Impactos Socioespaciais da Intervenção Urbana aos Ribeirinhos da Cidade de Manaus – AM Silvana Lima da Silva (Universidade Federal do Amazonas) Graduanda do Curso de Geografia, Pesquisadora Bolsista do FAPEAM [email protected] Marcos Castro de Lima (Universidade Federal do Amazonas) Mestre, Professor e Pesquisador do Departamento de Geografia [email protected] Resumo Nos últimos 30 anos ocorreu um crescimento urbano considerável na cidade de Manaus, a população que quintuplicou de 1970 a 2003, passando de 300.000 habitantes para quase 1,5 milhões, ocasionou inúmeras ocupações desordenadas do ponto de vista urbanístico na cidade. Tal crescimento tem por reflexo as ocupações nas margens dos igarapés, especialmente na área central e bairros adjacentes, dentre os quais o igarapé denominado Mestre Chico. A maioria das famílias residentes as margens desses igarapés vivem em palafitas ou casebres, morando em condições desfavoráveis. Atualmente a solução tomada pelo Governo do Estado para os igarapés foi o PROSAMIM (Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus), com prazo de execução estimada em oito anos sendo que a primeira fase, analisada na presente pesquisa, tem a duração de quatro anos e se concentra na Bacia Hidrográfica Urbana do Educandos-Quarenta que ocupa a parte sul da cidade passando por dois bairros populares já consolidados que retomam o século XIX, Cachoeirinha e Educandos e a parte leste da periferia próxima ao centro com a remoção dessas famílias para outras áreas, através de indenizações, cartas de crédito e conjuntos habitacionais construídas pelo governo. Tal análise visa oferecer elementos que possibilitem repensar estratégias de intervenções urbanas visando corrigir distorções observadas no processo, sobretudo no concernente ao deslocamento das pessoas que habitam as margens e o leito desses igarapés, concentrando as observações no Mestre Chico. Neste sentido, compreender a dinâmica da mobilidade provocada pelo Projeto Prosamim pode apontar para o estabelecimento de políticas públicas menos tecnocráticas, buscando entender a visão que o cidadão tem do e com o lugar. Palavra Chave Ribeirinhos, Urbanismo, Impactos Sociespaciais Introdução A cidade de Manaus é cortada por uma extensa rede de drenagem, formada por igarapés que Aziz Ab´Saber conceitua, em termos de rede hidrográfica, como “cursos d´água amazônicos de primeira ou segunda ordem, componentes primários de tributação de rios pequenos, médios e grandes” (2003, p. 72). No caso dos igarapés que cruzam a cidade pode-se considerar como lugares integrados de modos sucessivos e simultâneos às novas lógicas e dimensões de como a cidade está sendo construída, que explicita as contradições e as desigualdades sociais, concretizadas em desigualdades socioespaciais. Dessa forma, o objetivo geral desta pesquisa visa compreender a dinâmica da implantação e execução do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (PROSAMIM), em fase de execução, bem como identificar, caracterizar e analisar os impactos socioespaciais, no que concerne ao deslocamento dos moradores das margens do Igarapé Mestre Chico, decorrentes da implantação do programa. Este programa de intervenção urbana governamental da cidade de Manaus tem forte interferência nas áreas de Igarapés da cidade. Trata-se de um programa com vários projetos com prazo de execução estimado em oito anos, sendo que a primeira fase, objeto dessa pesquisa, tem a duração de quatro anos e se concentra na Bacia Hidrográfica Urbana do Educandos-Quarenta que ocupa a parte sul da cidade passando por dois bairros populares já consolidados que retomam o século XIX, Cachoeirinha e Educandos e a parte leste da periferia próxima ao centro. Tal estudo visa oferecer elementos que possibilitem repensar estratégias de intervenções urbanas visando corrigir distorções observadas no processo, sobretudo no concernente ao deslocamento das pessoas que habitam as margens e o leito desses igarapés, concentrando as observações no Mestre Chico. Para tal, os objetivos específicos resumem-se em identificar que tipo de medidas estão sendo tomadas no que se refere ao deslocamento dos moradores do Igarapé Mestre Chico, na cidade de Manaus; compreender como essas medidas de remoção estão afetando a vida da população residente; entender, a partir do deslocamento e das obras, as mudanças que ocorrerão na paisagem do igarapé Mestre Chico. 