exportação e a competitividade paranaense do complexo

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EXPORTAÇÃO E A COMPETITIVIDADE PARANAENSE DO
COMPLEXO CARNE
Vanderlei José Sereia 1
Thaís de Oliveira Toneto 2
3
Márcia Regina Gabardo da Camara
RESUMO
O objetivo do artigo é analisar o comportamento das exportações e a competitividade do complexo de carnes
paranaense no período de 1990 a 2002. As exportações da economia paranaense apresentaram baixo desempenho
no início e final da década de 90, devido às dificuldades de adequação à abertura comercial e à redução do
comércio mundial pela queda de preços, originada com a pressão de oferta dos países em desenvolvimento e
com as crises financeiras mundiais. Houve reestruturação das exportações paranaenses em meados dos anos 90, a
partir de 1994, com a implantação do Plano Real de estabilização econômica. A decomposição das fontes de
crescimento das exportações, obtida pela aplicação do método Constant-Market-Share (CMS), confirmou a
competitividade das exportações do complexo de carnes paranaense no período estudado. Na primeira metade
dos anos 90, o crescimento do comércio mundial e a composição da pauta de exportações foram responsáveis
pelo crescimento das exportações paranaenses. Entre 1995 e 2000, a composição da pauta de exportações e a
competitividade das exportações passaram a explicar o crescimento, mesmo nos momentos de crises mundiais. A
tendência das taxas de crescimento das exportações paranaenses de carne bovina é apresentaram comportamento
cíclico similar ao das exportações do complexo de carnes na década de 90 -em parte explicado pelo
comportamento da economia mundial e em parte pelas mudanças institucionais e barreiras relacionadas ao
comércio de alimentos -, enquanto as carnes de frango e suínas apresentam taxas de crescimento crescentes de
suas exportações durante todo o período analisado.
Palavras-chave: competitividade, exportações mundiais, exportações paranaenses.
1. INTRODUÇÃO
O objetivo do estudo é analisar o comportamento das exportações e a
competitividade do Complexo de Carnes do Paraná no período de 1990 a 2002. Os
procedimentos metodológicos envolvem a discussão da evolução das exportações mundiais e
análise da evolução das exportações paranaenses, à luz das teorias de competitividade e de
comércio internacional, a discussão do ambiente institucional a nível nacional e internacional
(particularmente União Européia) e a estimação da competitividade do Complexo de Carnes
Paranaense.
Utiliza-se o modelo Constant-Market-Share (CMS), que atribui o
crescimento das exportações às estruturas das exportações do país e à sua competitividade. O
CMS decompõe o crescimento da participação das exportações nos seguintes fatores:
crescimento do comércio internacional, composição da pauta de exportações, destino das
exportações e competitividade.
A análise da vulnerabilidade externa da economia brasileira revelou que, sob
liberdade de comércio, as economias primário-exportadoras não eram capazes de absorver os
frutos do progresso técnico devido à deterioração das relações de troca entre exportações e
1
- Mestre, professor do Departamento de Economia da UEL – E-mail: [email protected]
Economista, formada pela UEL – E-mail: [email protected]
3
- Doutora, professora do Departamento de Economia da UEL – E-mail: [email protected]
2
2
importações. Ou seja, com as exportações de produtos primários os países periféricos perdiam
capacidade de pagar pelas importações de bens manufaturados procedentes das economias
centrais. Assim, caberia ao governo interferir no processo criando barreira às importações e
infraestrutura básica para estimular a industrialização. A adoção do modelo de substituição de
importações no período 1950/1970 permitiu ao Brasil reduzir o grau de dependência externa.
A estratégia escolhida implicou forte endividamento externo, arrefecimento do ritmo de
crescimento econômico e processo inflacionário persistente nos anos 80. Com a renegociação
da dívida externa e a adoção do Plano Real em 1994 – e a política de juros a ele associado, o
Brasil apresentou maior estabilidade interna e tal otimismo estimulou grande entrada de
capitais no país. Por outro lado, a apreciação do câmbio afetou o saldo da balança comercial e
induziu à crescente perda de competitividade das exportações brasileiras (VASCONCELLOS,
GREMAUD e TONETTO JR., 2002).
O primeiro alerta da vulnerabilidade das economias emergentes ocorreu
com o forte movimento especulativo, a fuga de capitais de países periféricos e a ocorrência
das crises asiática, russa, brasileira e argentina, dependentes de poupança externa. As crises
reverteram às expectativas de retorno dos capitais investidos, particularmente naquelas nações
como o Brasil, que apresentavam crescimento acelerado da dívida externa. A fuga de capitais
e o ataque especulativo sobre a moeda brasileira que sucederam à crise da Ásia, por algum
tempo foram neutralizados pelo aporte de recursos do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Buscando o equacionamento do problema externo, a prioridade máxima desde então tem sido
gerar divisas para honrar os compromissos externos e reduzir a dependência de poupança do
resto do mundo (VASCONCELLOS, GREMAUD e TONETTO JR., 2002).
O período anteriormente descrito revela a crescente vulnerabilidade externa
da economia brasileira. Embora as exportações brasileiras tenham se diversificado, a
agricultura volta a ser o setor mais promissor enquanto provedor de divisas. Considerando o
crescente grau de inserção internacional do setor, o velho problema da dependência de
produtos primários, que motivou as políticas protecionistas no passado, recupera importância
e complexidade, até porque o próprio setor primário hoje padece de dependência tecnológica
e financeira (GONÇALVES, 1996).
Pelo fato da dependência da agricultura ainda condicionar o
desenvolvimento da economia brasileira (fato agravado pela liberalização comercial), este
trabalho se propõe a analisar um importante complexo agroindustrial do país, o Complexo de
Carnes. Particularmente, será analisado o Complexo de Carnes do Paraná, bem como suas
exportações e competitividade.
O comportamento das exportações do complexo agroindustrial paranaense
determina a competitividade do setor exportador do Paraná. Assim, o presente estudo permite
constatar a importância do Complexo de Carnes para o desenvolvimento não só da economia
paranaense, mas da economia brasileira, já que este representa 7% do valor exportado pelos
complexos agroindustriais paranaenses.
Os agentes envolvidos neste complexo podem se beneficiar de informações
geradas pelo comércio internacional, pela composição da pauta de exportações, pelo destino
das exportações e, finalmente, pela competitividade dos seus produtos para melhor direcionar
a produção e a comercialização dos mesmos.
Neste trabalho as exportações mundiais de carnes são representadas pelas
carnes frescas e congeladas de bovinos, frangos e suínos, e representam 10,3% das
exportações totais do complexo agroindustrial mundial. As exportações de carnes de bovinos
(67,45%) lideram as exportações de carnes, seguidas pela carne de suínos (21,65%) e de
frango (10,90%).(FAOSTAT, 2004).
O Brasil reduziu seu ritmo de crescimento das exportações de carnes de
11,2% ao ano para 9,5% ao ano no final da década de 90. O estado do Paraná apresentou
comportamento semelhante, o ritmo de crescimento retraiu de 9,9% ao ano em meados dos
3
anos 90 para 9,6% ao ano no final da década, devido à menor demanda mundial e à crise
financeira internacional (FAOSTAT, 2004).
A carne de frango apresenta evolução crescente de participação nas
exportações paranaenses, mantendo uma média acima dos 85% durante todo o período. A
carne bovina é de pouca expressão nas exportações paranaenses (9,4%), porém mostra
tendências a se firmar na pauta de exportação pelo seu comportamento crescente no valor
exportado. A carne suína manteve quase estável sua participação nas exportações por volta de
5,6%, indicando ser um produto de baixas perspectivas de mercado.
O comportamento das exportações paranaenses é influenciado por
mudanças de políticas internas e de contexto econômico mundial. Por isso, é necessário
analisar o comportamento dos diferentes tipos de carnes na estrutura da pauta de exportação,
que determina a competitividade do setor exportador paranaense. As condições externas
também exercem grande influência no desempenho do setor exportador, e os elementos
fundamentais para a superação de dificuldades de operacionalização no comércio exterior
estão associados ao desenvolvimento tecnológico, infra-estrutura e políticas voltadas ao
estímulo das exportações.
