Texto 01 INTUBAÇÃO TRAQUEAL Unidade de Cuidados Intensivos INTRODUÇÃO A intubação traqueal é um procedimento dos mais importantes, realizado nas Unidades de Cuidados Intensivos (UCI). Quando bem executada, pode ser uma técnica salvadora da vida. Se mal realizada, pode conduzir a complicações graves, ou mesmo à morte (1). Dada a frequência de doentes com intubação da traqueia internados nas UCI, os intensivistas devem estar treinados com as técnicas de manuseamento da via aérea, intubação traqueal e manuseamento do doente intubado (2). Devem, também, conhecer as indicações, equipamentos e técnicas disponíveis para intubação traqueal, assim como as suas complicações (1). Não podendo ser exaustivo, faz-se uma revisão de alguns aspectos fundamentais para a execução deste procedimento. INDICAÇÕES As indicações para intubação traqueal, podem ser óbvias e imediatas (paragem cardiorespiratória), emergentes (hipoxemia grave) ou subtis (alteração do estado de consciência com incapacidade para expelir secreções) (2). A decisão de intubar a traqueia de um doente, mesmo nos casos menos evidentes, quase nunca é difícil. Embora se trate de um método invasivo, o adiamento da sua execução pode ser extremamente deletério, uma vez que as lesões hipóxicas podem tornar-se irreversíveis. Sobretudo nos casos em que há uma progressiva deterioração da função ventilatória, apesar da terapêutica, é preferível ventilar precocemente o doente, antes da exaustão. As indicações para intubação traqueal são muito concretas Indicações para Intubação Traqueal 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Protecção da via aérea Alterações do estado de consciência Compromisso anatómico da via aérea Diminuição dos reflexos Sedação em locais de difícil acesso (ex.: TAC, RMN) Aspiração de secreções Falência respiratória Hipoxemia 9. ARDS 10. Hipoventilação 11. Atelectasias 12. Edema Pulmonar 13. Hipercapnia 14. Hipoventilação 15. Doença neuromuscular 16. "Overdose" de drogas 17. Causas circulatórias 18. Paragem cardio-respiratória 19. Choque refractário 20. Sepsis Outras causas 1. Hiperventilação por aumento da PIC 2. Transporte do doente em risco de deterioração 3. TAC: tomografia axial computorizada; RMN: ressonância magnética nuclear; ARDS: síndrome de dificuldade respiratória do adulto; PIC: pressão intracraneana. Por vezes, pode ser difícil ou mesmo impossível intubar a traqueia — em casos de instabilidade da coluna cervical, distorção da anatomia da via aérea, tumor ou traumatismo da face, por exemplo. Sempre que se antecipe dificuldade para a intubação traqueal, deve preparar-se simultaneamente, material e meios para traqueostomia. EQUIPAMENTO Apesar da grande variedade de materiais e equipamento disponíveis para intubar a traqueia, há um pequeno número de instrumentos essenciais para executar este procedimento. Tendo em conta que na UCI existe uma fonte de oxigénio com débito a 100% e um aspirador de alta pressão, disponíveis em cada cama, que são requisitos essenciais, o resto do material deverá estar sempre rapidamente disponível num local certo e facilmente acessível (2). Equipamento para intubação traqueal 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Máscara facial Sistema de ventilação manual Tubo oro ou nasofaríngeo Laringoscópio Tubo endotraqueal Seringa de 10ml para insuflar cuff Condutor Pinça de Magill Enquanto o médico faz uma breve avaliação do doente antes da intubação, o enfermeiro deve preparar e verificar o material necessário. A máscara facial deve ter um tamanho adequado para o doente. Os tubos oro ou nasofaríngeos, servem para afastar a língua da faringe posterior, que pode ser causa de obstrução da via aérea. O laringoscópio deverá ser montado com lâmina de tamanho apropriado para o doente, de acordo com a idade e a configuração anatómica, no entanto, deverá estar disponível uma lâmina maior para os casos mais difíceis (2). Uma regra importante, é a de que é sempre preferível uma lâmina demasiado grande