EFEITO DE SISTEMAS DE CULTIVO E MANEJO NA CONSERVAÇÃO DO SOLO E PRODUTIVIDADE DAS CULTURAS PARA AGRICULTURA DE SEQUEIRO Nielson Gonçalves Chagas, João Tavares Nascimento, Ivandro de França da Silva & Napoleão Esberard de Macêdo Beltrão. Rua Manoel da Silva, 391. CEP: 58397-000, AreiaPB, E-mail: [email protected] RESUMO A degradação da produtividade das terras é freqüentemente induzida pela ação do homem, com conseqüências prejudiciais às funções biológicas originais do solo. Como contribuintes principais da degradação ambiental, são relacionadas às práticas agrícolas inadequadas envolvendo sistemas de cultivo como também, o manejo do solo e da água. O objetivo deste trabalho foi abordar sobre uma descrição sucinta de algumas características e limitações do uso agrícola dos solos tropicais, com ênfase ao semi-árido, e conseqüentes efeitos sobre seus recursos enfocados pela pesquisa. Este também preconiza medidas e técnicas capazes de minimizar o problema da degradação da produtividade e proporcionar a recuperação e preservação das terras submetidas ao uso agrícola. Os métodos conservacionistas, aqueles que melhor assegurem o uso eficiente do solo e dos recursos naturais, buscando-se o equilíbrio entre a agricultura e o meio ambiente, a prática da rotação de culturas em plantio direto utilizando-se espécies com características diferentes em sua composição e morfologia, aliada ao manejo correto do solo, faz com que este seja biologicamente mais ativo e com maior potencial produtivo. Palavras-chave: degradação do solo, água do solo, sistemas de cultivo INTRODUÇÃO A luz solar, o ar, a água e o solo, são fatores básicos que condicionam a vida no planeta terra. As enxurradas causadas pelas chuvas, os rios e os ventos estão a desgastar continuamente a superfície do solo, transportando-a lentamente através do fenômeno denominado erosão geológica. Através desse fenômeno, é que foram esculpidos os morros, escavados os vales, formados as várzeas e os deltas dos rios. No estado natural, a vegetação cobre o solo como um manto protetor, fazendo com que os efeitos da erosão geológica sejam lentos e compensados pelos contínuos processos de formação do solo. Em condições naturais, portanto, o ciclo de desgaste normalmente é equilibrado pela renovação e, graças a esse equilíbrio, a vida na terra tem sido mantida por longo período. No momento em que o homem se põe a cultivar a terra para seu sustento, esse equilíbrio natural é interrompido. Para cultivar a terra, o homem começa por destruir a sua cobertura vegetal natural e a revolver a camada superficial do solo. Essas operações, quando efetuadas sem o devido cuidado, agravam acentuadamente a remoção da camada arável, promovendo a sua erosão acelerada e que, se não for contida, poderá levar à sua total degradação. Dos princípios que têm norteado a ocupação e o uso da terra nas regiões tropicais brasileiras, fundamentam o objetivo deste trabalho que é alertar acerca dos riscos de degradação do solo agrícola, por decorrência do imediatismo e da implantação de tecnologias inapropriadas, sem a preocupação com o uso planejado e adequado das terras segundo a sua aptidão agrícola. Neste trabalho, através de uma descrição sucinta de algumas características e limitações do uso agrícola dos solos tropicais, são preconizadas medidas e técnicas capazes de minimizar o problema da degradação da produtividade e proporcionar a recuperação e preservação das terras submetidas a processos rotineiros de ocupação e utilização. CONSIDERAÇÕES GERAIS Capacidade produtiva do solo O solo não se resume apenas às suas partículas minerais, mas sim, a um conjunto composto de minerais, matéria orgânica, organismos vivos, água e ar, cujo equilíbrio reflete no seu potencial produtivo. A ocorrência e a distribuição das espécies vegetais na superfície terrestre é determinada por fatores climáticos e edáficos, sendo que os fatores climáticos ou a sua interação local, determinam a viabilidade de uma espécie nos locais climaticamente compatíveis com as suas necessidades, principalmente, as de calor e umidade (Silva, 1998). A busca dos conhecimentos tecnológicos, na atualidade, visa alcançar produção máxima com boa qualidade em menor área possível, com menor tempo e a custos mínimos. A fertilidade do solo, o clima e a água são necessários para o agricultor conseguir alcançar tais objetivos. Exigências dos vegetais Essas exigências por parte do vegetal não são tão rígidas, uma vez que as espécies podem viver mesmo em locais em que os fatores