1. A Manaus Pretérita Damos inicio a nossas considerações sobre Manaus utilizando a assertiva de Milton Santos quando afirma que “Nenhum estudo de geografia urbana que se respeite pode começar sem alusão à história da cidade, às vezes até de forma abusiva.”(1996, p.69). Isso pode ser aplicado numa cidade como Manaus, especialmente pelo fato de essa cidade possuir características tão marcantes e únicas como Manaus. Uma cidade estabelecida no meio da floresta, a partir do forte de São José do Rio Negro, passando a ser um aglomerado, e, posteriormente, tornou-se vila e cidade. O espaço urbano de Manaus foi construído seguindo influencias européias, na arquitetura e na disposição inicial do desenho urbano, resultado do processo de colonização. A influência do meio natural também foi significativa no estabelecimento do espaço urbano de Manaus, pois acompanha os cursos dos igarapés que compõem a extensa rede de drenagem de seu sítio urbano, primeiramente para o leste e posteriormente para o norte. A colonização européia não só estabeleceu um espaço seguindo suas influências no Amazonas, como também teve caráter destruidor das características naturais e culturais da região. Ainda como Vila da Barra, não foram notados, grandes acontecimentos até a transferência da administração de Lôbo d’Almada de São José do Rio Negro para a vila. A partir de então segundo Monteiro (1994) a cidade passou por importantes construções, com o estabelecimento de edifícios públicos até fábricas e escolas de artes, tornando-se assim, o maior administrador que a Amazônia teve no período colonial. Em 25 de julho de 1833, Manaus passa a condição de Vila, essa elevação de categoria ocorreu em 21 de dezembro de 1833. E mesmo estando no momento sob as dependências da Província do Pará, mais uma vez, teve um rápido crescimento recebendo o título de Cidade pela Lei nº 145 da Assembléia Provincial do Pará, no dia 24 de outubro de 1848, passando a se chamar de Cidade da Barra do Rio Negro. Em 01 de janeiro de 1852, pela Lei nº 582 de 05 de setembro de 1850, foi criada a Província do Amazonas. Segundo Monteiro (1994, p. 53), “Somente ao iniciarmos o período provincial é que Manaus adquire certa aparência ostensiva de urbanismo, quando a rua se define como um traço-de-união entre a casa e o “mar” ou entre a casa a campina ou o monte”. Antes mesmo da gestão de Eduardo Ribeiro, já havia uma preocupação com os problemas urbanísticos na cidade, utilizando o aterro como forma de planejamento, muito embora outros autores afirmem que tal processo ocorreu mesmo a partir de Eduardo Ribeiro. A densa rede de drenagem da cidade de Manaus formava de maneira marcante a principal característica da cidade. Os curso dos igarapés que adentravam a mata modelavam o sítio urbano interferindo na construção do espaço e na forma da cidade. Segundo Mesquita (2006), mesmo as preocupações com problemas urbanísticos terem sido iniciadas antes da gestão de Eduardo Ribeiro, foi a partir daí que realmente a cidade recebeu nova afeição e embelezamento. E mesmo com o fim de seu governo, muitas obras iniciadas e inacabadas em sua administração, foram concluídas pela política de embelezamento implementada por ele, e que após seu Governo, foi implementada por seus sucessores. As modificações ocorridas em Manaus não se restringiram apenas ao espaço urbano e suas construções, mas também na cultura e no meio ambiente. Os igarapés que supriam as necessidades da população, tanto por meio de navegação como por abastecimento dos moradores, aos poucos, foram desaparecendo e sendo transformadas em ruas e avenidas da cidade. As atividades realizadas nos leitos e canais de igarapés de forma inadequada podem causar danos irreversíveis ao meio ambiente, ou até mesmo exterminar igarapés como ocorreu e ocorre atualmente na cidade de Manaus, a partir das obras de intervenção. 