Ludoterapia de Grupo1 Joselete Andrade Ribeiro2 “O tratamento em grupo como forma de trocar e ganhar experiências.” Aqueles que se interessam sobretudo pelo trabalho com a criança individual e seus problemas têm sido um pouco lentos em reconhecer as possibilidades terapêuticas inerentes às relações de grupo. Porém, nos últimos anos, tem havido um crescente reconhecimento dos métodos sociais que podem ser úteis no tratamento do indivíduo. Á medida que as pesquisas deixam patente o fato de que o comportamento e os seus ideais da criança são mais influenciados por grupos de amigos do que qualquer outra força exceto á família, essa informação passa a ser usada de modo construtivo. Os grupos tem a vantagem de ser uma espécie de “mundinho ilhado” no qual o comportamento presente pode ser experenciado, e novos comportamentos experimentados. O trabalho de grupo é a situação ideal para crianças que precisam praticar suas habilidades contratuais. É natural para a maioria das crianças procurar outras crianças. Ao oferecer um palco para aqueles que tem dificuldade em se relacionar com seus pares, estamos ajudandoas a descobrir e elaborar o que quer que esteja bloqueando este processo natural. Certos procedimentos e técnicas são particularmente eficazes em situação de grupo. Geralmente se começa uma sessão grupal pedindo que cada criança conte seus sentimentos e aquilo que tem presente no momento, o que está sentido, quais suas sensações corporais, o que está vendo, o que está pensando agora. Isto se faz para dar a criança a oportunidade de participar. Geralmente as seções de grupo com crianças são estruturadas, isto é, deve-se ter uma idéia clara do que está se fazendo. Entretanto, é importante ser aberto, flexível e criativo. O processo de grupo é o aspecto mais valioso do trabalho grupal com as crianças. A forma como se experienciam mutuamente, e como reagem e se relacionam com as outras, é algo que revela abertamente as suas relações interpessoais de modo geral. 1 Artigo publicado na Revista Insight – Psicoterapia em abril de 1993. O grupo é um lugar para a criança tomar consciência de como interage com as outras, para aprender a assumir responsabilidades pelo que faz e para experimentar comportamentos novos. Além disso, toda criança precisa de contato com outras para saber que as outras tem sentimentos e problemas semelhantes. Dar à criança oportunidade de jogar com as outras proporcionando-lhes experiências fundamentais de inter-relacionamentos. Às vezes o grupo como um todo podo fazer esses jogos, também pode ser dividido em pares ou trios. Podemos usar o grupo para lidar com as projeções da criança. Se João diz: “Eu não gosto do jeito que Paulo está me olhando”, o terapeuta pede para que João descreva o que imagina que o olhar de Paulo está dizendo, e depois pede que João diga para si mesmo à fim de verificar que projetou na expressão facial de Paulo e sua própria autocrítica. As crianças devem ver que uma careta não é o mesmo que saber os pensamentos das outras pessoas. A outra criança pode estar sentindo alguma coisa, exemplo: uma dor de cabeça. No entanto pode ser que esteja realmente sentindo o que a primeira imaginou, e para saber se isto é verdade é preciso que o terapeuta esteja atento ao grupo e junto com as crianças procure verificar o que realmente está se pensando. É importante que o terapeuta participe das atividades com as crianças. O terapeuta precisa estar continuamente alerta e cônscio de cada participante do grupo. Se algum membro do grupo se apresenta aborrecido ou magoado é necessário que o facilitador possa aperceber-se disto. É essencial e fundamental que as crianças confiem umas nas outras e que nada que machuque uma criança passe em branco ao terapeuta. As sessões de grupo devem trazer experiências prazerosas para as crianças. Uma sessão de grupo é satisfatória quando cada criança sente-se interessada, aceita, e segura. À medida que a criança se sentir mais livre para abrir, bem como revelar suas emoções, idéias e opiniões, e souber que encontrará apoio e ligação com o terapeuta e com os componentes do grupo, ficará mais forte dentro de si mesmo. Hobbs, exprimiu o pensamento de muitos terapeutas de grupo, quando escreveu “Uma coisa é ser compreendido e aceito por outro terapeuta, uma experiência consideravelmente mais poderosa é ser compreendido e aceito por muitas pessoas que 2 Psicóloga CRP-15/0034, Conselheira do CRP-15. Formada em Filosofia pela Universidade Federal de também estão honestamente partilhando seus sentimentos numa busca conjunta de um modo de vida satisfatório”. O objetivo da terapia de grupo é realizar mudanças básicas no equilíbrio intrapsíquico de cada paciente. Através do relacionamento, catarse, insight e prova realidade, a terapia dá origem a um equilíbrio na estrutura da personalidade. A presença de diversas