A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO DO HERPES VÍRUS HUMANO TIPO 8 EM DOADORES DE SANGUE E DOADORES DE ÓRGÃO Artigo apresentado a Atualiza Cursos, como requisito parcial para obtenção do título de analista clínico, sob a orientação do professor a Jeane Rodella Assunção Salvador- BA 2015 A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO DO HERPES VÍRUS HUMANO TIPO 8 EM DOADORES DE SANGUE E DOADORES DE ÓRGÃO1 José Carlos Oliveira Júnior ² RESUMO O presente trabalho trata-se de uma abordagem narrativa, visando levantar a discussão da importância do diagnóstico do Herpes Vírus Humano Tipo 8 (HHV-8) em pacientes doadores de sangue e doadores de órgãos. O HHV-8 está associado ao Sarcoma de Kaposi e tem a via sexual como sua principal via de transmissão. O objetivo deste estudo é levantar dados e avaliar a importância do diagnóstico viral em pacientes doadores de órgãos e de sangue. Segundo estudos, existe a possibilidade de transmissão pela via sanguínea e casos de reativação viral após transplante de órgãos, o que demonstra a importância do diagnóstico precoce neste grupo de pacientes. Descritores: Herpes Humano Tipo 8, HHV-8, Sarcoma de Kaposi. 1 INTRODUÇÃO O Herpevírus humano tipo 8 (HHV-8), ou Herpesvírus associado ao Sarcoma de Kaposi (KSHV), foi identificado por CHANG et al. em 1994. Devido à dificuldade de cultivo em células, a primeira metodologia para identificação do HHV-8 foi feita a partir da análise do DNA. Os primeiros experimentos foram realizados com DNA extraído de biopsia de pele de pacientes com Sarcoma de Kaposi (SK) associado à síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS/SIDA). Por apresentar regiões de DNA similar a dois gama-herpesvírus: Epstein-Barr Vírus (EBV), que está relacionado à formação de linfomas de Burkitt e tumores nasofaringeanos em humanos e o Herpes Vírus Saimiri (HVS), que é o responsável pelo desenvolvimento de um tipo de linfoma fulminante em macacos, suspeitava-se ¹ Artigo apresentado a Atualiza Cursos, como requisito parcial para obtenção do título de especialista em análises clínicas, sob a orientação da professora Jeane Rodella Assunção. Salvador-BA, 2015. ² Biomédico. E-mail: [email protected] 2 que o HHV-8 também poderia ser oncogênico (O`LEARY, KENNEDY, O`D MCGEE, 1997., LEVINE &ABLASHI, 1999). Posteriormente, as mesmas sequências de DNA do HHV-8 foram encontradas em todas as formas clínico epidemiológica do SK e em outras doenças linfoproliferativas, como PEL (Linfoma de efusão em cavidades) e a doença multicêntrica de Castleman (MCD) associada ao HIV (PIERROTI, 2000; MOREIRA, 2003), confirmando tal hipótese. A principal via de transmissão do HHV-8 tem sido considerada a sexual (MARTIN et al. 1998), e tem se mostrado associada ao histórico de doenças sexualmente transmissíveis, ao número de parceiros sexuais, à prática de sexo anal e ao relato de contato oral-genital (SCHULZ&MOORE., 1999, BLACKBOURN et al., 1999). A via sanguínea também é descrita como possível, sobretudo para pacientes imunossuprimidos receptores de doação sanguínea (DOLLARD et al., 2005, HLADIK et al., 2006 e STEIN et al., 2004). Pode ocorrer transmissão vertical, de mãe para filho, bem como de filho para mãe (MBULAITEYE et al., 2006). A saliva também foi descrita como importante via de transmissão do HHV-8 (PAUK et al., 2000), principalmente em regiões endêmicas e em grupos de risco para infecção pelo HHV8 mesmo em regiões de baixa prevalência (MILLER et al., 2006, WIDMER et al., 2006, CASPER et al., 2006). O HHV-8 pode ser transmitido pelo transplante de órgãos (doador-receptor), com destaque para transplante renal (REGAMEY et al., 1998). Em 1998, foi realizado o um dos primeiros estudos que demonstrou a transmissão do HHV-8 por transplante renal de doadores soropositivos para receptores soronegativos, ocorrendo soroconversão após o transplante (REGAMEY et al., 1998). A infecção pelo HHV-8 é mais comum em casos de transplantes renais do que em outros tipos de transplantes de órgãos (ANDREONI et al., 2001; EDMOND et al., 2002), cerca de 400 a 500 vezes mais chances de desenvolver o SK do que o a população geral (MENDEZ & PAYA, 2000). Existem outros estudos que relatam a transmissão em indivíduos submetidos a transplante cardíaco e hepático (EDMOND et al, 2002; MILLIANCOURT et al, 