Universidade de Brasília Programa de Doutorado em Direito Disciplina: Direito e Regulação Professor: Marcio Iorio Aranha Seminário de Pesquisa Livro: A Anti-natureza: elementos para uma filosofia trágica Autor: Clément Rosset Excerto: pp. 13-45 Expositora: Roberta Candeia Gonçalves 1) Clément Rosset: Biografia Nasceu em Carteret , Manche, 1939. Ex-aluno da Ecole Normale Supérieure (Ulm), Associado de Filosofia, Doutor em Letras, ensinou filosofia por 30 anos na Universidade de Nice. Hoje vive em Paris. Interessa-se por Arte, especialmente música – toca piano, como retratado na imagem – e cinema – escreveu, por exemplo, junto com Roland Jaccard, um livro sobre cinema e filosofia do filme, chamado «Propos sur le Cinéma» (Sobre o Filme). Clément Rosset1 Clément Rosset au piano, estudo por Jean Dries, 19652 Tem como principais marcos teóricos Schopenhauer e Nietzsche, sobre os quais (o primeiro mais que o segundo) baseou muitas de suas investigações sobre natureza e acaso, realidade e representação, tragédia e absurdo. No final dos anos 1990, passou por um processo de depressão3, no qual escreveu «Route de Nuit» e outros textos literários inspirados no tema. «Rêvé cette nuit que le miroir ne me reflétait plus»4 2) Contexto da sua produção intelectual a) Bibliografia (sucinta) La philosophie tragique, P.U.F, 1960, rééd. augmentée : P.U.F, « Quadrige », 1991 Le monde et ses remèdes, P.U.F, 1964, rééd. revue et augmentée : P.U.F, « Perspectives critiques », 2000 Lettre sur les chimpanzés : Plaidoyer pour une humanité totale, suivi d’un Essai sur Teilhard de Chardin, Gallimard, « NRF », 1965, rééd. augmentée : Gallimard, « L’imaginaire », 1999 Schopenhauer, philosophe de l’absurde, 1967, rééd. P.U.F, « Quadrige », 1989, rééd. dans Ecrits sur Schopenhauer, P.U.F, 2001 Schopenhauer, P.U.F, « Philosophes » 1968, rééd. dans Ecrits sur Schopenhauer, P.U.F, 2001 Précis de philosophie moderne, Laffont, « Contestation », 1968 (sous le pseudonyme de Roboald Marcas), rééd. Ecrits satiriques (1. Précis de philosophie moderne), P.U.F, « Perspectives Critiques », 2008, préface de Laurent De Sutter Les matinées structuralistes, suivies d’un Discours sur I’écrithure, Introduction critique par Albert K*** Laffont, « Libertés », 1969 (sous le pseudonyme de Roger Crémant), rééd. partielle : Les matinées savantes, Montpellier, Fata Morgana, 2011 L’esthétique de Schopenhauer, P.U.F, SUP (« Initiation Philosophique »), 1969, rééd. P.U.F, « Quadrige », 1989, rééd. dans Ecrits sur Schopenhauer, P.U.F, 2001 Logique du pire, Eléments pour une philosophie tragique, P.U.F, « Bibliothèque de philosophie contemporaine », 1971, rééd. P.U.F, « Quadrige », 1993 L’anti-nature, Eléments pour une philosophie tragique, P.U.F, « Bibliothèque de philosophie contemporaine », 1973, – Lille, Service de reproduction des thèses, Université de Lille III, 1973 (Thèse dirigée par Vladimir Jankélévitch et présentée devant l’université de Paris 1 le 21/05/1973), rééd. P.U.F, « Quadrige », 1990 Le réel et son double . Essai sur l’illusion, Gallimard, « NRF » 1976, nouvelle éd. revue et augmentée, Gallimard,1984, rééd. Folio, « Essais », 1993 (…) b) Contexto histórico Mudanças sociais pós 1968 Guerra do Vietnam, Guerra Fria, Conflito Árabe-Israelense Crescimento econômico (Les Trente Glorieuses): 1947-1973 c) Contexto Filosófico O «defunto» Século XVIII (Ilustração deísta) Idealismo (Hegel), Racionalismo (Kant) Naturalismo (Platão, Aristóteles...) Schopenhauer (1788-1860) e Nietzsche (1844-1900) 3) Descrição do texto (Primeira parte) 3.1) Organização A Anti-natureza: elementos para uma filosofia trágica (L’AntiNature) Prefácio à edição brasileira Prólogo Primeira parte: Capítulo 1: A miragem naturalista Capítulo 2: Natureza e religião 3.2) Prefácio à edição brasileira Referência à obra anterior, «Lógica do Pior» Tese de doutorado (O mundo como natureza e artifício): « Todavia, foi necessário compô-la de acordo com os parâmetros vigentes em uma universidade francesa, que parece esperar de seus futuros mestres menos uma aptidão à reflexão do que uma esquisita propensão para escrever (ou falar) indefinidamente, sem que a mínima ideia seja proferida: como se a tese ideal fosse aquela que justamente não contém nenhuma espécie de tese e consegue, deste modo, aliar a um máximo de extensão um mínimo de conteúdo » 3.3) Prólogo « Quando acabaremos com nossos escrúpulos e precauções? Quando todas estas sombras de Deus deixarão de nos obscurecer? Quando teremos a natureza inteiramente desdivinizada? Quando nós, homens, com a pura natureza, descoberta como nova, redimida como nova, poderemos começar a nos ‘naturalizar’?» (Nietzsche, Gaia Ciência) Resposta: O homem será naturalizado quando abandonar a ideia de natureza e assumir definitivamente o artifício. 3.4) A miragem naturalista Descreve a «ideologia naturalista» segundo a qual a natureza existe, ou seja, a crença na existência de um âmbito principiológico que simplesmente «existe», sem que isso se deva nem ao acaso nem à intervenção humana. Em outras palavras, a crença em que existe um mundo físico (natureza) e metafísico (naturalismo) que pode ser usado para descrever e dar sentido às demais coisas e seres. Se não há acaso, nada se produz sem razão. Se não há a mão do homem, não há imperfeição. Todo o demais deriva e pode ser medido a partir desta matriz ontológica e teleológica. 3.5) Natureza e religião A natureza não rompe com a religião, mas apenas a coloca em um estágio prévio. Apenas o materialismo opõe-se definitivamente ao naturalismo, já que abdica de qualquer metafísica ou física independentes do acaso e do artifício. “A mais profunda religiosidade não está na ideia de Deus, e sim na ideia de natureza” (Hume, Diálogos). Não se trata em trocar uma ideologia por outra com mesmo teor ontológico, mas de erradicar qualquer tipo de ideologia. 4) Tópicos de Relevo a) Ideia clássica de natureza « As produções da arte serão comuns, imperfeitas e fracas enquanto não se propuserem uma imitação mais rigorosa da natureza. A natureza gasta séculos para formar pedras preciosas, a arte pretende imitá-las num instante» (Diderot, Da interpretação da natureza) b) Tautologia e Antropocentrismo (“silêncio conceitual”): natureza como conjunto do que é natural e existe independente da ação humana. c) A cumplicidade ideológica da ideia de natureza: «Em todas essas distinções (Natureza-Sobrenatureza, Natureza-Arte, Natureza-História, Natureza-Espírito), a natureza não é simplesmente signo de oposição, mas é propriamente primeira, porque sempre e primordialmente é por oposição à natureza que as distinções são feitas; por conseguinte, o que dela se distingue, recebe sua determinação a partir dela» (Heidegger, O que é e Como se Determina a Physis) d) Função moral da natureza (culpabilidade) «A natureza