inspeção dos pés

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VALDIR BORGES VIEIRA
IDENTIFICAÇÃO DE PÉS DE RISCO ENTRE DIABÉTICOS DA UNIDADE BÁSICA
DE SAÚDE DA FAMÍLIA PARQUE DO SOL
CAMPO GRANDE - MS
2011
VALDIR BORGES VIEIRA
IDENTIFICAÇÃO DE PÉS DE RISCO ENTRE DIABÉTICOS DA UNIDADE BÁSICA
SAÚDE DA FAMÍLIA PARQUE DO SOL
Relato de experiência apresentado
à Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul, como requisito para
conclusão do curso de Pós
Graduação
a
nível
de
especialização em Atenção Básica
em Saúde da Família.
Orientadora: Profª. Esp. Karine
Cavalcante da Costa
Co-orientadora: Profª. MSc.Sílvia
Helena M. de Moraes
CAMPO GRANDE - MS
2011
Agradeço, especialmente, à minha família que me
apóia em todos os meus desafios e sempre está
presente nas minhas conquistas. Obrigado!
RESUMO
Este estudo consiste em um relato de experiência em relação às ações realizadas
para identificação dos pés de risco entre pacientes portadores de diabetes mellitus,
usuários da Unidade Básica de Saúde da Família Parque do Sol, equipe 12, no
município de Campo Grande – MS, no ano de 2011. A população estudada
constituiu-se de 38 diabéticos de ambos os sexos, cadastrados no SIAB, com pelo
menos 3 anos de diagnóstico, independente das funções que exercem, nível social,
escolaridade ou faixa etária. O instrumento de avaliação dos pés utilizado constituise de 5 partes, evidenciando dados de identificação do paciente, informações sobre
o Diabete Mellitus e suas complicações e um roteiro para registro de exames
laboratoriais e exame
clínico dos pés, destacando aspectos ortopédicos,
dermatológicos e neuro-vasculares. O trabalho demonstrou, entre outros resultados,
que 42,08% dos diabéticos avaliados encontram-se acometidos de riscos, por
alterações neuropáticas, isquêmicas, neuro-isquêmicas, deformidades e ulcerações,
classificados conforme o protocolo estabelecido no Plano de Reorganização da
Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus do Ministério da Saúde. Estes
resultados confirmaram a necessidade premente de implementar ações educativas
para orientar e sistematizar medidas de prevenção, controle e vinculação dos
portadores desses agravos à unidade de saúde, mediante ações de capacitação dos
profissionais.
Palavras- chave: Diabetes Mellitus. Pés do diabético. Prevenção.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÂO..................................................................................................
5
2 CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA............................................................. 7
3 REVISÃO LITERÁRIA......................................................................................
8
4 OBJETIVOS...................................................................................................... 18
5 METODOLOGIA................................................................................................ 19
5.1 RELATANDO A EXPERIÊNCIA..................................................................... 20
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................ 23
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 26
REFERÊNCIAS.................................................................................................... 28
ANEXO I............................................................................................................... 29
ANEXO II.............................................................................................................. 33
ANEXO III.............................................................................................................. 34
5
1 INTRODUÇÃO
Os dados epidemiológicos apontam que o pé diabético é responsável por 50 a
70% das amputações não traumáticas de membros inferiores e 15 vezes mais
frequente entre diabéticos, além de concorrer com 50% das internações
hospitalares. Geralmente, a neuropatia diabética (ND) atua como fator permissivo
para o desenvolvimento das úlceras nos pés, através da insensibilidade e,
principalmente, quando associada a deformidades. As úlceras complicam-se quando
associadas à doença vascular periférica (DVP), documentando-se a presença de
gangrena em 50 a 70% dos casos, com infecções presentes em torno de 20 a 50 %
das lesões, precedendo a 85% das amputações de membros inferiores. (KOZAK et
al., 1996).
Dessa maneira, as amputações de extremidades inferiores constituem-se em
um importante problema de saúde pública devido à frequencia com que ocorre e
principalmente pela incapacidade que provoca, tempo de hospitalização com
tratamento de custo elevado, gerando repercussões de ordem social e psicológica
para os pacientes, podendo trazer muitas alterações no que diz respeito à qualidade
de vida destas pessoas e de seus familiares. Substancial proporção de amputações
poderia ser prevenida com cuidados apropriados de saúde simples e de baixo custo.
Alguns estudos reportam uma redução entre 44 % a 85%, apenas com cuidados
preventivos, efetivos e apropriados com os pés. (GAMBA, 1997; PEDROSA, 1998).
Refletindo nesses dados e estimulado pela triste experiência por mim
vivenciada no primeiro semestre de 2010, em que uma de nossas clientes diabéticas
teve a amputação do 5º pododáctilo esquerdo e em seguida, por não ter controlado
a infecção, amputou o membro inferior esquerdo acima do joelho, evoluindo para
óbito devido uma septicemia, resolvi, então, desenvolver um trabalho junto à
comunidade de clientes diabéticos da área de abrangência, procurando com isso
prevenir casos semelhantes com traumas irreversíveis para outros clientes e
familiares.
Para tanto, foi elaborado um projeto de intervenção, com o objetivo de
identificar os portadores de pés de risco entre diabéticos cadastrados na Unidade
Básica de Saúde da Família (UBSF) Parque do Sol, Equipe 12, Área 121, de acordo
com o Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes
Mellitus do Ministério da Saúde de 2001. Para o alcance deste objetivo, foi
6
necessário delinear as seguintes ações: avaliação dos comprometimentos préexistentes dos diabéticos; classificação em grau de risco os pés dos diabéticos;
proposição de uma rotina de identificação dos portadores de pés de risco entre
diabéticos cadastrados na área; adoção de medidas de promoção à saúde do
paciente diabético, possibilitando, assim, a prevenção e o controle das complicações
da doença.
Deste modo, o presente trabalho pretende relatar esta experiência, a partir
das ações realizadas na unidade de saúde em questão.
7
2 CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA
Atualmente temos cadastrados em nossa área de abrangência 72 pacientes
portadores de diabetes, dos quais em média conseguímos atingir 20% anualmente
deste
total,
em
nossas
avaliações
dos
pés.
Estas
avaliações
ocorrem
periódicamente (a cada 6 meses) quando recebemos a visita de um Ortesista da
Secretaria Municipal de Saúde para aferir o tamanho dos pés dos pacientes para
posterior confecção de palmilhas anatômicas conforme o grau de risco de cada pé
avaliado previamente pelo enfermeiro, pois estamos sem médico inserido na equipe,
o que dificulta o trabalho de avaliação.