O artigo está estruturado em cinco capítulos: a introdução; o item dois
discute as principais teorias do comércio internacional: Teoria de Heckscher-Ohlin (H-O) e
Teorema de Heckscher-Ohlin-Samuelson (H-O-S), bem como suas respectivas características
e implicações; e as principais teorias sobre competitividade; no item terceiro são discutidas a
evolução das exportações mundiais e a evolução das exportações paranaenses através da
análise dos valores exportados de carnes; no quarto item é apresentada à metodologia de
cálculo dos índices do modelo Constant-Market-Share (CMS), que decompõe os efeitos do
crescimento das exportações. Finalmente, as conclusões são apresentadas no item cinco.
2. COMPETITIVIDADE E COMÉRCIO INTERNACIONAL
As teorias de comércio internacional relacionam eficiência produtiva,
competitividade internacional e intensidade do comércio entre os países. Na teoria das
vantagens absolutas, as trocas ocorrem quando uma nação é mais eficiente na produção de
uma mercadoria, porém é menos eficiente na produção de uma segunda mercadoria que a
outra nação. Ambas as nações podem ganhar, cada uma delas especializando-se na produção
da mercadoria de sua vantagem absoluta e trocando parte da produção com a outra nação pela
mercadoria de sua vantagem absoluta. Desta forma, os recursos produtivos são melhores
empregados, o que possibilita o aumento da produção de ambas as mercadorias. O
crescimento da produção depende do ganho da especialização da produção das mercadorias e
ambas as nações se beneficiarão do livre comércio (CARVALHO, 2000; SALVATORE,
2000).
Segundo Ricardo, as diferenças de preços das mercadorias entre duas nações
configuram vantagens comparativas e ambas se beneficiam das trocas, mesmo em condições
de igualdade de quantidades ou valores entre suas diferentes e respectivas mercadorias de
especialização. Segundo a teoria das vantagens comparativas, cada país deve se especializar
em atividades produtivas em que sua produtividade comparada (relativa) seja mais elevada,
mesmo na hipótese do país possuir vantagens relativas e absolutas em outras atividades. Os
ganhos de cada país individualmente seriam maiores se todos se especializassem, segundo os
critérios dos custos comparados (CARVALHO, 2000; SALVATORE, 2000).
Uma segunda forma de apresentar o comércio é através da análise dos
efeitos do comércio internacional sobre o rendimento dos fatores. Ou seja, os efeitos do
comércio internacional sobre o rendimento do trabalho, bem como sobre as diferenças
internacionais de rendimentos. As vantagens comparativas surgem das formações
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diferenciadas nas dotações de fatores, que influenciam os preços relativos dos fatores de
produção. Estes, juntamente com a tecnologia disponível, as economias de escala, os padrões
de consumo e a estrutura de mercado, afetam os fluxos internacionais de mercadorias
(FERRARO, SEREIA e CAMARA, 2003).
Na visão ricardiana, de um único fator e rendimento constante, a tecnologia
por si só determina a mercadoria exportada por país. A mercadoria de cada país é dada como
vantagem comparativa na sua produção. Assim, o conceito de vantagem comparada satisfaz a
dois critérios:
- A vantagem comparativa é definida somente por condições de produção;
- Cada país exporta a mercadoria que tem vantagem comparativa.
Neste sentido, “a teoria das vantagens comparativas de Ricardo diz que
pode haver comércio de forma vantajosa entre países quando os custos relativos de produção
das mercadorias envolvidas são diferentes” (CARVALHO e SILVA, 2000, p. 13).
...da maneira como foram abordadas por David Ricardo, as vantagens comparativas eram
conseqüências do fato de que o único fator de produção relevante – o trabalho – tinha
níveis de produtividade diferentes nos distintos países e, conseqüentemente, os bens
tinham custos de produção diferentes. Ricardo não apresentou nenhuma justificativa
econômica para esse fato. Somente no início do século XX surgiu uma explicação
razoável... a teoria de Heckscher-Ohlin afirma que cada país se especializa e exporta o
bem que requer utilização mais intensiva de seu fator de produção abundante
(CARVALHO e SILVA, 2000, p. 25).
Em outras palavras, o teorema Heckscher-Ohlin (H-O), conhecido como
teoria das proporções ou das dotações dos fatores, afirma que uma “nação exportará a
mercadoria cuja produção exija a utilização intensiva do seu fator abundante e barato, e
importará a mercadoria cuja produção exija a utilização intensiva do seu fator relativamente
escasso e caro” (SALVATORE, 2000, p. 70).
As diferenças dos preços relativos das mercadorias entre as nações
determinam à vantagem comparativa e o padrão de comércio. Já as diferenças de preços
relativos na oferta dos fatores de produção levam à diferença nos preços dos fatores e das
mercadorias. Assim, o comércio internacional se mantém em crescimento até que os preços
relativos dos fatores se igualem para todas as nações.
Segundo CARVALHO (1993), a versão modificada do teorema HeckscherOhlin-Samuelson (H-O-S) baseia-se nas hipóteses: a) concorrência perfeita; b) equilíbrio
geral (vigência de mecanismos de ajustes via preços e quantidades, com os preços
determinados pela oferta e demanda); c) comportamento maximizador dos agentes em face de
restrições orçamentárias; d) diferenças nas tecnologias são representadas por funções de
produção contínuas e diferenciadas, apresentando rendimentos marginais (físicos)
decrescentes e sendo consideradas idênticas para cada produto em qualquer país; e) representa
a identidade das preferências dos consumidores de cada país; e f) imobilidade internacional
dos fatores produtivos (trabalho e capital).
O teorema H-O-S permite chegar às seguintes conclusões (KENEN, 1999,
p.136); a) ocorre à ampliação dos ganhos dos países participantes do comércio e a
conseqüente elevação do nível de bem-estar de seus consumidores; b) a especialização
relativa (ou até absoluta) é determinada pelas dotações dos fatores; c) a equalização das
remunerações dos fatores produtivos resulta da livre mobilidade das mercadorias; e d)
“cobrindo os hiatos entre os produtos marginais, o livre-comércio maximiza a produção
mundial”.
As diferentes dotações de fatores ativam o comércio entre as nações para a
especialização em diferentes mercadorias com vantagem comparativa relativa. A ampliação
deste comércio desencadeia um processo competitivo motivado pela busca de melhores
vantagens.
5
O desempenho econômico de um país melhora com o comércio
internacional, aproveitando as vantagens comparativas nas trocas de mercadorias. A abertura
econômica acaba por acelerar o crescimento da nação, pois a competição por mercados resulta
em melhor aproveitamento dos recursos e fatores de produção. Assim, a abertura econômica
possibilita também a ampliação de mercados.
A competitividade originada pela ampliação de mercados nada mais é que a
capacidade de competir, isto é, de disputar algum prêmio sob certas condições, com pelo
menos mais um agente. A competitividade pode, portanto, ser entendida como uma medida do
êxito relativo dos agentes, durante um dado tempo no âmbito do processo produtivo
(CARVALHO, 1993).
Há uma forte tendência de identificar o fenômeno competitividade com
algum conjunto de indicadores de desempenho ou eficiência industrial. Assim, a noção de
competitividade é reduzida a algo que se esgota no produto ou na firma que o produz. Porém,
o conceito é um fenômeno atribuído à indústria, ou seja, no conjunto de firmas que a
constitui, e no mercado, não simplesmente como parcela de demanda a ser conquistada ou
mantida pela firma, mas como o verdadeiro espaço de concorrência intercapitalista.
A competitividade pode ser analisada sob diferentes enfoques (KUPFER,
1992). No enfoque microeconômico, as definições de competitividade são centradas sobre a
firma e estão associadas à aptidão de uma firma no projeto, produção e vendas de um
determinado produto em relação aos seus concorrentes. O enfoque macroeconômico da
competitividade é mais complexo, pois reflete a capacidade de economias nacionais de
apresentarem certos resultados econômicos, relacionados com o comércio internacional ou até
mesmo com a elevação de nível de vida e o bem-estar social.
Segundo KUPFER (1992), a competitividade é um conceito que permite
vários enfoques:
a) desempenho – competitividade expressa na participação do mercado (market-share)
alcançada por uma firma em um mercado em um momento do tempo. A participação das
exportações da firma ou da indústria no comércio internacional total da mercadoria apareceria
como seu indicador mais imediato (enfoque adotado neste artigo);
b) eficiência – competitividade expressa através da relação insumo-produto praticada pela
firma e na capacidade da empresa de converter insumos em produtos com o máximo de
rendimento. Competitividade é associada à capacidade de uma firma/indústria de produzir
bens com maior eficácia que os concorrentes no que se refere a preços, qualidade, tecnologia,
salários e produtividade.