crianças parece facilitar o estabelecimento de uma relação desejável entre o terapeuta e cada criança. Na ludoterapia de grupo, a presença de outras crianças parece diminuir a tensão e estimular a atividade e a participação. O grupo provoca espontaneidade nas crianças, elas começam a relacionar-se com o terapeuta e a confiar nele mais rapidamente do que o fazem na terapia individual. A identificação é o processo crucial por meio do qual a experiência de grupo pode tornar-se terapêutica. O grupo fornece oportunidades para relacionamentos multilaterais que não são possíveis na ludoterapia individual. Também oferece aos pacientes outros modelos de identificação. As crianças não se identificam apenas com o terapeuta, mas com outros membros do grupo. O processo terapêutico é intensificado pelo fato de que cada membro do grupo pode ser um doador e não apenas um receptor de auxílio. Hobbs resume: “Na terapia de grupo uma pessoa pode adquirir um equilíbrio maduro entre dar e receber, entre dependência do eu e uma dependência auto-sustentadora e realista dos outros”. As crianças diferem geralmente na maneira de representar ou verbalizar seus problemas. O meio terapêutico que melhor atende às crianças pequenas é o brinquedo. Na ludoterapia o termo brinquedo não tem a conotação visual do significado recreativo, e sim é equivalente a liberdade para agir e reagir, reprimir e exprimir, suspeitar e rejeitar. A ludoterapia de grupo fornece dois meios de catarse, o brinquedo e a verbalização, de modo que a criança poderá utilizar a forma de expressão simbólica que melhor atenda às suas necessidades. Deve-se salientar que a catarse é sempre baseada em relacionamentos. Ela ocorre apenas quando existe a confiança entre a criança e o terapeuta. Apenas numa atmosfera segura as crianças sentem-se segura para regredir e reviver emoções primitivas num contexto construtivo. Alagoas e formada em Psicologia pelo Centro de Estudos Superiores de Maceió - CESMAC A experiência com grupos de crianças pequenas demonstrou que a estimulação mútua de idéias e sentimentos traz à superfície “insights” profundos. O auto-conhecimento é desenvolvido através da experimentação de vários relacionamentos diferentes, no grupo as crianças são forçadas a reavaliar seu comportamento à luz das relações dos companheiros. O grupo fornece um ambiente social tangível para as descobertas e experimentações de novos e mais satisfatórios modos de relacionamento com os companheiros, construiu um ambiente onde podem ser testadas novas técnicas sociais visando o domínio da realidade e relacionamentos inter-individuais. A criança inibida aprende que para atingir seus objetivos tem que manifestar seus desejos, e a criança impulsiva aprende que aqueles que esperam também são atendidos. A presença de diversas crianças na sala de brinquedos serve para ligar a experiência da terapia ao mundo da realidade. Os sentimentos infantis de onipotência e magia que interferem em um bom ajustamento, são desmascarados e modificados pelo grupo. As crianças se ajudam mutuamente a tomarem consciência de suas responsabilidades nas relações interpessoais. Nos grupos, as crianças ficam expostas a uma nova qualidade de relacionamento íntimo. Aprendem que podem deixar cair as defesas e mesmo assim continuarem protegidas, que podem se aproximar de companheiros da mesma idade e de um adulto e não serem feridas. Na segurança da atmosfera terapêutica as crianças podem se defrontar direta e honestamente, e experimentar uma proximidade emocional com outras pessoas. O grupo, como uma sociedade miniatura, oferece motivação e apoio para mudanças, bem como uma zona segura para testar novas modalidades de comportamento. A experiência clínica demonstra que nenhum método de psicoterapia é eficaz para todas as pessoas. Pacientes diferentes requerem métodos diferentes de tratamento. Segundo Axline, a seleção de crianças para a ludoterapia de grupo deve ser feita em casos onde os problemas são centralizados em torno do ajustamento social. Para Lippman, a ludoterapia de grupo é o melhor método para ajudar a criança tímida a perceber que as outras crianças são amigáveis e não representam perigo. Cada terapeuta precisa decidir quanto ao tamanho e tipo de grupo que julga mais proveitoso. Não há uma regra geral para todos. Os grupos devem ser compostos de três a seis crianças, isto quando estão na faixa etária de 8 anos, quando ultrapassam de 8 anos, os grupos podem ser de 6 a 10 membros. A duração dos grupos são de 80 minutos. Bibliografia 1. AXLINE, V. M.- Ludoterapia, Belo Horizonte, Editora Interlivros, 1972. 2. GINOTT, H.G.- Psicoterapia de Grupo com Crianças, Belo Horizonte, Editora Interlivros, 1972. 3. GRUNSPUN, H.- Distúrbios Neuróticos da Criança, 4ª Ed., São Paulo, Livraria Atheneu, 1979. 4. ____________, Distúrbios Psicossomáticos de Criança, São Paulo, Livraria Atheneu, 1980. 