Temos pactuado com o município de Campo Grande uma consulta ao ano
para avaliação dos pés dos pacientes diabéticos da área de abrangência.
Acreditamos ser esta uma meta ideal para pacientes sem comprometimento dos
pés, sendo que de acordo com a classificação de risco, estas avaliações devem
ocorrer em um menor espaço de tempo.
Observando o baixo índice de frequência
dos pacientes nas consultas
para avaliação dos pés, na UBSF Parque do Sol,podemos enumerar as possíveis
causas:

Comodidade e desconhecimento dos pacientes dos riscos que correm por
não terem um acompanhamento e avaliação dos pés.

Falta de envolvimento da equipe no incentivo e busca dos pacientes para
avaliação.

Envolvimento da equipe com muitos programas de saúde, o que dificulta a
priorização de algumas ações, pois nos são cobrado metas, números a todo o
momento.
Após reuniões com os componentes da equipe, relato de experiências
negativas ocorridas com alguns pacientes diabéticos de nossa área, concluímos que
deveríamos dedicar uma atenção especial aos nossos pacientes e que o trabalho
voltado à assistência dos mesmos só teria resultados se houvesse um envolvimento
de ambas as partes (servidor/paciente), trabalhando com um único objetivo: prevenir
complicações e evitar riscos para os pés dos nossos pacientes diabéticos. Como
alcançar este objetivo? Melhorar a qualidade do serviço e aumentar o número de
pacientes acompanhados e avaliados pela equipe através de um envolvimento
multiprofissional, família e comunidade.
8
3 REVISÃO DE LITERTURA
O Diabetes Mellitus (DM) é uma síndrome de etiologia múltipla, decorrente da
falta de insulina e ou da incapacidade desta exercer adequadamente seus efeitos.
Caracteriza-se por hiperglicemia crônica, com distúrbios do metabolismo dos
carboidratos, lipídeos, proteínas. As consequências do DM, em longo prazo, incluem
disfunção e falência de vários órgãos, especialmente rins, olhos, nervos, coração e
vasos sangüíneos. (BRASIL, 2001)
O DM é classificado fundamentando-se na sua etiologia dos distúrbios
glicêmicos, sendo que o tipo I resulta primariamente da destruição das células beta
pancreáticas e tem tendência a cetoacidose. Inclui casos decorrentes de doença
auto-imune (DM imuno-mediada) e aqueles nos quais a causa da destruição das
células beta não é conhecida (DM idiopática), conduzindo a uma deficiência absoluta
de insulina.
O DM tipo II resulta, em geral, de graus variáveis de resistência à insulina e
de deficiência relativa de secreção de insulina. A doença é considerada parte da
chamada síndrome plurimetabólica ou de resistência à insulina, que se denomina no
estado em que ocorre menor captação de glicose por tecidos periféricos,
especialmente muscular e hepático, em resposta à ação insulínica. As demais ações
do hormônio estão mantidas ou mesmo acentuadas. Em resposta a essa resistência
tecidual, há uma elevação compensatória da concentração plasmática de insulina,
com o objetivo de manter a glicemia dentro dos valores normais. A homeostase
glicêmica é atingida à custa de hiperinsulinemia e todas as características da
síndrome concorrem para a doença vascular arteriosclerótica (BRASIL, 2001).
Outro tipo da doença é o diabetes gestacional que é a diminuição da
tolerância à glicose, de magnitude variável, diagnosticada pela primeira vez na
gestação, podendo ou não persistir após o parto. (BRASIL, 2001)
Entre as complicações crônicas mais devastadoras do DM, destaca-se o “pé
diabético”, com características fisiopatológicas multifacetadas, decorrendo da
combinação da neuropatia sensitivo-motora e autonômica periférica crônica, com a
doença vascular periférica e ainda com alterações biomecânicas que conduzem à
pressão plantar anormal. (KOZAK et al, 1996)
O pé do diabético pode ser acometido por três processos patológicos básicos:
isquemia, neuropatia e infecção. É a combinação dos efeitos destes processos
9
presentes em graus variáveis em cada indivíduo que causam as deformidades,
úlceras, infecções e gangrena, clinicamente reunidas sob o termo “pé diabético”.
(KOZAK et al., 1996)
Há três funções principais dos nervos: a função sensorial, que controla os
impulsos dolorosos e térmicos; a função autonômica que controla o fluxo sanguineo
e a transpiração; e, por último, a função motora a qual transmite os impulsos do
cérebro e medula para os músculos, possibilitando a contração e o relaxamento
responsáveis pelas atividades e movimentos motores (GAMBA, 1991).
Quanto às neuropatias dos pés, as lesões sensitivas são as mais sérias, pois
a partir da diminuição da sensibilidade podem levar à ausência de dor e
sucessivamente a formação de calosidades na planta dos pés e úlceras tróficas, que
são responsáveis pelo início dos processos infecciosos e das gangrenas, tendo
como sinal clínico mais precoce a alteração sensitiva. A neuropatia é também
responsável pela “artropatia neuropática de Charcot”, podendo se manifestar desde
uma desmineralização óssea leve, com osteopenia, até alterações bastante
destrutivas do pé. A artropatia de Charcot poderá iniciar-se espontaneamente, após
traumas banais, como uma entorse de tornozelo ou pé, ou após algum procedimento
cirúrgico. (KOZAK et al, 1996)
Nos pés neuropáticos, ou chamados pés “quentes”, se constata uma
sensibilidade precária e uma boa circulação, onde a maioria dos agravos destes pés
está relacionada com estes dois fatores, pois a perda de sensibilidade facilita os
traumatismos, porém, a boa circulação favorece a recuperação do mesmo,
dificultando a instalação de infecção.
Os achados habituais nos pés neuropáticos são tecidos bem nutridos, com
aspecto sadios, bons pulsos, presença de pêlos, diminuição ou ausência de
sensibilidade e incidência de deformidades, pois a neuropatia afeta diretamente
receptores musculares na perna e no pé, levando por muitas vezes, devido a
deformidades existentes, a formação de calosidades que é na verdade uma maneira
de defesa em relação aos pontos de pressão. Quanto a estas calosidades formadas,
se não cuidadas regularmente, podem provocar traumatismos, podendo produzir
abscessos e até úlceras profundas dentro destas calosidades, que podem se
aprofundar ainda mais chegando às articulações, causando a osteomielite.
10
Além destes fatores, há ainda acometimentos motores que podem causar a
paralisia de músculos intrínsecos, dando ao pé um aspecto de garra. (KOZAK et al,
1996)
A Doença Vascular Periférica (DVP), por outro lado, é o resultado do
processo arteriosclerótico mais acentuado entre pacientes diabéticos, agravado
muitas vezes pelo fumo e dislipidemia, e envolve, sobretudo, as artérias mais distais,
sendo o fator mais importante relacionado à evolução de uma úlcera no pé.
