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Impactos Socioespaciais da Intervenção Urbana aos
Ribeirinhos da Cidade de Manaus – AM
Silvana Lima da Silva (Universidade Federal do Amazonas)
Graduanda do Curso de Geografia, Pesquisadora Bolsista do FAPEAM
[email protected]
Marcos Castro de Lima (Universidade Federal do Amazonas)
Mestre, Professor e Pesquisador do Departamento de Geografia
[email protected]
Resumo
Nos últimos 30 anos ocorreu um crescimento urbano considerável na cidade de Manaus, a
população que quintuplicou de 1970 a 2003, passando de 300.000 habitantes para quase 1,5
milhões, ocasionou inúmeras ocupações desordenadas do ponto de vista urbanístico na cidade.
Tal crescimento tem por reflexo as ocupações nas margens dos igarapés, especialmente na área
central e bairros adjacentes, dentre os quais o igarapé denominado Mestre Chico. A maioria das
famílias residentes as margens desses igarapés vivem em palafitas ou casebres, morando em
condições desfavoráveis. Atualmente a solução tomada pelo Governo do Estado para os igarapés
foi o PROSAMIM (Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus), com prazo de
execução estimada em oito anos sendo que a primeira fase, analisada na presente pesquisa, tem
a duração de quatro anos e se concentra na Bacia Hidrográfica Urbana do Educandos-Quarenta
que ocupa a parte sul da cidade passando por dois bairros populares já consolidados que
retomam o século XIX, Cachoeirinha e Educandos e a parte leste da periferia próxima ao centro
com a remoção dessas famílias para outras áreas, através de indenizações, cartas de crédito e
conjuntos habitacionais construídas pelo governo. Tal análise visa oferecer elementos que
possibilitem repensar estratégias de intervenções urbanas visando corrigir distorções observadas
no processo, sobretudo no concernente ao deslocamento das pessoas que habitam as margens e
o leito desses igarapés, concentrando as observações no Mestre Chico. Neste sentido,
compreender a dinâmica da mobilidade provocada pelo Projeto Prosamim pode apontar para o
estabelecimento de políticas públicas menos tecnocráticas, buscando entender a visão que o
cidadão tem do e com o lugar.
Palavra Chave
Ribeirinhos, Urbanismo, Impactos Sociespaciais
Introdução
A cidade de Manaus é cortada por uma extensa rede de drenagem, formada por igarapés que
Aziz Ab´Saber conceitua, em termos de rede hidrográfica, como “cursos d´água amazônicos de
primeira ou segunda ordem, componentes primários de tributação de rios pequenos, médios e
grandes” (2003, p. 72). No caso dos igarapés que cruzam a cidade pode-se considerar como
lugares integrados de modos sucessivos e simultâneos às novas lógicas e dimensões de como a
cidade está sendo construída, que explicita as contradições e as desigualdades sociais,
concretizadas em desigualdades socioespaciais. Dessa forma, o objetivo geral desta pesquisa
visa compreender a dinâmica da implantação e execução do Programa Social e Ambiental dos
Igarapés de Manaus (PROSAMIM), em fase de execução, bem como identificar, caracterizar e
analisar os impactos socioespaciais, no que concerne ao deslocamento dos moradores das
margens do Igarapé Mestre Chico, decorrentes da implantação do programa. Este programa de
intervenção urbana governamental da cidade de Manaus tem forte interferência nas áreas de
Igarapés da cidade.
Trata-se de um programa com vários projetos com prazo de execução estimado em oito anos,
sendo que a primeira fase, objeto dessa pesquisa, tem a duração de quatro anos e se concentra
na Bacia Hidrográfica Urbana do Educandos-Quarenta que ocupa a parte sul da cidade passando
por dois bairros populares já consolidados que retomam o século XIX, Cachoeirinha e Educandos
e a parte leste da periferia próxima ao centro. Tal estudo visa oferecer elementos que possibilitem
repensar estratégias de intervenções urbanas visando corrigir distorções observadas no processo,
sobretudo no concernente ao deslocamento das pessoas que habitam as margens e o leito
desses igarapés, concentrando as observações no Mestre Chico.
Para tal, os objetivos específicos resumem-se em identificar que tipo de medidas estão sendo
tomadas no que se refere ao deslocamento dos moradores do Igarapé Mestre Chico, na cidade de
Manaus; compreender como essas medidas de remoção estão afetando a vida da população
residente; entender, a partir do deslocamento e das obras, as mudanças que ocorrerão na
paisagem do igarapé Mestre Chico.