Na primeira visão é a demanda no mercado que, ao arbitrar quais produtos
de quais empresas serão adquiridos, estará definindo a posição competitiva das empresas. Na
segunda visão é o produtor que, ao escolher as técnicas que utiliza, submetido às restrições
impostas pela sua capacitação tecnológica, gerencial, financeira e comercial, define a
competitividade. KUPFER (1992) afirma que os conceitos de desempenho e eficiência são
insuficientes para a discussão sobre competitividade, pois ambos se reduzem à mensuração,
em pontos distintos da seqüência intertemporal, dos resultados das diferentes estratégias
competitivas adotadas pelas firmas. Para o autor, a competitividade não pode ser entendida
como uma característica intrínseca de um produto ou de uma firma; ela é um conceito dotado
de uma dimensão extrínseca à firma ou ao produto, estando também relacionada ao padrão de
concorrência vigente no mercado específico considerado. O padrão de concorrência é a
variável determinante e a competitividade é a variável determinada ou de resultado; ela reflete
a adequação das estratégias adotadas pela firma em relação ao padrão de concorrência vigente
na indústria considerada.
PINHEIRO, MOREIRA e HORTA (1992), concordam com KUPFER
(1992) ao explorar os determinantes da competitividade das exportações. O “conceito
desempenho” associa a competitividade de um país à sua performance no mercado
6
internacional. O “conceito macro” avalia a competitividade de um país a partir de variáveis
que dependem basicamente de decisões de política econômica. E, finalmente, o “conceito
eficiência” associa a competitividade de uma economia às suas características estruturais, à
capacidade do país produzir determinados bens com níveis de eficiência e qualidade iguais ou
superiores aos de seus competidores.
COUTINHO e FERRAZ (1994, p.17), contribuem para a discussão com a
noção de competitividade sistêmica, no qual o (...)
“(...) desempenho empresarial depende e é também resultado de fatores situados fora do
âmbito das empresas e da estrutura industrial da qual fazem parte, como a ordenação
macroeconômica, as infra-estruturas, o sistema político-institucional e as características
sócio-econômicas dos mercados nacionais”.
Os fatores sistêmicos da competitividade são aqueles que constituem
externalidades “stricto sensu” para as empresas produtivas, afetam as características do
ambiente competitivo e podem ter importância nas vantagens competitivas que as firmas de
um país têm ou deixam de ter ante suas rivais no mercado internacional, podendo ser
diversificadas. Os fatores, segundo COUTINHO e FERRAZ (1994) são de natureza: a)
macroeconômica – taxa de câmbio, oferta de crédito e taxa de juros; b) político-institucional –
políticas tributárias e tarifárias, regras que definem o poder de compra do Estado e os
esquemas de apoio ao risco tecnológico; c) regulatória – políticas de proteção à propriedade
industrial, de preservação ambiental, de defesa da concorrência e proteção ao consumidor; d)
infra-estrutura – disponibilidade, qualidade e custo de energia, transporte, telecomunicações e
serviços tecnológicos; e) social – qualificação da mão-de-obra (educação profissional),
políticas de educação e formação de recursos humanos, trabalhistas e de seguridade social,
grau de exigência dos consumidores; f) regional – distribuição espacial da produção; e g)
internacional – tendências do comércio mundial, fluxos internacionais de capital,
investimento de risco e de tecnologia, relações com organismos multilaterais, acordos
internacionais e políticas de comércio exterior.
A conjugação dos fatores relevantes constitui uma abordagem dinâmica do
desempenho competitivo, em que se avaliam as importâncias setoriais presentes e o que se
pode esperar no futuro próximo, e tornam-se indispensáveis para o delineamento de
estratégias competitivas das empresas e do país. Portanto, um avanço da economia para uma
posição mais competitiva no mercado internacional requer uma combinação entre as políticas
industriais ligadas às necessidades de capacitação da indústria, com investimentos em P&D, e
às estratégias microeconômicas de inovação tecnológica e gerencial em linha com os
concorrentes internacionais.
Conforme COUTINHO e FERRAZ (1994), os fundamentos da
competitividade constituem-se em: a) mercados internos dinâmicos – estimulam a busca
contínua de competitividade e permitem economia de escala e escopo que viabilizam de fato a
competitividade; b) elevação do conteúdo tecnológico dos produtos – agilidade para superar
as mudanças de mercado através do desenvolvimento de novos produtos ou processos
produtivos, como também obter margens de rentabilidade mais elevadas; c) presença
sistemática no mercado internacional – maior concorrência, diversidade e exigência de
consumidores internacionais que permitem a expansão, independente da conjuntura interna,
induzem e viabilizam estratégias competitivas por parte das empresas; e d) necessidade de
configurações industriais competitivas – difusão acelerada de novas tecnologias de base
microeletrônica e de novos métodos gerencial força profunda revisão de conceitos de
organização da produção, principalmente em função da valorização da contribuição das
economias de escopo, na criação de vantagens competitivas.
Quando se amplia o enfoque da competitividade da dimensão das
economias nacionais para o âmbito internacional, torna-se necessário considerar as vantagens
7
competitivas específicas a certos países. Essas derivam das distintas localizações que podem
introduzir diferenças quanto à disponibilidade de recursos naturais, aos custos de transporte, à
oferta de economias externas e às potencialidades de interações entre os usuários e os
produtores – e/ou da diversidade de políticas econômicas relativas ao câmbio, à taxação e a
eventuais incentivos e subsídios.
Ao nível internacional, a competitividade torna-se complexa pela interação
das estratégias competitivas das empresas, ao mesmo tempo em que as assimetrias técnicoprodutivas e as variáveis de desempenho da indústria se mostram menos diretas.
Dentre os principais problemas relacionados aos indicadores de
competitividade estão à impossibilidade de explicitar os fatores explicativos da
competitividade (conceito desempenho), a dificuldade de construção de indicadores
apropriados (conceito eficiência) e a ambigüidade dos resultados obtidos a partir de séries
longas de tempo (conceito macro) (JANK, 1996).
A discussão de competitividade fornece subsídios para a construção do
modelo Constant-Market-Share (CMS) que será utilizado para analisar os resultados do
modelo e avaliar a participação de um país no fluxo mundial de comércio para uma
commodity específica, neste caso, a carne. Os modelos de market-share constante possibilitam
a desagregação das tendências de crescimento das exportações de acordo com os efeitos que
as originam, são de natureza estática e permitem dada a grande disponibilidade de dados
nacionais e internacionais e realizar a avaliação de desempenho setorial.
3. EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DO COMPLEXO DE CARNES
A fim de atender aos objetivos de estabelecer qual tem sido o padrão das
exportações paranaenses, foram colhidos dados sobre exportações mundiais de carne dos anos
de 1990 a 2002, apresentando o perfil dos grandes mercados consumidores e exportadores do
complexo carne. Assim, considera-se:
- Valores das exportações – apresentados em dólares americanos na modalidade de contrato
FOB e receberam tratamento de correção monetária pelo índice de commodities com base em
1990;
- Divisão da década de 90 em três subperíodos – 1990 a 1993, 1994 a 1997 e 1998 a 2002;
- Principais blocos econômicos e países considerados – NAFTA (North American Free Trade
Agreement), EFTA (European Free Trade Arrangment), Ásia, MERCOSUL (Mercado
Comum do Sul), UE (União Européia), URSS, Tigres Asiáticos, Oceania, África, América
Central e Oriente Médio.
Os números das exportações mundiais do complexo de carnes são da
FAOSTAT (Food and Agriculture Organization of the United Nations), obtidos pela internet.
Os dados das exportações paranaenses são do IPARDES (Instituto Paranaense de
Desenvolvimento Econômico e Social), pesquisados através da Secretaria de Comércio
Exterior (SECEX) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
(MDIC).
3.1. Evolução das exportações mundiais
As exportações mundiais de carnes frescas e congeladas de bovinos, frangos
e suínos representam 10,3% das exportações totais do complexo agroindustrial mundial
(SEREIA, 2001). Segundo PINSTRUP-ANDERSEN (1999), desde os anos 80, o Sistema
Agroindustrial de Carnes tem apresentado um elevado dinamismo em termos de produção,
consumo e comércio internacional. Isso é especialmente válido para os complexos
8
agroindustriais avícolas e suinícola. Quanto à carne bovina, o principal mercado é a UE, com
49,1% do valor mundial exportado.