Um pé isquêmico apresenta uma circulação precária com alta sensibilidade,
tornando-o vulnerável a traumatismos. As características marcantes de um pé
isquêmico “pé frio”, segundo Kozak et al (1997), são:
 A pele seca e escamosa, com ausência de pêlos.
 Pé subnutrido, com unhas espessas e de crescimento rápido.
 Pé vulnerável a formação de fissuras nos calcanhares e nas proeminências,
com ausência de pulsos, diminuição da perfusão periférica, alteração da coloração
da epiderme que varia do vermelho escuro até o azul e quando os membros
inferiores são elevados, há um esvaziamento rápido das veias e os pés adquirem
“cor pálida” em poucos segundos, quando abaixados podem adquirir uma coloração
róseo-violácea.
O processo de gangrena nestes pés se inicia quando já apresentam uma
infecção ou uma fissura em unha ou em pequenas úlceras planas, que apresentam
um aspecto seco e atrófico com necrose cutânea, que por sua vez apresentam
eritema e é a partir destes pontos de gangrena que se observam áreas de celulite
que podem se espalhar até os gânglios linfáticos hipersensíveis, causando danos
maiores.
Quanto aos tipos de gangrenas, estas podem ser secas ou úmidas. Nas
secas, a própria infecção causa oclusão dos pequenos vasos digitais. Já nas
úmidas, a oclusão dos vasos se dá num ponto mais alto, como um localizado na
panturrilha ou coxa, deixando parte ou todo membro sem sangue suficiente para
sobreviver, surgindo um aspecto de tecido morto. Estas são algumas das
características do pé isquêmico que, na maioria dos casos, levam a grandes lesões
de tecidos que nem mesmo a restauração mecânica do fluxo sanguíneo é suficiente,
ou não realizada a tempo, levando a subsequentes amputações mais altas. (KOZAK
et al, 1996)
11
O espectro das lesões nos pés varia nas diferentes regiões do mundo devido
às condições sócioeconômicas, padrões de cuidados e à qualidade dos calçados.
Muitas das ulcerações podem ser prevenidas por inspeção regular dos pés, acesso
a cuidados especializados e calçados adequados. Calçados que são impróprios,
novos e de uso apenas recente, ou a falta de calçados são principais traumas
causadores das úlceras nos pés. Entretanto, mesmo nos dias atuais, a maioria dos
pacientes diabéticos não recebe inspeção, nem cuidados regulares.
Com todos os agravos apresentados pelos pés diabéticos, tanto os
isquêmicos quanto os neuropáticos, faz-se necessária uma abordagem multifatorial
por uma equipe multidisciplinar. Uma estratégia que inclui prevenção, educação de
profissionais e do paciente, tratamento multifatorial da ulceração e rígida
monitorização podem reduzir as taxas de amputação de 49 a 85%. (Grupo de
Trabalho Internacional sobre Pé Diabético, 2001).
A Atenção Básica caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no
âmbito individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a
prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção
da saúde.
A Portaria nº 2488, de 21 de outubro de 2011 aprova a Política Nacional de
Atenção Básica, estabelecendo normas para sua organização, assim como as
responsabilidades dos gestores e as atribuições específicas dos profissionais que
atuam nesse nível de atenção que deverão constar de normatização do município e
do Distrito Federal, de acordo com as prioridades definidas pela respectiva gestão e
as prioridades nacionais e estaduais pactuadas. Esta Portaria revogou a Portaria
648 de 28 de março de 2006.
Saúde da Família é a estratégia priorizada pelo Ministério da Saúde para
organizar a Atenção Básica e tem como principal desafio promover a reorientação
das práticas e ações de saúde de forma integral e contínua, levando-as para mais
perto da família e, com isso, melhorar a qualidade de vida dos brasileiros. Incorpora
e reafirma os princípios básicos do SUS - universalização, descentralização,
integralidade e participação da comunidade, mediante o cadastramento e a
vinculação dos usuários.
O atendimento é prestado pelos profissionais das equipes (médicos,
enfermeiros, técnicos de enfermagem, auxiliares de enfermagem, agentes
comunitários de saúde, dentistas e auxiliares de consultório dentário) na unidade de
12
saúde ou nos domicílios. Essa equipe e a população acompanhada criam vínculos
de co-responsabilidade, o que facilita a identificação, o atendimento e o
acompanhamento dos agravos à saúde dos indivíduos e famílias na comunidade.
A equipe mínima de Saúde da Família deve atuar, de forma integrada e com
níveis de competência bem estabelecidos, na abordagem do diabetes. A definição
das atribuições da equipe no cuidado integral a Diabetes deve responder às
peculiaridades locais, tanto do perfil da população sob cuidado como do perfil da
própria equipe de saúde.
A definição específica das responsabilidades para cada profissional
dependerá do grau de capacitação de cada um dos membros da equipe. Caso seja
identificada a necessidade de capacitação de um ou mais membros da equipe na
aquisição de conhecimentos e habilidades para desempenho destas atribuições, a
equipe deve articular-se junto ao gestor municipal na busca da capacitação
específica.
Abaixo, são descritas atribuições sugeridas a cada um dos membros da
equipe da ESF no cuidado aos pacientes com diabetes. (BRASIL, 2006).
Agente Comunitário de Saúde (ACS)
1. Esclarecer a comunidade, por meio, de ações individuais e/ou coletivas, sobre
os fatores de risco para diabetes e as doenças cardiovasculares, orientando-a
sobreas medidas de prevenção.
2. Orientar a comunidade sobre a importância das mudanças nos hábitos de
vida, ligadas à alimentação e à prática de atividade física rotineira.
3. Identificar, na população adscrita, a partir dos fatores de risco descritos
acima, membros da comunidade com maior risco para diabetes tipo 2,
orientando-os a procurar a unidade de saúde para definição do risco pelo
enfermeiro e/ou médico.
4. Registrar, em sua ficha de acompanhamento, o diagnóstico de diabetes de
cada membro da família.
5. Encorajar uma relação paciente-equipe colaborativa, com participação ativa
do paciente e, dentro desse contexto, ajudar o paciente seguir as orientações
alimentares, de atividade física e de não fumar, bem como de tomar os
medicamentos de maneira regular.
13
6. Estimular que os pacientes se organizem em grupos de ajuda mútua, como,
por exemplo, grupos de caminhada, trocas de receitas, técnicas de autocuidado, entre outros.
