ÓLEO DE Copaifera sp. (LINNAEUS) (LEGUMINOSAE), ANÁLISE DO SEU EFEITO LARVICIDA E NO DESENVOLVIMENTO DE IMATUROS DE Aedes albopictus (SKUSE, 1894) (DIPTERA: CULICIDAE). B. M. da Silva1*; F.V. Fonseca1, L.C.B.P. da Rocha1; C.C. Ávila1; J.S. Prophiro1 RESUMO: Produtos de origem botânica são amplamente reconhecidos por sua diversidade química, logo as plantas oferecem uma fonte alternativa de controle de insetos vetores, incluindo culicídeos. Assim, o objetivo desta pesquisa foi avaliar a eficiência do óleo de Copaifera sp., enquanto inseticida e os prováveis efeitos sobre o desenvolvimento de imaturos de Ae. albopictus. Para realização dos bioensaios foi utilizada uma colônia de campo (Foz do Iguaçu – Paraná, Brasil). A susceptibilidade desta população ao óleo de Copaifera sp. foi analisada para determinar os valores das concentrações letais CL50 CL90. O óleo de Copaifera sp., foram previamente dissolvido em água, utilizando dimetilsufóxido como promotor da solubilidade. Para verificar o efeito sub-letal do óleo de Copaifera foi utilizada a concentração correspondente a CL20 = 0, 005%, previamente calculada para a temperatura de 25ºC. As soluções contendo o óleo de Copaifera sp. demonstraram atividade larvicida, em intervalo de concentrações dose-resposta, sobre a população natural de Ae. albopictus. A eficácia como larvicida apresentou concentrações letais de (CL50: 87 (85-89) e CL90: 120mg/L(116-126)), e seus respectivos intervalos de confiança. A concentração subletal 0.005% (CL20) de óleo de Copaifera sp., além de efeito larvicida imediato e prolongamento do estágio imaturo, inibiram consideravelmente a emergência de adultos. Alterações no período de desenvolvimento de Ae. albopictus, expostos a concentração sub-letal de Copaifera, que prolonga o estágio imaturo e provoca alterações morfológicas que inviabilizam a emergência de adultos, demonstram a eficácia deste óleo no controle do vetor do vírus da dengue. Palavras-chave: Dengue, Aedes albopictus, Copaifera sp., Larvicida 1-Universidade do Sul de Santa Catarina, Laboratório de Imunoparasitologia, Departamento de Ciências Biológicas, Avenida José Acácio Moreira, nº 787, Bairro Dehon, 88704-900, Tubarão Santa Catarina, Brasil. Telefone: (48) 3621-3294 / (48) 3621- 3467 * [email protected] INTRODUÇÃO O Aedes aegypti (Linnaeus, 1762) é o principal transmissor do vírus da dengue no Brasil. No entanto, com alta capacidade de dispersão e potencial de ocupar diferentes ambientes o Aedes albopictus (Skuse, 1985) pode atuar como vetor secundário, causando preocupação, já que a espécie mostra ser suscetível a alguns sorotipos do vírus da dengue (Consoli e Oliveira, 1994). Oliveira et. al., (2003), estudando no Brasil e nos Estados Unidos a competência vetorial de Ae. albopictus aos vírus da dengue e da febre amarela, descreveram a potencialidade do arbovírus, tendo em especial atenção ao sorotipo DEN 2, quando relacionada a dengue. Além disso, Castro et. al., (2004), comprovaram a susceptibilidade oral e transmissão vertical em exemplares do Rio de Janeiro, ao sorotipo DEN 2. Em comparação ao Ae. aegypti, esta espécie foi mais suscetível. Em adição, Fernandes et. al., (2004), verificaram a susceptibilidade de Ae. albopictus de zonas urbanas e rurais de São Paulo, ao DEN 1 e DEN 2. A partir destes dados foi indicada a potencialidade do Ae. albopictus como vetor da dengue no Brasil. Por esta razão, é de grande importância o desenvolvimento de pesquisas envolvendo o controle deste vetor em potencial. Estudos envolvendo inseticidas botânicos têm aumentado consideravelmente nas últimas décadas, sendo alguns análogos a produtos químicos. Silva et. al., (2003) avaliaram a atividade larvicida de Copaifera reticulata (Ducke, 1915), em Culex quinquefasciatus (Say, 1823), e obtiveram mortalidade larval em todos os estágios. Mendonça et. al., (2005), testaram o efeito larvicida do óleo de Copaifera langsdorffi em Ae. aegypti, e demonstraram atividade larvicida total após 48 horas de tratamento. Estudos feitos por Geris et. al., (2008), demonstraram a atividade larvicida de diterpenos isolados do óleo-resina de Copaifera reticulata sobre Ae. aegypti. Quatro diterpenóides foram obtidos a partir da extração do óleo-resina com solventes orgânicos, e, subseqüentes procedimentos cromatográficos e