A Tabela 1 permite verificar que o comércio mundial de carne bovina, aves
e suína está concentrado nos mercados europeu e NAFTA, com participação de 46,4% e
29,4% respectivamente. Além dos mercados da Ásia (8,4%), América Central (5,8%) e África
(3,3%). O MERCOSUL exporta o equivalente a 0,5% das exportações mundiais de carnes. O
Brasil detém a fatia de apenas 0,1% das exportações mundiais. A maioria dos países apresenta
sinais de desaquecimento nas exportações no primeiro (1990-1993) e no terceiro (1998-2002)
subperíodos analisados.
As taxas geométricas de crescimento indicam o ritmo de crescimento dos
principais mercados mundiais de carnes declinou. No final da década de 90, a pressão da
oferta dos países em desenvolvimento e a crise financeira forçaram a redução de preços
devido à retração do comércio mundial. A União Européia apresentou taxa de crescimento
negativa no final da década (-12,5% ao ano), devido à retração do seu mercado interno frente
às crises financeiras mundiais. O NAFTA apresentou taxa de crescimento negativa nesse
período (-5,0% ao ano), dada à redução das exportações dos seus principais mercados. As
exportações do MERCOSUL apresentaram um crescimento elevado no período 1990/1997
(56,6%), mas no período 1998/2002 elas foram drasticamente reduzidas (-26,9%).
TABELA 1 - Participação percentual e taxa geométrica média anual de crescimento das
exportações mundiais de carnes (bovina, suína e frango) – 1990 a 2002.
Participação
(%)
Regiões/Blocos
Ásia
Tigres Asiáticos
África
Oceania
União Européia
EFTA
NAFTA
América Central
MERCOSUL
Brasil
Mundo
1990-1993
(A)
1994-1997
(B)
1998-2002
(C)
9,4
0,1
3,7
0,9
55,3
1,4
22,3
5,7
0,3
0,1
100,0
9,3
0,1
3,7
3,1
53,4
1,4
22,9
4,4
1,5
0,1
100,0
8,4
0,1
3,3
4,3
45,3
1,1
29,4
5,8
0,5
0,1
100,0
Taxa
geométrica
(%)
C/A
B/A
-3,1
-0,2
-2,9
17,1
-4,1
-5,0
1,1
-1,8
2,6
-6,8
-1,9
8,3
25,6
9,0
49,8
7,6
7,5
9,4
1,5
56,6
-5,8
8,6
C/B
-11,4
-16,9
-11,5
-3,9
-12,5
-14,0
-5,0
-4,4
-26,9
-7,6
-9,6
Fonte: FAOSTAT, 2004.
Nota: elaboração dos autores.
A Tabela 2 permite verificar que o comércio mundial de carne bovina está
concentrado nos mercados europeu e NAFTA, com participação de 44,5% e 34,3%
respectivamente. Além dos mercados da América Central (8,5%), Oceania (6,4%) e África
(4,8%). O MERCOSUL exporta o equivalente a 0,6% das exportações mundiais de carne
bovina. O Brasil detém a fatia de 0,02% das exportações mundiais.
As taxas geométricas de crescimento indicam redução do ritmo de
crescimento dos principais mercados mundiais de carne bovina, que apresentaram taxas
negativas no final da década de 90: União Européia reduziu seu ritmo de crescimento de 7,6%
ao ano em meados dos anos 90 para –15,9% ao ano no final da década. O NAFTA também
apresentou queda na taxa de crescimento chegando a –7,1% ao ano no final dos anos 90. O
mesmo ocorreu com a América Central, que teve redução na taxa de crescimento de 1,3% ao
9
ano para –5,5% ao ano no final da década. O MERCOSUL reduziu o ritmo de crescimento
das exportações de 68,4% ao ano para –35,0% ao ano, enquanto o Brasil reduziu suas
exportações de –6,2% ao ano para –13,2% ao ano no final do período. Estes resultados estão
reforçando o comportamento do consumo de carne bovina no período 1990/1999. Segundo
PAULA e FAVERET FILHO (2001), o mercado mundial de carne bovina cresceu 4,2% a.a.
entre 1990/99, mas entre 1990/1995, as taxas foram superiores, 7,4% a.a. e no período
1995/99 o ritmo de crescimento atingiu 0,4% a.a. podendo-se afirma que de fato houve
mudança no padrão alimentar e cultural, em função da doença da vaca louca, fator que afetou
o crescimento das exportações mundiais.
TABELA 2 – Participação percentual e taxa geométrica média anual de crescimento das
exportações mundiais de carne bovina – 1990 a 2002.
Taxa
Participação
geométrica
(%)
Regiões/Blocos
(%)
1990-1993
1994-1997 1998-2002
C/A
B/A
C/B
(A)
(B)
©
Ásia
2,1
1,7
1,5
-6,1
2,9
-15,6
Tigres Asiáticos
0,0
0,1
0,0
-1,2
59,0
-38,8
África
5,1
5,2
4,8
-2,9
8,5
-13,7
Oceania
1,2
4,6
6,4
17,4
50,6
-4,7
União Européia
52,4
51,2
43,0
-4,3
7,6
-15,9
EFTA
2,0
1,9
1,5
-5,4
5,6
-16,3
NAFTA
27,9
27,5
34,3
0,0
7,8
-7,1
América Central
8,3
6,4
8,5
-1,9
1,3
-5,5
MERCOSUL
0,4
2,1
0,6
4,1
68,4
-35,0
Brasil
0,03
0,02
0,02
-8,7
-6,2
-13,2
Mundo
100,0
100,0
100,0
-2,2
8,2
-12,1
Fonte: FAOSTAT, 2004.
Nota: elaboração dos autores.
De acordo com a Tabela 3, o comércio mundial de carne de frango está
concentrado nos mercados europeu e asiático, com participação de 54,3% e 21,9%
respectivamente. Além dos mercados do bloco econômico NAFTA (13,3%), África (1,0%) e
MERCOSUL (0,7%). O Brasil exporta o equivalente a 0,6% das exportações mundiais de
frango, sendo o exportador mais expressivo do MERCOSUL.
As taxas geométricas de crescimento indicam redução do ritmo de
crescimento dos principais mercados mundiais de frango, que apresentaram taxas negativas
no final da década de 90: União Européia reduziu seu ritmo de crescimento de 14,0% ao ano
em meados dos anos 90 para –9,1% ao ano no final da década. A Ásia também apresentou
queda na taxa de crescimento, chegando a –8,9% ao ano no final dos anos 90. O NAFTA
apresentou redução na taxa de crescimento de 6,9% ao ano para –10,5% ao ano no final da
década. O MERCOSUL apresentou taxas de crescimento negativas ao longo de todo o
período analisado, obtendo a maior queda no final dos anos 90 (-3,9% ao ano). O Brasil
reduziu suas exportações de –4,9% ao ano para –9,0% ao ano no final do período.
10
TABELA 3 - Participação percentual e taxa geométrica média anual de crescimento das
exportações mundiais de frango - 1990 a 2002.
Taxa
Participação
geométrica
(%)
Regiões/Blocos
(%)
1990-1993
1994-1997 1998-2002
C/A
B/A
C/B
(A)
(B)
(C)
Ásia
22,8
22,2
21,9
0,8
11,8
-8,9
Tigres Asiáticos
0,7
0,6
0,6
-0,9
7,8
-9,1
África
1,6
2,0
1,0
-3,8
19,3
-23,1
Oceania
0,2
0,1
0,1
-2,2
5,9
-10,2
União Européia
52,7
55,5
54,3
1,6
14,0
-9,1
EFTA
0,1
0,3
0,5
19,1
42,7
3,9
NAFTA
17,7
14,4
13,3
-1,9
6,9
-10,5
América Central
0,4
0,6
0,7
7,4
22,6
-4,1
MERCOSUL
1,0
0,6
0,7
-2,3
-1,2
-3,9
Brasil
1,0
0,5
0,5
-6,3
-4,9
-9,0
Mundo
100,0
100,0
100,0
1,2
12,5
-8,6
Fonte: FAOSTAT, 2004.
Nota: elaboração dos autores.
