz-se necessária para efetivar as ações direcionadas ao público alvo e, com certeza, através do comprometimento desta, atingiremos nosso objetivo.
Entendemos ainda, que instituições organizadas devam humanizar o atendimento, o que é
imprescindível para mudanças de pensamento
acerca da velhice, principalmente, se isso se der
em processos coletivos. Constatamos isso nas
atividades intergerações (crianças e adolescentes x idosos).
O envelhecimento diz respeito a toda sociedade, pois, se houver a redução da pobreza, uma
melhor igualdade social e boas condições de vida
da população, é certo que, no decorrer dos
anos, teremos a garantia de bons níveis de vida
e bem- estar social. Portanto, a próxima geração de idosos terá maior longevidade e com
qualidade.
Hoje, já podemos vivenciar este fato no
“Recanto do Idoso”, pois temos oito pensionistas entre noventa e cento e três anos e, destes,
quatro totalmente independentes e lúcidos, outros acamados, porém com a função mental preservada e com uma média de permanência no
pensionato de oito a dez anos.
“Não gosto daqui, mas como não tenho ninguém, tenho que ficar, pois a assistente social
conversou com a D. Neusa, e me trouxe para
cá. Eu morava na rua, e quando tinha alta do
hospital psiquiátrico dormia pelas praças da
cidade”. (O. M., 62 anos)
“Quando não querem a gente, nos despacham
que nem pacote nos asilos. Que horror.” (N.,
60 anos)
“Agora que não posso cuidar dos meus netos
porque não caminho, me arrumaram outro lar
para morar, só que de velhos, isso é coisa de
filhos e noras.” (I., 84 anos)
MEMBROS DO GRUPO
DE VOLUNTÁRIAS
O grupo de senhoras voluntárias da A.C.
Santa Casa do Rio Grande – RS trabalham em
eventos sociais para arrecadar fundos, com a finalidade de usar a verba para a compra de produtos necessários ao bem-estar dos usuários
carentes da instituição.
Depoimento: “Agradeço a Deus todos os dias
por ter encontrado este grupo, só assim estou envelhecendo com qualidade” (70 anos – voluntária).
INTEGRAÇÃO INTERGERAÇÕES
Idosos do pensionato visitam a pediatria do
hospital geral, e distribuem às crianças internaBOLETIM
COM NOVOS HORIZONTES
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
46 | MARIA DA GRAÇA V IANA CARDOSO E CUNHA
REFERÊNCIAS
CONSELHO REGIONAL DE SERVIÇO SOCIAL DO RIO
GRANDE DO SUL. Coletâneas de leis. Porto Alegre, 2000.
BRASIL. Lei nº 10741, de 2003. Dispõe sobre o Estatuto
do Idoso. Diário Oficial [da] República Federativa do
Brasil. Brasília, DF, out. 2003. Seção 1, n. 192.
FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA
E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional para Amostragem
Domiciliar (PNA). Brasília, DF, 1997.
BRASIL. Ministério da Previdência e Assistência Social.
Idosos: problemas e cuidados básicos. Brasília, DF, 1999.
BRASIL. Ministério da Previdência e Assistência Social. Plano
integrado de ação. Brasília, DF, 1999.
EUROFARMA. Projeto Carmim: gestão 2004. São Paulo, 2004. Fascículo 1.
BRASIL. Ministério da Previdência e Assistência Social.
Política Governamental para o Desenvolvimento da
Política Nacional do Idoso. Brasília, DF, 1997.
REVISTA MEIO DE CULTURA. São Paulo: Eurofarma, n.
27, 2004.
SERVIÇO SOCIAL e SOCIEDADE. São Paulo: Cortez, n.
75, 2003.
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
GARANTIA DA EXCELÊNCIA DOS SERVIÇOS
GUARANTEE OF SERVICE EXCELLENCE
Helena Dahne
Psicóloga, especialista em Análise Transacional e Administração de RH, responsável pelo
Departamento de Desenvolvimento de RH da instituição.
Alexandra Vanti
Pedagoga Especialização em Orientação Educacional, Administração de RH e Administração de Processos.
Atua como técnica em treinamento do Departamento de Desenvolvimento de RH da Santa Casa.
Instituição: Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre
Rua Prof. Annes Dias, 285
Fone: (51) 3214-8513/ (51) 3214-8346
E-mail:[email protected]; [email protected]
RESUMO
Este projeto de desenvolvimento e capacitação dos
funcionários do Complexo Hospitalar Santa Casa baseou-se
em um levantamento de necessidades de capacitação, foco
na visão de futuro e diretrizes Institucionais. Trata-se de
treinamentos sistemáticos, com objetivo de garantir a
excelência dos serviços, de maneira personalizada,
humanizada, e assegurando a satisfação dos clientes internos
e externos. O fator humano é uma preocupação constante
na organização, e foi a partir desta concepção que
conseguimos desenvolver uma nítida consciência de que todas
as atividades dependem, fundamentalmente, de todos os
funcionários da instituição. O treinamento foi planejado e
desenvolvido de acordo com as peculiaridades e necessidades
de cada hospital do Complexo, com uma metodologia
teórico-prática e uma carga horária de 8 horas/aula.
Participaram deste treinamento gestores, líderes, operadores
e usuários. Os resultados mais importantes foram: aumento
do grau de satisfação dos clientes (funcionário, usuário,
médicos, comunidade e fornecedores), maior
comprometimento com a humanização, equipe de líderes
qualificada, viabilizando uma maior satisfação e motivação de
seus funcionários e maior comunicação entre as áreas. Foi
concluído, através de pesquisas, que o grau de satisfação do
cliente aumenta quando o profissional está mais qualificado.
Fica clara a importância de capacitar e instrumentalizar
sistematicamente os funcionários, para que tenham a mesma
preocupação com o acolhimento e excelência no atendimento
a todos os clientes. O projeto está incluso no planejamento
de Treinamento e Desenvolvimento 2004-2005, já aprovado
pela direção, garantindo assim a sua continuidade.
ABSTRACT
The present project is about the development and training
of the employees from Santa Casa Hospital Complex and
was based on a survey of needs in training, concentrating in
the future vision of future and institutional guidelines. The
project deals with systematic trainings intending to guarantee
service excellence in an personalized and humanized way,
and assure both internal and external customers' satisfaction.
The human factor is a constant concern in the organization
and it was from this conception we have achieved the
development of clear principles in which is unquestionable
that all activities rely crucially upon all the employees of the
Institution. Training was planned and developed according to
particularities and needs of each hospital unit of the Complex,
comprising 8-hour-class practical-theoretical methodology
classes. Participants of the training included managers, leaders,
operators and users. The most relevant results were
improvement of customer's satisfaction degree (customers
included personnel, users, medical staff, community and
suppliers), better commitment with humanization,
qualification of team leaders, making feasible a greater
satisfaction and motivation among staff and communication
improvement among areas. Through research, it has been
concluded that the level of customers' satisfaction increases
when personnel is better qualified. It becomes clear the
importance of regular training and provision of means so that
all individuals in the institution share the same concern with
customers' welcoming and health-care service excellence.
This project is part of the 2004-2005 Training and
Development Planning already approved by the directors,
assuring, therefore, its continuity .
PALAVRAS-CHAVE
Humanização, recursos humanos em saúde, satisfação dos
consumidores.
KEY WORDS
Humanization, health human resources, consumers'
satisfaction .
48 | HELENA DAHNE; ALEXANDRA VANTI
INTRODUÇÃO
A Irmandade da Santa Casa de Misericórdia
de Porto Alegre - ISCMPA - é uma entidade filantrópica, assistencial médico–hospitalar, com
extensão de ensino e pesquisa em saúde, reconhecida de utilidade pública em nível federal,
estadual e municipal. É cadastrada junto ao Conselho Nacional de Serviço Social e no Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, inscrita no CNPJ sob o nº
92815000/0001-68, com sede à Rua Professor
Annes Dias, nº 295, Porto Alegre/RS, Fone (51)
3214.8080 - Fax (51) 3214.8585.
A sua atual diretoria está assim constituída:
Provedor – Dr. José Sperb Sanseverino; Diretor
Geral e Administrativo – Sr. Olimpio Dalmagro
e Diretor Médico – Dr. Jaques Bacaltchuck.
Fundada em 1803, esta Instituição bicentenária é uma das maiores entidades filantrópicas
conveniadas com o Sistema Público de Saúde,
no Brasil. Possui como missão “desenvolver e
proporcionar assistência médico-hospitalar, da
melhor qualidade, para as pessoas de todos os
grupos sociais, do estado e do país, apoiada por
programas de ensino e pesquisa”.
A busca da compatibilização dos objetivos
de nossa missão, do nosso negócio, com os objetivos dos indivíduos e os objetivos sociais da
comunidade em que estamos inseridos é um
imenso desafio que enfrentamos, mas temos a
certeza de que ele será alcançado, pois acredi-
tamos que o grande patrimônio da Santa Casa não
aparece nos balanços, mas, sim, está inserido no
manancial de recursos humanos que possui e pelos programas de qualificação que executa.
Atualmente, é formada por 07 unidades assistenciais:
–
–
–
–
–
–
–
Policlínica Santa Clara – Hospital Geral;
Hospital São José – único no Rio Grande do Sul especializado em Neurocirurgia;
Pavilhão Pereira Filho – especializado
em Pneumologia;
Hospital São Francisco – especializado
em Cardiologia;
Hospital Santa Rita – referência brasileira e único hospital do estado especializado no diagnóstico e tratamento de
todos os tipos de câncer;
Hospital da Criança Santo Antônio, especializado em Pediatria Clínica e Cirúrgica; e
Hospital Dom Vicente Scherer, único
centro de transplantes de órgãos e tecidos da América Latina.
Esses hospitais somam juntos 1.110 leitos, e
foram responsáveis, em 2003, por cerca de 708
mil consultas ambulatoriais, 52 mil internações e
52 mil cirurgias, em pacientes provenientes de
todo o Rio Grande do Sul e estados vizinhos.
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
GARANTIA DA
| 49
tos médico-assistenciais, bem como pelo desenvolvimento e incorporação de tecnologias, resultantes da própria relação assistência-ensino-pesquisa. A Santa Casa atua no mercado há 197 anos.
A manutenção dessa assistência desenvolve-se exclusivamente com recursos que arrecada da prestação de seus serviços. Assim, a Santa
Casa tem como diretriz, para seu custeio, a geração de recursos pelo resultado de seu próprio trabalho e, para investimentos, conta com
o apoio da comunidade, empresários, Órgãos
Públicos e Governos.
Ao longo dos anos, a Santa Casa vem demonstrando grande crescimento no que se refere aos aspectos qualitativos e quantitativos de
suas atividades – assistência, ensino e pesquisa –
devido ao contínuo desenvolvimento de seus
profissionais, somado às melhorias de suas instalações, infra-estrutura e tecnologias, cumprindo com crescente rigor a bicentenária missão
de proporcionar assistência de melhor qualidade às pessoas de todo o estado e país.
Em 1993, a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia iniciou o processo de implantação da
filosofia da qualidade total. Como mérito máximo, conquistou, em 2002, o Prêmio Nacional da
Qualidade, tornando-se o primeiro hospital e a
primeira instituição de direito privado, sem fins
lucrativos, a receber tal distinção. Os resultados
da progressiva incorporação da filosofia e metodologia da qualidade total, como método de gestão, proporcionaram, à Santa Casa, a sucessiva
conquista dos troféus Bronze (1998), Prata
(1999), Ouro (2000 e 2001) e Diamante (2003),
do Prêmio Qualidade RS, do Programa Gaúcho
da Qualidade e Produtividade.
Essas conquistas demonstram todo o empenho e comprometimento da Instituição em
proporcionar assistência de qualidade a todas as
parcelas da comunidade sul rio-grandense, firmando-se como uma instituição líder, moderna
e com excelência nos serviços.
Com o slogan Pioneirismo e Tecnologia, a
Santa Casa se caracteriza como a mais antiga Instituição Hospitalar em funcionamento no estado.
Pioneira na realização de inúmeros procedimenBOLETIM
EXCELÊNCIA DOS SERVIÇOS
CONTEXTO DO
TRABALHO/PROJETO
A Santa Casa é um multissistema de pessoas,
um organismo vivo e não um conjunto inanimado
de equipamentos, instalações e processos tecnológicos postos em operação mecanicamente.
O fator humano é uma preocupação constante
na organização, e foi a partir desta concepção que
conseguimos desenvolver uma nítida consciência de que todas as atividades dependem, fundamentalmente, de todos os funcionários que
nela atuam.
A vida pessoal dos membros da organização Santa Casa está cada vez mais indissociável
de sua vida organizacional e os reflexos desta se
fazem sentir, claramente, na saúde e na qualidade de vida de todos nós.
Todo o projeto que será descrito a seguir
baseia-se no planejamento das ações e projetos
de treinamento e desenvolvimento do ano de
2003 e 2004, que foram organizados a partir de
um levantamento de necessidades de treinamento com todos os funcionários da instituição. Este
levantamento teve como base a avaliação de desempenho, desenvolvida pelos líderes, semestralmente, com seus funcionários. A partir deste levantamento, organizou-se a matriz de treinamento, base para as ações tornarem-se realidade, cujo
foco principal de necessidade para ser trabalhado com os funcionários foi garantia à excelência
dos serviços de forma humanizada e sistemática.
Além do diagnóstico acima, o projeto teve,
também, foco na visão institucional ano 2005 e
base nas diretrizes institucionais, especialmente
às diretrizes Gestão de Pessoas e ConhecimenDA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
50 | HELENA DAHNE; ALEXANDRA VANTI
to, Fixação e Satisfação das Pessoas, Capacitação e Aperfeiçoamento das Pessoas e Gestão da
Satisfação dos Clientes.
O projeto trata da capacitação dos funcionários dos hospitais abaixo relacionados, independente do cargo exercido, com enfoque na
garantia e excelência dos serviços, de maneira
organizada, humanizada e sistemática, assegurando a satisfação dos clientes internos e externos. Para tanto, baseou-se na compreensão de
que o “atendimento ao cliente consiste numa
atitude positiva de dar atenção ao cliente, permitindo que ele manifeste suas necessidades,
ouvindo-o com interesse, dando solução aos seus
problemas, ou, então, encaminhando-o a pessoa certa”. (Nobre, 1999, p. 53).
A organização e desenvolvimento de todo
o treinamento ficaram a cargo do Departamento de Desenvolvimento de Recursos Humanos,
envolvendo os seguintes hospitais:
–
–
–
–
–
–
Hospital Santa Rita;
Hospital da Criança Santo Antônio;
Hospital São Francisco;
Hospital Pavilhão Pereira Filho;
Hospital São José ; e,
Hospital Dom Vicente Scherer.
A evolução tecnológica no mundo – na área
médica – é a mais rápida entre todos os setores
produtivos. Equipamentos, técnicas e processos
tornam-se obsoletos em ciclos cada vez mais curtos. Assim sendo, tanto a estrutura orgânica quanto
a estrutura funcional, representantes da instituição
orientam-se por cinco premissas básicas, a saber:
–
–
–
–
–
Categorias profissionais atingidas pelo
projeto:
–
O treinamento foi desenvolvido por hospital, de acordo com o planejamento e com a
preocupação de atender as peculiaridades e
necessidades de cada hospital. O número de
pessoas atingidas foi 3.034 funcionários, sendo que cada funcionário recebeu uma carga
horária de treinamento de 8 horas/aula. Cada
funcionário tinha a opção de escolher o melhor turno (manhã, tarde e noite) para realizar a sua capacitação.
Todos os conteúdos desenvolvidos abordavam questões que visavam ao aprimoramento
da postura do profissional no atendimento ao
cliente, de uma forma mais acolhedora.
Velocidade: resposta rápida às necessidades e desejos do cliente e do negócio (no tempo certo);
Adequação: as atividades devem ser
sempre direcionadas ao cumprimento
de objetivos.;
Humanização: atendimento humanizado e com excelência na qualidade.
Flexibilidade: os processos são desenhados de forma a permitir rápidas correções de rota;
Participação: no sentido de prever a
constituição de equipes para o encaminhamento de soluções a problemas focais e/ou corporativos.
–
–
Gestores: Diretor Geral, Diretor Médico, Diretor e Gerentes dos Hospitais;
Líderes de processos: Profissionais de
nível superior que exerçam atividade de
liderança; e,
Operadores: Profissionais de nível técnico e operacional de todas as áreas.
Assim, todo o projeto de capacitação desenvolvido teve como foco as diretrizes institucionais e as premissas citadas, buscando a qualificação dos profissionais para um atendimento personalizado, humanizado e sistemático, assegurando a satisfação de todos os clientes usuários
da instituição.
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
GARANTIA DA
JUSTIFICATIVA
–
–
“Você tem de escutar os clientes, e, então,
agir com base no que disseram.” (WHITLEY,
2000, p. 19).
Vivemos um momento histórico, onde o
grau de exigência dos clientes e a concorrência
criam um cenário cada dia mais desafiante, pois
o número maior de competidores pelo mesmo
cliente leva a uma constante e insaciável procura por diferenciais competitivos, que permitam
à empresa conquistar a confiança e a fidelidade
dos clientes, base essencial para se pensar em
auto-sustentação e crescimento.
A excelência nos serviços tem um papel de
grande importância para alcançarmos as metas.
Considerando que os serviços da Santa Casa são
prestados a pessoas com algum tipo de problema de saúde, o que com muita freqüência coloca o indivíduo em um estado psicológico diferente do seu normal, tornando-o mais sensível,
frágil e ansioso, o que contribui com a avaliação
mais crítica que ele fará dos serviços, exigindo
dos profissionais um aperfeiçoamento contínuo
e dedicação ainda maior.
A realidade é que o mundo moderno está
exigindo que empresas e pessoas passem a fazer aperfeiçoamentos e/ou mudanças numa velocidade muito maior.
Assim, o sistema de gestão de pessoas da
Santa Casa foi construído de forma a assegurar a
captação, capacitação e fixação de pessoas, minimizando a possibilidade de perdas nos investimentos praticados. Ou seja, é preciso contar com recursos humanos aptos e capazes à sustentação
do negócio e que, igualmente, possuam potencial
a ser desenvolvido e capacitado para fazer frente
aos desafios, sendo reconhecidos e incentivados
adequadamente no decorrer deste período. Estrategicamente, definem-se duas grandes linhas
para o desdobramento das ações do Sistema de
Gestão de Pessoas, a saber:
BOLETIM
EXCELÊNCIA DOS SERVIÇOS
| 51
Fixação e Satisfação das Pessoas;
Capacitação e Aperfeiçoamento das
Pessoas.
Como parte deste processo, queremos,
constantemente, qualificar as pessoas a estarem
inseridas no processo com foco no cliente, percebendo as suas necessidades, para assim, ajudarmos na sua recuperação.
O propósito deste projeto é que o sucesso
de uma organização depende, cada vez mais, do
conhecimento, das habilidades, da motivação e
da criatividade de sua força de trabalho. Por sua
vez, o sucesso das pessoas depende cada vez mais
de oportunidades para aprender, experimentar
novas habilidades e utilizar a criatividade.
As organizações necessitam investir, continuamente, no desenvolvimento das pessoas, por
meio de educação, treinamento e de novas oportunidades de crescimento profissional. Assim,
“melhorar constantemente é um conceito que
se adquire e que deve fazer parte dos nossos
hábitos, a fim de que possamos manter a qualidade no atendimento”(NOBRE, 1999, p. 72).
A capacidade de resposta rápida, flexível e
humanizada no atendimento a clientes, constitui, hoje, um requisito crucial na gestão das organizações.
Pesquisas realizadas (pesquisas de satisfação dos clientes elaboradas pela Santa Casa,
pesquisa de satisfação dos usuários e dos profissionais de Saúde, elaborada pelo Ministério
da Saúde), ao longo dos últimos anos, têm apontado para uma tendência de valorização da qualidade do atendimento ao usuário dos serviços
de saúde, em detrimento a aspectos como falta
de médicos, falta de medicamentos e falta de
espaços nos hospitais. O que se percebe é que
as tecnologias e os dispositivos organizacionais,
sobretudo, numa área como a da saúde, não funcionam sozinhos e sua eficácia é fortemente influenciada pela qualidade do fator humano e do
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
52 | HELENA DAHNE; ALEXANDRA VANTI
relacionamento que se estabelece entre profissionais e usuários no processo de atendimento, o que chamamos de humanização do atendimento.
O grande número de iniciativas de humanização em andamento nos hospitais de todo o
Brasil, das mais simples às mais criativas e complexas, demonstra que a necessidade de mudança na forma de gerir a relação entre usuário e
profissional da saúde e na forma de gerir a própria instituição de saúde vem sendo amplamente reconhecida.
A humanização do atendimento trabalha
mais fortemente com aspectos como a valorização da dimensão humana e subjetiva, presente
em todo o ato de assistência à saúde.
Benefícios esperados
OBJETIVOS QUE A AÇÃO/PROJETO
SE PROPÕE ALCANÇAR
AÇÕES DESENVOLVIDAS,
CONTEÚDOS TRABALHADOS
E METODOLOGIA APLICADA:
CONTEÚDOS TRABALHADOS
Objetivo geral
Garantir a excelência dos serviços, de maneira personalizada, humanizada e sistemática,
assegurando a satisfação dos clientes internos e
externos.
–
–
–
–
–
–
Gestores
–
–
–
–
Objetivos específicos
–
–
–
–
–
–
–
Alcançar metas de resultados estabelecidos;
Tornar-se referência no atendimento;
Fidelizar o cliente;
Alcançar 100% de satisfação do cliente no atendimento;
Utilizar os clientes como agentes multiplicadores dos serviços da Instituição;
Qualificar a equipe de profissionais no
atendimento humanizado;
Reforçar o enfoque sistêmico institucional.
Mudança comportamental nas pessoas, tendo maior comprometimento
com a humanização e valorizando o
potencial criativo;
Equipe de líderes qualificada, viabilizando uma maior satisfação e motivação de seus funcionários;
Melhor identificação das necessidades
e satisfação dos clientes (cliente, funcionário, usuário, médicos, comunidade e fornecedores);
Maior comunicação entre as áreas;
Maior captação e fidelização de clientes;
Melhoria nos resultados da instituição.
–
Análise de cenários internos e externos;
Análise do negócio;
Avaliação de desempenho;
Gestão de pessoas – liderança, equipe;
Comunicação gerencial humanizada e
atitude de propriedade de gestão.
Líderes
Módulo I
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
–
–
–
–
Mercado atual;
Valorização pessoal e profissional;
Fundamentos da liderança;
Trabalho em equipe.
GARANTIA DA
–
–
–
–
Avaliação de desempenho;
Comunicação verbal e não verbal – ferramentas da comunicação;
Postura profissional;
Atendimento humanizado ao cliente;
Responsabilidades do líder: treinamento, reuniões, administração de conflitos, como conduzir a equipe em fase
de mudança;
Melhorias a serem implantadas, na equipe, para o bom desempenho do atendimento humanizado.
Operadores
Módulo I
–
–
–
–
Mercado atual;
Competências e habilidades do profissional da área da saúde;
Atendimento humanizado ao cliente;
Trabalho em equipe.
–
Módulo II
–
–
–
–
–
Tipos de comunicação – comunicação
verbal e não verbal;
Consenso;
Postura humanizada no atendimento;
Melhorias a serem implantadas na equipe para o bom desempenho do atendimento humanizado;
Motivação.
–
Profissionais da área assistencial, líderes e operadores: enfermeiros, técnicos de enfermagem, nutricionistas,
atendentes de nutrição, fisioterapeutas,
assistentes sociais, médicos e bioquímicos, técnicos de RX, e
Profissionais da área administrativa, líderes e operadores: recepcionistas,
caixas, auxiliares de serviços gerais,
auxiliar de laboratório, vigilantes, porteiros e telefonistas.
Durante todo o projeto, houve participação, tanto de Gestores como Diretores de Hospital, Diretor Geral e Diretor Médico, como também trabalhadores e usuários.
O projeto teve o seu início com o grupo de
Gestores da Instituição, trabalhando o aperfei-
METODOLOGIA
O treinamento foi teórico e prático, envolvendo conteúdos teóricos com a distribuição de
uma apostila, simulações e dinâmicas de grupo.
BOLETIM
| 53
A sala de aula tem capacidade para 30 pessoas, onde as cadeiras são móveis para facilitar
os trabalhos em grupo. Além disso, as salas de
treinamento têm os seguintes recursos audiovisuais: DataShow, retroprojetor, vídeo, TV, flipchart, computador e aparelho de som.
Cada turma recebeu uma carga horária de 8
horas/aula, distribuídas nos seguintes turnos: manhã, tarde e noite. As inscrições foram realizadas
pelos próprios funcionários dentro da sua jornada de trabalho. Para fins de melhor desenvolvimento do conteúdo programático, em cada hospital, foi desenvolvida uma média de 12 turmas.
O público atingido por este projeto foi de
3.034 funcionários, dos seguintes hospitais: Hospital Santa Rita, Hospital da Criança Santo Antônio, Hospital Dom Vicente Scherer, Hospital São
Francisco, Hospital Pereira Filho e o Hospital São
José, sendo estes hospitais unidades da Irmandade
da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
Os funcionários contemplados com este
projeto pertencem às seguintes categorias profissionais:
Módulo II
–
–
EXCELÊNCIA DOS SERVIÇOS
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
54 | HELENA DAHNE; ALEXANDRA VANTI
penho, e efetivando as melhorias necessárias e imediatas;
2ª - Encaminhamento ao instrutor dos
quesitos sugeridos pelos participantes,
que, por sua vez, elabora um plano de
ação com as modificações propostas
para o atendimento das necessidades
dos participantes do treinamento.
çoamento das técnicas de gestão. Desde o primeiro encontro, o enfoque de humanização
predominou em relação aos conteúdos trabalhados.
Quanto aos trabalhadores, 100% participaram deste projeto. Em relação aos usuários,
tivemos duas linhas de ação:
1ª linha: aplicação de uma pesquisa pré e
pós-treinamento aos clientes dos diversos hospitais, com relação à satisfação do atendimento, e
2ª linha: participação dos clientes em treinamentos, dando depoimentos de suas
satisfações e sugestões de melhorias
para os funcionários, com relação ao
atendimento aos usuários e clientes internos.
RESULTADOS QUALITATIVOS
E QUANTITATIVOS
Em todos os eventos de treinamento, foi
aplicada a avaliação de reação, sendo que os
participantes registraram a sua opinião através
de um conceito (a desejar, regular, bom, muito
bom e ótimo) quanto aos aspectos: da organização (ambiente físico, equipamentos, material e carga horária), metodologia (aplicabilidade
e seqüência dos assuntos tratados), desempenho (do instrutor e o nível de aproveitamento
do participante), assim como o grau de satisfação do participante em relação ao treinamento. A avaliação foi finalizada com um campo
destinado a sugestões/melhorias informadas
pelos participantes. No caso de sugestões aos
instrutores, existiram duas formas de encaminhamentos de melhorias:
1ª - Feedback diretamente ao instrutor ao
final da aula, a respeito do seu desem-
Quando os contratos de treinamento não
atingirem a meta estabelecida, são realizadas
reuniões com as chefias para análise do cumprimento.
O monitoramento do grau de satisfação do
cliente externo, realizado mensalmente, onde
as melhorias são efetuadas juntamente com as
áreas que apresentam defasagem nos resultados, em comparação à meta estipulada, é um
item de controle do Departamento de Desenvolvimento de Recursos Humanos.
Um dos aspectos que consideramos inovador, neste projeto, é a preocupação em capacitar e instrumentalizar os funcionários como
multiplicadores dos conteúdos recebidos em
treinamento, para que, assim, todos tenham o
mesmo conhecimento da linguagem a ser utilizada no atendimento humanizado aos clientes.
Outro aspecto a ser destacado é que, em
todos os treinamentos realizados, houve um
comprometimento da liderança no desenvolvimento dos trabalhos. Em cada turma, registrou-se um contrato de treinamento com os
profissionais e lideranças, com o intuito de
monitorar resultados e realizar melhorias em
diversos indicadores pertinentes em cada hospital. Estes resultados foram avaliados após um
período de 30 e 60 dias posteriores à realização do treinamento, confirmando, assim, a real
eficácia dos resultados do treinamento.
Para complementar, a constante revisão
dos processos, através de reuniões sistemáticas, na relação cliente x instituição, formatan-
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
GARANTIA DA
do os formulários de procedimentos operacionais padrão, visando a dar agilidade e assistência
no processo de atendimento aos clientes.