1. A Manaus Pretérita
Damos inicio a nossas considerações sobre Manaus utilizando a assertiva de Milton Santos
quando afirma que “Nenhum estudo de geografia urbana que se respeite pode começar sem
alusão à história da cidade, às vezes até de forma abusiva.”(1996, p.69). Isso pode ser aplicado
numa cidade como Manaus, especialmente pelo fato de essa cidade possuir características tão
marcantes e únicas como Manaus. Uma cidade estabelecida no meio da floresta, a partir do forte
de São José do Rio Negro, passando a ser um aglomerado, e, posteriormente, tornou-se vila e
cidade.
O espaço urbano de Manaus foi construído seguindo influencias européias, na arquitetura e na
disposição inicial do desenho urbano, resultado do processo de colonização. A influência do meio
natural também foi significativa no estabelecimento do espaço urbano de Manaus, pois
acompanha os cursos dos igarapés que compõem a extensa rede de drenagem de seu sítio
urbano, primeiramente para o leste e posteriormente para o norte.
A colonização européia não só estabeleceu um espaço seguindo suas influências no Amazonas,
como também teve caráter destruidor das características naturais e culturais da região. Ainda
como Vila da Barra, não foram notados, grandes acontecimentos até a transferência da
administração de Lôbo d’Almada de São José do Rio Negro para a vila. A partir de então segundo
Monteiro (1994) a cidade passou por importantes construções, com o estabelecimento de edifícios
públicos até fábricas e escolas de artes, tornando-se assim, o maior administrador que a
Amazônia teve no período colonial.
Em 25 de julho de 1833, Manaus passa a condição de Vila, essa elevação de categoria ocorreu
em 21 de dezembro de 1833. E mesmo estando no momento sob as dependências da Província
do Pará, mais uma vez, teve um rápido crescimento recebendo o título de Cidade pela Lei nº 145
da Assembléia Provincial do Pará, no dia 24 de outubro de 1848, passando a se chamar de
Cidade da Barra do Rio Negro. Em 01 de janeiro de 1852, pela Lei nº 582 de 05 de setembro de
1850, foi criada a Província do Amazonas.
Segundo Monteiro (1994, p. 53), “Somente ao iniciarmos o período provincial é que Manaus
adquire certa aparência ostensiva de urbanismo, quando a rua se define como um traço-de-união
entre a casa e o “mar” ou entre a casa a campina ou o monte”. Antes mesmo da gestão de
Eduardo Ribeiro, já havia uma preocupação com os problemas urbanísticos na cidade, utilizando
o aterro como forma de planejamento, muito embora outros autores afirmem que tal processo
ocorreu mesmo a partir de Eduardo Ribeiro.
A densa rede de drenagem da cidade de Manaus formava de maneira marcante a principal
característica da cidade. Os curso dos igarapés que adentravam a mata modelavam o sítio urbano
interferindo na construção do espaço e na forma da cidade.
Segundo Mesquita (2006), mesmo as preocupações com problemas urbanísticos terem sido
iniciadas antes da gestão de Eduardo Ribeiro, foi a partir daí que realmente a cidade recebeu
nova afeição e embelezamento. E mesmo com o fim de seu governo, muitas obras iniciadas e
inacabadas em sua administração, foram concluídas pela política de embelezamento
implementada por ele, e que após seu Governo, foi implementada por seus sucessores.
As modificações ocorridas em Manaus não se restringiram apenas ao espaço urbano e suas
construções, mas também na cultura e no meio ambiente. Os igarapés que supriam as
necessidades da população, tanto por meio de navegação como por abastecimento dos
moradores, aos poucos, foram desaparecendo e sendo transformadas em ruas e avenidas da
cidade. As atividades realizadas nos leitos e canais de igarapés de forma inadequada podem
causar danos irreversíveis ao meio ambiente, ou até mesmo exterminar igarapés como ocorreu e
ocorre atualmente na cidade de Manaus, a partir das obras de intervenção.
2. O Espaço Urbano Atual de Manaus
Conforme a discussão já realizada no estudo, e baseados ainda na afirmação de Santos (1994),
“a partir dos anos 1970, o processo de urbanização alcança novo patamar, tanto do ponto de vista
quantitativo, quanto do ponto de vista qualitativo” (p. 69), conforme pode ser observado,
comparando as figuras 1 e 2 da cidade de Manaus.
