SCOTT cap 5 - comunicação

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COMUNICAÇÃO
SCOTT, capítulo 5
O QUE É COMUNICAÇÃO?
As definições de comunicação dos dicionários tendem a incluir uma frase do tipo “o
compartilhamento de algo entre A e B”. Claramente, essa definição é muito ampla para ser útil para nós
no contexto de um capítulo sobre comunicação animal, mas fornece a base de uma definição que
podemos usar.
Então o que é compartilhado quando os animais se comunicam? Informações – quando se
comunicam os animais transmitem e recebem sinais, as unidades de informação. Mas toda transferência
de informação é comunicação? Em um nível, toda transmissão de informação poderia realmente ser
considerada como comunicação, mas no contexto deste capítulo quero estreitar a definição para incluir
apenas aqueles exemplos de comportamento que envolvem a transferência intencional de informações
entre indivíduos.
Uma Questão de Intenção
Em termos de comportamento animal, o uso da palavra intencional é um pouco problemático.
Nunca foi minha intenção considerar a área difícil mas fascinante da consciência animal, mas acredito
que seja útil considerar brevemente alguns dos vários usos da palavra intenção.
Poderíamos usar a palavra intenção no sentido de uma ação voluntária (intenção voluntária), mas
poderíamos também discutir intenção evolutiva – a execução de um comportamento que o indivíduo não
escolhe exibir, mas que é realizado como resultado da seleção natural. Esta pode ser descrita como
intenção involuntária. Para esclarecer essa distinção, considere os exemplos a seguir de comportamento
humano.
Imagine-se andando por um corredor. Você vê um amigo andando na sua direção e decide
cumprimentá-lo com um aceno de mão. Isso é um exemplo de intenção voluntária – você escolheu
realizar uma exibição de saudação particular. Um pouco mais adiante você vê outro conhecido, não um
amigo próximo e nem alguém para quem você queira acenar. Conforme você passa por ele, contudo, você
faz contato visual e suas sobrancelhas involuntariamente se elevam. Esse gesto é um exemplo de intenção
involuntária porque por alguma razão estamos adaptados a realizar esse sinal particular nessa situação
específica.
Também podemos usar a palavra intenção no sentido de “o que vai acontecer em seguida”, e
neste capítulo vamos considerar vários comportamentos que alguns acreditam que comunicam esse tipo
de intenção. Mas uma vez mais, intenção nesse caso pode ser usada no sentido voluntário e involuntário.
Agora quero que você considere seu comportamento enquanto dirige um carro. Se você dirige
corretamente, irá considerar as necessidades de outros motoristas e irá se comunicar com eles. Assim, por
exemplo, se você pretende fazer uma conversão à esquerda você deixará o motorista atrás de você saber
disso ligando a seta para a esquerda. A luz amarela piscando sinaliza sua intenção de virar. Contudo, você
também se comunica não intencionalmente quando dirige. Cada vez que você pressiona o pedal do freio,
luzes vermelhas na traseira do seu veículo são ativadas. Esse sinal comunica ao motorista de trás que você
pretende diminuir ou parar. Mas você não escolheu transmitir essa informação, não é? Esse é um exemplo
de uma comunicação involuntária de intenção.
Honestidade e Desonestidade
A luz vermelha do freio é um sinal honesto de que o carro está reduzindo a velocidade e portanto
deveria ser levado a sério e correspondido. Mas a luz amarela piscando não depende do comportamento
do carro, mas da qualidade do motorista. Um bom motorista irá aplicar o sinal apenas quando estiver para
fazer uma conversão, i.e., usará o sinal honestamente, mas um mau motorista poderia usá-lo
desonestamente ou não usá-lo. Nesse caso o destinatário do sinal faria bem em usar outros sinais ao
decidir corresponder ou não ao sinal.
Formigas e Cobras
Você deve se lembrar que no Capítulo 4 consideramos o comportamento de
deposição/seguimento de trilhas de algumas espécies de formiga. Com esse comportamento as formigas
comunicam umas às outras informações sobre a localização de alimento. Contudo, os membros de pelo
menos uma outra espécie usam as informações contidas nessas trilhas. Leptotyphlops é uma cobra que usa
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essas trilhas para levar à sua principal presa – formigas. Claramente, a comunicação formiga-formiga
acontece por essas trilhas e através do comportamento de deposição da trilha, mas a comunicação
acontece entre a formiga e a cobra? Em comum com muitos outros autores eu argumento que não. A
trilha foi produzida com a função primária de facilitar a transferência de informações entre formigas, e os
comportamentos de todas as formigas envolvidas são adaptados para maximizar a eficiência do envio e
recebimento de informações entre elas. A trilha não foi, contudo, assentada para comunicar a presença
das formigas para a cobra. E esse é o ponto importante. No contexto deste capítulo eu definiria
comunicação como “o envio e o recebimento voluntário e involuntário de sinais, que provavelmente
evoluíram com esse propósito, entre indivíduos que estão comprometidos com a maximização da
eficiência da transferência de informações entre eles”. Observe que essa definição não faz suposições
sobre a honestidade ou não das informações que são transferidas. Também observe que na definição eu
me refiro especificamente a sinais como comportamentos que provavelmente evoluíram para permitir a
comunicação.