As melhorias e inovações são implementadas a partir da revisão do não atingimento das
metas estabelecidas, tendo como a base a realização de planos a partir da revisão do não atin-
EXCELÊNCIA DOS SERVIÇOS
| 55
gimento das metas estabelecidas, feedback dos
participantes de treinamentos a respeito de conteúdos desenvolvidos, retorno do cliente através das pesquisas realizadas com os mesmos,
considerando a sua satisfação e observações.
Abaixo alguns resultados quantitativos de alguns hospitais já trabalhados com este projeto:
TABELA 1 – RESULTADOS DO HOSPITAL SANTA RITA
Grau de satisfação do treinamento: 93,20%
Meta: 90%
Pré-treinamento
Pós-treinamento
Média horas treinamento por funcionário
2,56
6,36
Média de permanência
8,37 dias
7,92 dias
Média da taxa de ocupação
80,90% mês
84,04% mês
Pesquisa com funcionários:
Em relação ao atendimento
Em relação ao relacionamento da equipe
70,52% MB + Ótimo
55,04% MB + Ótimo
91,11% MB + Ótimo
88,65% MB + Ótimo
84,07% MB + Ótimo
91,52% MB + Ótimo
79,72% MB + Ótimo
100% Sim
93,64% MB + Ótimo
100% Sim
Pesquisa com pacientes:
Sentiu-se bem atendido, na recepção e portaria?
Sentiu-se bem atendido na enfermagem, nutrição e
hospedagem?
Voltaria a utilizar nossos serviços?
TABELA 2 – RESULTADOS DO HOSPITAL DA CRIANÇA SANTO ANTÔNIO
Grau de satisfação do treinamento: 89,69%
Meta: 90%
Pré-treinamento
Pós-treinamento
Média da taxa de ocupação
86,37%
89,50%
Média da taxa de absenteísmo
2,09%
1,96%
Pesquisa com funcionários:
Em relação ao atendimento
Em relação ao relacionamento da equipe
71,58%% MB + Ótimo
66,36% MB + Ótimo
76,54% MB + Ótimo
85% MB + Ótimo
74,37% MB + Ótimo
100% MB + Ótimo
82,97% MB + Ótimo
86,59% Sim
92% MB + Ótimo
100% Sim
Pesquisa com pacientes:
Sentiu-se bem atendido, na recepção e portaria?
Sentiu-se bem atendido na enfermagem, nutrição e
hospedagem?
Voltaria a utilizar nossos serviços?
TABELA 3 – RESULTADOS DO CENTRO DE INTEGRAÇÃO DE EMERGÊNCIAS MÉDICAS HOSPITAL DA CRIANÇA SANTO ANTÔNIO E HOSPITAL DOM VICENTE SCHERER
Grau de satisfação do treinamento: 90,13%
Meta: 90%
Resultado da Pesquisa
Pesquisa com pacientes:
Sentiu-se bem atendido, no estacionamento, em relação à cordialidade?
Sentiu-se bem atendido no estacionamento, em relação às informações dadas?
Sentiu-se bem atendido na recepção, em relação à rapidez?
Sentiu-se bem atendido na recepção, em relação à cordialidade?
BOLETIM
96,67% Sim
96,67% Sim
96,67% Sim
98,33% Sim
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
56 | HELENA DAHNE; ALEXANDRA VANTI
POSSIBILIDADE DE CONTINUIDADE
E/OU AMPLIAÇÃO DA INICIATIVA
REFERÊNCIAS
BROOKS, Willian T. Vendas de alto impacto. São Paulo:
O projeto está contemplado no plano de ação
do ano de 2004/2005, do Departamento de Desenvolvimento de Recursos Humanos, já aprovado pela direção, garantindo, assim, sua continuidade. Outros aspectos são as avaliações positivas, tanto dos funcionários como dos clientes, e
os resultados obtidos em 2003, garantindo a manutenção e operacionalização do projeto.
É importante salientar que este projeto atinge a todos os funcionários e clientes de todos os
convênios, incluindo principalmente SUS, que é
o nosso maior público assistido.
Na continuidade, em abril/04, iniciaremos,
no Hospital Policlínica Santa Clara, pois este ainda
não foi contemplado como os demais hospitais
do Complexo. Para este hospital, atingiremos um
número de 850 funcionários, de todas as áreas,
com os mesmos conteúdos acima abordados.
No término do treinamento neste hospital,
faremos uma reciclagem sistemática em todos
os hospitais do Complexo, como forma de aprimoramento dos profissionais, assim como para
assegurar a satisfação dos clientes externos, dentro das metas de satisfação estabelecidas.
Cabe ao Departamento de Desenvolvimento de Recursos Humanos – DDRH, a missão de
promover o desenvolvimento de recursos humanos da instituição, mediante ações de apoio
e educação continuada, visando à satisfação das
necessidades de crescimento pessoal, técnico e
científico, para efetivar a melhoria contínua dos
resultados na busca da excelência dos serviços.
Assim, de acordo com o planejamento estratégico de treinamento e desenvolvimento para
2004/2005, desenvolveremos e reforçaremos o
atendimento em todos os hospitais, para que,
assim, possamos garantir a excelência dos serviços prestados aos usuários de todas as classes
sociais, de uma forma humana e padronizada.
McGraw-Hill, 1989.
CALDERARO, Marta. Etiqueta e boas maneiras. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1983.
GESTÃO do Conhecimento. Rio de Janeiro: Campus,
2000.Harvard Bussines Review.
IRMANDADE DA SANTA DE MISERICÓRDIA DE PORTO ALEGRE. Relatório anual 2002. Porto Alegre, 2003.
JALOWITZK, Marise. Manual comentado de jogos e técnicas vivenciais. Porto Alegre: Sulina, 1998.
KIRBY, Andy. 150 jogos de treinamento. São Paulo:
T&D, 1992.
MILITÃO, Albigenor; MILITÃO, Rose. Jogos, dinâmicas
e vivências grupais. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1999.
MOSCOVICI, Felá. Equipes dão certo. Porto Alegre:
José Olympio, 1994.
NOBRE, J. A. Sua excelência o cliente. Porto Alegre:
RH, 1999.
. Escola de resgate de líderes. Porto Alegre:
Literalis, 2002.
RIBEIRO, Célia. Boas maneiras e sucesso nos negócios. Porto Alegre: L&PM, 1993.
SILVEIRA NETO, Fernando Henrique. Outra reunião?
São Paulo: COP, 1992.
WHITELEY, Richard C. A empresa totalmente voltada
para o cliente. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
XAVIER, Ricardo de Almeida Prado. Você S.A. Rio de
Janeiro: STS, 2000.
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
HUMANIZAÇÃO EM AÇÃO: SENSIBILIZANDO
OS PROFISSIONAIS PARA O PROCESSO
DE HUMANIZAÇÃO
HUMANIZATION IN ACTION: SENSITIZING PROFESSIONALS TO
THE HUMANIZATION PROCESS
Antônio Joesting Siedler
Administrador adjunto da SCMP, especialista em Administração Hospitalar
Dirce Stein Backes
Gerente do Serviço de Enfermagem da SCMP, mestre em Enfermagem
Inês Munari Palomino
Responsável técnica pelo Serviço de Nutrição da SCMP, especialista em Administração Hospitalar e Serviços de Saúde
Margarete Bicca Lemos
Responsável técnica pelo Serviço de Farmácia da SCMP
Olinda Prestes
Contadora Geral da SCMP, especialista em Administração Hospitalar - PVC. Administração Hospitalar
Endereço: Praça Piratinino de Almeida, 53 - Centro - 96015-290 Pelotas RS. Telefone: 284.4700-707;
E-mail: [email protected]
RESUMO
O Grupo de Humanização da Santa Casa de Misericórdia,
fundado em junho de 2003, visa a criar condições no espaço
coletivo para a sensibilização e qualificação das relações de
trabalho entre os profissionais e, conseqüentemente, qualificar
e humanizar a assistência aos usuários. Formado por 18
profissionais da equipe multiprofissional, o grupo buscou,
juntamente com a administração do hospital, estabelecer
eventos participativos e dinâmicas interativas com os
funcionários da instituição para dar visibilidade às ações de
humanização já implementadas e reconhecer o significado de
"humanização" no ambiente hospitalar. Verificou-se que
iniciativas aparentemente insignificantes interferem
decisivamente na satisfação e bem-estar dos trabalhadores e
usuários. A humanização, neste sentido, enquanto um conjunto
de valores humanos e éticos, apontará novos caminhos e novas
possibilidades para atingir a qualidade e credibilidade dos
serviços de saúde. O grau de humanização está diretamente
relacionado ao grau de envolvimento e participação dos
funcionários. O trabalho reconhecido e valorizado possibilita
ao ser humano exercer as suas potencialidades criativas, desde
que as condições ambientais e profissionais sejam facilitadas e
estimuladas. Em suma, as energias individuais e grupais, se
canalizadas efetivamente para a concretização de objetivos
institucionais, possibilitam, ao profissional, condições de
explorar as suas potencialidades e criatividade, o que resulta
em realização pessoal, profissional e êxito institucional.
ABSTRACT
The Santa Casa de Misericórdia Humanization Group,
founded in June 2003, aims at creating conditions within the
collective space for the sensitization and qualification of work
relationships among professionals and, consequently, qualifying
and humanizing the users' assistance. Constituted of 18
professionals from the multi-profissional staff, the group,
together with the hospital administration, aimed at establishing
participative events and interactive dynamics with the
employees of the institution so as to provide visibility to the
humanization actions already implemented and acknowledge
the meaning of "humanization" within the hospital
environment. It was noticed that apparently insignificant
iniciatives have decisive influence on the workers and users'
satisfaction and well-being. In this sense, humanization, as a
group of human and ethical values, will point out new ways
and new possibilities to reach quality and credibility in health
services. The humanization level is directly related to the
workers' engagement and participation level. The recognized
and valued work enables the human being to perform his/
her creative potentialities, since the environmental and
professional conditions are facilitated and stimulated. In short,
the individual and collective energies, if really directed towards
the accomplishment of institutional goals, enable the
professional to explore his/her potentialities and creativity,
resulting in personal and professional achievement and
institutional success.
PALAVRAS-CHAVE
Ambiente de trabalho, equipe de saúde, humanização.
KEY WORDS
Job environment, health team, humanization.
58 | ANTÔNIO S IEDLER; DIRCE BACKES ; INÊS PALOMINO
ET AL .
INTRODUÇÃO
Falar em humanização no contexto hospitalar requer dos profissionais uma reflexão sobre o contexto das relações internas e externas
da organização. A humanização, neste sentido,
implica necessariamente na compreensão do
humano em relação ao profissional, ao paciente
e aos seus familiares.
Para desencadear um processo de humanização, pode ser necessária uma mudança na cultura organizacional, sendo importante que, no
ambiente de trabalho, os profissionais tenham
conhecimento de seus pontos fortes e fracos.
É necessário, também, que cada profissional tenha consciência de sua função e saiba o quanto
é importante o compartilhamento de informações no espaço coletivo, para que os resultados
sejam atingidos de forma integrada.
A equipe, quando compartilha o mesmo sonho, supera o individualismo e os desafios da
competitividade. Logo, as chances de sucesso
aumentam, quando o trabalho é compartilhado
e valorizado de acordo com as potencialidades
de cada profissional.
A humanização do ambiente hospitalar requer comprometimento e envolvimento por parte de todos os profissionais da equipe. A transformação do modo assistencial, portanto, somente é possível, a partir de uma sensibilização dos
trabalhadores quanto às atitudes e comportamentos que envolvem o ser e fazer profissional.
Os profissionais, apesar da complexidade
tecnológica crescente, estão cada vez mais à procura de respostas que satisfaçam às necessidades humanas de sensibilidade e respeito à dignidade da pessoa humana. Questionamentos relacionados à crise de significação da vida humana, da ética e da humanização, provocam e interpelam a sua consciência a todo o momento.
Assim, a humanização, mais do que um programa coletivo, requer um processo reflexivo acerca dos princípios e valores que regem a prática
dos profissionais de saúde.
A humanização do ambiente hospitalar começa com a qualidade das relações entre todos
os funcionários. Neste sentido, sensibilizar a equipe significa repensar os valores éticos imbricados
nas múltiplas relações e, dentre elas, no processo
do cuidado, significa, ainda, promover o bem comum acima de interesses individuais.
Desta forma, a proposta de trabalho foi realizada na Santa Casa de Misericórdia, na cidade
de Pelotas, localizada no Extremo Sul do Rio Grande do Sul. Fundada em 1847, presta serviços de
saúde à comunidade local e regional. Trata-se de
um hospital geral de caráter filantrópico, sem
fins lucrativos, com mais de 60% de seus leitos
destinados aos usuários do Sistema Único de
Saúde. Tem por missão: “prestar assistência de
excelência e referência na área da saúde, proporcionando uma melhor qualidade de vida para
a população da Região Sul do Rio Grande do Sul,
através da utilização dos recursos disponíveis na
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
HUMANIZAÇÃO EM AÇÃO: SENSIBILIZANDO
| 59
papel de sujeitos da produção de sua inteligência em relação à temática.
Os profissionais, a partir de dinâmicas interativas e oficinas de sensibilização, entendem que
a humanização significa aliar competência técnica à ternura humana e permitir que o coração
se manifeste nas relações de trabalho do dia-adia. Representa, ainda, um espaço de solidariedade, respeito, diálogo, preocupação com o
outro, assim como de promoção de relações
mais efetivas entre os colegas, considerando o
paciente como a razão de ser da existência do
hospital. Neste sentido, o processo de sensibilização é fundamental para humanizar as relações
dos profissionais entre si e, conseqüentemente,
destes com os pacientes.
Promover um processo de humanização,
neste contexto, não consiste em mágica extraordinária ou no investimento de custos elevados para a instituição. Muito mais do que mudanças e adaptações do ambiente físico, são necessárias mudanças de comportamento humano, o que parece, hoje, fazer a grande diferença
na prestação de serviços.
Assim, é preciso ter presente o fator humano como fonte de relação, reflexão, ação e
humanização. Iniciar o processo de humanização na instituição, a partir da sensibilização dos
profissionais e gestão, representou, para mim,
pesquisadora, um grande desafio e, ao mesmo
tempo, uma grande meta para a equipe de humanização: sensibilizar a equipe internamente,
criar vínculos de coesão e convicção entre os
integrantes e criar uma relação de respeito consigo mesmo e com o outro, ou seja, humanizar
as relações entre os integrantes da própria equipe se constituiu em um pressuposto de mobilização coletiva.
O processo de humanização passa necessariamente pela percepção do ser humano em
todas as suas dimensões e manifestações. Os laços afetivos tornam as pessoas e as situações
atual infra-estrutura e, através do compromisso
de atualizar as tecnologias, para suprir as mudanças sociais, garantindo a continuidade no
desenvolvimento da instituição”. Os princípios
para o cumprimento da Missão primam por:
“respeitar o ser humano e seus direitos; seriedade e qualidade na prestação dos serviços ao
paciente; garantir a privacidade do paciente e o
sigilo profissional; reconhecer os recursos humanos como fator gerador de qualidade; valorização do corpo clínico; vanguarda tecnológica;
preservar e reinvestir no patrimônio”. A instituição possui, no seu quadro profissional, mais
de 800 funcionários, distribuídos nas áreas administrativas, assistenciais e de apoio.
OBJETIVO
Construir e estimular um espaço coletivo
para reflexão, sensibilização e expressão de
eventos e dinâmicas interativas e criativas com
todos os profissionais e colaboradores, afim de
integrá-los e motivá-los para o processo de humanização.
HUMANIZAÇÃO NO
AMBIENTE HOSPITALAR
Desencadear um processo de mobilização
coletiva para a produção de conhecimento em
um determinado foco supõe, de acordo com
Silva (1996), um jogo tático por parte dos organizadores para envolver e estimular a participação dos trabalhadores no processo de sensibilização coletiva. Produzir conhecimento de forma democrática e coletiva sobre a humanização
pressupõe, neste contexto, estabelecer um processo educativo dinâmico, criativo, participativo e sistemático do conhecimento, afim de que
os trabalhadores assumam efetivamente o seu
BOLETIM
OS PROFISSIONAIS PARA O PROCESSO DE HUMANIZAÇÃO
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
60 | ANTÔNIO S IEDLER; DIRCE BACKES ; INÊS PALOMINO
ET AL .
preciosas, humanas e portadoras de valores éticos e humanos. Contudo, é preciso criar um
espaço para a expressão de sentimentos, porque é, na sua manifestação, que o ser humano
se torna sensível ao que está à sua volta. Corroborando com a idéia, Boff (1999) lembra que é
o sentimento que nos une às coisas e nos envolve com as pessoas e suscita abertura e acolhimento do diferente.
Em suma, muito mais do que a competência
técnica, é preciso dar ênfase ao ser e ao fazer
profissional, à ética, ao respeito e à dignidade da
pessoa humana. Portanto, todas as iniciativas são
válidas, quando se fala em humanização, desde
que haja sensibilidade e envolvimento dos profissionais das diversas áreas de atuação.
Com o intuito de mobilizar todos os trabalhadores para a importância do processo de humanização no hospital, foram estimuladas diversas atividades interativas de valorização pessoal
e participação coletiva, na expectativa de aproximar os setores, fortalecer as relações de equipe, agregar valores, reconhecer os trabalhos de
humanização e debater sobre suas ações já implementadas pela equipe de humanização.
Assim, a “Humanização em Ação” foi o tema escolhido para nortear os trabalhos da VI Semana
de Enfermagem, o I Fórum de Humanização e o
Concurso de Redações desenvolvidos na semana de 15 a 20 de maio de 2004, na Santa Casa de
Misericórdia de Pelotas.
AÇÕES IMPLEMENTADAS
Semana de Enfermagem
Por ocasião da V Semana de Enfermagem,
para potencializar qualidades pessoais e coletivas, as equipe de cada setor buscaram demonstrar, de forma criativa, dinâmica e comprometida, atividades de humanização que já vinham
sendo desenvolvidas em cada área específica do
hospital, com o tema: Humanização em Ação.
As expressões e manifestações dos profissionais
foram as mais diversificadas possíveis. Um clima
de satisfação, integração e participação tomou
conta do ambiente e de todos os participantes.
O evento foi destinado aos colaboradores de
todos os setores do hospital. Na ocasião, foram
apresentados trabalhos científicos, artesanais e
audiovisuais, além das conquistas e melhorias já
alcançadas na assistência a pacientes.
Concurso de redações
O concurso de redações que contou com a
participação de um número significativo de funcionários, dos mais diversos setores do hospital. O grau de instrução dos participantes variou
entre 1a grau incompleto à pós-graduação, sendo que os três primeiros classificados possuíam
2o grau completo. Para tornar a atividade ainda
mais atraente, a equipe indicou uma comissão
avaliadora, com o objetivo de classificar as dez
melhores redações a serem premiadas. Os critérios de avaliação basearam-se, fundamentalmente, na profundidade, clareza e objetividade
na abordagem do tema.
A divulgação dos resultados foi realizada
com um ato solene, no Auditório, com a presença e apoio da Direção e Provedoria do Hospital. As redações classificadas foram lidas para
os participantes e, após, premiadas. Neste sentido, o evento se constituiu em um espaço altamente educativo, participativo e de valorização
das potencialidades e habilidades dos profissionais. Buscou-se a conscientização dos trabalhadores acerca da humanização, no sentido de
proporcionar um processo estimulador, criativo, crítico e inovador, por se ter presente que,
quanto mais o trabalhador for levado a refletir
sobre a sua situacionalidade, mais emergirá dela
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
HUMANIZAÇÃO EM AÇÃO: SENSIBILIZANDO
| 61
com uma história, cada um com uma necessidade
de carinho, um cuidado diferenciado, mas todos
possuem um único objetivo, a vida. (Porteiro)
conscientemente, carregado de compromisso
com sua realidade, da qual não deve ser simples
espectador, mas ator e sujeito de transformação.
A profundidade do tema abordado retratou inúmeras concepções e entendimentos quanto ao
enfoque da humanização. Enquanto alguns descrevem a humanização centrada no paciente,
outros focalizam a humanização no trabalhador e
outros, ainda, nas condições de trabalho.
O primeiro classificado do concurso, funcionário com apenas um mês de serviço na instituição, do setor da portaria, reportou-se, inicialmente, como leigo na Instituição, para a sua visão de
funcionário do hospital. Valem destacar, neste sentido, a sua capacidade de análise, observação e
reflexão acerca do tema. Enquanto outros, talvez, necessitassem muito tempo para perceber a
importância da temática, este profissional visualizou uma forte relação e integração entre todos
os setores, que, no seu ponto de vista, significa
humanização.
A segunda classificada, funcionária com vários anos de trabalho na instituição, reportou-se à
humanização de forma crítica e provocadora.
A partir de uma leitura da realidade global, relaciona humanização com a tecnologia, com o materialismo desenfreado e o individualismo crescente.
Humanização não são
palavras, mas atitudes
Numa época em que há o risco de as pessoas se
transformarem em meio a tanta miséria humana, é comum nos depararmos com notícias tipo:
“filho mata os pais”, “tênis da onda” é motivo
de cobiça nas ruas, sem falar que nos assustamos até com um bom dia despretensioso, dado
por um desconhecido na rua, achando que é assalto e não sinal de boa educação.
Que mundo “meu Deus”, em que o poder aquisitivo de uns é um insulto para outros! E nesse
tumulto de falsos valores, busca-se, hoje, urgentemente, uma palavra esquecida pela correria
diária “A humanização”. Para uns, palavra de significado desconhecido, para outros, a salvação
das gerações futuras.
Será que no meio de tantos gestos automatizados, cronometrados, ela terá espaço? Certamente,
quando o relógio despertar, anunciando a largada de um novo dia, para uma corrida tão cheia de
obstáculos que virou nossas vidas, nos conscientizaremos. (Técnica de Enfermagem)
Humanização já!
Ambiente frio, marcado pelo medo, pela dor e
pelo sofrimento. Esta é a visão, que muitas pessoas possuem de um hospital; esta é a visão de
quem vê um hospital pelo lado de fora.
Ao passar da portaria, a pessoa que pensa isso
muda completamente. O ambiente aquece com
o calor humano, o medo dá lugar à calma, a
dor, ao alívio e o sofrimento, à esperança.
Em um hospital, é necessária e fundamental a
humanização. É preciso dar condições para que
pacientes e familiares sintam-se bem mediante a situação em que se encontram.
Dos médicos aos porteiros, dos diretores aos
copeiros, da higienização aos enfermeiros, enfim, a humanização deve partir de todos os que
fazem esta “cidade” à parte funcionar.
Esta “cidade” tem vários “moradores”, cada um
BOLETIM
OS PROFISSIONAIS PARA O PROCESSO DE HUMANIZAÇÃO
Fórum de Humanização
O Fórum de Humanização, com o tema
Humanização em Ação, objetivou dar visibilidade às atividades do Grupo de Humanização, bem
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
62 | ANTÔNIO S IEDLER; DIRCE BACKES ; INÊS PALOMINO
ET AL .
como abrir e estimular um espaço coletivo para
o debate e troca de experiências a respeito do
processo de humanização vigente na instituição.
Realizado no dia 12 de maio, o evento lotou o
Auditório do Hospital. Os participantes, trabalhadores e colaboradores de diferentes setores
demonstraram intensa participação, integração
e satisfação.
Dia do Abraço
O abraço emerge do próprio ato de existir no mundo com os outros, porque não existimos, coexistimos e convivemos com as realidades mais imediatas. Assim, é um sentimento que perpassa todo o ser. Contudo, perdeuse, em parte, a visão do ser humano como um
ser de relações ilimitado, ser de criatividade,
de ternura e de cuidado. Para tanto, mostrase pertinente à assertiva de Boff (1999), quando enfatiza que é imprescindível, no contexto
da humanização, construir o mundo pessoal e
coletivo, a partir de laços afetivos que tornam
as pessoas e as situações preciosas, portadoras de valor. O abraço é, portanto, um destes
atos que revela a capacidade do ser humano
de se emocionar, de se envolver e se comprometer afetivamente. O ser humano pode modificar o seu meio e modificar-se a si mesmo
(KANAANE, 1994).
Deste modo, foi criado e incentivado o Dia
do Abraço no hospital, sempre aos dias 17 de
cada mês, com divulgação prévia, com o intuito
de estreitar os vínculos humanos e profissionais
entre os diversos setores. A data foi escolhida
aleatoriamente pela equipe, e a idéia foi bem
aceita por todos, sendo que a mobilização da
proposta se deu de forma espontânea e voluntária entre os trabalhadores, inclusive pacientes.
Inicialmente, chamaram a atenção da equipe as
diferentes expressões e respostas ao abraço.
Abraço do tamanho da Santa Casa
Também foi lançada a idéia do Abraço à
Santa Casa, como reflexo do Dia do Abraço, em
comemoração aos 157 anos. O ato simbólico
reuniu funcionários e familiares, pacientes e
também pessoas que passavam pela rua no momento. O gesto se revestiu de uma intensa
emoção e alegria. O evento surpreendeu a todos, principalmente pelo número de participantes, que superou a expectativa de todos os integrantes que, entre funcionários, dirigentes,
médicos, familiares, fornecedores e comunidade em geral, somaram aproximadamente 700
pessoas. Após o ato simbólico, o provedor da
instituição cortou o bolo dos 157 anos ao som
do “Parabéns a você”, na voz do Coral da Santa Casa, que também apresentou canções de
autoria própria.
A humanização, neste contexto, encontra
uma resposta em Silva (2000, p.88), quando diz
que precisamos “viver a vida com a compreensão de que cada dia é único, não guardando nada
para uma ocasião especial”. Todo dia, de fato, é
uma ocasião especial. Deste modo, as relações
humanas são especiais e possibilitam compreender a força que há num toque, num abraço e num
gesto de acolhida. Para tornar as relações humanas especiais, bastam pequenos reconhecimentos, pequenos gestos e pequenas relações de cuidado. O abraço, neste aspecto, possui um sentido de vínculo e de integração. O Abraço na Santa
Casa, em síntese, superou as barreiras físicas,
culturais, profissionais, sociais e históricas e atingiu um nível mais profundo de compromisso.
Concurso de frases envolvendo
todos os profissionais
O grupo de apoio da Santa Casa de Misericórdia premiou, por ocasião das comemorações
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
HUMANIZAÇÃO EM AÇÃO: SENSIBILIZANDO
–
–
| 63
emocionante, o Provedor do hospital entregou
diplomas de “Funcionário Destaque” a cada um
dos escolhidos entre os setores e serviços do
hospital. Durante a solenidade, houve muita
emoção, desabafos e descontração.
dos 157 anos, as três melhores frases em resposta à pergunta: o que a Santa Casa de Misericórdia de Pelotas representa para você?
Apesar da simplicidade na expressão dos
sentimentos, as frases sintetizaram todos os ideais
que o hospital carrega nestes 157 anos de luta em
favor da saúde da população. Confira as três frases premiadas:
–
OS PROFISSIONAIS PARA O PROCESSO DE HUMANIZAÇÃO
Atendimento humanizado ao telefone
A luta pela vida, a fé de um novo dia e a
esperança de um dia melhor;
Instituição soberana que, com sua
imensa acolhida, alivia a dor de quem,
com esperança, vem em busca da cura;
Santa Casa – sabedoria para ensinar, coragem para lutar, esperança no amanhã
e a certeza de que somos uma grande
família.
Tendo presente que a comunicação eficaz e
eficiente é um elemento determinante no processo de humanização, o grupo de humanização
estabeleceu critérios objetivos para o atendimento do telefone na instituição, a começar pela identificação do setor, nome do funcionário e cumprimento. O atendimento humanizado ao telefone visa a estreitar e qualificar as relações entre a
equipe multiprofisisonal, usuários e comunidade.
Jubilados recebem medalha
de reconhecimento
Banco de Idéias
A criação do Banco de Idéias foi uma iniciativa do grupo de humanização, com o objetivo de
estimular a participação da coletividade no processo de humanização, através de sugestões,
e/ou idéias. No entanto, em vez de idéias e sugestões, o espaço foi ocupado, também, para
reivindicações e/ou questionamentos relacionados à temática da humanização.
Como forma de agradecimento e reconhecimento aos colaboradores com uma “história de
vida e dedicação” na instituição, a administração
da Santa Casa de Misericórdia resgatou um “evento histórico”, já realizado, por diversas vezes, há
alguns anos, condecorando os funcionários e
médicos com 25 anos ou mais de serviços prestados ao hospital. Os 76 jubilados foram homenageados com a medalha “Trabalho e Caridade”,
em solenidade realizada por ocasião das celebrações dos 157 anos da instituição.