não estejam em condições ótimas. Baseado nessa observação, surgiu o princípio de tolerância das espécies, que é definido como a capacidade que uma espécie tem de resistir ao afastamento das condições ótimas. Entretanto, para se obter produções elevadas e satisfatórias, há que se atender as exigências das culturas, para que as respostas sejam positivas (Silva, 1998). A fertilidade do solo é conseguida através de produtos adequados definidos tecnicamente, utilização de rotação de culturas, escolha do terreno, adubação verde, entre outros. O clima, apesar de estar sujeito a controle, pode, entretanto ser condicionado, pela escolha das melhores épocas do ano para as atividades agrícolas. A necessidade de água das plantas, pode ser suprida, quando possível, por sistemas de irrigação, escolhidos adequadamente para cada tipo de exploração agrícola. Já a produção agrícola de uma determinada cultura pode ser aumentada quer pelo aumento da área explorada ou, quer pelo aumento da produtividade das culturas. Algumas características e limitações ao uso agrícola dos solos, degradação e declínio de sua produtividade Nas regiões tropicais de agricultura desenvolvida e naquelas submetidas à agricultura de sequeiro, as condições físicas do solo constituem o fator edáfico limitante para a produção agrícola, principalmente, no que se refere à retenção e disponibilidade de água. Nesse contexto, além das propriedades físicas, estão envolvidas no processo produtivo das culturas, as propriedades químicas e biológicas do solo. Entretanto, as propriedades físicas como, a estrutura, a porosidade, a densidade, velocidade de infiltração e permeabilidade, são aquelas que mais se modificam devido ao cultivo e, conseqüentemente interferem na produtividade. Profundidade efetiva e camada de impedimento A profundidade efetiva do solo representa a espessura do solo, medida a partir da superfície, em condições de ser explorada pelo sistema radicular das plantas. Esta nem sempre coincide com a profundidade do solo e constitui a limitação mais óbvia ao seu desenvolvimento, sendo que esta, define o volume de solo explorado por ele e a quantidade de água que o solo pode armazenar. A quantidade de água disponível às plantas pode ser avaliada levando-se em consideração a profundidade das raízes das plantas, que varia conforme o tipo de planta e a profundidade do solo. Os solos de maior profundidade permitem um melhor desenvolvimento de raízes, em face de maior quantidade de água disponível. As camadas compactadas ou adensadas, também chamadas de camadas de impedimento, interferem nos fatores físicos do solo que atuam no desenvolvimento das plantas tais como, potencial de água, aeração e resistência do solo à penetração das raízes, promovendo alterações na quantidade de água e ar absorvida e respirada, pelas plantas e no fluxo desses componentes no solo. Água do solo A quantidade de água que uma planta deve transpirar para sintetizar 1kg de matéria seca é denominada coeficiente de transpiração que, nos climas úmidos, varia de 200 a 500 kg e chega ao dobro nos climas áridos. As perdas de água do solo ocorrem na forma de vapor e na forma líquida. A cobertura da superfície do solo é o único método que se pode utilizar para diminuir a intensidade de perda de água sob a forma de vapor, correspondente a evaporação. Enquanto que as perdas de água sob a forma líquida dão-se através de percolação ou drenagem profunda e deflúvio. As perdas de água em profundidade podem ser reduzidas quando ao solo se adiciona matéria orgânica, a qual tem a propriedade de aumentar a capacidade de retenção de água nos solos, enquanto que as perdas pelo deflúvio, podem ser diminuída, através do aumento da velocidade de infiltração, conseguido com o uso de práticas que reduzam a ação do impacto das gotas de chuva e daquelas que favoreçam a porosidade do solo (Silva, 1998). Susceptibilidade aos efeitos da erosão As propriedades do solo são de grande importância, juntamente com outros fatores, determinam a maior ou menor susceptibilidade à erosão. A resistência do solo em ser removido ou transportado, é definida como erodibilidade. A maior ou menor susceptibilidade de um solo ao processo erosivo, dependerá de características do próprio solo. Entre estas, as mais significativas são: a capacidade de infiltração de água e a estabilidade estrutural do solo. O decréscimo de matéria orgânica, devido ao cultivo, produz várias implicações nos processos mecânicos da erosão. Isto porque a redução na matéria orgânica, leva