Segundo a Tabela 4, o comércio mundial de carne suína está concentrado
nos mercados europeu, americano e asiático, com participação de 47,7%, 23,6 e 22,4%
respectivamente. O MERCOSUL exporta o equivalente a 0,01% das exportações mundiais de
carne suína. O Brasil detém a fatia de 0,007% das exportações mundiais, sendo o exportador
mais expressivo do MERCOSUL.
TABELA 4 - Participação percentual e taxa geométrica média anual de crescimento das
exportações mundiais de carne suína - 1990 a 2002.
Taxa
Participação
geométrica
Regiões/Blocos
(%)
(%)
1990-1993
1994-1997 1998-2002
C/A
B/A
C/B
(A)
(B)
(C)
Ásia
26,1
26,3
22,4
-4,3
8,3
-16,2
Tigres Asiáticos
0,0
0,0
0,0
13,0
32,5
-0,6
África
0,0
0,0
0,0
8,9
25,2
-3,2
Oceania
0,1
0,1
0,0
-4,7
13,0
-20,6
União Européia
65,4
58,9
47,1
-6,1
5,4
-17,6
EFTA
0,1
0,5
0,6
15,3
50,5
-8,5
NAFTA
7,0
13,2
23,6
11,5
26,7
0,8
América Central
0,0
0,0
0,0
32,1
88,7
-0,9
MERCOSUL
0,0
0,0
0,0
-3,4
-38,8
51,1
Brasil
0,01
0,00
0,01
-10,7
-47.0
46,2
Mundo
100,0
100,0
100,0
-2,6
8,1
-12,9
Fonte: FAOSTAT, 2004.
Nota: elaboração dos autores.
As taxas geométricas de crescimento indicam redução do ritmo de
crescimento dos principais mercados mundiais de carne suína ao longo da década de 90:
11
União Européia reduziu seu ritmo de crescimento de 5,4% ao ano em meados dos anos 90
para –17,6% ao ano no final da década. A Ásia também apresentou queda na taxa de
crescimento chegando a –16,2% ao ano no final dos anos 90. O mesmo ocorreu com o
NAFTA, que teve redução na taxa de crescimento de 26,7% ao ano para 0,8% ao ano no final
da década. O MERCOSUL aumentou o ritmo de crescimento das exportações de –38,8% ao
ano para 51,1% ao ano no final do período. O mesmo ocorreu com o Brasil, que apresentou
crescimento de –47,0% ao ano para 46,2% ao ano.
3.2. Evolução das exportações brasileiras
As exportações do complexo de carnes brasileiro apresentam
comportamento cíclico na década de 90. Porém, o grupo das carnes representou, em 1999,
quase 10% do valor das exportações do agronegócio brasileiro. As carnes de frango
predominam, representando pouco mais de 48% do valor, seguidas pelas carnes bovinas,
quase 43% do valor em 1999 (VICENTE, 2000). Entre os principais importadores dos
produtos brasileiros, as carnes ocuparam lugar de destaque nas pautas do Oriente Médio,
Japão, Holanda, Reino Unido, Espanha, Itália e Federação Russa, representando, em 1999,
mais de 52% do valor para esse grupo de produtos (BALANÇA COMERCIAL
BRASILEIRA, 1999). A quantidade exportada de carnes em 1999 cresceu mais de 5%,
enquanto os preços diminuíram quase 20% em relação a 1997.
O mal da vaca louca e a febre aftosa que afetaram a criação de bovinos na
Europa favoreceram as exportações de carne bovina do Brasil frente a seus principais rivais
no mercado internacional, dado o controle da febre aftosa e o regime de criação extensivo que
minimiza os riscos na alimentação no final da década de 90, mas também colaboraram para o
aumento das exportações de frango a partir do ano 2000. A Europa o principal mercado
importador e a crise sanitária européia promoveram mudança no padrão de consumo da carne
vermelha para branca (PAULA e FAVERET, 2001).
O Brasil tem hoje a agropecuária mais competitiva do mundo, devido ao
forte desenvolvimento tecnológico que vem elevando a produtividade ao longo dos últimos 20
anos, também devido à irrestrita área destinada a expandir a produção e à diversificação e
maior eficiência nos corredores da exportação (JANK, 1996; PAULA e FAVERET, 2001),
3.3. Evolução das exportações paranaenses
O comportamento das exportações paranaenses é constantemente
influenciado por mudanças de políticas internas e alterações de âmbito mundial. Os efeitos
dos choques externos são transferidos para as nações exportadoras e se manifestam no valor
das exportações. As exportações do complexo agroindustrial paranaense tiveram
comportamento semelhante às exportações brasileiras, também apresentando comportamento
cíclico no período compreendido entre 1990 a 2002. Na primeira fase do ciclo verificou-se a
retração do crescimento entre 1990 a 1993, em parte justificada pela queda dos índices de
preços das commodities e da demanda mundial menor. A partir de 1994 iniciou-se uma fase
de crescimento vigoroso que se estendeu até 1997. Estoques mundiais menores e taxas
maiores de crescimento da economia mundial influenciaram o índice de preços e o quantum
exportado. A partir de 1998, com a nova crise mundial e taxas de crescimento inferiores,
iniciou-se um novo período de desaceleração das exportações paranaenses (SEREIA e
CAMARA, 2002).
Segundo VICENTE (2000), o complexo de carnes manteve participação em
torno de 7% do valor exportado pelos complexos agroindustriais paranaenses. Embora tenha
sentido a retração dos mercados mundiais no final da década de 90, apresentou taxas de
crescimento positivas, e não se abateu com o desestímulo momentâneo de mercado.
12
A análise das fontes de crescimento das exportações mostra a importância
do crescimento do comércio mundial e da competitividade no desempenho das exportações
paranaenses. Conforme a Tabela 5, o complexo de carnes paranaense, na transição do
primeiro subperíodo analisado (1990-1993) para o segundo subperíodo (1994-1997),
apresenta reestruturação das suas exportações devido ao processo de estabilização da
economia brasileira com a introdução do Plano Real. No terceiro subperíodo (1998-2002) a
participação das exportações paranaenses sofre ligeira queda influenciada pelas crises
financeiras mundiais e pela flexibilização cambial brasileira. O importador mais expressivo
do produto paranaense é o Oriente Médio, com participação média de 43,0%.
O subperíodo 1990/93 caracterizou-se por uma fase de crescimento com
taxas geométricas negativas que, embora estatisticamente não significativas, confirmam que
houve redução do valor exportado nesse período. A partir do subperíodo de 1994/97, o valor
das exportações alcançou elevado crescimento, taxas geométricas médias de crescimento
positivas. No subperíodo 1998/02, iniciou-se um ciclo de redução progressiva dos valores das
exportações, com taxas geométricas médias negativas.
TABELA 5 - Participação percentual e taxa geométrica média anual de crescimento das
exportações paranaenses de carnes (bovina, suína, frango e miúdos de
frango) – 1990 a 2002.
Taxa
Participação
geométrica
Regiões/Blocos
(%)
(%)
1990-1993
1994-1997 1998-2002
C/A
B/A
C/B
(A)
(B)
(C)
Ásia
0,0
0,0
0,5
0,0
0,0
170,3
Tigres Asiáticos
15,9
28,1
13,8
8,0
26,6
-4,9
URSS
0,0
1,2
8,5
0,0
0,0
62,0
África
0,0
0,0
0,0
-100,0
-9,7
-100,0
União Européia
14,8
16,2
27,5
17,5
12,5
21,8
EFTA
3,2
1,7
0,8
-5,5
-6,6
-4,7
NAFTA
0,1
2,0
1,0
46,8
151,9
-4,6
MERCOSUL
16,3
11,5
4,8
-4,3
0,6
-8,1
Oriente Médio
49,7
39,3
43,0
7,9
3,6
11,5
Paraná
100,0
100,0
100,0
9,7
9,9
9,6
Fonte: MDIC/SECEX, IPARDES, 2004.
Nota: elaboração dos autores.
De acordo com a Tabela 6, as exportações paranaenses de carne bovina têm
como principal destino o mercado europeu, que importa 82,6% do valor total. Em seguida está
o bloco econômico EFTA e Oriente Médio com participação de 5,2% respectivamente, e
Rússia (4,0%) e os Tigres Asiáticos com 3,1%.
As taxas geométricas de crescimento permitem acompanhar a evolução das
exportações paranaenses de carne bovina durante a década de 90: as exportações destinadas à
União Européia e aos Tigres Asiáticos apresentaram, no final da década de 90, crescimento de
21,1% e 17,6% ao ano, respectivamente.
