Avaliação microbiológica de massas de bolos pré-prontas (mix) sem glúten e comercializados na região sudoeste do Paraná Bruna Letícia Zibetti(PIBIC/Fundação Araucária/PRPPG), Kérley Braga Pereira Bento Casaril (Orientador) [email protected] Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Centro de Ciências da Saúde/Francisco Beltrão, PR. Ciências Agrárias - Ciência e Tecnologia de Alimentos. Palavras-chave: Doença Celíaca, Micro-organismos, Segurança alimentar Resumo A Doença Celíaca é uma enteropatia intestinal autoimune, desencadeada pela exposição ao glúten principal fração proteica presente em cereais como trigo, cevada e centeio cujo tratamento, basicamente dietético, consiste na exclusão desta proteína da dieta. Com o objetivo de avaliar a qualidade sanitária de massas de bolos pré-prontas (mix) sem glúten comercializado no município de Francisco Beltrão, Paraná, cinco (05) amostras foram submetidas às seguintes análises microbiológicas: contagem de coliformes totais, coliformes termotolerantes e Escherichia coli, contagem de mesófilos aeróbios totais, contagem de bolores e leveduras, pesquisa de Salmonella sp., contagem de Staphyloccocus sp. e pesquisa de Staphylococcus coagulase positiva. Das amostras analisadas 100% estavam contaminadas com bolores e leveduras e as contagens variam de 1,2 x 10 2 a 1,4 x 104 UFC/g. Todas as amostras atenderam a legislação quanto à presença de coliformes termotolerantes e Salmonella sp. Introdução As síndromes disarbsortivas são um grupo de doenças em que existe algum distúrbio fisiopatológico que interfere nos processos de digestão e de absorção. Neste grupo sindrômico está incluindo aquelas doenças que possui a incapacidade de absorver glúten. A Doença Celíaca (DC) é uma enteropatia intestinal autoimune, desencadeada pela exposição ao glúten na dieta cujo tratamento, basicamente dietético, consiste na exclusão desta proteína da dieta (SDEPANIAN et al., 2001) A doença celíaca é mais frequente em indivíduos brancos, de origem dos países anglo-saxônicos e acomete indivíduos de qualquer idade e sexo, predominando o sexo feminino (COELHO, 2005). Embora os dados estatísticos oficiais sejam desconhecidos estima-se que existam 300 mil brasileiros portadores da doença, com maior incidência na Região Sudeste (ARAÚJO et al., 2010). Um estudo realizado com pacientes que fazem parte da Associação dos Celíacos Brasileiros (ACELBRA) relevou um quadro clínico de 96,0% com diarreia, 93,4% emagrecimento, 90,4% barriga inchada, 68,1% anemia, 59,6% vômitos e 5,1% pneumonia (SDEPANIAN et al., 2001). Como o tratamento da doença celíaca é substanciado no tipo de nutrição que este paciente apresenta é imprescindível que os alimentos sem glúten que estes ingerem além da qualidade nutricional, sejam seguros do ponto de vista higiênico-sanitário, pois a contaminação desses alimentos com micro-organismos patogênicos pode causar toxinfecção que se associada à síndrome disarbsortiva pode agravar o quadro do paciente com doença celíaca. Mediante o exposto, este estudo teve como objetivo a avaliar a qualidade sanitária de massas de bolos pré-prontas (mix) sem glúten comercializado no município de Francisco Beltrão – PR. Material e Métodos Para a realização das análises, cinco (05) amostras de massas de bolos préprontas (mix), sem glúten de diferentes marcas comerciais foram adquiridos em supermercados do município de Francisco Beltrão, no mês de março de 2016. As amostras foram adquiridas dentro do prazo de validade estipulado nas embalagens pelo fabricante. No Laboratório de Biologia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná foram submetidas às seguintes análises microbiológicas, segundo Brasil (2003): contagem de coliformes totais, coliformes termotolerantes e Escherichia coli, contagem de mesófilos aeróbios totais, contagem de bolores e leveduras, pesquisa de Salmonella sp., contagem de Staphyloccocus sp. e pesquisa de Staphylococcus coagulase positiva. Todas as análises foram realizadas segundo a metodologia preconizada por Silva et al. (2010). As análises foram realizadas com duas repetições e duas replicatas. Resultados e Discussão Os resultados das análises são apresentados na Tabela 1. Apesar da legislação brasileira vigente (BRASIL, 2001) não possuir padrão para estes produtos para a contagem de mesófilos aeróbios totais, contagem de bolores e leveduras, contagem de Staphyloccocus sp. e pesquisa de Escherichia coli tais análises foram realizadas visando verificar quais micro-organismos estão presentes nas massas de bolos pré-prontas (mix) sem glúten. Os resultados das análises microbiológicas indicam que todas as massas de bolos pré-prontas (mix) sem glúten estão de acordo com os padrões estabelecidos pela RDC n. 12 (BRASIL, 2001). Os valores determinados para todas as amostras estiveram abaixo de 100 UFC/g, para contagem de coliformes termotolerantes, além da ausência da Salmonella sp. em 25 g da amostra. A presença de coliformes nos alimentos é relevante para indicar se houve algum foco de contaminação durante o