a uma diminuição na capacidade de infiltração de água do solo, uma vez que a agregação instável influencia na ruptura dos agregados, podendo formar crostas no solo, diminuindo a porosidade superficial que se encontrava aberta para penetração de fluídos, dificultando a infiltração e aumentando o escoamento superficial. Degradação das áreas sob cultivos Geralmente, o solo em condições naturais apresenta-se coberto pela vegetação natural que o protege do efeito do impacto direto das gotas de chuvas ou das rajadas de vento e, dessa forma, conta com o perfil completo, isto é, apresentando todos os horizontes, mesmo aquele superficial, que além de funcionar como camada amortecedora, está aberto à penetração de fluídos (água e ar) e raízes. Tanto as áreas agrícolas que se encontram protegidas com vegetação natural, como aquelas exploradas com culturas, podem estar sofrendo perdas de materiais através da erosão, a qual é considerada a principal causa de desgaste e empobrecimento do solo. A verificação da degradação de uma área agrícola pode ser observada mediante o empobrecimento da sua fertilidade, desagregação da estrutura, compactação, redução da porosidade, diminuição da infiltração e movimento de água, diminuição da disponibilidade de água, aumento da densidade global, diminuição do rendimento das culturas, e aumento das perdas do solo (Silva, 1998). O uso de sistema de preparo inadequado pode ser representado pelo número excessivo de operações, podendo resultar numa pulverização indiscriminada do solo, ou na formação de camada compactada, bastando para isso, o solo encontrar-se com um teor elevado de umidade. Uso de sistemas de cultivo e manejo como medidas de melhoria da produtividade das culturas Ação da cobertura vegetal e manejo do solo A cobertura vegetal é a defesa natural de um terreno contra sua degradação. A vegetação exerce proteção contra o impacto das gotas de chuva, na dispersão da água que é interceptada e evaporada antes que atinja o solo, na decomposição das raízes das plantas que formando canalículos no solo aumenta a sua infiltração de água, no melhoramento da estrutura do solo pela adição de matéria orgânica, no aumento a sua capacidade de retenção de água, e na diminuição da velocidade de escoamento da enxurrada pelo aumento do atrito na superfície. Quanto ao manejo do solo, por sua vez, este consiste num conjunto de operações realizadas com o objetivo de propiciar condições favoráveis à semeadura, à germinação, ao desenvolvimento e à produção das plantas cultivadas. Além da cobertura vegetal e de um manejo adequado do solo para o controle da erosão, o uso de práticas conservacionistas de caráter edáfico, vegetativo e mecânico, permitem reduzir tanto suas perdas, como a de água a um nível aceitável, a ponto de não comprometer a produtividade agrícola por um longo período de tempo. Adubação verde em rotação de culturas É a prática de manejo em que duas ou mais culturas são implantadas alternadamente numa mesma área, fundamentando-se na diferença nutricional das culturas, nas diferenças dos sistemas radiculares, na densidade de cobertura, no controle de pragas e doenças e no controle das ervas daninhas. A rotação de culturas é uma pratica conservacionista que além de proteger o solo, promove a melhoria de suas propriedades físicas, químicas e biológicas. Para utilizar essa prática, deve-se levar em consideração as condições de solo, a topografia, o clima e a procura do mercado para a escolha das culturas que deverão entrar num esquema de rotação. Já a adubação verde por sua vez, consiste no cultivo de plantas herbáceas, de preferência de espécies diferentes, gramíneas e leguminosas, com a finalidade de serem incorporadas ao solo antes de atingirem o final do ciclo vegetativo, visando elevar o teor de matéria orgânica e de nutrientes do solo, melhorando o aproveitamento da adubação mineral. O corte do adubo verde é feito na época da floração. As vantagens da adubação verde são, principalmente, o aumento da infiltração da água, pois, a chuva não vai incidir diretamente no solo, a diminuição de ervas daninhas, maior atividade biológica, e maior economia de fertilizantes e defensivos agrícolas. Seganfredo et al. (1997), avaliaram vários sistemas em rotação de cultura em plantio direto utilizando gramíneas e leguminosas e concluíram que estes foram eficazes no controle da erosão hídrica, proporcionando uma redução superior a 99 % nas perdas de solo e 94 % nas perdas de água em relação às perdas verificadas no solo