7. Questionar a presença de sintomas de elevação e/ou queda do açúcar no
sangue aos pacientes com diabetes identificado, e encaminhar para consulta
extra.
8. Verificar o comparecimento dos pacientes com diabetes às consultas
agendadas na unidade de saúde (busca ativa de faltosos).
Técnico em Enfermagem
1. Verificar os níveis da pressão arterial, peso, altura e circunferência abdominal,
em indivíduos da demanda espontânea da unidade de saúde.
2. Orientar as pessoas sobre os fatores de risco cardiovascular, em especial
aqueles ligados ao diabetes, como hábitos de vida ligados à alimentação e à
atividade física.
3. Agendar consultas e reconsultas médicas e de enfermagem para os casos
indicados.
4. Proceder às anotações devidas em ficha clínica.
5. Cuidar dos equipamentos (tensiômetros e glicosímetros) e solicitar sua
manutenção, quando necessária.
6. Encaminhar as solicitações de exames complementares para serviços de
referência.
7. Controlar o estoque de medicamentos e solicitar reposição, seguindo as
orientações do enfermeiro da unidade, no caso de impossibilidade do
farmacêutico.
8. Orientar pacientes sobre automonitorização (glicemia capilar) e técnica de
aplicação de insulina.
9. Fornecer medicamentos para o paciente em tratamento, quando da
impossibilidade do farmacêutico.
Enfermeiro
1. Desenvolver atividades educativas, por meio de ações individuais e/ou
coletivas, de promoção de saúde com todas as pessoas da comunidade;
14
desenvolver atividades educativas individuais ou em grupo com os pacientes
diabéticos.
2. Capacitar os auxiliares de enfermagem, técnicos de enfermagem e os
agentes comunitários e supervisionar, de forma permanente, suas atividades.
3. Realizar consulta de enfermagem com pessoas com maior risco para diabetes
tipo 2 identificadas pelos agentes comunitários, definindo claramente a
presença do risco e encaminhado ao médico da unidade para rastreamento
com glicemia de jejum quando necessário.
4. Realizar consulta de enfermagem, abordando fatores de risco, estratificando
risco cardiovascular, orientando mudanças no estilo de vida e tratamento não
medicamentoso, verficando adesão e possíveis intercorrências ao tratamento,
encaminhando o indivíduo ao médico, quando necessário.
5. Estabelecer, junto à equipe, estratégias que possam favorecer a adesão
(grupos de pacientes diabéticos).
6. Programar, junto à equipe, estratégias para a educação do paciente.
7. Solicitar, durante a consulta de enfermagem, os exames de rotina definidos
como necessários pelo médico da equipe ou de acordo com protocolos ou
normas técnicas estabelecidas pelo gestor municipal.
8. Orientar pacientes sobre automonitorização (glicemia capilar) e técnica de
aplicação de insulina.
9. Repetir a medicação de indivíduos controlados e sem intercorrências.
10. Encaminhar os pacientes portadores de diabetes, seguindo a periodicidade
descrita neste manual, de acordo com a especificidade de cada caso (com
maior freqüência para indivíduos não-aderentes, de difícil controle, portadores
de lesões em órgãos alvo ou com co-morbidades) para consultas com o
médico da equipe.
11. Acrescentar, na consulta de enfermagem, o exame dos membros inferiores
para identificação do pé em risco. Realizar, também, cuidados específicos nos
pés acometidos e nos pés em risco.
12. Perseguir, de acordo com o plano individualizado de cuidado estabelecido
junto ao portador de diabetes, os objetivos e metas do tratamento (estilo de
vida saudável, níveis pressóricos, hemoglobina glicada e peso).
15
13. Organizar junto ao médico, e com a participação de toda a equipe de saúde, a
distribuição das tarefas necessárias para o cuidado integral dos pacientes
portadores de diabetes.
14. Usar os dados dos cadastros e das consultas de revisão dos pacientes para
avaliar a qualidade do cuidado prestado em sua unidade e para planejar ou
reformular as ações em saúde.
Médico
1. Desenvolver atividades educativas, por meio de ações individuais e/ou
coletivas, de promoção de saúde com todas as pessoas da comunidade;
desenvolver atividades educativas individuais ou em grupo com os pacientes
diabéticos.
2. Realizar consulta com pessoas com maior risco para diabetes tipo 2, a fim de
definir necessidade de rastreamento com glicemia de jejum.
3. Realizar consulta para confirmação diagnóstica, avaliação dos fatores de
risco, identificação de possíveis co-morbidades, visando à estratificação do
risco cardiovascular do portador de diabetes.
4. Solicitar exames complementares, quando necessário.
5. Orientar sobre mudanças no estilo de vida e prescrever tratamento não
medicamentoso.
6. Tomar a decisão terapêutica, definindo o início do tratamento medicamentoso.
7. Programar, junto à equipe, estratégias para a educação do paciente.
8. Encaminhar à unidade de referência secundária, de acordo com a
periodicidade estabelecida neste manual, todos os pacientes com diabetes,
para rastreamento de complicações crônicas, quando da impossibilidade de
realizá-lo na unidade básica.
9. Encaminhar à unidade de referência secundária os pacientes portadores de
diabetes com dificuldade de controle metabólico, após frustradas as tentativas
de obtenção de controle pela equipe local.
10. Encaminhar à unidade de referência secundária, os casos de diabetes
gestacional, gestantes com diabetes e os que necessitam de uma consulta
especializada (cardiologia, oftalmologia, etc).
16
11. Perseguir, de acordo com o plano individualizado de cuidado estabelecido
junto ao portador de diabetes, os objetivos e metas do tratamento (estilo de
vida saudável, níveis pressóricos, hemoglobina glicada e peso).
12. Organizar junto ao enfermeiro, e com a participação de toda a equipe de
saúde, a distribuição das tarefas necessárias para o cuidado integral dos
pacientes portadores de diabetes.
13. Usar os dados dos cadastros e das consultas de revisão dos pacientes para
avaliar a qualidade do cuidado prestado em sua unidade e para planejar ou
reformular as ações em saúde.
Cirurgião Dentista
1. Desenvolver ações voltadas para a promoção e prevenção em saúde bucal
do portador de diabetes.
2. Traçar o perfil de saúde bucal dos pacientes com diabetes na comunidade.
3. Realizar procedimentos clínicos com atenção especial à doença periodontal,
pelo seu papel no controle glicêmico.
Técnico em Saúde Bucal ou Técnico de Higiene Dental
1. Realizar atividades educativas, por meio de ações individuais e/ou coletivas,
especialmente para minimizar doença periodontal.