Figura 1 - Imagem de satélite da cidade de
Manaus do ano de 1986. Fonte: INPA
Figura 2 - Imagem de satélite da cidade de
Manaus do ano de 2003. Fonte: INPA
Com o crescimento populacional e urbanístico que ocorreu de forma significativa na cidade,
resultante do estabelecimento da Zona Franca de Manaus, a cidade sofreu varias ocupações em
áreas pouco apropriadas para tal, consideradas de risco social e ambiental. O Governo do Estado,
como forma de intervenção nos igarapés, tomou medidas, no que concerne às famílias que
habitam as margens desses cursos d’água, construindo habitacionais, que deslocariam esses
moradores, para áreas localizadas na zona norte da cidade, ou apartamentos construídos
próximos à área afetada pela intervenção. O Programa Social e Ambiental dos Igarapés de
Manaus, cuja fonte de recursos financeiros é o Banco Interamericano de Desenvolvimento BID
(70%) e o Governo do Estado do Amazonas (30%), totalizando o valor 200 milhões de dólares,
são destinados a recuperação urbanística dos igarapés da cidade. Seu objetivo é promover a
melhoria paisagística das margens dos cursos d’água, atualmente ocupados por palafitas, que
cortam boa parte da cidade de Manaus.
Segundo o Governo do Estado cerca de 21.000 famílias ribeirinhas, algo em torno de 105.000
habitantes, será beneficiada diretamente pelo Programa, cujo discurso de legitimação é composto
por profissionais como Assistentes Sociais e Ambientais, Engenheiros Civis e Agentes
Institucionais, que contribuem para as ações previstas de melhoria das condições sanitárias e
redução da incidência de enfermidades de veiculação hídrica, melhoria das condições ambientais
e habitacionais, mediante saneamento e recuperação das áreas inundáveis durante as épocas de
chuvas e cheias do Rio Negro.
O Programa conta com parcerias Governamentais e Não Governamentais, sendo estas: Prefeitura
Municipal de Manaus, Manaus Energia, Águas do Amazonas, Órgãos do Governo do Estado
(IPAAM, ARSAM, SUSAM, SETHAB, SUHAB) e Suframa.
A área piloto de abrangência do Programa, a Bacia do Educandos, foi escolhida por apresentar
maior densidade populacional, localizada abaixo da maior cota de referência de inundação do rio
Negro (30,00 m). Além disso, nessa área há maior ocorrência de doenças de veiculação hídrica,
causadas pelo lançamento dos esgotos e resíduos sólidos domésticos e industriais “in natura”.
A Bacia dos Educandos com 3.833,80 hectares de área, localizada na porção sudeste da cidade,
abrange parte do Centro e os bairros Praça 14, Cachoeirinha, São Francisco, Petrópolis, Raiz,
Japiim, Coroado, Educandos, Colônia Oliveira Machado, Santa Luzia, Morro da Liberdade, São
Lázaro, Betânia, Crespo, Armando Mendes, Zumbi dos Palmares e 80% do Distrito Industrial.
Figura 3 - Rede de drenagem da cidade de Manaus, com a
Bacia do Educandos em destaque. Fonte: Emadina/ INPA.
A imagem acima mostra a Bacia do Educandos, constituída por 33 igarapés, com uma extensão
total de 48,54 km. Seu leito principal tem 12,84 km, seus igarapés são Educandos, Quarenta e
Armando Mendes (destaques em linhas azuis da imagem). Seus afluentes têm 35,70 km e são
compostos pelos igarapés de Manaus, Bittencourt, Mestre Chico, Cajual, Liberdade, Cachoeirinha,
Betânia, Raiz, Vovó, Freira, Japiim, Buriti, Semp, 31 de Março, Javari, Campus II, Ibiurana,
Campus I, Ipê, Copiúba, Nova República, Porco, Chaminé, Sharp, Acariquara, Zumbi 1, Zumbi 2.
Sabe-se que esse Programa não afeta apenas a vida cotidiana dos moradores, mas está também
relacionado diretamente com a estrutura organizacional urbana da cidade de Manaus. É certo que
a organização espacial da cidade é o resultado acumulado das ações humanas ocorridas no
tempo, formando espaços que logo serão parte de um processo de que se refaz sempre no
espaço urbano. Pode-se confirmar isso com Spósito (2000, p. 11) ao afirmar que: “A cidade de
hoje, é o resultado cumulativo de todas as outras cidades de antes, transformadas, destruídas,
reconstruídas, enfim, produzidas pelas transformações sociais ocorridas através dos tempos”.