5. ____________, Distúrbios Psicossomáticos de Criança, 3ª Ed., São Paulo, Livraria Atheneu, 1982. 6. OAKLANDER, V.- Descobrindo Crianças, São Paulo, Summus Editora, 1980. 7. ROGERS, C. R.- O Tratamento Clínico da Criança Problema, 2ª Ed., São Paulo, Livraria Martins Fontes Editora, 1978. A pessoa de Artrite Reumatóide e a importância do trabalho multi e interdisciplinar na equipe de saúde Juliana S. Moura3 A Artrite Reumatóide é uma doença que provoca reações imunológicas contra constituintes do próprio corpo da pessoa, ocasionando lesões sistemáticas ou localizadas, comprometendo as articulações e causando dores (FILHO, 1992; ROBBINS, 1996). O enfrentamento de uma doença crônica como a Artrite Reumatóide, não é fácil por parte do paciente e sua família, mudanças significativas acontecem em suas vidas e uma nova rotina é seguida. Consequentemente vários sentimentos e emoções (angústia, medo, ansiedade, tristeza, não aceitação, estresse, raiva, agressividade, etc.) surgem e permeiam a mente da pessoa que é portadora da Artrite Reumatóide. Essas reações emocionais podem interferir direta e indiretamente na saúde do indivíduo e no curso da doença, alterar o funcionamento do organismo, e ocasionar modificações somáticas e físicas (MARTHY, 1993). Neste sentido, o trabalho com uma equipe multi e interdisciplinar, a interação e inter-relação dos seus membros, é extremamente importante para a adesão e os bons resultados no tratamento, promoção de saúde e reabilitação da pessoa portadora da Artrite Reumatóide. Assim como para a sua família que se constitui um suporte afetivo e social para o paciente. A equipe precisa perceber a saúde como uma busca de bem-estar e/ou equilíbrio físico, psíquico e social, e através dessa visão contribuir para uma intervenção mais eficiente e eficaz, com relação ao paciente. Cabe ao psicólogo entender as reações emocionais e psicológicas freqüentes no diagnóstico, no processo do adoecer e tratamento do indivíduo, compreender a interação psiquismo/corpo, trabalhando com o paciente suas reações emocionais, e juntamente com a equipe de saúde atuar para que esse paciente entre num processo de promoção de saúde mental, consequentemente física (CAMON, 2001 apud BREWESSTER, 1982). Como recursos terapêuticos o psicólogo dispõe de uma escuta compreensiva, focalizando as necessidades psicológicas do paciente. Pode realizar trabalhos em grupo Aluna do Curso de Psicologia da Universidade Federal de Alagoas – UFAL Maceió – AL, 08 de novembro de 2005. 3 com colagens, pinturas, músicas, desenhos, técnicas de dinâmica de grupo, etc.; atendimento individual, familiar, e trabalhos preventivos visando à saúde em seus aspectos bio-psico-social. E, se perceber que o paciente precisa também de outros tipos de cuidados, fazer os devidos encaminhamentos para assistências especializadas (serviço social, psiquiatria, etc.). A Artrite Reumatóide mexe não somente com o físico, o corpo da pessoa, mas também com seu psiquismo, sua estrutura e dinâmica familiar, econômica e social. Observando o homem como alguém que não é constituído de partes separadas e isoladas, e sim considerando-o como um ser global, alguém que sente, fala, escuta, sofre, deseja, vive, tem família, trabalha, e é capaz de decidir e interferir no seu processo de reabilitação ou recuperação. A equipe de saúde entenderá a dimensão do ser humano, e compreenderá como é essencial e relevante o trabalho multi e interdisciplinar, aquele onde vários e diversos profissionais da área de saúde atuam de maneira integradora e interativa, buscando o melhor e mais adequado tratamento possível àquela pessoa que sofre com a doença. Referências Bibliográficas ÁVILA, Laszlo Antônio. Doenças do corpo e doença da alma: investigação psicossomática psicanalítica. 3ª Ed. São Paulo: Escuta, 2002. CAMON, Valdemar Augusto Angerami (org.). Psicossomática e a psicologia da dor. São Paulo: Pioneira, 2002. GOLDIM, José Roberto. Psicoterapia e bioética. In: CORDIOLI, Aristides V. Psicoterapia abordagens atuais. 2ª Ed. Porto Alegre: Artes médicas, 1998. FILHO, Julio de Melo & Colaboradores. Psicossomática Hoje. Porto Alegre: Artes médicas, 1998. MCDOUGALL, Joyce. Teatro do corpo: o psicossoma em psicanálise. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S., 1996. Termômetro Self Os 10 livros mais vendidos 1. Abuso sexual em criança (Christiane Sanderson) 2. Bion-Estudos psicanalíticos revisados (W. Bion) 3. Depressão Infantil (Jeffrey Miller) 4. E a psicoterapia entrou no hospital (Valdemar Camon) 5. Manual de psicologia jurídica (Jorge Trindade) 6. O Mestre dos mestres (Augusto Cury) 7. Princípios e práticas em TDAH (Luís Augusto Rohde) 8. Psicologia dos transtornos mentais (David Holmes) 9. Suicídio-Fragmentos de análise existencial (Valdemar Camon) 10.Terapeutas em Risco (Virgínia Hilton)