Construir 2011

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Mork-Ulnes Architects
Reabilitação sustentável
com cunho escandinavo
Texto: Pedro Cristino
Fotos: Grant Harder e Bruce Damonte
C
asper Mork-Ulnes tem colaborado com Lars Richardson, um empresário que trabalha com antiguidades e arte escandinavas, e
Laila Carlsen, uma pintora, desde que o casal se mudou de São Francisco para Sonoma, em 2005. Tudo começou com o projecto
de várias estruturas novas na quinta deste duo, uma propriedade que o arquitecto classifica de “invulgar”, na medida em que
“exemplifica a espontaneidade criativa e uma predilecção para o experimentalismo dos seus donos e do seu arquitecto”. Recentemente, Mork-Ulnes e o atelier homónimo concluíram um pavilhão, que toma a “forma de uma ameba”, e que compreende uma cozinha e um salão de jantar – a extensão para um estúdio artístico que o arquitecto escandinavo havia desenhado no ano anterior, para
Richardson e Carlsen. Da obra original, resultou um celeiro com um telhado borboleta invertido, que acomoda um estúdio e uma oficina artísticos. A nova extensão “flui para o jardim”, onde os proprietários plantaram bambu, estrelícias, aloés, ínhames-dos-Açores e
uma figueira. Apesar de facilmente selado dos elementos, o pavilhão dispõe de portas deslizantes em vidro que podem abrir completamente, tirando partido do acolhedor clima deste condado.
Indoor/outdoor
“Queríamos criar um ambiente interior/exterior confortável, interessante e atraente – um local conducente a um estilo de vida sustentável”, explicam os clientes, citados pelo comunicado de imprensa do atelier de arquitectura. Richardson e Carlsen perceberam que
necessitariam de mais espaço para trabalhar, de um espaço seguro face ao clima para armazenar obras de arte e colecções e de um
local adequado para servir de estúdio de pintura. Assim nasceu a extensão para o celeiro – um salão de jantar denominado “Amoeba”
(“ameba”, em português). O projecto inclui ainda uma nova piscina e uma casa de apoio à referida piscina, em frente à Amoeba, actualmente ainda em esboço, pronta a ser edificada em 2017.
Set/Out/Nov 2016
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Mork-Ulnes Architects
Primeira fase do projecto: o celeiro
O catalisador e factor impulsionador do projecto foi a criação de uma “segunda vida”
para um antigo e decrépito celeiro na propriedade rural localizada em Sebastopol, a uma
hora de São Francisco. Todavia, este elemento teve de ser transformado num novo edifício, uma vez que a estrutura existente não era recuperável. Ainda assim, os responsáveis do atelier concluíram que a utilização da tipologia do celeiro existente teve “um
apelo instantâneo” e que o principal desafio se tornara a criação de um estúdio artístico
“ideal” enquadrado na arquitectura vernacular desta estrutura. A inversão do telhado de
duas águas do referido celeiro duplicou a altura do espaço para a produção artística e
armazenamento, proporcionando, também, ventilação e iluminação naturais, bem como
uma visão panorâmica da propriedade. De acordo com a Mork-Ulnes Architects, o novo
celeiro terá a mesma “pegada” que o existente e consiste numa estrutura de madeira com
elementos de aço. Esta estrutura permite as “grandes aberturas e vãos utilitários” necessários para a manobra de tractores e para a entrada e saída de obras de arte do edifício, sem deixar de proporcionar condições de iluminação naturais “óptimas” para os
artistas. Neste sentido, Casper Mork-Ulnes salienta que os proprietários, noruegueses, estimam a madeira como material de construção, o que leva à utilização de pedaços de madeira – com 100 anos – da parede do celeiro como revestimento exterior, “reflectindo o
carácter agrário do edifício anterior”, enquanto os condicionamentos orçamentais e funcionais levaram à utilização de contraplacado para o revestimento interior. As madeiras
da estrutura antiga serão ainda utilizadas para marcenarias. O telhado foi construído
com os elementos de aço enferrujado da cobertura e das paredes do edifício anterior.
Segunda fase do projecto: Amoeba
No início do ano transacto, Richardson e Carlsen pediram ao atelier de Casper Mork-Ulnes para criar um novo espaço na sua propriedade, com o intuito de receberem visitantes, numa “suave” ligação ao exterior. Uma cozinha e um salão de jantar crescem agora a partir do estúdio. Alcunhado de Amoeba, este espaço proporciona “um solto e orgânico contraponto para a estrutura mais rigorosa do
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celeiro, da qual se expande”. “Abraça incondicionalmente a natureza e o exterior, capturando literalmente a paisagem para criar um verdejante jardim
interior com ínhame-dos-Açores, uma figueira e bambu que, de forma suave,
separam a cozinha do salão e jantar”, explica Mork-Ulnes. De acordo com o
mesmo, “Lars queria uma cozinha e um salão ao ar livre que pudesse utilizar
todo o ano”. “A ideia foi deixar a paisagem sangrar dentro e fora do edifício”,
continua, explicando que o cliente imaginou o espaço “como uma selva, com
plantas exóticas”. A estrutura tem paredes de cimento com oito polegadas de
espessura e em forma de S, cuja “considerável massa térmica mantém a divisão fresca no Verão e quente em dias mais frescos”. O telhado inclinado consiste em madeira exposta, com vigas traçadas, com uma “grande e difusa
iluminação natural, que transporta a luz para o centro do edifício”, banhando
pessoas e plantas. Apesar de a sua forma e os seus materiais poderem parecer “estranhos”, as suas paredes foram formadas por camadas de cimento
Shotcrete aplicadas em painéis da madeira reciclada que anteriormente compunha as paredes do celeiro existente. Uma vez seco o betão, as tábuas foram
removidas, expondo a “textura amadeirada familiar”, e reutilizadas como vedação.
Sustentabilidade através de reutilização
Para este projecto, os arquitectos utilizaram estratégias de reutilização adaptáveis para uma grande parte dos materiais de construção, minimizaram envidraçados desnecessários onde possível, utilizaram caixilhos de janelas
termicamente danificados, isolamento sem formaldeído, madeira certificada
e minimizaram a utilização de novos materiais para reduzir os resíduos. Para
aquecimento, foi instalado piso radiante, tendo o empreiteiro ainda incorporado partes das fundações demolidas para elementos paisagísticos. O projecto
para este estúdio e oficina em Sonoma representa “mais um opus no coerente
portfólio de trabalhos da Mork-Ulnes Architects”, no qual constam “todos os
projectos que testemunham as fortes inspirações biculturais do atelier – o lado
pragmático, funcional norueguês e a abertura californiana à invenção”. ■
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