O processo de ocupação das margens dos igarapés em Manaus está diretamente relacionado a
uma estrutura social desigual, o que invariavelmente vai remeter aos problemas relacionados à
habitação, levando as pessoas mais pobres a ocuparem essas áreas proibidas por lei. Dentre as
diversas causas para esse tipo de ocupação inadequada, encontra-se ainda o crescente numero
da população residente em Manaus.
No que tange ao espaço urbano desigual, Corrêa (2005, p.11) aponta que é “Primeiramente um
reflexo social e fragmentado, o espaço urbano é profundamente desigual: a desigualdade
constitui-se em característica própria do espaço urbano capitalista”. A questão da desigualdade
social vai além do que simplesmente áreas habitacionais segregadas, visto encontrar-se também
em outros aspectos como o direito à circulação, sobretudo no que concerne ao transporte público,
habitações dignas, escolas, hospitais e segurança pública, aspectos que dão o sentido da
cidadania na ocupação do espaço urbano, mas que não são iguais para todos os moradores de
uma cidade.
A dificuldade do acesso aos serviços públicos é realidade de grande parte dos bairros na cidade
de Manaus, sendo que a deficiência dos transportes públicos e a logística de trajetória dos
mesmos são apontadas como os principais descontentamentos dos moradores que foram
transferidos da área do igarapé Mestre Chico para o Conjunto Habitacional Nova Cidade, uma das
áreas destinadas aos removidos.
O arranjo espacial produzido pelo homem é feito de forma que possa atender seus interesses,
diga-se, sobretudo, interesses de classe. Desse modo não se pode dar menos importância sobre
apenas alguns aspectos do uso da terra, como aqueles relacionados à estética da paisagem, pois
questões que dizem respeito a remoção e relocação de pessoas envolvem também modos de
vida, histórias e sentimento de pertencer ao lugar. Tais aspectos não podem ser olvidados nas
políticas públicas urbanas.
Isto posto, por tratar-se de pessoas que estão há muito tempo na localidade, é importante que se
considere sua identidade com o lugar, mesmo que para os padrões convencionais do urbanismo
este não seja adequado para o morar, já que essa identidade se constitui a partir da dialética da
diferença e igualdade, o que pode ser interpretado como as relações que vão se estabelecendo
através do indivíduos entre si e com o meio em que vivem. Esta e uma das dimensões que se
busca neste trabalho.
O espaço é produzido pela sociedade, e a partir desse pressuposto este estudo focaliza a relação
morador/lugar, realizado no Igarapé Mestre Chico localizado na parte sul, compreendendo o
centro da cidade de Manaus, tendo como contexto o processo de intervenção e remoção que se
esta realizando por meio do PROSAMIM.
A área delimitada para o estudo, está localizada próxima a um patrimônio histórico de grande
importância para o bairro da Cachoeirinha e para a cidade como um todo: A Ponte Metálica
Benjamim Constant. A pesquisa busca através dos estudos na referida área, analisar a formação
da identidade necessária para compreender a história, o modelo de sociedade e o espaço daí
resultante, analisando a importância que essas áreas alagadiças tem para as pessoas residentes
no local. Para tanto, importa a análise da identidade que cada morador possui com o lugar, que se
estabelece de modo dinâmico, resultante das varias experiências sociais das quais os sujeitos
participam, se atualizando constantemente nas relações sociais. Dessa forma, há a necessidade
do estudo, social e simbólico do morador com o lugar, sendo que a pesquisa esta sendo realizada
com base no Prosamim e nas propostas oferecidas aos moradores do igarapé Mestre Chico, que
quase sempre refletem uma geografia urbana desigual. Este aspecto e externado, sobretudo, nas
questões que envolvem a moradia, onde a mudança na paisagem não reflete necessariamente a
melhoria das condições ambientais e sociais de forma ampla e eqüitativa, mesmo que essa
mudança ocorra da forma bastante rápida, como pode ser observadar próxima figura.
Figura 4 - a)Mestre Chico, 2003; b)Obras, 2006; c)Obras, 2007;
d)Projeção da área feita pelo PROSAMIM. Fonte: Departamento de
Engenharia do PROSAMIM.