A EVOLUÇÃO E PERFIL DOS SINAIS
Os animais se comunicam uns com os outros das mais variadas maneiras. Alguns animais usam
som e outros usam substâncias químicas. Alguns animais se comunicam por toque ou vibração e alguns
usam sinais visuais e posturas corporais. Nesta seção quero considerar vários exemplos de comunicação e
os fatores evolutivos e ambientais que moldaram os sinais que eles envolvem.
Semáforo de Sapo
Precisamente quais métodos de comunicação são usados por uma espécie animal irá depender em
grande parte do ambiente em que se comunicam. Mas o método usado também deve depender até certo
ponto do equipamento disponível para o indivíduo.
Muitas espécies de sapo coaxam como forma de
comunicação social. Contudo, uma espécie, o sapo dourado
panamenho Atelopus zeteki não tem um componente essencial da
maquinaria necessária para comunicação acústica. Esse sapo não
tem orelha média e assim é em grande parte surdo. Os sapos
dourados respondem a som, de modo que não são completamente
surdos, mas as evidências experimentais disponíveis sugerem que
em comparação com seus parentes bons ouvintes eles tem
sensibilidade acústica reduzida. Adicione a isso o fato de que eles
habitam riachos montanhosos de curso rápido onde altos níveis de
barulho ambiental tornariam difícil para qualquer animal ouvir um
sinal, e a extensão da falta de propriedade de um sistema acústico de comunicação para esse animal se
torna aparente.
Assim, os sapos dourados vivem uma vida de mensagens meio-ouvidas e confusas? Não. Durante
o desenvolvimento evolutivo surgiu um modo alternativo de comunicação – um que faz uso da
maquinaria que já está disponível para eles.
Os anfíbios têm um sistema visual altamente desenvolvido, e particularmente sensível a
movimento. Não deveria portanto ser uma surpresa que esses animais tenham desenvolvido um sistema
de comunicação visual. Os pesquisadores que trabalham nas florestas panamenhas estabeleceram que os
sapos dourados se comunicam uns com os outros usando um sistema de semáforo. Indivíduos acenam um
para o outro, e embora as mensagens exatas que transmitem permaneçam incertas para nós, acredita-se
que estejam relacionadas a defesa de território e seleção sexual – as mesmas funções que foram atribuídas
ao coaxar de seus parentes.
Preferências Sensoriais e Perfil do Sinal
Alguns insetos machos são levados a polinizar as flores de certa espécie de orquídea porque essas
flores têm mais do que uma vaga semelhança com os insetos fêmeas. Isso não acontece porque a planta é
ela própria atraente para o inseto. A planta está de fato explorando uma tendência pré-existente no sistema
sensorial do inseto – o fato de que insetos machos acham insetos fêmeas atraentes. Em termos de perfil de
sinal esse processo é chamado de exploração sensorial, a teoria de que os sinais evoluem para explorar
tendências sensoriais pré-existentes por parte do destinatário. De modo semelhante, acredita-se que a
exibição de cortejo do ácaro aquático Neumania papillator evoluiu para explorar o fato de que ácaros
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fêmeas são especialmente sensíveis às vibrações aquáticas que emanam de suas presas copépodes.
Durante a exibição os ácaros machos abanam suas patas dianteiras conforme se aproximam das fêmeas,
replicando as vibrações do copépode.
O AMBIENTE E O PERFIL DO SINAL
Canais de Comunicação
A via que liga um sinalizador e o destinatário do sinal é conhecida como canal. O termo canal de
comunicação é usado para descrever as várias modalidades sensoriais que são utilizadas pelos animais
para facilitar a comunicação eficiente. Algumas como a sensação elétrica são usadas relativamente
raramente porque podem operar apenas em um ambiente específico (neste caso a água). Outras são usadas
mais amplamente, e há quatro em particular que são comumente usadas em vários ambientes e por uma
ampla variedade de grupos animais. Esses são os canais visual, auditivo, químico e mecânico. Cada um
desses canais apresenta vantagens e desvantagens para seu usuário, e essas podem variar de ambiente para
ambiente. Por essa razão, os indivíduos podem depender de uma combinação deles.