Festival de Talentos
Integrando a Semana da SIPAT, o grupo de humanização buscou, de forma integrada e criativa,
valorizar os talentos musicais, teatrais, audiovisuais
e culturais dos trabalhadores e colaboradores pertencentes aos diversos setores. Para estimular e recompensar os “talentos destaques”, foram entregues premiações e lembranças de acordo com a classificação dos participantes.
Funcionários Destaque da Santa Casa
Atendendo a uma das sugestões expressa
pelos funcionários no “Banco de Idéias” e, para
tornar a semana de comemorações do aniversário dos 157 anos da Santa Casa ainda mais
BOLETIM
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
64 | ANTÔNIO S IEDLER; DIRCE BACKES ; INÊS PALOMINO
ET AL .
Brechó
BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Nacional de
Humanização da Assistência Hospitalar - PNHAH.
Tendo em vista que a humanização pressupõe
gestos solidários concretos, o grupo de humanização, conjuntamente com os Sipeiros 2004 e Associação de funcionários, estimulou a “doação”, entre
os funcionários, médicos e colaboradores, de utensílios e vestuários que, posteriormente, foram vendidos por um valor simbólico, com o objetivo de
angariar fundos para a realização da SIPAT 2004.
2. ed. Brasília, DF, 2002.
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE PELOTAS. Compromisso da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas. Pelotas, 2004. Registrado no Serviço Notorial e Registral Rocha
Brito, nº 82.390, f. 183, livro nº “A” 5 de 15 jan. 2004.
KANAANE, R. Comportamento humano nas organizações: o homem rumo ao século XXI. São Paulo: Atlas, 1995.
RIO GRANDE DO SUL. Secretaria Estadual da Saúde.
HumanizaSAÚDE: Política de Humanização da Assistência à Saúde – PHAS. Porto Alegre: Escola de Saúde Públi-
CONCLUSÃO
ca, 2003. 21 p.
SILVA, M. J. P. Comunicação tem remédio: a comunica-
A humanização em saúde, especificamente no
âmbito hospitalar, envolve, essencialmente, o trabalho conjunto e integrado de diferentes profissionais. O trabalho interdisciplinar, se valorizado e reconhecido, pode favorecer uma multiplicidade de
enfoques e alternativas, para uma compreensão de
aspectos que estão envolvidos no atendimento humanizado ao paciente.
Humanização pressupõe atitudes, valores e
comportamentos, que podem ser traduzidos em
palavras simples: “Bom dia”, “Obrigado”, “Posso ajudar?”, como também, através de um reconhecimento sincero por uma ação desenvolvida. Humanização é permitir que o nosso coração se manifeste
nas relações de trabalho. É a capacidade de ser frágil, poder chorar, sentir o outro, ser vulnerável e, ao
mesmo tempo, ter vigor, resistir, poder traçar caminho e participar efetivamente na concretização
de ações coletivas. Em suma, humanização é favorecer a recuperação da comunicação, da integração
e da participação entre a equipe de profissionais de
saúde e o usuário.
ção nas relações interpessoais em saúde. São Paulo: Gente, 1996.
. O amor é o caminho: maneiras de cuidar. São
Paulo: Gente, 2000.
REFERÊNCIAS
BOFF, L. Saber cuidar: ética do humano – compaixão
pela terra. Petrópolis: Vozes, 1999.
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
HUMANIZAÇÃO: OPÇÃO OU CONDIÇÃO
DE SOBREVIVÊNCIA NA SOCIEDADE
CONTEMPORÂNEA
HUMANIZATION: OPTION OR CONDITION
IN THE CONTEMPORARY SOCIETY
Maria Isabel Barros Bellini
Doutora em Serviço Social pelo Programa de Pós-graduação em Serviço Social da PUCRS, docente da Faculdade de Serviço Social da
PUCRS. Coordenadora do Departamento de Supervisão e Prática da FSS/PUCRS. Coordenadora de Ensino e Pesquisa da Escola de
Saúde Pública/SES/RS, membro da Equipe de Coordenação da Política Estadual de Humanização da Assistência à Saúde ESP/SES,
membro do Comitê Estadual de Humanização/RS
RESUMO
Este artigo trata da Política de Humanização do Atendimento
à Saúde-PHAS, que, em consonância com as diretrizes da
Política Nacional de Humanização - PNH, a Secretaria
Estadual da Saúde/RS propõe inaugurar um novo pacto entre
os sujeitos como forma de resistência a uma realidade que
se caracteriza, segundo Leonardo Boff, pela falta de cuidado,
sendo este o "estigma de nosso tempo". A Política de
Humanização da Assistência à Saúde-PHAS/SES, ao se
preocupar, principalmente, com as práticas profissionais,
reconhecendo suas limitações, estabelecendo novas
prioridades, investindo na criação de novas relações entre
o trabalhador-cuidador e sujeito-usuário, direcionando para
a autonomia de ambos na responsabilidade e no cuidado
com sua ação profissional (trabalhador-cuidador) e com sua
saúde (sujeito-usuário), cuida do cuidador e do cuidado.
ABSTRACT
This article discusses the Humanization Policies of Health
Care (PHAS-SES) planned by the Rio Grande do Sul State
Health Department, in concurrence with the guidelines
of the National Policies of Humanization. The proposal is
to initiate a new pact among subjects as a way of opposing
a reality marked by the lack of care, a "stigma of our times",
according to Leonardo Boff. The proposed policies mainly
focus professional practice, recognizing its limitations,
establishing new priorities, investing in the development
of new worker-carer and subject-user relationships
towards their autonomy as to responsibility and care of
their professional action (worker-carer) and their health
(subject-user), taking care both of the carer and the subject
who is cared for.
PALAVRAS-CHAVE
Cuidadores, humanização, prática profissional.
KEY WORDS
Carers, humanization, professional practice.
66 | MARIA ISABEL BARROS BELLINI
INTRODUÇÃO
[...] o que me surpreende é que, em nossa sociedade, a arte somente tenha relação com os
objetos, e não com os indivíduos ou com a vida;
e também que a arte seja um domínio especializado, o domínio dos especialistas que são
artistas. Mas a vida do indivíduo não poderia
ser uma obra de arte? Por que uma mesa ou
uma casa são objetos de arte, e não nossa vida?
(FOUCAULT)
“Por que uma mesa ou uma casa são objetos de arte, e não nossa vida?” Com essa indagação, Foucault remete-nos a refletir sobre as relações humanas nessa sociedade que vivemos.
Sociedade plena de contradições. Identificada como a sociedade do conhecimento e das novas tecnologias da comunicação, armou para si
um arcabouço de possibilidades que, por não libertá-la, aprisionou em espaços minúsculos, escravizando-a a necessidades materiais, a aparelhos eletrônicos que substituem pessoas e afetos.
Os sintomas dessa sociedade se manifestam
de diversas formas, seja pelo descuido, pelo
abandono, pelo consumismo exacerbado, valorização do ter e não do ser, pelo descaso com a
natureza, pela banalização do sofrimento do
outro, pela impunidade, pela extrema desigualdade social...
Desigualdade social essa que penaliza de
forma desumana populações inteiras, reiteran-
do a lógica da destituição e privação de direitos,
alimentada por um sistema que sabe produzir,
mas que não distribui de forma justa, provocando o desemprego, corroendo o meio-ambiente, arrasando possibilidades de inserção social
de contingentes humanos.
No Brasil, diariamente somos invadidos por
manchetes que anunciam o crescimento desenfreado da criminalidade e da violência, o aumento
do desemprego, a corrupção em segmentos diversos, a vitimização cada vez mais evidente da
juventude, o empobrecimento generalizado...
Neste caldeirão de evidências negativas, emergem soluções que são simplificações ideológicas,
se expressam na solicitação da construção de mais
cadeias, mais hospitais, mais instituições de contenção, redução da idade de responsabilidade criminal,... (DOWBOR, 2005) e, em muitos casos,
há sugestão da criação da pena de morte no Brasil.
Algumas dessas soluções, por muitas décadas, foram utilizadas e demonstraram não serem eficazes e, até, podemos afirmar que participaram na
construção dessa sociedade que aí está, agonizante, solitária e destruidora de potenciais.
Frente a esse quadro de penúria, a sociedade reage e, em um movimento de contranitência, tem buscado, nas utopias, o equilíbrio para
enfrentar uma realidade mesclada tanto de violências como de projetos plenos de solidariedade. Mais do que discursos ou desejos, são necessárias novas ações, novas práticas, novos olhares. Plastino (2001, p.45) afirma que:
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
HUMANIZAÇÃO:
OPÇÃO OU CONDIÇÃO DE SOBREVIVÊNCIA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
A formação dos profissionais de saúde, em que
pesem todos os esforços do projeto de integralidade e de humanização, continua fortemente marcada pela hegemonia do positivismo e das teorias mecanicistas que tratam o
doente como um corpo e um corpo como um
dispositivo bioquímico funcional. No mais profundo da práxis do setor, persiste um menosprezo pelo enfermo como um portador de liberdade e de autodeterminação.
Não é suficiente denunciar as múltiplas tragédias que nos ameaçam; é preciso criticar e
ultrapassar a perspectiva sobre a qual se sustenta a onipotência predatória da espécie, alicerçada na produção imaginária que separa
a natureza da cultura e nosso corpo de nossa
psique.
Sem a utopia, só haveria espaço para sofrimento, desespero e angústia. A ética se prostraria desesperançada e a própria existência humana perderia seu sentido. A existência, sem
utopia, sem projeto, é uma existência sem sentido, sem futuro, é terminal.
Algumas respostas têm sido construídas e
práticas concretas dão visibilidade ao que ainda há de humano no ser humano. Para Dowbor (2005), as soluções passam pelo investimento no ser humano, na sua formação e no
envolvimento de tudo que diga respeito a ele,
na saúde, no lazer, na cultura, na informação.
Nesta perspectiva, ainda no ano 2000, o
Ministério da Saúde implantou o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), que veio a se constituir, posteriormente, na Política Nacional de Humanização (PNH), que contemplava, especialmente,
as demandas subjetivas manifestadas por sujeito-usuário1 e trabalhador-cuidador2 dos serviços de saúde, demandas essas que não eram
satisfeitas apenas com o atendimento ou com
o acesso a medicação, mas que se situavam no
respeito aos direitos e na integralidade desse
atendimento.
Procurando superar a lógica presente desde a formação dos profissionais problematizada por Minayo (2004, p.20),
1
2
| 67
Na ruptura dessa lógica, a integralidade
impõe: o aprofundamento da dimensão cuidadora na prática dos profissionais, responsabilizando-os e envolvendo-os com o sujeitousuário de forma mais ampla e respeitosa; um
desenvolvimento atitudinal direcionado ao
acolhimento e à criação e manutenção de vínculo entre os sujeitos dessa ação-trabalhadorcuidador e sujeito-usuário; uma “pré-ocupação” do trabalhador-cuidador com os resultados e impactos de suas práticas e, fundamentalmente, o conhecimento e reconhecimento, por parte do trabalhador-cuidador, dos
aspectos sócio-econômico-culturais da vida do
sujeito-usuário.
A humanização na política de saúde evidencia o compromisso ético do trabalhador-cuidador com os sujeitos que dependem de sua ação
profissional, na mesma medida em que também
focaliza o olhar para o trabalhador-cuidador da
saúde, como sujeito envolvido e impactado por
suas ações, pela realidade dos serviços de saúde, do qual também é usuário, e de suas condições de trabalho.
É a preocupação com o cuidado em todas
as suas dimensões.
sujeito-usuário- utilizaremos essa terminologia para nos referir ao usuário do serviços de saúde. A expressão paciente traduz uma posição de
passividade, submissão.
trabalhador-cuidador - utilizaremos essa terminologia para nos referir aos trabalhadores da área da saúde. Entendemos que os trabalhadores da saúde,
ainda que em uma relação funcional, tem como tarefa no seu cotidiano profissional o cuidado do outro.
BOLETIM
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
68 | MARIA ISABEL BARROS BELLINI
Em consonância com as diretrizes da Política Nacional de Humanização – PNH, a Secretaria Estadual da Saúde/RS, através da Política de
Humanização do Atendimento à Saúde – PHAS,
propõe inaugurar um novo pacto entre os sujeitos, como forma de resistência a uma realidade
que se caracteriza, segundo Leonardo Boff, pela
falta de cuidado, sendo este o “estigma de nosso tempo”.
Para este teólogo e filósofo: “enfrentamos
uma crise civilizacional generalizada. Precisamos
de um novo paradigma de convivência que funde uma relação mais benfazeja para com a Terra
e,..., entre os povos no sentido de respeito e de
preservação de tudo o que existe e vive” (BOFF,
1999, p.17).
A Política de Humanização da Assistência à
Saúde - PHAS/SES preocupa-se com a qualidade da prestação de serviço de saúde e, principalmente, com as práticas profissionais que:
Norteadas pela dimensão ético-política devem
enfatizar o conhecimento técnico-científico, as
vivências cotidianas que incidem nas especificidades sociais e culturais de cada espaço, nas
experiências dos sujeitos, suas crenças, estilos de vida e subjetividade (Rio Grande do Sul,
2003, p. 5).
Desta forma, procura agregar o desagregado, juntar o fragmentado, ampliando as possibilidades das práticas dos profissionais da saúde das
diferentes instâncias, enriquecendo seu inventário de conhecimentos, de comprometimentos e
responsabilidades, valorizando-o na devida importância que sua prática profissional tem.
Reconhecendo suas limitações, estabelecendo novas prioridades, investindo na criação de
novas relações entre o trabalhador-cuidador e
sujeito-usuário, criação, essa, direcionada para
a autonomia de ambos na responsabilidade e no
cuidado com sua ação profissional (trabalhador-
cuidador) e com sua saúde (sujeito-usuário).
Cuida-se do cuidador e do cuidado.
Supera-se o desejo, a intenção, o ato. É construída a atitude. A responsabilidade. O envolvimento. Tenta-se romper com uma história de
descaso ou, assim, modificar uma realidade onde:
Há um descuido e um descaso pela coisa pública. Organizam-se políticas pobres para os pobres; os investimentos sociais em seguridade
alimentar, em saúde, em educação e em moradia são, em geral, insuficientes. Há um descuido vergonhoso pelo nível moral da vida pública,
marcada pela corrupção e pelo jogo explícito
de poder de grupos, chafurdados no pantanal
de interesses corporativos (BOFF, 1999, p.19).
No enfrentamento dessa história de políticas
fragmentadas e na construção de alternativas, a
PHAS fomenta e envolve um leque de alianças sociais, a constituição de parcerias, procurando superar a lógica dos projetos individuais para a construção de projetos coletivos, dialogando com diferentes atores sociais, exigindo uma participação
diferenciada e comprometida, um “salto de qualidade na direção de formas mais cooperativas de
convivência [...]” (BOFF, 1999, p.26)
As políticas públicas e, entre elas, as da área
da saúde, expressam a complexidade deste momento histórico. Ao visitarmos a história, aprendemos que há muitos anos, mudanças na política de saúde eram clamadas, e que se reivindicava uma profunda mudança no atendimento das
demandas da população, mudanças essas que se
evidenciaram no movimento da Reforma Sanitária. Estas mudanças eram dirigidas também ao
trabalhador-cuidador da saúde.
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
Nesse sentido, se quer apontar que há muito
se discute a relação entre formação e qualificação profissional para o trabalho no mundo
da saúde. Os locais de atenção à saúde (hos-
HUMANIZAÇÃO:
OPÇÃO OU CONDIÇÃO DE SOBREVIVÊNCIA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
e na convergência construída a partir da diversidade [...]” e que tem um impacto importante na
“desesperança imobilizadora e a resignação
amarga” (BOFF, 1999, p.26-28).
Como membros da equipe de coordenação da PHAS/SES, e participando ativamente na
organização das ações dessa política no Estado,
temos o privilégio de participar em espaços de
interlocução com os diferentes setores e serviços da saúde, e seus atores e protagonistas. Estes espaços têm demonstrado serem férteis em
materializar outras práticas, outras probabilidades, novos encontros...
São práticas possíveis que estimulam formações coletivas mais humanas e humanizadas, propondo instaurar uma nova relação entre o sujeito-usuário, o trabalhador-cuidador, as realidades
locais e as vivências dos diferentes atores envolvidos nesta área.
São alguns caminhos de enfrentamento dos
“nós que travam a humanização em seu mais
profundo recôndito” e que “precisam ser problematizados para que, de fato, se mudem as
crenças, os atos e os aparatos do setor, intersubjetivamente” (MINAYO, 2004, p.20).
Na implementação da PHAS/SES, os investimentos têm sido na direção de humanizar as
práticas e relações de todos atores envolvidos,
devendo garantir, portanto, as seguintes condições fundamentais:
pitais, postos, ambulatórios) são essencialmente locais de cuidado da vida tendo, portanto, como necessidade primeira, a relação,
o contato, a interação entre sujeitos. Nesses
espaços, emergem aspectos das relações sociais que são intensificados pelos limites tênues entre saúde e doença, vida e morte, com
os quais convivem os envolvidos. Relações de
poder fazem parte do cotidiano do fazer em
saúde, configurando, assim, um diferente processo de trabalho, no qual o sujeito trabalhador-cuidador é intimamente vinculado às ações
que desenvolve. (BELLINI; SILVA, 2004).
Ao incluir cuidadores e cuidados em uma
perspectiva de “aprendizes e aprendentes” de
uma experiência entre humanos, busca-se “um
novo encantamento face à majestade do universo e à complexidade das relações que sustentam
todos e cada um dos seres” (BOFF, 1999, p.27).
Nas ações desenvolvidas pelo trabalhadorcuidador da saúde e vinculadas a PHAS, há o
privilégio de espaços para a infância e redimensionamento do impacto das hospitalizações, espaços que integram colegas, que fomentam
aproximações mais prazerosas em ambientes de
sofrimento, ações que acolhem o sujeito-usuário, que escutam, que singularizam, “inaugurase uma nova ternura para com a vida [...]” (BOFF,
1999, p.25).
O investimento no trabalhador-cuidador
fortalece-os na motivação para o enfrentamento de realidades de sofrimento que são as realidades dos hospitais, dos postos de saúde,
“o processo de trabalho do profissional de saúde constitui, então, um desafio de vida, de disposição a conhecer, enfrentar e superar os desafios diários” (BELLINI; SILVA, 2004, p. ....).
Ao envolver o sujeito-usuário e a comunidade, instauram-se práticas respeitosas e de valorização do ser humano, “a valorização das diferenças, na acolhida das complementaridades
BOLETIM
| 69
–
–
DA
entrelaçar os diferentes viveres, sentimentos dos sujeitos envolvidos nas ações
em saúde, seja como sujeito-usuário
e/ou como trabalhador-cuidador, rompendo com a dicotomia profissional/paciente;
inserir esses sujeitos (usuário, trabalhador, comunidade e todos atores que
participam da área da saúde: gestores,
prestadores de serviço,etc...) em práticas que se constituem em torno de
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
70 | MARIA ISABEL BARROS BELLINI
–
–
–
–
–
–
redes sociais com o fortalecimento da
vida comunitária e do sentimento de coletividade;
recuperar a cidadania do trabalhador-cuidador e do sujeito-usuário a partir de
competências e possibilidades, e não patologias, fracassos, impossibilidades;
capacitar essas práticas para que fomentem relações de respeito, da necessidade do outro, da alteridade, estimulando
relações de compreensão e reconhecimento da diferença como possibilidade
e não fragilidade;
revitalizar o papel dos trabalhadorescuidadores e dos serviços de saúde na
construção dos sujeitos, desenvolvendo processos de responsabilidade social e cultural;
fomentar ações que capacitem os sujeitos-usuários e os trabalhadores-cuidadores a assumirem o cuidado com o outro
marcado pela responsabilidade e confiança e não pela obrigação e pelo dever;
fomentar ações que capacitem os sujeitos-usuários e os trabalhadores-cuidadores a valorizarem as diversidades, onde seja
estimulada a semelhança na diferença;
participar na construção de seres humanos confiáveis, responsáveis pelos seus
atos a partir da construção de uma consciência social.
espaço onde os sujeitos se constróem e são construídos, participando como protagonistas em momentos decisivos de suas vidas.
É um movimento notável e necessário neste momento da realidade em que cada vez mais
é urgente o estabelecimento de outras formas
de relação entre os seres humanos e destes com
o seu entorno.
REFERÊNCIAS
BELLINI, Maria Isabel Barros; SILVA, Suzane de
Mendonça.Entrelaçamentos constituintes da rede em
saúde: serviço social, pesquisa e formação profissional no
mundo contemporâneo. 2004. Trabalho apresentado no Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social, Porto
Alegre, 2004.
BELLINI, Maria Isabel Barros; ANGNES, Décio; SILVA, Suzane de Mendonça. Rede de recursos humanos em saúde: os
nós constituintes da integralidade em saúde. In: BRASIL. Ministério da Saúde. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Recursos humanos em saúde no Brasil. Brasília, DF:
2004. (Série B. Textos Básicos de Saúde)
BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano - compaixão pela terra. 9.ed. Petrópolis: Vozes,1999.
DOWBOR, Ladislau. A gestão social em busca de paradigmas.
In: RICO, Elizabeth; RAICHELLIS, Raquel (Org.). Gestão social uma questão em debate. São Paulo: EDUC , 1999.
. Gestão social e transformação da sociedade. Disponível em: <http://dowbor.org>. Acesso em: 2
mar. 2005.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. Dilemas do setor saúde
CONCLUSÃO
diante de suas propostas humanistas. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.9, n.1, p.15-29, 2004.
A PHAS/SES, no seu processo de implementação, atua para que os serviços de saúde possam se
tornar espaços de excelência na construção de relações de cuidado, respeito, competência, todos envolvidos em uma dinâmica complexa e humana.
Desta forma, ao dirigir sua atenção ao trabalhador-cuidador e ao sujeito-usuário, torna-se um
PLASTINO, Carlos Alberto. Sentido e complexidade in
corpo, afeto, linguagem: a questão do sentido hoje. Rio
de Janeiro: Rios Ambiciosos, 2001.
RIO GRANDE DO SUL. Secretaria Estadual da Saúde. HumanizaSAÚDE: Política de Humanização da Assistência
à Saúde - PHAS. Porto Alegre: Escola de Saúde Pública,
2003. 21 p.
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
A QUALIDADE DO ATENDIMENTO
AOS PACIENTES DO
HOSPITAL CRISTO REDENTOR
THE MEDICAL CARE QUALITY TO
THE HOSPITAL CRISTO REDENTOR PATIENTS
Francinete Fabiane Menegazzo Oneda
Especialista em Docência em Saúde
Juliana Andreis Sabbi
Pedagoga
Lilian Vanz
Economista
Instituição: Sociedade Beneficente de Marau
Rua Bento Gonçalves, nº 10 Marau - RS
Fone: (54) 3424-455
E-mail:[email protected]
RESUMO
Para que a qualidade dos serviços de saúde seja uma
realidade, medidas tecno-científicas e de racionalidade
administrativas devem ser tomadas. Porém, é preciso
muito mais, principalmente estar atentos a princípios e
valores entre gestores, profissionais e usuários. Este relato
apresenta a pesquisa realizada com o objetivo de investigar
a qualidade dos pacientes que procuram o Hospital Cristo
Redentor. Aplicou-se um questionário semi-estruturado a
58 pacientes com idades, sexo e patologias variadas. Os
resultados mostram que o trabalho de atendimento
humanizado conquistou uma melhor qualidade no
atendimento à saúde dos usuários e nas condições de
trabalho dos profissionais de saúde.
ABSTRACT
Techno-scientific and administrative-rationality measures
should be taken in order that the health-service quality is
a reality. However, it's necessary much more, mainly to
be attentive to principles and values among managers,
professionals and users. This report shows the research
developed aiming at investigating the patients' quality that
look for assistance at Hospital Cristo Redentor. A semistructured questionnaire was administered to 58 patients
with different ages, sex and pathologies. The results show
that the humanized care got a better quality of health
care for the users and for the health professionals' work
conditions.
PALAVRAS-CHAVE
Atendimento, humanização.
KEY WORDS
Care, humanization.
72 | FRANCINETE ONEDA; JULIANA SABBI; LILIAN VANZ
INSTITUIÇÃO HOSPITALAR
A Sociedade Hospitalar Beneficente de Marau foi fundada em 20 de fevereiro de 1976,
tendo sua sede na cidade de Marau/RS, estabelecida em prédio próprio, com uma área construída de 4.100 m2, possui 59 leitos. Constituise em uma unidade civil leiga, beneficente, com
autonomia administrativa e financeira, sem preconceito ou restrições políticas, raciais e sociais, atuando na área hospitalar e prestando seus
serviços ao município de Marau e região.
ATENDIMENTO HUMANIZADO
A proposta do atendimento humanizado
tem como meta uma nova cultura institucional,
que possa instaurar, entre outras coisas, o bemestar físico, psíquico e social dos usuários dos
serviços de saúde, resgatando, assim, a dignidade e o compromisso com o paciente.
Sabe-se da necessidade da tecnologia utilizada para o benefício físico do paciente, ferramenta fundamental para um diagnóstico mais
preciso e também do espaço físico adequado a
estes atendimentos, mas, sem dúvida nenhuma,
o atendimento, quando humanizado, envolvendo o profissional e a instituição com objetivo claro
de um bem-estar geral, garante a atenção básica
de saúde, levando à eficiência, relacionando com
a qualidade do atendimento personalizado.
A qualidade no atendimento tem sido considerada como um diferenciador, pois vem ao encontro das expectativas dos usuários. Por este motivo, a instituição hospitalar, optando por este atendimento em favor do ser humano, preocupa-se com
a melhoria permanente na qualidade de sua gestão
e assistência, integrando a área médica, tecnológica, administrativa, econômica e assistencial, com
foco no paciente.
O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
Como o acesso ao Sistema Único de Saúde SUS é de direito de todos os cidadãos brasileiros,
cabe a ele, assim como ao governo, a responsabilidade pela nova roupagem que o SUS está adquirindo. Com a facilidade da descentralização através da
regionalização e da municipalização, fica mais fácil à
população articular-se, unindo esforços em prol da
melhoria deste serviço.
Sabe-se que cada município brasileiro destina
verbas diferentes à saúde, porém, ao serem repassadas as instâncias de atendimento, o desafio maior
é a eficácia no que concerne à qualidade do serviço.
Quanto maior a integração, a comunicação e o reconhecimento mútuo dos profissionais e usuários,
menor será a ineficácia dos atendimentos, ou seja, a
proposta de humanização dos serviços públicos de
saúde é a melhoria dos atendimentos à população.
Pensando nisto, o Hospital Cristo Redentor viabilizou o atendimento humanizado.
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
A QUALIDADE
OBJETIVO GERAL
–
–
–
CRISTO REDENTOR | 73
tos oferecidos pelo hospital no período de 10 de
agosto a 10 de setembro do ano de 2004.
Ao distribuir os questionários, foi explicado
ao paciente que o principal objetivo de seu preenchimento era saber sobre a qualidade do atendimento ao paciente, oferecido pelo Hospital
Cristo Redentor.
Tomou-se o cuidado em explicar que o preenchimento dos questionários seria voluntário
e o não preenchimento não acarretaria prejuízo
algum ao atendimento institucional ao paciente.
Investigar a qualidade do atendimento
dos pacientes que procuram o Hospital
Cristo Redentor (HCR) – Sociedade
Hospitalar Beneficente de Marau, com
vistas a um atendimento humanizado.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
–
DO ATENDIMENTO AOS PACIENTES DO HOSPITAL
Investigar como o atendimento humanizado trouxe uma melhoria no atendimento ao paciente;
Avaliar os atendimentos realizados no
Hospital Cristo Redentor no período
de 10 de agosto a 10 de setembro de
2004;
Garantir conforto ao paciente no período em que esteve utilizando os serviços
do Hospital Cristo Redentor.
RESULTADOS
Os resultados da pesquisa foram de grande
valia no processo de humanização, já que, ao
saber como está a qualidade dos serviços oferecidos ao paciente, tem-se a possibilidade de
melhorar este atendimento.
As respostas obtidas através do questionário fornecido aos pacientes do Hospital Cristo
Redentor foram agrupadas, chegando-se aos
resultados apresentados nas tabelas abaixo.