Após a analise feita pelo Prosamim na área, as propostas destinadas aos moradores, corresponde
às características físicas e estruturais de cada moradia. Para cada tipo de casa, existe um tipo de
proposta, que são levadas aos residentes, como imposições a serem aceitas, pois não há
alternativa fora daquelas estabelecidas pelo Programa, tão pouco os moradores foram ouvidos.
OPÇÕES DE REASSENTAMENTO
01 CARTA DE CRÉDITO NO VALOR DE R$ 21.000,00 ( Vinte e um mil reais)
Destinado aos moradores proprietários de imóveis para compra de uma
regularizada nas proximidades da área de origem.
02 PERMUTA COM UMA CASA EM CONJUNTO HABITACIONAL DO
GOVERNO, DOTADA DE TODA A INFRA-ESTRUTURA E
EQUIPAMENTOS URBANOS
Destinado aos moradores não proprietários que pagam aluguel ou moram
cedido.
03 IDENIZAÇÃO EM DINHEIRO
Destinado a todos os moradores proprietários cujo valor da casa seja
superior ao valor da carta de crédito de 21.000,00 (vinte e um mil reais).
04 UNIDADE HABTACIONAL (APARTAMENTO)
Destinado a moradores que desejam optar por moradias próximo ao local
de remoção.
Tabela 1 - Amostras das Opções de Reassentamento Propostas pelo Prosamim
Fonte: Departamento de Engenharia do PROSAMIM/ 2006.
3. O Cotidiano e os Números no Mestre Chico
Dos 50 formulários já aplicados ate aqui aos moradores do Igarapé Mestre Chico, localizado no
Centro de Manaus, 22 foram respondidos por homens e 28 por mulheres. Todos os entrevistados
estão à espera da retirada de suas casas pelo projeto Prosamim. A enchente, o lixo, o odor fétido,
os insetos e ratos que invadem as casas foram reclamações de 100% dos entrevistados que
vivem às margens do igarapé Mestre Chico. A figura 22 mostra os destroços de uma moradia
destruída no igarapé, em virtude da retirada, justificando as queixas pelo aumento do odor na área,
além de manterem a água praticamente represada para as construções.
Grande parte dos entrevistados está entre 30 e 40 anos, compreendendo 30% do numero total.
Alguns dos entrevistados foram antigos moradores da área, da época onde as moradias eram
instaladas em forma de flutuantes no igarapé, representando 8% dos entrevistados (Gráfico 2).
Idade dos entrevistados
20 a 30 anos
30 a 40 anos
40 a 50 anos
50 a 60 anos
60 a 70 anos
70 a 60 anos
Numero de
entrevistados
12
15
16
3
2
2
Tabela 2 - Perfil Etário dos Entrevistados
Dados obtidos em trabalho de campo realizado nos dias 26/06 e
29/10 de 2006 e dias 10/02 e 16/04 de 2007
Perfil Etário dos Moradores
6%
4%
4%
24%
20 a 30 anos
30 a 40 anos
40 a 50 anos
50 a 60 anos
32%
60 a 70 anos
70 a 80 anos
30%
Gráfico 1 - Gráfico Referente à Tabela 2
São pessoas muito simples que em sua maioria fizeram apenas o ensino fundamental (Gráfico 3),
apenas 2% dos entrevistados cursam ensino superior e 34% não tem escolaridade. A maioria tem
renda salarial de apenas um salário mínimo, para sustentar a família, geralmente de 4 ou 5
pessoas.
Escolaridade dos entrevistados
Fundamental
Médio
Superior
Não tem
Numero de entrevistados
26
17
1
6
Tabela 3 - Escolaridade dos Entrevistados
Dados obtidos em trabalho de campo realizado nos dias 26/06 e 29/10 de
2006 e dias 10/02 e 16/04 de 2007
Escolaridade dos Entrevistados
2%
12%
Fundamental
Médio
52%
34%
Superior
Não tem
Gráfico 2 - Gráfico Referente à Tabela 3
Renda Familiar
0 a 1 salários
1 a 2 salários
2 a 3 salários
Numero de entrevistados
27
18
5
Tabela 4 - Renda Familiar dos Moradores Entrevistados
Dados obtidos em trabalho de campo realizado nos dias 26/06 e 29/10 de 2006 e
dias 10/02 e 16/04 de 2007
Renda Familiar dos Entrevistados
10%
0 a 1 salário
1 a 2 salarios
54%
36%
2 a 3 salarios
Gráfico 3 - Gráfico Referente à Tabela 4
Como a maioria dos moradores entrevistados viveram entre 30 e 40 anos no igarapé do Mestre
Chico (Gráfico 5), muitos, ou melhor, quase todos não querem deixar seu lugar de origem,
mostrando o grau de identidade que, mesmo se tratando de um lugar insalubre do ponto de vista
do saneamento, para os moradores tem um profundo sentimento de pertencer.