espectroscópicos permitiram o isolamento e a identificação desses compostos. Os dados obtidos da mortalidade x concentração (ppm) foram analisados, em gráfico de Probit para avaliar as concentrações letais (CL50 e CL90). Este estudo revelou que os diterpenóides mostraram atividade larvicida com CL50 de 0,8 e 87,3 ppm, Estes resultados confirmam a atividade larvicida desta planta para Culex quinquefasciatus e Ae. aegypti. Entretanto, para Ae. albopictus este óleo ainda não foi avaliado. Além disso, o mecanismo de ação desse óleo, a influência na oviposição e fecundidade ainda não são conhecidas. Assim, o estudo de vários potenciais desta planta poderá dar subsídios para estratégias de controle deste vetor. Assim, o objetivo desta pesquisa foi avaliar a eficiência do óleo de Copaifera sp., enquanto inseticida e os prováveis efeitos sobre o desenvolvimento de imaturos de Ae. albopictus. DESENVOLVIMENTO Mosquitos Em 2007, a Região Sul apresentou o maior aumento no número de casos de dengue (871%) quando comparado com o mesmo período em 2006, em virtude das transmissões ocorridas em vários municípios do Estado do Paraná, incluindo os municípios de Maringá, Foz do Iguaçu, Londrina e Ubiratã (MS, 2007). O Laboratório Imunoparasitologia (UNISUL) em convênio com o Laboratório de Entomologia Médica e Veterinária (UFPR) e Secretaria Estadual de Saúde do Estado do Paraná, realizou coletas de ovos no município de Foz do Iguaçu, no verão de 2006/2007, como parte do monitoramento para a presença de Aedes aegypti e Aedes albopictus. No Laboratório de Entomologia Médica e Veterinária (UFPR) estes ovos foram imersos em água com alimento e mantidos para o desenvolvimento de adultos e consequentemente obtenção da geração F1/F2. Esta geração posteriormente enviada ao Laboratório de Imunoparasitologia (UNISUL), para realização dos bioensaios. Bioensaios O óleo de copaíba foi fornecido pelo Laboratório de Imunoparasitologia, da Universidade do Sul de Santa Catarina. O processo para os bioensaios seguiu o protocolo da Organização Mundial da Saúde WHO (1981). Quando o início dos bioensaios, os ovos F1/F2 de Ae. albopictus foram imersos em água com alimento e mantidos em recipientes plásticos até o momento da eclosão do estádio desejado. Foram utilizadas 25 larvas do 3º estádio, por pote descartável de 180 ml de capacidade, com quatro réplicas e testemunha, sendo posteriormente acondicionadas à temperatura 25ºC (±2) umidade relativa de 80% (±10%) em sala climatizada. A leitura dos bioensaios foi realizada 24 horas após o contato das larvas com os óleos. O preparo das soluções com óleo de Copaíba seguiu o padrão de Silva et al., (2003), utilizando-se concentrações variáveis de 0,4 a 180 ppm, podendo variar para mais ou para menos, conforme a mortalidade larval constatada nos experimentos. O grupo controle foi realizado com dimetilsufóxido (solvente do óleo de Copaíba) e um controle livre de solvente. A comprovação da mortalidade das larvas foi quando, tocadas levemente com agulhas histológicas, as larvas não apresentaram movimentos. Efeito dos óleos no desenvolvimento das larvas As larvas sobreviventes de doses sub-letais foram deixadas na água tratada até a emergência dos adultos. Indivíduos adultos recém emergidos foram colocados em gaiolas, pela qual foi oferecidos a alimentação açucarada e o repasto sangüíneo em hospedeiro animal. Análise estatística Os valores de concentração letal CL50, CL90 foram estimados pela análise Probit (Finney 1971). Para detectar diferenças entre os tratamentos em relação à mortalidade, foi aplicada análise de variância (ANOVA/MANOVA) pelo programa STATISTICA 6.0. O nível de significância adotado para os testes foi de 5%. 