descoberto. A prática da adubação verde não promove resultados imediatos. Por depender principalmente das condições do solo, somente apresenta-se satisfatória após dois ou mais anos de uso (Scaranari, 1957 e Chagas, 2001). Plantio direto O sistema de plantio direto ou sem preparo, consiste na semeadura das culturas sem preparar o solo, isto é, sem que haja mobilização do solo por arado, grade ou qualquer tipo de implemento. O único tipo de preparo do solo que pode ocorrer no plantio direto é uma faixa estreita, aberta no solo com o propósito único, para colocação do adubo e a semente nas linhas de semeadura. A eliminação das ervas daninhas, tanto pode ser feita com aplicação de herbicidas, quanto por capinas manuais ou qualquer outro meio manual ou mecânico. O plantio direto fornece ao produtor diversas vantagens: maior controle da erosão; melhor manutenção da umidade do solo; manutenção da matéria orgânica do solo; manutenção e melhoria da estrutura do solo; melhoria da germinação das sementes; melhor desenvolvimento das plantas; menor trabalho e menor custo de produção; aumento do tempo de vida útil das máquinas; minimizar a necessidade do replantio; minimizar as perdas de insumos pela enxurrada; reduz a temperatura do solo; proporciona maior atividade biológica; melhora a fertilidade do solo e a reciclagem de nutrientes; diminui a lixiviação de nutrientes, entre outros. Dentre os demais sistemas de cultivo, o plantio direto destaca-se como um sistema efetivo para o controle das perdas de solo e água sob as diferentes condições climáticas; melhora a interação entre o homem e a natureza; preservação de solos produtivos e recuperação de recursos hídricos; proteção da biodiversidade; diminuição da utilização de combustíveis fósseis e maior facilidade e flexibilidade operacional para superar as irregularidades climáticas. Entretanto, alguns impedimentos podem interferir no potencial produtivo das áreas que o utilizam. A compactação superficial do solo, motivada pela ausência de revolvimento, e a freqüência de tráfego, constitui-se um dos principais problemas (Silva, 1998). Segundo Ribeiro et al. (1996), o plantio direto é uma alternativa viável aos pequenos produtores. Todavia, a adoção do sistema não deve estar vinculada a um “pacote tecnológico”, e sim, à compreensão de princípios básicos que permitam ao agricultor decidir sobre a melhor forma de realiza-lo. CONCLUSÕES A agricultura de mercado com vistas à exportação, aliada a política de obtenção de lucros imediatos, condicionou o produtor às praticas agrícolas inadequadas de mecanização e à utilização desequilibrada e desnecessária de adubos químicos e corretivos, em prejuízo de um adequado uso, manejo e conservação do solo e da própria economia. Como foi abordado neste trabalho sobre os prejuízos na produtividade das terras causado por vários fatores e da necessidade de sua manutenção em favorecimento à existência da vida no planeta, urge então a obrigatoriedade da adoção de medidas técnicas conservacionistas que assegurem o uso eficiente do solo e dos recursos naturais, buscando-se o equilíbrio entre a agricultura e o meio ambiente. Rotação de culturas em plantio direto utilizando espécies com características diferentes em sua composição e morfologia, aliada ao manejo correto do solo, faz com que ele seja biologicamente mais ativo com maior potencial produtivo. Efeitos positivos se deve a conjunto de fatores como, entre outros, proteção do solo mediante a sua cobertura viva ou morta, maior retenção de umidade, efeito rizosférico das culturas, melhores condições físicas do solo e outros benefícios diretos e, ou indiretos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHAGAS, N. G. Efeito de leguminosas e seu manejo sobre propriedades químicas e físicas de um Latossolo Amarelo no Brejo Paraibano. Areia – PB: CCA. UFPB, 2001. 67 p. Trabalho de Graduação (Graduação em Agronomia). Universidade Federal da Paraíba. RIBEIRO, M. de F. S. et al. O plantio direto na região de mata de araucária. In: O solo nos grandes domínios morfoclimáticos do Brasil e o desenvolvimento sustentado. ViçosaMG: SBCS; UFV, DPS, 1996. p. 201 – 216. SCARANARI, H. J. Adubação verde. B. Inf. SSC, v. 32, p. 41 - 42, 1957. SEGANFREDO, M. L.; ELTZ, F. L. F.; BRUM, A. C. R. de. Perdas de solo, água e nutrientes por erosão em sistemas de culturas em plantio direto. R. Bras. Ci. Solo, Campinas, 21:287-291, 1997. SILVA, I. de F. da. Apostila de manejo e conservação do solo e água. Areia - PB: UFPB/CCA, DSER, 1998. 100 p.