O Canal Visual
O canal visual oferece vantagens distintas em termos de comunicação pelo fato de que sinais
visuais são facilmente localizáveis, o recebedor pode literalmente ver de onde eles vieram. Outra clara
vantagem dos sinais visuais é que podem ser mudados rapidamente para permitir mudanças rápidas na
mensagem que o sinalizador quer transmitir (pense por exemplo na linguagem humana de sinais e no
volume surpreendente de informações que pode ser transferido por ela). Contudo, sinais visuais não
podem fazer curvas, ou atravessar vegetação densa, seu alto grau de localização poderia resultar em risco
aumentado de predação para o sinalizador, e são ineficazes no escuro, assim o canal visual tem algumas
desvantagens. A maior parte da comunicação visual é, portanto, realizada em distâncias pequenas.
Comunicação Agonista do Chapim Azul
A comunicação visual é muito importante para os chapins azuis Parus caeruleus quando
forrageiam em bandos durante os meses de inverno. Quando dois chapins azuis encontram uma fonte de
alimento durante o inverno, podem se alimentar amigavelmente lado a lado. Se entretanto o item
alimentar que encontraram não for facilmente divisível, poderão brigar por ele. Brigas entre chapins azuis
são comuns, mas você poderia facilmente ignorá-las se sua ideia de uma briga for algo em termos da
experiência humana de contato físico por meio de socos e pontapés. Brigas físicas ocorrem entre chapins
azuis, mas são muito raras. De fato, durante um programa de observação que envolveu perto de 3.000
contendas agonistas (que é como as brigas são conhecidas no jargão comportamental) entre aves, vi
menos de 30. Espero que com base nessa observação as mesmas duas questões que imediatamente
ocorreram a mim tenham ocorrido a você – Por que os contatos físicos são raros? E como foram
resolvidas as outras 2.970 contendas?
A resposta à primeira dessas questões é intuitivamente óbvia. Como a briga física é
potencialmente cara em termos de gasto de energia e risco de ferimentos, esperaríamos que a seleção
natural favorecesse a evolução de mecanismos de resolução de contendas que a evitassem. A resposta
para a segunda questão tem duas partes. Alguns chapins azuis evitam contendas completamente
simplesmente cedendo um ao outro. Por exemplo, uma ave fêmea irá quase sempre abandonar uma fonte
de alimento quando chega um macho. Nesse contexto, parece que os machos têm dominância sobre as
fêmeas. E no jargão do ramo, poderíamos dizer que o macho suplantou a fêmea. Mas quando duas aves
do mesmo sexo se encontram essa regra simples não pode ser usada. Nessa situação os chapins azuis
chegam à resolução da contenda pela realização de exibições visuais ritualizadas. As aves que interagem
assumem posturas durante as contendas e geralmente se supõe que as aves usam as informações
codificadas nessas exibições para tomar decisões sobre quando desistir e quando continuar a contenda.
Como aparte, poderíamos esperar que o valor seletivo de resolver disputas sem briga física
aumentasse conforme o potencial dos combatentes de infligir dano real um ao outro aumentasse. Isso é
exatamente o que James Serpell descobriu quando realizou uma revisão sobre o comportamento agonista
dos membros do gênero de periquito Trichoglossus. Espécies grandes de periquito com bicos pesados e
poderosos (a principal arma usada em uma briga física) usam até 20 comportamentos de exibição
altamente ritualizados durante as contendas e são improváveis de lançar mão de um ataque físico.
Espécies menores, contudo, com bicos pequenos e portanto relativamente pouca capacidade de causar
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dano real, têm um sistema de exibição muito menos bem desenvolvido e exibem uma tendência muito
maior para briga física.
O Canal Acústico
Muitos mamíferos marinhos têm sistemas visuais altamente desenvolvidos e assim esperaríamos
que se comunicassem visualmente. Mas a luz no mar se atenua (é absorvida e/ou espalhada) muito
rapidamente, e assim mesmo nas águas mais claras os mamíferos marinhos provavelmente não são
capazes de ver um objeto claramente se ele estiver a mais do que uns poucos metros de distância. O som,
por outro lado, atenua mais rapidamente no ar do que na água, e acredita-se que os sinais acústicos das
baleias têm raios efetivos de mais de 100 quilometros. Assim não é surpreendente que aqueles mamíferos
que retornaram para uma existência marinha tenham evoluído meios altamente especializados de
comunicação acústica. Os sinais acústicos em geral são um meio muito eficiente de comunicação no
ambiente terrestre e no aquático porque oferecem rápida transmissão de sinal e um alto potencial para
rápida mudança de sinal.
