anatomia renal

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Capítulo 1
Desenvolvimento normal e anomalias congênitas
1
SEÇÃO
I
ANATOMIA RENAL
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Capítulo
Desenvolvimento
normal e anomalias
congênitas
1
Objetivos de aprendizagem
O leitor deverá:
• Descrever a ontogenia e a função do pronefro, me­
sonefro e metanefro durante o desenvolvimento
normal.
• Listar as estruturas que são derivadas do mesonefro,
metanefro e broto uretérico durante o desenvolvi­
mento normal.
• Elaborar um diagrama representando o inter­câmbio
molecular entre o broto uretérico e o blastema
metanéfrico. Discutir como esse fenômeno está
envolvido no desenvolvimento normal do rim e do
sistema coletor.
• Descrever as anormalidades no desenvolvimento
que levam a anomalias congênitas do trato urinário.
• Listar e fornecer uma breve descrição das anomalias
congênitas dos rins, das artérias renais, dos ureteres,
da bexiga e da uretra.
PAUL G. SCHMITZ
Introdução
Os sistemas genital e urinário originam-se do mesoderma
intermediário, uma crista longitudinal de células mesenquimais (saliência urogenital) ao longo da parede dorsal
da cavidade amniótica (Figura 1.1). O mesoderma intermediário (cordão nefrogênico) dá origem a uma unidade
excretora no sentido craniocaudal que é dividida em três
unidades (Figura 1.2):
• Pronefro
• Mesonefro
• Metanefro (rim definitivo)
Pronefro
O pronefro é vestigial, transitório e não funcional. Ele é
análogo aos rins no peixe primitivo, consistindo em poucos
agrupamentos de células (também conhecidas como nefró-
Cavidade
amniótica
Cavidade
amniótica
Tubo neural
Tubo
neural
A
Mesoderma
paraxial
Mesoderma
intermediário
Aorta
“Pinçamento”
Cordão
nefrogênico
B
Saco
vitelino
FIGURA 1.1 Secção transversal de um embrião de 28 dias, revelando o mesoderma intermediário (A) que é gradualmente separado pelo
“pinçamento” do mesoderma paraxial e forma o cordão nefrogênico. (B) O cordão nefrogênico estende-se da região cervical à caudal (não mostrado).
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4
Seção I
Anatomia renal
Cápsula
de Bowman
Pronefro
atrofiado
Glomérulo
Ducto
mesonéfrico
Túbulo
mesonéfrico em
forma de S
Vesícula
umbilical
Ducto
mesonéfrico
Cordão
nefrogênico
Alantoide
A
Cloaca
Desembocadura
do ducto
mesonéfrico
Cápsula
de Bowman
Broto ureteral
FIGURA 1.2 Secção sagital por meio de um embrião de 4 semanas.
Observar o cordão craniocaudal de tecido (cordão nefrogênico), com
segmentação na região cranial (pronefro). O pronefro se atrofia enquanto
o mesonefro se diferencia no ducto mesonéfrico ou Wolffiano (que se
funde e se esvazia na cloaca) e em túbulos curtos em forma de S que
se associam com capilares derivados de ramos da aorta. Essas unidades
formam um sistema excretor transitório que se assemelha ao néfron
adulto. Por volta da 10a semana, o sistema mesonéfrico se degenera à
medida que o rim definitivo se desenvolve a partir do metanefro.
tomos) na região cervical. Essas unidades excretoras regridem ao final da quarta semana de gestação à medida que as
regiões mais caudais do cordão nefrogênico se desenvolvem.
Mesonefro
No embrião humano, no 22o dia de gestação, células
mesenquimais comprometidas do mesoderma intermediário anterior proliferam-se para formar a crista urogenital.
Nessa área, aparecem agrupamentos de tecido nefrogênico
segmentalmente arranjados em sequência cefalocaudal.
Em cada cordão urogenital desenvolve-se um tubo longitudinal sólido, o ducto mesonéfrico, que se abre na cloaca.