Na tabela 1, estão representadas as questões
que dizem respeito à parte física do Hospital. Foi
analisado o grau de satisfação dos pacientes nos
itens Comunicação, Recepção e Internação, procurando verificar como o paciente se sentia ao
chegar no Hospital, qual a receptividade oferecida a ele. Nos quesitos “Acomodação e Sanifi-
METODOLOGIA
A amostra foi composta por cinqüenta e oito
(58) pacientes de ambos os sexos, idades, e patologias diferentes, internados no Hospital Cristo Redentor de Marau, RS. Os participantes foram convidados a responder um questionário semi-estruturado, contendo perguntas a respeito dos atendimenTABELA 1 – AS CARACTERÍSTICAS DA PARTE FÍSICA DO HOSPITAL
GRAU DE SATISFAÇÃO
COMUNICAÇÃO
RECEPÇÃO
INTERNAÇÃO
ACOMODAÇÃO
SANIFICAÇÃO
Ruim
1,29%
0,41%
2,58%
1,69%
0,47%
Razoável
6,44%
4,07%
2,15%
11,30%
6,64%
Bom
38,20%
34,15%
26,18%
29,38%
33,18%
Muito bom
29,19%
28,05%
34,76%
27,12%
32,70%
Excelente
24,89%
33,33%
34,33%
30,51%
27,01%
Fonte: Dados HCR
BOLETIM
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
74 | FRANCINETE ONEDA; JULIANA SABBI; LILIAN VANZ
cação”, buscou-se a visão do paciente quanto à
limpeza e estrutura oferecida pelo hospital.
Concluiu-se, através dos dados obtidos, que,
ao passarem pela Internação, 2,58% dos pacientes
qualificaram o serviço como‘Ruim’,
sendo o maior índice de rejeição obtido entre os setores, e 34,33% qualificaram como ‘Excelente’, maior índice de aceitação entre os setores.
Essa contradição pode ser explicada por ser um setor burocrático,
onde a atenção e o cuidado com o
emocional do paciente e seus familiares devem ser redobrados. Os demais setores apresentam os maiores índices entre ‘Bom’ e ‘Muito
Bom’. A intenção do Hospital é meGRÁFICO 1: PERFIL DOS SERVIÇOS DA PARTE FÍSICA DO HOSPITAL
lhorar cada vez mais, para que não
se tenha conceito ‘Ruim’ e se mantenha sempre um atendimento no
‘Excelente’.
Através do gráfico 1, pode-se
visualizar melhor o grau de satisfação dos pacientes do Hospital Cristo Redentor – HCR, quanto à parte
física.
Avaliou-se, também, a qualidade dos serviços técnicos do hospital,
GRÁFICO 2: PERFIL DOS SERVIÇOS TÉCNICOS DO HOSPITAL CRISTO REDENTOR
Raio X, Laboratório e Bloco Cirúrgico. Observou-se uma boa aceitação
por parte dos pacientes quanto aos
serviços técnicos oferecidos. O gráfico 2 demonstra esse resultado.
Pode-se observar uma boa
aceitação por parte dos pacientes
que utilizaram os serviços técnicos
do hospital, no que se refere à qualidade no atendimento, com destaque ao Bloco Cirúrgico, onde
56,83% dos entrevistados consideraram o atendimento ‘Excelente’.
O questionário fornecido
aos pacientes identificou qual a
GRÁFICO 3: PERFIL DA ÁREA CLÍNICA DO HOSPITAL
percepção do paciente quanto
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
A QUALIDADE
DO ATENDIMENTO AOS PACIENTES DO HOSPITAL
CRISTO REDENTOR | 75
TABELA 2 – CARACTERÍSTICAS DOS SERVIÇOS TÉCNICOS DO HOSPITAL
GRAU DE SATISFAÇÃO
RAIO X
LABORATÓRIO
BLOCO CIRÚRGICO
Ruim
0,80%
0,00%
0,00%
Razoável
1,60%
0,98%
0,00%
Bom
33,60%
34,31%
21,58%
Muito bom
35,20%
24,51%
21,58%
Excelente
28,80%
40,20%
56,83%
Fonte: Dados HCR
TABELA 3 – CARACTERÍSTICAS DA ÁREA CLÍNICA DO HOSPITAL
GRAU DE
SATISFAÇÃO
NUTRIÇÃO
FISIOTERAPIA
ENFERMAGEM
DIURNO
ENFERMAGEM
NOTURNO
ATENDIMENTO
MÉDICO
Ruim
1,79%
0,00%
0,41%
0,85%
0,00%
Razoável
5,38%
0,00%
2,89%
2,98%
2,97%
Bom
36,77%
32,86%
20,66%
24,68%
30,20%
Muito bom
23,32%
22,86%
29,75%
22,98%
18,32%
Excelente
32,74%
44,29%
46,28%
48,51%
48,51%
Fonte: Dados HCR
DISCUSSÕES
à área clínica: Nutrição, Fisioterapia, Enfermagem e o Atendimento Médico. Na tabela acima,
pode-se verificar que houve satisfação dos clientes quanto a essas importantes áreas.
Através do gráfico 3 pode-se observar melhor
o grau de satisfação dos pacientes do HCR quanto à
área clínica. Em geral, a qualidade é considerada de
boa a excelente, porém algumas áreas merecem um
pouco mais de atenção, como a Nutrição, que obteve os maiores índices de satisfação ‘Ruim’ e ‘Razoável’, 1,79% e 5,38%, respectivamente.
A avaliação dos dados através de tabelas e
gráficos tem por objetivo a comparação e a
melhor visualização da satisfação dos pacientes
internados no Hospital Cristo Redentor nos diversos setores e serviços oferecidos pelo hospital, a fim de que, cada vez mais, possa ser oferecido um atendimento de qualidade.
BOLETIM
A análise dos dados coletados nas entrevistas evidenciou que, quando existe qualidade no atendimento, bem como integração do
profissional com o usuário, o atendimento humanizado acontece. Desde o primeiro contato que o paciente faz com o hospital até a sua
alta, é de fundamental importância o trabalho
humanizado.
Quando uma pessoa procura um serviço de
saúde é porque lhe falta saúde física e psicológica. Sabemos da importância da necessidade de
integração corpo e mente; quando algo não está
bem, o sofrimento é inevitável. O paciente procura alguém que saiba entender seu sofrimento,
se solidarize com ele e o ouça com ouvidos limpos, sem qualquer preconceito.
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
76 | FRANCINETE ONEDA; JULIANA SABBI; LILIAN VANZ
Ao ficar internado, não só o paciente como
sua família, precisam de um acompanhamento
humanizado, já que ambos esperam por isso.
Segundo Maria Julia Paes da Silva (2000), “o
familiar ajuda a entender o paciente, e, por isto,
é importante na tarefa de reequilibrar e reanimar o doente”.
Os familiares e acompanhantes querem,
também, estar a par da condição de saúde de
seu ente querido, ter acesso a ele, e, da mesma
maneira, sentir ao cortesia, carinho e competência da equipe.
Nas horas de sofrimento e dor, é bom que
a pessoa tenha alguém ao lado que esteja segura, tranqüila e que fale francamente, fazendo o
possível para sua recuperação. Este é o verdadeiro sentimento do paciente.
A alegria dos atendentes contagia pacientes
e familiares. Segundo uma fábula chinesa um
amigo disse ao outro em uma ponte:
“Olhe como os peixes estão alegres no rio!”
O outro replicou: “Como você sabe?” O primeiro respondeu: “Por minha alegria em cima da
ponte”.
A alegria, o amor, a liberdade e a coragem
são contagiantes. É muito mais fácil suportar uma
situação difícil quando se está em um ambiente
estruturado e ao lado de pessoas humanizadas.
Ao retornar para casa, o paciente, que teve
o atendimento humanizado, demonstrou maior
tranqüilidade em relação ao seu atendimento,
sabendo que, se necessitar voltar, encontrará um
ambiente já conhecido, bem como, se precisar
indicar o serviço a alguém, poderá fazê-lo com
segurança.
O Atendimento Humanizado é uma realidade que, aos poucos, está tomando conta das
instituições de saúde. Começou devagar e, hoje,
é de fundamental importância.
“Comece fazendo o que é necessário depois o que é possível e, de repente você estará
fazendo o impossível” (São Francisco de Assis).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados coletados no questionário fornecem subsídios para uma atuação cada vez melhor, objetivando a qualidade dos serviços prestados aos pacientes do Hospital Cristo Redentor de Marau. Esta postura parece essencial na
construção de uma nova etapa da saúde pública.
A primeira ação no processo de humanização é a comunicação. Sem uma boa comunicação, não há humanização. A humanização, portanto, depende da nossa capacidade de falar e
ouvir, pois só podem ocorrer mudanças quando
há diálogo.
Neste sentido, humanizar a assistência hospitalar implica em dar acesso à palavra do usuário
e à palavra dos profissionais da saúde, de forma
que possam fazer parte de uma rede de discussões que pense e promova ações modificadoras.
Este processo envolve tudo o que se encontra dentro do hospital, desde a chegada do
paciente, onde ele possa encontrar uma receptividade de qualidade, até sua saída do ambiente
hospitalar, onde possa indicar os serviços a outros usuários.
Para que isto realmente ocorra, a utilização
de um questionário, fornecendo todas as informações necessárias a um bom atendimento, é
importante, pois muitas coisas podem ser estruturadas e outras melhoradas.
A humanização é um processo amplo, demorado e complexo, ao qual se oferecem muitas resistências, pois envolve mudanças, o que
gera insegurança. Sempre os padrões conhecidos são mais seguros, porém, é nos processos
novos que há a possibilidade de criar e melhorar
os padrões de atendimento.
Por isto, através deste estudo, pode-se observar que, nesta construção do processo de
humanização, tem-se uma longa caminhada a
percorrer, na qual já foi dado o passo inicial, e a
continuidade é só uma questão de tempo.
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
A QUALIDADE
DO ATENDIMENTO AOS PACIENTES DO HOSPITAL
CRISTO REDENTOR | 77
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Nacional de
Humanização da Assistência Hospitalar- PNHAH.
Brasília, DF, 1999.
RIO GRANDE DO SUL. Secretaria Estadual da Saúde.
HumanizaSAÚDE: Política de Humanização da Assistência à Saúde – PHAS. Porto Alegre: Escola de Saúde Pública, 2003. 21 p.
SILVA, Maria Júlia Paes. O amor é o caminho: maneiras
de cuidar. São Paulo: Editora Gente, 2000.
BOLETIM
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
HUMANIZASUS: UM PROJETO COLETIVO
HUMANIZASUS: A COLLECTIVE PROJECT
Eduardo Mendes Ribeiro
Psicanalista, membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (APPOA),
Mestre em Filosofia (PUCRS), Doutor em Antropologia Social (UFRGS),
Professor da FFCH, da PUCRS,
Consultor da Política Nacional de Humanização (PNH), do Ministério da Saúde.
RESUMO
O artigo apresenta o contexto em que se dá a proposição,
por parte do Ministério da Saúde, de iniciativas voltadas à
humanização das práticas de saúde, problematizando este
conceito, e situando-o em relação ao desenvolvimento
científico-tecnológico. Também são apresentados e
discutidos os princípios e diretrizes que orientam a Política
Nacional de Humanização (PNH), mais especificamente,
o que propõe a indissociabilidade dos modelos de gestão
e de atenção em saúde, e o que valoriza a transversalidade
das políticas de saúde como estratégia para superar o
estado de fragmentação e verticalização que
tradicionalmente tem marcado este campo. Partindo desta
perspectiva, são analisados os efeitos da substituição, no
âmbito do Ministério da Saúde, da lógica dos "programas"
pela que propõe a difusão de "políticas". Finalmente, é
apresentado um relato histórico do processo de
implementação dos programas/políticas de humanização
do MS no estado do Rio Grande do Sul, analisando os
resultados alcançados, as dificuldades enfrentadas e,
principalmente, as potenciais estratégias que se
apresentam no momento atual. Neste sentido, é enfatizada
a importância da articulação das políticas a serem
implementadas pelos três níveis de governo, de forma a,
simultaneamente, garantir o processo de descentralização
da gestão em saúde, inerente à lógica que organiza o SUS,
e potencializar as ações desenvolvidas por seus gestores.
ABSTRACT
The article presents the context in which the Health
Ministry proposes the initiatives directed to the
humanization of the health practices, showing the problems
of this concept, and placing it in relation to the scientific
and technological development. It is also presented the
principles and guidelines which orientate the National
Humanization Policy (PNH), more specifically, what
proposes the indissociability of the management and health
attention models, and what values the health policies
transversality as a strategy to overcome the fragmentation
and verticalization which have marked this area. From this
perspective, it is analyzed the replacement effects, at the
Health Ministry scope, of the "programs" logic by the one
which proposes the 'policies" diffusion. Finally, it is shown
a historical report on the implementation process of
humanization programs/policies of Health Ministry within
Rio Grande do Sul state, analyzing the results which were
reached, the difficulties faced, and, mainly, the potential
strategies which are currently arising. In this sense, it is
emphasized the importance of policy articulation to be
implemented by the three government levels, so as to,
simultaneously, assure the decentralization process of
health management, inherent to the logic organizing the
Unique Health System - SUS, and potentializing the actions
developed by its managers.
PALAVRAS-CHAVE
Humanização, política de saúde, prática de saúde pública,
Sistema Único de Saúde.
KEY WORDS
Humanization, health policy, public health practice, Unique
Health System
80 | EDUARDO M ENDES RIBEIRO
INTRODUÇÃO
Quando o Ministério da Saúde – MS propõe
uma Política Nacional de Humanização – PNH1
do Sistema Único de Saúde – SUS, evidentemente não parte da avaliação de que as práticas de
saúde atualmente desenvolvidas não sejam humanas, pois fazem parte de nossa humanidade, tanto os ideais e práticas marcados pela solidariedade e voltados para o interesse comum, quanto as
ações mais corporativas e descompromissadas
com as demandas e necessidades dos usuários.
A proposta de humanização do SUS está voltada para a construção de novos modelos de gestão e atenção que, rompendo com o modelo
tradicional, organizado em torno de uma fragmentação de procedimentos médicos, de caráter hospitalocêntrico, verticalizado e autoritário, passe a operar, respeitando uma pluralidade
de saberes, não apenas dos diferentes campos
da saúde, mas, também, de seus usuários.
Ou seja, pretende-se, no campo da gestão dos
serviços, o desenvolvimento de processos de
gestão participativa, que contem, também, com
a contribuição dos mecanismos de controle social e estabeleçam canais de comunicação direta
com os usuários; e, no campo da atenção, o estabelecimento de processos de trabalho que
1
2
priorizem a atuação de equipes multiprofissionais, capazes de estabelecer vínculos com os
usuários e de assumir a responsabilidade pelo
acompanhamento de seu tratamento.
Neste artigo, é apresentada uma análise das
razões pelas quais se justifica a proposição de
uma Política Nacional de Humanização, que se
materialize a partir de processos de pactuação
com os demais níveis de governo, de forma a
atuar considerando os contextos locais de interação entre os diversos atores sociais que atuam
nas redes locais de saúde. Também é relatada,
brevemente, a história da implementação, primeiramente, do Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar – PNHAH e, atualmente, da Política Nacional de Humanização –
PNH, no Estado do Rio Grande do Sul. Finalmente, é apresentada uma avaliação do processo de articulação da PNH com a Política de Humanização da Assistência à Saúde – PHAS, proposta pela Secretaria Estadual da Saúde do Rio
Grande do Sul – SES/RS.
O FETICHISMO2 DA TECNOLOGIA
A sociedade moderna surgiu a partir do
desenvolvimento da Nova Ciência, da democra-
A Política Nacional de Humanização – PNH–, também chamada de HumanizaSUS, foi lançada em 2003, sucedendo ao Programa Nacional de
Humanização da Atenção Hospitalar – PNHAH (2000 – 2002). Esta mudança será comentada mais adiante.
Segundo o Dicionário de Psicanálise, organizado por Chemama (1995) "fetichismo" é uma "organização particular do desejo sexual, ou libido, na qual
a satisfação completa só pode ser alcançada em presença e uso de determinado objeto, o fetiche...".
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
HUMANIZASUS:
| 81
No campo da saúde, a relação entre uso de
conhecimentos científicos e aparatos tecnológicos,
por um lado, e relações intersubjetivas, por outro,
apresenta uma variedade de formas de articulação. Elas derivam da necessidade de relacionar a
universalidade inerente às produções científicotecnológicas, com a diversidade dos contextos em
que se dão as práticas de atenção à saúde.
O desafio a ser enfrentado contemporaneamente é o de evitar a supervalorização da dimensão científico-tecnológica no campo da saúde, em
detrimento da tradição clínica, pautada pelas relações intersubjetivas. A tendência histórica de
fragmentação dos objetos de pesquisa e intervenção, a exigência de objetividade e o individualismo têm levado a uma verdadeira fetichização da
tecnologia, em um processo análogo ao que Marx
havia denunciado como sendo uma fetichização
da mercadoria na sociedade capitalista. Estabelece-se, não só entre os profissionais da saúde,
como também no imaginário social, a crença de
que quanto mais forem utilizados equipamentos
de diagnóstico e medicamentos, mais chance terá
o tratamento de ser bem-sucedido, esvaziando a
importância das práticas preventivas e de autocuidado. O usuário, privado de seu saber sobre
si, passa a depender cada vez mais dos serviços
de saúde, sobrecarregando-os e aumentando sua
ineficácia.
cia e do liberalismo político e econômico. Estas
rupturas profundas em relação à antiga sociedade feudal levaram Kant a afirmar que o esclarecimento (ou iluminismo) é a “saída do homem
de sua menoridade,... A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a
direção de outro indivíduo...” (KANT, [1783]
1995). O homem havia chegado à maioridade,
devendo passar a se orientar pelo livre exercício de sua racionalidade. O acelerado desenvolvimento da ciência apenas reforçava as expectativas que foram criadas: o progressivo domínio
da natureza e a liberdade de pensamento garantiriam, a todos, no futuro, e cada vez mais, uma
vida confortável e segura.
Passados pouco mais de dois séculos, é possível afirmar que, se por um lado, a aposta na
ciência continua em alta, por outro, multiplicamse os questionamentos acerca das razões pelas
quais as expectativas iniciais não se confirmaram.
Afinal, se comparássemos os efeitos produzidos
pelo mau uso dos avanços tecnológicos com seus
benefícios, não teríamos razões para sermos tão
otimistas. Evidentemente, o problema não está
na tecnologia e, sim, nos diferentes usos que se
pode fazer dela. Em outras palavras: a racionalidade objetiva, que possibilita o avanço da ciência, não é capaz de explicar o sujeito desta ciência, aquele que, orientado por um complexo
conjunto de crenças, ideais, carências e expectativas, definirá o uso a ser feito destes conhecimentos e tecnologias.
Quando Kant saudava a emancipação promovida pelo iluminismo, ele o fazia por entender que o percurso da humanidade, a partir daquele momento, seria orientado por uma ética
pautada pela racionalidade, pela liberdade e pelo
respeito mútuo. Ele não previu que o exercício
desta nova forma de liberdade traria consigo,
juntamente com o progresso da ciência, uma
certa fragilização dos laços sociais e o predomínio de um ethos individualista.
BOLETIM
UM PROJETO COLETIVO
INDISSOCIABILIDADE ENTRE
GESTÃO E ATENÇÃO NA SAÚDE
Para combater a ineficácia oriunda da fragmentação das práticas de saúde e do fetichismo
tecnológico, o SUS conta, desde sua concepção
inicial, com dois conceitos, que operam como
imagem-objetivo: a própria noção de sistema, à
qual está associada a proposta de construção de
redes descentralizadas e hierarquizadas de atenção, e a garantia de atenção integral. Estes dois
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
82 | EDUARDO M ENDES RIBEIRO
conceitos, solidários e complementares, buscam
conectar os serviços que atendem às diferentes
carências e demandas dos usuários, bem como
reconectar as dimensões presentes nas relações
humanas, ressaltando a importância e a particularidade dos contextos psicossociais.
A idéia de rede, entendida como produção
de conectividade, pode ser pensada em diferentes planos: desde aquele em que se estabelecem as relações interdisciplinares (ou transdisciplinares) nas equipes de trabalho, até o que
envolve as responsabilidades e competências
assumidas pelas diferentes esferas e níveis de
governo, passando pelas relações entre os serviços de uma mesma unidade e pela constituição das redes locais de saúde.
A noção de integralidade na atenção, por
outro lado, assume um caráter polissêmico, podendo designar tanto o conjunto de cuidados
médicos necessários para restabelecer a saúde
dos usuários, quanto uma concepção de sujeito-usuário que contemple o conjunto de fatores, não exclusivamente biológicos, que intervêm na produção de sua saúde.
O que importa salientar é que a constituição
de redes e a proposta de atenção integral dependem, para sua implementação, de uma articulação entre os modelos de gestão e de atenção.
Justamente por estarem voltadas para a superação da fragmentação, seja dos serviços, seja dos
sujeitos, estas relações precisam estar enraizadas
em políticas de gestão que permeiem a totalidade dos processos de trabalho e a forma como
eles se relacionam entre si. No âmbito intra-institucional, isto implica na adoção de práticas de
gestão mais participativas, que possibilitem, aos
trabalhadores, o encontro/confronto de suas experiências e percepções, em um processo que,
reconhecendo as diferenças, potencialize a ações
de cada área, ou profissional envolvido. No âmbito das relações com a comunidade, torna-se
importante a participação dos mecanismos de
controle social, atuando como representantes das
expectativas dos diversos atores sociais envolvidos no campo da saúde.
Cabe aqui, entretanto, uma observação: integralidade não deve ser entendida como totalidade, no sentido de que todas as carências e
expectativas de usuários e trabalhadores de saúde deveriam poder ser satisfeitas. Não é disto
que se trata. As contradições e conflitos fazem
parte da vida social, tanto quanto uma certa dose
de insatisfação faz parte de nossa natureza de
sujeitos desejantes. O que se pretende é construir
relações que nos permitam encontrar meios de
lidar da forma mais solidária e respeitosa possível
com o sofrimento, que faz parte do cotidiano
dos trabalhadores de saúde.
PROGRAMAS X POLÍTICAS:
A QUESTÃO DA TRANSVERSALIDADE
No Ministério da Saúde, antes da Política
Nacional de Humanização – PNH–2003), o Programa Nacional de Humanização da Assistência
Hospitalar – PNHAH–2000/2003 foi pioneiro
em propor a humanização como questão prioritária na construção do SUS. Este Programa teve
o mérito de construir uma rede de Grupos de
Trabalho em Humanização – GTH, em hospitais, secretarias estaduais e municipais de saúde, que, em diferentes medidas, estimularam,
reconheceram e divulgaram projetos voltados à
humanização dos processos de trabalho e das
práticas de assistência, especialmente no âmbito da rede hospitalar. Entretanto, o PNHAH teve
seu impacto limitado pelo lugar periférico que
ocupava no próprio MS, sendo praticamente ignorado pelas demais áreas.
Mais recentemente (2003), coerente com
o intuito de estimular o trabalho em rede e de
oferecer uma atenção integral aos usuários, o
MS tem promovido uma mudança em sua for-
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
HUMANIZASUS:
| 83
fluentes na definição das políticas locais e institucionais de saúde.
ma de orientar as práticas de saúde, substituindo a antiga proposta de Programas, voltados
para populações ou problemas específicos, pela
difusão de Políticas, que, sendo direcionadas aos
grandes temas constituintes do processo de
construção do SUS (como a humanização), encontram-se relacionadas com a totalidade das
ações empreendidas pelo MS. Pretende-se com
isto que os princípios e diretrizes que fundamentam e orientam cada política sejam apropriados por todas as áreas, em um sentido
transversal.
Esta nova orientação, que implica em mudar processos de trabalho fortemente enraizados, ainda encontra-se em processo de implementação, mas alguns efeitos já podem ser observados, e um exemplo disso é a forma como
tem sido difundida a Política Nacional de Humanização, estabelecendo parcerias com áreas estratégicas para o desenvolvimento de suas propostas, como o Qualisus e a Atenção Hospitalar,
na Secretaria de Atenção à Saúde – SAS. Através destas parcerias, a liberação de certos recursos por parte do MS fica condicionada à assunção de determinados compromissos, por
parte dos gestores das instituições financiadas,
com a humanização de seus processos de gestão e da atenção. São metas pactuadas, que, aliadas ao objeto principal dos financiamentos, potencializam seu impacto na melhoria da qualidade dos serviços.
A transversalidade da PNH, na medida em
que se efetiva, manifesta-se, não apenas através das ações do MS, mas, principalmente, em
sua irradiação para os demais níveis de governo, e para as unidades de saúde que aderiram a
esta política. Seguindo esta lógica, os Comitês
Estaduais e Municipais de Humanização, bem
como os GTHs, perdem sua condição de isolamento, e passam a se constituir em agentes in3
UM PROJETO COLETIVO
ESTRATÉGIAS PARA A PROMOÇÃO
DE MUDANÇAS CULTURAIS
O entendimento de que não é possível promover mudanças consistentes nas práticas de
assistência, sem que haja, simultaneamente,
mudanças no modelo de gestão e a proposição
de políticas transversais constituem o ponto de
partida para a transformação da realidade do
SUS, aproximando-a de sua definição constitucional. Entretanto, como já foi afirmado, o projeto de humanização, tanto quanto outras políticas do MS, apresenta-se como contra-hegemônico, levando-se em conta, o longo processo histórico através do qual foram estabelecidas as
velhas estruturas, que, ainda hoje, sustentam boa
parte das práticas de saúde em nosso país.
Neste movimento de mudança, uma estratégia de comunicação eficaz é essencial para promover uma ampla discussão acerca da necessidade e da função a ser desempenhada por uma política de humanização. Entretanto, tão ou mais
importante do que discutir o valor e a definição
de humanização, é apresentar situações e dispositivos concretos que produzem experiências “humanizadoras”, como o acolhimento com classificação de risco, o trabalho em equipe multiprofissional, o estabelecimento de vínculos e responsabilização entre trabalhadores e usuários, a gestão participativa, as ouvidorias que realmente escutam e respeitam usuários e trabalhadores, a
garantia do direito a acompanhante, à visita, à
privacidade, à confidencialidade3, etc. São estas
experiências que, quando implementadas e divulgadas, despertam os atores sociais envolvidos para
o reconhecimento de seus direitos, e para a via-
Vários deste temas são apresentados em pequenas cartilhas, produzidas pelo Núcleo Técnico da PNH.
BOLETIM
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
84 | EDUARDO M ENDES RIBEIRO
bilidade de propor novas formas de relação em
que se sintam exercendo mais plenamente sua
cidadania. Trata-se de mostrar o SUS que dá certo, enfraquecendo as forças de resistência que se
apóiam em argumentos, ora céticos, ora cínicos,
para manter privilégios e comodidades.
Outra estratégia, sempre lembrada quando
se discute mudança cultural, é a de estimular uma
transformação nos processos de formação acadêmica e profissional dos trabalhadores da saúde, de forma a contemplar as questões que envolvem o contexto de construção do SUS. Nesta
direção, os Pólos de Educação Permanente constituem um cenário propício para a discussão das
propostas da PNH, de forma a introduzir seus
princípios, diretrizes e dispositivos entre os conteúdos a serem ministrados em todos os cursos
de capacitação definidos e aprovados pelos PEPs.
Trata-se de mais um exemplo de atuação transversal de uma política de saúde, neste caso, executada de forma descentralizada, pois cada Pólo
tem autonomia para definir suas prioridades.
A EXPERIÊNCIA DO PNHAH E
DA PNH NO RIO GRANDE DO SUL
Em 2000, o Ministério da Saúde lançou o
Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar – PNHAH, inicialmente, através de um projeto piloto desenvolvido em 10
hospitais, localizados em várias regiões do país.
No Rio Grande do Sul, o Hospital Nossa Senhora da Conceição, integrante do Grupo Hospitalar Conceição – GHC, participou da primeira
etapa deste programa.
No projeto piloto, foi testada a metodologia
de implantação do programa, que, resumidamente, seguia a seguinte estratégia: sensibilização dos
4
gestores, inventário e reconhecimento dos projetos já existentes, criação do Grupo de Trabalho
em Humanização – GTH, elaboração de um plano de ação, criação de mecanismos de acompanhamento e avaliação. Esta foi uma experiência
importante por revelar um conjunto de oportunidades e desafios que estariam presentes, não
só no HNSC, mas também na maioria dos hospitais que viria a se inserir no programa.