13
TABELA 6 - Participação percentual e taxa geométrica média anual de crescimento das
exportações paranaenses de carne bovina - 1990 a 2002.
Taxa
Participação
geométrica
(%)
Regiões/Blocos
(%)
1990-1993
1994-1997 1998-2002
C/A
B/A
C/B
(A)
(B)
(C)
Tigres Asiáticos
5,1
4,1
3,1
10,3
6,0
17,6
URSS
0,0
0,0
4,0
0,0
0,0
0,0
União Européia
88,8
95,8
82,6
15,6
14,5
21,1
EFTA
5,9
0,0
5,2
14,9
-100,0
0,0
NAFTA
0,0
0,0
0,0
-3,7
-100,0
0,0
MERCOSUL
0,1
0,1
0,0
-23,4
4,7
-47,6
Oriente Médio
0,0
0,0
5,2
0,0
0,0
0,0
Paraná
100,0
100,0
100,0
16,6
12,3
25,7
Fonte: MDIC/SECEX, IPARDES, 2004.
Nota: elaboração dos autores.
Segundo a Tabela 7, as exportações paranaenses de frango são destinadas
principalmente para os seguintes mercados: Oriente Médio (79,6%), MERCOSUL (6,9%) e
Tigres Asiáticos (4,2%).
As taxas geométricas de crescimento indicam redução das exportações
paranaenses de frango para os principais mercados: apenas houve crescimento de 9,1% das
exportações paranaenses destinadas ao Oriente Médio no final da década de 90. Porém, foram
negativas as taxas de crescimento das exportações destinadas aos demais blocos econômicos.
TABELA 7 - Participação percentual e taxa geométrica média anual de crescimento das
exportações paranaenses de carne de frango - 1990 a 2002.
Taxa
Participação
geométrica
Regiões/Blocos
(%)
(%)
1990-1993 1994-1997 1998-2002
C/A
B/A
C/B
(A)
(B)
(C)
Ásia
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
-7,6
Tigres Asiáticos
17,5
28,6
4,2
-13,4
24,2
-41,7
URSS
0,0
1,4
6,1
0,0
0,0
37,1
África
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
-100,0
União Européia
8,2
8,6
1,7
-14,5
11,1
-36,8
EFTA
3,2
1,7
0,0
-51,8
-5,5
-79,5
NAFTA
0,0
2,3
1,5
0,0
0,0
-15,8
MERCOSUL
14,9
13,0
6,9
-6,7
6,2
-19,4
Oriente Médio
56,3
44,4
79,6
5,6
3,5
9,1
Paraná
100,0
100,0
100,0
1,6
9,8
-5,7
Fonte: MDIC/SECEX, IPARDES, 2004.
Nota: elaboração dos autores.
As exportações paranaenses de miúdos de frango apresentaram números
significantes que permitiram um destaque para este tipo de carne. Na Tabela 8 observa-se que
o principal mercado para este produto é o europeu, que apesar de ser o maior exportador de
14
carne bovina, de frango e de carne suína, importa 43,7% do valor total. Outros importantes
mercados são: Tigres Asiáticos (30,2%) e Oriente Médio (19,3%).
TABELA 8 - Participação percentual e taxa geométrica média anual de crescimento das
exportações paranaenses de miúdos de frango - 1990 a 2002.
Taxa
Participação
geométrica
Regiões/Blocos
(%)
(%)
1990-1993
1994-1997 1998-2002
C/A
B/A
C/B
(A)
(B)
(C)
Ásia
0,0
0,0
1,2
0,0
0,0
0,0
Tigres Asiáticos
37,9
39,1
30,2
76,2
26,9
182,0
URSS
0,0
0,0
1,9
0,0
0,0
0,0
União Européia
24,7
19,1
43,2
92,4
18,1
269,0
EFTA
0,0
0,0
0,5
0,0
0,0
0,0
NAFTA
0,0
0,0
0,9
0,0
0,0
0,0
MERCOSUL
0,0
4,4
2,8
0,0
0,0
168,5
Oriente Médio
37,4
37,4
19,3
68,0
26,0
154,9
Paraná
100,0
100,0
100,0
80,8
26,0
200,9
Fonte: MDIC/SECEX, IPARDES, 2004.
Nota: elaboração dos autores.
As taxas geométricas de crescimento indicam aumento expressivo das
exportações paranaenses de miúdos de frango, mesmo sendo destinadas a apenas alguns
países. As exportações destinadas à União Européia apresentaram, no final da década de 90,
crescimento de 269,0% ao ano. Foram positivas também as taxas de crescimento das
exportações destinadas aos Tigres Asiáticos (182,0% ao ano), Mercosul (168,5%) e Oriente
Médio (154,9% ao ano).
TABELA 9 - Participação percentual e taxa geométrica média anual de crescimento das
exportações paranaenses de carne suína - 1990 a 2002.
Taxa
Participação
geométrica
Regiões/Blocos
(%)
(%)
1990-1993
1994-1997 1998-2002
C/A
B/A
C/B
(A)
(B)
(C)
Ásia
0,0
0,0
1,4
0,0
0,0
0,0
Tigres Asiáticos
0,7
58,1
3,1
35,0
223,4
-39,3
URSS
0,0
0,0
70,8
0,0
0,0
0,0
África
0,2
0,0
0,0
-100,0
-100,0
0,0
União Européia
31,9
38,5
13,9
3,4
10,2
-2,2
EFTA
0,0
3,2
0,5
0,0
0,0
-19,8
NAFTA
1,4
0,0
0,1
-20,3
-100,0
0,0
MERCOSUL
65,7
0,2
9,9
-8,1
-75,0
230,8
Oriente Médio
0,0
0,0
0,3
0,0
0,0
0,0
Paraná
100,0
100,0
100,0
13,4
5,2
26,2
Fonte: MDIC/SECEX, IPARDES, 2004.
Nota: elaboração dos autores.
15
Segundo a Tabela 9, as exportações paranaenses de carne suína são
destinadas principalmente para os seguintes mercados: URSS (70,8%), União Européia
(13,8%) e MERCOSUL (9,9%).
As taxas geométricas de crescimento indicam pequena redução das
exportações paranaenses de carne suína para esses principais mercados: as exportações
destinadas à URSS apresentaram, no final da década de 90, taxa de crescimento zero. A União
Européia apresentou taxa de crescimento negativa no período de -2,2% ao ano. Entretanto, o
MERCOSUL apresentou taxa de crescimento positiva e elevada de 230,8% ao ano.
A Tabela 10 permite concluir que a evolução das exportações do complexo
carne paranaense foi positiva ao longo da década de 90. A carne de frango constitui o
principal produto para este complexo, representando 82,0% das exportações. Em seguida a
carne bovina, com 11,4%, e a carne suína, com 6,6%.
TABELA 10 - Valor médio das exportações paranaenses de carnes (bovina, suína e
frango) em US$mil - FOB de 1990.
Blocos/Países
Subperíodos
1990-1993
1994-1997
1998-2002
Carne bovina
6.293
10.015
24.996
Carne frango
83.960
122.538
178.909
Carne Suína
4.606
5.642
14.295
Complexo carne
94.858
138.195
218.201
Fonte: MDIC/SECEX, IPARDES, 2004.
Nota: elaboração dos autores.
Além das carnes bovinas, carnes de frango e carnes suínas, merecem
destaque as carnes de cavalos, perus e ovinos/caprinos. São produtos potenciais na pauta das
exportações paranaenses, pois apresentam crescimento progressivo no valor de suas
exportações a partir de 1994. Segundo MDIC/SECEX (2004), ao longo da década de 90, a
carne de cavalo obteve um valor médio exportado de US$ 6.718.684,77 (US$ FOB de 1990).
As exportações paranaenses de perus e outros apresentaram uma média de US$ 3.486.159,46
e ovinos/caprinos, US$ 43.970,54.
Segundo SANTINI (2004), em termos mundiais, no período 1998/2002 o
sistema agroindustrial avícola mostrou-se mais dinâmico que o sistema agroindustrial de
carne bovina porque o ritmo de incorporação de inovações tecnológicas genéticas, de nutrição
e de sanidade é mais intenso no primeiro. Utilizando informações da USDA, a autora afirma
que a mudança no padrão de consumo mundial (carne vermelha para carne branca) também
tem estimulado a incorporação de inovações tecnológicas no setor de aves, pois enquanto o
consumo de aves elevou-se 4,5% a .a ., o consumo de carne bovina mundial cresceu 0,8% a .
a. A competitividade brasileira no setor de aves e sua liderança mundial em custos advêm da
disponibilidade de grãos, condições climáticas e da competência de gerir adequadamente a
cadeia produtiva.