O tecido mesonéfrico dá origem a uma alça em forma de S
(túbulo excretor), que adquire um tufo de capilares também
conhecido como glomérulo (Figura 1.3). Coletivamente,
essas estruturas compreendem um corpúsculo renal. Em
média, 30 conjuntos de corpúsculos renais segmentalmente
arranjados drenam para o ducto mesonéfrico. A formação
de urina começa à medida que as unidades excretoras do
mesonefro se desenvolvem. À proporção que as unidades
mesonéfricas caudais se diferenciam, as unidades craniais
se degeneram. No sexo masculino, alguns túbulos segmentados mesonéfricos caudais persistem para se transformar
nos ductos eferentes dos testículos; ao passo que os ductos
mesonéfricos se tornam o epidídimo e o ducto deferente.
No segundo trimestre, o mesonefro já não é mais funcional.
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Glomérulo
Ducto
Wolffiano
Túbulo em
forma de S
B
FIGURA 1.3 A. Corte transversal revelando um túbulo em forma de S
que se associou com o ducto mesonéfrico. B. Observar a estrutura em
forma de taça que envolve um tufo capilar (glomérulo). Coletivamente,
este néfron primitivo produz urina a partir, aproximadamente, da 4ª até
10ª semana de gestação.
Metanefro
O metanefro (rim definitivo), começa a se desenvolver
na quinta semana e torna-se funcional pela nona semana.
Embora a eliminação dos resíduos metabólicos seja primeiro realizada pela placenta, o metanefro produz urina.
A urina derivada do metanefro é essencial para o acúmulo
do fluido amniótico que, por sua vez, é crucial para o crescimento e desenvolvimento normais do feto. Qualquer
condição que interfira na produção da urina ou impeça sua
drenagem para dentro da cavidade amniótica leva a uma
condição referida como oligo-hidrâmnio.
O sistema coletor do rim definitivo desenvolve-se a
partir de um divertículo metanéfrico epitelial ou broto uretérico que surge a partir do ducto mesonéfrico nas proximidades de sua desembocadura na cloaca (Figura 1.4). O
broto uretérico penetra o tecido metanéfrico (blastema metanéfrico) e se subdivide até 15 vezes para formar o sistema
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Capítulo 1
Cordão
nefrogênico
Ducto
mesonéfrico
Blastema
metanéfrico
Cloaca
Broto uretérico
A
d
c
b
a
Cálice menor
Cálice maior
Pelve
renal
Ducto
coletor
Ureter
B
a 1ª Divisão dicotômica
(dois ramos)
b 2ª Divisão dicotômica
(quatro ramos)
c 3ª Divisão dicotômica
(oito ramos)
d 4ª Divisão dicotômica
(16 ramos)
FIGURA 1.4 A. O rim definitivo é derivado da interação do broto
uretérico com o blastema metanéfrico circundante. A pelve renal
surge da extremidade dilatada do broto uretérico. B. Várias fases de
ramificação (talvez até 15 gerações) são responsáveis pela formação
dos cálices maiores e menores e 1 a 3 milhões de túbulos coletores.
coletor definitivo, incluindo o ureter, a pelve renal, os cálices maiores e menores e 1 a 3 milhões de túbulos coletores.
O blastema metanéfrico (também conhecido como
massa metanéfrica do mesoderma intermediário ou blastema metanefrogênico) é formado pelo mesoderma da porção caudal do cordão nefrogênico. Ele se condensa e se
encapsula ao redor da porção mais distal do broto uretérico
(Figura 1.5). O broto uretérico induz as células mesenquimais na massa metanéfrica a gerar as vesículas metanéfricas (vesículas renais), as quais se alongam originando
os túbulos em formato de S. Uma extremidade do túbulo
em S se funde com a extremidade distal do broto uretérico
para estabelecer continuidade da via urinária. O túbulo se
alonga e se diferencia no túbulo contorcido proximal, alça
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Desenvolvimento normal e anomalias congênitas
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de Henle, túbulo contorcido distal e túbulo conector. As
células endoteliais migram para a extremidade oposta ao
do túbulo em formato de S e se diferencia no tufo capilar
ou glomérulo. O tufo capilar glomerular recebe o sangue
de uma arteríola aferente (derivada de ramos da aorta dorsal) e drena sangue para uma arteríola muscular eferente.