2. Realizar procedimentos preventivos, por exemplo, escovação supervisionada
e raspagem.
3. Acompanhar e apoiar o desenvolvimento dos trabalhos da equipe no tocante
à saúde bucal do portador de diabetes.
Auxiliar de Saúde Bucal
1. Desenvolver atividades educativas, por meio de ações individuais e/ou
coletivas, aos usuários como evidenciação de placa bacteriana, escovação
supervisionada, orientações de escovação, uso de fio dental.
2. Agendar o paciente com diabetes e orientá-lo quanto ao retorno e à
preservação do tratamento.
3. Acompanhar e desenvolver trabalhos com a equipe no tocante à saúde bucal.
17
Equipe multiprofissional
A inserção de outros profissionais, especialmente nutricionistas, professores
de educação física, assistentes sociais, psicólogos, odontólogos, e até portadores do
diabetes mais experientes dispostos a colaborar em atividades educacionais, é vista
como bastante enriquecedora, destacando-se a importância da ação interdisciplinar
para a prevenção do diabetes e suas complicações.
18
4 OBJETIVOS
4.1 OBJETIVO GERAL
Identificar os portadores de pés de risco entre diabéticos cadastrados na
UBSF Parque do Sol, Equipe 12, Área 121, de acordo com o Plano de
Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus do
Ministério da Saúde, 2001;
4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
 Avaliar os comprometimentos pré-existentes dos diabéticos.

Classificar em grau de risco os pés dos diabéticos.

Propor uma rotina de identificação dos portadores de pés de risco entre
diabéticos cadastrados na área.

Adotar medidas de promoção à saúde do paciente diabético, possibitando
assim a prevenção e o controle das complicações da doença.
19
5 METODOLOGIA
Este estudo consiste de um relato de experiência vivenciada pela Equipe 12 Área 121 da UBSF Dr. Benjamim Asato- Parque do Sol, no município de Campo
Grande – MS, no período compreendido entre o mês de março e novembro de 2011.
A Unidade Básica de Saúde da Família Dr. Benjamim Asato-Parque do Sol
está localizada na Avenida Evelina Selingardi, 1008, Bairro Parque do Sol no Distrito
Sanitário Sul. Foi inaugurada em 25 de fevereiro de 2003 e é composta por 4
equipes de saúde da família, que realizam a cobertura de atendimento à saúde dos
moradores de 4 bairros: Dom Antônio Barbosa, Jardim Colorado, Parque do
Lageado e Parque do Sol.
Esta Unidade oferece consultas com médicos generalistas, consultas
odontológicas e de enfermagem, curativos, suturas, inalação, vacinação, retirada de
pontos, pequenas suturas, troca e colocação de sondas (vesical e gástrica), visitas
domiciliares, atividades de
promoção, prevenção e educação em
saúde,
atendimento odontológico com plantões aos sábados – Projeto SOS Sorriso,
acompanhamento ambulatorial de: Pré-natal de baixo risco, hipertensão, diabetes,
tuberculose, hanseníase, puericultura, planejamento familiar, DST/AIDS, PAISM
(Programa Integral a Saúde da Mulher), PROSAD (Programa de Saúde do
Adolescente), Programa do Idoso, Bolsa Família. Outros: Programa Rede Amamenta
Brasil, controle do tabagismo, atendimento psicossocial.
Nossa área de abrangência conta com uma população de 3.736 habitantes,
distribuídos em 1022 famílias, sendo 1.817 pessoas do sexo masculino e 1919
pessoas do sexo feminino que residem nos bairros: Jardim Colorado e parte do
bairro Parque do Sol.
Compõe a equipe de atendimento:
 01 Médico, sendo que estamos sem este profissional na equipe atualmente.
 01 Odontólogo
 01 Enfermeiro
 02 Técnicos em enfermagem
 01 ASB (Auxiliar de Saúde Bucal)
 08 ACS, sendo que um encontra-se em licença médica há 2 anos.
20
Grande parte das pessoas que vivem em nossa área de abrangência
trabalha informalmente, outra parte da população trabalha em um frigorífico de
grande porte que está localizado nas imediações. Um pequeno grupo trabalha na
reciclagem do lixo no aterro sanitário que está localizado no entorno dos bairros de
nossa área. Sendo assim, podemos informar que o nível sócio econômico dos
moradores da região é baixo, e que algumas famílias vivem em extrema pobreza.
5.1 RELATANDO A EXPERIÊNCIA
Para a proposição de uma rotina de identificação dos portadores de pés de
risco entre diabéticos, foram realizadas reuniões durante o mês de março de 2011
com os profissionais ativos da equipe de saúde (enfermeiro, odontólogo, técnicos de
enfermagem, auxiliar de saúde bucal e ACS), trabalhando com a sensibilização e
buscando o envolvimento e compromisso dos mesmos para o trabalho a ser
desenvolvido. Posteriormente, levantamos os dados, através de um instrumento de
avaliação, seguindo um protocolo pré-estabelecido pela Secretaria Municipal de
Saúde de Campo Grande (SESAU), conforme normas do Ministério da Saúde e
aplicado pelo enfermeiro da equipe.
O instrumento de avaliação dos pés utilizado (Anexo 1) constitui-se de 5
partes, evidenciando dados de identificação do paciente, informações sobre o DM e
suas complicações e um roteiro para registro de exames laboratoriais e exame
clínico dos pés, destacando aspectos ortopédicos, dermatológicos e neurovasculares.
A população do estudo constitui-se de 38 diabéticos da UBSF Parque do Sol,
Equipe12- Área121, cadastrados no SIAB - Sistema de Informação da Atenção
Básica (dados fornecidos pelos ACS), com pelo menos 3 anos de diagnóstico da
doença, de ambos os sexos, independente de nível social, escolaridade ou faixa
etária.
Os pés dos diabéticos foram avaliados durante os meses de maio, junho,
setembro e outubro de 2011, a partir da busca ativa dos ACS nas residências e
captação na unidade quando estes clientes compareciam para atendimentos.
Cada avaliação foi feita num intervalo de tempo de aproximadamente 40
minutos por cliente. Durante o exame dos pés, foram realizadas pela equipe de
Estratégia de Saúde da Família (enfermeiro, técnicos de enfermagem, ACS),
21
orientações de cuidado dos pés, corte de unhas, higiene e educação para que os
diabéticos promovam a saúde e previnam as complicações relacionadas à diabete,
com ênfase aos cuidados com os pés.
A detecção da neuropatia foi obtida através do exame clínico dos pés, onde
se usou o mono filamento de nylon (10g) para a pesquisa da sensibilidade dolorosa.