a uma demasiado pequena (3). Deverá ser preparado um tubo endotraqueal, verificando o funcionamento do cuff, cujo diâmetro interno será escolhido de acordo com a idade e o sexo do doente. Para a maioria dos adultos do sexo masculino, será adequado um tubo com diâmetro interno de 8.0mm e no sexo feminino 7.0 a 7.5mm, em caso de intubação oral. Para intubação nasotraqueal diâmetros de 6.5 a 7.0mm são habitualmente adequados. Dada a variação individual, deverão estar disponíveis um número abaixo e outro acima do julgado adequado. Na criança, o diâmetro mais adequado, poderá ser calculado através de uma das fórmulas: (Idade + 16) /4 ou Idade / 4 + 4. Nas crianças com menos de 8 anos deverão ser usados tubos sem cuff, uma vez que possuem um estreitamento fisiológico sub-glótico da traqueia (4,5,6). O condutor é um instrumento maleável, de metal ou borracha rígida, que pode ser usado para flectir e guiar a extremidade do tubo endotraqueal até à abertura glótica, em casos difíceis. Deve ser lubrificado para facilitar a sua introdução e remoção do lúmen do tubo endotraqueal e não deve ultrapassar a extremidade do mesmo, o que poderia causar lesão das estruturas da via aérea. A pinça de Magill é utilizada nos casos de intubação nasotraqueal, sob laringoscopia, para dirigir e posicionar o tubo endotraqueal através da cavidade oral ou para facilitar a inserção de sonda naso-gástrica, quando necessário. TÉCNICAS DE INTUBAÇÃO TRAQUEAL Qualquer que seja a técnica escolhida, devem ser feitos todos os esforços para que não cause ou exacerbe a hipoxemia. A preoxigenação do doente, que consiste na administração de oxigénio a 100% por máscara facial bem adaptada, durante cerca de 3 a 4 minutos, tem por fim maximizar o tempo disponível para a intubação (2). Em função da urgência da situação, do conforto do doente, do tipo de patologia e da anatomia da via aérea, o médico poderá optar por diferentes técnicas de intubação. Excepto em casos emergentes, deve sempre esvaziar-se o conteúdo gástrico, antes de qualquer tentativa de intubar a traqueia. Preparação Farmacológica O seu objectivo é criar condições que permitam uma laringoscopia segura e eficaz, diminuindo ou eliminando o desconforto e as consequências indesejáveis da manipulação da via aérea (hemodinâmicas, neurológicas, reflexas, etc.). A opção varia entre a não utilização de qualquer fármaco (doente com alterações graves do estado de consciência, ou previsão de intubação difícil), até à utilização de anestesia tópica das estruturas da via aérea, bloqueio de nervos, sedação mais ou menos profunda, ou mesmo anestesia geral intravenosa. A experiência do médico, tanto no manuseamento dos fármacos como na intubação propriamente dita, é extremamente importante. Agentes intravenosos como o Midazolam, Thiopental, Etomidato, Propofol ou a Ketamina, poderão ser usados em doses variáveis para induzir sedação ou anestesia. O uso de bloqueadores neuromusculares para facilitar a intubação da traqueia na UCI, é controverso (1). Nas raras circunstâncias em que a paralisia é necessária (por exemplo: broncospasmo), a succinilcolina é uma das melhores opções, devido às suas características farmacocinéticas (rápido início de acção e curta duração do bloqueio neuromuscular)(7). Intubação Orotraqueal A intubação oral da traqueia sob visão directa é o método mais rápido, fácil e seguro de proteger a via aérea (7). É a técnica que exige menos equipamento, é menos traumática e mais fácil de executar e portanto tem maior taxa de sucesso (1). Uma laringoscopia bem feita é a principal determinante para o sucesso do procedimento e para isso é necessário que: 1. A cabeça do doente esteja posicionada ao nível do apêndice xifóide do operador. 2. Haja um alinhamento dos eixos oral, faríngeo e laríngeo. No adulto, é normalmente melhor conseguido, pela colocação de uma pequena almofada sob o occipital, elevando a cabeça cerca de 10cm. Na criança, por ter a cabeça relativamente grande, quase nunca é necessário o uso de almofada. 