Como discutimos no caso do sapo dourado panamenho, contudo, estão sujeitos a interferência
ambiental, e níveis cambiantes de ruído de fundo ou estrutura de vegetação tamponante de som, poderiam
ter um impacto negativo sobre sua eficácia. Há evidências de que algumas espécies são capazes de levar
em conta esses problemas ambientalmente impostos e modificar seus sinais sonoros adequadamente.
Sabe-se que baleias jubarte alteram a freqüência com que cantam durante épocas diferentes do ano.
Supôs-se que essa mudança no som equivalesse a uma mudança nas prioridades dos indivíduos. Talvez
durante uma parte do ano os cantos estivessem relacionados especificamente a cortejo, enquanto em outra
estação estivessem relacionados à disponibilidade de alimento. Recentemente, contudo, foi proposta uma
alternativa para essa hipótese. Criando modelos da dinâmica de transmissão do som, os pesquisadores
descobriram que diferentes freqüências são propagadas pela água mais eficientemente em diferentes
temperaturas, especificamente freqüências mais baixas viajam melhor através de água mais quente e
freqüências mais altas viajam melhor por água mais fria. Assim, se as baleias estão se comportando de
maneira a maximizar a efetividade (alcance) de seus cantos, podemos esperar que usem freqüências mais
baixas no verão do que no inverno, e a partir das observações disponíveis é exatamente isso o que elas
parecem fazer.
Com a exceção da fala humana, o sistema auditivo de comunicação que é mais familiar para nós
deve ser aquele empregado pelas aves canoras. Machos dessas espécies (embora não exclusivamente, já
que há algumas fêmeas cantoras bem dotadas) devotam tempo e energia consideráveis para o
desenvolvimento e produção de seus cantos, e foi feito um esforço considerável por muitos estudiosos do
comportamento para compreender seu significado.
O Canal Elétrico
Em água lodosa rasa, nem a luz nem o som são particularmente eficientes como meio de
comunicação. Nessas condições, dois grupos de peixes teleósteos, os mormiriformes africanos e os
gimnotiformes sul-americanos, evoluíram independentemente um sistema de comunicação que envolve o
canal elétrico.
Os sinais elétricos não podem ser efetivamente transmitidos pelo ar e assim o uso desse canal está
restrito ao ambiente aquático. Mesmo aqui ele só é útil em um raio de até 1 metro.
Dentro dessas limitações,
contudo, há evidências de observação
e de experimentação de que essas
espécies de peixe são capazes de usar
o padrão de descargas elétricas e
intervalos entre as descargas, junto com as características da própria descarga, para comunicar
informações sobre identidade da espécie, sexo de um indivíduo, e relações de dominância entre
indivíduos. Machos de Sternopygus macrurus, uma espécie gimnotiforme, adicionam modulações
periódicas ao seu padrão de pulso de fundo comum para tentar atrair e impressionar fêmeas. Seus cantos
de cortejo são um paralelo claro e interessante com os cantos de baleias e de aves pelo fato de serem
complexos e de produção custosa.
O Canal Químico
As vantagens da comunicação química não são tão imediatamente aparentes como aquelas
oferecidas pelos canais visual e acústico. Para serem eficientes, as moléculas que compõem um sinal
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químico precisam se mover do remetente para o destinatário. Em alguns casos, isso é conseguido quando
o remetente coloca o sinal fisicamente no destinatário, ou pelo destinatário se movendo para um sinal
depositado para pegá-lo. Mais geralmente, envolve o movimento da substância química pelo ar ou pela
água pelo processo de difusão. Correntes naturais ou produzidas pelo sinalizador podem ajudar a
movimentar o sinal na direção apropriada, mas essa dependência da difusão significa que os sinais
químicos tipicamente seguem rotas irregulares e viajam em velocidades reduzidas (enquanto um pulso de
som pode viajar de um sinalizador para um recebedor em milissegundos, a transmissão química pode
levar minutos, horas, ou mesmo dias). A dependência da difusão também significa que os sinais químicos
não se prestam a um padrão temporal estabelecido e não são um meio adequado por meio do qual
comunicar uma mensagem que se altera rapidamente.