Na segunda etapa, em 2001, passaram também a participar do PNHAH, no RS, o Hospital
de Clínicas de Porto Alegre, o Hospital São Lucas – PUCRS e a Santa Casa de Misericórdia de
Porto Alegre, além dos demais hospitais do
GHC: Hospital Cristo Redentor, Hospital Fêmina e Hospital da Criança. Neste momento, os
encontros estaduais e regionais (RS, SC e PR)
constituíram oportunidades de trocas de experiências e divulgação de projetos bem sucedidos. Começava a ficar claro, para todos os envolvidos, que a formação de redes, presenciais
e virtuais4, seria essencial para o fortalecimento
e multiplicação destes projetos.
Posteriormente, em uma terceira etapa,
mais 23 hospitais vieram a se inserir no Programa, no Rio Grande do Sul. Eles foram indicados
pela Secretaria Estadual da Saúde, e encontravam-se distribuídos por todas as regiões do estado. Este processo de multiplicação de instituições participantes só foi possível, na medida em
que cada um dos hospitais da segunda etapa passou a desempenhar a função de “padrinho” de
alguns hospitais que estavam entrando na rede.
Este “apadrinhamento”, efetivado pelos GTHs,
consistia na realização de visitas de sensibilização, encontros de capacitação, orientação metodológica e acompanhamento de processos.
Evidentemente, a adesão ao PNHAH produziu resultados distintos em cada instituição:
O Ministério da Saúde criou um portal da humanização, onde qualquer instituição ou secretaria municipal ou estadual de saúde, participantes do
PNHAH, poderia divulgar seus projetos e eventos, além de acessar informações difundidas pelo MS e uma Biblioteca Virtual.
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. 2004
HUMANIZASUS:
| 85
Nacional de Humanização dependa do estabelecimento de parcerias com as secretarias estaduais.
No Rio Grande do Sul, na medida em que a PHAS
construiu uma ampla rede de comitês locais e regionais de humanização, que se somaram a um
grande número de GTHs, e estabeleceu um denso cronograma de encontros macro-regionais e
estaduais, ela criou um cenário extremamente
propício para a discussão e difusão dos princípios,
diretrizes e dispositivos que orientam e materializam as políticas de humanização.
O processo de implementação da PHAS
representa um exemplo de descentralização, em
que as parcerias são construídas respeitando-se
as diferentes perspectivas e prioridades de cada
rede local de saúde, mantendo, como orientação principal, o compromisso com os princípios
do SUS. Este é também o propósito da PNH, o
que abre inúmeras possibilidades de ações conjuntas ou complementares.
em algumas, as diretrizes da humanização passaram a integrar seu modelo de gestão e a produzir impactos importantes na transformação
dos processos de trabalho e na melhoria da qualidade da atenção; em outras, restou pouco mais
do que um GTH, formalmente constituído, mas
inoperante. De qualquer forma, o PNHAH teve
o inegável mérito de ter promovido uma discussão pública em torno da necessidade de humanizar o SUS, além de ter lançado as bases para o
estabelecimento de redes interinstitucionais que
potencializam ações e projetos, até então isolados. Seu impacto social só não foi maior por não
ter conseguido estabelecer parcerias mais produtivas com os gestores municipais e estaduais
de saúde, por ter ficado restrito ao âmbito hospitalar e, principalmente, como já foi afirmado,
devido a seu isolamento na estrutura do próprio Ministério da Saúde.
Após a eleição dos novos gestores, em 2003,
foram lançadas a Política Nacional de Humanização – PNH em nível federal, e a Política Estadual de Humanização da Assistência à Saúde –
PHAS em nível estadual, estabelecendo, no Rio
Grande do Sul, uma situação favorável para a
construção de parcerias. Estando a PHAS sob a
responsabilidade da Escola de Saúde Pública, e
sendo coordenada por profissionais que participaram de toda a experiência do PNHAH no estado, ficou garantida a continuidade do trabalho
até então desenvolvido. Acrescente-se, ainda,
que, considerando o caráter transversal da PNH
e o apoio efetivo dos governos estadual e federal, tornou-se possível superar as dificuldades
enfrentadas pelo PNHAH. A proximidade da
política de humanização com as instâncias formadoras também veio a facilitar sua inclusão nos
programas de capacitação.
Entre as funções do Ministério da Saúde, está
a de induzir políticas, mas, não, a de implementálas diretamente nos estados e municípios, o que
faz com que a difusão das propostas da Política
BOLETIM
UM PROJETO COLETIVO
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. Textos básicos de saúde. Brasília, DF,
2004.
. HumanizaSUS: Política Nacional de Humanização:
documento base para gestores e trabalhadores do SUS. Brasília, DF, 2004.
CHEMAMA, Roland. Dicionário de psicanálise. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: que é esclarecimento?
In:
DA
. Textos seletos. Petrópolis: Vozes, 1995.
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
INTERNAÇÃO DOMICILIAR
NURSING HOME CARE
Equipe de Internação Domiciliar do Hospital Dom João Becker
Instituição: Hospital Dom João Becker
Av. Dr. José Loureiro da Silva, 1561 - Centro - Gravataí/RS
Fone: (51) 3043.8349
E-mail:[email protected]
RESUMO
Internação Domiciliar é um modelo de internação extrahospitalar que presta serviços de assistência à saúde ao paciente
que ainda necessita de cuidados especiais, mas pode ficar
internado em seu domicílio. Tem como objetivo desospitalizar
o paciente, criando condições familiares para que se continue
o tratamento em seu domicílio. A metodologia dá-se através
da avaliação da patologia, avaliação do pacientes, das condições
familiares e domiciliares, além de acompanhamento semanal.
Desde a implantação deste serviço, no Hospital Dom João
Becker, observou-se que, nos pacientes atendidos, a grande
maioria, levando em conta que todos possuem patologias
crônicas, teve um retorno menor para o ambiente hospitalar
após terem passado pela internação domiciliar, visto que, nas
visitas, as equipes passaram a dar mais atenção para as
necessidades dos pacientes, ensinando sua família e,
principalmente, seu cuidador, a lidar com o paciente. Assim,
este recebe um atendimento diferenciado e muito mais carinho,
além de estar em seu próprio ambiente. Com a diminuição do
número de reinternações e de internações prolongadas, podese proporcionar uma quantidade maior de atendimentos, em
vista da liberação de leitos e redução do índice de infecção
hospitalar. Concluímos que a internação domiciliar proporciona
melhores condições psicológicas para o doente, pela integração
médico-família-paciente, redução de reinternações, do tempo
de recuperação, de mortalidade e de infecções hospitalares,
além da comodidade e conforto por estar em seu ambiente.
Ou seja, melhora a qualidade de vida dos pacientes crônicos,
além de contribuir para a humanização do atendimento
hospitalar.
ABSTRACT
Nursing home care is a model of extra hospital admission
which helps the health assistance to the patient, who still
needs special care but can have nursing home care. It aims
at the patient's dehospitalization creating family conditions
in order to continue the treatment at home. The
methodology consists of the pathology evaluation, the
patient's evaluation, the family and the home conditions,
besides a weekly follow up. Since the implementation of
this service at Dom João Becker Hospital, it was noticed
that among the examined patients , the majority, taking
into account that all these patients have chronic
pathologies, there was a reduction in the number of
readmissionsafter nursing home care due to the fact that,
during the visits, the teams were able to give more
attention to the patients needs, teaching the family, and
mainly the carer how to deal with the patient. So, the
patient has a differentiated care and much more affection
besides being in his own environment. Decreasing the
number of readmissions and long-term hospitalization a
large number of nursing care can be provided, due to the
increase of available beds in hospital and the reduction in
hospital infection. We concluded that the nursing home
care provides better psychological conditions to the
patient, due to the integration of the physician- family patient, reduction of readmissions, recovering time, ,
mortality rate and hospital infections besides the comfort
in staying in his/her own environment. That is, it improves
the life quality of chronic patients besides contributing to
the humanization of hospital care.
PALAVRAS-CHAVE
Cuidadores, humanização, qualidade de vida.
KEY WORDS
Carers, humanization, life quality.
88 | EQUIPE
DE I NTERNAÇÃO
DOMICILIAR
DO
H OSPITAL DOM JOÃO BECKER
INTRODUÇÃO
JUSTIFICATIVA
Até não muito tempo atrás, a maioria das
intervenções médicas se dava na casa do paciente. O hospital de emergência tal como o conhecemos hoje soma apenas um século de vida. No
entanto, ao lado das inúmeras vantagens, resultantes dos avanços na ciência médica e do desenvolvimento tecnológico, a “institucionalização” do atendimento traz também o problema da desumanização, e modifica profundamente a vida do paciente e de sua família,
além de encarecer os serviços sanitários.
A internação domiciliar tem por característica principal a transferência, para o domicílio, dos recursos empregados aos cuidados
de um paciente em um hospital convencional
em circunstâncias ideais para a continuidade
dos tratamentos, sem perda de qualidade e
efetividade.
A chave deste tipo de assistência é o domicílio, encarado em suas três dimensões: física (moradia e equipamento), psíquica (afeto, sentimentos e recordações), e social (família, vizinhos e amigos). Estes fatores podem
exercer uma função entre si, portanto, podem
ser considerados parte do “arsenal terapêutico”, caso reúna condições estruturais, higiênico-sanitárias, e proporcione uma convivência sócio-familiar agradável. Neste sentido,
podemos dizer que o lar é o “melhor ambiente terapêutico”.
A Internação Domiciliar promove a humanização do atendimento a uma parcela da população que está quase à margem do sistema de saúde
atual.
Segundo Romano (1999), o hospital estreitou
o seu compromisso com a comunidade, envolvendo-se não só nos problemas da doença de hoje,
mas também cuidando de aspectos do amanhã,
prevenindo-os durante a hospitalização. Antigamente, antes do século XX, a assistência em saúde era
realizada pelo médico da família, e beneficiava as
classes mais favorecidas.
Da mesma forma, a internação domiciliar visa
a propiciar uma recuperação mais rápida do paciente, que fica junto de seus familiares, gozando
da atenção e do carinho tão necessários nesse
momento difícil de suas vidas. Diminui a incidência de infecções hospitalares, possibilitando um
tratamento específico de sua doença e, finalmente, libera leitos nos hospitais para pacientes que
requeiram tratamento mais complexo. Conforme
Duarte e Diogo (2000), a expansão do sistema de
saúde gerou um custo muito alto no sistema público e suplementar. A assistência domiciliar veio atender, dentre outras, também esta demanda, uma
vez que tende a reduzir de 20 a 70% os custos
assistenciais, comparando-se as mesmas intervenções realizadas em ambiente hospitalar.
É importante, no entanto, que se compreenda o significado do cuidado ao idoso em seu
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004
INTERNAÇÃO
| 89
OBJETIVOS
ambiente doméstico, que muito se difere de
qualquer outro ambiente institucional.
O paciente e sua família contam com uma
equipe de profissionais qualificados, formada por
médicos, equipe de enfermagem, psicólogos e
nutricionistas, que dará assistência integral e
contínua durante o período de Internação Domiciliar, pois procuram atender da melhor forma possível. Para isso, realizam atendimentos
humanizados com participação e integração de
todos os profissionais, respeitando as limitações
da família. A equipe tem como objetivo orientar e treinar os familiares.
Freitas, et al. (2000) mencionam que, de
acordo com a Portaria número 73, de 10 de maio
de 2001, que descreve sobre as “Normas de Funcionamento de Serviços de Atenção do Idoso no
Brasil”, assistência/atendimento domiciliário “é
aquele prestado à pessoa idosa com algum nível
de depedência, com vistas à promoção da autonomia, permanência no próprio domicílio, reforço dos vínculos familiares e de vizinhança”.
Na Internação Domiciliar, a família resgata
o direito de cuidar de seus entes, auxiliando com
injeções de amor e carinho o trabalho dos profissionais. Este serviço vem ocupar uma posição
importante que faltava em nosso sistema de saúde. Graças à Internação Domiciliar, pacientes
que ficavam nos hospitais por longas temporadas para receber cuidados médicos e de enfermagem, mas que dispensavam a complexidade
dos equipamentos hospitalares, agora, podem
ir para casa e continuar recebendo os cuidados
de forma sistematizada e profissional.
A má distribuição de leitos hospitalares, o
risco de infecções hospitalares, a impessoalidade no atendimento e o envelhecimento da população, aliados à limitação de recursos são alguns problemas enfrentados pelo sistema de
saúde do país. A internação domiciliar vem a ser
uma alternativa para otimizar estes fatores e
recursos.
BOLETIM
DOMICILIAR
A proposta da internação domiciliar é oferecer uma alternativa de assistência médica, tanto
aos hospitais e UBS, quanto aos próprios usuários,
em total conformidade com os princípios do SUS.
Sua filosofia é promover a melhoria na qualidade
de vida dos pacientes e familiares, através de um
atendimento diferenciado e humanizado.
Objetivos específicos
– Acelerar o processo de recuperação
através da proximidade do ambiente
familiar;
– Reduzir custos com internações e reinternações;
– Diminuir os riscos de infecções hospitalares;
– Proporcionar um ambiente mais humano ao paciente;
– Diminuir a incidência de depressão por
causa da doença;
– Proporcionar conforto à família, já que
no hospital só pode ficar um familiar
de acompanhante por período;
– Aumentar a rotatividade de leitos;
– Liberar leitos para pacientes críticos;
– Aumentar a satisfação do cliente e da
família;
– Reintegrar o paciente à vida normal;
– Integrar médico-família-paciente, proporcionando melhores condições psicológicas ao doente.
METODOLOGIA
A internação domiciliar deve, necessariamente, ter indicações médicas e seguir critérios de elegibilidades: consentimento informado
ao paciente/família, avaliação das condições
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. | 2004
90 | EQUIPE
DE I NTERNAÇÃO
DOMICILIAR
DO
H OSPITAL DOM JOÃO BECKER
familiares e domiciliares e do cuidado ao paciente, acesso geográfico.
Quando o paciente está apto para
alta hospitalar, ou seja, possui estabilidade clínica e pode ter baixa domiciliar, seguindo os critérios de elegibilidade, ele recebe o plano de atenção,
onde será revisado pela equipe (nas visitas), no decorrer do tratamento.
Durante o período da internação
domiciliar, o paciente recebe visitas semanais programadas da equipe multidisciplinar,
para avaliar e dar continuidade ao tratamento,
esclarecer dúvidas e orientar a família.Todo esse
processo é relatado no prontuário que fica no
domicílio. Em caso de intercorrência, o paciente
é atendido no hospital, havendo necessidade o
paciente reinterna. O paciente recebe alta por
melhora, cura, ausência de cuidador e o não cumprimento do plano terapêutico, conforme a Portaria número 2.416, de 23 de março de 1998 e
regulamento técnico da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), aprovado pelo decreto
número 3.029, de 16 de abril de 1999.
A equipe de assistência domiciliar no Hospital Dom João Becker é composta por: médicos,
equipe de enfermagem, psicólogos, nutricionistas e motorista.
O atendimento domiciliar beneficia pacientes internados pelo SUS (Sistema Único de Saúde), e o público alvo é a população idosa, que
necessita de cuidados. O público atendido por
este serviço são pacientes com idade superior a
65 anos, que apresentem pelo menos três internações no ano pela mesma causa, pacientes portadores de patologias crônicas, pacientes acometidos por trauma com fratura ou afecção ósteoarticular em recuperação e portadores de neoplasias malignas.
O panorama das faixas etárias atendidas, em
2004, pelo serviço de internação domiciliar (SUS)
do hospital estão no gráfico a seguir:
CONCLUSÕES
O serviço de atendimento domiciliar no
Hospital Dom João Becker busca atingir uma
parcela da população que carece de assistência à saúde, além de ser uma alternativa economicamente viável, como serviço específico,
pela redução do período de internação e aumento da rotatividade de leitos. É socialmente
desejável, contribuindo com a solução do grande problema da falta de leitos para internação
pelo SUS, e grande benefício como formador
ou preparador de sistema de auto-cuidado com
responsabilidade, e tecnicamente exeqüível
desde que se cumpram todos os passos previstos de forma ética e responsável.
É uma alternativa humana que busca propiciar uma recuperação mais adequada ao paciente, sem que o mesmo precise sair do seu
ambiente familiar, onde goza do carinho e
atenção da família, além de ter à sua disposição seus pertences, pois cada móvel, cada local tem sua história, trazendo consigo mais
segurança ao paciente. Estando na residência,
há diminuição dos riscos de infecções, há a
possibilidade de um tratamento mais tranqüilo e também há a liberação de leitos, dando
lugar a outros pacientes que requeiram cuidados hospitalares, além do cuidado específico
da equipe multidisciplinar, que passa a conhecer a realidade em que vive o paciente e cui-
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004
INTERNAÇÃO
DOMICILIAR
| 91
dar das suas necessidades específicas. A internação domiciliar constitui-se em importante
alternativa para os hospitais prestadores de
serviço ao SUS, gestores públicos e sociedade.
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÃNCIA SANITÁRIA.
Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br >Acesso em:
10 out. 2003
BEULKE, R. Gestão de custos e resultados na saúde:
hospitais, clinicas, laboratórios e congêneres. São Paulo:
Saraiva, 1997.
BRASIL. Ministério da Saúde. Disponível em:<http://
www.saude.ov.br>. Acesso em 18 out. 2003.
. Disponível em <http://www.hospitalgeral.com.br>.
Acesso em: 02 out. 2003.
. Disponível em: <http://www.ccih.com.br/forum5>. Acesso em: 02 out. 2003.
HOSPITAL DOM JOÃO BECKER. Relatório anual: planejamento estratégico. Gravataí, 2003.
MINOTTO, Ricardo. A estratégia em organizações hospitalares. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.
SINDICATO DOS MÉDICOS DO RIO DE JANEIRO. Disponível em: <http://www.sinmedrj.org.br/documentos/
lei8080.htm> Acesso em: 04 maio 2004.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Disponível
em: <http://www.sbggrj.org.br/noticias/index.htm > Acesso em: 04 maio. 2004.
BOLETIM
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. | 2004
LUDOTECA HOSPITALAR:
RESGATE DO IMPULSO LÚDICO
HOSPITAL PLAY ROOM:
RESCUE OF THE PLAYFUL PULSE
Gladis Salete Marafon Rodegheri
Professora, especialista em Psicopedagogia, ludotecária, psicodramatista,
membro da Federeção Latino Americana de Ludotecas - FLALU.
Instituição: Hospital Providência - Avenida Barão do Rio Branco, 1751. Marau/RS.
Caixa Postal 06 (54) 342.3455 - CEP 99.150-000.
E-mail:[email protected]
RESUMO
Este artigo apresenta a importância de abrir um espaço de
expressão que toma a vida com seus sentimentos, dores e
emoções, que podemos manifestar quando experimentamos,
convivemos, exploramos, jogamos para nos descobrir,
retomando a vida em todas as suas dimensões, especialmente
em um momento frágil de nossa existência, quando internos
em uma instituição hospitalar. Este enfoque remete-nos a
pensar em ações de humanização dos profissionais e instituições
de saúde em que o sujeito estácircunstancialmente doente.
Neste contexto, desenvolvemos o Projeto Social da Ludoteca
Hospitalar Florescer no Hospital Providência, em Marau,
percebendo o ser humano em sua totalidade e não apenas
como a soma de órgãos, ou uma patologia ou um número, em
que as aprendizagens são uma manifestação do viver, que está
impulsionado pelo lúdico e orientado pelo crescimento. É uma
resposta ao instinto de vida considerando que a condição inata
de um organismo é a saúde, e que as atividades de expressão
lúdica criativa são uma via da afirmação do sujeito.Desta maneira
confirma-se o sujeito em seu instinto de vida, que é a primeira
fonte de imunidade ante os agentes agressores que podem
envolvê-lo pela doença.
ABSTRACT
This article presents the importance of creating an
expression place which takes the life with its feelings, pains
and emotions, which we can manifest when we
experiment, we live together, we explore, we play to
discover ourselves, retaking the life in all its dimensions,
especially in a fragile moment of our life, when in a hospital.
This situation makes us think of some actions of
professionals and institutions of health humanization ,
where is the subject is circumstantially sick. In this context,
we developed the Social Project of Hospital Playroom
called "Florescer", at the Providência Hospital in Marau.
Noticing the human being in his totality, and not just as tha
amount of organs, or a pathology or a number, where
learning is a life manifestation, stimulated by the playful
conditions and guided by the growth. It is an answer to
life's instinct, considering that the innate condition of a
body is health, and that the activities of creative playful
expression are a way of the individual's affirmation . Thus,
it is confirmed the individual in his life instinct, which is the
first immunity source before the aggressor agents which
can involve it by the disease.
PALAVRAS-CHAVE
Humanização, jogos e brinquedos.
KEY WORDS
Humanization, games and plays
94 | GLADIS SALETE MARAFON RODEGHERI
INTRODUÇÃO
As transformações sociais, econômicas e científicas que vivemos, brindam-nos com novas possibilidades de nos inquietar ao olhar em nosso entorno e buscar outra percepção de relações entre indivíduos, que circunstancialmente estão doentes, e as
instituições de saúde que os acolhem, através dos
profissionais de saúde.
Com este olhar, relataremos a proposta da
Ludoteca Hospitalar Florescer, situada no Hospital Providência, em Marau (RS), que nasceu no
início do novo século. Descreveremos a gênese
da Ludoteca e sua situação atual, que tem por
finalidade humanizar o ambiente hospitalar, perceber o ser humano em sua totalidade, redimensionar a visão de hospitalização, considerando a
condição inata do organismo: a saúde.
A INSTITUIÇÃO
O Hospital Providência, localizado em Marau, à Avenida Barão do Rio Branco, 1751, em
uma área de 20.000m² com mais de 5.000m² de
edificações assim distribuídas: as Clínicas Data –
Méd, que oferece serviços de ultra-som com
imagem digital e Doppler a cores; Reabilitare,
clínica de fisioterapia e o Exatus Laboratório.
O Hospital Providência atende, mensalmente, em nível ambulatorial, uma média de 900 usuários, 300 internações hospitalares na área de clíni-
ca médica e pediátrica, 120 cirurgias geral e
obstetrícia.
Pelo SUS (Sistema Único de Saúde), o Hospital Providência interna, em média, 80 pacientes por mês, sendo que os pacientes de Marau e
da região buscam este hospital (Camargo, Casca, Gentil, Ibirapuitã, Itapuca, Mato Castelhano,
Montauri, Nicolau Vergueiro, Nova Alvorada,
Parai, Santo Antônio Palma, Nova Araçá, Vila
Maria, Vanini, Serafina Correa, São Domingos do
Sul, Soledade, ...), todas cidades de pequeno porte. A busca por nossa instituição deve-se à eficiência e eficácia dos serviços prestados de forma
humanizada, resolutiva em nossa complexidade,
pois, ao mesmo tempo em que verificamos nos
meios de comunicação o descaso para com essa
clientela, em nosso hospital, os usuários do SUS
não enfrentam qualquer tipo de diversidades na
busca dos nossos serviços, sendo eles a razão do
nosso trabalho. Na Ludoteca, a média de participação é de 50 pacientes por mês, distribuídos
entre crianças, jovens e adultos.
O nascer da Ludoteca Florescer
Esta experiência nasceu da inquietação de
humanizar o ambiente hospitalar, através de um
espaço de expressão: expressão, esta, percebida como via de afirmação do sujeito, como manifestação da alegria de viver. Abrir um espaço
de expressão, que toma a vida com os senti-
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004
LUDOTECA HOSPITALAR:
| 95
Raimundo Dinello apresentou uma nova concepção de ludotecas, inspirado em suas experiências
pedagógicas latino-americanas. Em fevereiro de
1986, na cidade de Uberaba, no “Circo do Povo”,
com representantes da Argentina, Brasil, Colômbia e Uruguai, foi fundada a FLALU, confirmando a nova concepção de ludotecas, ressaltando
o protagonismo de crianças que jogam, ficando
em enésimo plano o ordenamento e empréstimo de brinquedos, segundo as idades infantis.
Posteriormente, tem-se compartilhado esta proposta com colegas europeus.
mentos, dores e emoções, que podemos manifestar quando experimentamos, exploramos, jogamos para nos descobrir, e, assim, retomar a vida.
No entanto, para iniciar a falar sobre espaço de
expressão e humanização do ambiente hospitalar cabe perguntar: O que é uma ludoteca? Como
se organiza? Por que em um hospital?
Segundo Dinello (1998, p.50), Presidente
Fundador da Federação Latino Americana de
Ludotecas – FLALU:
As ludotecas são um espaço de expressão lúdica criativa, de crianças, jovens e adultos.Tem a
principal e global finalidade de favorecer o desenvolvimento da pessoa em uma dinâmica de
interação lúdica. Especificamente estimula o
processo de estruturação afetivo-cognitivo da
criança, socializa criativamente o jovem e mantém o espírito de realização do adulto. É uma
atividade que agrega os indivíduos, os quais se
reencontram em sua alegria de viver, de expressar-se e de sentirem-se com ânimo para empreender tarefas solidariamente: desde inventar jogos, fazer brinquedos até projetar melhorias nas condições da vida pessoal e coletiva.
A ação da Ludoteca Florescer
A Ludoteca Hospitalar Florescer funciona
em uma sala ampla, bem arejada, em dois horários semanais: segundas e terças-feiras das
13h30min às 15h.
Os pacientes chegam à ludoteca, através do
convite (sempre chamados pelo nome) feito pela
equipe de voluntários, que, anteriormente, haviam perguntado, aos enfermeiros, quais os pacientes que poderiam sair de seus leitos. Normalmente, eles chegam preocupados, tensos.
Entretanto, acreditamos que quem brinca, brinca pra valer; e, ao entrar no espírito lúdico, quer
jogando, dialogando, cantando, reencontra a alegria, porque se reencontra, sem críticas ou expectativa de outros. E, nessa liberdade de se
expressar, vai-se co-educando.
A ludoteca é um momento de liberdade,
onde cada um pode instalar-se livremente, organizando os objetos a sua maneira, quer seja
para ler, ouvir música, cantar, brincar, jogar, expressar-se com fantoches, fantasiar-se para fazer de conta, construir brinquedos..., tudo em
permanente diálogo entre sujeito e objetos, estimulando a afetividade na alegria de viver. É um
ambiente que proporciona a integração e a melhor inserção dos pacientes na instituição hos-
As ludotecas correspondem a uma concepção de educação integral, onde o protagonismo
de cada indivíduo o conduz a experimentar múltiplas atividades de expressão com outros participantes, atividades, essas, que são fundamentalmente lúdicas, e que brindam concomitantemente as possibilidades de experimentar, de forma criativa, a partir de múltiplos materiais.
As ludotecas surgiram em meados do século XX, na Europa (Dinamarca – Suécia – Suíça)
e nos Estados Unidos, semelhante às bibliotecas, a fim de emprestar brinquedos às crianças
“desprovidas” em um período de modernização
industrial (Ludo = jogos; teca = ordenamento).
Em seguida, no III Congresso Mundial de Ludotecas, realizado em Bruxelas, em maio de 1984,
BOLETIM
RESGATE DO IMPULSO LÚDICO
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. | 2004
96 | GLADIS SALETE MARAFON RODEGHERI
pitalar. Nela, surgem propostas de expressão,
criatividade, animação, jogos e brincadeiras.
Desenvolvemos atividades como jogos recreativos, música, teatro, fantoches, pintura,
contar histórias, lendas, utilizando objetos como
roupas velhas, pratos e bandejas descartáveis,
pedaços de madeiras, papéis, tintas, pincéis,
massa de modelar, revistas, livros, brinquedos,
caixas de remédios, frascos de soros, mangueiras
de equipos, cola quente, tampas de remédios e
injeções, entre outros. A ludoteca propicia a participação, a alegria e integração social, que acontece através da interação com a heterogeneidade de sujeitos e a diversidade de objetos.
Para animar as atividades lúdicas criativas em
uma ludoteca, há que se ter uma arte pedagógica, que acompanha a percepção de qualidade
educativa do orientador e seguir os seguintes
critérios: a) organizar um grande campo pedagógico, com uma dimensão espacial, de acordo
com o número previsto de participantes; b) assegurar o início das atividades, para que os participantes se aproximem, conheçam e explorem
as distintas propostas de expressão; c) convidar
para soltar as amarras, ou seja, liberar os braços
cruzados e mãos tensas, a fim de que tanto os
adultos quanto as crianças possam ter a experiência com as múltiplas opções; d) abrir e fechar
espaços de atividades, modificando as atividades
e suscitando os participantes a criarem situações
lúdicas; e) organizar o encerramento e a despedida com a participação de todos, buscando uma
dinâmica coletiva com cantos que expressem a
alegria compartilhada.