3. O alinhamento axial seja completado pela extensão da articulação atlanto-occipital. 4. A lâmina do laringoscópio seja adequadamente inserida, habitualmente, no lado direito da boca bem aberta, desviando a língua para a esquerda à medida que a lâmina é avançada até à valécula (no caso da lâmina curva) ou até à superfície laríngea da epiglote (com a lâmina recta), expondo a abertura glótica. A manipulação do cabo do laringoscópio exige treino, de forma a evitar alguns erros, como a pressão exagerada sobre os incisivos superiores ou a prisão dos lábios entre a lâmina do laringoscópio e os dentes, provocando lesões. A passagem do tubo endotraqueal através das cordas vocais deve ser observada durante a laringoscopia, até à sua entrada na laringe e à passagem da zona do cuff. Se a laringe tiver uma posição muito anterior, o ajudante poderá fazer pressão sobre a cartilagem tiroideia, para facilitar a visão da epiglote e da abertura glótica. A auscultação de ambos os hemitóraces permitirá confirmar o posicionamento correcto do tubo endotraqueal, antes da sua fixação (4,5,6). Intubação nasotraqueal As vantagens da intubação nasotraqueal, são: - melhor fixação e maior estabilidade do tubo endotraqueal - acesso livre à boca - pode ser conseguida sem o recurso a fármacos sedativos ou anestésicos - pode ser executada com a cabeça do doente em posição neutra ou em tracção, sendo uma alternativa em doentes nos quais a laringoscopia não é possível. As desvantagens, incluem: traumatismo fácil da mucosa nasal, septo nasal e dos cornetos e o risco de otite e sinusite (1). A ocorrência destas últimas complicações, levou ao menor uso desta via de intubação nos doentes internados em Cuidados Intensivos. Tem contra-indicações relativas, como: alterações da coagulação, deficit imunitário, e suspeita de traumatismo da base do crânio. A intubação nasotraqueal pode ser feita de várias formas: cega, sob laringoscopia directa ou com a ajuda de um broncofibroscópio. Depois de verificada a patência das narinas, deverão ser usados um vasoconstrictor (fenilefrina) e um anestésico local (lidocaína), a fim de conseguir algum grau de anestesia tópica da mucosa nasal e da faringe posterior (1,7). Em caso de intubação cega, o tubo endotraqueal depois de lubrificado com gel de lidocaína, é introduzido suavemente, através da narina escolhida, até à faringe posterior. Se é sentida qualquer resistência, o tubo não deve ser forçado, uma vez que pode causar dano das estruturas da mucosa nasal e hemorragia mais ou menos abundante. Deve ser tentado um tubo de calibre inferior ou a introdução na outra narina. Uma ligeira elevação ou rotação da cabeça, poderão ser manobras executadas para procurar colocar o tubo endotraqueal em frente à abertura glótica. Quando se ouvem os sons respiratórios através da extremidade proximal do tubo endotraqueal, este é avançado durante a inspiração do doente. O aparecimento de tosse e incapacidade para falar, sugerem adequado posicionamento do tubo na traqueia. O desaparecimento dos sons respiratórios, sugere introdução no esófago, caso em que deverá ser retirado e feita nova tentativa noutra posição. Depois da insuflação do cuff e auscultação de ambos os campos pulmonares, seguidas da fixação do tubo traqueal, o uso de um fármaco sedativo é, habitualmente, útil para acalmar o doente. Quando não há contra-indicação, a intubação nasotraqueal poderá ser feita sob laringoscopia directa e o tubo dirigido até à abertura glótica com a ajuda de uma pinça de Magill. Deve haver cuidado para não pinçar a zona do cuff, que poderia ocasionar a sua ruptura (1,2,3). A intubação traqueal guiada por broncofibroscópio é um método eficaz de intubação da traqueia em casos de via aérea difícil — distorção por tumores, traumatismo, anomalias congénitas ou outros, lesão da coluna cervical, doenças degenerativas como a artrite reumatóide, são alguns exemplos. Depois da anestesia tópica das mucosas nasal e