4. COMPETITIVIDADE DAS EXPORTAÇÕES DO COMPLEXO DE
CARNES PARANAENSE
O método para avaliar a competitividade é o modelo Constant-MarketShare (CMS), que permite identificar as causas do crescimento das exportações de carne. Esta
análise enfatiza o desempenho do mercado exportador em relação ao seu mercado importador.
16
O modelo CMS atribui o crescimento das exportações, favorável ou desfavorável ao setor
exportador, tanto na estrutura das exportações do país quanto em sua competitividade, o
suposto é que mantida a parcela de exportação do país, a variação constitui a competitividade.
Para a análise de market-share, a década de 90 será subdividida em três,
trabalhando-se com valores médios, quais sejam: o primeiro subperíodo vai de 1990 a 1993, o
segundo de 1994 a 1997 e o terceiro de 1998 a 2002.
4.2. Procedimento Metodológico
As exportações paranaenses são direcionadas a várias regiões do mundo, de
maneira que se insere no conceito de comércio global, embora tenha presença mais forte em
alguns mercados. Seguindo essa tendência de concentração em algumas áreas ou regiões,
passou-se a considerar para o trabalho, mercados continentais, blocos econômicos e/ou países
importadores deste produto paranaense, a carne.
O modelo CMS necessita que os períodos de análise sejam identificados
para a comparação entre pontos discretos no tempo. Como as exportações de um país ao
longo do tempo sofrem influências de alterações econômicas internas, a subdivisão em
períodos de análises permite identificar com maior precisão as mudanças econômicas que
causam reflexos de formas diferenciadas nas exportações.
Os períodos em análise foram definidos levando-se em consideração os
momentos importantes da economia brasileira e que refletem nas exportações paranaenses, de
forma que, cada período represente a média de quatro a cinco anos das exportações,
compreendidos, desde o início dos anos 90 e esgotamento do período de substituição de
importações, passando pelo período de abertura da economia brasileira, na primeira metade
dos anos 90, até a crise financeira e cambial no final da década de 90.
Assim, os períodos selecionados foram:
- 1990 a 1993 – primeiro período, representando o período de abertura comercial da economia
brasileira, esgotamento do período de substituição de importações, mudança na estrutura da
pauta de exportações paranaenses e, no âmbito mundial, houve queda dos índices de preços
das commodities e menor demanda. Houve retração do crescimento das exportações no
Paraná;
- 1994 a 1997 – segundo período, representando o período de reestruturação das exportações
paranaenses durante o início do Plano Real, ou seja, durante o início do processo de
estabilização da economia brasileira. O menor estoque mundial e maior taxas de crescimento
da economia mundial influenciaram o índice de preços e o quantum exportado;
- 1998 a 2002 – terceiro período, representando o comportamento das exportações durante as
crises financeiras mundiais e a flexibilização cambial brasileira. Ou seja, houve desaceleração
das exportações paranaenses e menores taxas de crescimento.
4.3. Análise de Resultados
O modelo CMS aplicado às exportações paranaenses permitiu analisar os
efeitos relacionados ao crescimento do comércio mundial, composição da pauta de
exportações, destino das exportações e sua competitividade nos três subperíodos
considerados.
A Tabela 11 mostra os resultados da decomposição das exportações do
complexo agroindustrial de carnes paranaense, bem como seu crescimento diferenciado ao
longo do período estudado, sendo mais expressivo no segundo subperíodo. Tal
17
comportamento indica o impacto das crises financeiras mundiais sobre as exportações
paranaenses, tendo em vista a taxa de crescimento negativo das exportações mundiais no final
da década de 90.
O primeiro subperíodo mostra os reflexos das políticas de estabilização do
governo Collor, que impôs uma forçada abertura à economia brasileira e suplantou de vez o
processo de substituição de importações. A economia agroindustrial paranaense responde a
concorrência mundial e se adapta as novas regras de mercado aumentando a oferta de carnes
aos preços internacionais. A estratégia do complexo carne paranaense se estrutura pela
diversificação da pauta de exportações, em atendimento aos tradicionais mercados de destino.
Desta forma a competitividade paranaense se mostra baixa, compreendida pela
impossibilidade técnica de reconversão das atividades de produção no curto prazo e
atualização tecnológica aos padrões internacionais.
A partir de 1994, menor estoque mundial e maior taxas de crescimento da
economia mundial influenciaram o índice de preços e o aumento das exportações mundiais.
Houve também reestruturação das exportações paranaenses marcadas pelo início do processo
de estabilização da economia brasileira com a introdução do Plano Real.
TABELA 11 – Taxas e fontes de crescimento das exportações paranaenses do complexo
agroindustrial de carnes, em % - 1990 a 2002.
Períodos
Indicadores
1990 a 93
1994 a 97
1990 a 93
1994 a 97
1998 a 02
1998 a 02
a) Taxas de crescimento
Exportações mundiais
39,0
(39,7)
(19,3)
Exportações paranaenses
45,7
57,9
56,5
Market-Share
1,6
2,7
2,3
b) Fontes de crescimento
Crescimento do comércio mundial
Composição da pauta de exportações
Destino das exportações
Competitividade
85,5
36,8
(24,6)
2,4
(68,6)
17,1
2,3
149,1
(28,6)
41,9
(8,9)
95,6
Fonte: elaboração dos autores a partir de IPARDES, 2004.
A queda do índice de preço das commodities e a redução da demanda
mundial no final do primeiro subperíodo levaram a uma redução das exportações mundiais no
período 97/2002. O mal da vaca louca (espungiforme bovina) deixou os mercados europeus
apreensivos e em alerta, quanto ao consumo da carne bovina produzida principalmente na
Inglaterra e sob suspeita de contaminação dos insumos de origem animal em toda a Europa.
(PITELLI, 2004) Enquanto, o Brasil e o Paraná aproveitaram-se desta oportunidade de
mercado para ampliar sua participação, oferecendo carne bovina de certificação orgânica (boi
verde) e carne de aves aos mercados mais exigentes quanto à procedência, insumos de origem
orgânica e a qualidade do produto.
No final da década de 90, crises que abalaram a economia global
desestruturaram as exportações mundiais. Com a flexibilização cambial brasileira
inicialmente houve desaceleração das exportações paranaenses e menores taxas de
crescimento. Após o impacto cambial as exportações paranaenses do complexo carne voltam
a crescer ampliando sua participação e o market-share mesmo a contramão da economia
mundial. A posição técnica agroindustrial paranaense se mostra capaz e responde aos
mercados internacionais, evidenciando sua capacidade de oferta pela diversificação de
produtos e competência pela disputa de junto aos mercados mundiais mais competitivos.
18
A análise dos indicadores da Tabela 11 permite constatar que a participação
das exportações paranaenses (Market-Share) do complexo de carnes no comércio mundial é
crescente ao longo da década, chegando a 2,7% das exportações mundiais, e a decomposição
das fontes de crescimento das exportações paranaenses indicou a competitividade como
principal responsável pelo crescimento. A composição da pauta também teve efeito
significativo sobre as exportações, porém, o crescimento do comércio mundial e o destino das
exportações apresentaram-se negativos, o que reflete que as exportações paranaenses de
carnes não acompanharam o ritmo de crescimento das exportações mundiais e que há
necessidade de exportar para mercados mais dinâmicos. A busca pela diversificação e a
desconcentração de mercados de destino das exportações deverá ser o foco das atenções para
o complexo carne paranaense.
Conforme a Tabela 12, durante os anos 90 as exportações mundiais de carne
bovina apresentam queda, com ligeira recuperação no final da década. As exportações
paranaenses do produto mostram-se sempre positivas, porém, sua participação (Market-Share)
no comércio mundial ainda é baixa, não conseguindo ultrapassar o equivalente a 0,5% das
exportações mundiais. A tabela mostra também que a competitividade da carne bovina foi a
principal fonte de crescimento das exportações paranaenses desse produto, que não cresce à
mesma taxa do comércio mundial. O destino das exportações indica a necessidade de
exportações para mercados mais dinâmicos.