A arteríola eferente envolve os túbulos, servindo, dessa
forma, como o principal suprimento sanguíneo para os túbulos renais. Os túbulos e glomérulos compõem a unidade
funcional básica do rim, isto é, o néfron. Após a nefrogênese estar completa, aproximadamente na 32a semana de
gestação, os rins aumentam em tamanho pela hipertrofia
dos néfrons existentes.
Indução recíproca no
desenvolvimento renal
Se o broto uretérico não se forma ou é anormal, o blastema metanéfrico não se desenvolve. Ao contrário, se o
blastema metanéfrico é defeituoso, não ocorre a ramificação ordenada e o crescimento do broto uretérico. Várias
horas de contato da ampola do broto uretérico com o blastema metanéfrico são necessárias para induzir a formação
da vesícula epitelial e o subsequente desenvolvimento do
néfron. Antes da indução, o supressor de tumor de Wilms
1 (WT1) é expresso na massa metanéfrica e acredita-se que
ele induza competência (capacidade de resposta a sinais
moleculares) ao broto uretérico (Figura 1.6). O WT1 também regula a síntese do fator neurotrópico derivado da glia
(GNDF) e o fator de crescimento do hepatócito (HGF) no
mesênquima. Esses fatores estimulam a ramificação do
broto uretérico. Os receptores de tirosina-quinase, RET e
MET, funcionam como receptores para o GNDF e HGF,
respectivamente. RET e MET são expressos inicialmente
no ducto mesonéfrico e depois localizam-se na ponta do
broto uretérico. O fator de crescimento do fibroblasto 2
(FGF-2) e da proteína morfogenética óssea 7 (BMP7) são
expressos pelo broto uretérico. Essas moléculas sinalizadoras impedem a apoptose no blastema metanéfrico e sinalizam para o mesênquima crescer e agregar. Elas também
parecem induzir a expressão de WT1. Subsequentemente,
WNT9B e WNT6 são expressas no broto uretérico que, por
sua vez, induzem a expressão de PAX2 e WNT4 no mesênquima metanéfrico. PAX2 induz a agregação do mesênquima metanéfrico, enquanto WNT4 induz o desenvolvimento do epitélio tubular renal no mesênquima agregado
(transformação mesênquimo-epitelial).
Ascensão dos rins
Os rins se desenvolvem inicialmente na região pélvica em
ambos os lados da aorta. O crescimento relativo e a retificação do corpo elevam o rim para dentro do abdome (aproximadamente ao nível de T12-L3). Durante a ascensão, os
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Seção I
Anatomia renal
3
5
3
2
1a
6
4
1a
4
1a
1
1
1
1 Ducto coletor
1a Lúmen do ducto coletor
2 Concentração do blastema
metanéfrico em agregados celulares
3 Tecido metanéfrico adjacente
4 Vesícula metanéfrica
(corte seccional)
5 Divisão dicotômica recém-criada
6 Novo ramo do ducto coletor
7 Vesícula metanéfrica que forma um
túbulo
8 Cápsula de Bowman
9 Arteríola aferente
10 Túbulo contorcido proximal
11 Túbulo contorcido distal
12 Túbulo reto proximal
13 Túbulo reto distal
9
6
7
9
7
8
1
8
1
11
9
9
11
8
8
10
10
12
1
12
13
13
1
FIGURA 1.5 O tecido metanéfrico inicialmente se aglutina em torno do broto uretérico. A indução recíproca do blastema inicia a formação das
vesículas metanéfricas. As vesículas se alongam em estruturas tubulares em forma de S que se fundem em uma extremidade com ramos do ducto
coletor (derivado da divisão dicotômica do broto uretérico) e na extremidade oposta com um tufo de capilares derivado de ramos da aorta. O
crescimento e alongamento dos túbulos levam à formação do túbulo contorcido proximal, alça de Henle e túbulo contorcido distal, isto é, o néfron
adulto.