nasofaríngea, o broncofibroscópio pode ser usado para conduzir o tubo endotraqueal por via oral ou nasal. O aparelho é inserido no lúmen do tubo endotraqueal de diâmetro escolhido e são ambos avançados até à faringe posterior. A glote é visualizada através do fibroscópio e depois da sua inserção na traqueia, confirmada pela visualização dos anéis traqueais, é possível guiar o tubo endotraqueal pelo mesmo percurso. Retirado o fibroscópio, seguem-se os passos descritos até à fixação do tubo endotraqueal (2). COMPLICAÇÕES A incidência exacta de complicações da intubação traqueal é difícil de estimar, porque os números são muito variáveis por entre os estudos. Alguns dos mais importantes factores que contribuem para a sua ocorrência, são: o calibre e características do tubo endotraqueal, o traumatismo durante a intubação, a duração e via de intubação, o estado metabólico e nutricional do doente e a sua actividade motora durante o período de intubação (2). Uma técnica de intubação bem escolhida e executada por mãos experientes, com cuidados em relação à preparação farmacológica, tenderá a diminuir a ocorrência das complicações imediatas Complicações da intubação traqueal 1. Complicações Imediatas 2. Lesão da coluna cervical 3. Traumatismo de dentes ou tecidos moles 4. Larigospasmo ou broncospasmo 5. Aspiração de conteúdo gástrico 6. Hipoxemia ou hipercapnia 7. Problemas cardiovasculares 8. Aumento da pressão intracraneana 9. Intubação esofágica 10. Lesão da faringe, esófago, laringe ou traqueia 11. Intubação endobrônquica 12. Epistaxis 13. Lesão da mucosa nasal ou nasofaríngea 14. Complicações Tardias 15. Edema da glote 16. Otite ou sinusite 17. Necrose dos lábios ou da asa do nariz 18. Lesão da mucosa traqueal 19. Traqueomalacia 20. Lesão de estruturas laríngeas 21. Estenose da traquéia A incidência de edema da glote e de rouquidão após a extubação, será possivelmente menor se forem usados tubos endotraqueais de menor calibre. Um bom estado de nutrição e os cuidados na fixação do tubo endotraqueal, tenderão a diminuir complicações como a necrose dos lábios ou da asa do nariz. A duração da intubação e o grau de movimentação do doente, influenciam a incidência de lesões da mucosa laríngea e traqueal (2). A estenose traqueal tardia é uma complicação temível, cuja ocorrência diminuiu muito desde a utilização de tubos endotraqueais com cuff de alto volume e baixa pressão. Não obstante, a quantidade de ar usada para insuflar o cuff deve ser a mínima necessária para selar a traqueia, uma vez que o uso de quantidades excessivas poderá ser causa de obstrução ao fluxo sanguíneo traqueal, podendo ocasionar lesões da mucosa mais ou menos graves. CONSIDERAÇÕES FINAIS O melhor local para aprender as técnicas de manuseamento da via aérea é o bloco operatório e não a UCI. Apesar de ser um procedimento simples, a técnica de intubação da traqueia, como qualquer técnica, requer experiência para ser bem executada. O maior número de procedimentos e as condições fornecidas pelos doentes submetidos a cirurgia electiva, frequentemente com anatomia normal da via aérea, constituem a oportunidade ideal para aprender a ventilar com máscara, a fazer uma correcta laringoscopia e a executar as várias técnicas de intubação da traqueia. A broncoscopia de doentes em ambulatório é uma oportunidade excelente para aprender de forma adequada, a anestesia tópica das fossas nasais e da oro e nasofaringe. Adquiridos os conceitos básicos de manuseio da via aérea em situações electivas, será mais fácil a sua aplicação em condições, frequentemente mais adversas, como sejam a intubação traqueal do doente crítico. Texto 02 Intubação Traqueal definição Intubação traqueal consiste na introdução de um tubo na luz da traquéia. Ela pode ser realizada através das narinas (via nasotraqueal), boca (via oratraqueal) ou abertura na parede da traquéia (transtraqueal). indicações As indicações mais comuns de intubação traqueal na sala de operação ou na unidade de