Fonte: O Globo Causas internas da desvalorização do real Ofato de

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Fonte: O Globo
Causas internas da desvalorização do real
Ofato de a desvalorização do real não ser algo isolado, fazer parte de um movimento planetário que atinge
economias emergentes, parece álibi perfeito para a reação típica de autoridades de culpar causas externas
por problemas domésticos. Mas não é bem assim.
Por trás de tudo, está a proximidade do fim do "relaxamento monetário", instituído pelo banco central
americano (Fed) para recuperar a economia, por meio da injeção periódica de bilhões de dólares, via
recompra de títulos. Depois de mais de US$ 3 trilhões colocados em circulação, a economia americana firma
uma tendência de recuperação. Para não gerar pressões inflacionárias perigosas, o Fed suspenderá essas
operações, e o capital financeiro que gira no mundo, diante da perspectiva de alta dos juros americanos,
começa a buscar títulos do Tesouro dos EUA. Natural que economias emergentes percam atratividade.
Porém, há emergentes mais atingidos que outros. Por fragilidades próprias, caso do Brasil.
No inventário de decisões erradas na condução da economia, que hoje cobram um preço na forma de
desvalorização exacerbada da moeda, está a "contabilidade criativa", idealizada para, ingenuamente, tentar
camuflar uma política fiscal expansionista enquanto o discurso oficial é o oposto. Relacionado a esta
"criatividade", há o uso desregrado do endividamento público para capitalizar BNDES, BB, CEF, aumentando
o risco fiscal. Tudo mina a credibilidade do país diante do investidor externo - e interno -, problema
amplificado pela leniência demonstrada com a inflação. Há, ainda, o intervencionismo na formatação de
leilões de concessão, com o tabelamento de taxas de retorno. Bem como o dirigismo estatal no congelamento
de combustíveis, dramático para o caixa da Petrobras, quando a empresa precisa de recursos para ampliar a
fronteira de exploração do pré-sal.
Ainda no quesito da formação artificial de preços, há um subsídio na conta de luz, a fim de bancar o corte
predefinido de 20% no custo final da energia. Nele, há o risco de se criar no Tesouro um daqueles
"esqueletos" fiscais descobertos quando o Plano Real estabilizou a economia.
Há entre os agentes econômicos a correta percepção de que os subsídios apenas reprimem inflação. Formam
no subsolo da economia uma tsunami de inflação represada.
Pode ser que o governo já tenha se convencido de alguns desses erros. O mal, porém, no entendimento do
mercado, está feito. E como a percepção dos descaminhos na política econômica coincidiram com o início da
contagem regressiva do fim da política do Fed de "relaxamento monetário", a fuga de divisas para o mercado
americano pune o Brasil mais que outros países, inclusive latino-americanos. Claro que quanto mais cedo os
rumos da política econômica forem ajustados, também mais cedo a dose extra de punição será atenuada. O
mundo acompanhará com atenção as próximas reuniões do Copom e as licitações de portos, estradas e
ferrovias que se aproximam.
americano pune o Brasil mais que outros países, inclusive latino-americanos. Claro que quanto mais cedo os
rumos da política econômica forem ajustados, também mais cedo a dose extra de punição será atenuada. O
mundo acompanhará com atenção as próximas reuniões do Copom e as licitações de portos, estradas e
ferrovias que se aproximam.
Fonte: O Globo
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