Já para a sensibilidade táctil foi utilizado o algodão seco e umedecido em álcool. A
sensibilidade foi avaliada em pontos pré-definidos na região plantar dos pés.
Avaliaram-se as características ortopédicas, tais como: dedos em garras, em
martelo, dedos sobrepostos, hálux valgus (Joanetes), pé cavo, Charcot (Doença que
compromete nervos) e outras anomalias que derivam pontos anômalos de pressão,
amputação e alterações falangeanas.
Na inspeção cutânea foram identificados sinais como: calos, bolhas,
hematomas, dermatose, pilificação (pelos) alterada, unhas distróficas (unhas
defeituosas), diferença da temperatura, anidrose (Déficit de transpiração), gangrena,
úlceras, indícios de lesões, coloração, ressecamento e dermatose. Foram também
avaliadas as condições de higiene dos pacientes e o tipo dos calçados utilizados.
A isquemia foi detectada através da palpação dos pulsos arteriais dorsais e
tibiais posteriores, diminuição da perfusão periférica e alteração da coloração da
epiderme. A palpação foi realizada respectivamente na região dorsal do pé, entre o
primeiro e o segundo dedo e a artéria tibial posterior foi palpada na região retro
maleolar, conforme técnica para avaliação dos pulsos arteriais tibial posterior e
dorsal dos pés
(Anexo II).
Foi recomendado para o tratamento das alterações dermatológicas e
ressecamento dos pés, creme hidratante, massageando-os diariamente, exceto nas
áreas interdigitais.
Quanto aos cuidados com as unhas, foram orientados para as cortarem
retas, sendo que as bordas ásperas deveriam ser limadas com uma lixa de unha.
Não deveria fazer qualquer corte ou escovação para dentro dos cantos com a
finalidade de remover as unhas encravadas. Caso a visão do paciente não
possibilite um bom corte, este deveria pedir auxílio a alguém como um membro da
família.
As orientações para evitar traumatismo e auxiliar no alívio da pressão dos pés
foram o uso de sapatos fechados, solado firme, pontas arredondas, macios, leves e
22
de preferência de couro com uma numeração maior, usando sempre palmilhas
anatômicas fornecidas pelo setor de confecção de palmilhas da Prefeitura Municipal
de Campo Grande, após avaliação do ortesista.
Quanto ao uso das meias, recomendou-se as de fibras naturais (algodão ou
lã) pela melhor capacidade de absorção da umidade dos pés, além disso, sem
elásticos,
pregas,
dobras
ou
costuras
irritantes
para
prevenir
alterações
dermatológicas e vasculares e facilitar a circulação sanguínea.
A classificação do pé diabético, as ações educativas e o cronograma de
retorno, utilizados neste estudo, seguiram as diretrizes estabelecidas no programa
de prevenção e avaliação do pé de risco proposto pelo Ministério da Saúde,
conforme apresentado no Quadro I - Classificação dos Pés em Risco, Caderno de
Atenção Básica nº 16 - 2006. Adaptado pela SESAU – Campo Grande.
23
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A população estudada constituiu-se de 38 usuários portadores de diabetes,
sendo 68,42% do sexo feminino e 31,57% do sexo masculino. Distribuídos em
65,78% que usam medicamento oral, 15,78% usam insulina, 15,78% usam
medicamento oral e insulina e 2,63% não fazem uso de medicamentos, pois referem
controle dos níveis glicêmicos através de exercícios físicos e controle da
alimentação.
Kozak et al (1996) relata que um paciente mais velho, cujo diabetes teve
início quando adulto, tem maior probabilidade de ter problemas puramente
isquêmicos ou lesões neuro-isquêmicas e ou deformidades, coincidindo com os
dados demonstrados na tabela 1.
Tabela 1 – Porcentagem das lesões nos pés de diabéticos, segundo a faixa etária,
apresentado pelos usuários diabéticos da UBSF Parque do Sol, equipe 12. Campo
Grande, MS- 2011.
FAIXA ETÁRIA
Tipo Lesão
Sem lesões
Neuropatia
Isquemia
Neuro/isquêmica
Deformidade
Úlcera
21 a 30
%
2,63%
0
0
0
0
0
31 a 40
%
2,63%
0
0
0
0
0
41 a 50
%
10,52%
0
0
0
0
0
51 a 60
%
18,42%
2,63%
10,52%
0
0
2,63%
> de 60
%
23,68%
2,63%
7,89%
10,52%
5,26%
0
Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados obtidos no projeto.
Neste estudo realizado, todas as lesões isquêmicas, neuropáticas e ou
isquêmicas/neuropáticas detectadas estão inseridas na faixa etária acima de 50
anos e que as mesmas são ocasionadas pelo corte incorreto das unhas, uso de
sapatos inadequados, falta de higiêne, presença de rachaduras, podendo ocasionar
as soluções de continuidade e infecções secundárias.
No pé diabético nenhuma lesão deve ser considerada trivial. Aparentemente
qualquer infecção, como as fúngicas podem levar a ulcerações dos pés e atuar
como uma porta de entrada para uma infecção com rápida disseminação. (KOZAK
et al, 1996).
Neste estudo, identificou-se que: 13,15% dos pacientes apresentam
onicomicose (micose de unha) ou micose interdigital; rachadura 21,05%, calosidade
24
23,68%. Estes dados merecem especial atenção da equipe da Unidade de Saúde da
Família, que devem dar orientações simples como da importância da higiene diária e
da secagem de umidade entre os artelhos e da hidratação dos pés. (PEDROSA,
1997).
Identificou-se também que 13,15% dos pacientes estão acometidos de
isquemia conjuntamente com deformidades dos pés, tais como: dedos em garra e
martelo, pés planos ou cavos. Estas deformidades ortopédicas resultam em uma
distribuição anormal do peso do corpo, acarretando a pressão plantar do pé, sendo
válido como marcadores do pé em risco. (PEDROSA, 1997). E, por outro lado, já
manifestam perfusão periférica diminuída em 34, 78% dos pés avaliados, pele fina e
brilhante 15,78%%, pele dos pés ressequidas 18,42%, dor ao caminhar 18,42%, pé
frio 7,89%, conforme apresentado na tabela 2.
Tabela 2 – Incidência de alterações vasculares avaliadas nos diabéticos, da UBSF
Parque do Sol, equipe 12. Campo Grande, MS – 2011.
CARACTERÍSTICAS
Perfusão Periférica
Normal
Anormal
Umidade dos pés
Calosidade
Rachadura
Micose
Pele seca
Pele fina e brilhante
Dor ao caminhar
Temperatura fria
AVALIAÇÃO %
%
65,78%
34,78%
%
23,68%
21,05%
13,15%
18,42%
15,78%
18,42%
7,89%
Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados obtidos no projeto.