2001). Foram verificados casos de reativação viral pós-transplante tendo como consequência o desenvolvimento de doenças como o sarcoma de Kaposi, o linfoma 3 de cavidades e rejeição do órgão implantado (JONES et al, 1998; KAPELUSHNIK et al, 2001; EDMOND et al, 2002; MARCELIN et al, 2004). Em média, pacientes transplantados levavam 30 meses após o transplante, para desenvolver o SK (MONTAGNINO et al., 1994; LESNONI LA PAROLA et al., 1997), e desses, cerca de 40% mostraram acometimento de vísceras (MENDEZ & PAYA, 2000). O Sarcoma de Kaposi (SK) foi inicialmente descrito por Morris Kaposi no ano de 1872. É uma neoplasia vascular que se caracteriza pela proliferação de células endoteliais, fibroblastos, células plasmáticas e células linfóides do processo inflamatório, ocorrendo predominantemente na pele, nos órgãos viscerais e nos linfonodos (LIN, 1998). O Sarcoma é dividido em quatro formas. Forma clássica (SKC), que é rara e mais frequente na América do Norte e Europa; forma endêmica ou africana (SKA) que é a forma mais agressiva; a forma epidêmica, descrita na década de 80, associada à pneumonia por Pneumocystis carinii; e a forma iatrogênica, que está associada ao uso de drogas imunossupressoras e tratamento quimioterápico (GUSMÃO et al., 2005). O SK foi uma das primeiras doenças oportunistas reconhecidas na infecção pelo HIV, sendo a neoplasia maligna mais freqüentemente relacionada à Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA / AIDS) (KENNEDY et al, 1998) e atualmente diversos estudos são feitos correlacionando o surgimento da doença em pacientes que realizam transplante de órgãos. O presente estudo tem o objetivo de suscitar a discussão sobre a importância do diagnóstico viral do Herpes Humano Tipo 8 em pacientes doadores de órgãos e doadores de sangue, já que existem estudos que demonstram a possibilidade de transmissão pela via sanguínea e casos de transmissão e reativação viral do HHV-8 em pacientes submetidos a transplante de órgãos. 2 METODOLOGIA A metodologia empregada no atual estudo é narrativa (descritiva com abordagem qualitativa), que busca descrever e discutir o desenvolvimento ou o “estado da arte” de um determinado assunto, sob ponto de vista teórico ou contextual. As palavras 4 chaves utilizadas foram: HHV-8, Herpesvírus humano tipo 8, transplante e Sarcoma de Kaposi nos indexadores: MEDLINE (Literatura internacional ciências e saúde), PubMed, SCIELO (Scienc Eletronic Libery Online). O atual estudo compreende artigos publicados entre os anos de 1990 à 2015, que foram selecionados levandose em conta a presença de dados que possam agregar valor ao estudo realizado e excluindo artigos que não contenham informações pertinentes. . 3 DISCUSSÃO O desenvolvimento de técnicas sorológicas e moleculares para detecção do HHV-8 permitiu a realização de estudos de soroprevalência e de epidemiologia molecular em regiões geográficas distintas, onde foram encontrados diferentes resultados de prevalências do HHV-8. Na África o HHV-8 é endêmico, sendo detectado em mais de 50% da população geral de Uganda e Nigéria (LENENETTE et al, 1996., MOORE et al, 2000). A soroprevalência para o HHV-8 tem sido baixa, menor que 5% em países da Ásia, norte da Europa, Austrália e EUA (SATOH et al, 2001., SCHULZ et al, 2002). Em países do mediterrâneo como Itália e Grécia a prevalência do HHV-8 tem vaiado de 4 - 35% (SCHULZ & MOORE, 1999., SANTARELLI et al, 2001). Como uma das possíveis vias de transmissão é a transfusão sanguínea, alguns estudos têm sidos direcionados para traçar esse perfil epidemiológico. Na América do Sul, a soroprevalência para o HHV-8 foi de 3,8% em doadores de sangue (PEREZ et al, 2004). No Brasil a soroprevalência em doadores de sangue e na população geral do estado de São Paulo tem variado de 2,5% a 7,4% (CATERINO et al., 1999., ZAGO et al, 2000., CUNHA et al, 2004., PEREZ et al, 2004., SOUZA et al, 2004). CUNHA et al., 2005, verificou que 2,8% dos pacientes doadores de sangue, tiveram resultados positivo para pesquisa de anticorpos anti-HHV-8 e negativos para a triagem sorológica aplicada no Hemocentro da Unicamp (HEMOCAMP), que inclui testes sorológicos para diagnóstico dos vírus HIV, HBV, HCV, HTLV e de doenças como Chagas e sífilis. Isto pode significar que essas bolsas de sangue foram aprovadas para doações, porém