nunca foi pensada, mas somente oposta a uma certa quantidade de fatos, atitudes e acontecimentos que ferem a sensibilidade de alguns homens; sendo, antes de tudo, expressão de um desagrado, não de uma ideia, permitindo o deslize intelectual graças ao qual se chega a afirmar que ‘transgride a natureza tudo o que de fato se opõe ao desejo’ » (Derrida, De la Grammatologie, apud Rosset) e) Natureza e Sobrenatureza: « Tudo isso não é senão a obra da natureza, Balbus, da natureza» (Cícero, De Natura Deorum) Nos séculos XVII e XVIII, reforça-se a ideia de princípio natural como contraponto ao princípio religioso: o que é natural não é sobrenatural. Falacioso: substitui-se uma religião por outra já que a ideia de natureza sucede a ideia de sobrenatureza. f) Naturalismo e materialismo: A ideologia religiosa ganha condições de ação através do naturalismo. O verdadeiro contraponto ao naturalismo é o materialismo, o qual “contenta-se em invocar duas ‘recusas de princípios’: a inércia (recusa-se a introduzir a ideia de força na existência) e o acaso (o único capaz de explicar a possibilidade das produções sem desrespeitar o princípio da inércia).” (p. 36) g) Existência original (A falaciosa ruptura do Séc. XVIII): Feito por Deus ou feito por si só, o problema destas ideologias é supor a existência de qualquer coisa prévia e autônoma, para além do acaso e do artifício. A ideologia naturalista é a ideologia religiosa que chegou à ‘idade adulta’. 5) Questões-guia 5.1) Quais são as formas de percepção da existência descritas pelo autor? a) NATURALISTA: NATUREZA (NECESSIDADE, FENÔMENO) ARTIFÍCIO (QUE SE FABRICA, ARTE) ACASO (MATÉRIA, INÉRCIA) b) Anti-naturalista VERDADE ARTIFÍCIO ACASO • Abdicar de toda “tarefa filosófica” da busca de uma ordem, de uma razão, de um sentido que “melhore” a sensação de existir, e aceitar o pior, a tragédia, a desordem. “Tal é, pois, o alvo mais geral da filosofia terrorista.” (Rosset, A Lógica do Pior) ILUSÃO FANTASIA IDEOLÓGICA NATUREZA DEÍSMO MITOLOGIA 5.2) Como o texto dialoga com a ideia de proteção do mercado? ANTI-NATUREZA AS REGULAÇÕES DE MERCADO SÃO CONTINGENTES, I.E., NÃO SÃO PRÉDETERMINADAS NÃO HÁ ORDEM A SER DESCOBERTA E DOMINADA POR UMA THECNÉ NÃO HÁ VERDADE APODÍTICA NÃO HÁ INSTÂNCIA NECESSÁRIA 6) Considerações finais Filosofia do abandono: de princípio, de natureza, de deidades, de ordem natural, de vocação humana a “descobrir”, “descrever” e “reproduzir” a Natureza, da ideia apodítica de certo e errado. Sobra, então, a realidade, que pode ser trágica e dura, mas enquanto artifício e matéria, pode ser moldada. Sem metafísica, sem ontologia. Liberdade. Entretanto, o próprio autor ressalta: talvez seja impossível que a humanidade, um dia, pense sem a “muleta” do naturalismo. Benice equation 5 Notas 1. http://www.franceculture.fr/personne-clément-rosset.html 2. http://clementrosset.com/biographie/ 3. Veja-se entrevista de Rosset em: <http://www.lexpress.fr/culture/livre/clement-rosset_807568.html> 4.<http://www.gallimard.fr/Catalogue/GALLIMARD/L-Infini/Route-de-nuit> 5. http://benice-equation.blogspot.com.br/ BIBLIOGRAFIA CÍCERO, De natura deorum. DERRIDA, Jacques. De la grammatologie. DIDEROT, Denis. Da interpretação da natureza. HEIDEGGER, M. O que é e como se determina a Physis. HUME, David. Diálogos. NIETZSCHE, Friedrich. Gaia ciência. ROSSET, Clément. Logique du pire, eléments pour une philosophie tragique.