É de suma importância a equipe que anima a
ludoteca. No momento, somos um grupo multidisciplinar assim constituído: psicopedagoga, professora de ensino fundamental e médio, músico,
gaiteiro, enfermeira, técnica de enfermagem, estudantes universitários dos cursos de psicologia,
fisioterapia, assistência social e um grupo de senhoras que freqüentam a terceira idade.
Organizar uma ludoteca, em um hospital, com
finalidade terapêutica, fundamenta-se no pensamento de que, ao jogar, o sujeito se conecta melhor com a vida, o que favorece sua recuperação.
As ludotecas em hospitais podem ser excelentes
parceiras na recuperação do ser humano hospitalizado, pois a doença, a internação, o hospital são,
para o sujeito hospitalizado, experiências difíceis,
à medida que vivenciam a separação da família.
Existe, ainda, a necessidade de se adaptar a outro
ritmo, outro espaço, e, também, há que confiar
em pessoas que não lhe são conhecidas. As conseqüências dessa situação são muitas, como problemas de alimentação, sono, dificuldades de adequação, o que exige novos comportamentos.
Ao olhar o paciente em sua totalidade, perguntamo-nos: por que não criar um espaço prazeroso, alegre, lúdico, de expressão, em que o sujeito hospitalizado possa jogar, interagir com outros
sujeitos neste período de internação, ocorrendo,
então, sua inserção no contexto hospitalar?
O paciente continua com o direito de ter assegurado seu desenvolvimento humano, mesmo
quando internado, desenvolvimento humano entendido, difundido e promovido pelas Nações
Unidas como “a ampliação permanente das oportunidades para que todos possamos ter uma vida
plenamente humana”. Podemos nos perguntar o
que consideramos uma vida plenamente humana,
quando hospitalizados? Esta questão remete-nos a
pensar na possibilidade de nos expressar enquanto sujeitos, de nos comunicar na vitalidade lúdica,
em uma vida digna, de respeito a si mesmo, da
garantia dos direitos humanos, percebendo o homem enquanto um sistema vivo, em sua totalidade, e não como um corpo que adoece, e a saúde,
como um processo contínuo e flexível, e não como
ausência de doença.
Os sujeitos hospitalizados não deixam de ser
sistemas vivos, enfrentando momentos difíceis
e envolvidos em sofrimento, apresentando sintomas psíquicos como:
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004
LUDOTECA HOSPITALAR:
| 97
talizado? Afinal, este sujeito continua vivendo, e
o impulso de vida está presente. Através das
animações lúdicas (a origem está na pessoa que
apresenta o desejo de brincar, desenvolvendo o
crescimento pessoal, partindo do impulso lúdico que existe no ser humano), as pessoas podem sair da situação difícil em que se encontram.
Percebemos que a alegria e o humor; o brincar/jogar, a interação entre as pessoas não são
comuns em instituições hospitalares.
[...] a insônia, apreensão, angústia, traduzida
por uma sensação de alerta, preocupação excessiva ou hipervigilância, sentimento de temor ou sensação de perigo, inquietude, irritabilidade, diminuição da capacidade de concentração, “déficit” de memória. Tristeza, ansiedade, isolamento, apatia, idéias de morte, baixa auto-estima. (COUTINHO, apud NOVAES,
1998, p.42).
No entanto, mantêm dentro de si um potencial lúdico que pode e deve ser explorado:
podem dialogar, ouvir, escrever, ler, pintar, inventar, expressar-se criativamente e jogar.
Centrados na idéia de que frente a uma crise como o adoecer seguido de uma internação
hospitalar, os jogos, as brincadeiras são atividades de expressão propícias, pois à medida que
os sujeitos entregam-se ao jogo, segundo Dinello, facilitam-se-lhes uma ruptura com a realidade dos conflitos, constituindo uma bela maneira
de ultrapassar o estresse devastador, principalmente quando as condições de vida não são favoráveis, e o sofrimento é tão global e confuso.
Nessa mesma óptica de compreender os
jogos como oportunidade de se converter em
outro, a flexibilidade da passagem entre realidade e imaginação, própria da atividade lúdica, oferece-nos uma margem muito importante para
trocar de personagem, onde cada um pode experimentar-se em outros papéis além daqueles
conhecidos na vida social produtiva. Os jogos
abrem, novamente, uma porta de liberdade, de
comunicação e de expressão pessoal. (DINELLO,
1998, p.51).
A ludoteca, através das atividades de expressão, pode ser esta porta de liberdade, comunicação e expressão pessoal, no processo de nosso vir a ser existencial.
Acreditamos que todo o ser humano nasce
para crescer, aprender com alegria e ser feliz.
Por que não continuar a fazê-lo enquanto hospiBOLETIM
RESGATE DO IMPULSO LÚDICO
As finalidades da Ludoteca Florescer
A Ludoteca Hospitalar Florescer tem como
objetivo geral favorecer o desenvolvimento da
pessoa em uma dinâmica através da interação lúdica, especificamente estimula o processo de estruturas afetivo-cognitivo da criança, socializa
criativamente o jovem e mantém o espírito de
realização do adulto. Tem ainda como finalidades:
– Proporcionar a interiorização e expressão da vivência do sujeito interno por
meio do jogo: o paciente insere-se em
um contexto no qual a cooperação é
indispensável para a realização das atividades. A interação com o outro e com
os objetos, quando uma variedade de
sentimentos permeia as relações, possibilita a construção de relacionamentos
nas múltiplas situações que vivenciam.
E o jogo é a via natural das aprendizagens, que permitem ao ser humano
crescer...
– Auxiliar na recuperação dos pacientes:
visto que os pacientes recebem a medicação, os pedidos de exames e a alimentação, com melhor aceitação, após
sua participação na ludoteca. A maneira singular que cada interno tem de
enfrentar a hospitalização repercute
nos demais e é, ao mesmo tempo,
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. | 2004
98 | GLADIS SALETE MARAFON RODEGHERI
transformada pelas ações destes. Isto significa dizer que são constituídos socialmente os processos de elaboração da
condição de paciente e de modos de sentir, conceber e atuar frente a questões
de doença e saúde;
– Suavizar o trauma da internação através
de atividades lúdicas, oferecendo um espaço destinado aos jogos: o impulso de
vida está presente em todos nós; necessitamos acessá-lo, podendo fazer isto através das atividades lúdicas, proporcionando aos pacientes que sejam eles mesmos,
sem julgamentos, nem competições, mas
convivendo uns com os outros, com os
objetos e consigo mesmo;
– Perceber o ser humano em sua totalidade, humanizar o ambiente hospitalar;
não pode haver humanização (remarcar
a caracterização do humano através da
maneira de se relacionar e de ocupar o
cosmos), nem reconhecimento do sujeito, se este não tiver um espaço de expressão, quer dizer, onde e como se
expressar; em definitivo, um afirmar-se
no seu existir único, porque, ao se comunicar, o sujeito manifesta uma nova
sensibilidade a sua, que lhe é singular.
Consideram-se, então, a expressão e a criatividade, formas concretas no processo de aprendizagens para reconhecer o ser humano. No que
se refere ao sujeito interno, na sua forma integral, como realizá-lo se não existir um espaço de
afirmação, ou seja, um espaço onde possa manifestar-se criativamente enquanto sujeito ímpar,
porque a expressão criativa é inerente à natureza
humana e, através dela, manifestamos nossa necessidade de crescimento.
Acredita-se que, assim, pode-se redimensionar a percepção de hospitalização, considerando a
condição inata do organismo: a saúde.
A Clientela que faz a Ludoteca
Hospitalar Florescer
As crianças preferem brincar com fantoches,
momento em que colocam, através do teatro,
suas angústias, emoções, medos e chamam os
adultos à interatividade. Gostam muito de pintar, criar brinquedos com frascos de soro, mangueiras, tampas de remédios e brincadeiras com
tacos de madeira, massa de modelar e brinquedos industrializados.
Já os pacientes adultos gostam muito de
contar suas histórias, de serem escutados. Contam sobre a infância, tocam instrumentos musicais, dançam, quando podem, brincam com fantoches para dizer o que lhes passa no corpo e
nas emoções. Há brincadeiras com balões e, no
final de cada tarde, na ludoteca, dialoga-se sobre os movimentos realizados. Neste momento, já é festa, riso, alegria. É o impulso de vida
que brota em cada um e a volta ao leito é diferente. O corpo está solto, há gana de viver, acontece a troca no estado de ânimo, e trocar este
estado de ânimo pode ser o conflito a resolver.
Todos os participantes, em interação uns com
os outros e com materiais disponibilizados, encontram seu espaço de co-educação para crescer e dar relevância ao seu direito, enquanto ser
humano, de continuar seu processo de desenvolvimento. A proposta pedagógica das ludotecas
está fundamentada na expressão lúdico-criativa,
que assume grande relevância educativa, pois
permite um espaço de recreação com alegria, de
expressão com identidade, de criatividade com envolvimento, de interação com convivência, favorecendo a utilização de jogos espontâneos que integram as pessoas, os grupos humanos, as famílias,
comunidades e diferentes gerações. A criatividade
aparece sob forma de pintura, escultura, desenhos
e brincadeiras.
A expressão se apresenta nas criações cênicas, no contar estórias, lendas e contos, nas
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004
LUDOTECA HOSPITALAR:
| 99
to do paciente. É visualizar a situação de internação também como oportunidade singular de
proporcionar situações de aprendizagens nas
quais o sujeito possa desenvolver todas as suas
potencialidades, mesmo estando internado.
A experiência tem nos mostrado que esse
contato traz benefícios tanto a seus familiares,
que se mostram mais leves, alegres e participantes no auxílio aos seus como ao interno (incentivando o retorno à vida), pois retornam aos leitos com mais esperanças, confiantes, sorrindo,
querendo viver, tendo, como resultado, a recuperação mais breve do paciente e, conseqüentemente, a redução do tempo de internação e a
re-inserção na sociedade.
A ludoteca, ao trazer o impulso lúdico, que
é um impulso de vida, oferece um meio importante para o doente, seus familiares e amigos
superarem esta situação e, desta forma, buscar
consciente ou inconscientemente a recuperação,
superando o instinto de morte que age através
da doença; portanto é um apoio terapêutico em
forma de alegria, de brincar e de se expressar
criativamente para todos, pois a doença é, em
última instância, o conflito de viver. Trocar o estado de ânimo pode-se resolver este conflito.
Ousamos dizer que a criatividade e as atividades lúdicas são um dos caminhos que atendem às novas exigências de formação da atual
sociedade: a criatividade, pelo convite ao novo,
que atende às necessidades de uma realidade;
as atividades lúdicas, pelos benefícios que proporciona ao ser humano.
O sujeito hospitalizado necessita de educação, expressar-se, sentir-se acolhido em todas
as suas necessidades. Através da ludoteca, inicia-se um movimento de perceber o sujeito interno, com nome, com identidade, e não apenas um número, uma patologia ou a soma de
órgãos. Os benefícios são para todos: o hospital, o corpo clínico, enfermeiros, doentes, familiares, amigos, comunidade, município, estado,
gargalhadas de alegria, nos movimentos do corpo e no ritmo das músicas, e, ainda, o uso de massa
de modelar, sucata, vestimentas, instrumentos,
jogos, balões e inúmeros objetos que fazem da
imaginação um convite para ser inteligente e original. Por isso, esse espaço convida a cada um ser
ele mesmo, o protagonista de seu desenvolvimento em interação com o outro e com os objetos,
em uma proposta de educação lúdica criativa.
A expressão criativa é uma via de manifestar a
existência, com forma de descobrimento e desenvolvimento das reais potencialidades do ser
humano, uma maneira de integração sócio-cultural, um caminho para operacionalizar aprendizagens comportamentais e cognitivas.
Neste projeto, estão engajados, uma equipe multidisciplinar, com apoio da administração
do Hospital Providência, o corpo clínico e um
grupo de voluntários. Atentos com a responsabilidade social enquanto cidadãos, percebemos
a educação como compromisso essencial com
a espécie humana, seja com um grupo de alunos
nas instituições de educação formal, seja com
um grupo de pacientes, familiares, amigos em
uma instituição de saúde.
Os cursos de medicina apresentam uma formação acadêmica do profissional da saúde, independente de sua especialidade, que prevê um
doente, um diagnóstico e a cura. Decorrem daí,
aspectos importantes do funcionamento dos hospitais, que se preocupam com a cura física de seus
internos, pois a doença, o tratamento e, principalmente, as privações constituem fatores consideráveis de limitação e desajuste, o que pode
ocasionar, provocar ou agravar diversos desequilíbrios, tanto no doente como na família.
Perceber o paciente por outro enfoque, que
não só o da doença, mas também o da saúde
(mental, afetiva), é trazer, para a instituição hospitalar, outro olhar, é ver o ser humano na sua
totalidade - isto é inovador, é reconhecer a inadequação de um enfoque apenas curativo no traBOLETIM
RESGATE DO IMPULSO LÚDICO
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. | 2004
100| JACQUELINE TREVISAN; EUGÉLIA W OLMANN; EDMUNDO R EATEGUI
nação: a nossa contribuição, no sentido de minimizar os efeitos que advêm da doença e a sua
aceitação, contribuindo para a recuperação, de
forma breve, com menor período possível de internação, sendo menos dolorosa e traumática a
permanência hospitalar, assegurando a qualidade
de vida.
A aprendizagem é uma manifestação de vida,
que está impulsionada pelo lúdico e orientada pelo
crescimento; é uma resposta ao instinto de vida.
Participar da Ludoteca é estar em situação de
aprendizagem, é estar entre sujeitos-objetos e
outros sujeitos, ou seja, é estar em situação de
co-educação saudável, onde o usuário elege suas
atividades expressivas, que lhes possibilitam elaborar situações como a doença, a internação, a
administração de remédios, sair de seu cotidiano, de seu convívio com a família, trabalho ... Participando das atividades na Ludoteca Hospitalar
Florescer, o usuário se confirma sujeito em seu
instinto de vida, que é a primeira fonte de imunidade frente aos agentes agressores que o envolvem durante a enfermidade.
Nestes quatro anos de participação na coordenação da Ludoteca Hospitalar Florescer, acompanhamos em torno de 2000 pessoas que participaram deste espaço de expressão. Também
estamos nos desenvolvendo e as aprendizagens
e descobertas são muitas: aprendemos a perder
o medo de envelhecer, pois a convivência com as
senhoras da terceira idade nos brinda com o que
de melhor existe nesta fase da vida, a vitalidade
lúdica presente nelas e a alegria de viver são imensas; a adolescência, que é uma etapa de vida maravilhosa: perceber o engajamento dos adolescentes e a convivência entre as gerações é algo sublime, os profissionais que atuam como voluntários
no momento que estão com os usuários deixam
de ser professores, músicos, enfermeiros - são
pessoas que querem contribuir com as outras
pessoas, e todos dão o melhor de si, há a solidariedade, enfim, o amor como aceitação do outro
como o legítimo outro, e cada um de nós se expressa à sua maneira, deixando fluir nossa saúde.
Somos todos beneficiados com a participação na
Ludoteca, pois, ao iniciar as atividades, éramos
um grupo com muita gana de ajudar os usuários;
hoje, continuamos com esse espírito, porém
muito melhores, mais soltos e desenvolvidos. Os
adolescentes contam histórias com desenvoltura, constroem brinquedos com material alternativo, as senhoras realizam teatro, danças folclóricas, cantam, contam lendas, sempre convidando
os usuários a participarem, e eles entram nessa
magia e deixam brotar o que têm de melhor em
cada um: pintam, contam histórias pessoais ou
lendas, cantam suas músicas preferidas, constroem brinquedos e todos brincamos juntos, o
que possibilita uma comunicação com o impulso de vida de cada um: esse é o retorno à vida,
ao desejo de viver com qualidade. Chamamos
isso de humanização.
VIVÊNCIAS
Lá na Florescer
Para a magia acontecer
Surgem...
Frascos, mangueiras e alegria,
Cola, tampas e poesia.
De todo lugar,
Usuários, familiares, voluntários,
Dos leitos, das ruas a chegar.
Tintas, pratos de papel,
Esponja, algodão e pincel.
Fantoches, bandejas de isopor,
Interação e muito amor.
Histórias para ouvir e para contar,
Sujeitos à espera de um “outro olhar”,
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004
LUDOTECA HOSPITALAR:
RESGATE DO IMPULSO LÚDICO
| 101
qualidade. Para isso, é preciso ter um projeto humanístico, um olhar holístico para com o ser humano, buscando, assim, a promoção integral da
saúde, aliviar sofrimentos, medos, angústias, estabelecendo com as pessoas um vínculo, reforçando sentimentos de cooperação, confiança e esperança. Por isso, o Hospital Providência oferece este
serviço, a Ludoteca Hospitalar Florescer, onde o
usuário é convidado a sair do leito e participar das
atividades, expressando-se, garantindo melhor
qualidade de vida, de bem-estar físico, mental e
emocional, tanto de crianças, jovens, adultos e
idosos, o que reverte na melhor aceitação da medicação, promovendo o retorno ao seu cotidiano
com mais rapidez”.
H. B., Enfermeira
Onde conjugar
Sentimento, dor e emoção.
Com movimento, jogo e expressão,
É sentir-se acolhido por inteiro,
Não apenas um hospedeiro.
É ser sujeito respeitado,
Em um hospital humanizado.
Gladis Marafon Rodegheri
Depoimento de pacientes
“Enquanto no mundo alguém se importar com
a mais pura essência, os seres humanos não
irão desanimar, pois o que fica nesta vida”
marcado “são momentos como este”.
Um abraço, K. 29/05/01.
Depoimento dos médicos
“Estamos hoje, aqui, internados no Hospital Providência com minha filha, Alexandra, um tanto
triste por estarmos com doenças, mas, por outro
lado, alegres por sabermos que existem pessoas
interessadas em fazer as pessoas sorrirem”.
Obrigado por isso, M. C.
“A Ludoteca Hospitalar Florescer é fundamental
para que o paciente recupere a esperança de lutar
frente à doença, que recupere o desejo de viver”.
C. S., Médico
“A Ludoteca, enquanto espaço de expressão, é um
apoio importante na recuperação do paciente,
devido à melhor inserção hospitalar, aceitação da
medicação, alimentação, diminuição da ansiedade gerada pela internação, contribuindo para sua
recuperação. Observamos, ainda, que as mães ficam mais tranqüilas, porque além de conversarem com outras mães brincam com seus filhos, o
que favorece uma aproximação, que é fundamental no processo de recuperação”.
E. F., Médico
Depoimento dos colaboradores da área da
enfermagem
“A ludoteca é esperada pelos pacientes como um
momento de dar ânimo à vida”.
R. F., Técnica de Enfermagem
“Quando os pacientes voltam da ludoteca, eles
deixam puncionar a veia com mais tranqüilidade
e a aceitação da medicação é muito melhor”.
A. B., Auxiliar de Enfermagem
CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Cada vez mais, toma-se consciência e amplia-se
o conceito do quanto é importante ter saúde com
A busca por nossa instituição deve-se à eficiência e eficácia dos serviços prestados de for-
BOLETIM
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. | 2004
102| GLADIS SALETE MARAFON RODEGHERI
ma humanizada, resolutiva em nossa complexidade. A participação e inserção do Hospital Providência no projeto de Política de Humanização
e Assistência à Saúde, melhorando a qualidade e
eficácia da atenção dispensada aos usuários, fundamenta-se na valorização da vida do ser humano, capacitando os profissionais da saúde (que
são todos os envolvidos na instituição hospitalar) e voluntários do Hospital Providência para
dar continuidade ao projeto através do conceito de atenção à saúde integral do ser humano.
Dentro da Política de Humanização da Assistência à Saúde que estamos desenvolvendo no
Hospital Providência de Marau, apresentamos o
Projeto da Ludoteca Hospitalar Florescer, procurando traduzir algumas ações em gestos concretos, realçando o valor da pessoa humana, não
a reduzindo simplesmente como um corpo, ou
uma soma de órgãos, mas trazendo esta visão
holística, o que torna este Projeto um grande e
gratificante desafio. O indivíduo é um todo, é
uno, é indivisível, um nó de relações. Então, ser
humano é possuir corporeidade, é ter psiquismo e coração, é conviver com os outros, cultivando esperança, e crescer na perspectiva de
ser um indivíduo saudável em todas as dimensões e, assim, ser acolhido nas instituições de
saúde. O individuo é sempre um ser humano
em evolução.
Vista, assim, a Ludoteca Hospitalar Florescer tem seu profundo significado ao brindar cada
usuário com a possibilidade de se expressar enquanto sujeito, de se comunicar na vitalidade
lúdica, que suaviza o trauma da internação e ajuda na recuperação da saúde, diminuindo o prazo médio de internação e fortalecendo a cultura
do atendimento humanizado da saúde. Temos
como missão proporcionar aprendizagens, cultura e educação para a Saúde, sendo que nosso
objetivo maior é desenvolver a humanização
hospitalar, observando a corporeidade que fala,
por vezes, sem emitir palavras, trabalhando no
aqui e agora, lidando com as contradições, com
as possibilidades de transformá-las em novas
ações, propiciando o desenvolvimento do ser
enquanto pessoa.
REFERÊNCIAS
AMORIN, Ivani Carvalho Oliveira. O alívio do estresse na criança hospitalizada. Psicopedagogia, São Paulo, v. 19, n. 57, p.
80-84, nov. 2001.
BUTELMAN, Ida. Pensando as instituições. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1998.
DELORS, Jacques. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre a Educação para o século XXI.
São Paulo: Cortez, 1998.
DI LEO, Joseph H. A interpretação do desenho infantil.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.
DINELLO, Raimundo. Expressão lúdico criativa. Uberaba:
Universitária, 1997.
. Expressão e criatividade. Montevideo: Gráficos
del Sur, 1998.
. El juego - ludotecas. Montevideo: Gráficos del Sur,
2003.
. Pedagogía de la expresión. Montevideo: Gráficos
del Sur, 2003.
FERNANDEZ, Alícia. A mulher escondida na professora.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
. A inteligência aprisionada. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1990.
MENDES, Glória Maria Siqueira. O desejo de conhecer e o
conhecer do desejo: mitos de quem ensina e de quem aprende. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
PESSINI, Léo. Humanização da dor e sofrimento humanos no
contexto hospitalar. Bioética, Brasília, v. 10, n. 2, p. 51-72, 2002.
RODEGHERI, Gladis Salete Marafon. Ludoteca Florescer.
2003.Disponível em: <http://www.hospitalprovidencia.com.br/
lhf>. Acesso em: 20 set. 2004.
______. Psicopedagogia: abordagem institucional e clínica. ,
2000. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização) - Faculdade de Educação, Universidade de Passo Fundo, Passo
Fundo, 2000.
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004
LUDOTECA HOSPITALAR:
RESGATE DO IMPULSO LÚDICO
| 103
RÜDIGER, Dahlke. A doença como linguagem da alma.
São Paulo: Cultrix, 1992.
RODULFO, Ricardo. O brincar e o significante. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1990.
ROGERS, Carl Ransom. Tornar-se pessoas. 2. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1961.
SCOZ, Beatriz. Psicopedagogia: o caráter interdisciplinar na formação e atuação profissional. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.
VÉLEZ, Carlos Alberto Jiménez; DINELLO, Raimundo
Angel; MARROQUIN, Jesús Alberto Motta. Lúdica cuerpo y creatividad: la nueva pedagogía para el siglo. Bogotá: Cooperativa Editorial Magistério, 2001.
VIORST, Judith. Perdas necessárias. São Paulo: Melhoramentos, 1988.
BOLETIM
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. | 2004
O CUIDADO HUMANIZADO PARA PACIENTES
PSIQUIÁTRICOS EM HOSPITAL GERAL
THE HUMANIZED CARE OF PSYCHIATRIC PATIENTS
IN GENERAL HOSPITALS
Jacqueline Fátima Trevisan
Psicóloga
Eugélia Wolmann
Enfermeira
Edmundo Berni Reategui
Médico Clínico Geral
Instituição: Hospital dos Trabalhadores de Ronda Alta
Fone: (54) 364 14 96
E-mail: [email protected]
RESUMO
O projeto de humanização do Hospital dos Trabalhadores de
Ronda Alta - RS teve início em outubro de 2003, e visa a atender
diversos tipos de transtornos psíquicos, como esquizofrenia,
retardo mental, depressão, dependência alcoólica e química,
entre outros. O motivo para desenvolvermos este trabalho é
amenizar o sofrimento psíquico dos pacientes através da
associação de procedimentos, que envolvem, de um lado, a
ação medicamentosa, a fim de modular certas respostas, e, de
outro, a psicoterápica que procura orientar os pacientes sobre
como lidar com seu "problema". Além disso, através da
psicoterapia e dinâmicas de grupo, procuramos indagar o por
que das respostas diferentes, dos medos, angústias, sentimentos
negativos e relacioná-los com o mundo externo. Entendemos
que o tratamento deve contribuir para o bem-estar físico e
psicológico do paciente - espírito e corpo, inteligência,
sensibilidade, responsabilidade pessoal, entre outros.
Acreditamos que todo ser humano deve ser preparado para
elaborar pensamentos autônomos e críticos, como também
formular os seus próprios juízos de falar, decidir por si mesmo,
bem como o seu modo de agir nas diferentes circunstâncias
de vida. Podemos dizer que já estamos colhendo "bons frutos"
através do nosso trabalho e empenho com estes pacientes,
pois obtivemos um resultado satisfatório, com um índice de
82,99% de êxito nos tratamentos, mostrando que, por ser
uma idéia nova, tem dado resultados positivos.
ABSTRACT
The humanization project of the Hospital dos
Trabalhadores, from Ronda Alta - RS, began in October
2003 and it aims at caring many kinds of psychic disorder,
as schizophrenia, mental retardation, depression, alcohol
and drug addiction, among others. This work aims at
mitigating the patients' psychic suffering by associating
procedures, which involve on one side, the medication
action in order to modulate certain responses, and on the
other, the psychotherapy which aims at orientating the
patients on how to treat his/her "problem". Besides,
through the psychotherapy and group dynamics, we try
to ask the reason of different responses, the fears; anxiety,
negative feelings and relate them with the external world.
We know that the treatment shall contribute to the
patient's physical and psychological well-being - spirit and
body, intelligence, sensibility, personal responsibility, among
others. We believe that every human being shall be
prepared to have autonomous and critical thoughts, as well
as to formulate his own speaking judgments , to make his
own decisions, as well as his way of acting in the different
life circumstances. We can say that we have already been
taking the credits with our work and pledge with these
patient, because we have already obtained a satisfactory
result -a rate of 82.99% of success with the treatments,
showing that as new idea, it has been giving positive results.
PALAVRAS-CHAVE
Humanização, assistência ao paciente, saúde mental.
KEY WORDS
Humanization, patient care, mental health.
106| JACQUELINE TREVISAN; EUGÉLIA W OLMANN; EDMUNDO R EATEGUI
INTRODUÇÃO
Sabemos que se faz necessário, em nosso
meio, romper paradigmas em “saúde mental”,
criar uma nova cultura, sem utopias, minimizando a exclusão decorrente das desigualdades sociais e econômicas e, desta forma, buscar a reinserção do indivíduo na sociedade.
O Hospital dos Trabalhadores de Ronda
Alta – RS, construído na década de 90, após
um incêndio, atua a nível municipal e regional,
e, preocupa-se com a socialização dos pacientes, fazendo, deste município, referência em tratamento psiquiátrico. Essa instituição vem desenvolvendo, desde outubro de 2003, uma relação de troca de experiências e serviços a pacientes psiquiátricos, sendo pioneira neste tipo de
prática. Por meio do projeto de humanização, o
Hospital vem ampliando o atendimento a diversos tipos de transtornos psíquicos, como esquizofrenia, retardo mental, dependência alcoólica
e química, entre outros. Graças a uma parceria
com as Secretarias de Saúde e do Sistema Único
de Saúde (SUS), os pacientes recebem atendimento exclusivo e gratuito. Essa parceria possibilita um novo modelo de “saúde mental”, com
ênfase no ato de humanizar. Pequenos agricultores, com baixa escolaridade e baixíssimo poder aquisitivo, na faixa etária de 20 a 60 anos,
são o público alvo.
Neste contexto, ações, que envolvem cuidado médico, de enfermagem e psicológico as-
sociadas ao tratamento do paciente psiquiátrico, já estão revelando resultados positivos, proporcionando suporte essencial para o alcance
eficaz do tratamento.