cuidados intensivos são: · Assegurar o acesso traqueal nas situações em que exista ou potencial prejuízo dos mecanismos fisiológicos de controle da permeabilidade das vias aéreas (como afecções das V .A .S, intervenções próximas as vias aéreas ou em posição desfavorável). · Atenuar o risco de aspiração do conteúdo gástrico. · Facilitar a aspiração traqueal. · Facilitar ventilação sobe pressão positiva. · Manutenção da oxigenação adequada. · Anestesia via inalatória (oxigênio associado ao N2O + halogenados) equipamento e material O laringoscópio rígido padrão consiste em uma lâmina destacável com uma lâmpada removível que se liga a um cabo que contém uma bateria. Cada lâmina padrão tem uma guia para deslocamento da língua e uma abertura lateral para visualização da laringe. Os tamanhos variam de zero (Miller) a um (Macintosh), que são as menores lâminas, a quatro (Miller ou Macintosh) que são as maiores. As lâminas são escolhidas em função das dimensões das vias aéreas. As lâminas de Macintosh curva número três são recomendadas para adultos de médio porte; em lactentes dá - se preferência para lâmina de Miller (reta com a extremidade recurvada). Os tubos traqueais são curvados conforme a anatomia da nasofaringe ou orofaringe; fabricados com material atóxico, moldável às características individuais de cada paciente. A inclusão de marcadores radiopacos permite delinear a sonda traqueal à radiografia simples. Os tubos são identificados conforme suas dimensões, através do diâmetro interno (mm) e do comprimento (14 a 36 cm). A espessura das sondas traqueais varia de 0,16 a 2,4 mm. Em adultos , o diâmetro externo é limitado ao nível da abertura glótica; em crianças o nível de maior estreitamento é a cricóide, medindo aproximadamente 0,5 cm. A tabela a seguir relaciona ao diâmetro interno do tubo apropriado para cada idade: Diâmetro dos Tubos Traqueais Conforme a Idade Idade Prematuro < 1.000 g Prematuro entre 1.000 e 2.500g Neonato até 6 meses Lactente entre 6 meses e 1 ano Lactente entre 1 e 2 anos Além de 2 anos Diametro interno (mm) do tubo 2,5 3,0 3,0 a 3,5 3,5 a 4,0 4,0 a 5,0 (idade [ em anos ] + 16) /4 Os tubos traqueais produzem compressão na arcada dentária superior, base da língua, parede posterior da laringe e parede anterior da traquéia. Os balonetes dos tubos plásticos atuais são chamados de alto volume e alta pressão. Estes balonetes complacentes são desenhados para acomodar um grande volume de inflação antes de aumentar a pressão. A alta pressão no balonetes do lúmem é transmitida à mucosa traqueal, onde pode causar lesão isquêmica . Balonetes com pressão menor que 20 mm Hg permitem vedação da via aérea sem isquemia ou lesão da parede traqueal. Durante a anestesia, o óxido nitroso pode se difundir para o balonete e aumentar sua pressão, exigindo retirada do volume excedente. A monitorização constante das pressões no balonete previne contra lesões isquêmicas. Antes da intubação, o balonete do tubo deve ser examinado em busca de vazamentos ou deformidades. Em lactentes e pré - escolares, a curta distância entre a fenda glótica e a carina e o reduzido diâmetro da traquéia dificultam a utilização de balonetes. Nestes casos, permite-se discreto vazamento em torno da cânula. Os inconvenientes do vazamento podem ser atenuados pelo tamponamento da faringe com gaze úmida. Outros equipamentos e materiais utilizados na intubação traqueal: sistema de ventilação balão - válvula - máscara (AMBÚ), com máscaras de dimensões adequadas a cada paciente, cânula de traqueo ou cricotireostomia para emergência; sondas para troca de cânula, sonda gástrica e de aspiração; cateter plástico agulhado e fio - guia flexível longo com extremidade em “J” para intubação retrógada; seringa de 3 mL; copinça de Magill; aspirador; tampão faríngeo; fonte de oxigênio; oxímetro de pulso; capinógrafo; cardioscópio e estetoscópio; estiletes metálicos moldáveis destinados a ajustar os tubos às características anatômicas dos pacientes. avaliação