2. O Espaço Urbano Atual de Manaus Conforme a discussão já realizada no estudo, e baseados ainda na afirmação de Santos (1994), “a partir dos anos 1970, o processo de urbanização alcança novo patamar, tanto do ponto de vista quantitativo, quanto do ponto de vista qualitativo” (p. 69), conforme pode ser observado, comparando as figuras 1 e 2 da cidade de Manaus. Figura 1 - Imagem de satélite da cidade de Manaus do ano de 1986. Fonte: INPA Figura 2 - Imagem de satélite da cidade de Manaus do ano de 2003. Fonte: INPA Com o crescimento populacional e urbanístico que ocorreu de forma significativa na cidade, resultante do estabelecimento da Zona Franca de Manaus, a cidade sofreu varias ocupações em áreas pouco apropriadas para tal, consideradas de risco social e ambiental. O Governo do Estado, como forma de intervenção nos igarapés, tomou medidas, no que concerne às famílias que habitam as margens desses cursos d’água, construindo habitacionais, que deslocariam esses moradores, para áreas localizadas na zona norte da cidade, ou apartamentos construídos próximos à área afetada pela intervenção. O Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus, cuja fonte de recursos financeiros é o Banco Interamericano de Desenvolvimento BID (70%) e o Governo do Estado do Amazonas (30%), totalizando o valor 200 milhões de dólares, são destinados a recuperação urbanística dos igarapés da cidade. Seu objetivo é promover a melhoria paisagística das margens dos cursos d’água, atualmente ocupados por palafitas, que cortam boa parte da cidade de Manaus. Segundo o Governo do Estado cerca de 21.000 famílias ribeirinhas, algo em torno de 105.000 habitantes, será beneficiada diretamente pelo Programa, cujo discurso de legitimação é composto por profissionais como Assistentes Sociais e Ambientais, Engenheiros Civis e Agentes Institucionais, que contribuem para as ações previstas de melhoria das condições sanitárias e redução da incidência de enfermidades de veiculação hídrica, melhoria das condições ambientais e habitacionais, mediante saneamento e recuperação das áreas inundáveis durante as épocas de chuvas e cheias do Rio Negro. O Programa conta com parcerias Governamentais e Não Governamentais, sendo estas: Prefeitura Municipal de Manaus, Manaus Energia, Águas do Amazonas, Órgãos do Governo do Estado (IPAAM, ARSAM, SUSAM, SETHAB, SUHAB) e Suframa. A área piloto de abrangência do Programa, a Bacia do Educandos, foi escolhida por apresentar maior densidade populacional, localizada abaixo da maior cota de referência de inundação do rio Negro (30,00 m). Além disso, nessa área há maior ocorrência de doenças de veiculação hídrica, causadas pelo lançamento dos esgotos e resíduos sólidos domésticos e industriais “in natura”. A Bacia dos Educandos com 3.833,80 hectares de área, localizada na porção sudeste da cidade, abrange parte do Centro e os bairros Praça 14, Cachoeirinha, São Francisco, Petrópolis, Raiz, Japiim, Coroado, Educandos, Colônia Oliveira Machado, Santa Luzia, Morro da Liberdade, São Lázaro, Betânia, Crespo, Armando Mendes, Zumbi dos Palmares e 80% do Distrito Industrial. Figura 3 - Rede de drenagem da cidade de Manaus, com a Bacia do Educandos em destaque. Fonte: Emadina/ INPA. A imagem acima mostra a Bacia do Educandos, constituída por 33 igarapés, com uma extensão total de 48,54 km. Seu leito principal tem 12,84 km, seus igarapés são Educandos, Quarenta e Armando Mendes (destaques em linhas azuis da imagem). Seus afluentes têm 35,70 km e são compostos pelos igarapés de Manaus, Bittencourt, Mestre Chico, Cajual, Liberdade, Cachoeirinha, Betânia, Raiz, Vovó, Freira, Japiim, Buriti, Semp, 31 de Março, Javari, Campus II, Ibiurana, Campus I, Ipê, Copiúba, Nova República, Porco, Chaminé, Sharp, Acariquara, Zumbi 1, Zumbi 2. Sabe-se que esse Programa não afeta apenas a vida cotidiana dos moradores, mas está também relacionado diretamente com a estrutura organizacional urbana da cidade de Manaus. É certo que a organização espacial da cidade é o resultado acumulado das ações humanas ocorridas no tempo, formando espaços que logo serão parte de um processo de que se refaz sempre no espaço urbano. Pode-se confirmar isso com Spósito (2000, p. 11) ao afirmar que: “A cidade de hoje, é o resultado cumulativo de todas as outras cidades de antes, transformadas, destruídas, reconstruídas, enfim, produzidas pelas transformações sociais ocorridas através dos tempos”. O processo de ocupação das margens dos igarapés em Manaus está diretamente relacionado a uma estrutura social desigual, o que invariavelmente vai remeter aos problemas relacionados à habitação, levando as pessoas mais pobres a ocuparem essas áreas proibidas por lei. Dentre as diversas causas para esse tipo de ocupação inadequada, encontra-se ainda o crescente numero da população residente em Manaus. No que tange ao espaço urbano desigual, Corrêa (2005, p.11) aponta que é “Primeiramente um reflexo social e fragmentado, o espaço urbano é profundamente desigual: a desigualdade constitui-se em característica própria do espaço urbano capitalista”. A questão da desigualdade social vai além do que simplesmente áreas habitacionais segregadas, visto encontrar-se também em outros aspectos como o direito à circulação, sobretudo no que concerne ao transporte público, habitações dignas, escolas, hospitais e segurança pública, aspectos que dão o sentido da cidadania na ocupação do espaço urbano, mas que não são iguais para todos os moradores de uma cidade. A dificuldade do acesso aos serviços públicos é realidade de grande parte dos bairros na cidade de Manaus, sendo que a deficiência dos transportes públicos e a logística de trajetória dos mesmos são apontadas como os principais descontentamentos dos moradores que foram transferidos da área do igarapé Mestre Chico para o Conjunto Habitacional Nova Cidade, uma das áreas destinadas aos removidos. O arranjo espacial produzido pelo homem é feito de forma que possa atender seus interesses, diga-se, sobretudo, interesses de classe. Desse modo não se pode dar menos importância sobre apenas alguns aspectos do uso da terra, como aqueles relacionados à estética da paisagem, pois questões que dizem respeito a remoção e relocação de pessoas envolvem também modos de vida, histórias e sentimento de pertencer ao lugar. Tais aspectos não podem ser olvidados nas políticas públicas urbanas. Isto posto, por tratar-se de pessoas que estão há muito tempo na localidade, é importante que se considere sua identidade com o lugar, mesmo que para os padrões convencionais do urbanismo este não seja adequado para o morar, já que essa identidade se constitui a partir da dialética da diferença e igualdade, o que pode ser interpretado como as relações que vão se estabelecendo através do indivíduos entre si e com o meio em que vivem. Esta e uma das dimensões que se busca neste trabalho. O espaço é produzido pela sociedade, e a partir desse pressuposto este estudo focaliza a relação morador/lugar, realizado no Igarapé Mestre Chico localizado na parte sul, compreendendo o centro da cidade de Manaus, tendo como contexto o processo de intervenção e remoção que se esta realizando por meio do PROSAMIM. A área delimitada para o estudo, está localizada próxima a um patrimônio histórico de grande importância para o bairro da Cachoeirinha e para a cidade como um todo: A Ponte Metálica Benjamim Constant. A pesquisa busca através dos estudos na referida área, analisar a formação da identidade necessária para compreender a história, o modelo de sociedade e o espaço daí resultante, analisando a importância que essas áreas alagadiças tem para as pessoas residentes no local. Para tanto, importa a análise da identidade que cada morador possui com o lugar, que se estabelece de modo dinâmico, resultante das varias experiências sociais das quais os sujeitos participam, se atualizando constantemente nas relações sociais. Dessa forma, há a necessidade do estudo, social e simbólico do morador com o lugar, sendo que a pesquisa esta sendo realizada com base no Prosamim e nas propostas oferecidas aos moradores do igarapé Mestre Chico, que quase sempre refletem uma geografia urbana desigual. Este aspecto e externado, sobretudo, nas questões que envolvem a moradia, onde a mudança na paisagem não reflete necessariamente a melhoria das condições ambientais e sociais de forma ampla e eqüitativa, mesmo que essa