A nossa idéia de cuidado humanizado tem
como base, estabelecer, com o paciente, uma
relação pessoal e subjetividade na hora do atendimento individual, sendo que estes pacientes são
encaminhados/estimulados tanto para trabalhos
individuais quanto em grupos, que são geralmente formados por pessoas com patologias e experiências de vida semelhantes, o que facilita a troca de idéias e o fortalecimento da auto-estima.
Para isso, disponibilizamos, aos nossos pacientes,
um centro de diagnóstico moderno e uma equipe de profissionais preparados.
Através desta estratégia, foi possível perceber uma melhora significativa no que tange ao
cuidado com o usuário, bem como demonstrar
que “ainda” podemos oferecer serviço público
e gratuito, com qualidade e eficiência, uma vez
que o atendimento se dá pelo SUS. Esperamos
que a implementação dos resultados possa contribuir para ajudar no tratamento e no futuro
destes pacientes.
Diante disso, acreditamos que nós, profissionais de saúde, possamos contribuir para a
promoção do cuidado humanizado. Porém, temos que ter domínio teórico e prático, a fim de
desenvolvermos um trabalho construtivo, no
sentido de proporcionar às pessoas bem-estar
e qualidade de vida.
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004
O
CUIDADO HUMANIZADO PARA PACIENTES PSIQUIÁTRICOS EM HOSPITAL GERAL 107
OBJETIVOS
Convém lembrar que as ações desenvolvidas visam a manter os pacientes informados no
que diz respeito às novidades que surgem na área
de dependência e/ou algum transtorno psíquico, apoio e acompanhamento que fazem parte
do processo de humanização com familiares
orientando sobre diagnóstico, tratamento e
prognóstico. A realização de encontros de prevenção, diálogo com resgate de valores e de inclusão social, bem como a criação de um nível
de consciência exata de suas posições na sociedade, constituindo-se em uma etapa crítico-reflexiva da proposta.
Após a alta hospitalar, os pacientes são encaminhados com seus respectivos pedidos de ajuda (pessoais, por correspondência, telefone, e-mail)
para seus devidos municípios, que normalmente
se responsabilizam e se comprometem com os
usuários, apoiando seu tratamento. Desta forma,
trabalhamos a contra referência na alta hospitalar,
com o propósito de dar continuidade ao tratamento dos pacientes em suas comunidades/cidades.
Objetivo geral
Reinserção e socialização do paciente psiquiátrico na família e na sociedade.
Objetivos específicos
– Proporcionar tratamento eficiente de
transtornos psíquicos com técnicas e
métodos alternativos;
– Proporcionar ao paciente a oportunidade de se integrar em um ambiente
acolhedor e familiar;
– Promover diálogos que possibilitem tomada de decisões e atitudes positivas;
– Oportunizar a auto-avaliação e a melhora da auto-estima.
METODOLOGIA
A metodologia utilizada baseou-se em
práticas alternativas como leituras, reflexões,
RESULTADOS
encontros e discussões, trabalhos com jornais
e revistas, filmes educativos, a fim de viabiliO público, que já foi, ou está sendo atendizar e proporcionar um tratamento humanizado, corresponde a um total de 241 pacientes,
do e diferenciado aos pacientes.
sendo que, 82,99% destes tiveram uma resoAlém destas atividades, os pacientes parlutividade positiva no seu prognóstico. Estes dados
ticipam de atividades sociais, como
participação nas missas da comunidade, práticas esportivas com profissionais voluntários da área de
educação física, atividades de manicure, pedicure, cabelereiro, realizadas por profissionais voluntários,
normalmente uma vez por semana.
Além disso, os pacientes dispõem
de um pátio, onde podem dialogar,
jogar, “matear”, entre outras ativi- FIGURA 1: ÍNDICE DE RESOLUTIVIDADE DOS TRATAMENTOS REALIZADOS NESTA
INSTITUIÇÃO
dades.
BOLETIM
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. | 2004
108| JACQUELINE TREVISAN; EUGÉLIA W OLMANN; EDMUNDO R EATEGUI
foram conseguidos através de informações sobre
as internações e reinternações, sendo estas feitas
por telefone aos seus respectivos municípios.
CONCLUSÃO
Esperamos que este projeto e a implementação de seus resultados possam contribuir para ajudar no tratamento e no futuro
destes pacientes.
Diante disso, acreditamos que nós, profissionais da saúde, possamos contribuir para a promoção do cuidado humanizado. Porém, temos
que ter domínio teórico e prático, a fim de desenvolvermos um trabalho construtivo, no sentido de proporcionar às pessoas bem-estar e
qualidade de vida.
REFERÊNCIAS
FRILLEN, Silvino José. Exercícios práticos de dinâmica de
grupo. 24.ed. Petrópolis: Vozes, 1997.
. Exercícios práticos de dinâmica de grupo.
25.ed. Petrópolis: Vozes,1997.
. Janela de Johari: exercícios, vivências de dinâmica de grupo, relações humanas. 19. ed. Vozes, 2002.
MENEZES, Mara Silvia Carvalho. O que é o amor exigente. 21. ed. São Paulo: Loyola, 1999.
ROBERTO, Clarice Sampaio et al. Drogas e trabalho: uma
proposta de intervenção nas organizações. Psicologia:
Ciência e Profissão. Brasília, v.22, n.1, p.18-29, 2002.
ROSSI, Ana Maria. Estressado, eu? Porto Alegre: RBS,
2004.
SILVEIRA, Dartiu Xavier. Um guia para família. Brasília:
Secretaria Nacional Antidrogas, 2000. 36 p.
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004
O PACIENTE HOSPITALIZADO
COMO SUJEITO OU OBJETO
THE INPATIENT AS A PERSON OR A THING
Délio José Kipper, MD, PhD
Doutor em Pediatria, Coordenador do Comitê de Ética em Pesquisa
da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS
110| DÉLIO K IPPER
INTRODUÇÃO
O problema
Como realizar estas tarefas, sem desrespeitar
a dignidade das pessoas humanas, pacientes-sujeitos do processo de ensino-aprendizagem?
O perfil do formando em medicina
A perspectiva do poder público
“Profissional com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, pautado por princípios éticos adequados e deve estar capacitado a atuar no processo saúde-doença [...]
com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania [...].”
seres humanos, seus valores, desejos e sofrimentos.
Desejam experiência prática, a fim de poder cumprir sua tarefa social e aplicar seus
conhecimentos em benefício dos pacientes.
A perspectiva dos educadores
A maneira mais eficiente e duradoura de
adquirir conhecimento, habilidade ou atitude é
exercitar ações que exijam tal conhecimento, tal
habilidade ou tal atitude.
A perspectiva dos pacientes
Esperam atendimento humano, com eficiência e eficácia (benefícios), com o mínimo de
riscos e desconfortos, e anseiam por uma ótima
comunicação com a equipe de saúde.
Quanto ao conteúdo do curso
PESQUISA
[...] compreensão ética, psicológica e humanística da relação médico-paciente.
Quanto ao treinamento em serviço
[...] inserido precocemente em atividades práticas relevantes [...].
A perspectiva dos alunos
Além da capacitação técnica, senso de
responsabilidade, por estarem lidando com
Childress: Condições para que a pesquisa
com seres humanos seja moralmente aceitável:
– Deve existir uma razão moral importante;
– Deve existir uma expectativa razoável
de que o conhecimento vai ser gerado;
– É uma questão de último recurso ou se
seu uso é necessário;
– Análise favorável de risco/benefício;
– Consentimento livre e esclarecido;
– Eqüidade.
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004
O
RECOMENDAÇÕES PARA O
ATENDIMENTO HUMANIZADO
E MORALMENTE ACEITÁVEL
–
– As instituições de ensino devem adequar-se ao processo pedagógico determinado pelo poder público, e criar sistemas de avaliação permanente, visando a garantir que os objetivos técnicos
e pedagógicos estão sendo alcançados;
– As instituições de ensino devem favorecer a formação pedagógica dos professores, já que uma das justificativas
éticas para ter alunos participando dos
cuidados diretos ao paciente e residentes praticando atos médicos complexos
é atingir competências mínimas para os
primeiros e a excelência profissional
para os últimos, o que só será alcançado sob uma supervisão técnica e didática adequada;
– As instituições de ensino devem garantir um ambiente para o desenvolvimento dos conhecimentos, habilidades e
atitudes apropriadas, com participação
precoce dos alunos no sistema de saúde, necessárias ao exercício profissional e ao compromisso ético e social do
futuro médico;
– Estas instituições devem, sistematicamente, se questionar se os alunos e
residentes não estão sendo pressionados a realizar tarefas para as quais não
estão capacitados, não só para protegê-los, mas também para ter uma atitude respeitosa e humana com aqueles
que estão sendo preparados para serem humanos com seus pacientes;
– As instituições de ensino devem estabelecer uma política para todos os aspectos dos cuidados realizados por alunos, residentes e professores, e criar
BOLETIM
–
–
–
–
–
DA
PACIENTE HOSPITALIZADO COMO SUJEITO OU OBJETO
| 111
mecanismos para a avaliação de como
esta política de atendimento aos pacientes é implantada e a satisfação dos
usuários com os cuidados oferecidos;
Todos os pacientes devem ser informados sobre a natureza de ensino e o funcionamento da instituição, previamente à sua admissão. Devem ser esclarecidos os benefícios e os eventuais riscos existentes no ambiente de treinamento profissional e estes devem ser
distribuídos com eqüidade;
No processo de obtenção do consentimento, deve ser discutido, de modo
honesto, o envolvimento de alunos e
residentes nos seus cuidados, deve ser
esclarecido que cada membro de equipe realizará as tarefas para as quais tenha competência específica, sempre
sob supervisão de um médico experiente e plenamente capacitado.
O consentimento do paciente para participar do processo de ensino deverá
ser específico para cada procedimento
ou tratamento necessário, sob supervisão.
A prática do consentimento informado
não é meramente uma obrigação ética
ou legal, mas uma oportunidade apropriada para treinar as habilidades técnicas de comunicação com os doentes
e suas famílias, para aprofundar a confiança na relação médico-paciente e
para transmitir solidariedade, otimismo
e esperança.
As instituições de ensino devem ter políticas, normas e controles sobre a obtenção dos consentimentos e uma definição clara sobre quem será responsável por esta tarefa.
O governo deve assegurar recursos
para o bom processo educacional e não
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. | 2004
112| DÉLIO K IPPER
punir estas instituições pelos seus custos operacionais mais elevados.
O QUE FAZEMOS
– Atividades Humanizadoras do HSLPUCRS;
– Comitê de Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente e Cuidados Hospitalares;
– Recreação Terapêutica (Psicopedagogia);
– Comitê de Bioética;
– Grupo de Puérperas;
– Madrinhas;
– Voluntárias da Mama;
RECREAÇÃO TERAPÊUTICA
(PSICOPEDAGOGA)
–
–
–
–
–
–
–
Educação continuada;
Crianças especiais;
Hora do Conto;
Cuidando dos animais;
Educação ambiental;
Musicoterapia;
Voluntários (cantores infantis, mágicos
e teatros);
– Passeios (Cinema, Museu e Jardim Botânico);
– Festas em datas comemorativas;
– Intervenção psicopedagógica.
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004
PROJETO ABRAÇO: UM PROJETO SOCIAL DA
FAU-HE/UFPEL PROMOVENDO A QUALIDADE DE
VIDA DA COMUNIDADE PELOTENSE
HUG PROJECT: A FAU-HE/UFPEL SOCIAL PROJECT PROMOTING
LIFE QUALITY OF PELOTAS COMMUNITY
Tânia Laís Brizola
Gerente de Recursos Humanos da FAU; Pós-graduada em Psicologia Hospitalar pela Universidade Luterana do Brasil
Luiz Vicente Borsa Aquino
Diretor Executivo da FAU; Especialista em Administração Hospitalar.
Vanessa Andina Teixeira
Psicóloga; Mestre em Saúde e Comportamento pela Universidade Católica de Pelotas.
Instituição: Fundação de Apoio Universitário
Rua Professor Araújo, 433 - Cep: 96020-360 - Pelotas-RS
Fone: (53) 3284-4965
E-mail: tâ[email protected]
RESUMO
Tem se demonstrado crescente a importância em se adotar a
Política de Humanização da Assistência à Saúde e também da
responsabilidade social da empresa. O Hospital Escola - HE da
Universidade Federal de Pelotas - UFPel, e a Fundação de
Apoio Universitário - FAU são instituições que buscam cumprir
com ambos os papéis: a humanização e a responsabilidade
social. O Projeto Abraço é um projeto social, desenvolvido
pelas referidas instituições a fim de promover uma integração
junto à comunidade de Pelotas/RS, através de ações educativas,
preventivas e sociais. Diversas atividades já vêm sendo
desenvolvidas e, até o momento, tanto o grupo que tem
recebido este tipo de atenção, quanto o grupo que tem
oferecido seus serviços, têm se demonstrado satisfeitos com
os resultados. A avaliação que fica é de que a qualidade de vida
dos sujeitos melhora através destas ações.
ABSTRACT
It has been shown the increasing importance of adopting
the Health-Care Humanization and the Company's Social
Responsibility Policies. The School Hospital of the State
University of Pelotas - UFPel and the Foundation of
Academic Support are institutions aiming at accomplishing
both purposes: the humanization and the social
responsibility. The Hug Project is a social project,
developed by the institutions listed above, in order to
promote integration with the community of Pelotas/RS
through educational, preventive and social actions. Several
activities have already been developed and, so far, both
the group that has been receiving this kind of care, and
the group that has been offering its services, have shown
to be satisfied with the results. The final evaluation is that
the individual's life quality has improved with these actions.
PALAVRAS-CHAVE
Humanização, qualidade de vida, responsabilidade social.
KEY WORDS
Humanization, life quality , social responsibility.
114| TÂNIA BRIZOLA; LUIZ AQUINO; VANESSA TEIXEIRA
INTRODUÇÃO
No ano de 2002, o Ministério da Saúde publicou o Manual do Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar - PNHAH,
no qual era reforçada a importância em se estabelecer uma relação mais humana entre gestores, usuários e profissionais do atendimento hospitalar, além de estimular as instituições hospitalares a implantar o programa e a se integrarem à Rede Nacional de Humanização (RNH).
Os princípios fundamentais propostos provinham da experiência produzida pela implantação
do Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), que se referiam à singularidade dos hospitais e à estreita cooperação
entre os diversos agentes que compunham o Sistema Único de Saúde (SUS). A constituição de
Grupos de Trabalho de Humanização (GTH) e a
RNH seriam espaços para se promover a comunicação entre as instituições públicas de saúde e consolidar o processo de humanização nos
hospitais.
O enfoque dado neste material referia-se
ao atendimento nos serviços hospitalares, mas
colocava, também, como um desafio à melhoria
da qualidade dos serviços prestados à população, em termos de eficácia e produção de saúde
(Ministério da Saúde, 2002). Afirmava, ainda, que
a possibilidade de eficácia do atendimento estava relacionada à forma como se dá a integração,
a comunicação, o vínculo e reconhecimento
mútuo entre profissionais e usuários, equipes de
profissionais e gestores de diversas instâncias.
No presente ano, foi lançada, então, a Política de Humanização da Assistência à Saúde
(PHAS), tendo propósitos semelhantes ao programa citado anteriormente. No documento
publicado pela Secretaria de Saúde do Estado
do Rio Grande do Sul, o trabalho voluntário é
tratado como uma das formas mais efetivas da
aliança da instituição com a comunidade, incorporando, através do voluntariado, uma parcela
de sua responsabilidade no atendimento realizado em saúde. Entretanto, neste sentido, parece que este programa enfoca o desenvolvimento deste trabalho ocorrendo sempre dentro da
instituição hospitalar ou de atendimento.
Ao se encarar o hospital enquanto empresa, outros fatores se fazem presentes neste processo de humanização. Em 2001, a Social Accountability International (SAI) publicou um documento sobre a responsabilidade social – o SA 8000.
Trata-se de um padrão ético desenvolvido para
promover a idéia de uma empresa socialmente
responsável, apresentando requisitos que possibilitam à empresa desenvolver e manter uma
política ética de responsabilidade social.
Sob este aspecto, Neto (1999) entende que,
se a instituição obtém recursos da sociedade,
ela deve também restituir, à mesma, não só em
forma de produtos, mas, especialmente, através de ações educativas e sociais voltadas para a
solução de problemas nas áreas que afligem esta
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004
PROJETO
ABRAÇO : UM PROJETO SOCIAL DA FAU-HE/UFPEL PROMOVENDO A QUALIDADE DE VIDA DA COMUNIDADE PELOTENSE
– Difundir a importância da gestão socialmente responsável pela instituição e
seus colaboradores, através do desenvolvimento de ações educativas, preventivas e sociais.
mesma comunidade. Quando uma empresa decide
contribuir para a melhoria de um quadro social local, ela ganha internamente, pois gera motivação e
dedicação de seus colaboradores. A instituição passa a ser vista com mais simpatia, e traduz uma imagem de comprometimento com a comunidade.
Enquanto instituição de saúde, percebemos
que nosso produto é o bem-estar do usuário e,
para tal, o processo de humanização é fundamental. Entretanto, fomos além da humanização que se dá apenas no ambiente hospitalar, e,
pensando em unir o nosso compromisso com a
sociedade enquanto empresa a este processo, é
que surgiu então a idéia do Projeto Abraço.
METODOLOGIA
É importante destacar que o Hospital Escola - HE funciona com recursos exclusivamente provindos do Sistema Único de Saúde (SUS),
não possuindo outros convênios, não visando a
fins lucrativos. Logo, para o desenvolvimento de
algumas ações, recursos financeiros por vezes
foram buscados em outras instituições locais,
promovendo uma aproximação com outras
empresas interessadas em colaborar.
Pretendendo-se, então, desenvolver atividades que promovessem uma integração entre instituição e comunidade, levando, na medida do possível, recursos que colaborassem para a qualidade
de vida da comunidade de Pelotas de uma maneira
humanizada, fez-se necessária a seguinte logística.
Inicialmente, foi realizada uma divulgação
interna do projeto aos funcionários do hospital,
informando-os sobre as atividades que poderiam
ser realizadas, formas de participação e inscrição,
e maneiras como tais atividades poderiam ser
adaptadas ao horário de trabalho. Após esta etapa, ficou a cargo do Departamento de Recursos
Humanos e Psicologia do Trabalho, o recrutamento dos colaboradores interessados.
Uma divulgação externa também aconteceu, a fim de recrutar instituições da comunidade com interesse no trabalho, visando a estabelecer vínculo e avaliar as necessidades dos grupos interessados.
Conforme dito anteriormente, a busca de
parcerias com outras empresas aconteceu – e ainda acontece - a fim de arrecadar recursos financeiros, políticos e técnicos que o hospital não possua.
OBJETIVOS
Objetivo Geral
Difundir a importância da gestão socialmente responsável pela instituição e seus colaboradores através do desenvolvimento de ações educativas, preventivas e sociais.
Objetivos Específicos
– Fortalecer o espírito da cidadania institucional;
– Promover a satisfação e o respeito entre os colaboradores da instituição;
– Oportunizar a participação de colaboradores em ações preventivas, educativas e sociais promovidas pela instituição;
– Promover laços que visem a mobilizar,
capacitar e reconhecer as práticas de
responsabilidade social;
– Promover qualidade de vida à comunidade pelotense, a partir das demandas trazidas pela mesma, via contato
com a instituição;
BOLETIM
| 115
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. | 2004
116| TÂNIA BRIZOLA; LUIZ AQUINO; VANESSA TEIXEIRA
Após o recrutamento, procedeu-se a apresentação dos programas e cronograma das ações
a serem desempenhadas, dentro das necessidades previamente trazidas pelas instituições vinculadas. Faz-se importante ressaltar que as atividades se referem, em especial, às questões de
saúde geral e educação, áreas nas quais a instituição possui recursos técnicos.
Ao término de cada atividade, procedeu-se
à avaliação das atividades desenvolvidas, objetivando um feedeback pela instituição e/ou comunidade beneficiada.
Destacamos que o público referenciado restringe-se à comunidade de Pelotas/RS, representada ou não por instituições diversas, como asilos,
escolas especiais, presídio municipal, bairros, etc.
CONCLUSÃO E RESULTADOS
Desde a implantação do projeto, diversas
atividades foram realizadas pelos setores do HE/
FAU. Os colaboradores da instituição efetivaram
atividades vinculadas à sua área de atuação, reforçando sua identidade com o trabalho contratado, veiculado ao desafio de ampliar sua práxis
como ferramenta de transformação, vinculação
e intervenção, abrindo espaço para o conhecimento e reconhecimento de diferentes sujeitos
e talentos, na produção coletiva em saúde.
A abordagem deste projeto reforça o aproveitamento de habilidades próprias do colaborador, bem como a promoção de uma rede de
suporte social entre grupos e instituições para
troca de informações, orientações e experiências na busca de alternativas para possíveis modificações, não só na esfera microssocial de saúde, como também na ampla gama de fatores
macrossociais que determinam e constituem a
rede básica de saúde.
Do ponto de vista social, é importante reconhecer que têm sido privilegiados aspectos
relevantes em saúde, interagindo com esferas
do biológico , afetivo e social como também a
inter-relação entre trabalho e saúde numa construção recíproca.
A partir desta premissa, o Serviço de Nutrição do HE e alunos da Faculdade de Nutrição/
UFPel atuaram em asilos e escolas especiais, tendo como finalidade avaliar o estado nutricional
dos usuários destas instituições, com posterior
intervenção dietética e atendimento individualizado nos casos específicos, além de possibilitar
a capacitação de técnicos oriundos de tais locais, incentivando os cuidados de higiene no preparo de alimentação, realizando diagnóstico nutricional e orientação aos gestores das instituições atendidas sobre questões referentes às instalações, equipamentos, sistema de exaustão e
recolhimento do lixo.
Técnicos das áreas da medicina, psicologia,
serviço social, enfermagem, comunicação, pedagogia e outras, integraram-se em ações que instrumentalizavam os beneficiados do projeto sobre os cuidados com o corpo e a mente. Foram
realizadas dinâmicas de grupos, palestras educativas e preventivas, enfocando a importância de
uma vida saudável e valorização do ser humano.
Atividades de estética e recreação também foram desempenhadas, promovendo uma integração
no âmbito interinstitucional e intrainstitucional.
Parcerias com outras instituições aconteceram, objetivando buscar recursos humanos e econômicos não disponíveis na instituição, mas que
faziam parte das demandas expostas, incluídas no
cronograma das atividades.
Um dos dados marcantes para a instituição
promotora, bem como para os colaboradores,
foi a experiência e convívio com outras realidades e, ainda, a possibilidade de serem reconhecidos com diferentes habilidades que no trabalho diário não era possível exercitar.
Todo o trabalho desenvolvido teve importante participação para o exercício do papel social
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004
PROJETO
ABRAÇO : UM PROJETO SOCIAL DA FAU-HE/UFPEL PROMOVENDO A QUALIDADE DE VIDA DA COMUNIDADE PELOTENSE
| 117
corporativo e para a aproximação e vinculação de
indivíduos e/ou grupos de trabalho, que, por vezes,
devido às exigências diárias, estavam distanciados.
Os esforços empreendidos pelo Hospital
Escola/FAU, com o objetivo de nortear ações
no âmbito da saúde e qualidade de vida no município de Pelotas, vêm gradativamente sendo
reconhecidos e valorizados pela população.
O Projeto Abraço tem comprovado este
dado através de manifestações formais (ofícios de
agradecimentos das instituições beneficiadas),
bem como em publicações dos jornais locais que,
além de divulgarem o projeto, informando à população sobre as ações realizadas, ainda avaliavam as mesmas como positivas e muito válidas
no processo de promover a qualidade de vida e a
saúde da população. Além disso, depoimentos
pessoais e informais sobre o trabalho realizado, e
também avaliações realizadas após o término de
cada atividade, têm apontado as iniciativas como
muito satisfatórias para todos os envolvidos.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar - PNHAH. 2.
ed. rev. Brasília, DF, 2002.
HELMAN, C. G. Cultura, saúde e doença. 2. ed. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1994.
LART, I. B.; SAMPAIO, J. R. Psicologia do trabalho e
gestão de recursos humanos: estudos contemporâneos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998.
MELO NETO, F. P.; FROES, C. Responsabilidade social
e cidadania empresarial: a administração do terceiro
setor. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1999.
MINAYO, M. C. de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 5. ed. São Paulo: Hucitec, 1992.
NORMA SA 8000: responsabilidade social - 2001.
RIO GRANDE DO SUL. Secretaria Estadual da Saúde. Manual HumanizaSAÚDE. Porto Alegre: Escola de Saúde
Pública, 2004.
BOLETIM
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. | 2004
PROJETOS DE HUMANIZAÇÃO DA INTERNAÇÃO
PEDIÁTRICA DO HOSPITAL SÃO LUCAS DA
PUCRS VINCULADOS À COMISSÃO DOS
DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E
CUIDADOS HOSPITALARES
HUMANIZATION PROJECT OF THE "HOSPITAL SÃO LUCAS - PUC/
RS" PEDIATRIC ADMISSION LINKED TO THE CHILD AND
ADOLESCENT RIGHTS COMMISSION AND HOSPITAL CARE
Maria Estelita Gil
Mestre em Psicologia Clínica, Coordenadora da Comissão dos Direitos da Criança e Adolescente
Délio José Kipper
Doutor em Pediatria. Coordenador do Comitê de Ética em Pesquisa em Pesquisa da PUCRS
Magda Suzana Ferreira
Assistente Social, Equipe da Comissão
Instituição: Hospital São Lucas da PUCRS - sala 228
Av. Ipiranga, 6690, Jardim Botânico, Cep 90610-000
Fone: (51) 3320-3311
E-mail: [email protected]
RESUMO
Direitos da Criança e do Adolescente e Cuidados Hospitalares
do Hospital São Lucas da PUCRS.
PALAVRAS-CHAVE
Humanização, direitos da criança, direitos do adolescente.
ABSTRACT
This work shows all the humanization projects linked to
the Child and Adolescent Rights Commission and hospital
care of the Hospital São Lucas, PUC/RS
KEY WORDS
Humanization, child rights and adolescent rights.
120| MARIA GIL ; DÉLIO KIPPER; MAGDA FERREIRA
INTRODUÇÃO
A internação hospitalar é uma contingência
inevitável em certas condições de comprometimento orgânico e é sempre muito traumática
para as crianças e adolescentes. Inúmeros são os
ônus e riscos a que são submetidos os pacientes.
Dentre os mais conhecidos, no aspecto físico,
podemos citar o risco de infecção hospitalar e o
sofrimento físico inerente aos procedimentos, à
mudança da dieta, à perda do conforto de sua
casa. No que tange aos aspectos emocionais,
sobressaem a separação da família, o ambiente
hostil (desconhecido e agressor) e a convivência
com o sofrimento alheio, além da perda dos
objetos lúdicos. No que se refere aos aspectos
sociais, sobressaem-se a perda do convívio familiar, da escola, dos colegas e amigos.
Gradativamente, foi agregada uma série de
projetos de humanização, dentre os quais destacamos: Cuidados na Admissão, Programa Pais
Participantes, Maternagem, Atendimento Sistemático das Equipes de Apoio, Recreação, Educação Continuada, Hora do Conto, Estantes Itinerantes, Cuidando dos Animais (peixinhos),
Toque de vida, Musicoterapia.
OBJETIVO GERAL
Agregar e auxiliar os projetos de Humanização ligados à Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente e Cuidados Hospitalares,
visando a amenizar o sofrimento no período da
internação hospitalar.
Objetivos específicos
JUSTIFICATIVA
Frente a todas estas questões, que são pertinentes e que podem ser decorrentes de um
mau trato institucional diante de uma doença
infantil, criamos, em 1989, um Programa que
visava a humanizar a internação em nossa Unidade Pediátrica, e que persiste até hoje e abrange o diagnóstico, a prevenção e o tratamento
de maus tratos na infância e na adolescência,
tendo como diferencial a prevenção de maus
tratos institucionais “inadvertidos”.
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004
– Proporcionar, através do trabalho multidisciplinar, a avaliação, o diagnóstico, prognóstico, e tratamento de maus tratos;
– Oferecer apoio social psicológico e psiquiátrico aos pacientes e respectivas
famílias;
– Estabelecer rotinas que evitem os maus
tratos;
– Oportunizar o acesso a todos os programas de humanização;
– Encaminhar aos recursos da comunidade.