clínica A avaliação clínica do candidato à intubação é imprescíndivel. É necessário conhecer suas reservas respiratórias e circulatórias, visto que a laringoscopia e a intubação são acompanhadas de profundas repercussões nestes sistemas. No sistema nervoso, as manobras de intubação poderão elevar a hipertensão intracraniana pré-existente ou agravar lesão raquimedular. Através da extensão cervical é possível comprometer o fluxo sangüíneo pelo sistema vertebrobasilar. É fundamental conhecer o nível de consciência e estabelecer relacionamento médico-paciente que permita obter a necessária colaboração para intubação acordado, quando este for o caso. O resíduo gástrico oferece problema, visto que a lesão pulmonar por aspiração de suco gástrico (Síndrome de Mendelson) é das complicações mais graves associadas à intubação. Deve-se tomar conhecimento de desvios da traquéia através de radiografia simples (anteroposterior e perfil) ou tomografia computadorizada da região cervical e tórax. A eletrocardiografia pode evidenciar alterações isquêmicas que exigem medidas específicas de proteçãao ao stress da instrumentação das vias aéreas. É possível antecipar a dificuldade à intubação através dos índices de Wilson, Mallampati e de Cormack, da distância tireomentoniana (26,5 cm) ou mentoesternal (menor 12,5 cm) distância interdentária (menor que 35 mm), bem como da avaliação do grau de mobilidade atlantoccipital (ângulo de Belhouse e Doré) menor que 35 graus. Indice de Wilson salienta a importância de alguns fatores que, frequentemente, associam-se à dificuldade em realizar a intubação traqueal.Setenta e cinco por cento dos casos de intubação difícil estão associados a dois ou mais pontos; por outro lado, é raro encontrar intubação fácil a partir dos quatro pontos. Segundo Mallampati, quando a protrusão da língua permite visualização do palato mole, úvula e pilares (grau I), a intubação é presumivelmente fácil. O mesmo não se pode antecipar nas situações em que se vê o palato mole e úvula (grau II) ou palato mole e apenas a base da úvula (grau III); a dificuldade é esperada no grau IV, quando nem o palato mole é identificado. Cormak e Lehan graduam as dificuldades conforme a visão da laringe com o laringoscópio: a vista da epiglote e das cordas vocais caracteriza o grau I; quando são visíveis toda a epiglote e a comissura posterior, grau II; e quando somente a epiglote, grau III. Na situação de maior dificuldade expressa pelo grau IV, tem-se visão apenas do palato mole. preparo Ao lado da avaliação clínica, o preparo tem grande importância no êxito da intubação traqueal. A pré-oxigenação prolonga a tolerância à apnéia, porém diversas situações como na obesidade, na criança e no adulto doente, a dessaturação poderá ocorrer muito precocemente. A monitorização respiratória confere precisão e segurança indispensáveis em todas as técnicas de acesso às vias aéreas. A intubação requer jejum prévio, aspiração e/ou retirada de sonda gástrica (em pacientes previamente sondados).Na impossibilidade de aguardar o necessário tempo de jejum torna-se possível acelerar o esvaziamento gástrico com metoclopramida, diminuir a secreção gástrica com cimetidina ou ranitidina, ou neutralizar a acidez pré-existente com citrato de sódio. Na ausência de limitações de ordem clínica, a intubação faz-se sob anestesia geral e bloqueio neuromuscular. A intubação com o paciente acordado é realizada com sedação e anestesia das V .A .S . para atenuar as repostas autonômicas à laringoscopia e à intubação, como taquicardia e hipertensão arterial. Indicações incluem a difícil história de intubação, achados na história ou exames físicos que pode ser uma intubação difícil e risco grave de aspiração ou instabilidade hemodinâmica. sedação + bloqueio neuromuscular das vias aéreas Em adultos, um anestésico de ação rapida é geralmente dado via venosa, ventilação sob máscara está assegurada, e um relaxante muscular é administrado para facilitar a laringoscopia.