rins são deslocados lateralmente e seus hilos associados,
que estão situados ventralmente, mudam para a posição
medial. Essa mudança deve-se em parte ao crescimento
excedente dos lábios do hilo e à rotação. Na sua posição pélvica, os rins são perfundidos por ramos das artérias ilíacas
comuns. À medida que eles ascendem a cada nível, novas
artérias renais originam-se do segmento cefálico da aorta e
os ramos inferiores se degeneram. As artérias renais definitivas são os ramos mais craniais que suprem os rins. A
ascensão dos rins cessa quando eles entram em contato com
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as glândulas adrenais. Devido ao processo de aparecimento
e degeneração sequenciais dos ramos da aorta que suprem os
rins, 25% da população pode apresentar duas ou mais artérias renais supranumerárias (acessórias) (Figura 1.7).
Bexiga urinária
Durante a sexta semana de gestação, a cloaca é dividida
pelo septo urorretal em reto posterior e seio urogenital, o
qual é contínuo com a alantoide que apresenta uma base
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Capítulo 1
7
Desenvolvimento normal e anomalias congênitas
Coroas
de tecido
metanéfrico
GN
HG D F
F
WT1
PAX2
WNT4
FGF2
WT1
PAX2
WNT4
BWNT6
WNT9B
WNT9B
BMP7
BWNT6
FIGURA 1.6 Mecanismos de sinalização envolvidos na regulação do desenvolvimento renal normal (ver Indução recíproca, anteriormente). De
forma importante, o broto uretérico e o blastema metanéfrico produzem sinais críticos que regulam o seu próprio desenvolvimento, assim como
um ao outro. (Modificada com a permissão de TW Sadler, ed. Langman’s Medical Embryology New York, NY: Wolters Kluwer Health, 2010. http://lww.
com. Fig.15-7, p 239.)
dilatada. O seio urogenital é dividido em um segmento
cefálico vesical dilatado, segmento médio pélvico es­treito
e segmento caudal fálico. O segmento vesical forma a
bexiga urinária. O segmento pélvico médio, na mulher,
forma a maior parte da uretra e, no homem, forma a uretra
prostática e membranosa. O segmento caudal fálico (também conhecido como seio urogenital definitivo) é coberto
pela membrana urogenital. Nas mulheres, o seio urogenital definitivo origina uma pequena porção da uretra e
vestíbulo e, nos homens, ele forma a uretra peniana.
Futura bexiga
Seio
urogenital
Orifício
urogenital
Orifício
anal
FIGURA 1.7 Artérias renais acessórias. Múltiplos vasos renais ocorrem
por causa da persistência de vasos embrionários durante a ascensão
dos rins.
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Reto
Septo
urorretal
FIGURA 1.8 Segmentação da cloaca. Notar que o septo urorretal
dividiu a cloaca em seio urogenital (a parte superior torna-se a bexiga
definitiva) e reto.
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8
Seção I
Anatomia renal
Anomalias congênitas do rim
e trato urinário (ACRTU)
Anormalidades no desenvolvimento anatômico renal e do trato
urinário podem originar malformações congênitas em 3-4%
dos recém-nascidos. A maior parte das lesões pode ser detectada antes do nascimento por meio da ultrassonografia renal.
Anomalias renais
reduzido de néfrons seja uma representação da diminui­
ção da reserva renal. Por conseguinte, uma diminuição da
reserva renal pode aumentar o risco para doença renal clí­
nica, uma vez que menos néfrons não podem compensar
adequadamente a perda dos néfrons lesados.
número diminuído de papilas e cálices. Em casos graves,
essa condição pode causar insuficiência renal na infância.