processo de fabricação ou após processamento. Estes micro-organismos são utilizados como indicadores, ou seja, quando presentes em um alimento, podem informar sobre a ocorrência de contaminação fecal, provável presença de patógenos, deterioração potencial de um alimento, ou ainda indicar condições sanitárias deficientes durante o processamento, produção ou armazenamento (DANTAS et al., 2012). Tabela 1. Número mais provável (NMP) de coliformes totais e de coliformes termotolerantes, contagem de bolores e leveduras (UFC/g) e Staphylococcus sp. (UFC/g) em mistura de bolo sem glúten comercializados no município de Francisco Beltrão, PR. Coliformes Coliformes Bolores e Staphylococcus sp. Amostras Totais termotolerantes leveduras (UFC/g) (NMP/g) (NMP/g) (UFC/g) A 93 0 1,4 x 104 Ausência B 0 0 1,2 x102 Ausência 3 C 75 0 1,8 x10 Ausência D >1100 3 2,5 x102 Presença E 93 14 1,3 x103 Ausência As duas amostras que apresentaram resultados positivos para coliformes termotolerantes, mesmo estando dentro dos padrões estabelecidos pela RDC n. 12 (BRASIL, 2001) foram avaliadas para a presença de Escherichia coli e ambas apresentaram resultados negativos. Escherichia coli é o principal micro-organismo gram-negativo anaeróbio facultativo da microbiota intestinal normal e possui uma tendência intrínseca de modificar-se de micro-organismo comensal para um patógeno oportunista (SOUSA et al., 2006). Esta característica acaba sendo determinante para um paciente que já apresenta uma doença autolimitante para alimentos, como a Doença Celíaca, pois ao ingerir alimentos que contêm E. coli que não faz parte da própria biota intestinal pode desenvolver uma relação patógena no próprio intestino, intensificando ainda mais a síndrome disabsortiva presente no paciente celíaco. As cinco amostras analisadas estavam contaminadas com bolores e leveduras (Tabela 1) e as contagens variam de 1,2 x 10 2 a 1,4 x 104UFC/g. Embora a legislação vigente não estabeleça padrões para esses micro-organismos neste tipo de alimento, a presença excessiva dos mesmos fornece informações, tais como condições higiênico-sanitárias deficientes que resulta na deterioração ou redução da vida útil do alimento e, além disso, pode tornar-se um perigo à saúde pública, pois segundo Gimeno (2000) e Dantigny et al. (2005) a composição de produtos à base de cereais pode ser considerado um substrato ideal para o crescimento de fungos e produção de micotoxinas. Do total de amostras analisadas, uma (01) apresentou resultados positivo para a presença de Staphylococcus sp. Apesar da RDC n. 12 (BRASIL, 2001) não estabelecer padrões para esses micro-organismos neste tipo de alimento a avaliação da presença de Staphylococcus sp. é relevante pelo fato de microorganismos pertencentes a este gênero, como Staphylococcus aureus, estarem relacionado com surtos de intoxicação alimentar. Vale destacar que havendo no alimento condições favoráveis para a multiplicação do Staphylococcus aureus, em poucas horas, certas cepas produzem uma toxina termoestável que é responsável pelo quadro clínico de intoxicação que tem início dentro de 1-6 horas após a ingestão do alimento e são caracterizados por náusea, vômito, espasmo abdominal e diarreia. Nos casos mais graves pode haver presença de muco e sangue no vômito e nas fezes. A intoxicação estafilocócica pode ser fatal para recém-nascidos e pessoas idosas além de pessoas que já apresentam algum comprometimento histológico intestinal, como na doença celíaca (RADDI et al., 1988). Conclusões Mediante aos parâmetros microbiológicos analisados podemos concluir que amostras de massas de bolos pré-prontas (mix) sem glúten analisadas apresentam adequada qualidade microbiológica em relação aos coliformes termotolerantes e Salmonella sp. A contagem de bolores e leveduras e a presença de Staphylococcus sp. pode ser um indício de condições higiênico-sanitárias inadequadas durante o processamento. Diante desses resultados, conclui-se que há necessidade de maior controle de qualidade desde a aquisição da matéria-prima até ao produto acabado, adotando-se rigorosamente as Boas Práticas de Fabricação. Agradecimentos Ao Programa de Bolsas de Iniciação Científica PIBIC/FUNDAÇÃO ARAUCÁRIA/PRPPG, à Unioeste – Campus de Francisco Beltrão e aos funcionários do Laboratório de Microbiologia da Unioeste – Campus de Francisco Beltrão. Referências Araújo, H.M.C., Araujo, W.M.C., Botelho, R.B.A., Zandonadi, R.P. (2010) Doença celíaca, hábitos e práticas alimentares e qualidade de vida. Revista Nutrição [online]. 23, 467-474. Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução nº 12, de janeiro de 2001. Regulamento técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos. Diário Oficial [da] Republica Federativa do Brasil, Brasília, 10 jan. 2001, n. 7-E, Seção 1. Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 62, de 26 de agosto de 2003. Oficializa os métodos analíticos oficiais para análises microbiológicas para controle de produtos de origem animal e água. 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