PROJETOS
DE HUMANIZAÇÃO DA INTERNAÇÃO PEDIÁTRICA DO HOSPITAL SÃO LUCAS DA PUCRS
METODOLOGIA
aprendizagem das crianças que têm internações
prolongadas.
Hora do Conto – Iniciativa da Faculdade
de Letras, com um trabalho sistemático de estimulação da leitura. É uma atividade pioneira, na
qual os alunos desenvolvem a atividade sistemática do conto de estórias, com as respectivas dramatizações e com a participação das crianças e
dos familiares.
Estantes iItinerantes – Iniciativa da Faculdade de Letras, com estantes de livros que circulam nos quartos. As crianças podem escolher
a leitura que desejam fazer. Não é obrigatória a
devolução dos livros.
Cuidando dos Animais (peixinhos) –
A presença de um aquário na sala de recreação
representa a presença da “vida”. As crianças internadas participam dos cuidados com os peixinhos e ajudam na sua alimentação, orientadas
por uma bióloga.
Toque de Vida – Animação com palhaços.
Atividade semanal ou mensal, conforme a disponibilidade do grupo de voluntários, para alegrar os pacientes.
Musicoterapia – Atividade sistemática, realizada por profissional musiocoterapeuta, com o
objetivo de estimular a livre expressão da música,
através do contato com instrumentos musicais.
Preparo de lanche, com instruções sobre
higiene e valor dos alimentos
Festas nas Datas Comemorativas – Natal, Páscoa, Dia das Mães, Dia dos Pais, São João,
Semana da Criança. Estas festas são organizadas
com antecedência e envolvem atividades de recreação, teatro, música, palhaços, hora do conto, distribuição de lanches e brinquedos.
Atendimento Integral às Crianças Portadoras da Trissomia do Cromossoma 21 –
Esta atividade é desenvolvida por professores e
alunos da Faculdade de Pedagogia e visa ao atendimento e estimulação precoce dos portadores
desta alteração cromossômica.
Os projetos vinculados à Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente e Cuidados
Hospitalares desenvolvidos a partir de 1989 seguem a seguinte sistemática:
Cuidados na Admissão – recepção adequada das crianças e adolescentes, fazendo com
que a equipe de saúde procure explicar, de modo
acessível, a necessidade da internação, informar
sobre o tempo provável da permanência no hospital e avaliar os hábitos da criança.
Programa Pais Participantes – apoio aos
pais nos aspectos referentes aos conceitos de
saúde da Organização Mundial de Saúde e, na
ausência da família, buscar recursos para que o
paciente não fique desassistido.
Maternagem – na ausência de mãe biológica, buscar alguém da equipe que faça o papel
de mãe substituta, até o momento da reintegração da família nos cuidados à criança. Esta atividade foi implantada pelo serviço de Psicologia
Clínica, em 1989, quando não havia o Estatuto
da Criança e do Adolescente, e os pais visitavam
seus filhos apenas nos horários pré–determinados. Modificamos tal medida, liberando, já naquela data, a presença permanente de um dos
familiares junto aos pacientes.
Atendimento Sistemático pelas Equipes
de Apoio – Serviço Social, Psicologia e Psiquiatria, através de entrevistas individuais e grupais
de pacientes e familiares.
Recreação – a sala de recreação é um espaço onde não se realizam exames e procedimentos, para preservar os aspectos lúdicos, e
agrega uma série de projetos. É o espaço de
“Brincar” “Lazer”, “Criatividade”, e “Se divertir” de modo dirigido ou autônomo, conforme
as necessidades e desejos de cada paciente.
Educação Continuada – Programa com a
Faculdade de Pedagogia para a continuidade da
BOLETIM
... | 121
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. | 2004
122| MARIA GIL ; DÉLIO KIPPER; MAGDA FERREIRA
Equipes de Apoio – Voluntários da Pediatria,
Madrinhas, Padrinhos. Estas equipes de apoio auxiliam-nos nas doações de brinquedos, livros e organizam as festas previstas em nosso calendário.
PREVENÇÃO DE MAUS TRATOS
INADVERTIDOS PELA INSTITUIÇÃO
–
–
–
–
Exames e cirurgias canceladas;
Tempo de internação prolongado;
Integração com as especialidades;
Conforto mínimo para os pais acompanhantes.
de saúde da Organização Mundial de Saúde.
Os mesmos são amenizados na medida em que
o trabalho multidisciplinar das equipes dá o suporte necessário em cada caso. Além disso, o
programa proporciona espaços e momentos
lúdicos que visam ao resgate dos aspectos saudáveis, como o brincar, cantar, tocar instrumentos, ouvir histórias infantis, sorrir com os palhaços, e tornar mais humanizada esta doença,
que foi uma adversidade na vida destas crianças e adolescentes, que consideramos uma injustiça da natureza.
REFERÊNCIAS
Aspectos básicos, mas que, no dia-a-dia de
qualquer instituição, podem ser esquecidos ou
protelados inadvertidamente.
BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
BRUM, Daniele. A criança dada por morta: riscos psíquicos da cura. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996.
PÚBLICO ATENDIDO
CAMON-ANGERAMI, Valdemar Augusto (Org.). E a psicologia entrou no hospital. São Paulo: Pioneira Thom-
Crianças, adolescentes internados e respectivos familiares nas seguintes áreas da Pediatria
e Obstetrícia:
– Internação SUS;
– UTI Pediátrica;
– UTI Neonatal;
– Emergências Pediátricas;
– Internação Particular e Convênios;
– Alojamento Conjunto (maternidade);
– Centro Obstétrico.
son Learning, 1996. 213 p.
. Urgências psicológicas no hospital. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.
COELHO, Betty. Contar história: uma arte sem idade.
São Paulo: Ática, 1997.
EIZIRIK, Cláudio Laks et al. Psicologia de orientação
analítica. Porto Alegre: Artmed, 2005.
ELENN, Jubes. Psiconálise e psicoterapia de crianças.
Porto Alegre: Artmed, 1992.
HORTA, Vera Mattos Almeida. A criança e o perigo da
morte. J. Pediatria, Rio de Janeiro, v.52, n.5, p. 357-360,
maio 1982.
CONCLUSÃO
KLAUS, M. H.; KENNEL, J. H. Pais / Bebê: a formação
do apego. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
Os referidos projetos têm auxiliado no
conforto e na amenização do sofrimento dos
pacientes hospitalizados, na medida em que
estes têm a oportunidade de um atendimento
voltado não só para os aspectos físicos, mas
para todos os aspectos contidos no conceito
MORA, Marisa Decat de. Psiconálise e hospital. Rio de
Janeiro: Revinter, 2000.
RODRIGUES, Maísa; ARAÚJO, Mariza Sandra de Souza.
O fazer em saúde: um novo olhar sobre o processo de
trabalho na estratégia saúde da família. Disponível em:
<http://www.observatorio.nesc.ufrn.br>
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004
PROJETOS
DE HUMANIZAÇÃO DA INTERNAÇÃO PEDIÁTRICA DO HOSPITAL SÃO LUCAS DA PUCRS
... | 123
WINNICOTT, D. W. Tudo começa em casa. São Paulo:
Martins Fontes, 1990.
. O ambiente e o processo de manifestação.
Porto Alegre: Artmed, 1992.
. Pensando sobre crianças. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1997.
. Da pediatria à psicanálise. Porto Alegre: Artmed, 2000.
ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola.
São Paulo: Global, 1982.
BOLETIM
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. | 2004
CARTILHA
A POLÍTICA DE HUMANIZAÇÃO
DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE - PHAS
Rio Grande do Sul
Secretaria Estadual da Saúde – SES/RS
126| SECRETARIA ESTADUAL
DA
SAÚDE
INTRODUÇÃO
O setor da saúde caracteriza-se por disponibilizar serviços de consumo coletivo, que buscam atender a demandas complexas, por vezes indeterminadas, e que impõem práticas profissionais articuladas a saberes diversos e em instâncias também diversas.
Essas práticas profissionais, norteadas pela dimensão ético-politica, devem enfatizar o conhecimento técnico-científico, as vivências cotidianas, que
incidem nas especificidades sociais e culturais de cada
espaço, nas experiências dos sujeitos, suas crenças,
estilos de vida e subjetividade.
A Política de Humanização da Assistência à Saúde - PHAS preocupa-se com a qualidade da prestação de serviços de saúde, buscando garantir os aspectos acima mencionados, bem como afirmar o
direito universal e igualitário do acesso aos bens e
serviços em saúde.
Para tanto, a PHAS pretende ampliar programas/projetos já desenvolvidos como o Programa
Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH) e o Parto Humanizado, para que possam servir de referência na implementação de novas ações no campo da humanização do sistema de
saúde.
A Secretaria Estadual da Saúde entende ser fundamental a humanização dos serviços da saúde e,
sob a coordenação da Escola de Saúde Pública –
ESP/RS, assume a responsabilidade de desenvolver,
no Rio Grande do Sul a POLÍTICA DE HUMANI-
ZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE – PHAS, envolvendo todos os agentes que integram o Sistema
Único de Saúde – SUS, com o intuito de construir
um serviço público cada vez mais humanizado.
POLÍTICA DE HUMANIZAÇÃO DA
ASSISTÊNCIA À SAÚDE - PHAS
O que é a PHAS?
É a política que, ao articular as práticas na
área da saúde, impõe, como característica ou
qualidade fundamental, a humanização dessas
práticas em todas as instâncias.
Quais são as características principais
da PHAS?
Interagir com as instâncias da Rede do SUS,
articulando as ações de humanização, correspon-sabilizando todos os atores envolvidos visando a consolidar o SUS como direito universal à saúde com qualidade.
Quem são os atores?
Representantes do Ministério da Saúde, da
Secretaria Estadual da Saúde, das Coordenadorias Regionais de Saúde, das Secretarias Mu-
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004
A P OLÍTICA
DE
HUMANIZAÇÃO DA A SSISTÊNCIA
À
SAÚDE – PHAS | 127
racterísticas regionais e a organização já existente, com vistas à descentralização ética da saúde.
A constituição das instâncias regionais de planejamento, acompanhamento, discussão e proposição são fundamentais e serão compostos por:
nicipais de Saúde, do Controle Social, dos Prestadores de Serviço.
Quais são os princípios da PHAS?
–
–
–
–
– Apoiar, incentivar e propor ações que
visem à humanização do sistema de saúde no RS.
Comitê Estadual
Comitês Regionais
Comitês Locais de Humanização
Grupos de Trabalho de Humanização
Quais são os objetivos da PHAS?
Qual a composição do Comitê Estadual
da PHAS?
– Melhorar a qualidade e a eficácia da
atenção dispensada aos usuários
– Modernizar as relações de trabalho nos
serviços de saúde pública.
– Capacitar os profissionais da saúde para
o novo conceito de atenção à saúde.
– Estimular a realização de parcerias e intercâmbio de conhecimentos, experiências e pesquisas em humanização da
assistência. Fortalecer e articular todas
as iniciativas de humanização já existentes nos serviços de saúde.
– Conceber e implantar novas iniciativas
de humanização que venham a beneficiar os administradores, os profissionais
de saúde e os usuários do sistema de
saúde.
– Desenvolver um conjunto de parâmetros de resultados e um sistema de
incentivo ao serviço de saúde humanizado.
– Estimular o trabalho voluntário.
– Conselho Estadual de Saúde
– Associação dos Secretários e Diretores da Saúde
– Escola de Saúde Pública
– Departamento de Coordenação das
Regionais
– Departamento de Assistência Hospitalar e Ambulatorial
– Ministério da Saúde
Qual a composição dos Comitês
Regionais da PHAS?
–
–
–
–
–
Coordenadorias Regionais de Saúde
Hospitais Referenciais
Secretarias Municipais de Saúde
Conselho Regional de Saúde
Assedisa
Qual a composição dos Comitês Locais
da PHAS?
Como será desenvolvida a PHAS?
A PHAS será desenvolvida em regiões, respeitando as dezenove Coordenadorias Regionais.
Desta forma, busca-se garantir o respeito às caBOLETIM
- Secretaria Municipal da Saúde
- Entidades Prestadoras de Serviço
- Conselho Municipal de Saúde
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. | 2004
128| SECRETARIA ESTADUAL
DA
SAÚDE
Qual a composição dos Grupos de
Trabalho de Humanização (GTH)?
-
– Representante da gestão (Direção)
– Representante das chefias dos serviços/
setores
– Representante da área médica
– Representante da área não médica (Técnicos)
– Representante do pessoal de apoio
Obs: Os componentes, que farão parte dos
Comitês, deverão ser indicados por Portaria na
origem, que será encaminhada à Escola de Saúde
Publica – Coordenação da PHAS, para posterior
publicação da composição destes Comitês.
-
Parâmetros Para Humanização do
Atendimento – Usuário
– Condições de acesso e presteza dos
serviços.
– Qualidade das instalações, equipamentos e condições ambientais do serviço.
– Qualidade da relação entre usuários e
profissionais.
DESENVOLVIMENTO DA PHAS NAS
INSTITUIÇÕES
1º Passo - Sensibilização da gestão quanto
aos processos de trabalho.
2º Passo - Constituir dos Grupos de Trabalho de Humanização.
3º Passo - Realizar diagnóstico situacional
quanto aos serviços de saúde.
4º Passo - Elaborar e implantar um plano
operacional de ação de humanização.
5º Passo - Avaliar resultados da implantação da política de humanização da assistência.
Atribuições dos GTHs
– Liderar a política de humanização nas
instituições.
– Traçar estratégias de comunicação/integração entre setores.
– Avaliação de projetos em desenvolvimento ou a serem desenvolvidos, de
acordo com os parâmetros de humanização propostos.
Estimular a participação da comunidade.
Promover a interação com o gestor municipal (agenda/ ações).
Estabelecer os padrões de atendimento
ao usuário.
Participar dos encontros de humanização.
Coordenar voluntariado.
Parâmetros para a Humanização do
Trabalho – Profissionais
–
–
–
–
–
–
Gestão e participação dos profissionais.
Condições de trabalho.
Condições de apoio aos profissionais.
Qualidade da comunicação.
Relacionamento interpessoa.l
Valorização do trabalho e motivação
profissional.
VALORIZAÇÃO DA PHAS
A valorização e o reconhecimento de ações
de humanização são fundamentais no processo
de humanização dos serviços de saúde. Com este
propósito, a Secretaria Estadual da Saúde/Escola de Saúde Pública/RS institui o prêmio “HUMANIZA SAÚDE”, ao qual poderá concorrer
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004
A P OLÍTICA
DE
HUMANIZAÇÃO DA A SSISTÊNCIA
À
SAÚDE – PHAS | 129
– Ter estabelecido padrões de atendimento ao cidadão.
– Ter participado de treinamento/encontros de humani-zação.
– Ter realizado pesquisa de satisfação do
usuário, que indique tendência de melhoria da satisfação.
– Ter criado agenda comum – ações desenvolvidas com gestor municipal.
– Ter desenvolvido um plano de educação permanente com temas de humanização.
– Ter desenvolvido voluntariado.
– Ter realizado pesquisa do clima institucional.
todo participante (instituições) da Política de
Humanização da Assistência à Saúde, cuja premiação será anual e dividida em duas categorias:
A – Atenção hospitalar;
B – Atenção Básica (OS, PAS, APHS, outros).
Premiação
As categorias terão premiação em três níveis:
Nível 1 – Certificação Categoria Bronze;
Nível 2 – Certificação Categoria Prata;
Nível 3 – Certificação Categoria Ouro.
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
Categoria “A” – Nível 3 (Ouro)
Categoria “A” – Nível 1
– Ter desenvolvido os cinco passos do desenvolvimento do processo de humanização.
– Ter instituído o Serviço de Acolhimento
ao Cliente/Cidadão.
– Ter estabelecido padrões de atendimento
ao cidadão.
– Ter participado de treinamento/encontros
de humanização.
– Ter realizado pesquisa de satisfação do
usuário, que indique tendência de melhoria da satisfação.
– Ter criado agenda comum – ações desenvolvidas com gestor municipal, que indiquem melhoria dos indicadores de saúde.
– Ter desenvolvido um plano de educação
permanente com temas de humanização.
– Ter desenvolvido voluntariado.
– Ter realizado pesquisa do clima institucional com ações e resultados positivos.
– Ter desenvolvido projeto / experiência humanizadora com função multiplicadora.
– Ter desenvolvido os passos I, II, III, IV
do desenvolvimento do processo de
humanização.
– Ter instituído mecanismos básicos de
escuta e participação do usuário e funcionários. (Ouvidoria).
– Ter estabelecido seus padrões de atendimento ao cidadão.
– Ter participado de treinamento / encontros de humanização.
– Ter realizado a pesquisa de satisfação
do usuário.
Categoria “A” – Nível 2
– Ter desenvolvido os cinco passos do desenvolvimento do processo de humanização.
– Ter instituído o Serviço de Acolhimento ao Cliente/Cidadão.
BOLETIM
DA
SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL ./DEZ. | 2004
130| SECRETARIA ESTADUAL
DA
SAÚDE
REFERÊNCIAS
Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar
BRASIL. Ministério da Saúde. HumanizaSUS: Política
Nacional de Humanização - PNH : documento para discussão. Brasília, DF, 2003. 20 p.
BOLETIM DA SAÚDE | PORTO ALEGRE | VOLUME 18 |NÚMERO 2 | JUL./DEZ. | 2004
POLÍTICA E NORMAS EDITORIAIS
EDITORIAL POLICY AND RULES
POLÍTICA EDITORIAL
EDITORIAL POLICY
Identificação
Identification
Com início em 1969, o Boletim da Saúde é
um periódico de divulgação, inicialmente publicado pela Secretaria de Estado dos Negócios da Saúde do Rio Grande do Sul. De 1974 até 1980, sua
publicação realizou-se em convênio com a Fundação Serviço Especial de Saúde Pública - SESP. Desde 1981, a Escola de Saúde Pública da Secretaria
da Saúde e do Meio Ambiente do Rio Grande do
Sul - SSMA, passou a ser responsável pela revista.
Em junho de 1986, houve uma interrupção em sua
edição, sendo reeditada em 1999/2000, com um
novo projeto editorial.
Beginning in 1969, The Journal of Health is
a divulging periodical, which was initially published by the Rio Grande do Sul State Health Business Department. From 1974 to 1980, its publication was done in agreement with the Special Service of Public Health Foundation - SESP.
Since 1981, the Public Health School from the
Rio Grande do Sul Department Health and Environment Department - SSMA, has been in charge of the magazine. In June 1986, there was an
interruption of its edition, being reedited in 1999/
2000, with a new editorial layout.
Objetivos
Goals
O Boletim da Saúde tem como objetivo divulgar a produção técnica e científica e promover a disseminação de experiências para a formação do conhecimento necessário para apoiar
os processos de mudança e construção de novas práticas em saúde.
The Journal of Health aims at divulging the
technical and scientific production and promoting the dissemination of experiences for the
necessary knowledge construction to support
the processes of change and construction of new
health practices.
Responsabilidade
Responsibility
As opiniões emitidas nos trabalhos, bem
como a exatidão, adequação e procedência das
referências e citações bibliográficas são de exclusiva responsabilidade dos autores.
The opinions given in the articles, the accuracy, adequacy and reference’s origin as well as
the bibliography are solely on the authors’ responsibility.
132| POLÍTICA E NORMAS
EDITORIAIS
Seleção dos trabalhos
Selection of Articles
Os trabalhos recebidos para publicação no
“Boletim da Saúde” serão encaminhados para
apreciação de dois avaliadores, cujos nomes serão mantidos em sigilo, omitindo também os nomes dos autores.
The articles received to be published in
the “Journal of Health” will be sent to be evaluated by two experts, whose names will be
maintained in secrecy, also omitting the authors’ names.
Trabalhos já publicados
Articles already published
Serão aceitos trabalhos já publicados em
outros periódicos, desde que autorizados pelo
Conselho Editorial do periódico em que o artigo tenha sido originalmente publicado.
It will be accepted articles already published
in other periodicals, since authorized by the periodical Editorial Board, in which the article was
originally published.
Envio do artigo
How to send the articles
Os trabalhos, para a apreciação do Conselho Editorial, devem ser enviados para o Centro
de Informação e Documentação em Saúde CEIDS, Avenida Ipiranga 6311 - Bairro Partenon
- CEP 90610-001 - Telefones: (51) 3384-52
90 e 3384-31 48 - e-mail: [email protected]
The articles, to be appreciated by the Editorial Board, shall be sent to the Centro de Informação e Documentação em Saúde – CEIDS (Health
Documentation and Information Center), Avenida Ipiranga 6311 - Bairro Partenon - CEP 90610001 - Phone numbers: (55) (51) 3384-52 90 and
3384-31 48 - e-mail: [email protected]
Políticas de publicação
Publication Policies
A revista reserva-se o direito de sugerir mudanças no texto, visando a manter o nível da publicação, respeitando o estilo dos autores. A revista manterá a guarda dos originais durante o
período de 12 meses.
It is up to the publication the right to suggest changes in the text, aiming at maintaining
its level, respecting the authors’ style. The publication will maintain the originals’ safeguard for
12 months.
NORMAS EDITORIAIS
EDITORIAL RULES
As matérias a serem elaboradas devem ter
como eixo temático a saúde pública e saúde coletiva, estruturados em:
The texts to be developed shall have as subject matter the public health and collective health, structured in:
– artigos de periódico - originais, inéditos ou de revisão;
– ensaios e reflexões;
– Periodical articles - original, unpublished or a review;
– Essays and reflections;
BOLETIM
DA
S AÚDE |PORTO A LEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUN./JAN. 2003
POLÍTICA E N ORMAS
EDITORIAIS
| 133
– Experience reports;
– Case study;
– News of survey or action plans, presented as notes or abstracts;
– Reports (summary of the texts which
were read and important to divulgation).
– relatos de experiências;
– estudo de caso;
– notícias de projetos de pesquisa ou de
ação, sob forma de notas ou resumo;
– resenhas (resumos de textos lidos e importantes para divulgação).
Definição das Estruturas
Structure Definitions
Artigo de periódicos – Texto com autoria
declarada, que apresente e discuta idéias, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do conhecimento. O artigo pode ser:
Periodical article – Text with declared
authorship, presenting and discussing ideas,
methods, techniques, processes and results
in different areas of knowledge. The article
can be:
– original, quando apresenta temas ou
abordagens próprias;
– de revisão, quando resume, analisa e
discute informações já publicadas.
– original, when it presents the author’s
own subject matters or approaches;
– review, when it summarizes, analyses
and discusses information already published.
Ensaios e reflexões – textos analíticos resultantes de estudos, pesquisas e revisões.
Relatos de experiências – apresentação
de experiência profissional, com base em estudos de casos de interesse, acompanhados de
comentários sucintos, úteis para a atuação de
outros profissionais na área.
Estudo de caso – um estudo de caso refere-se a uma análise intensiva de uma situação
particular. É uma inquirição empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de um
contexto da vida real.
Notícias de projetos de pesquisa ou de
ação – em formato de resumo.
Resenhas – de maneira genérica, a recensão ou resenha designa um tipo de trabalho de
síntese, análise resumida ou arrolamento de produções científicas, ou exposição sintética de
assuntos tratados em uma obra. A recensão crítica analisa, em profundidade, o assunto, conferindo apreciação do valor informativo da obra.
Geralmente, é elaborada por especialistas da
área em questão.
BOLETIM
Essays and reflections – analytical texts
resulting of studies, researches and reviews..
Experience report – presentation of professional experience, based on interesting case
studies, followed by succint comments, useful
for other professionals of the area..
Case study – a case study refers to an intensive analysis of a particular situation. It is na
empirical inquiry, investigating a contemporary
phenomenon within the context of real life.
News on research or action projects
– abstract format.
Reports – in a generic way, the report or
summary denotes a kind of synthesis work, a
summarized analysis or scientific-production inventory, or a synthetic exposition of subject
matters treated in a work. The critical report
analyses, in depth, the subject matter, checking
the work information value. In general, it is developed by experts.
DA
SAÚDE | PORTO A LEGRE| VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
134| POLÍTICA E NORMAS
EDITORIAIS
Resumos – apresentação concisa dos pontos relevantes de um texto. Resumo Informativo - informa ao leitor, para que este possa decidir sobre a conveniência da leitura do texto inteiro. Expõe finalidades, metodologia, resultados e conclusões.
Abstracts – a concise presentation of the
relevant points of a text – Informative summary
– it informs the reader in order that he/she may
decide on the convenience of reading all the text.
It shows the objectives, methodology, results and
conclusions.
Orientações Gerais para
Apresentação dos Originais
General Guidelines for
the Original Presentation
Todos os trabalhos devem ser enviados em
duas cópias impressas em papel e em disquete no
editor de textos Word for Windows, com espaçamento entre linhas de 1,5, margem esquerda e
superior de 3 cm e margem direita e inferior de
2 cm, fonte Arial 12, com, no máximo, 15 páginas.
A primeira página (folha de rosto) deverá
conter apenas o título do trabalho, versão, em
inglês, do título, nome(s) completo(s) do(s) autor (es), indicando o responsável pela correspondência, nome e endereço(s) da instituição a
que está (estão) vinculado(s), além de breve currículo do(s) autor (es).
Recomenda-se que os trabalhos tenham a
seguinte estrutura:
All the works shall be sent in two printed
copies in paper and diskette (Word for Windows), space between lines: 1.5; left and top margin: 3 cm, and right and bottom margin: 2 cm;
font: Arial 12; with 15 pages at the utmost.
The first page (title page) shall only contain
the title of the work, the version into English of
the title, complete name(s) of the author(s), indicating the responsible for the correspondence, the name and address of the institution, to
which they are linked, besides a brief curriculum of the author(s).
– título – (em negrito, em letras maiúsculas) conciso e informativo na língua
do texto e em inglês;
– autoria – (centralizada, abaixo do título) nome completo de cada um dos
autores, titulação mais importante de
cada autor, instituição ao qual está vinculado e endereço eletrônico;
– resumo – informativo, com extensão
de até 250 palavras;
– palavras-chave – Indicar até 4 descritores, que são termos ou expressões
indicativas do conteúdo do trabalho.
Utilizar termos integrantes da lista publicada pelo Centro Latino-Americano
e do Caribe de Informação em Ciênci-
– title – (in bold and Capital letters) concise and informative in the language of
the text and in English;
– authorship – (in the middle, below the
title) complete name of each one of the
authors, the most important degree of
each author, the institution to which he/
she is linked and e-mail address;
– abstract – informative, up to 250
words;
– key words – Indication of up to 4 descriptors, which are terms or expressions indicating the content of the work.
Utilization of terms integrating the list
published by Latin-American and Caribbean Center on Health Sciences In
BOLETIM
DA
It is suggested that the works have the following structure:
S AÚDE |PORTO A LEGRE | VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUN./JAN. 2003
POLÍTICA E N ORMAS
–
–
–
–
as da Saúde - BIREME, disponível no endereço eletrônico: http://decs.bvs.br/.
abstract – deverá ser uma versão em
inglês do resumo em português;
key words – deverá ser uma versão
em inglês das palavras-chave;
texto – podendo haver subtítulos sem
numeração. As tabelas e figuras (fotos,
quadros e ilustrações) deverão estar
inseridas dentro do texto com espaço
definido 7,5 cm ou 15,5 cm. Os gráficos deverão ser transformados em tabelas. As figuras deverão ser em preto
e branco, não excedendo o total de 5.
referências – devem aparecer listadas
em ordem alfabética para facilitar a citação do trabalho. A exatidão das mesmas é de responsabilidade do(s)
autor(es).
–
–
–
–
Os trabalhos devem seguir as normas abaixo:
| 135
formation – BIREME, available on: http:/
/decs.bvs.br/.
abstract – it shall have an English version of the abstract in Portuguese;
key words – It shall be an English version of the key words in Portuguese;
text – It can have subtitles with no
numbers. The tables and pictures
(photos, tables and illustrations) shall
be inserted within the text with a defined space 7.5 cm or 15.5 cm. The
graphs shall be changed into tables.
The pictures shall be in black and white, up to 5.
references – They shall be presented
listed in alphabetic order to make easy
the work citation. The author(s) is (are)
responsible for the their accuracy.
The works shall follow the rules below:
– Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. NBR 6023, NBR
10520.
– Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Normas de
apresentação tabular.
BOLETIM
EDITORIAIS
– Brazilian Association of Technical
Rules – ABNT. NBR 6023, NBR
10520.
– Brazilian Institute of Geography and
Statistics – IBGE. Tabular Presentation Rules
DA
SAÚDE | PORTO A LEGRE| VOLUME 18 | NÚMERO 2 | JUL./DEZ. 2004
Download