Os pacientes pesquisados são vulneráveis aos problemas do pé, 44,72%,
estão com comprometimento nos pés em grau de risco 1; 2 e 3, com destaque para
31,56% classificados como risco grau 2 e 3, o que é preocupante. A porcentagem de
alterações, segundo o grau de risco, de acordo com o critério de Classificação dos
Pés em Risco do Ministério da Saúde de 2001, está apresentado no quadro 1.
25
Quadro 1 – Porcentagem de alterações, segundo o grau de risco, dos
diabéticos da UBSF Parque do Sol, equipe 12. Campo Grande, MS – 2011.
Manifestações
clínicas
% de
pacientes
Neuropatia ausente
57,89%
Neuropatia presente
Sem deformidades
10,52%
Neuropatia presente
Deformidades e/ ou
Doença Vascular
Periférica
Neuropatia presente
Deformidades e/ou
Doença Vascular
Periférica, Úlcera
Cicatrizada.
15,78%
15,78%
Grau de risco
Risco 0
Risco 1
Risco 2
Risco 3
Abordagem
Educação
terapêutica
Avaliação anual
Educação
terapêutica
Uso de calçados
adequados
Avaliação semestral
Educação
terapêutica
Uso de calçados
adequados e
especiais, palmilhas
e órteses
Avaliação trimestral
Idem
Avaliação bimestral
Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados obtidos no projeto.
Com todos estes agravantes, os cuidados e as orientações para os
portadores destes agravos devem ser reforçados como forma de prevenção de
futuras complicações, estando de acordo com a estratégia de atendimento proposta
pelo Ministério da Saúde, como sendo atribuição de cada profissional da Estratégia
de Saúde da Família, no contexto de atenção integral à saúde do indivíduo.
(BRASIL, 2006).
26
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora por vários motivos não tenhamos alcançado a meta de avaliação de
100% dos pés de nossos pacientes diabéticos da área de abrangência, o trabalho
demonstrou que 42,08% dos diabéticos avaliados da equipe 12, da Unidade Básica
de Saúde da Família Parque do Sol, encontram-se acometidos de riscos, por
alterações neuropáticas 5,26%; isquêmicas 18,42%; neuro-isquêmicas 10,52%;,
deformidades 5,26%; e ulcerações 2,63%.
Destacamos alguns resultados obtidos, tais como: 13,15% apresentaram
infecções fúngicas, 50% apresentara corte incorreto das unhas e 36,67% faziam uso
de calçados inadequados, 46% não tinham bons hábitos de higiene dos pés.
Considerando a problemática e o fato de nos comprometermos a concluir a
avaliação proposta de 100% dos nossos pacientes, a equipe está montando
estratégias para que os pacientes tenham um maior e melhor vínculo com a Unidade
de Saúde da Família, com a finalidade de fazer com que o indivíduo e a família
conheçam melhor o seu problema e passe a realizar o auto-exame dos membros
inferiores e do corpo, como rotina diária, destacando a educação e o auto-cuidado
como proposto pela Norma Operacional de Assistência à Saúde do SUS– NOAS01/2001.
O diabético deve ser conscientizado que seu pé tem menor sensibilidade e,
por isto, deverá evitar qualquer tipo de trauma, seja mecânico, químico ou térmico.
Portanto, há possibilidades de diminuir os riscos de ulcerações e amputações,
sobretudo através da identificação precoce dos pés em riscos, para receber
orientações e serem educados a cuidar dos pés diariamente com medidas simples,
como higienização, corte correto das unhas e uso de calçados adequados. Cabe
lembrar que a prevenção primária e secundária do pé diabético está dentro de um
contexto, ou melhor, não só os cuidados de um membro, mas de um paciente
portador de Diabetes Mellitus, bem como que as enfermidades vasculares e
neuropáticas que são generalizadas. (LELLIS, 2000)
A promoção e a prevenção dos pés de risco são os principais objetivos para
diminuir índices alarmantes de amputações de membros inferiores.
A conscientização dos profissionais de saúde já atuando há muito tempo na
Unidade de Saúde da Família, bem como a capacitação, são de suma importância
para avaliação do pé diabético entre os usuários do SUS. Essas ações podem ser
27
alcançadas com a integração da equipe de saúde da família na prestação da
assistência ao usuário com comprometimento nos pés, utilizando-se de recursos de
baixo custo.
Após a análise dos resultados deste estudo, foi traçada uma linha de conduta
de um programa educativo de promoção e cuidados com os pés de risco, de acordo
com o Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e Diabetes
Mellitus.
A capacitação dos profissionais da UBSF Parque do Sol será feita pelos
enfermeiros da unidade e profissionais convidados da Secretaria Municipal de
Saúde de Campo Grande. Esta será uma busca contínua na educação em serviço
para um melhor atendimento e acompanhamento dos pacientes diabéticos.
De acordo com Guariente et al. (1997), “educação para o auto-cuidado
implica não só educar para que o indivíduo cuide de si mesmo durante a
enfermidade e suas seqüelas, mas também educá-lo para que mantenha sua saúde
e previna enfermidades”.
28
REFERÊNCIAS
BRASIL, Ministério da Saúde. Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão
Arterial e ao Diabetes Mellitus, Brasília, 2001.
______. Ministério da Saúde. Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes Mellitus Protocolo. Caderno de Atenção Básica, n. 16, 2006.
BORTOLETTO, M. S. S.; HADDAD, M. C. L.; KARINO, M. E. Pé diabético, uma
avaliação sistematizada. Arq. Ciênc. Saúde Unipar, Umuarama, v. 13, n. 1, p. 3743 jan./abr. 2009.
GAMBA, M. A. Amputações por diabetes mellitus uma prática prevenível? São
Paulo - 2001
GUARIENTE, M. H. D.M. et al. Autocuidado em Diabetes. In: ALMEIDA, H. G. G.
Diabetes Mellitus: uma abordagem simplificada para profissionais de saúde. São
Paulo: Atheneu, p. 47-45, 1997.
KOZAK, G. P. et al. Tratamento do pé diabético. 2 ed. Rio de Janeiro: Copyright,
1996.
LELLIS, V. L. C. Avaliação, prevenção e intervenção no “Pé em Risco” Jornal
Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas, p. 372-373, 2000.
PEDROSA H. C. Consenso Internacional sobre Pé Diabético. Representante no
Brasil: Grupo de Trabalho Internacional sobre Pé Diabético 2007-2008.