Agenesia renal
Rins acessórios
A agenesia renal ocorre quando o broto uretérico falha na
indução do blastema metanéfrico. Possíveis explicações
incluem a incapacidade do broto uretérico de penetrar e fazer
contato com o blastema metanéfrico, regressão ou degeneração precoce do broto uretérico, ausência do blastema ou
falha do blastema de produzir ou responder às substâncias
indutoras (ver Indução recíproca no desenvolvimento renal,
anteriormente). A agenesia renal foi primeiro descrita por
Potter, em 1946, e era caracterizada por um feto com nariz
achatado, pregas epicânticas proeminentes e orelhas com
implantação baixa e posteriormente rotadas.
A ausência de ambos os rins ocorre em cerca de 1:6.000
nascidos vivos. A agenesia é mais frequente no sexo masculino (3:1). Em aproximadamente metade dos fetos
atingidos não há outras malformações, exceto aquelas associadas com a síndrome de Potter. O oligo-hidrâmnio é
resultado da falha na produção da urina. Fetos com agenesia renal também podem apresentar circunferência torácica
reduzida associada com a hipoplasia pulmonar. A maioria
dos fetos femininos com agenesia renal bilateral também
apresenta anormalidades no sistema reprodutor, ao passo
que a maioria dos masculinos apresenta anatomia reprodutora normal. Em alguns casos, são encontradas anomalias
do trato gastrintestinal, sistema cardiovascular e sistema
musculoesquelético. Uma vez que a placenta é o principal
órgão excretório, essa condição é compatível com a vida
pré-natal, porém, não com a vida pós-natal.
A agenesia renal unilateral é um achado casual. O rim
contralateral passa por hipertrofia compensatória, isto é,
o número de néfrons e seu tamanho está aumentado. A
produção de urina fetal e a função renal pós-natal não são
comprometidas na agenesia renal unilateral.
Rins acessórios podem surgir da ramificação precoce e
excessiva do broto uretérico. Os rins extras em geral são
pequenos e completamente separados do rim normal.
Ectopia renal
A ectopia renal ocorre quando um rim está localizado
fora da sua posição normal. A pelve é a localização mais
comum de um rim ectópico. Na ectopia renal cruzada,
ambos os rins estão situados em um lado do corpo. Frequentemente eles estão fundidos e acredita-se que se originem de um blastema metanéfrico comum. Hidronefrose,
hidroureter ou alterações displásicas desenvolvem-se de
forma frequente nesses rins.
Rim em ferradura
Rim em ferradura é encontrado em 1 para 500 nascidos
vivos e pode também ser achado em até 7% das crianças com
síndrome de Turner. Ele é o resultado da fusão dos polos
inferiores dos rins antes da sua ascensão. A área fusionada
consiste em tecido conectivo e uma ponte cortical superficial. A massa renal assim formada é deslocada para a borda
da cavidade pélvica. (Figura 1.9). Dois ureteres separados
cursam ventralmente e drenam para a bexiga. A ascensão
da massa renal é impedida pela artéria mesentérica inferior.
Hipoplasia renal
Esses rins possuem menos néfrons que o esperado para a
idade de desenvolvimento. Eles podem também apresentar
44C O R R E L A Ç Ã O
CLÍNICA
Evidência recente sugere que o número reduzido de né­
frons pode ser o precursor de uma variedade de doenças
renais crônicas que ocorrem no cenário de doenças sistê­
micas (p. ex. diabetes) ou após exposição a nefrotoxinas
ambientais (p. ex. chumbo). Imagina-se que o número
Schmitz.indd 8
FIGURA 1.9 Acredita-se que o rim em ferradura surja durante a
quinta semana de desenvolvimento, quando ambos os rins estão
relativamente próximos. A artéria mesentérica inferior impede a
ascensão da massa renal.
