Ecologia vista a partir do uso do espaço de uma espécie Um simples traço de um polígono ou o desenho de linhas contendo os locais de ocorrência de um animal no espaço são representações recorrentes da área de vida de um animal, e essas representações contém mais informações sobre a biologia e ecologia dos animais do que se pode imaginar. Possuir uma área de vida assegura algumas vantagens ecológicas aos indivíduos, como conhecer o espaço em que se está para buscar o alimento com maior eficiência, dessa forma economizando energia. Também pode facilitar o reconhecimento de outros indivíduos do entorno, sendo estabelecidas diferentes formas de divisão do espaço. Uma forma de divisão do espaço é o territorialismo, sendo detectado em um indivíduo quando este defende uma parte ou o total de sua área de vida, e por conseqüência há pouca ou nenhuma sobreposição de áreas de vida intrasexualmente. Para alguns taxa, como pequenos mamíferos, uma maneira indireta de detectar o territorialismo é verificar se há ausência de sobreposição de áreas de vida, pois observar a defesa de território em ambiente natural é extremamente difícil. Além disso, a forma como está estruturada a sobreposição das áreas de vida de indivíduos, bem como o tamanho relativo das áreas de vida de machos e fêmeas, pode indicar qual o sistema de acasalamento e a estrutura social da espécie. Um exemplo de fator determinante da diferença de padrões espaciais entre sexos é maior investimento parental feito por fêmeas de mamíferos, com a finalidade de maximizar o fitness através do aumento de sobrevivência da prole. Devido esse investimento, geralmente as fêmeas possuem áreas de vida menores que as dos machos. Somando-se a isso, quando as áreas de vida dos machos se sobrepõe apenas com as áreas de vida das fêmeas, enquanto as áreas das fêmeas se sobrepõe pouco ou não se sobrepõe intrasexualmente, sugere-se um sistema de acasalamento promíscuo. Outra alternativa é quando há muita sobreposição intersexual e pouca sobreposição intrasexual, caracterizando o sistema de acasalamento monogâmico. Além dessas possibilidades, quando o território de um macho sobrepõe as áreas de vida de diferentes fêmeas, tem-se um sistema poligínico. O que pode se esperar em vista desses sistemas é que as razões sexuais variem entre eles. Um sistema monogâmico, por exemplo, possui pouco ou nenhum desvio sexual. Já em um sistema poligínico, o desvio sexual é dado para as fêmeas. Os conceitos e definições até agora abordados fazem referência a animais que habitam um ambiente não alterado por ações antrópicas. As alterações geradas pelo homem a um ambiente natural geralmente causam a perda de área e o isolamento desses ambientes remanescentes e, em decorrência disso, há uma mudança na configuração espacial destes, influenciando características espaciais dos animais. Se essa perda é grande o suficiente ao ponto de não sustentar a área de vida de um indivíduo, duas situações podem ocorrer: ou ele buscará outro local para habitar, ou sua área de vida, forçosamente, será reduzida. Somando-se a isso, um ambiente com uma menor área suportará menos indivíduos territorialistas. Portanto, se os indivíduos territorialistas de uma espécie são os machos, conseqüentemente menos machos habitarão aquele local, havendo assim uma modificação da razão sexual da espécie naquele ambiente, ao ser comparada com a razão sexual de um ambiente não alterado. Com a alteração na razão sexual, provavelmente a espécie naquele ambiente terá modificações na sua estratégia reprodutiva e na taxa reprodutiva. Dessa forma, verificar se a razão sexual em um ambiente é alterada devido ações antrópicas serve como um diagnóstico interessante sobre os efeitos negativos das atividades humanas sobre o uso do espaço das espécies.