29
Anexo I – Planilha completa de avaliação dos pés diabéticos utilizada neste estudo
PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPO GRANDE
SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE PUBLICA
UNIDADE: UBSF PARQUE DO SOL
AVALIAÇÃO DOS PÉS DE PESSOAS COM DIABETES MELLITUS
Data do Exame: ___/___/___
Nome:__________________________________________________________________
Prontuário:______________ DN:____/____/____
Idade: _________Diagnóstico de DM há quanto tempo?___________
Há casos na família? ()sim (
)não Quem:______________________
Usa insulina? ( )sim ( )não ( )NPH ( )Regular
Posologia:_____UI_____x ao dia Usa hipoglicemiante oral? ( )sim ( )não
Quais?________________________________________________________________
É portador de HAS? ( )sim ( )não Há casos na família? (
)sim (
)não
Quem:__________________________________________________
Usa anti-hipertensivo? ( )sim ( )não
Quais?________________________________________________________________
Tabagista? ( )sim ( )não Quantidade de cigarros por dia ____________
Etilista? ( )sim( )não
Realizou exame de fundo de olho? ( )sim ( )não Data: ____/____/____
Realizou fotocoagulação? ( )sim( )não ____/____/____
30
EXAME
Glicemia de jejum
Hemoglobina glicada
Colesterol total
Colesterol LDL
Colesterol HDL
Triglicerídeos
ROTINA
Trimestral
Semestral, se descontrole trimestral
Anual
Anual
Anual
Anual
REALIZOU
( )sim ( )não
( )sim ( )não
( )sim ( )não
( )sim ( )não
( )sim ( )não
( )sim ( )não
DATA
_____/_____/_____
_____/_____/_____
_____/_____/_____
_____/_____/_____
_____/_____/_____
_____/_____/_____
RESULTADO
( )normal ( )alterado
( )normal ( )alterado
( )normal ( )alterado
( )normal ( )alterado
( )normal ( )alterado
( )normal ( )alterado
HISTÓRIA
Preencha com “S” ou “N” para indicar ocorrências nos pés:
Já apresentou algum tipo de ulceração nos pés?
Apresenta dor ao caminhar?
Apresenta dor, principalmente noturna que melhora quando caminha?
Já teve seus pés examinados por algum profissional da saúde?
Já recebeu orientação sobre o cuidado com os pés?
Tem convívio social?
Tem o hábito de caminhar descalço?
Utiliza sapatos adequados para evitar deformidades nos pés?
Apresenta dificuldade visual?
Existe fraqueza muscular nos pés ou MMII?
Apresenta pontadas, agulhadas, formigamentos, dormência, cãibra nos pés ou membros
inferior ou incômodo ao toque do lençol.
INSPEÇÃO DOS PÉS
Assinale presente (P) ou ausente (A):
Pele fina e brilhante ( )D
rubor postural ( )D
( )E
( )E
palidez à elevação ( )D
( )E
Temperatura (normal/fria/quente) ( )D
( )E
Unhas (corte/micose/encravadas) ( )D
( )E
Calos ( )D
( )E
Rachaduras ( )D
( )E
Micose Interdigital ( )D
( )E
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
)D
)D
)D
)
)
)
)
)
)
)D
)D
( )E
( )E
( )E
( )E
( )E
31
Assinale a situação encontrada
Formação de ulceração por estresse repetitivo
Formação
( )D ( )E
do
calo
Hemorragia
( )D ( )E
subcutânea
Abertura
( )D ( )E
da
pele
Infecção
do
pé
osteomielite ( )D ( )E
com
Fonte: GRUPO DE TRABALHO INTERNACIONAL SOBRE PÉ DIABÉTICO. Consenso Internacional sobre Pé Diabético.
Brasília: Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, 2001.
Áreas de risco para ulcerações de pé em pacientes diabéticos
( )D ( )E
( )D ( )E
( )D ( )E
( )D ( )E
Fonte: GRUPO DE TRABALHO INTERNACIONAL SOBRE PÉ DIABÉTICO. Consenso Internacional sobre Pé Diabético.
Brasília: Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, 2001.
Avaliação Neurológica
Sensibilidade protetora plantar ou percepção da pressão com Monofilamento 10g
Indique o nível de sensibilidade nos círculos
(+) Percebe o filamento de náilon 10g
(-) Não percebe o filamento de náilon 10g
Marque a área de sensibilidade na figura abaixo com : + sim
- não
Sensibilidade térmica (algodão embebido com água fria) – testar no dorso do pé
Presente
( )D ( )E
Diminuído ( ) D
( )E
Força Muscular
Panturrilha – andar na ponta dos pés
Presente
( )D ( )E
Ausente
( )D
( )E
Tibial Anterior - andar nos calcanhares
Presente
( )D ( )E
Ausente
( )D
( )E
Avaliação Vascular
Ausente
( )D
( )E
32
Pulso Pedioso
Presente
( )D ( )E
Diminuído
Pulso Tibial Posterior
Presente
( )D ( )E
Diminuído
Tempo de Enchimento Capilar – normal até 5 segundos
Normal
()D
( )E
Alterado
( )D
( )E
Ausente
( )D
( )E
()D
( )E
Ausente
( )D
( )E
( )D
( )E
Classificação do GRAU DE RISCO: ( ) 0 ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3
Porcentagem de alterações, segundo o grau de risco
Manifestações clínicas
% de
pacientes
Grau de risco
Neuropatia ausente
Risco 0
Neuropatia presente
Sem deformidades
Risco 1
Neuropatia presente
Deformidades e/ ou
Doença Vascular Periférica
Risco 2
Úlcera/amputação prévia
Risco 3
Abordagem
Educação terapêutica
Avaliação anual
Educação terapêutica
Uso
de
calçados
adequados
Avaliação semestral
Educação terapêutica
Uso
de
calçados
adequados
e especiais, palmilhas e
órteses
Avaliação trimestral
Idem
Avaliação bimestral
Examinador (a): ______________________________________________________________________
33
Anexo II – Técnica para avaliação dos pulsos arteriais tibial posterior e dorsal do pé
Pulso Tibial Posterior
Descrição da técnica:


A pessoa com diabetes deve estar deitada em decúbito dorsal;
Palpar o pulso Tibial Posterior na região retro-maleolar interna.
Pulso Pedioso
Descrição da técnica:


A pessoa com diabetes deve estar deitada em decúbito dorsal;
Palpar o pulso no dorso do pé lateralmente ao tendão do extensor
longo do hálux (para identificá-lo eleva-se o hálux).
34
Anexo III – Fotos do momento da avaliação dos pés
35
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