No contexto dos animais que os usam, porém, as vantagens dos sinais químicos são óbvias. Pegue
por exemplo os feromônios depositados pelas formigas que discutimos no Capítulo 4. Esses compostos
químicos fornecem uma mensagem inequívoca para o recebedor do sinal, e uma que irá persistir no
ambiente por um período suficientemente longo para ser útil para vários indivíduos (um sinal sonoro ou
expressão física não seria). Por razões semelhantes, oferecem aos animais territoriais um meio de
sinalizar propriedade de uma área sem o animal precisar estar fisicamente presente. Contudo, o fato de
que essas substâncias químicas são voláteis significa que o sinal irá desaparecer quando sua utilidade
esmorecer, uma vantagem para a formiga – mas não para o defensor de um território. Para superar esse
problema nem todos os sinais químicos evoluíram para serem similarmente efêmeros, alguns fornecem
um sinal mais duradouro do que outros.
O Canal Mecânico
O último modo principal de comunicação que eu quero considerar é o canal mecânico. Esse
geralmente inclui comunicação facilitada pelo contato direto entre indivíduos (toque) e pela transmissão
de informações por vibrações do substrato. Claramente, a comunicação pelo toque é efetiva apenas numa
distância muito pequena, e é provável que a distância das vibrações do substrato também seja pequena.
Afinal de contas, esses sinais irão se degradar conforme forem transmitidos e podem ser mascarados ou
confundidos por outras vibrações ambientais. O canal mecânico é extensivamente usado para
comunicação de curta distância por uma ampla variedade de invertebrados, às quais ele oferece as
vantagens de alta localização e alta taxa de mudança de sinal. É importante, por exemplo, durante os
comportamentos de cortejo de aranhas de teia. Conforme os machos se aproximam de fêmeas
potencialmente perigosas eles tocam sinais espécie-específicos nos fios da teia para diminuir as chances
de serem confundidos com presas.
APLICAÇÃO: COMUNICAÇÃO QUÍMICA E CONTROLE DE PESTES
Os besouros do gênero Carpophilus recentemente se tornaram uma peste
principal da agricultura em partes da Austrália. Eles atacam frutas em
amadurecimento (nectarinas e pêssegos, por exemplo) e são um vetor de
podridão marrom, outra ameaça à indústria. Naquelas áreas onde as infestações
de besouro tornam-se suficientemente grandes, colheitas inteiras podem ser
perdidas e assim as implicações econômicas dessa peste são claramente
significativas. Uma solução para o problema poderia ser saturar os pomares
afetados com um inseticida, e certamente em uma época essa teria sido nossa
reação automática. Mas felizmente no mundo moderno estamos menos
propensos a considerar essa opção, e no caso da indústria orgânica sempre em
crescimento, simplesmente não é uma opção. Há hoje uma arma mais elegante
em nosso arsenal. David James e sua equipe encontraram um modo de usar o
sistema de comunicação do próprio besouro contra ele mesmo.
Besouros Carpophilus machos secretam um feromônio de agregação que é irresistível para
membros de sua espécie. A química do feromônio é bem conhecida, pode ser prontamente sintetizada, e o
produto sintético é efetivo como um atraente em distâncias de pelo menos 500 metros. Se armadilhas
(funis simples onde os besouros deslizam para dentro de um recipiente com água) são preparadas com
uma pequena quantidade do feromônio sintético, os besouros podem ser facilmente capturados.
Colocar as armadilhas diretamente nas árvores frutíferas não é, porém, uma estratégia ideal. Se
isso for feito, há a chance dos besouros ainda causarem algum dano antes de serem capturados. Assim,
James e sua equipe colocaram armadilhas em poleiros situados 5 metros fora de um pomar, e a intervalos
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de 3 metros por todo o seu perímetro. Um protocolo de supressão baseado em perímetro, como esse
arranjo é conhecido, tem a vantagem de que além de levar as pestes para fora do pomar, também captura
as pestes que estão em seu caminho para dentro.
Mas isso funciona? Bem, em um de seus experimentos, os pesquisadores aprisionaram
surpreendentes 94.240 besouros em 54 armadilhas durante um período de 4 semanas antes da colheita das
frutas, e mais 14.200 durante o período de colheita de 4 semanas. Poucos besouros foram encontrados
dentro do pomar, e não foi relatada nenhuma fruta danificada. Claramente a técnica é um sucesso.
O princípio do uso do próprio sistema de comunicação de uma peste como arma contra ela não é
novo, nem está restrito ao controle de pestes de fruta. A mesma ideia está no centro de várias iniciativas
para controlar uma variedade de pestes de gado e para controlar uma variedade de insetos que
representam um risco para a saúde humana, seja diretamente ou como resultado dos agentes de doença
que eles transportam.
Traduzido de SCOTT, G. Communication. In: _________________. Essential animal behavior. Oxford:
Blackwell Publishing, 2005, pg. 93-118.
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