A solidez da Zona Franca de Manaus 05/12/2012 JOÃO SABOIA A Zona Franca de Manaus impressiona. Seja numa rápida visão da amplitude social que tomou ao longo dos 45 anos de existência, seja na análise detida dos números de sua economia na última década, a capital amazonense ocupa lugar de destaque no cenário nacional. Já fazia anos que não acompanhava de perto aquela região. Por dever profissional, passei as últimas semanas mergulhado em estudos e informações sobre o projeto que, desde sua concepção, em 1967, gera acirradas polêmicas. Um paraíso fiscal, para alguns, ou um importante projeto de desenvolvimento sustentável encravado no meio da selva amazônica, para outros. Sem intenção de entrar na discussão, pretendo aqui compartilhar minha surpresa com o cenário que os dados disponíveis revelam de forma muito clara: sua indústria de transformação, quando comparada ao restante do país, demonstra a solidez de um modelo que, apesar das críticas, segue próspero e vigoroso. Por exemplo: quantos pesquisadores sabem que Manaus tem uma geração de empregos industriais superior à famosa São José dos Campos, no Vale do Paraíba Paulista? Com 110.122 empregos em 2010, Manaus ocupava o 13o lugar entre os principais polos industriais em termos de volume de emprego na indústria de transformação brasileira. Fora do eixo Sul-Sudeste, Fortaleza é a única capital brasileira com mais empregos industriais do que Manaus. As informações sobre empregos, estabelecimentos e remuneração mostram que, efetivamente, a microrregião de Manaus (formada por sete municípios, dos quais Manaus respondia por 98,7% do total de empregos industriais em 2010) transformou-se em um grande polo industrial no País. Trata-se da sétima capital em termos de volume de emprego na indústria de transformação. Em 2010, era responsável por 4,3% do emprego gerado nas 27 capitais e 1,4% do total do País. Cabe lembrar que no início da década passada, após um longo período de baixo crescimento, a economia brasileira encontrava-se numa situação relativamente desfavorável. A partir de 2004, entretanto, passou a apresentar um novo comportamento. Embora prejudicada pela crise internacional no fim de 2008 e ao longo de 2009, o crescimento do PIB no período 2004/ 2010 atingiu a média anual de 4,4%, bastante superior ao 1,9% ao ano verificado no período pós-Plano Real, de 1996 a 2003. O mercado de trabalho brasileiro reagiu favoravelmente ao crescimento da economia, com forte geração de empregos a partir de 2004. Segundo a Relação Anual de Informações Sociais (Rais) houve a criação de 14,5 milhões empregos formais no país de 2004 a 2010, representando uma média anual de mais de dois milhões de empregos. Especificamente em Manaus, registrou-se crescimento de 67% no emprego industrial entre 2003 e 2010. Trata-se de uma taxa excepcional, especialmente quando comparada com importantes regiões industriais do Centro-Sul do País como São Paulo (26,7%), Rio de Janeiro (31,9%), Porto Alegre (19%), Belo Horizonte (57,5%) e Curitiba (54,9%). Diferentemente das demais microrregiões localizadas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, a indústria manauense se caracteriza pela concentração em setores modernos, especialmente na fabricação de material eletrônico e equipamentos de comunicação, e na fabricação de outros equipamentos de transporte (inclusive motocicletas), que representavam cerca de 40% do emprego e 46% dos salários da indústria de transformação em 2010. Pode-se afirmar que com o surgimento da Zona Franca de Manaus criou-se na região um importante polo industrial no país, com uma indústria moderna e geradora de um volume de empregos e salários considerável. Seu futuro, entretanto, depende das vantagens que foram ou vierem a ser concedidas localmente, cujos resultados devem ser reavaliados periodicamente, para que a região possa enfrentar os desafios dos novos tempos, caracterizados pelo aumento da competição internacional e pelo avanço constante do progresso técnico. João Saboia é professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro O Globo, 05/12/2012, Opinião, p. 23