mudança ocorra da forma bastante rápida, como pode ser observadar próxima figura. Figura 4 - a)Mestre Chico, 2003; b)Obras, 2006; c)Obras, 2007; d)Projeção da área feita pelo PROSAMIM. Fonte: Departamento de Engenharia do PROSAMIM. Após a analise feita pelo Prosamim na área, as propostas destinadas aos moradores, corresponde às características físicas e estruturais de cada moradia. Para cada tipo de casa, existe um tipo de proposta, que são levadas aos residentes, como imposições a serem aceitas, pois não há alternativa fora daquelas estabelecidas pelo Programa, tão pouco os moradores foram ouvidos. OPÇÕES DE REASSENTAMENTO 01 CARTA DE CRÉDITO NO VALOR DE R$ 21.000,00 ( Vinte e um mil reais) Destinado aos moradores proprietários de imóveis para compra de uma regularizada nas proximidades da área de origem. 02 PERMUTA COM UMA CASA EM CONJUNTO HABITACIONAL DO GOVERNO, DOTADA DE TODA A INFRA-ESTRUTURA E EQUIPAMENTOS URBANOS Destinado aos moradores não proprietários que pagam aluguel ou moram cedido. 03 IDENIZAÇÃO EM DINHEIRO Destinado a todos os moradores proprietários cujo valor da casa seja superior ao valor da carta de crédito de 21.000,00 (vinte e um mil reais). 04 UNIDADE HABTACIONAL (APARTAMENTO) Destinado a moradores que desejam optar por moradias próximo ao local de remoção. Tabela 1 - Amostras das Opções de Reassentamento Propostas pelo Prosamim Fonte: Departamento de Engenharia do PROSAMIM/ 2006. 3. O Cotidiano e os Números no Mestre Chico Dos 50 formulários já aplicados ate aqui aos moradores do Igarapé Mestre Chico, localizado no Centro de Manaus, 22 foram respondidos por homens e 28 por mulheres. Todos os entrevistados estão à espera da retirada de suas casas pelo projeto Prosamim. A enchente, o lixo, o odor fétido, os insetos e ratos que invadem as casas foram reclamações de 100% dos entrevistados que vivem às margens do igarapé Mestre Chico. A figura 22 mostra os destroços de uma moradia destruída no igarapé, em virtude da retirada, justificando as queixas pelo aumento do odor na área, além de manterem a água praticamente represada para as construções. Grande parte dos entrevistados está entre 30 e 40 anos, compreendendo 30% do numero total. Alguns dos entrevistados foram antigos moradores da área, da época onde as moradias eram instaladas em forma de flutuantes no igarapé, representando 8% dos entrevistados (Gráfico 2). Idade dos entrevistados 20 a 30 anos 30 a 40 anos 40 a 50 anos 50 a 60 anos 60 a 70 anos 70 a 60 anos Numero de entrevistados 12 15 16 3 2 2 Tabela 2 - Perfil Etário dos Entrevistados Dados obtidos em trabalho de campo realizado nos dias 26/06 e 29/10 de 2006 e dias 10/02 e 16/04 de 2007 Perfil Etário dos Moradores 6% 4% 4% 24% 20 a 30 anos 30 a 40 anos 40 a 50 anos 50 a 60 anos 32% 60 a 70 anos 70 a 80 anos 30% Gráfico 1 - Gráfico Referente à Tabela 2 São pessoas muito simples que em sua maioria fizeram apenas o ensino fundamental (Gráfico 3), apenas 2% dos entrevistados cursam ensino superior e 34% não tem escolaridade. A maioria tem renda salarial de apenas um salário mínimo, para sustentar a família, geralmente de 4 ou 5 pessoas. Escolaridade dos entrevistados Fundamental Médio Superior Não tem Numero de entrevistados 26 17 1 6 Tabela 3 - Escolaridade dos Entrevistados Dados obtidos em trabalho de campo realizado nos dias 26/06 e 29/10 de 2006 e dias 10/02 e 16/04 de 2007 Escolaridade dos Entrevistados 2% 12% Fundamental Médio 52% 34% Superior Não tem Gráfico 2 - Gráfico Referente à Tabela 3 Renda Familiar 0 a 1 salários 1 a 2 salários 2 a 3 salários Numero de entrevistados 27 18 5 Tabela 4 - Renda Familiar dos Moradores Entrevistados Dados obtidos em trabalho de campo realizado nos dias 26/06 e 29/10 de 2006 e dias 10/02 e 16/04 de 2007 Renda Familiar dos Entrevistados 10% 0 a 1 salário 1 a 2 salarios 54% 36% 2 a 3 salarios Gráfico 3 - Gráfico Referente à Tabela 4 Como a maioria dos moradores entrevistados viveram entre 30 e 40 anos no igarapé do Mestre Chico (Gráfico 5), muitos, ou melhor, quase todos não querem deixar seu lugar de origem, mostrando o grau de identidade que, mesmo se tratando de um lugar insalubre do ponto de vista do saneamento, para