29/5/2017 DISCURSO PROFERIDO PELO DEPUTADO PAUDERNEY AVELINO (PFL-AM) NA SESSÃO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS DO DIA MAIO DE 2002. A imprensa está divulgando que, no momento, se encontra em discussão no governo, mais precisamente no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, uma nova política industrial para o setor eletroeletrônico. Em princípio, a notícia pode ser tida como auspiciosa. Minha experiência, porém, leva-me ao receio de ocorrer, mais uma vez, o que tem acontecido quando o governo se propõe regular esse importante segmento da economia. Refiro-me às repetidas tentativas de, no corpo de legislação nova, se introduzirem restrições indevidas às vantagens comparativas do regime fiscal especial constitucionalmente assegurado à Zona Franca de Manaus. Embora os estudos dessa política industrial não estejam, ao que parece, avançados e amadurecidos, as primeiras informações de conhecimento do público não evidenciam, até agora, motivos para esse tipo de preocupação. Sob o aspecto finalístico, a julgar pelo que se lê nos jornais, a proposta governamental contemplaria mecanismos especiais para a atração de investimentos no 1 29/5/2017 segmento de componentes e estímulos para ampliação da produção de computadores, com ênfase especial ao incentivo da produção local de semicondutores, um dos principais pontos de estrangulamento dessa área de eletroeletrônicos. Como se sabe, o modelo adotado até o momento no Brasil para o complexo eletrônico contempla, basicamente, a montagem de produtos acabados, a partir de componentes importados, o que resulta em baixa agregação de valor nacional e limitado domínio tecnológico do produto. O governo, mediante a política que se anuncia, pretenderia alterar a lógica desse processo, estimulando a fabricação de componentes no país, sem prejuízo da estratégia de montagem. Para a equipe técnica do Ministério do Desenvolvimento, a implantação no Brasil de uma base tecnológica e produtiva no setor de semicondutores é estratégica, na medida em que aumenta a competitividade da indústria de bens finais, amplia a capacitação do país para competir na economia digital e diminuir a dependência externa. No caso específico da Zona Franca de Manaus, dos quatro principais setores que ali atuam (duas rodas, químico, informática e eletrônica de consumo), apenas este último ainda não dispõe de instrumentos para atrair suas indústrias fornecedoras. E a estratégia de reversão desse quadro adquire maior importância quando se discute o sistema de TV digital a ser adotado no Brasil, especialmente quando se tiver de 2 29/5/2017 optar entre tecnologia americana, européia ou japonesa. Dados oficiais indicam uma queda do faturamento do setor de eletrônica de consumo, dos US$ 8,3 bilhões em 1996 para os US$ 2,8 bilhões de 1999 e os US$ 3,3 bilhões de 2001, enquanto o de informática cresceu dos US$ 750 milhões faturados em 1996 para US$ 1,6 bilhão em 2001. Será certamente essa justificativa de se integrar a Zona Franca de Manaus na estratégia de atração de fabricantes de semicondutores, até porque seu polo industrial representa importante mercado consumidor de componentes eletrônicos. No fundo, tal revisão de estratégia está compatível com a idéia, sobre a qual parece haver consenso, de que a Zona Franca de Manaus, no contexto da revisão do seu modelo institucional, deve atribuir acentuada ênfase à exportação. É crescente o número de novos projetos de exportação na ZFM, variando de 10% a 20% da produção. Há também ali empresas que passaram a considerar Manaus plataforma de exportação para a América Latina (Nokia, Philips, Gillete e Honda, entre outras). Ao meu ver, o que importa em tudo isso é que, ao contrário do que ocorreu quando da prorrogação da Lei de Informática, haja integral respeito às garantias constitucionalmente atribuídas à Zona Franca de Manaus e, por outro lado, a matéria, antes mesmo de ser oficialmente encaminhada à apreciação do Congresso Nacional, passe por um processo de tentativa de formação de consenso, capaz de conferir à anunciada política industrial a 3 29/5/2017 consistência e a objetividade que for possível. 4