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Capítulo 1
Uma hipótese plausível para explicar essa condição é o deslocamento medial dos metanefros pelas artérias umbilicais,
a convergência dos brotos uretéricos ou a migração medial
do tecido nefrogênico. Embora os rins em ferradura sejam
frequentemente assintomáticos, o rim pélvico, em geral, está
sujeito à incidência aumentada de infecção e obstrução.
Doença renal cística
Uma variedade de anomalias do desenvolvimento pode
levar à formação de cistos no rim fetal. Alterações císticas
renais é a anomalia morfológica identificada com mais frequência no recém-nascido.
Displasia renal
A displasia renal é a causa mais comum de cistos renais.
Nesses rins, a arquitetura do córtex e da medula está
desor­ganizada, os glomérulos são pequenos e imaturos e
os túbulos são rudimentares e atróficos. A formação dos
cistos é variável e pode envolver qualquer parte do rim.
Os rins displásicos são geralmente grandes, porém disfuncionais. Acredita-se que essa anomalia resulta de um
dano ao broto uretérico e interfere com a transformação
mesênquimo-epitelial normal. A obstrução do trato urinário é uma ocorrência frequente na displasia renal.
Doença renal policística
A doença renal policística (DRP) abrange pelo menos dois
modos de herança. Um é recessivo autossômico ou DRP
infantil; o outro é autossômico dominante ou DRP adulta
(DRPA). (Ver Capítulo 17 para detalhes.) Os rins no tipo
recessivo autossômico são muito aumentados e contêm
numerosos cistos alongados e radialmente dispostos.
O tipo dominante autossômico da DRP pode permanecer assintomático. Em muitos pacientes com DRPA, os
sintomas clínicos ocorrem entre 40 e 50 anos. Contudo, os
rins nos fetos estão às vezes aumentados e podem revelar
formação precoce de cistos. Os cistos são pequenos no início e não são dispostos radialmente. Foram identificados
pelo menos dois genes anormais na DRPA usando-se análise de ligação. A linhagem mais comum está associada a
um gene anormal no braço curto do cromossomo 16.
Anomalias do ureter
Ureter duplo
Um ureter duplo deriva da ramificação do broto uretérico antes de ele entrar no blastema metanéfrico. Frequentemente, duas pelves separadas e dois ureteres proximais
estão presentes. Em geral, os ureteres se unem e um único
ureter entra na bexiga. Se ambos os ureteres permanecem
separados, o ureter do polo superior é com frequência ectópico e entra na bexiga inferiormente. No sexo masculino, o
ureter pode abrir-se na uretra prostática, na vesícula seminal ou em qualquer outra parte da uretra. No sexo femini-
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Desenvolvimento normal e anomalias congênitas
9
no, ele pode abrir-se na uretra, no vestíbulo ou na vagina.
Alterações displásica e hidronefrótica podem desenvolver-se com essas anomalias.
Obstrução ureteral
A obstrução da junção ureterovesical com hidronefrose
é uma anomalia frequente identificada por exame ultrassonográfico do trato urinário fetal. A obstrução é causada
por aplasia ou hipoplasia da luz ureteral na sua entrada na
bexiga.
Anomalias da bexiga urinária
Bexiga ausente ou bexiga pequena
Bexigas ausentes ou pequenas estão associadas com agenesia ou displasia renal.
Extrofia
A extrofia da bexiga surge de um defeito na musculatura
inferior da parede abdominal que expõe a superfície mucosa
da bexiga. A mucosa da bexiga é contínua com as margens
da parede abdominal. Os ossos púbicos estão amplamente
separados. O fechamento incompleto da parede abdominal é causado pela falha do mesoderma de invadir a região
abdominal inferior central onde uma cunha de membrana
cloacal persiste. Quando a membrana cloacal se desintegra, os epitélios do seio urogenital e intestino posterior
ficam expostos. A extensão da extrofia depende do grau
de deficiência da migração mesodérmica e da extensão da
ruptura da membrana cloacal. Foi sugerido que o supradesenvolvimento da membrana cloacal pode atrasar ou impedir o movimento e a fusão mesenquimal. Essa condição é
frequentemente acompanhada de epispadia.