os moradores tem um profundo sentimento de pertencer. A ligação que cada morador entrevistado exerce com o lugar é muito grande. Ao ser perguntado qual seria a melhor escolha: o Bônus, a Casa no Conjunto Habitacional ou o Apartamento, todos responderam que a melhor opção seria o bônus porque assim talvez pudessem conseguir uma casa próximo ao centro. Porém a grande maioria desejaria não sair, pois o valor do bônus não paga uma moradia próxima ao centro da cidade (área em que vivem). Muitos ressaltavam também, que seria bom para todos se o Programa restaurasse toda a área do igarapé e suas margens, para os mesmos retornarem a área posteriormente. Tempo de moradia 1 a 10 anos 10 a 20 anos 20 a 30 anos 30 a 40 anos 40 a 50 anos 50 a 60 anos Numero de entrevistados 8 2 9 17 10 4 Tabela 5 - Tempo de Moradia dos Entrevistados Dados obtidos em trabalho de campo realizado nos dias 26/06 e 29/10 de 2006 e dias 10/02 e 16/04 de 2007 Tempo de Moradia dos Entrevistados 16% 8% 4% 50 a 60 anos 20% 40 a 50 anos 30 a 40 anos 20 a 30 anos 18% 10 a 20 anos 34% 1 a 10 anos Gráfico 4 - Gráfico Referente à Tabela 5 Neste sentido, a realização da pesquisa e importante na medida em que busca contribuir para que o estudo ocorra de forma coerente, mostrando como é a vida ribeirinha na cidade de Manaus. Igualmente, como a intervenção afeta esse viver, enfatizando o ponto de vista daqueles que vivem os sonhos de desventuras dessa realidade. Considerações Finais Manaus, como uma metrópole na região norte não foge aos problemas vivenciados por qualquer outra grande cidade. Sabemos que esse é um problema global, o aumento demográfico continua ocorrendo em várias partes do globo e através desta análise é possível comprovar, que Manaus é mais uma dessas áreas, ocasionando uma serie de problemas ao meio ambiente e a saúde humana. Porém esses problemas devem ser resolvidos de forma coerente, levando em consideração a vida daqueles que sofrem com esses problemas relacionados ao crescimento sem ordenamento urbanístico que ocorre nas metrópoles brasileiras. Não e suficiente apenas deslocar os ribeirinhos que vivem em áreas de risco para um lugar qualquer longe das margens dos rios, pois o deslocar carrega consigo a desterritorialização, tão cara a quem muda de lugar e perde os referenciais. É necessária a melhoria de qualidade de vida como um todo no espaço urbano e não apenas do ponto de vista da mudança na paisagem, pois outros aspectos como hospitais, escolas, empregos, também são fundamentais a toda essa população ribeirinha que vive no espaço urbano, especialmente nos igarapés de Manaus. Construções de habitacionais, longe de equipamentos essenciais à qualidade de vida, e principalmente longe do lugar onde estabeleceu uma espacialidade resultante da história de vida de cada pessoa ou família que se estabeleceu às margens dos igarapés, não vão melhorar a vida dessas pessoas, pelo contrario, pode marginalizar e excluir ainda mais os que já são excluídos. Não se questiona aqui o fato de se tomar a iniciativa de sanear e estabelecer uma paisagem mais amena em torno dos igarapés, pois isso é até benéfico para a cidade como um todo. O que estamos questionando são os critérios estabelecidos para a remoção dos habitantes dessas margens, que estão sendo deslocados como se não possuíssem referenciais e identidade com o lugar em que vivem. A remoção deve obedecer às especificidades de cada família, como: grau de dependência em relação à área em que habitam (trabalho principalmente), redes de relações sociais (laços de solidariedade) e nível de identidade com o local. Esses critérios, se observados, podem elevar a qualidade das políticas públicas urbanas, mesmo aquelas em que a remoção de pessoas é imprescindível, como é o caso do Prosamim. Referências ABRAMS, Charles. Habitação, desenvolvimento e urbanização. Rio de Janeiro: Cruzeiro, 1964. AB'SABER, Aziz Nacib. A cidade de Manaus. Boletim Paulista de Geografia. São Paulo, 15: 18-45, 1953. ______ . Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. BENCHIMOL, Samuel, Amazônia: Um Pouco-Antes e Além-Depois, Col. 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