2.5 Resultados e Discussões As soluções contendo o óleo de Copaifera sp. demonstraram atividade larvicida, em intervalo de concentrações dose-resposta, sobre as populações naturais de Aedes albopictus avaliadas sob temperatura controlada de 25ºC (Tabela 1). Não houve mortalidade nos grupos controle de somente água e água mais DMSO. Tabela 1. Município avaliado, geração utilizada, concentrações letais (mg/L) e respectivos intervalo de confiança, coeficiente angular, qui-quadrado e grau de liberdade em populações de Aedes aegypti (Cepa: Rockefeller e Aedes albopictus Foz do Iguaçu Norte proveniente do Estado do Paraná), após 24 horas de exposição a soluções contendo óleo de Copaifera sp., na temperatura de 25ºC, 85% UR e 14:10 C/E. Localidades Rockefeller Foz do Iguaçu Norte Geração CL50 CL90 CA X2 gl Fn 48 (47-49) 89 (86-92) 4,83 ± 0,14 9,42 5 F2 87 (85-89) 120 (116-126) 9,3 ± 0,54 3,21 3 Não houve mortalidade nos grupos controle. CL50: concentração letal que ocasiona a morte de 50% das larvas expostas, CL90: concentração letal que ocasiona a morte de 90% das larvas expostas, CA: coeficiente angular ± desvio padrão, X2: qui-quadrado e gl: grau de liberdade. A concentração subletal 0.005% (CL20) de óleo de Copaifera sp., além de efeito larvicida imediato e prolongamento do estágio imaturo, inibiram consideravelmente a emergência de adultos. Para o grupo experimental, observou-se a eclosão de apenas 3 indivíduos dos 300 expostos ao óleo, após 14 dias de exposição. Já nos grupos controle houve elevada eclosão desde os primeiros dias de exposição. Os resultados obtidos, no presente estudo, com óleo de Copaifera sobre populações naturais de Aedes albopictus (CL50: 87 e CL90: 120mg/L) foram distintos aos observados por Prophiro (2008) para populações naturais de Aedes aegypti (CL50: 47 e CL90: 83mg/L) e para a Cepa Rockefeller (CL50: 48 e CL90: 89mg/L), provenientes do mesmo município. Provavelmente, a espécie Aedes albopictus tenha menor susceptibilidade ao óleo de Copaifera sp. que o Aedes aegypti. Estes dados confirmam o efeito larvicida do óleo de Copaifera, não apenas para populações de laboratório e naturais de Aedes aegypti, mas também contra populações naturais de Aedes albopictus, que são vetores de potencial secundário na transmissão do vírus da dengue no Brasil. Alterações no período de desenvolvimento de Ae. albopictus, expostos a concentração sub-letal de Copaifera, que prolonga o estágio imaturo e provoca alterações morfológicas que inviabilizam a emergência de adultos, demonstram a eficácia deste óleo no controle do vetor do vírus da dengue. CONCLUSÃO A mortalidade, causada por Copaifera na temperatura de 25ºC, evidencia que as populações naturais de Ae. albopictus analisadas são susceptíveis ao óleo, assim como a cepa de laboratório Rockefeller. Alterações no período de desenvolvimento de Ae. albopictus, expostos a concentrações sub-letais de Copaifera, que prolonga o estágio imaturo e provoca alterações morfológicas que inviabilizam a emergência de adultos, demonstram a eficácia deste óleo no controle deste culicídeo. REFERÊNCIAS CASTRO, M. G. et al. Dengue virus detection by using reverse transcriptionpolymerase chain reaction in saliva and progeny of experimentally infected Aedes albopictus from Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz. 99(8): 809-14, 2004. CONSOLI, R. A. G. B., LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, R. Principais mosquitos de importância sanitária no Brasil. Editora Fundação Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil, 1994. FERNANDES, Z. MONCAYO, A., FORATTINI, O. P., WEAVER, S.C. Susceptibility of urban and rural populations of Aedes albopictus from Sao Paulo State, Brazil, to infection by dengue-1 and – 2 viruses. J. Méd. Entomo. 41(5): 961-4, 2004. GERIS, R., I.G. SILVA, H.H. SILVA, A. BARISON, E. RODRIGUES-FILHO, A.G. FERREIRA. 2008. Diterpenoids from Copaifera reticulata Ducke with larvicidal activity against Aedes aegypti (L.) (Diptera, Culicidae). Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo 50: 25-28 MENDONÇA, F. A. C. de; SILVA, K. F. S. da; SANTOS, K. K. dos; RIBEIRO JÚNIOR K. A. L.; SANT’ANA, A. E. G. Activities of some Brazilian plants against larvae of the mosquito Aedes aegypti. Fitoterapia. 76: 629 – 636, 2005. OLIVEIRA, R. I. et al. Large genetic differentiation and low variation in vector competence for dengue and yellow fever viruses of Aedes albopictus from Brazil, the United States, and the Cayman Islands. Am J Trop Méd Hyg 69(1): 105-14,2003. PROPHIRO, J.S. Susceptibilidade de Aedes aegypti (Linnaeus, 1762) e de Aedes albopictus (Skuse, 1894) (Diptera: Culicidae) a Organofosforado e Atividade Inseticida de Produtos de Origem Botânica. Dissertação (Mestrado em Entomologia) - Universidade Federal do Paraná, Paraná, 2008. SILVA, I. G.; ZANON, V. O. M.; SILVA, H. H. G. 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