não houve um estudo que pudesse acompanhar e confirmar a transmissão do vírus nos pacientes que 5 receberam tais bolsas de sangue. ENBOM et al, 2002 detectaram sequencias do HHV-8 em amostras de DNA extraído de sangue periférico de doadores de sangue que apresentaram altos títulos de anticorpos anti-HHV-8 de fase lítica, reforçando a possibilidade de que a transmissão do HHV-8 pode ocorrer através do contato com sangue contaminado. Porém, até a presente data nenhum estudo evidenciou a transmissão do HHV-8 por transfusão sanguínea, apesar de aparentemente ser uma via possível via de transmissão. O transplante de órgãos também tem sido descrita como uma das possíveis vias de transmissão para o HHV-8. Este grupo de pacientes, tal como o grupo de pacientes portadores da AIDS, têm um agravante pelo fato da imunossupressão, seja ela induzida ou não. JONES et al., 1998, KAPELUSHNIK et al., 2001, EDMOND et al., 2002 e MARCELIN et al., 2004, evidenciaram casos de reativação viral após transplante, com desenvolvimento do Sarcoma de Kaposi, linfoma de cavidades e rejeição do órgão. Estes dados levantam a discussão sobre a necessidade de se realizar uma triagem para o HHV-8 em pacientes que aguardam o transplante de órgãos, pois a imunossupressão realizada para evitar a rejeição do órgão possibilita a reativação viral em pacientes previamente infectados. Já EDMOND et al., 2002 e MILLIANCOURT et al., 2001, relataram casos de soroconversão para o HHV-8 após o transplantes de coração, rin e fígado. Esta informação levanta o questionamento sobre a importância de realizar teste sorológicos em possíveis doadores de órgãos, o que poderia auxiliar a equipe médica em sua conduta, num possível caso de soroconversão viral. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O Sarcoma de Kaposi, o linfoma efusional primário e a Doença de Castleman, doenças causadas pela infecção do Herpes Vírus Humano Tipo 8, tem uma relevância grande quando acomete pacientes imunossuprimidos. Essas doenças causadas por este vírus, podem induzir a rejeição de órgãos (transplantados) ou até levar o paciente à óbito. Vimos que o transplantes de órgão tem se mostrado como 6 uma possível e importante via de transmissão para o HHV-8, o que reforça a ideia de triar tanto o paciente receptor do órgão, quanto o doador (caso seja possível). A triagem deste vírus para pacientes doadores de sangue é de suma importância também. Porém, esta é uma área ainda pouco estudada e que necessita de aprofundamento, pois, ainda não existe a comprovação de ser uma via de transmissão. Mesmo que os estudos recentes tenham bases ideológicas e dados bastante fortes para caracterizar a doação de sangue como uma via de transmissão. A necessidade de estudo neste grupo de pacientes faz-se necessário ainda mais pelo crescimento de campanhas para estímulo à doação de órgãos. Diante do exposto, é possível afirmar que o diagnóstico precoce do HHV-8 em pacientes doadores de sangue e de órgãos é de suma importância para a definição de uma possível conduta médica e bom prognóstico do paciente. E fica claro também, a necessidade de se ampliar os estudos no sentido de traçar um perfil epidemiológico na população, sobretudo no grupo considerado de risco (doadores de sangue e de órgãos). HERPES VIRUS DIAGNOSIS IMPORTANCE OF HUMAN TYPE 8 IN BLOOD DONORS AND ORGAN DONORS ABSTRACT This work it is a narrative approach, aiming to raise the discussion of the importance of the diagnosis of Human Herpes Virus Type 8 (HHV-8) in patients donors of blood and organ donors. HHV-8 is associated with Kaposi's sarcoma and have sexual intercourse as the main route of transmission. The objective of this study is to collect data and assess the importance of viral diagnosis in patients donors of organs and blood. According to studies, there is the possibility of transmission via the blood cases of viral reactivation after organ transplantation, demonstrating the importance of an early diagnosis in this group of patients. Keywords: Human Herpes Type 8, HHV-8, Kaposi's sarcoma 7 REFERÊNCIAS ATHALE UH, PATIL PS et al. Influence of HIV Epidemic on the Incidence of Kaposi`s Sarcoma in Zambia Children. Journal of Acquired Deficiency Syndromes and Human Retrovirology; 8: 96-100, 1995. 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