Epispadia
Epispadia é uma abertura da uretra no dorso do pênis. A
incontinência urinária é um sintoma comum. Acredita-se que
ocorre como resultado da ruptura dorsal do seio urogenital.
Anomalias da uretra
Válvulas de uretra posterior
As válvulas de uretra posterior são pregas epiteliais que se
projetam da mucosa da uretra próxima a base da be­xiga.
Elas são as causas mais comuns de obstrução do trato urinário inferior. Quando completamente obstruído, pode
desenvolver oligo-hidrâmnio.
Síndrome do abdome em
ameixa seca (Prune-Belly)
A síndrome do abdome em ameixa seca resulta da obstrução do trato urinário inferior. A maioria dos casos
está associada com atresia, estenose, tortuosidade uretral
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10
Seção I
Anatomia renal
ou válvulas de uretra posterior. O feto apresenta abdome
liso, acentuadamente distendido, que impede ou bloqueia
a migração do mesoderma somático para a parede corporal anterior. Consequentemente, os músculos abdominais
estão ausentes ou hipoplásicos. Na maioria dos casos, os
testículos permanecem na cavidade abdominal e a próstata está ausente ou hipoplásica. Essa condição geralmente
afeta o sexo masculino. Na gestação tardia ou na infância
precoce, o sistema urinário se rompe e o fluido da cavidade
peritoneal drena para a cavidade amniótica.
Pontos-chave
• As unidades excretoras primitivas e definitivas do ser
humano são derivadas do mesoderma intermediário.
• O rim definitivo e o sistema coletor são derivados
do blastema metanéfrico e do broto uretérico.
• Sinais moleculares produzidos pelo broto uretérico e blastema metanéfrico desempenham um papel
crítico no desenvolvimento do sistema renal. Embora não totalmente entendido, uma lista crescente
de mais de 20 vias de sinalização induz e controla o
desenvolvimento desse sistema.
• A desorganização dos sistemas de sinalização molecular está provavelmente envolvida na origem de
várias anomalias congênitas descritas para os tratos
renal e urinário.
• As malformações congênitas dos tratos renal e urinário se encaixam em quatro categorias principais:
(1) anomalias renais, (2) anomalias do ureter, (3)
anomalias da bexiga urinária e (4) anomalias da
uretra.
Bibliografia comentada
1. Sadler TW. Langman’s Medical Embryology. 11th ed. 2010;235264, Chap.15. Lippincott Williams & Wilkins, Philadelphia,
PA. Uma visão geral concisa da embriogênese renal.
2. Vainio S, Lin Y. Coordinating early kidney development: lessons from gene targeting. Nat Rev Genet. 2002; 3:533-543.
Uma descrição detalhada dos sinais moleculares envolvidos
na embriogênese renal.
3. Pohl M, Stuart RO, Sakurai H, Nigam SK. Branching morphogenesis during kidney development. Annu Rev Physiol.
2000;62: 595-620. Uma revisão magnífica do desenvolvimento do broto uretérico.
4. Pohl M, Bhatnagar V, Mendoza SA, Nigam SK. Toward an
etiological classification of developmental disorders of the
kidney and upper urinary tract. Kidney Int. 2002;61:10-19.
Uma discussão completa dos sinais moleculares envolvidos
no desenvolvimento renal e o papel potencial deles nas anomalias congênitas renal e do trato urinário.
EXERCÍCIOS
1. Identifique as estruturas numeradas nesta secção transversal de um embrião de 28 dias.
2 Identifique as estruturas numeradas nesta secção sagital
de um embrião de 35 dias.
2
5
1
3
6
6
3
7
2
1
4
8
4
9
3 Todos as seguintes alternativas são prováveis causas de
oligo-hidrâmnio, exceto:
5
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A)
B)
C)
D)
E)
Mutações no gene codificador do WNT4.
Doença renal policística.
Atresia dos ureteres.
Agenesia renal unilateral.
Ruptura amniótica.
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