A ligação que cada morador entrevistado exerce com o lugar é muito grande. Ao ser perguntado
qual seria a melhor escolha: o Bônus, a Casa no Conjunto Habitacional ou o Apartamento, todos
responderam que a melhor opção seria o bônus porque assim talvez pudessem conseguir uma
casa próximo ao centro. Porém a grande maioria desejaria não sair, pois o valor do bônus não
paga uma moradia próxima ao centro da cidade (área em que vivem). Muitos ressaltavam também,
que seria bom para todos se o Programa restaurasse toda a área do igarapé e suas margens,
para os mesmos retornarem a área posteriormente.
Tempo de moradia
1 a 10 anos
10 a 20 anos
20 a 30 anos
30 a 40 anos
40 a 50 anos
50 a 60 anos
Numero de entrevistados
8
2
9
17
10
4
Tabela 5 - Tempo de Moradia dos Entrevistados
Dados obtidos em trabalho de campo realizado nos dias 26/06 e 29/10 de
2006 e dias 10/02 e 16/04 de 2007
Tempo de Moradia dos Entrevistados
16%
8%
4%
50 a 60 anos
20%
40 a 50 anos
30 a 40 anos
20 a 30 anos
18%
10 a 20 anos
34%
1 a 10 anos
Gráfico 4 - Gráfico Referente à Tabela 5
Neste sentido, a realização da pesquisa e importante na medida em que busca contribuir para que
o estudo ocorra de forma coerente, mostrando como é a vida ribeirinha na cidade de Manaus.
Igualmente, como a intervenção afeta esse viver, enfatizando o ponto de vista daqueles que vivem
os sonhos de desventuras dessa realidade.
Considerações Finais
Manaus, como uma metrópole na região norte não foge aos problemas vivenciados por qualquer
outra grande cidade. Sabemos que esse é um problema global, o aumento demográfico continua
ocorrendo em várias partes do globo e através desta análise é possível comprovar, que Manaus é
mais uma dessas áreas, ocasionando uma serie de problemas ao meio ambiente e a saúde
humana. Porém esses problemas devem ser resolvidos de forma coerente, levando em
consideração a vida daqueles que sofrem com esses problemas relacionados ao crescimento sem
ordenamento urbanístico que ocorre nas metrópoles brasileiras. Não e suficiente apenas deslocar
os ribeirinhos que vivem em áreas de risco para um lugar qualquer longe das margens dos rios,
pois o deslocar carrega consigo a desterritorialização, tão cara a quem muda de lugar e perde os
referenciais. É necessária a melhoria de qualidade de vida como um todo no espaço urbano e não
apenas do ponto de vista da mudança na paisagem, pois outros aspectos como hospitais, escolas,
empregos, também são fundamentais a toda essa população ribeirinha que vive no espaço urbano,
especialmente nos igarapés de Manaus.
Construções de habitacionais, longe de equipamentos essenciais à qualidade de vida, e
principalmente longe do lugar onde estabeleceu uma espacialidade resultante da história de vida
de cada pessoa ou família que se estabeleceu às margens dos igarapés, não vão melhorar a vida
dessas pessoas, pelo contrario, pode marginalizar e excluir ainda mais os que já são excluídos.
Não se questiona aqui o fato de se tomar a iniciativa de sanear e estabelecer uma paisagem mais
amena em torno dos igarapés, pois isso é até benéfico para a cidade como um todo. O que
estamos questionando são os critérios estabelecidos para a remoção dos habitantes dessas
margens, que estão sendo deslocados como se não possuíssem referenciais e identidade com o
lugar em que vivem.
A remoção deve obedecer às especificidades de cada família, como: grau de dependência em
relação à área em que habitam (trabalho principalmente), redes de relações sociais (laços de
solidariedade) e nível de identidade com o local. Esses critérios, se observados, podem elevar a
qualidade das políticas públicas urbanas, mesmo aquelas em que a remoção de pessoas é
imprescindível, como é o caso do Prosamim.
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