TABELA 12 – Taxas e fontes de crescimento das exportações paranaenses de carne
bovina, em % - 1990 a 2002.
Períodos
Indicadores
1990 a 93
1994 a 97
1990 a 93
1994 a 97
1998 a 02
1998 a 02
a) Taxas de crescimento
Exportações mundiais
36,9
(40,4)
(22,5)
Exportações paranaenses
59,1
149,6
74,8
Market-Share
0,2
0,4
0,3
b) Fontes de crescimento
Crescimento do comércio mundial
Composição da pauta de exportações
Destino das exportações
Competitividade
62,3
0,0
(21,5)
59,2
(27,0)
0,0
2,1
124,9
(24,5)
0,0
(5,0)
129,6
Fonte: elaboração dos autores a partir de IPARDES, 2004.
De acordo com a Tabela 13, durante os anos 90 as exportações mundiais de
frango apresentam queda, mas conseguem se recuperar no final da década. As exportações
paranaenses do produto mostram-se sempre positivas, e sua participação (Market-Share) no
comércio mundial significativa, chegando a quase 20% das exportações mundiais.
19
TABELA 13 – Taxas e fontes de crescimento das exportações paranaenses de carne de
frango, em % - 1990 a 2002.
Períodos
Indicadores
1990 a 93
1994 a 97
1990 a 93
1994 a 97
1998 a 02
1998 a 02
a) Taxas de crescimento
Exportações mundiais
60,3
(30,3)
10,5
Exportações paranaenses
45,9
46,0
53,1
Market-Share
14,0
19,6
18,3
b) Fontes de crescimento
Crescimento do comércio mundial
Composição da pauta de exportações
Destino das exportações
Competitividade
131,3
0,0
-21,9
-9,4
-65,9
0,0
-14,9
180,7
22,1
0,0
-32,6
110,4
Fonte: elaboração dos autores a partir de IPARDES, 2004.
A tabela mostra que a competitividade foi a principal fonte de crescimento
das exportações paranaenses de frango, principalmente depois de meados da década. As
exportações paranaenses seguem o ritmo de crescimento do comércio mundial. O destino das
exportações indica a necessidade de exportações para mercados mais dinâmicos.
TABELA 14 - Taxas e fontes de crescimento das exportações paranaenses de carne
suína, em % - 1990 a 2002.
Períodos
Indicadores
1990 a 93
1994 a 97
1990 a 93
1994 a 97
1998 a 01
1998 a 01
a) Taxas de crescimento
Exportações mundiais
36,8
(42,4)
(26,9)
Exportações paranaenses
22,5
153,3
67,8
Market-Share
0,32
0,69
0,58
b) Fontes de crescimento
Crescimento do comércio mundial
Composição da pauta de exportações
Destino das exportações
Competitividade
163,5
0,0
-19,9
-43,6
-27,7
0,0
-0,2
127,8
-31,3
0,0
-4,4
135,6
Fonte: elaboração dos autores a partir de IPARDES, 2004.
Durante os anos 90 as exportações mundiais de carne suína apresentam
queda, com ligeira recuperação no final da década. Segundo a Tabela 14, as exportações
paranaenses do produto mostram-se sempre positivas e crescentes, porém sua participação
(Market-Share) no comércio mundial ainda é pouco expressiva, não chegando a 1% das
exportações mundiais. A tabela mostra também que a competitividade da carne suína foi a
principal fonte de crescimento das exportações paranaenses desse produto, principalmente
após 1994. As exportações paranaenses não acompanham o crescimento do comércio
mundial. O destino das exportações indica a necessidade de exportações para mercados mais
dinâmicos.
20
5. CONCLUSÃO
A economia paranaense se caracteriza como uma economia primárioexportadora, com forte setor produtivo agropecuário gerador de excedente exportável. E
apesar da intervenção do governo, criando barreira às importações e infraestrutura básicas
para estimular a industrialização (processo de substituição de importações) desde os anos 70,
o setor agropecuário continua desempenhando o importante papel de provedor de divisas para
a economia paranaense.
Analisando especificamente o complexo de carnes paranaense, observa-se
que suas exportações podem ser caracterizadas por três distintos subperíodos em que se
alternam reduções e aumentos de crescimento do valor das exportações, como pode ser
observado nos subperíodos de 1990/93 (redução), 1994/97 (aumento) e 1998/02 (redução).
No primeiro subperíodo analisado (1990/93 a 1994/97), o crescimento do
comércio mundial e a composição da pauta de exportações foram os principais responsáveis
pelo crescimento das exportações paranaenses. Nesse período, o comércio mundial estava em
expansão e mostrou-se receptivo, enquanto internamente a situação era de incerteza por estar
em processo de ajustes macroeconômicos (Plano Real). Mesmo assim, as condições
permitiram a concentração das exportações nesses produtos de crescimento mais acelerado,
carne bovina, frango e carne suína.
O segundo subperíodo de 1994/97 a 1998/02 foi marcado pelas adversidades
internacionais. O início da retomada do crescimento mundial a partir de 1995, seguida de
sucessivas crises financeiras de grandes proporções e que abalaram a credibilidade
internacional, frearam o processo de crescimento e direcionaram o fluxo de capitais mundiais.
Com isso, o comércio mundial se retraiu e o processo evolutivo das exportações paranaenses
passou a ser sustentado pela competitividade do complexo agroindustrial de carnes e pela
composição da pauta de exportações.
As taxas de crescimento, de acordo com o market-share, indicaram as
exportações paranaenses de carne bovina sempre positiva ao longo da década de 90. Porém,
sua participação no comércio mundial ainda é baixa, não conseguindo ultrapassar 0,5% das
exportações mundiais, o que pode ser comprovado pela análise das fontes de crescimento, ou
seja, o crescimento do comércio mundial se apresentou negativo neste período, indicando que
as exportações desse produto não acompanharam o ritmo de crescimento das exportações
mundiais; o destino das exportações também teve resultado negativo, mostrando a
necessidade de exportar para mercados mais dinâmicos; e por fim, foi comprovada a
competitividade como principal fonte de crescimento das exportações paranaenses de carne
bovina.
Para a carne de frango, as taxas de crescimento analisadas pelo market-share
indicaram as exportações paranaenses sempre positivas ao longo da década de 90 e com
significativa participação no comércio mundial, chegando a quase 20% das exportações
mundiais. Esses resultados forma comprovados pela análise das fontes de crescimento: o
crescimento do comércio mundial se apresentou positivo neste período, indicando que as
exportações desse produto acompanharam o ritmo de crescimento das exportações mundiais;
o destino das exportações teve resultado negativo, mostrando a necessidade de exportar para
mercados mais dinâmicos; e a competitividade também foi comprovada como a principal
fonte de crescimento para as exportações paranaenses de frango.
De acordo com o market-share, as taxas de crescimento indicaram as
exportações paranaenses de carne suína sempre positiva ao longo da década de 90, porém com
pequena participação no comércio mundial, não chegando a 1% das exportações mundiais, o
que pode ser comprovado pela análise das fontes de crescimento, ou seja, o crescimento do
comércio mundial se apresentou negativo neste período, indicando que as exportações desse
produto não acompanharam o ritmo de crescimento das exportações mundiais; o destino das
21
exportações teve resultado negativo, mostrando a necessidade de exportar para mercados mais
dinâmicos; e a competitividade também foi comprovada como a principal fonte de
crescimento para as exportações paranaenses de carne suína.
A partir do ano 2000 as exportações de bovinos sofreram queda brusca
devido à imposição de barreiras impostas em conseqüência do mal da vaca louca e da febre
aftosa que afetaram a criação no Brasil. Com isso, as carnes suínas e principalmente a de
frango vêm ganhando mercado e se tornando cada vez mais competitivas.
A estabilidade macroeconômica duradoura no país e a persistência de
políticas de incentivos às exportações são de extrema importância para facilitar a consecução
de estratégias que visam superar as crises e os choques externos.
Por ser o setor agroindustrial brasileiro, principalmente o paranaense, um
setor promissor como provedor de divisas para a economia do país, seu crescente grau de
inserção internacional e sua capacidade de condicionar o desenvolvimento da economia
brasileira despertam interesse e direcionam cada vez mais a atenção para as atividades
primárias. No caso do complexo de carnes do Paraná, surgem novos produtos para
incrementar as exportações, como foram citadas as carnes de cavalos, perus e ovinos/caprinos,
que apresentam dados significativos para futuras pesquisas.
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